A crise no setor florestal já acabou? - OpCP17

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FLORESTAL: papel, celulose, carvão, siderurgia, painéis e madeira set-nov 2009

a crise no setor florestal já acabou?




a crise do setor florestal já acabou

índice

?

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Celulose & Papel: José Luciano Penido

Presidente do Conselho de Administração da Fibria

Antonio Sergio Alipio

Presidente da Veracel Celulose

Máximo Pacheco

Presidente da International Paper do Brasil

Ricardo Guedes Coelho Lopes Diretor Geral da Lwarcel Celulose

Siderurgia: Paulo Sadi Silochi

20 22 24 26 28

Diretor Operacional da ArcelorMittal BioEnergia

Elstor Paulo Frey

Diretor de Logística e Suprimentos da Globe Metais

Painéis: Gilson Berneck

30 32

Presidente da Berneck

Salo Davi Seibel

Presidente do Conselho de Administração da Duratex

Isac Chami Zugman Presidente da Lavrasul

Centros de P&D: Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Geral do IPEF

Ricardo Berger

34 36 38 40

Entidades: Kátia Abreu

Presidente da CNA e Senadora da República

Flávio Roberto Silva de Azevedo Presidente do Instituto Aço Brasil

Elizabeth de Carvalhaes

Presidente-executiva da Bracelpa

Antonio Rubens Camilotti Presidente da Abimci

Theo Borges

Presidente da Anave

Consultorias: Joésio Deoclécio Pierin Siqueira Diretor da STCP Engenharia de Projetos

Alexandre Tadeu Barboza Leite Diretor da Teca Consultoria

Fornecedores: Nestor de Castro Neto Presidente da Voith Paper

Celso Luiz Tacla

Presidente da Metso Paper South America

Leonardo Klabin Diretor da Mec Prec

Alberto Jorge Laranjeiro Diretor da Equilíbrio

Professor da Universidade Federal do Paraná

Sebastião Renato Valverde

Professor da Universidade Federal de Viçosa

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editorial

Opiniões

sem planeta, Vivemos um drama sem precedentes na história da humanidade. A deterioração dos recursos naturais é de tal ordem, que sua capacidade de reposição se esgotou. Pelos dados da Global Footprint Network, a biocapacidade da Terra, ou seja, a capacidade de os seus ecossistemas de produzirem recursos e absorverem resíduos era de 54% em 1961. Em 2005, portanto, antes da crise econômica global, já havia ultrapassado em 30% a biocapacidade máxima do planeta. Em outras palavras, a humanidade está consumindo o que a natureza torna disponível numa velocidade e num patamar superiores à capacidade que tem de repor. Construímos um modelo econômico que privilegia o consumo desenfreado em detrimento do próprio planeta.

não haverá economia

dos países, com investimentos de mais de US$ 1 trilhão para salvar bancos e empresas falidas, por outro, pode nos trazer ensinamentos preciosos. Esse é, eu diria, o lado positivo dessa crise. Quando estive na África, em fevereiro passado, em reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - Pnuma, autoridades e especialistas de vários países buscavam formular as bases para uma nova economia, uma economia de baixo carbono. Baseada em padrões de sustentabilidade, a economia verde foi saldada como um modelo voltado para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas e também para a recuperação econômica mundial em novas bases, em bases sustentáveis.

" o IPCC prevê que, se houver um aumento maior de 2% na temperatura global até 2100, deverá haver caos na produção de alimentos e impactos extremamente negativos em várias atividades produtivas ao redor do mundo " Carlos Minc Baumfeld Ministro do Meio Ambiente

Tal realidade agora é agravada pelos efeitos do aquecimento global. Se não estabilizarmos em breve as emissões de gases do efeito estufa, revertendo a curva de crescimento, o colapso ambiental do planeta será só uma questão de tempo. As economias de algumas regiões mais críticas já sofrem os impactos do aquecimento. Se os países não adotarem medidas consistentes na convenção do clima, em dezembro, em Copenhague, pode não haver futuro para a economia nos próximos 50 anos. A crise atual pode trazer lições importantes sobre o que e onde investir para salvar o planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, na sigla em inglês, prevê que, se houver um aumento maior de 2% na temperatura global até 2100, deverá haver caos na produção de alimentos e impactos extremamente negativos em várias atividades produtivas ao redor do mundo. No Nordeste brasileiro, pelo menos 30% de suas atividades econômicas serão fortemente afetadas. Não há mais tempo a perder. Sem uma redução sistemática e significativa nos níveis de emissão de CO2, o mundo terá que enfrentar uma crise econômica capaz de fazer com que a atual, que já mostra sinais claros de recuperação, pareça um pequeno susto. Quando olhamos para o quadro de hoje, com queda na produção agrícola, no setor industrial e nos investimentos globais, imaginamos um quadro para daqui a menos de 40 anos, quando não será mais suficiente ter vontade política e recursos dos contribuintes dos países desenvolvidos para encontrar soluções. Precisamos aprender com a crise atual. Se, por um lado, ela representou prejuízos econômicos para grande parte

O Diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, um dos maiores especialistas na economia verde, defende a necessidade de novos investimentos para o renascimento econômico com sustentabilidade. Quando esteve em meu gabinete, em Brasília, há pouco tempo, apresentou-me números otimistas de crescimento da green economy. Vem aumentando o número de empresas e governos que investem em atividades que, de alguma forma, direta ou indiretamente, contribuem para a preservação e a conservação do meio ambiente, com a redução efetiva das emissões de gases-estufa. Um estudo do Pnuma mostra que, em 2008, foram investidos US$ 155 bilhões em produção de energia limpa, superando em 5% o montante investido no ano anterior. O destaque foi para a energia solar, com investimentos de US$ 33,5 bilhões, com um crescimento de 49%. Ainda é pouco, em termos das necessidades ambientais planetárias. Mas, pelo menos, esses sinais apontam caminhos claros para a humanidade dar a volta por cima. São um alento, trazendo esperanças de um futuro melhor para nossos filhos e netos. Em Kyoto, o impasse entre meio ambiente e crescimento econômico resultou em metas de emissões tímidas. Agora, do sucesso da Conferência do Clima de Copenhague, no final do ano, poderá sair um balizador importante, que revelará a real disposição dos países desenvolvidos e os em desenvolvimento para salvar o planeta. Precisamos ter em conta que não se trata de tentar proteger de crises as economias deste ou daquele país. A questão não é que economia desejamos, porque, sem planeta, não haverá economia nenhuma.


celulose & papel

Opiniões

vivenciaremos um

período de mudanças e ajustes globais " A crise ainda não acabou, mas continuamos acreditando em nossa capacidade de gerar valor econômico, social e ambiental a partir das florestas plantadas, mesmo neste cenário adverso. Plantamos ideias, cultivamos relações, colhemos resultados." José Luciano Penido Presidente do Conselho de Administração da Fibria Colaboração: João Iijima, Patrimônio Imobiliário da Fibria

Para o setor florestal brasileiro, a crise infelizmente não acabou, uma vez que seus efeitos negativos permanecem bastante perceptíveis no mercado internacional de capitais, das commodities e dos produtos em geral. Grandes economias mundiais, principais consumidoras de produtos da madeira de florestas plantadas, continuam a agir com ações fortes, para retomar o crescimento e a normalização de suas economias. Contudo, não conseguiram erradicar as incertezas do futuro próximo e de como lidarão com os efeitos colaterais das ações tomadas - principalmente pela injeção de imensos valores em programas de suporte e socorro aos seus sistemas financeiros e às organizações. Essas dificuldades, contudo, não são uma novidade para o nosso setor. A despeito das diversas crises vividas nas últimas décadas, o crescimento e a melhoria da base florestal brasileira, entre outros fatores, permitiram que a produção total de celulose no país, partindo de aproximadamente 200 mil toneladas anuais na década de 50, atingisse, em 2008, a notável marca de 12.697 mil toneladas. Esse volume levou o Brasil de importador à quarta posição entre os maiores produtores mundiais de celulose, permitindo a adição de um superávit comercial de US$ 3,6 bilhões à balança comercial do país, ajudando a nação a passar por esse período de crise. Nesse contexto, a avaliação de alguns dos fatores que permitiram esse desempenho até nossos dias, apesar de não garantirem o sucesso futuro, podem ser indicativos de caminhos a serem mantidos e/ou incrementados, na busca da perenidade e do desenvolvimento da produção florestal brasileira. • Parcerias: Olhando para o passado, notadamente nas décadas de 70 e 80, o setor florestal nunca poderá deixar de reconhecer a fundamental participação dos incentivos públicos que garantiram a formação e o desenvolvimento inicial da base florestal e das indústrias relacionadas a ela. No campo da pesquisa, o trabalho das universidades e instituições de P&D garantiram grande parte do desempenho florestal obtido, graças às melhorias nos campos da genética, do manejo e da nutrição florestal. Mais recentemente, em função do aumento da importância dos programas de fomento florestal, a busca do aprimoramento e consolidação dos denominados sistemas agroflorestais, que conjugam biodiversidade funcional às espécies florestais no sis-

tema de produção dos produtores familiares principalmente, apresenta-se como outro caso exemplar de parceria com as instituições públicas de pesquisa e notadamente com as de extensão rural. Esse formato de produção permite incorporar equilíbrio ecológico ao meio ambiente, sem deixar de atender às demandas de retorno econômico, respeito aos hábitos e costumes desses produtores e suas comunidades. O exemplo da Poupança Florestal, desenvolvido pela Fibria no Rio Grande do Sul, reforça a importância da parceria com o poder público, produtores e comunidades locais. • Certificações: A opção pela adesão aos programas nacionais e internacionais de certificação florestal tem sido uma característica marcante do setor. Em 2008, o país possuía aproximadamente 1 milhão de hectares de florestas certificadas pelo Cerflor e 5,2 milhões de hectares certificadas pelo FSC. Nesse sentido, alguns fatores podem ser listados como indutores dessa adesão, além do viés comercial relacionado a esse processo. Entre eles, cabe destacar o forte alinhamento das certificações com os esforços das empresas desse setor para desenvolvimento de suas estruturas e padrões de governança corporativa, segundo seus princípios de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade social corporativa. Outro fator é a convicção que move as pessoas e as empresas desse setor, nos princípios que baseiam os processos da certificação: respeito ao meio ambiente, por suas importantes funções de manutenção da biodiversidade, dos ciclos hidrológicos e influência no clima; reconhecimento da importância da geração de retornos econômicos, e da relevância das questões socioculturais nos processos decisórios do bom manejo florestal. Além dos exemplos apresentados, outros poderiam ser citados como importantes para o desenvolvimento e adequação do setor para sobreviver às tormentas que vivemos, como os investimentos em P&D, planejamento, sistemas de gestão, TI, etc. Sobre o futuro, parece-nos que o cenário do pós-crise não deverá ser simplesmente um retorno à situação anterior. Vivenciaremos um período de mudanças e ajustes globais, em que novas dificuldades e oportunidades aparecerão em nosso caminho. Caberá buscar o equilíbrio entre a solidez de nossa história, a agilidade e a capacidade de adaptação às mudanças que essa crise vai impor à sociedade.



celulose & papel

velhos dilemas, novas crises

" apesar da demonstração de vitalidade e potencial do setor nacional, o mercado é quem dita as regras, e a crise colocou as empresas de celulose à prova " Antonio Sergio Alipio Presidente da Veracel Celulose

A crise financeira que balançou o mundo encontrou um Brasil diferente. É verdade. Até porque o setor de celulose também contribuiu para que o país se tornasse menos vulnerável às intempéries econômicas do que já foi no passado. A crise pode até estar de saída, mas o cenário ainda é restritivo. Além disso, nesse episódio, há importantes ensinamentos que apontam oportunidades de melhoria desafiadoras, tanto para a iniciativa privada quanto para o governo. Quais são os alicerces desse setor no Brasil? Como isso contribui para a resistência e a superação desse negócio em momentos de crise? O setor de celulose brasileiro é um caso de sucesso das políticas públicas de longo prazo, que vislumbraram não só um forte elemento para equilibrar a balança comercial, mas também uma fórmula de levar o impacto socioambiental e econômico gerado pelo negócio às localidades nas quais estão sediadas suas empresas, para criar uma cadeia produtiva capaz de transformar positivamente a realidade da região onde atuam. Desde o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, na década de 50, o setor sempre fez parte das pautas estratégicas do governo federal. Assim, sempre gerou resultados que justificassem esse cuidado. Êxito completo não é, pois há um longo caminho a ser trilhado, mas vale um destaque: quantos empreendimentos podem ostentar a ousada relação de 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono (tCO2) de estoque para 300 mil tCO2 de emissões (base 2007) em suas operações? E esse dado se refere apenas à Veracel, alinhado ao Documento de Posicionamento sobre as Negociações de Mudanças Climáticas e Ações do Governo Brasileiro (Aliança Brasileira pelo Clima – Setembro de 2009), no qual se destaca a matriz energética limpa do Brasil e sua contribuição para a concentração de gases causadores do efeito estufa, que é extremamente baixa em relação à maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nesse contexto, o desmatamento pesa contra o Brasil, e a experiência dos plantios comerciais faz frente a esse desafio com o manejo florestal responsável e a preservação ambiental. Desde quando os portugueses começaram a explorar o pau-brasil na Costa do Descobrimento, não há registro de uma única atividade econômica que tenha in-

vestido tanto em recuperação da Mata Atlântica quanto o setor de celulose. Somente a Veracel, em proporção de um para um com o plantio comercial, mantém 104 mil hectares de área protegida para a preservação ambiental. Desses, mais de 3 mil hectares eram pasto, onde hoje há uma vegetação de cerca de um metro de altura, composta por espécies nativas que quase desapareceram. Essa regeneração vai unir importantes fragmentos de mata nativa e criar corredores ecológicos. É a cultura do eucalipto que está viabilizando essa transformação. Quem sabe as próximas gerações conhecerão algo que nós mesmos não tivemos a oportunidade de ver? Apesar da demonstração de vitalidade e potencial do setor nacional, o mercado é quem dita as regras, e a crise colocou as empresas de celulose à prova. Na Europa, o fechamento de unidades produtivas de papel confirmou o auge da crise, freou os projetos de expansão e forçou a redução de investimentos e atividades. Um remédio amargo, quando a expectativa era expandir a produção brasileira e gerar mais empregos e impostos. Diante de medidas tão drásticas, para colocar em operação novas linhas de produção de celulose, é necessário primeiro identificar sinais sólidos de recuperação da economia mundial. Ao entrar no último trimestre do ano, a palavra de ordem ainda é cautela. O que não significa inércia nem pessimismo. Tudo leva a crer que 2010 será diferente. Para citar um fruto profícuo desse cenário, a criação da Fibria abre um novo capítulo na história da indústria brasileira. Por fim, é importante registrar que a crise financeira é um dos itens na agenda do setor de celulose. Apesar do alinhamento com as estratégias de desenvolvimento e das contribuições econômicas e socioambientais do negócio, há um espaço importante a ser preenchido. Já se tornou um clichê, mas é necessário insistir: mesmo com a evolução apresentada na produção já alcançada pelo país, ainda falta equalizar as políticas públicas e o amparo da legislação; falta dinamizar os procedimentos legais e administrativos relacionados ao setor; falta avançar nas discussões; sair dos debates ideológicos e do conflito pouco construtivo para estabelecer um ambiente favorável ao desenvolvimento sustentável ― se não imune ― e fortalecido contra eventuais crises. São as ações que geram os resultados.


