A mudança do eixo da produção mundial - OpCP08

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Opiniões

jun-ago 2007

Visão dos Produtores

José Paulo Unterpertinger

Gerente de Operações da FOSA - Forestal Oriental do Uruguai

José Paulo Unterpertinger

A mudança do eixo da produção mundial: a visão no Uruguai A globalização da economia tem causado vários efeitos na disposição geográfica de certas atividades e, sem dúvida, o setor florestal é um dos que mais sofreram mudanças. O incremento da economia mundial, com a conseqüente maior demanda de produtos, tem feito com que a procura por matéria-prima seja feita nas regiões de maior crescimento e maior disponibilidade de recursos para a geração das fibras, a menores custos produtivos. Por isso, grandes companhias enxergam o hemisfério sul como um interessante potencial de desenvolvimento florestal, onde encontram a maioria dos recursos necessários: as condições climáticas, recursos humanos, disposição dos governos para investir em infra-estrutura, apesar de alguns problemas como instabilidade jurídica e política na América do Sul. Tudo isso também se fez possível pela grande disponibilidade de terras e preço acessível, o que permitiu a construção de grandes fábricas de celulose, de mais de um milhão de toneladas por ano. Após a criação da lei florestal no Uruguai, a área plantada no país passou de 40.000 hectares para mais de 750.000 hectares, em 17 anos, e a superfície estimada pelo governo, de solos de aptidão ou prioridade florestal, é de aproximadamente 3,5 milhões de hectares. Como no Uruguai existem muitos proprietários de pequenas áreas, que variam de 50 a 300 hectares, nossa empresa está fomentando a plantação de eucalipto dentro dessas propriedades, nas frações de campo que sejam declaradas de prioridade florestal. Com isso, estamos diversificando os meios de produção dos pequenos agricultores e garantindo a compra da madeira no futuro. As empresas da Europa e da América do Norte também estão buscando alternativas mais rápidas de produção de madeira, com a utilização de espécies de rápido crescimento, como o Eucaliptos, que se colhe dos 7 aos 9 anos em nossas condições e o Pinus tropical, entre 15 e 20 anos, quando comparadas com os 60 a 80 anos que necessitam para que cresçam as suas florestas.

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Outro motivo para que as empresas invistam no hemisfério sul é que hoje também se desenvolveu a consciência e o respeito pelo meio ambiente, com a quase obrigatoriedade de se certificar as florestas, para se ter acesso a certos mercados, e isso resulta em projetos que visam o desenvolvimento sustentável, do ponto de vista econômico, social e ambiental, o que para grandes companhias é muito importante, em relação à imagem que passam aos clientes e aos consumidores de seus produtos. No Uruguai, junto com o aumento das áreas plantadas, também houve um aumento das áreas de florestas nativas, devido a áreas de preservação criadas e protegidas pelas empresas florestais. Também se vê a redução de pressão de corte sobre florestas nativas, devido à maior disponibilidade de madeira utilizada como lenha e à produção de energia. De 1988 a 2003, essas áreas passaram de 670.000 a 810.000 hectares. Aqui também existe a velha discussão sobre o eucalipto e a utilização da água, mas, desde o princípio, foram contratados, de outros países, experts no assunto que, junto com professores da Universidade da República, estão monitorando não só a quantidade, como a qualidade da água nas áreas plantadas e adjacentes. A presença dessas empresas no Uruguai vem fazendo com que haja uma mudança na economia e na distribuição da população no meio rural, já que a agricultura e a pecuária tradicionais davam muito pouco postos de trabalho, 3 e 2 respectivamente para cada 1.000 hectares, quando o reflorestamento ocupa, em média, 19,3 pessoas, de forma permanente para cada 1.000 hectares. Isso fez com que o governo criasse, em 1988, uma lei florestal, dando incentivos a quem quisesse investir no país. Hoje, já existem, aproximadamente, 750 mil hectares de florestas,

sendo que 70% são plantações de eucaliptus e 30% de pinus. Falando em números, o Uruguai tem 77,4% da área ocupada com pecuária e somente 4,1% com florestas plantadas, sendo que a pecuária é responsável por 35% do VBPA (valor bruto da produção agropecuária) e as florestas, por 7,4%. Em 2005, as exportações da pecuária uruguaia foram de US$ 730 milhões, e dos produtos florestais, de US$ 176 milhões, o que dá, por hectare, uma contribuição de US$ 53 e US$ 246, respectivamente. Hoje também há na Europa uma grande demanda por madeira para energia, o que levou algumas empresas do hemisfério norte a comprarem madeira em toras aqui no sul, para poderem manter suas fábricas funcionando, o que elevou os preços da madeira em nossa região, fazendo com que o negócio ficasse ainda mais atrativo. Com os preços do petróleo atuais e o valor energético da madeira (1 metro cúbico de madeira de E. grandis equivalendo, em energia, a 1 barril de petróleo), podemos ver a produção de energia como uma potencial competidora por matéria-prima, num futuro próximo, com o setor de celulose e papel. Também contribui para a mudança para o hemisfério sul, a taxação imposta pela Rússia, de 20 Euros por metro cúbico, a toda madeira bruta exportada, para forçar a indústria a se instalar no país. Hoje, no Uruguai, há uma grande competição por áreas declaradas aptas, ou, como chamamos, de prioridade florestal, por seus baixos índices de produtividade agrícola e pecuária, com os plantadores de soja, já que esse cultivo não necessita de terras férteis para produzir. Isso fez com que os preços da terra aumentassem bastante nos últimos dois anos, mas, mesmo assim, ainda segue sendo um bom negócio plantar florestas.


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