Opiniões
jun-ago 2007
Tecnologia Carlos Alberto Farinha e Silva
Vice-Presidente de Desenvolvimento da Jaakko Pöyry Tecnologia
Carlos Farinha
Vou-me embora para Pasárgada, lá sou amigo do rei...
As Pasárgadas da indústria de celulose e papel situam-se no hemisfério sul. Porém, em muitos casos, a realidade encontrada pelas empresas que, acossadas pela falta de competitividade doméstica, buscam o sul e o sol, não é tão fácil e agradável. No sul, está o Sudeste Asiático, estão a América do Sul e partes da África e da Oceania. Também se encontram, em boa parte dos destinos, normas governamentais confusas e burocráticas, competidores representados por empresas domésticas altamente competitivas, ambientadas e em expansão agressiva, e, por último, as terras e os sites disponíveis, que não são assim tão fáceis de achar e desenvolver. A afirmação de que o eixo de produção de celulose e papel esteja se deslocando do hemisfério norte para o hemisfério sul, tem de ser entendida dentro das suas limitações e condicionantes.
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Na vida real o crescimento da produção de papel tende a se concentrar perto dos mercados consumidores em crescimento, e a produção incremental de celulose desloca-se para onde as condições são favoráveis ao desenvolvimento de fontes competitivas de fibra. De fato, a maioria avassaladora do crescimento da produção de papel está concentrada na Ásia, principalmente na China, que não esqueçamos, situa-se no hemisfério norte. A exportação maciça de papéis viabiliza-se, principalmente, para as qualidades onde a otimização da estrutura dos custos de produção obriga a fabricação integrada com celulose ou pasta celulósica, e acontece em unidades de elevada capacidade de produção e economia de escala. Por outro lado, é natural a busca por condições competitivas de produção de fibra. A pressão imposta pela rentabilidade, num ambiente globa-lizado, força nas empresas a busca pela emulação dos melhores de seus pares. Estes exemplos de rentabilidade, em se tratando da produção de commodities, como celulose para mercado, ou papéis de produção integrada e de alto volume, tais como papéis brancos não revestidos ou kraftliner, atingem a sua excelência nas unidades modernas de grande economia de escala, baseadas em fibra proveniente de plantações de alto rendimento. O gráfico ao lado representa os custos de produção de celulose de fibra curta branqueada para mercado e a produção cumulativa anual no mundo. No hemisfério norte, as árvores crescem mais lentamente,
porém este é apenas um dos fatores na formação do custo elevado da madeira, que têm levado a sucessivos encerramentos de unidades produtivas, principalmente na América do Norte. Os ativos florestais têm sido, muitas vezes, considerados como mais rentáveis, quando destinados a fins imobiliários ou voltados para o lazer. Este fato, aliado às pressões ambientais e à estagnação do consumo, conduziu à premente necessidade de reestruturação da indústria norte-americana. A busca de maior rentabilidade tem, muitas vezes, conduzido à alienação dos ativos florestais e à transferência dos meios de produção de fibras para outras regiões do mundo, inclusive as situadas ao sul e ao sol. Porém, estas regiões estão muito longe de serem homogêneas. Algumas delas apresentam problemas que dificultam, na prática, a realização do seu potencial no desenvolvimento de fontes de fibra de elevada qualidade e de custo baixo. Vejamos alguns exemplos: As macro-regiões do sul e norte da África apresentam um elevado déficit hídrico. Quase todo o resto do continente apresenta graves problemas sociais, de infra-estrutura e de instabilidade política. Para as bandas da Oceania, berço do eucalipto, encontramos a Austrália, com dificuldades recorrentes de aprovação ambiental dos seus projetos. A área disponível é enorme, porém, grande parte dela com clima de-sértico e muito do restante abrigando ecossistemas delicados e protegidos. A grande fonte de fibra do hemisfério norte situa-se na Rússia. São, principalmente, florestas naturais, localizadas ao norte, com crescimento lento, e a maioria de fibra longa. O volume potencial de corte é imenso, porém a operacionalização é difícil. Não existe no país uma legislação que assegure a posse da terra, ou mesmo que garanta a manutenção das concessões ou os direitos de corte. A infra-estrutura é precária, exigindo investimentos vultosos, inclusive na
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