Opiniões

otimismo,

mas com cautela " Calcula-se que a conjuntura econômica para os próximos meses seja positiva, e a retomada, em ritmo lento e gradual, continue a acontecer. Mas é importante continuar a agir de modo responsável. " Máximo Pacheco Presidente da International Paper do Brasil

A explosão da pior crise econômica dos últimos 70 anos trouxe mudanças ainda mais surpreendentes e profundas do que a queda de pesos-pesados, como os bancos de investimentos Lehman Brothers e Merrill Lynch. Um ano após a crise, a configuração econômica do mundo está repleta de novidades ― recebidas com boas-vindas por uns, temidas por outros e vistas com ressalvas e certo grau de desconfiança por muitos. A China transformou-se na maior nação exportadora do mundo, superando a Alemanha e deixando os Estados Unidos em terceiro lugar. Os países emergentes cresceram ainda mais aos olhos de investidores. Brasil, China e Rússia se tornaram credores do FMI. De forma lenta e gradual, países como Alemanha e França se recuperam da crise e já mostram sinais de crescimento após meses de recessão. Apesar de funcionarem como uma injeção de ânimo, esses acontecimentos devem ser recebidos com prudência. Se, no geral, o cenário é de recuperação, acredito que é necessário adicionar um elemento a todo esse otimismo: a boa e velha cautela. A economia levará certo tempo para retornar ao patamar anterior, e a possibilidade do aumento do desemprego, com o consequente corte de consumo, ainda representa ameaça. No que diz respeito ao setor de papel e celulose no Brasil, o cenário não é diferente. Dados preliminares de julho indicam sinais de melhora no setor. A produção de celulose cresceu 3,7% em relação a junho, e, no acumulado de janeiro a julho de 2009, foi 0,7% superior aos volumes do mesmo período do ano passado. Quanto ao papel, a produção nacional cresceu 3,3% em julho, em comparação ao mês anterior, com destaque para os resultados dos segmentos de papéis de embalagem e de papel para imprimir e escrever. No entanto, enfrentamos um primeiro trimestre difícil, com alterações no comportamento dos segmentos. O mercado doméstico, por exemplo, apresentou uma redução de 3% no consumo de papel não revestido, no primeiro semestre de 2009 em comparação a 2008, e houve aumento de importação em função do escoamento da produção de outros países para a América Latina. No acumulado, a produção ainda não chegou aos patamares de 2008, mas a diferença tem diminuído a cada mês. Nos dois primeiros trimestres, as exportações de papel

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cresceram. Esse aumento não foi acompanhado pela receita, em função dos preços reduzidos. Entretanto, os resultados devem se mostrar mais positivos nos próximos meses. Vale ressaltar que o superávit da balança do setor de celulose e papel foi de US$ 2 bilhões - 12% do resultado total da balança comercial brasileira. Além disso, o fato de o setor de papel ser um dos mais competitivos segmentos da indústria brasileira no mercado internacional também contribui para uma visão otimista dos meses que estão por vir. O Brasil possui importantes diferenciais em relação aos concorrentes globais: 100% da produção nacional de papel têm como matéria-prima árvores provenientes de florestas plantadas e renováveis, além de certificadas por órgãos reconhecidos internacionalmente, como o Cerflor, homologado pelo Programme for the Endorsement of Forest Certification - PEFC, o que significa que são manejadas de acordo com os mais rigorosos critérios de sustentabilidade. Além disso, em razão de fortes investimentos em P&D, o país se tornou líder no uso de eucalipto e de pínus, principais espécies usadas para a produção de papel. Atual-mente, essas plantações originam, respectivamente, cerca de 41m³ e 35m³ anuais de madeira por hectare. A alta produtividade garante menor demanda por novas áreas. Como resultado, os espaços cultivados abrangem apenas 0,2% das terras agricultáveis do território brasileiro. Calcula-se que a conjuntura econômica para os próximos meses seja positiva, e a retomada, em ritmo lento e gradual, continue a acontecer. Mas é importante continuar a agir de modo responsável. Não é possível controlar condições externas, mas podemos administrar nossos custos, usar os recursos disponíveis com disciplina e preparar nossas empresas e profissionais para condições complexas e desafiadoras. Independentemente do clima e das condições de mercado, algumas lições empresariais devem permanecer, como a ética, a transparência, o respeito às pessoas e o desenvolvimento sustentável. O cumprimento dessas regras é o que torna empresas perenes e resistentes a turbulências. Com a casa arrumada, seguindo as leis da economia e usando o bom senso, fica mais fácil enfrentar a crise. No primeiro ano da eclosão da maior crise das últimas décadas, é bom não se esquecer disso.


celuloseestratégica & papel visão

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crise sim, mas não de

competência

Os dois últimos anos, 2008 e 2009, serão recordados por muito tempo, acima de tudo, como lição valiosa a ser utilizada para um futuro melhor. A crise financeira internacional abalou a indústria. No setor de celulose, eu diria que a crise foi muito mais de preço do que de demanda. A excelente posição de competitividade dos produtores nacionais foi fundamental para a preservação e eventual ganho de mercado internacional. É claro que o mercado como um todo, e não só o setor de celulose, ainda tem contas de custos financeiros sendo acertadas, decorrentes de operações não industriais que precisaram ser realizadas, mas, com sua enorme capacidade de superação, é somente uma questão de tempo. A experiência do Brasil no passado mostra que remédios “amargos” valeram a pena, pois permite que se posicione melhor quando esses ciclos de crise se apresentam. A força e flexibilidade do país têm sido vitais para enfrentar momentos difíceis desde o final de 2008. E agora, no terceiro trimestre de 2009, começa a apresentar os primeiros sinais de recuperação econômica, ainda modestos, sem dúvida, e que não devem nos deixar eufóricos e nem permitir que baixemos a guarda, mas são indicadores de que todos estão no caminho certo e nele devemos seguir. As empresas estão fazendo sua parte, e o Estado, com sua volúpia arrecadadora, poderia fazer mais, pois suas tímidas e pontuais iniciativas de baixar impostos em alguns setores da economia mostraram que os negócios se pagam mantendo o motor da economia girando e preservando empregos. Fomos surpreendidos por alguns países ditos competitivos, com fortes leis de mercado, sem histórico de interferência do Estado na economia, que adotaram ações, que, no passado, recriminavam: com subsídios a produtores e ajuda financeira a setores e empresas das suas regiões. Essas ações são alvos de críticas de produtores de outras regiões, que se veem prejudicados, pois seus esforços para ganhos de produtividade são atingidos por esses mecanismos de ajuste de mercado.

No setor de celulose, isso também aconteceu nos países da América do Norte, criando, assim, um artifício de competitividade, que, esperamos, seja removido já em 2010. Sobre o passado, nada pode ser feito, a não ser tirar lições para futuras crises. Mais crises no futuro? A história mostra que há ciclos em todas as áreas, e na economia e nas organizações não é diferente. O difícil é prever quando e de que forma acontecerão. Há como se basear em comportamentos e dados históricos que envolveram as crises que já aconteceram para se tentar projetar quando se dará a próxima. Mais difícil ainda é projetar a magnitude delas, o quão grandes podem ser. Mas esse é um processo dinâmico e, ao se estudar os ciclos do passado, nota-se que o intervalo entre “crises” vem diminuindo ao longo tempo, ou seja, é possível que a próxima crise aconteça mais rapidamente em relação aos intervalos das que existiram no passado. É para assustar? Absolutamente não. E os produtores nacionais estão dando mostra disso ao anunciarem grandes projetos de produção de celulose para os próximos 10 a 15 anos. E isso é sinal de confiança e competência. O setor de celulose brasileiro é e continuará sendo competitivo e tem capacidade de disputar mercado com gigantes mundiais, o que tem feito de forma brilhante e continuará a fazer. Não tenho a menor dúvida. A crise acabou? Em alguns setores da economia, brasileira ou mundial, creio que ainda restam passos a serem dados, ajustes a serem feitos. No setor de celulose, a crise de preços ainda não acabou, pois o setor depende de dois fatores: preço internacional - como toda commodity - e taxa de câmbio, ambos são itens não controláveis pelas empresas. Mas já há sinais de recuperação, pelo menos a curto prazo. A crise de competência nunca atingiu o setor produtor de celulose, assim, só nos resta ser cada dia mais competitivos e eficientes, e, para isso, as empresas brasileiras ainda contam com ingredientes importantíssimos: nosso clima, nossa tecnologia e nossa gente. E aí, convenhamos, “não tem pra ninguém”!

" as empresas estão fazendo sua parte, e o Estado, com sua volúpia arrecadadora, poderia fazer mais, pois suas tímidas e pontuais iniciativas de baixar impostos mostraram que os negócios se pagam mantendo o motor da economia girando e preservando empregos " Ricardo Guedes Coelho Lopes Diretor Geral da Lwarcel Celulose



siderurgia

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a crise era passageira " o Brasil entrou na crise com o pé direito, estava com boas reservas, não precisou socorrer suas instituições financeiras, e a demanda doméstica foi mantida "

Paulo Sadi Silochi Diretor Operacional da ArcelorMittal BioEnergia

A catástrofe começou em 15 de setembro de 2008, com o pedido de proteção por falência do Lehman Brothers. As previsões eram de que a crise se estenderia por três ou quatro meses, alcançando o final do ano. Depois, passou para o primeiro trimestre de 2009, e logo se falava que seria por um ano. As empresas passaram a produzir cenários diários de orçamentos, lembrando os tempos da inflação. O caixa passou a ser a grande preocupação. Vender à vista, comprar a prazo, ou melhor, não comprar nada, receber todos os créditos e alongar as dívidas, zerar os estoques, reduzir produção, dar férias coletivas, reduzir o efetivo, como se fosse possível aplicar a mesma receita para todos. Foi exaustivamente explicada, nos treinamentos de adaptação aos novos tempos, a comparação usada por um professor de economia da UF-MG entre uma caixa d’água e a tesouraria das empresas: “se a torneira de saída for maior que a de entrada, um dia a caixa seca”. Como não podia deixar de acontecer, a economia parou. Enquanto o setor produtivo pisava o freio, os governos do mundo inteiro corriam em socorro das instituições financeiras para evitar um mal maior. “O mundo nunca mais será o mesmo”, profetizaram alguns. Um ano se passou, o balanço mundial da crise mostra que foi reduzido a cinza todo o PIB mundial de um ano. Felizmente, há sinais seguros de que a crise está ficando para trás. Boas lições podem ser tiradas desse episódio, algumas bem elementares, tais como: o que gera riqueza duradoura é o setor produtivo. A especulação financeira produz milionários da noite para o dia, bônus fantásticos, visibilidade, sonhos, mas não enche a barriga de ninguém. A especulação financeira cria ilusões e desenvolvimento sem sustentação. Olhando para trás, podemos concluir que a farra estava muita parecida com o tempo da hiperinflação no Brasil, quando as pessoas liquidavam seus ativos para aplicá-los no mercado financeiro. Quem não se lembra de alguém que vendeu o único apartamento e foi morar de aluguel, porque o rendimento diário da aplicação representava um ótimo ganho? Quando a hiperinflação acabou e o mundo voltou ao normal, ficaram sem casa para morar e sem rendimento, apenas com uma pequena reserva no banco.

O Brasil entrou na crise com o pé direito, estava com boas reservas, não precisou socorrer suas instituições financeiras, e a demanda doméstica foi mantida. Num primeiro momento, o setor de exportação foi atingido pela parada do mercado. O movimento de precaução tomado por todas as empresas no final de 2008, principalmente de consumir os estoques, trouxe uma redução no nível de produção industrial, mas os segmentos que são voltados para o mercado interno, logo voltaram ao normal. A indústria automobilística é um bom exemplo desse movimento. Desde o final do primeiro trimestre deste ano, alguns modelos de carros populares não são encontrados de pronta-entrega. O setor siderúrgico voltado para exportação, principalmente o parque guseiro de Minas Gerais, foi um dos mais afetados. A produção foi zerada. Atualmente, 30% dos altos fornos voltaram a funcionar, e as previsões para 2010 são boas. O setor de siderurgia voltada para a construção civil voltou a produzir nos patamares anteriores à crise. A expectativa do crescimento da construção civil para 2010 e anos subsequentes, em função das eleições presidenciais, copa do mundo e possíveis olimpíadas, é uma realidade a ser considerada. O Brasil, como produtor de commodities, deve experimentar, por um longo período, uma ascensão, principalmente pela incorporação da massa de consumidores asiáticos. Sua indústria já é bem diversificada e moderna. Vai precisar é investir melhor em infraestrutura e educação, para dar sustentação ao seu desenvolvimento. O desemprego em declínio, os salários com sinais de recuperação, a alta nas vendas do varejo são indicadores positivos. A crise no Brasil permaneceu muito restrita. Não causou um aumento substancial do desemprego. A produção industrial tem crescido desde janeiro. O mercado de madeira e carvão vegetal, que havia parado totalmente em Minas, voltou com os preços compensadores. Alguns negócios foram consolidados, e o que é mais importante, os produtores souberam segurar seus produtos para garantir preço, numa mostra de maturidade e confiança no futuro e de que a crise era passageira.


