A mudança do eixo da produção mundial - OpCP08

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Opiniões

jun-ago 2007

Visão das Entidades

Amantino Ramos de Freitas

Amantino de Freitas

Presidente da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura Transformando vantagens comparativas em vantagens competitivas Ficou célebre, no início da década de 60, o relatório de Walter Link, geólogo norte-americano, contratado pela Petrobras, que afirmava que as bacias sedimentares brasileiras não possuíam acumulações petrolíferas significativas, que possibilitassem exploração econômica. Em 1973, quando ocorreu o primeiro choque do petróleo, havia extração no Recôncavo Baiano, mas as importações respondiam por cerca de 80% do consumo nacional. Hoje, somos auto-suficientes, com extração de 1,8 milhão de barris por dia, e a tecnologia nacional de pesquisa de petróleo em águas profundas é das mais avançadas do mundo. Para atingirmos esse ponto, foram necessários altos investimentos, muito trabalho e criatividade dos engenheiros e geólogos. No caso da produção de celulose a partir do eucalipto, ocorreu algo parecido. Até a II Guerra Mundial, as empresas que aqui fabricavam papel utilizavam, basicamente, celulose produzida a partir do pinho do Paraná ou importada do hemisfério norte. Como no caso do petróleo, era voz corrente que o eucalipto não podia ser usado como matéria-prima para obtenção de celulose. A partir de 1946, a Cia. Melhoramentos de São Paulo iniciou um programa de pesquisa, visando obter celulose de eucalipto para substituir parte da importada. Contudo, somente em 1957, a equipe liderada por Max Feffer, conseguiu a produção industrial de papel com 100% de celulose de eucalipto. Hoje, o Brasil é líder mundial da produção de celulose branqueada de fibra curta, tendo atingido, em 2006, a marca de 11,1 milhões de toneladas, aproximadamente 9% da produção mundial. Essa posição de liderança também foi conquistada com muito esforço, trabalho árduo e inovação, por parte dos empresários e profissionais florestais. Vocação Florestal: Não há como negar a vocação do Brasil para a atividade florestal – 57 % do território é coberto por formações florestais. Além de ser o primeiro na produção e exportação de celulose branqueada de fibra curta, somos o maior exportador de compensados de pinus, o segundo produtor de resina, o segundo exportador de tanino de acácia, o terceiro de madeira serrada e o terceiro de compensado de madeira tropical. A participação das florestas plantadas está aumentando ano a ano, embora a área plantada - 5,7 milhões de ha, represente apenas 0,7% do território nacional. Em 2005, a madeira oriunda de reflorestamento foi responsável por 65% na economia florestal brasileira.

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Como o Brasil possui mais de 90 % de seu território na região tropical, é de se esperar que a produtividade das culturas agrícolas em geral, e do reflorestamento em particular, seja maior do que nos climas temperados. Contudo, a disponibilidade de terras adequadas e clima favorável, por si só não garante uma economia florestal forte. Outros países, com vantagens semelhantes as do Brasil, não contaram com o arrojo, conhecimento, dedicação e criatividade dos empresários e técnicos brasileiros, que “fizeram acontecer” o sucesso da indústria de base florestal, sobretudo da indústria de celulose e papel. Esse sucesso não passou despercebido dos grandes grupos internacionais, vários dos quais transferiram suas bases de produção para nosso país ou se associaram a grupos nacionais. Cerca de 12 bilhões de dólares foram investidos nos últimos dez anos na área de celulose e papel. As decisões para esses investimentos, certamente, foram tomadas anteriormente à atual fase de baixa inflação interna, grande liquidez de capitais internacionais e acentuada queda na classificação de risco do país. Esse novo quadro estimulará maiores investimentos no setor. Nas últimas décadas, houve uma tendência dos países desenvolvidos em deslocar para os países em desenvolvimento indústrias tidas como poluidoras, como a de celulose e a siderúrgica. O menor custo das matérias-primas e a proximidade com suas fontes de suprimento, aliados à incorporação de avanços tecnológicos nas novas instalações industriais, tornaram essas indústrias mais competitivas que a dos países de origem, que passaram a importar os produtos acabados ou semi-acabados. Muitos destes países passaram de exportadores a importadores, enquanto o inverso ocorreu com os países em desenvolvimento. Por exemplo, desde 2001, os EUA, tradicionalmente superavitário neste segmento, importam mais produtos florestais do que exportam. A produção de celulose nesse país passou de 66 milhões de ton em 1995, para 55 milhões em 2005 (-15%), a despeito do crescimento da população e da renda per capita. No mesmo período, a produção na região da América Latina e Caribe aumentou de 10 para 15 milhões de ton (+50%), a da Ásia de 19 para 25 milhões de ton (+32%), a da Europa de 42 para 49 milhões de ton (+17%) e a do Japão sofreu um ligeiro decréscimo de 11,2 para 10,7 milhões de toneladas por ano.

Nuvens negras no horizonte: O êxito dos empreendimentos florestais no Brasil é conhecido internacionalmente. Em artigo publicado no ano passado, pela revista alemã Markt und Trends – Pellets Norbert Walter, o economista chefe do Deutsche Bank, recomendou enfaticamente investimentos em plantio de árvores no Brasil. Em artigo publicado no dia 16/05/2007, pela Gazeta Mercantil, Robert Barnden, líder global de papel e celulose da Pricewaterhouse-coopers, declarou que quem quiser investir nesse setor terá que vir ao Brasil. Segundo ele, em 2006, o retorno para cada Real investido foi de 13%, três pontos percentuais acima do ano anterior, enquanto no resto do mundo esse retorno não chega a 6%. Contudo, algumas nuvens negras pairam no horizonte. Uma delas é o descompasso verificado na infra-estrutura de energia e transportes, inclusive portos, em relação às reais necessidades de desenvolvimento do país. Outra é a permanente ameaça de alguns movimentos declarados como sociais, que se opõem violentamente às monoculturas, sobretudo do eucalipto, e ao ingresso de capitais estrangeiros no agronegócio. Espera-se que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), proposto pelo governo federal, venha minorar os problemas de infra-estrutura e que o poder público tenha capacidade de conter a ação destes movimentos, dentro da legalidade. Do contrário, será muito difícil que as vantagens comparativas do setor florestal brasileiro continuem evoluindo para vantagens competitivas, gerando riquezas e melhorando a qualidade de vida da nossa população.


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