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2.1. Conceituação da neurociência

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1.4. Justificativa

1.4. Justificativa

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica desta pesquisa compreende estudos que foram realizados ao longo dos anos por autores conceituados no campo da neurociência como Suzana Herculano-Houzel, Roberto Lent, Mark Bear, Barry Connors, Michael Paradiso, Eric Kandel, entre outros. Este capítulo se dedicará a breve conceituação da neurociência. Em seguida, será abordado de forma introdutória o sistema nervoso. Posteriormente, será explorada a noção acerca do cérebro no decorrer da história, apresentando a visão da filosofia e da medicina e por último a estrutura e as funções cerebrais básicas.

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2.1. Conceituação da neurociência

O termo neurociência surgiu por volta de 1970, ano em que a Society for Neuroscience foi fundada na cidade de Washington para ser uma associação que congrega neurocientistas. No entanto, antes disso já eram realizados estudos, buscando compreender o comportamento humano e fenômenos da mente. Para BEAR, CONNORS e PARADISO (2017) o estudo do encéfalo é tão antigo quanto a própria ciência. Não somente médicos e cientistas, mas também filósofos como Platão, Aristóteles e René Descartes se dedicaram ao entendimento do corpo e da mente.

BEAR, CONNORS e PARADISO (2017), no livro Neurociências: Desvendando o Sistema Nervoso, faz um breve resumo sobre a história da neurociência desde a Grécia Antiga e a dualidade de pensamento sobre o órgão do intelecto e das emoções ser o encéfalo como afirmava o considerado “pai da medicina” Hipócrates (460-379 a.C.) ou, contrariamente a isso, o coração ser o centro das emoções como sugeriu o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.). Passando pelo Império Romano com as dissecções de animais pelo médico e filósofo Cláudio Galeno (130-200 d.C.) e a hipótese de que o cérebro recebe as sensações e o cerebelo comanda os músculos, visão que perpetuou até a Renascença quando o cérebro passou a ser visto como uma máquina de fluídos, cujos mecanismos foram propostos pelo filósofo francês René Descartes (1596-1650), e a teoria ventricular que perdurou

até o século XIX, época em que houve o surgimento de quatro ideias chaves que contribuíram para o avanço da neurociência, sendo:

• Os nervos entendidos como fios condutores de sinais elétricos do cérebro e para o cérebro; • A divisão do cérebro em diferentes partes, cada qual com sua função; • A evolução do sistema nervoso a partir da teoria da evolução e o processo de seleção natural propostos pelo biólogo inglês Charles Darwin (18091882); • A identificação da célula nervosa individual (neurônio), a partir da teoria das células levantada pelo zoólogo alemão Theodor Schwann (1810-1882), na qual afirma que todos os tecidos são compostos por células, sendo que essa descoberta só foi possibilitada pelo refinamento do microscópio na época.

Santiago Ramón y Cajal (1852-1934), considerado o “pai da neurociência moderna”, teve uma grande contribuição para o estudo da mente ainda durante esse período, ao argumentar que os neuritos (ramificações neuronais denominadas dendritos ou axônios) não estabeleciam uma continuidade entre si e que a comunicação entre os neurônios ocorriam por contato. Essa teoria ficou conhecida como doutrina neuronal e só foi possível ser comprovada com a microscopia eletrônica, cuja resolução permitiu constatar que os neuritos dos neurônios de fato não possuíam qualquer continuidade entre si e, portanto, os neurônios poderiam ser analisados individualmente.

Em busca pelo termo neurociência no navegador de internet, o Instituto NeuroSaber, assim como diversos outros sites de pesquisa apresentaram a mesma definição sucinta, não sendo possível detectar a sua fonte primária, na qual:

Neurociência é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando desvendar seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais alterações que sofra. Portanto, o objeto de estudo dessa ciência é complexo, sendo constituído por três elementos: o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos.

(Instituto NeuroSaber, 2016)

Este conceito utiliza uma abordagem simplificada para explicar tudo o que envolve o campo tão abrangente da neurociência, que pode ser entendida como a

ciência que estuda questões acerca do sistema nervoso, seus componentes e processos para compreender o funcionamento da mente e do corpo, a percepção, a consciência, as emoções, a memória, os sistemas sensoriais, os transtornos mentais, o comportamento humano, entre outros assuntos correlatos.

A princípio, BEAR, CONNORS e PARADISO (2017) e o Professor Doutor Roberto Lent, autor do livro Cem Bilhões de Neurônios - Conceitos fundamentais de neurociência, tratam da palavra no plural, neurociências, por ser uma ciência integrada a vários campos de pesquisa, divididos em cinco grandes disciplinas neurocientíficas. Ambos categorizam as disciplinas como neurociências moleculares, neurociências celulares, neurociências de sistemas, neurociências comportamentais e neurociências cognitivas, conforme distinguidas por Lent (2010):

A Neurociência molecular tem como objeto de estudo as diversas moléculas de importância funcional no sistema nervoso, e suas interações. Pode ser também chamada de Neuroquíraica ou Neurobiologia molecular. A Neurociência celular aborda as células que formam o sistema nervoso, sua estrutura e sua função. Pode ser chamada também de Neurocitologia ou Neurobiologia celular. A Neurociência sistêmica considera populações de células nervosas situadas em diversas regiões do sistema nervoso, que constituem sistemas funcionais como o visual, o auditivo, o motor etc. Quando apresenta uma abordagem mais morfológica é chamada Neuro-histologia ou Neuroanatomia, e quando lida com aspectos funcionais é chamada Neurofisiologia. A Neurociência comportamental dedica-se a estudar as estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos psicológicos como o sono, os comportamentos sexuais, emocionais, e muitos outros. É às vezes conhecida também como Psicofisiologia ou Psicobiologia. Finalmente, a Neurociência cognitiva trata das capacidades mentais mais complexas, geralmente típicas do homem, como a linguagem, a autoconsciência, a memória etc. Pode ser também chamada de Neuropsicologia.

(LENT, 2010, p.6, grifo da autora)

Lent (2010) esclarece que as disciplinas não são isoladas, nem possuem limites estabelecidos, mas praticam uma interação multidisciplinar quando é preciso compreender o funcionamento do sistema nervoso sob diversos ângulos, pois este sistema está sujeito a várias interpretações.

Portanto, o autor aborda em seu livro temas específicos relacionados à neurociência, analisando-a sob diferentes esferas. Os temas são tratados em profundidade e em diversos níveis, sendo o nível anatômico que considera a estrutura

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