Opiniões

estamos saindo do

fundo do poço

A crise acabou? Sim. As empresas bem administradas, com ativos de vida longa e baixo custo, sobreviverão e prosperarão, especialmente se tiverem commodities que sejam de interesse de países que demandam a sua aquisição. Os números e projeções informam que, em 2010, o PIB mundial crescerá 3,3%, mercados emergentes sairão na frente com PIB 6,3%, e o Brasil, com 4,5%, enquanto as economias desenvolvidas terão um PIB de 1,3%. Cuidados: Temos que ser muito seletivos e cuidadosos nas nossas vendas neste momento de 2009: apesar da queda dos preços das commodities, devemos assegurar e evitar a inadimplência da venda; mediante isso, estaremos honrando os compromissos de pagamento da cadeia produtiva do nosso negócio. Vantagem: O reflorestamento no Brasil tem seu investimento privilegiado por estar em um país tropical, com um clima favorável, que nos permite exaurir uma floresta em seus ciclos, com maior rapidez do retorno do capital e devido à maior produtividade alcançada, graças aos trabalhos realizados no desenvolvimento com melhoramento florestal pelos cientistas e empresários do setor, que nos permite um menor custo/m3 de matéria-prima quando comparado com países do hemisfério norte. Dificuldade: Apesar dessa vantagem, a maioria das indústrias e empresas que se utilizam de matérias-primas florestais reduziram o seu investimento em programas de reflorestamento no Brasil, em virtude da crise globalizada, por dificuldade e custo de créditos. Mudanças: Estamos presenciando nesta crise globalizada muitas oportunidades de negócios e posicionamento estratégicos, que vêm mostrando que todos os segmentos que se utilizam de matérias-primas, em especial o setor de papel e celulose, têm se posicionado com fusões entre empresas para melhorar a sua posição frente ao mercado interno e internacional. Alguns setores, a exemplo de painéis e madeira sólida, dependerão muito da velocidade do mercado interno, que acompanha os programas de implementação da construção civil e dos demais programas de investimento do PAC. O setor siderúrgico, que se utiliza de carvão, também está saindo da crise globalizada, em virtude da demanda do mercado de gusa e aço, aos poucos retornando a suas

" quanto mais breve o Estado proceder as reformas e ajustes necessários, mais rapidamente alcançará os benefícios da captação de investimento das indústrias do setor florestal, da geração de empregos e da arrecadação de impostos " Elstor Paulo Frey

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Diretor de Logística e Suprimentos da Globe Metais

atividades, bem mais consciente de realizar o seu dever de casa na busca de reduções de custo versus a queda dos preços da suas commodities. Coragem na Reforma Tributária: No meu entendimento, o governo e os setores afins deverão tomar a coragem de avançar na reforma e diminuição da carga tributária, que é a mais elevada do mundo. Essa imensa carga pode estar impedindo que tenhamos, de imediato, maiores investimentos e, por conseguinte, assumindo posições mais estratégicas e de liderança desse setor em nível mundial. Marco regulatório: O marco regulatório federal (em geral) existente é difícil e desalinhado com a atualidade globalizada e requer adequação rápida, para que possamos evoluir e competir nesse mercado dinâmico. Alguns marcos regulatórios estaduais estão sendo realizados com muita morosidade, a exemplo da gestão ambiental e florestal, causando retardamento de investimentos, postergação da geração de empregos, redução de impostos e diminuição da geração de divisas com as exportações. Algumas Secretarias Estaduais de Meio Ambiente estão discutindo a regulamentação da legislação ambiental e florestal de forma morosa para a gestão e monitoramento ambiental para o setor, como licenças, Cadastro Ambiental Rural, Autorizações de Explorações e de Transportes. As questões fundiárias estão sendo recadastradas pelos órgãos federais e estaduais, o que requer Georreferenciamento pelo sistema geodésico das propriedades, de forma lenta, devido ao acúmulo de processos a serem analisados para evitar a atual confusão de localização, área das propriedades com vários andares. Os marcos regulatórios devem ser agilizados e são de suma importância para que tenhamos maior rapidez na expedição dos processos pelos órgãos públicos, para o bom andamento do nosso negócio, conforme planejamento de cada empresa. Conclusão: Estamos saindo do fundo do poço, mas o cenário atual ainda requer muito trabalho do empresariado para colocar a sua empresa de forma sustentável, competente e eficiente. E, em relação ao Governo, quanto mais breve o Estado proceder as reformas e ajustes necessários, mais rapidamente alcançará os benefícios da captação de investimento das indústrias do setor florestal, da geração de empregos e da arrecadação de impostos.


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crises

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sempre existiram e estão à nossa volta

Crises sempre existiram. São oriundas basicamente de medidas, posturas, políticas erradas que descontrolam, de alguma forma, famílias, empresas e países. Neste momento, vivemos uma crise globalizada, que teve sua origem nos Estados Unidos. O efeito mundial é devido à economia americana ser a mais forte e com influência em todos os continentes. Alguns países copiaram esse modelo errado e contribuíram para aumentar a dimensão da crise. A crise das hipotecas, como foi chamada, disparou uma epidemia de inadimplência no setor de financiamento imobiliário nos EUA e teve consequências que se alastraram entre os bancos e o mercado financeiro mundial. Ela teve origem no final dos anos 90 e ficou bastante aparente a partir de 2007, nos EUA. Baixas taxas de juros e grande quantidade disponível de capital nacional e estrangeiro estimularam enormemente o consumo, principalmente no setor imobiliário residencial. Com isso, o preço das casas inflou como uma

que muitos se questionam: de onde vem tanta riqueza? Com certeza, houve um verdadeiro descompasso entre gastos e moedas devidamente lastreadas, e isso também é reflexo dentro desse momento que estamos vivendo. Penso que não será num intervalo de um ou dois anos que a crise será debelada e uma solução, encontrada. Não existem soluções mágicas. Serão necessários entre cinco e dez anos para que o mundo se ajuste e encontre caminhos de prosperidade. A história nos mostra que ninguém comete erros sem pagar por eles. Nesse caso de mundo globalizado, todos, em um primeiro momento, fomos e seremos mais ou menos afetados. É importante estarmos atentos ao que virá, pois seguramente oportunidades ocorrerão dentro de uma nova ordem mundial. Não pensar, necessariamente, somente em coisas novas, diferentes, mas sim fortalecer e viabilizar onde já somos fortes. Valores fundamentais mais claros e bem estabelecidos para esse novo tempo serão

" Penso que não será num intervalo de um ou dois anos que a crise será debelada e uma solução, encontrada. Não existem soluções mágicas. Serão necessários entre cinco e dez anos para que o mundo se ajuste e encontre caminhos de prosperidade. " Gilson Berneck Presidente da Berneck Painéis e Serrados

bolha. Entre 1997 e 2006, o preço de uma casa típica americana subiu 127%. Muitos consumidores pegaram a segunda hipoteca em cima de parte das casas que tinham pago, com preços inflados. Tais títulos foram empacotados e revendidos securitizados no mercado de capitais. Aproximadamente 80% das hipotecas americanas emitidas para tomadores subprime, ou seja, aqueles com cadastro fraco, sem garantias ou renda suficiente, foram feitas com taxas de juros ajustáveis, pós-fixadas. Com o excesso de oferta de residências e inúmeros novos lançamentos, o preço das casas começou a cair por acúmulo de estoque – lei da oferta e da procura. Com o preço dos ativos caindo e as taxas de juros subindo, os compradores não conseguiram mais refinanciar suas dívidas e ficaram inadimplentes. Por consequência, mais casas foram retomadas pelos bancos e mais oferta houve no mercado. E os títulos securitizados ruíram na sua origem. Esse foi o coração da crise. Nos últimos 20 anos, observamos uma verdadeira gastança de forma desmedida, tanto nos EUA como na Comunidade Europeia, com a unificação da região e a elevação dos padrões de vida. Creio

necessários, mas certamente não poderão se distanciar da ética, da moral, do respeito e dos outros princípios básicos para uma convivência harmoniosa e que possibilitam o desenvolvimento do homem e do mundo. A crise ainda não acabou. Especificamente o setor de painéis reconstituídos tipo MDP (medium density particleboard), ou painel de partículas de média densidade e MDF/ HDF(medium/high density Fiberboard), ou painel de fibras de média/alta densidade, ainda administra os problemas do excesso de capacidade instalada. Nos últimos dois anos, oito novas linhas entraram em funcionamento, e mais duas estão em andamento neste ano, praticamente duplicando a capacidade de produção de painéis no Brasil. Com o excesso de oferta, o preço caiu aproximadamente 25%, as produções foram reduzidas para acomodar parte dessas novas instalações. Fusões e vendas estão acontecendo entre as empresas do segmento, e o fechamento de linhas obsoletas e de menor rendimentos deverá ocorrer. Novos nichos de mercado estão sendo desenvolvidos para consumir esse excesso. Com os preços mais baixos, produtos serão substituídos, exportações viabilizadas, e para alguns, a crise será superada. Crises sempre existiram e estão à nossa volta.



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e então,

a crise acabou?

A crise acabou! Não, ela não terminou, o pior ainda está por vir. Não houve crise. É um tsunami! Não passa de uma marolinha. É um movimento em V. Que nada, é em L. Bobagem, no mínimo será em W. Ou seja, se vocês quiserem mesmo conhecer um diagnóstico da grande crise econômico-financeira internacional e seus efeitos sobre o Brasil, abram qualquer edição recente de um bom jornal e lá encontrarão a abalizada análise dos mais conceituados especialistas brasileiros e mundiais afirmando... o que vocês preferirem ler. Há suficientes artigos e opiniões para todos os gostos. Portanto, não esperem de mim mais uma dessas avaliações. Mesmo porque, como um empresário do setor florestal brasileiro, com atuação na produção de painéis de madeira industrializada - MDF, MDP e Chapa de Fibra, eu não preciso me preocupar com aqueles que, através dos empréstimos subprime - e de inúmeras outras operações financeiras inacreditavelmente irresponsáveis - induziram uma boa parcela da humanidade a um comportamento de exuberante irracionalidade, todo mundo dançando uma frenética ciranda, que acreditavam eterna e retroalimentada. Eu me explico. Esse delírio coletivo que atingiu, em todos os continentes, centenas de milhões de consumidores, bem como perspicazes comerciantes, sólidos industriais e banqueiros tarimbados, também contaminou o empresariado do nosso setor de painéis, que dobrou, no curto período de três anos, a capacidade instalada no Brasil, investindo cerca de R$ 2,5 bilhões. Evidentemente, quando as decisões desses investimentos foram tomadas, por volta de 2006, a convicção generalizada era a de que o país estava entrando em um longo período de significativo crescimento do seu mercado interno e de que, simultaneamente, o custo Brasil passaria a ter uma gradativa redução, favorecendo igualmente as nossas exportações. Ninguém sequer imaginava assistir à valorização do Real ocorrida nos últimos dois anos. É por isso que, no nosso segmento, a crise internacional não é a grande preocupação. Ao contrário, aflige-nos muito mais a crise intramuros que nós mesmos fomos capazes de gerar. Agora, “quem pariu Mateus que o embale!”. E, “embalar Mateus”, aqui, significa buscar obsessivamente produtividade e diminuição de custos. Ou seja, através de ganhos de escala e de um saudável processo de consolidação, já iniciado, as empresas do nosso setor terão condições de se tornar as mais competitivas do mundo. Se, em um futuro

breve, espero, o custo Brasil finalmente começar a baixar, e o nosso câmbio deixar de ser tão perverso, não tenho dúvida de que o Brasil terá o maior e melhor setor de painéis de madeira e, consequentemente, de móveis do mundo. Por outro lado, não obstante o fato de que o setor de florestas plantadas no Brasil (6,5 milhões de hectares, a maior parte certificados pelo FSC e/ou Cerflor, produtividade superior a 50m3/ha/ano, exportações de US$ 7 bilhões/ano, R$ 9 bilhões de tributos anuais e 5 milhões de empregos gerados) ser considerado internacionalmente como a grande referência mundial, ele tem sido alvo de uma série interminável de ações - e omissões - que, se fôssemos dados a teorias conspiratórias, poderiam nos fazer imaginar a existência de um complô montado com o objetivo de fragilizá-lo, se não inviabilizá-lo completamente. Sem mencionar a exagerada burocracia e a crescente despesa com todos os tipos de taxas que as empresas que plantam florestas têm que enfrentar, as exigências dos órgãos ambientais também não cessam de aumentar, e chegaram a um limite com a edição do decreto 6.514 de 2008 que, ao tentar regulamentar as infrações ambientais e as respectivas penalidades, atinge fortemente a atividade de plantio de florestas, colocando em perigo o seu futuro. Além disso, a proliferação de áreas protegidas, com a criação de novas unidades de conservação e suas consequentes faixas de amortecimento, reservas extrativistas, áreas de comunidades e de povos tradicionais, também ameaça inviabilizar o negócio de florestas plantadas no Brasil, uma vez que, em que pese a imbatível produtividade que conquistamos, o custo da nossa madeira não cessa de subir, não sendo difícil prever que, dentro de alguns anos, não mais estaremos entre os produtores mundiais de baixo custo. E então, a crise acabou? Bem, "a deles", como já disse, eu não sei. E também não sei se vem ao caso. Mas "as nossas", as crises do setor de florestas plantadas no Brasil, e em especial do segmento de painéis de madeira industrializada, essas, com certeza, não acabaram. Algumas delas, ao contrário, estão apenas começando. A grande vantagem é que, para enfrentá-las, não dependemos do Bernancke, do Obama, do Sarkozy ou mesmo do Henrique Meirelles. E, se é verdade que as soluções dessas crises não dependem somente de nossa mobilização, não é menos verdade que essas soluções passam bastante por nós. Mexamo-nos, portanto!

" E então, a crise acabou? Bem, a deles eu não sei. E também não sei se vem ao caso. Mas as nossas, as crises do setor de florestas plantadas no Brasil, e em especial do segmento de painéis de madeira industrializada, essas, com certeza, não acabaram. " Salo Davi Seibel Presidente do Conselho de Administração da Duratex



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se não aproveitarmos, seremos história " a crise depurou a produção, sobreviveram os melhores, que têm oportunidade única de definitivamente se firmarem como fornecedores confiáveis, não mais de produtos baratos, mas de qualidade superior " Isac Chami Zugman Presidente da Compensados e Laminados Lavrasul

A crise não acabou, o momento pior pode estar passando, mas os efeitos e consequências perdurarão por muitos anos. Os sistemas econômicos foram desmantelados, a confiança desapareceu, empresas sumiram sem deixar vestígios, países estão passando por severas mudanças, cujas consequências, a médio e longo prazos, são incógnitas. Claro que nosso setor foi seriamente afetado, mas, mesmo antes de explodir a crise, já mostrávamos fortes sinais de enfraquecimento, com investimentos sendo cancelados ou postergados, produção sendo drasticamente reduzida e outros indicativos. O grande cliente, os Estados Unidos, já estava em crescimento negativo, a economia brasileira não mostrava força suficiente e uma coisa foi puxando a outra. Muitas empresas passaram a utilizar métodos suicidas, baixando preços violentamente na tentativa de obter pedidos, mas o que conseguiram foi a postergação de decisão de compras na espera de ainda maiores reduções de preços, o que aconteceu efetivamente durante longo período de tempo. Resultado óbvio foi o fechamento de empresas, endividamento, corte ainda maior de volumes produzidos, círculo vicioso difícil de se romper. A indústria madeireira brasileira, até a década de 80, era quase totalmente dependente do pinheiro do Paraná (araucária), largamente utilizado na fabricação de compensados em geral, portas, tábuas, caibros, sarrafos, lambris, molduras, etc., que dominavam o mercado. Todavia, a indústria era muito antiquada, poucas empresas sobreviveram aos novos tempos. A partir dessa década, novas espécies vindas da Amazônia começaram a ser industrializadas pela tradicional indústria madeireira dos estados do PR, SC e RS. Também floresceu a indústria na Amazônia nesse mesmo período. Uma enorme alavancagem ocorreu nos volumes produzidos, ao mesmo tempo em que se começava a aumentar as exportações, especialmente para o Reino Unido, em primeiro lugar, para a então Alemanha Ocidental e para o Oriente Médio. Coincidentemente, começou-se a colher o pínus plantado, em decorrência dos incentivos fiscais. De repente, a produção brasileira passou a ser interessante para o mundo. Apesar da qualidade irregular, tínhamos muito produto, a bom preço.

Alguns ingênuos, muitas vezes incompetentes e, até mal-intencionados brasileiros, construíram uma péssima imagem. Ainda hoje, há sérios problemas quanto à qualidade, serviços, pontualidade e certificações, mas, felizmente, há um número muito maior de fornecedores reconhecidos como bons e confiáveis, com produtos de qualidade igual ou superior ao de países concorrentes, internacionalmente certificados ambiental e tecnicamente. No início dos anos 90, a Comunidade Europeia pressionou a indústria brasileira de compensados, imaginando estar criando uma barreira técnica, o que beneficiaria as fábricas de dentro da CE. Os europeus ficaram surpresos com a capacidade brasileira de responder com vigor e qualidade a mais esse obstáculo, pois desenvolvemos o PNQM ― Programa Nacional de Qualidade de Madeira, a eles apresentado na Embaixada Brasileira em Londres. Esse programa, reconhecido no Brasil e internacionalmente, é a base de outras certificações. O Brasil tomou conta do mercado europeu de compensados de coníferas. Outros tipos de compensados tiveram, igualmente, sua qualidade e origem certificadas. Em meados dos anos 90, o mercado dos EUA requereu grande volume de compensados para a indústria da construção civil, e, mais uma vez, o empresariado brasileiro venceu o desafio de certificar tecnicamente seus produtos, de acordo com as exigências norte-americanas, inundando aquele país com nossos produtos, a ponto de excedermos a quota livre de impostos de importação do Sistema Geral de Preferências. Atualmente, o compensado brasileiro paga altas taxas de impostos de importação, mas, mesmo assim, continua a ser um fator de equilíbrio do mercado americano. Infelizmente, até chegarmos a esse ponto, muitas foram as baixas, perdemos capacidade de produção, exportamos menos, geramos menos empregos, menos divisas, menos tudo. A crise depurou a produção, sobreviveram os melhores, que têm oportunidade única de definitivamente se firmarem como fornecedores confiáveis, não mais de produtos baratos, mas de qualidade superior, podendo, inclusive, escolher parceiros de qualidade e reputação ilibada. Se não aproveitarmos, seremos história.



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sairemos na dianteira da recuperação da economia mundial Consolidados os indicadores econômicos do primeiro semestre do ano, é hora de avaliar os reflexos da crise financeira mundial nos diversos setores da economia brasileira. Certamente, todos os segmentos foram atingidos, com abrangência e graus diferenciados. O tempo que cada setor levará para se recuperar também será diferente, dependendo das políticas adotadas pelo governo federal para a manutenção do consumo interno e das peculiaridades de cada atividade. No caso da agropecuária, o setor levará um pouco mais de tempo para se recuperar. O setor foi capaz de dar respostas imediatas às demandas que recebeu. Manteve a balança comercial superavitária mesmo em período de crise. Mas é bom lembrar que a nossa produção é anual, o que plantarmos agora trará resultados somente em 2010.

Mas o cenário era, então, muito promissor. A demanda por insumos cresceu mundialmente, e os preços dispararam. Os fertilizantes, por exemplo, dobraram de preço entre uma safra e outra. Assim, a demanda por crédito também aumentou. Nesse mesmo período, o mercado mudou. A agroenergia ascendeu com força, o dólar desvalorizou em todas as economias, e as commodities dispararam no mercado internacional. Foi o início da crise para o setor. O que era para ser positivo ― alta dos preços ― acabou trazendo dificuldades. Como boa parte da produção é comercializada no mercado futuro, as tradings, grandes financiadoras do setor, tiveram que cobrir as margens negociadas nas bolsas, reduzindo a oferta de crédito para o plantio da safra 2008/09. A crise financeira mundial atingiu o setor nesse

" A escassez de crédito da crise é temporária, conjuntural, será solucionada quando a confiança no mercado melhorar. A escassez de crédito para o setor agropecuário é estrutural, decorre da ineficiência da política agrícola e de um modelo já ultrapassado. " Kátia Abreu Presidente da CNA e Senadora da República

Os dados do PIB - Produto Interno Bruto, divulgados recentemente pelo IBGE, refletem bem esse quadro. Os setores que receberam maiores incentivos voltados à manutenção do consumo, como desonerações e crédito, ensaiaram uma recuperação ainda no primeiro semestre. A indústria cresceu 2,1%, e o setor de serviços, 1,2%, em relação ao trimestre anterior. O setor agropecuário fechou o trimestre patinando e amargou queda de 0,1%. Esse resultado não poderia ser diferente. Nossa indústria é a céu aberto. Clima, doenças e pragas influenciam sobremaneira o resultado obtido a cada safra. Também somos extremamente dependentes de recursos de terceiros para financiar a atividade produtiva. Foi justamente no crédito que tivemos o nosso primeiro contato com a crise. O setor agropecuário já vinha de um subsequente processo de renegociação de dívidas, contraídas em especial nas safras 2003/04, 2004/05 e 2005/06, em função de perdas em decorrência de doenças, clima desfavorável e mudanças da política econômica, que depreciou o dólar. Todos esses eventos geraram um descasamento entre os custos de produção e a receita do setor, que se mostrou insuficiente para fazer frente às despesas de custeio das safras. O resultado era previsível. Sem um seguro rural que garantisse a produção e sem seguro de renda, os produtores rurais tiveram que renegociar os saldos devedores. Dessa forma, aliviaram a liquidez do setor no curto prazo, mas inviabilizaram o acesso ao crédito nas safras futuras.

momento, agravando ainda mais o cenário. O crédito desapareceu. As dívidas alavancadas em dólar trouxeram grande endividamento às agroindústrias. O nível tecnológico das lavouras caiu. O clima, por sua vez, castigou os estados do sul do país, reduzindo a safra de grãos brasileira em 10 milhões de toneladas. Essa é a safra da crise. Plantada e colhida com dificuldades, comercializada em período de preços cadentes, mas relativamente equilibrados pelo dólar, e com retração das compras externas, à exceção da soja. A escassez de crédito da crise é temporária, conjuntural, será solucionada quando a confiança no mercado melhorar. A escassez de crédito para o setor agropecuário é estrutural, decorre da ineficiência da política agrícola e de um modelo já ultrapassado. Além disso, a tributação, o risco à garantia do direito de propriedade e os gargalos da logística são problemas crônicos, que minam a competitividade do nosso setor. Tal conjuntura nos faz acreditar que a atividade agropecuária levará um pouco mais de tempo para se recuperar. Mas, apesar da crise, a tendência do setor é de crescimento nos próximos anos. O mundo passa por um forte processo de urbanização, o que, inevitavelmente, elevará a demanda por alimentos. Somos a última fronteira agrícola e possuímos áreas para o plantio sem precisar desmatar sequer um hectare. Assim, a crise ainda não acabou no campo, mas o cenário melhorou. E o Brasil, entre os países emergentes, sairá na dianteira da recuperação da economia mundial.



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estratégias da indústria do aço para

vencer a crise " O setor registrou, nos meses de novembro e dezembro, quedas de 50% a 60% nas vendas e produção das suas usinas. Enfrentou esse cenário sem poder contar com a saída tantas vezes utilizada no passado, de compensar quedas de demanda interna com aumentos das exportações. " Flávio Roberto Silva de Azevedo Presidente do Instituto Aço Brasil

O setor siderúrgico, desde o início das turbulências econômicas no último trimestre de 2008, vem buscando adotar estratégias para ajustar-se à nova situação em prol da retomada do seu desenvolvimento. Até setembro de 2008, as perspectivas promissoras propiciadas pelo crescimento da demanda levaram a maioria das empresas siderúrgicas a desenvolver ambiciosos programas de investimentos para atender o crescimento do mercado interno, preservando e ampliando presença nos mercados externos. Até a deflagração da crise, as principais preocupações de âmbito setorial eram as condições de suprimento, os crescentes custos dos investimentos, as carências de infraestrutura diante das expansões projetadas e os desafios para ajuste às novas demandas do mercado e aos cada vez mais exigentes padrões ambientais e sociais. Entretanto, repentinamente, a produção industrial declinou, e as siderúrgicas viram-se forçadas a antecipar paradas para manutenção de equipamentos, desligar altos fornos, promover férias coletivas e outras ações drásticas que minimizassem os impactos da necessária adaptação rápida. Nesse novo contexto, boa parte daquelas preocupações teve sua urgência postergada ou sua importância reduzida. O setor registrou, nos meses de novembro e dezembro, quedas de 50% a 60% nas vendas e produção das suas usinas. Enfrentou esse cenário sem poder contar com a saída tantas vezes utilizada no passado, de compensar quedas de demanda interna com aumentos das exportações. A única alternativa de curto prazo foi a paralisação de unidades de produção, com todas as consequências para uma indústria de alta intensidade de capital, custos fixos elevados e pay backs bastantes longos. O adiamento dos planos de expansão tornou-se também inevitável, com exceção aos projetos em estágio de não retorno. Experimentamos momentos difíceis, mas esse setor, acostumado à adversidade e aos mais diferenciados ciclos, os está enfrentando com agilidade, firmeza e otimismo. O que se observa atual-mente são sinais positivos de superação da crise, devido aos amplos pacotes de estímulo econômico da maioria dos governos. Em pouquíssimos casos no mundo, as medidas implementadas pelos governos tiveram destinação específica ao setor siderúrgico, mas seus resultados mostram-se positivos para o setor, na medida em que impulsionam atividade de diversos segmentos intensivos em aço.

Associando-se a isso, no Brasil, os novos investimentos projetados para as áreas de petróleo e gás, energia, transportes e portos, infraestrutura urbana para atender à Copa do Mundo em 2014, permitiram ao setor traçar razoáveis, mas prudentes, expectativas de que a recuperação verificada nos últimos três meses possa sustentar-se nos próximos 2 anos, apesar de as estimativas para 2009 indicarem queda da demanda da ordem de 23% sobre 2008 no setor, retroagindo aos níveis de 2006. Se confirmadas as previsões de retomada do crescimento da economia, poderemos, em 2011 ou em 2012, recuperar o nível de consumo no mercado interno registrado em 2008, de 24 milhões de toneladas de produtos por ano. Devemos chegar ao final de 2010 com a capacidade instalada de 48 milhões de toneladas de aço bruto, cerca de 100% acima da demanda projetada para o mesmo ano, o que preocupa o setor. No plano externo, as estimativas da OCDE e World Steel Association indicam que, devido ao avanço dos projetos de expansão iniciados antes da crise, o excesso de capacidade sobre a demanda mundial deve superar os 500 milhões de toneladas, mais de 10 vezes a capacidade instalada do parque siderúrgico nacional. Desbalanceamento entre a oferta e a demanda acarreta grandes distorções nos preços e nos fluxos internacionais de produtos siderúrgicos, acelerando a reintrodução de barreiras protecionistas ao comércio, conforme visto desde o início da presente crise. No cenário interno, preocupa a suspensão das medidas anticrise, sem a efetiva consolidação da retomada da demanda e dos investimentos no país, bem como, para alguns setores, a retomada das exportações, pois existem ainda problemas de competitividade sistêmica do país. A agenda pós-crise, portanto, deve necessariamente incluir a discussão de medidas, tais como: • desoneração dos investimentos e exportações; • questões trabalhistas diversas; • reforma do sistema tributário, e • revisão dos marcos regulatórios em áreas como infraestrutura e meio ambiente. O Instituto Aço Brasil alinha-se com as propostas relativas aos diversos temas defendidos pela CNI, Ação Empresarial e Federações de Indústrias e manifesta o pleno engajamento do setor siderúrgico para sua aprovação e implementação, por entender serem elas indispensáveis ao desenvolvimento sustentável do país.



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para garantir a

competitividade

brasileira

" O setor está preparado para atender às demandas mundiais e para ter liderança nos novos moldes da economia global. Mas tudo isso depende da agilidade do governo em reduzir os gargalos que afetam fortemente a competitividade nacional. " Elizabeth de Carvalhaes Presidente-executiva da Bracelpa

Otimismo em relação ao futuro. Os dados do Produto Interno Bruto do segundo trimestre de 2009, que apontam crescimento econômico, e a geração de empregos no mercado doméstico reforçam as teses de que o país está a caminho da recuperação econômica. Frases como essas têm sido usadas para definir o atual momento da economia brasileira, principalmente por representantes do governo que garantem que, para o Brasil, a crise financeira ficou “para trás”. De fato, há indicadores que mostram que o país conseguiu evitar a recessão e tem condições de assumir papel de destaque entre as principais economias mundiais. Porém, acreditamos que a palavra que melhor define a economia brasileira, ao final do terceiro trimestre de 2009, é “desafio”. Por maiores que sejam a estabilidade e a força do mercado interno para assegurar a curva ascendente do crescimento, o Brasil terá que superar seus próprios limites, de forma contínua e crescente, a fim de garantir a competitividade dos produtos e disputar novos mercados. Cada centavo fará a diferença na base de custos e no fechamento de um contrato em todos os setores produtivos, incluindo o de celulose e papel. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem afirmado que o governo prepara uma “agenda da competitividade”. Os empresários querem participar da elaboração dessa pauta e já apresentaram suas prioridades. Entre elas, destacam-se a modernização das políticas industriais e das relações trabalhistas, medidas para regulamentação fundiária e expressivos investimentos em infraestrutura e logística. Para o setor de celulose e papel, a principal questão é a garantia de isonomia em relação à concorrência. E isso só ocorrerá com a desoneração dos investimentos e das exportações, hoje da ordem de 17%. Essa questão torna vital a aprovação da Reforma Tributária. No conjunto, essas demandas são fundamentais para que o setor possa dar continuidade aos investimentos necessários para manter o crescimento. Desde outubro de 2008, a Bracelpa e as empresas associadas negociam com o governo federal demandas para manter suas atividades. No caso do segmento de celulose, as empresas ainda esperam a ampliação das linhas de crédito para as operações de pré-embarque da fibra e oferta de seguro de crédito às exportações,

uma vez que os financiamentos internacionais para essa operação continuam escassos. Nesse período de crise, as empresas assumiram totalmente os riscos das operações internacionais, o que consumiu boa parte de sua liquidez. Outro ponto fundamental é a criação de mecanismos do sistema bancário que apoiem as empresas exportadoras em momentos de crise. Metas 2009: As empresas do setor de celulose e papel do Brasil estabeleceram um objetivo para o segundo semestre de 2009: manter a 4ª posição entre os produtores mundiais de celulose e a 12ª colocação entre os produtores mundiais de papel. Para isso, buscarão atingir a mesma produção de 2008: 12,7 milhões de toneladas de celulose e 9,4 milhões de toneladas de papel. De janeiro a agosto deste ano, o volume de produção de celulose se manteve estável, e as exportações cresceram quase 13% em relação ao mesmo período do ano passado. Entre os pontos que influenciaram as exportações de fibra de eucalipto do Brasil, estão o fechamento de fábricas de celulose nos Estados Unidos e na Europa - esta última, a região que mais sofreu com a retração da economia nesse setor, e o aumento da demanda de empresas produtoras de papel na China por celulose de melhor qualidade. Porém, é preciso ressaltar que, nesses oito meses, a receita dessas exportações registrou queda de cerca de 23%. Em relação ao segmento de papel, a retração do consumo mundial também teve impacto nas empresas brasileiras. Nesses oito meses de 2009, os níveis de produção registraram queda de 2,1% e retração nos volumes de exportação de 5,3%, em comparação ao mesmo período do ano passado. A recuperação ainda é lenta, mas contínua. Além disso, no primeiro trimestre deste ano, quando o mundo estava mergulhado na crise, o setor de celulose e papel aumentou sua capacidade produtiva no país: inaugurou uma nova fábrica de celulose, cuja produção deverá chegar a 1,3 milhão de toneladas, e uma nova fábrica de papel, com capacidade de 200 mil toneladas. São indicativos claros de que o setor está preparado para atender às demandas mundiais e para ter liderança nos novos moldes da economia global. Mas tudo isso depende da agilidade do governo em reduzir os gargalos que afetam fortemente a competitividade nacional.



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depressão

da grande

ao fortalecimento da indústria " Dessa forma, precisamos de soluções mais rápidas. Uma delas é que o governo federal permita às empresas o uso de seus créditos de impostos federais para pagarem os encargos trabalhistas. " Antonio Rubens Camilotti Presidente da Abimci

O setor madeireiro, como todos os setores da economia brasileira, já passou por diversas crises nas últimas décadas, mas nenhuma foi tão dura e longa como esta. Uma conjugação de fatores provocou uma redução gigantesca da base produtiva em volumes produzidos, demissões em massa e fechamento de empresas. Por ser um setor concentrado nas exportações, está pagando um preço muito alto pelas incongruências do modelo econômico brasileiro. Mas quais são essas causas? A excessiva carga de impostos agregada a cada fase do processo produtivo é uma delas. Mesmo que existam mecanismos de desonerar esses impostos e taxas, eles dependem de devoluções por parte dos governos federal ou estadual, o que, muitas vezes, é um processo lento ou não é finalizado. Assim, o setor possui um dos maiores créditos a receber do governo. Outro fator que prejudica a competitividade do segmento é a altíssima carga de tributos trabalhistas em um setor que concentra muita mão de obra e disputa mercado com produtores de países com cargas de impostos muito menores e com infraestrutura de exportação muito melhor da que o governo brasileiro disponibiliza. Boa parte dessas deficiências era anulada pela eficiência produtiva das nossas indústrias, pelo excelente desempenho dos nossos reflorestamentos e por taxas cambiais mais favoráveis que compensavam parte do ônus público. Porém, com a valorização irreal da nossa moeda e o mercado externo em crise, que reduziu drasticamente a demanda e focou suas compras nos preços, a consequência é a forte perda de mercado, com queda de 51% das exportações em 2009. Para reverter essa situação, não podemos esperar a recuperação dos mercados externos ou um novo boom do setor construtivo de países como Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e Austrália. Todos esses mercados sofreram uma desaceleração muito forte e possuem um estoque de residências novas. Mesmo com o crescimento de suas economias, a demanda por novas construções demoraria um bom período de tempo.

Dessa forma, precisamos de soluções mais rápidas. Uma delas é que o governo federal permita às empresas o uso de seus créditos de impostos federais para pagarem os encargos trabalhistas. Não se trata de desoneração, mas de normatizar as regras da Super-Receita, que já realiza a cobrança dos impostos e encargos unificados, só não permite a unificação das compensações. Outra solução é a criação de mercado interno, diminuindo a dependência das exportações. Para tanto, o governo federal deve mudar a política do Sistema Nacional de Habitação, voltando a permitir financiamento de casas de madeira. Com isso, rapidamente, será criado um novo mercado. As restrições a esse financiamento têm pouca fundamentação técnica e muito lobby de outros setores. Para se ter uma ideia de como a madeira é amplamente usada na construção de imóveis em diferentes partes do mundo, nos Estados Unidos, 70% das casas construídas são de madeira e em um percentual cada vez maior no Reino Unido, na Alemanha, no Japão e na Austrália. Nessas localidades, são erguidos até mesmo prédios de três andares e mansões de milhares de dólares, boa parte construída com produtos do setor madeireiro do Brasil, já que somos um dos grandes exportadores mundiais. Isso mostra que não há problemas técnicos para a liberação de construções em madeira também no Brasil, o que, inclusive, agilizará muito as metas do governo federal em reduzir o gigantesco déficit habitacional brasileiro, pois as casas de madeira podem ser construídas em menos tempo e com um menor custo. Com o uso intensivo de produtos de madeira nas novas casas, aproveitaríamos a capacidade ociosa do setor, voltando a gerar milhares de empregos. E, em tempos de preocupação com o aquecimento global, fica o alerta: dos materiais usados na construção civil, a madeira é de uso infinito, ao contrário de produtos como ferro, cimento, plástico e areia, todos eles extraídos de fontes não renováveis. Além de poder ser plantada, a madeira é um grande gerador de créditos de carbono.



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o que mudou no setor de

papel e celulose após a crise? Muitos economistas apregoam que o país já saiu tecnicamente da recessão, com a divulgação oficial do resultado do PIB brasileiro do segundo trimestre do ano, comparativamente ao trimestre imediatamente anterior, positivo em 1,9%. Isso porque vinha de quedas sucessivas nos dois trimestres anteriores (-3,4% no quarto trimestre de 2008, e -1% no primeiro trimestre de 2009), o que então configurava um quadro recessivo. Outros ainda se mantêm cautelosos e chegam mesmo a dizer que a crise e a recessão não passaram, pois os fatores macroeconômicos mundiais, principalmente, ainda estão muito vulneráveis. E nós que não somos economistas mas nos vemos envolvidos em um número infindável de informações, como podemos interpretar isso e sentir o que realmente está se passando, no que eu chamo de “mundo real”? Sentimos claramente sinais de recuperação nos diversos setores da economia que impulsionam o país, como a siderurgia, a indústria automobilística e algumas commodities, porém muito dessa recuperação ainda não chegou a vários setores. Nós que vivemos a realidade das empresas ligadas ao setor de papel e celulose sentimos que os negócios caminham ainda lentamente para uma recuperação efetiva. Como representantes de uma associação de profissionais das áreas comerciais dessas empresas, estamos em contato constante com os diversos participantes dessa cadeia de negócios e, de alguma forma, sempre buscando “sentir” o que está acontecendo e o que deverá acontecer no futuro. Claro que não temos as respostas a essas perguntas para cada um dos segmentos de produção, conversão e comercialização, mas precisamos também, de alguma maneira, apresentar a nossos associados quais são as perspectivas para os segmentos de nossa atuação. Com o intuito de responder à pergunta desta edição e como fazemos todos os anos, a Anave promoveu a 34ª edição anual do Fórum de Análise de Mercado. Nesse Fórum buscou-se conhecer o que alguns segmentos par-

" nós que vivemos a realidade das empresas ligadas ao setor de papel e celulose sentimos que os negócios caminham ainda lentamente para uma recuperação efetiva " Theo Borges Presidente da Anave

ticipantes da cadeia de negócios de papel e celulose pensam a respeito, como cada um deles vem sobrevivendo a essa crise e quais são as suas perspectivas a curto e médio prazos. Foram avaliadas questões como: • A evolução do mercado de livros e suas perspectivas no Brasil frente a novas tecnologias; • O que se pode esperar para o futuro do meio revista; • Jornal: o Brasil como exceção no mundo; • Perspectivas do setor de cadernos para o mercado brasileiro e de exportações; • Formulário contínuo e perspectivas frente às mudanças tecnológicas e à legislação fiscal; • Tendências do setor gráfico brasileiro; • Criatividade e tecnologia em adaptação para continuar crescendo no segmento de embalagem; • Avaliação do setor de celulose e papel; • O mercado para a celulose brasileira, dentre outras. Como associação, buscamos cumprir o papel no sentido de criar mecanismos de discussão entre os diversos níveis de executivos das empresas envolvidas no processo geral do sistema florestal. Sentimos na pele todos os revezes pelos quais passam nossos associados. Ressalta--se que as associações sofrem, igualmente, com as crises nas quais seus setores representados são envolvidos, quando os recursos, em função das obrigatórias reestruturações, reduzem-se e, em muitos casos, extinguem-se e são excluídos dos budgets das empresas. A questão que se afigura é saber como o “pós-crise”, que necessitaria ser construído agora, efetivamente se concretizará? Carlos Alberto Farinha, Vice-presidente de Desenvolvimento da Jaako Pöyry Tecnologia, em recente artigo na edição Março-Maio 2009, da Revista Opiniões, levantou essa questão, de uma forma mais abrangente ainda, conjecturando sobre como os controles de caixa, que restringem qualquer desembolso aos limites do possível, podem afetar toda a cadeia, como fornecedores de equipamentos e serviços. Nesse caso, peço licença também de incluir as associações que desempenham importante papel nessa cadeia.



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a crise econômica mundial e o setor florestal brasileiro:

problema de gestão? Nas diversas cadeias produtivas que compõem o setor florestal brasileiro, ocorreram perdas ocasionadas pela crise financeira mundial, que se iniciou no mês de setembro de 2008. Os números do setor, apurados recentemente pela STCP Engenharia de Projetos, no período compreendido entre o início da crise e o mês de agosto de 2009, mostram que, em termos de volume exportado, os segmentos de papel, serrados de coníferas e folhosas, compensados de coníferas e folhosas, aglomerado, MDF e chapa dura, todos experimentaram quedas, respectivamente, de -5%, -27%, -53%, -30%, -60%, -22%, -9% e -29%. O único segmento que apresentou resposta positiva foi o de celulose, com aumento de 16% no período. Em termos de faturamento na exportação, todos os segmentos apresentaram resultados negativos, sendo que o da celulose foi de -23%; papel -18%; serrados de coníferas e folhosas -32% e -54%, respectivamente; compensados de coníferas e folhosas -50% e -64%, respectivamente; aglomerado -30%; MDF -32%; chapa dura -40% e móveis -30%. Observa-se que o faturamento do segmento de celulose, apesar de ter exportado mais, foi 23% menor, devido, principalmente, à valorização do Real e à queda nos preços internacionais. No mercado interno, o que se observa, mesmo com a crise, é que o setor florestal, devido às políticas de investimentos adotadas pelo atual governo, vem experimentando um nível de crescimento que poderá atingir um índice superior a 12%, o que leva à conclusão de que, internamente, não houve crise. Mesmo com esse resultado, a crise financeira efetivamente afetou o setor florestal brasileiro. No entanto, saliente-se que, apesar dos números negativos apresentados, o setor, tradicionalmente, reage rapidamente e consegue reverter a situação no curto prazo. Alguns segmentos, como o de celulose e papel e o de madeira sólida, poderão, ainda este ano, ter algum crescimento, até mesmo superior ao PIB nacional. Essa afirmativa baseia-se na observação do comportamento histórico do setor florestal como um todo, o qual experimentou crises de maior ou menor intensidade, que contribuíram, de certa forma, para impedir o adequado desenvolvimento desse setor na economia brasileira.

Senão, vejamos o que tem acontecido nos últimos anos. A maior crise que o setor vive é, sem dúvida, o eterno conflito do marco regulatório (legislação vinculada ao setor) existente e sua aplicabilidade às condições e características de cada região ou estado da federação. Nesse caso, observa-se que a maior restrição é a que impede, e fortemente, o próprio desenvolvimento do setor, e tem como causa principal a forma de gestão das ações de comando e controle exercidas pelo Estado brasileiro, no qual os responsáveis pela coordenação da política florestal, independentemente do nível - federal, estadual ou municipal, preferem simplesmente barrar qualquer ação vinculada ao desenvolvimento a exercer sua função de contribuir para a adequada execução das atividades relacionadas ao uso racional das florestas brasileiras. Exemplos dessa postura são facilmente observados nos processos de implantação de florestas e de indústrias em vários estados do Brasil. Outra situação recorrente é a que se relaciona à efetividade dos planos de manejo florestal em regime de rendimento sustentado, em florestas nativas, onde cada vez mais as limitações são estabelecidas para dificultar sua utilização na geração de bens e serviços pelo uso dessas florestas. Os números negativos citados (-53% e -60%), para madeiras serradas e compensados de folhosas, mostram a coerência dessa afirmativa, bem como a inexistência de vontade política em utilizar o potencial florestal existente no Brasil para transformá-lo em respostas adequadas à melhoria das condições de vida da sociedade brasileira. Os resultados positivos, demonstrados via sucesso econômico e financeiro, aliados à adequabilidade ambiental praticada que o setor florestal tem obtido, de maneira geral, vinculam-se muito mais à capacidade empresarial existente do que propriamente ao apoio institucional fornecido pelas políticas públicas e formas de gestão exercidas pelo governo. A existência de uma mudança de postura do governo em sua forma de gestão, talvez mais pró-ativa e com maior participação do setor produtivo, levaria, com certeza, ao uso mais adequado do potencial dos recursos florestais brasileiros, com respostas econômicas, sociais e ambientais em bases sustentáveis, e o Brasil ao ápice no cenário global da produção florestal.

" os resultados positivos, demonstrados via sucesso econômico e financeiro, aliados à adequabilidade ambiental praticada que o setor florestal tem obtido, vinculam-se muito mais à capacidade empresarial existente do que ao apoio institucional fornecido pelas políticas públicas e formas de gestão exercidas pelo governo " Joésio Deoclécio Pierin Siqueira Diretor da STCP Engenharia de Projetos


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JosĂŠ Maria de Arruda Mendes Filho Consultor Florestal da Mendes & Mendes Engenheiros Associados


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crise: fomento e sustentabilidade " nas regiões onde o mercado é sempre comprador e para aqueles produtores que conseguiram passar pelos apertos com recursos próprios, a expectativa é que a madeira de eucalipto tenha uma valorização substancial, constituindo-se num negócio ainda melhor " Alexandre Tadeu Barboza Leite Diretor da Teca Consultoria e Empreendimentos Florestais

Na grande maioria das empresas, os programas de fomento foram bastante prejudicados com a crise. Felizmente, em algumas exceções, a crise não existiu, foram preservados os compromissos assumidos e o fomentado não sofreu nenhuma discriminação. Todo procedimento ocorreu exatamente como defendido nos discursos de sustentabilidade. Sem dúvida, esses casos serão modelo e servirão de estímulo para mostrar o caminho a ser adotado pelas empresas, na eventualidade de futuras crises. A defesa do fomento e do fomentado é a base do que sempre foi pregado e tudo que se esperava das empresas, principalmente daquelas que não poupam palavras para enriquecer seus discursos, enobrecendo seus procedimentos na direção da sustentabilidade. No entanto, na maioria das empresas os programas de fomento foram seriamente prejudicados, mesmo após a retomada do ritmo normal dos trabalhos empresariais. Nesses casos, a crise é muito maior do que a simples retomada dos plantios ou a continuidade dos fornecimentos de madeira. A crise só irá passar para esses programas de fomento, quando as empresas se aproximarem de seus fomentados, assumindo, respeitosamente, uma discussão sobre os prejuízos causados. Foram prejudicados programas de plantio, programas de fornecimento de madeira, viveiros de produção de mudas, prestadores de serviço, etc. Enfim, toda a cadeia produtiva, em formação, no entorno dos empreendimentos, foi abalada e, em muitos casos, desestruturada. Sem a aproximação aos fomentados e sem as devidas explicações e eventuais compensações pelos impactos causados, essas empresas jamais resgatarão a credibilidade e o respeito até então alcançados. Um prejuízo incalculável às regiões de excelente vocação florestal e um passivo social indesejável pela transformação de ricas parcerias em fortes e concretas adversidades. Nesses processos, as reações dos fomentados foram as mais variáveis possíveis, e, com certeza, ainda é impossível se fazer qualquer previsão a respeito dos desdobramentos futuros. Com certeza, pelos envolvimentos criados, há de se esperar até respingos comprometedores para os sistemas de certificação florestal. Na verdade, o fomento já era apontado por muitos como grande bandeira social e elogiável avanço na integração das empresas com as comunidades. Com certeza, as empresas comprometidas com políticas empresariais de sustentabilidade não pouparão esforços para minimizar os

danos causados à sua imagem institucional. Se as empresas envolvidas não se conscientizarem dos prejuízos causados e ficarem esperando que o tempo resolva os problemas pendentes, o prejuizo será ainda maior. Se o descrédito se perpetuar nas regiões fomentadas, novos focos de insatisfação com a silvicultura empresarial surgirão, e novas restrições à atividade serão inevitáveis. Espera-se que as empresas tenham a clara dimensão entre o custo das medidas necessárias para corrigir tal situação e o custo dos problemas que se consolidará com o descrédito. Há fortes indícios de que os reflexos negativos das paralisações dos programas de fomento, tanto de plantio quanto de abastecimento, já foram sentidos pela alta direção das empresas, e, com certeza, medidas mitigadoras serão tomadas para o bem da silvicultura sustentável e das próprias empresas. Há informações seguras de que, em algumas situações, o problema no campo junto aos fomentados só se agravou em função da falta de informações e de devidos esclarecimentos junto à alta direção das empresas. Falha de comunicação ou falha pela não valorização dos programas de fomento. De qualquer forma, um absurdo injustificável. No entanto, nas regiões onde o mercado é sempre comprador, e para aqueles produtores que conseguiram com recursos próprios passar pelos apertos, não prejudicando o desenvolvimento de suas florestas, a expectativa é a de que, nos próximos anos, a madeira de eucalipto tenha uma valorização substancial, constituindo-se num negócio ainda melhor para o produtor rural. Há dados mostrando que a queda na área plantada em 2008/2009 foi superior a 40%. Nos programas de fomento, o impacto deve ter sido ainda maior. Ninguém duvida de que vai faltar madeira. Essas perspectivas favorecerão, nesses casos, a retomada de trabalhos perdidos e poderão criar ambiente favorável para renegociações com interessados insatisfeitos. Mas tudo, sempre, dependerá de uma nova postura empresarial. Mais profissional, mais adulta e de mais respeito com o fomento e os fomentados. Quando conseguirmos juntar o reposicionamento dessas empresas em falta com seus compromissos e o posicionamento exemplar daquelas de discurso e de ações verdadeiramente sustentáveis, poderemos admitir que o fomento, realmente, superou a crise. Ninguém duvida do comprometimento dos trabalhos silviculturais das empresas com as diretrizes da sustentabilidade. Vamos esperar e torcer.



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a crise marcas

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deixará suas

No setor de papel e celulose, a crise passou pelo seu ponto mais crítico, mas deixará suas marcas. A profundidade será diferente em cada região do mundo, mas elas serão indeléveis. O consumo de papel nas principais economias desenvolvidas caiu drasticamente, chegando a mais de 20% em alguns países. Para os maiores fabricantes internacionais de papel, a consequência dessa queda foi devastadora. Causou enormes prejuízos às maiores empresas americanas e conduziu algumas delas à concordata. Na Europa, as grandes empresas verificaram significativa redução dos lucros e até mesmo prejuízo. Houve fechamento de unidades produtivas e consolidação de empresas. Mesmo na China, houve paralisação e postergação de investimentos. A modificação dos volumes de consumo e a consequente queda dos preços do papel estão demarcando uma nova realidade. Hoje, muitos analistas consideram improvável, nessas economias mais desenvolvidas, o retorno do preço e do volume de produção aos patamares anteriores. Mas houve algumas raras exceções. Empresas que previram a mudança na geo-grafia do consumo mundial e que se prepararam sofreram pouco com a crise. Na economia brasileira, a queda no consumo do papel foi menor. A redução do consumo de celulose, aliada à redução dos estoques das principais empresas consumidoras para gerar liquidez, gerou parada geral desse mercado no início da crise. O Brasil, por ter grandes exportadores, recebeu dois impactos distintos. O primeiro, gerado pela redução drástica de receita, aliada à abrupta desvalorização cambial e à falta de liquidez, resultou em perdas enormes nos hedges de exportação. Em alguns casos, o impacto foi amplificado devido à utilização de derivativos cambiais. O segundo ocorre neste momento. O volume exportado se aproxima, em toneladas, ao registrado antes da crise, mas sem melhorar a rentabilidade dos produtores, pois não tem havido elevação do patamar inferior de preço estabelecido durante a crise. Mesmo com preços mais baixos e com custo mais elevado, devido à revalorização do Real, o setor continua competitivo. O cash cost médio de US$ 220/ton para a produção de celulose é imbatível, mas a crise reduziu, com raras exceções, o ímpeto de crescimento dos produtores da América do Sul. Estes necessitarão de alguns anos para se recuperarem financeiramente e mais alguns para readquirirem a confiança para voltar a investir. Gostaria de comentar também que o setor de bens de capital, participante ativo da cadeia de suprimentos, tem dado competitividade ao setor de papel e celulose.

Bastante desenvolvido e com alta tecnologia, tem se preparado durante anos para fornecer máquinas, equipamentos e mão de obra especializada, para possibilitar a instalação, na América Latina, de modernas plantas de produção de papel e celulose. As máquinas para o setor de celulose e papel estão incluídas em grandes projetos, cuja duração média é de 1 a 2,5 anos. Esse setor, no início da crise, passou por dificuldades nos projetos que já estavam em andamento. O fluxo de caixa dos investimentos passou a ser controlado com mãos de ferro. Setores que trabalham com projetos de média duração não são, normalmente, atingidos fortemente no início da crise, mas sim no meio ou no final dela. No início, estão trabalhando nos projetos já vendidos, mas, depois, quando estes vão sendo terminados, têm dificuldades para vender novos projetos para repor os que tinham em carteira. Historicamente, essa dificuldade foi amenizada pela vulnerabilidade financeira do Brasil nas crises. A moeda sofria desvalorizações importantes, que permitiam, ao fornecedor brasileiro, compensar a falta de mercado interno com exportações. Mas esta crise tem se apresentado de forma distinta. Não está ocorrendo esse efeito anticíclico, pois a desvalorização cambial foi de menos de 10%, e isso reduz a competitividade externa dos exportadores. Além disso, moeda sobrevalorizada em uma economia aberta afeta negativamente as decisões de investimento interno. Em um projeto para instalação local de uma máquina de papel, a valorização da moeda eleva os valores de serviços e materiais, como montagem e construção civil, em comparação aos praticados em outros países, e isso inviabiliza o investimento. Essa elevação de custo, somada aos problemas já conhecidos e tão debatidos de nosso país, tais como a taxação excessiva sobre investimento, a logística complicada e cara, a burocracia exagerada, entre outros, elimina a vantagem competitiva do nosso baixo custo de matéria-prima. Por fim, o investimento é postergado ou é direcionado a outros países. Perde o Brasil, perdem os brasileiros. Por essas razões, considero existir uma ameaça iminente para o setor de bens de capital. Ele se desenvolveu exemplarmente nas últimas décadas, mas, como a crise está apenas começando para ele, muitas empresas ainda podem sucumbir ou mudar de direção, abandonando o mercado de papel e celulose para se tornarem fornecedores de equipamentos para setores que se apresentam como ilhas de prosperidade, como mineração, petróleo, etc.

" O consumo de papel nas principais economias desenvolvidas caiu drasticamente, chegando a mais de 20% em alguns países. Para os maiores fabricantes internacionais de papel, a consequência dessa queda foi devastadora. " Nestor de Castro Neto Presidente da Voith Paper



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crise e retomada

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da indústria de celulose e papel " com o crescimento da demanda de celulose somado à mudança estrutural do setor com a transferência de capacidade de produção do hemisfério norte para o sul, esperamos um aumento de produção superior a dez milhões de toneladas por ano, sendo que o Brasil deverá responder pela maior parte desse volume " Celso Luiz Tacla Presidente da Metso Paper South America

Os últimos meses têm mostrado um cenário mais positivo, com as empresas brasileiras de celulose produzindo à plena capacidade e tomando espaço de produtores menos competitivos. Os preços da celulose no mercado internacional também reverteram a trajetória de queda, alcançando patamares mais elevados nos três principais mercados consumidores: Europa, Estados Unidos e China. Isso se deve a uma combinação de fatores, como a forte demanda chinesa, a redução do nível mundial de estoques e o fechamento de capacidade das empresas, que retiraram do mercado mais de cinco milhões de toneladas. Apesar da queda na demanda mundial por celulose, a demanda por celulose de eucalipto apresentou expansão de 11% nos cinco primeiros meses deste ano, elevando a participação da celulose de eucalipto para 35% do consumo mundial ante os 29% no mesmo período de 2008, conforme dados divulgados pela indústria. Somente nos últimos três meses, por exemplo, fabricantes chineses encomendaram cinco novas máquinas de papel da Metso, que deverão iniciar a produção no final de 2010 e início de 2011. Isso significará maior demanda num futuro próximo. A combinação do aumento de demanda e a postergação de projetos devem levar a uma recuperação mais acelerada dos preços. Essa recuperação é essencial para as empresas de bens de capital como a Metso, pois, com a melhora do mercado, virão as decisões sobre a retomada e a implantação de grandes projetos. Esses sinais de recuperação já foram suficientes para que as fábricas de celulose reiniciassem os estudos e trabalhos para a implantação de novos projetos. Num primeiro momento, deveremos observar um crescimento no número de projetos que visem ao desgargalamento de produção e ao aumento de eficiência operacional e energética. Ainda neste ano, devem ser tomadas decisões para implantação de projetos, no Chile, com essas características. Em julho, por exemplo, a Suzano anunciou investimentos bilionários para a construção de novas plantas industriais. A recém-formada Fibria, resultante da união da VCP e Aracruz, já anunciou que seu plano de expansão será implantado segundo as condições de mercado.

Dentro dessa conjuntura, nós esperamos que a retomada da implantação de grandes projetos ocorra já a partir do final de 2010 e meados de 2011. O mais importante é que as expectativas de longo prazo são bastante promissoras. Nos próximos dez anos, com o crescimento da demanda de celulose de mercado somado à mudança estrutural do setor com a transferência de capacidade de produção do hemisfério norte para o sul, esperamos um aumento de produção superior a dez milhões de toneladas por ano, sendo que o Brasil deverá responder pela maior parte desse volume. Isso porque temos no Brasil vantagens competitivas únicas para a produção de celulose. Já é fato conhecido que a produtividade florestal do eucalipto no Brasil é praticamente o dobro da alcançada nas florestas de rápido crescimento em outros países produtores, como Indonésia e Chile, e cerca de três vezes maior do que a obtida na península Ibérica. Além disso, nossos principais fabricantes contam com escala de produção, processos atualizados e de excelente desempenho ambiental. O mercado de celulose desenvolve-se em ciclos, e, uma vez ultrapassadas as dificuldades do momento, esses fatores de competitividade da nossa indústria permanecerão, levando à retomada de um novo ciclo de investimentos. Começamos a observar movimentos positivos, mas sabemos que o próximo ano ainda nos reserva dificuldades, pois os projetos em que trabalhamos são de longa maturação, e praticamente nenhum projeto teve início durante este ano. Por outro lado, estamos otimistas com o reinício dos investimentos e o início da implantação de novos projetos. Por isso, já a partir de meados de 2008, adaptamos nossas operações para enfrentar as condições de mercado de modo bastante cauteloso, buscando preservar nossa capacitação e competências, pois o Brasil é um mercado estratégico para o crescimento dos negócios da Metso na área de celulose e papel e também nos outros segmentos em que atua. Uma medida bastante importante para viabilizar a implantação dos novos projetos no Brasil seria a isenção de impostos para a construção de novas fábricas, medida já existente em outros países competidores.



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a retomada da produção

dependerá dos preços das commodities

Trabalhamos com a produção de mudas há 23 anos, nosso ramo é o segundo elo da cadeia produtiva da silvicultura. A Mec Prec é uma empresa totalmente verticalizada, produzimos tubetes, bandejas, irrigação, viveiros, substratos e mudas. Começamos em 1986 com 2 injetoras e 5 empregados; durante os 22 anos seguintes, crescemos e chegamos a ter 500 colaboradores. Porém, do ano passado para cá, 155 funcionários foram desligados, e nosso faturamento caiu drasticamente, no setor de plástico e produção de mudas, aumentando substancialmente no substrato; nesse segmento, nosso maior concorrente fechou as portas. Os termômetros do mercado são:

O Brasil é imbatível no desenvolvimento do eucalipto, e nossos profissionais desenvolveram técnicas de reprodução dessa árvore, agora copiadas por outros centros, porém as condições de solo, luminosidade, pluviometria, mão de obra e estabilidade política não podem ser reproduzidas. Durante este ano, foram desativados alguns dos maiores, mais caros e sofisticados viveiros do país, e isso é uma pena, porque sei que alguns não vão voltar, vão fazer falta no cenário a médio prazo e vão atrasar a retomada, porque, entre a decisão de investir e o viveiro ficar pronto, precisamos de 18 meses, isso sem falar do jardim clonal, que, bem feito para 30 milhões de mudas clonais por ano,

" montei viveiros em todos os países da América Latina, África e Oceania, visitei empresas na Europa e América do Norte e, em nenhum desses lugares, vi condições tão favoráveis como temos no Brasil para o desenvolvimento da atividade florestal " Leonardo Klabin Diretor da Mec Prec

1. Em 2008, produzíamos, em média, 15 milhões de tubetes por mês, sendo 10 milhões para o mercado interno e 5 milhões para exportação. A produção caiu, em 2009, para 2 milhões no mercado interno e 2 milhões na exportação; 2. Em 2008, produzimos 60.000 toneladas de substrato, sendo 20.000 toneladas para silvicultura. Em 2009, vamos produzir 70.000 toneladas de substrato, sendo 10.000 toneladas para silvicultura, e 3. Em 2008, nosso viveiro produziu 48 milhões de mudas de pínus, eucaliptos e nativas. Em 2009, vamos finalizar com 17 milhões de mudas comercializadas. Como vocês podem notar, a crise está sendo muito intensa no nosso setor. Nossa empresa só vai resistir graças à diversificação de mercados. Trabalhamos com citricultura - também muito atingida pela crise - horticultura, fumicultura e flores, setores que cresceram na crise. Todas as grandes empresas que plantam árvores, principalmente nos setores de celulose, papel, madeira processada e siderurgia, diminuíram seus programas de plantio, e algumas pararam totalmente de plantar, produzindo com o estoque de madeira existente. Nos últimos 5 anos, plantou-se no Brasil 1,5 bilhão de mudas em média por ano; em 2009, esse número não vai chegar a 700 milhões de árvores. Montei viveiros em todos os países da América Latina, África e Oceania, visitei empresas na Europa e América do Norte e, em nenhum desses lugares, vi condições tão favoráveis como temos no Brasil para o desenvolvimento da atividade florestal.

dependendo da localização, não sai por menos de R$ 20 milhões. A retomada da produção de mudas vai depender do mercado, da siderurgia e da celulose; enquanto os preços dessas commodities se mantiverem no atual patamar, a demanda por mudas vai continuar baixa, inibindo novos investimentos. No caso dos viveiros independentes, todos diminuíram drasticamente suas produções aos níveis de sobrevivência, mais de 10.000 trabalhadores perderam seus empregos, alguns fecharam, e a retomada será a longo prazo, já que as grandes empresas vão priorizar a ocupação dos seus viveiros; essas também demitiram, e muitos profissionais de valor se viram desempregados. Acredito na atividade, no mercado, nas companhias do setor e vou continuar a investir, sei que a crise é passageira; o Brasil é um importante player desse mercado, e sua fragilidade não é boa para ninguém, além do que celulose e papel são produtos recicláveis e renováveis. O Brasil tem as maiores jazidas de minério de ferro, e a única maneira de agregar valor é fazer o ferro gusa, e, para tal, precisamos do carvão vegetal, oriundo de florestas plantadas. O mercado interno e a renda do brasileiro estão crescendo e demandando por painéis, MDF, madeira processada, e madeira sólida oriunda de plantações certificadas vai triplicar. Além disso, as restrições à exploração de matas nativas, seja para carvão, seja para extração de toras, vão ficar cada dia mais difíceis devido à pressão popular, consequentemente incentivando a implantação de florestas renováveis e certificadas, com mudas de origem reconhecida.



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impacto da

crise

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na relação cliente-fornecedor Muito já se falou dos reflexos da crise financeira sobre o setor florestal brasileiro. A questão da vez é o quanto realmente ela já foi atenuada e o que já aprendemos com ela. As previsões apontam o retorno à normalidade para 2010. Ainda são imprecisas e com pouca segurança. No entanto, o que temos hoje como previsão de fim está sendo muito melhor do que tivemos sobre seu início. Além disso, a crise não afetou a todos do mesmo modo, sendo que a normalidade vai estabelecer-se em tempos bem diferentes, entre empresas e atividades do setor. Assim, faremos algumas considerações sobre a crise, começando por estes pontos, na visão de um prestador de serviço na área de silvicultura. Apesar do conhecido potencial latente da crise, sua rápida expressão surpreendeu o setor. Em pouco mais de um mês, planos de expansão foram substituídos por medidas abrangentes envolvendo reestruturação de dívidas e cortes orçamentários, não só das expansões como do ritmo operacional até então em andamento. Já que as crises vêm e vão, às vezes de forma avassaladora, quais os Planos de Gerenciamento de Crises - PGC, das indústrias? Certamente existem, mas percebemos a necessidade, ou oportunidade, de nos conectarmos melhor aos planos dos nossos clientes, diferenciadamente em períodos de normalidade, crescimento ou crise. Isso porque essas fases não atingem só a indústria, ou melhor, atingem de forma mais drástica determinados serviços. No PGC, a meta também deve ser a sustentabilidade, pois não é aceitável que essa filosofia seja válida apenas em momentos de normalidade. Nesse sentido, para reequilibrar o componente econômico gerador da crise, medidas eficazes foram adotadas. De um modo geral, até proporcionaram balanço positivo do ponto de vista ambiental, o que é natural, pois têm relação direta com redução do uso de recursos naturais e dos impactos ambientais negativos. Na silvicultura, a condução da brotação, ao invés da reforma do plantio, e a minimização do uso de herbicidas são bons exemplos dessas medidas. Quanto ao social, no entanto, as medidas na crise tiveram impacto negativo imediato, principalmente nos prestadores de serviço, o que é uma forte razão para que estes estejam mais engajados no PGC das indústrias. O setor florestal brasileiro lidou bem com a crise, pensando na manutenção dos níveis de sustentabilidade e de qualidade e agindo especialmente na redução da produção e

produtividade. Embora algumas medidas importantes na silvicultura possam implicar “atrasos” em ganho de qualidade a médio prazo, é algo compreensível perante o benefício na contribuição para atingir o equilíbrio econômico a curto prazo. Paralelamente a essas medidas, no entanto, é necessário também preservar aquilo que já se produziu, não só operacionalmente, mas também nas pesquisas em andamento. Assim, tanto operação como pesquisa devem ser contempladas no PGC. Por atuar na proteção e monitoramento florestal, nossa empresa sentiu um impacto menor da crise, enquanto observamos outros prestadores de serviço, em algumas regiões, serem obrigados a reduzir a atividade em mais de 50%. Ressalta-se que o monitoramento tem a função de otimizar recursos, com gerenciamento dos resultados. Uma atividade otimizada, além de contribuir com reservas para a empresa enfrentar uma crise, ela própria sofre menos com cortes, o que foi observado, por exemplo, no controle de formigas em algumas empresas. Além disso, na crise, o monitoramento pode indicar medidas econômicas, incorporá-las à recomendação operacional, simular e gerenciar os resultados. Apesar da importância dos sistemas de otimização e gerenciamento, observamos empresas florestais adiando a sua implementação, ou mesmo cortando-os, como medida de redução de custos. Isso é sintoma de que ainda falta entendimento do processo e uma estratégia sólida de atuação num PGC. Sabemos que a base florestal em formação hoje é fundamental para o estabelecimento da indústria no futuro, e sua implantação não é o maior investimento. Também sabemos que a crise é momentânea, e os principais grupos florestais do Brasil não perderam o foco na expansão. Assim, uma estratégia desejável no PGC seria manter os plantios de expansão, com um manejo diferenciado, implicando não só menor produtividade, mas também redução de investimentos e de impactos sociais negativos. Num segundo momento, com técnicas de monitoramento nas áreas implantadas, poderiam ser estabelecidas ações de recuperação de produtividade, envolvendo, por exemplo, adubação e minimização da competição com ervas daninhas. A participação dos prestadores de serviço no PGC do setor florestal é uma oportunidade de mitigar efeitos em crises, proporcionando vantagens competitivas no futuro.

" o setor florestal brasileiro lidou bem com a crise, pensando na manutenção dos níveis de sustentabilidade e de qualidade e agindo especialmente na redução da produção e produtividade " Alberto Jorge Laranjeiro Diretor da Equilíbrio Proteção Florestal



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a crise já acabou em

pesquisa e desenvolvimento florestal? Frente a essa pergunta, a primeira reação é no sentido de se procurar responder com outra pergunta: Qual crise? Na área florestal, o Brasil ocupa uma invejável (ou invejada) posição de destaque no cenário internacional. De um lado, pela sua decantada potencialidade de diferentes solos e climas; de outro, graças à competência adquirida e posta em prática pelo meio científico e empresarial. E tudo isso num período curto, se analisado no contexto centenário de outros países com florestas plantadas e florestas nativas manejadas adequadamente. Numa análise global, não há indícios claros de que a pesquisa e desenvolvimento tecnológico florestal foram afetados pela crise. Na pior das hipóteses, podem ter ocorrido inibições para o lançamento de novos projetos que são de difícil avaliação ou identificação. Isso porque, entre outros fatos, a pesquisa florestal é de longo prazo, ou seja, menos sensível às variações ocasionais ou dentro de curtos períodos.

Algumas mais arrojadas vão além dos recursos humanos e investem em laboratórios próprios ou patrocinam modernizações de instalações já existentes nas academias. Algumas chegam ao extremo de se cotizarem para instalação de pesquisas de fronteiras em áreas de uma das participantes para compartilharem os resultados obtidos. Outro fato correlato e tão relevante como esse é o intercâmbio generalizado de informações entre as empresas pertencentes ou não ao grupo patrocinador das mesmas. São raros os casos de “segredos”, e, como ressaltado anteriormente, resultados de pesquisas financiadas por grupos de empresas são integralmente divulgadas ao setor florestal todo através de eventos e publicações. Não resta dúvida de que isso só pode acontecer numa situação em que todos acreditam que, mais importante que deter o conhecimento, é saber como, onde e por que utilizá-lo. É a alta expressão do que se chama “competência”. E a crise?

" nossa conclusão é de que os esforços despendidos para alcançarmos o atual patamar não podem ser relegados a segundo plano, sob pena de sofrermos um retrocesso, exatamente naquela área que é nosso grande diferencial " Luiz Ernesto George Barrichelo Diretor Geral do IPEF

Há que se considerar, ainda, que, para muitos trabalhos, então em andamento e para sua continuidade, são somente alocados recursos para suas manutenções. Em outras palavras, os grandes investimentos foram feitos na fase inicial ou de instalação. Há registros de algumas empresas florestais que, a par de cortes e reduções em diferentes áreas, mantiveram intocadas as equipes e o desenvolvimento das pesquisas próprias ou associadas e apoiadas junto a universidades e entidades de P&D. Uma das explicações reside no fato de acreditarem que o diferencial alcançado pelo Brasil em termos de competitividade não pode ser perdido. Nossa conclusão é de que os esforços despendidos para alcançarmos o atual patamar não podem ser relegados a segundo plano, sob pena de sofrermos um retrocesso, exatamente naquela área que é nosso grande diferencial. Nesse particular, o espírito de inovação e a criatividade do setor florestal são imbatíveis. Tanto é verdade que, em se tratando de pesquisas feitas na fase pré-competitiva, o “modelo tupiniquim” de integração universidade-empresa causa espanto, senão admiração, a quem toma conhecimento dos trabalhos cooperativos. Como para o sucesso do modelo é necessária uma contrapartida pró-ativa por parte das empresas, têm sido necessários a formação, reciclagem e aperfeiçoamento em nível de pós-graduação do corpo técnico das empresas.

Se utilizarmos os atuais doze programas cooperativos do IPEF, como referência para uma avaliação concreta, observamos que, no período do pico da crise - segundo semestre de 2008, a alocação de recursos por parte das empresas associadas foi maior que no semestre anterior. Para o corrente ano de 2009, além de não ter sido cancelado nenhum programa cooperativo, alguns estão sendo rediscutidos, visando à ampliação, além de novos a serem lançados a partir de 2010. Todavia, há que se registrar que outros projetos independentes e de menores custos foram postergados. Ressalte-se, a bem da verdade, que é relativamente difícil de detectar, com clareza, os efeitos globais num período restrito de meses sobre outros trabalhos que, normalmente, requerem longo prazo. Da mesma forma, é impossível prever quais seriam as novas demandas que poderiam surgir, principalmente na interface florestas plantadas/florestas nativas (RL, APPs, agrossilvicultura, etc.). Informações conseguidas junto ao meio acadêmico dão conta de não significativas reduções de recursos oficiais - federal ou estadual, em função da diminuição das arrecadações (patrocínio de pesquisas, bolsas de estudo, etc.). Como corolário disso tudo, a pesquisa florestal se diferencia de outras, pois “vive olhando para o futuro, enquanto crises ficam estacionadas no presente ou já desapareceram no passado”.


www.saudeambiental.com.br Bayer Environmental Science

Se é Bayer, é bom.


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a crise no setor florestal A preocupação com o meio ambiente e, particularmente, com a destruição das matas pode ter uma trégua, em razão da crise financeira mundial. A recessão iniciada no segundo semestre de 2008 jogou o mundo em um clima de recessão econômica, com redução da demanda e queda nos preços dos produtos. Muito embora o governo brasileiro tenha empregado medidas para minimizar o efeito da crise na economia nacional, como redução da taxa de juros e de alguns impostos e desenvolvido algumas políticas de incentivo para setores específicos, as análises sobre o comportamento dos preços e produções evidenciam que a crise econômica ainda persiste no país. Reflexos da crise são sentidos nos indicadores do PIB, que vêm mostrando taxas negativas de crescimento, ainda que cada vez menores. Não há como negar a existência de uma crise econômica, e é bastante difícil de prever o seu verdadeiro fim. Até poucos meses atrás, existia uma grande preocupação em saber se o planeta tinha condições de atender a demanda mundial de produtos e serviços. Hoje, a pergunta é: para quem vender? Infelizmente, o setor florestal não passou e não está passando incólume a essa crise. Para muitas empresas florestais, a sobrevivência tem sido desafiadora; para outras, nem tanto assim. O segmento de celulose e papel, setor extremamente tecnificado e capitalizado, iniciou o ano esperando uma grande retração de sua demanda nacional e internacional. Dados indicam que a produção de celulose sofreu nos dois primeiros trimestres do ano uma queda de 0,3% na sua produção. As exportações de celulose, no entanto, tiveram um acréscimo de 18%. No setor de papéis, a produção encolheu 3,9%, e as exportações, 7,4%. As expectativas são de que haja uma retomada gradual dos negócios nos meses futuros, notadamente no mercado internacional. Os investimentos deverão continuar nos próximos anos; até 2015, cerca de US$ 20 bilhões. As perspectivas, apesar da crise, são otimistas para o setor. Os efeitos da crise também atingiram o setor de carvão vegetal, devido à menor demanda de ferro, o que tem parcialmente parado ou reduzido a atividade siderúrgica nacional. A menor demanda de carvão provocou a queda dos preços nas principais praças produtoras e consumidoras do produto.

" a curto prazo, podem-se esperar pequenas melhorias no crescimento da economia, porém, para efetivamente encerrá-la, existe um grande desafio "

Ricardo Berger Professor de Economia Florestal da Universidade Federal do Paraná

O carvão teve uma queda acentuada de preços, chegando a mais de 50%, dependendo da região. O preço, que era de R$ 160 a R$ 190 por metro de carvão, em agosto de 2008, caiu para algo como R$ 75 por metro de carvão, em fevereiro de 2009. O setor siderúrgico ainda não iniciou de forma significativa uma recuperação, para trazer os bons ventos ao setor produtivo de carvão vegetal. O setor de chapas de madeira vem enfrentando a crise de forma distinta. Os produtores de madeira compensada vêm, desde meados do ano de 2008, vivenciando uma crise bastante séria. O setor optou por uma estratégia de vincular a sua produção ao mercado internacional. Dessa forma, com a eclosão da crise financeira e seus efeitos sobre o setor produtivo, notadamente nos Estados Unidos, país que absorvia a maior parte da produção brasileira de madeira compensada, fez-se com que o setor tivesse que vivenciar uma de suas maiores crises. Nos últimos meses, a luta não está sendo para vender, mas, principalmente, para sobreviver. No mercado interno, o setor está tendo que se defrontar com produtos concorrentes, como as chapas de madeira reconstituídas: MDF, MDP e OSB. Essas empresas, mais tecnificadas e capitalizadas, estão conseguindo suplantar a crise, buscando novos espaços junto ao mercado nacional. Embora sujeitas ao crescimento do país, estão escapando dos mercados internacionais e de uma situação de política cambial, de Real fortalecido frente ao Dólar. Estão cuidadosamente desenvolvendo nichos de mercado e consolidando seus espaços adquiridos. Assim, tornam mais complicado o crescimento do setor de madeira compensada, que poderá ter sua sobrevivência seriamente afetada a curto prazo. A crise acabou? Provavelmente, não. A curto prazo, podem-se esperar pequenas melhorias no crescimento da economia, porém, para efetivamente encerrá-la, existe um grande desafio, não só para o governo, que está a gerenciar taxas de juro elevadas, déficit publico crescente, dívida pública elevada e um câmbio extremamente valorizado pelo Real. O setor privado vai ter que investir na disciplina operacional e financeira. É uma oportunidade de colocar a casa em ordem, reordenando prioridades e estabelecendo estratégias para um crescimento seguro e sustentável.



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a ordem é sempre avançar no

mercado florestal mundial É subjetivo e desnecessário afirmar que a crise acabou, mas é fato que o pior já passou, conforme demonstram os indicadores macroeconômicos. Na verdade, não há uma instituição sinalizando o começo e o fim de uma crise. Ela surge e se dissipa natural e gradativamente. No mundo econômico, associaram o início desta com a derrocada do Lehman Brothers. É certo que não foi nenhuma marolinha, mas também nada de tsunami, como os catastrofistas profetizavam, chegando a compará-la ao crash de 1929. O certo é que o Brasil realmente foi um dos últimos países a entrar na crise e está sendo um dos primeiros a sair dela, juntamente com a China, Coreia do Sul e outros países em desenvolvimento. Esse mérito, embora alguns não gostem, tem que ser creditado à equipe econômica do atual governo. Não há dúvida de que a crise afetou a todos, uns mais e outros menos. Mesmo o segmento de celulose, que viu suas exportações aumentarem diante da crise (como previ na edição Março-Maio/2009 da Revista Opiniões), também foi abalada em função da queda dos preços dessa commodity. Mesmo assim, há, no mínimo, três meses, esses preços vêm subindo semanalmente. Em termos gerais, o lado positivo dessa crise, para o setor florestal, foi a pressão que ela exerceu na queda da taxa básica de juros (Selic) de 13,75% para 8,75% a.a., a menor da história deste país, que sempre conviveu com juros escorchantes. Especificamente, ela também forçou uma acomodação dos preços dos insumos e do valor das terras. Com a queda na Selic, certamente haverá maior liquidez e disponibilidade financeira para investir em plantações florestais. Só gostaria que o aumento expressivo que ocorrerá nos plantios florestais não retornasse com os abusos nos preços dos insumos - fertilizantes, mudas e defensivos, e nem nos valores das terras. Já é possível perceber, no setor florestal, movimentos demonstrando que o pior já passou. Basta verificar a reação que está ocorrendo no segmento da siderurgia a carvão vegetal, o mais prejudicado nessa crise. Com a necessidade de reposição do estoque mundial de aço, as encomendas retornaram e, com elas, os preços e a demanda do gusa e do carvão. Mesmo assim, esse é o segmento que terá mais dificuldade de se recompor da crise. Os outros segmentos florestais foram e serão beneficiados pela crise. Os voltados para exportação reagirão conforme a reação dos países importadores perante a crise. No caso da celulose, que já aumentou sua participação na

exportação para os países asiáticos graças à crise, esta vai aumentar ainda mais no mercado internacional com a recuperação econômica gradativa dos países desenvolvidos, velhos fortes compradores da nossa celulose. Na verdade, a indústria de celulose brasileira deve rezar todos os dias, em favor da crise. Ela catalisou um processo de depuração no mercado fornecedor, que, por conta do tempo, iria demorar, no mínimo, duas décadas, aniquilando aquelas indústrias dos países sem condições de continuar competindo com o Brasil, entre eles, grandes players, como a Suécia. Quem não pode perder esse bonde puxado pela celulose é a indústria de painéis da madeira, principalmente MDF e MDP. Como na celulose, o Brasil será um dos maiores players nesse mercado. Não obstante os ganhos na celulose e nos painéis, o problema é com a siderurgia a carvão vegetal. Nosso antigo e principal comprador, os EUA, núcleo da crise, não reagirão a contento para aumentar nossas exportações. Os empresários desse ramo precisam buscar novos mercados, mais competitivos para nós do que para a China. El‑a é uma forte ameaça para o nosso gusa. Durante a crise, a China invadiu mercados de aço, que, por tradição e proximidade, tinham que ser nosso. É o caso da Argentina. Temos que retomar esse mercado e buscar eldorados mais próximos, de menor frete, do que o dela, como o continente africano, principalmente os países banhados pelo oceano Atlântico e os mais democraticamente estabilizados, como Angola. Com isso, investimentos em infraestrutura serão desencadeados, o consumo das famílias crescerá, rebocando o emprego. Certamente a demanda por aço será inevitável. Há um processo de fusão das siderúrgicas na China, para fazer frente às grandes mineradoras que ditaram os preços das commodities minerais nos últimos 3 anos antes da crise, que forçaram o governo chinês a adotar políticas de incentivos a essa fusão. Com isso, as siderúrgicas de lá aumentaram a produção acima da demanda doméstica, despejando esse excedente em mercados, que, outrora, era do Brasil. O fato é que o Brasil precisa aumentar sua parcela no mercado internacional de produtos florestais e continuar conquistando mercado dos países emergentes, independente se a crise acabou ou não. Não há nada que impeça que façamos isso. Somos criativos e temos o mais imbatível crescimento florestal do mundo. Esqueçam a nossa classe política e os neonazistas ecoditadores que insistem em travar nosso progresso e vamos, Brasil.

" Durante a crise, a China invadiu mercados de aço, que, por tradição e proximidade, tinham que ser nossos. É o caso da Argentina. Temos que retomar esse mercado e buscar eldorados mais próximos, de menor frete, do que o dela, como o continente africano. " Sebastião Renato Valverde Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa




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