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5.2. A neuroarquitetura
transdisciplinaridade entre as várias esferas que podem influenciar um projeto, como as ciências sociais, a tecnologia, a sustentabilidade, a antropologia, a psicologia, a arte, entre outros. Nas metodologias contemporâneas, as pessoas envolvidas pelo projeto são colocadas no centro de todo o processo, acompanhando todas as fases do processo de projeto. O processo é flexível e as etapas se adaptam a cada demanda projetual. Adota-se uma interface usuário e produto, sendo que neste caso o produto de um projeto arquitetônico é o ambiente. O projeto considera as necessidades, particularidades, desejos e aspectos simbólicos dos clientes, agregando valor ao resultado final. O foco da metodologia não é o resultado final, mas sim o processo criativo. Talvez o modelo mais proeminente na atualidade seja o design thinking4 .
É perceptível que assim como vem ocorrendo uma transformação da arquitetura de interiores ao longo do tempo, a sua metodologia de processo de projeto também vem se reinventando e se adaptando à novos contextos, estando cada vez mais envolvida com as pessoas. Traçando um paralelo entre o processo de projeto e a neuroarquitetura é evidente que os profissionais estão buscando compreender as pessoas, se atentando para os aspectos subjetivos que envolvem suas vivências para conseguirem atender não somente suas necessidades, mas contribuírem para o bem estar físico e mental, a qualidade de vida e o despertar de emoções, memórias e sensações por meio dessa aproximação com cliente durante o desenvolvimento do projeto para entregar a ele um resultado significativo.
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5.2. A neuroarquitetura
A arquitetura é a arte que dispõe e adorna de tal forma as construções erguidas pelo homem (...) que vê-las pode contribuir para sua saúde mental, poder e prazer. John Ruskin (1819-1900), crítico de arte inglês, apud Paiva e Gonçalves
Segundo PAIVA e GONÇALVES (2018), a interação entre o cérebro, o corpo e o ambiente é mais complexa do que as pessoas imaginam, e a arquitetura tem uma profunda relação com o ser humano. Os ambientes são capazes de estimular
4 Design Thinking é um processo de pensamento crítico e criativo que permite organizar informações e ideias, tomar decisões, aprimorar situações e adquirir conhecimentos. Professor Charles Burnette 50
diferentes partes do cérebro, criando uma experiência emocional, sensorial e instintiva que por vezes podem ser inconscientes.
Observando as imagens anteriores a respeito das transformações arquitetônicas ao longo do tempo, é possível as pessoas se imaginarem em uma das igrejas construídas na idade medieval e se sentirem envolvidas por uma sensação de grandiosidade e imponência que escapam à escala humana, pois o espaço transmite a ideia de um poder maior e dominante acima de todos, fazendo com que se sintam intimidadas e pequenas diante de algo tão suntuoso. As igrejas também possuem um significado simbólico e que evoca a espiritualidade, podendo induzir a uma postura reflexiva ou convidar os usuários a um momento contemplativo. O barroco pode trazer uma sensação de poder, requinte, luxúria ou parecer confuso e exagerado pelo excesso de elementos. Enquanto que o art nouveau pode provocar essa sensação de leveza e sutileza pela plasticidade e proximidade com formas naturais, despertando uma sintonia com o ambiente através do movimento orgânico dos elementos, enquanto outras pessoas podem interpretar isso como distorcido e desordenado, causando uma sensação oposta. Já no minimalismo o ambiente pode parecer vazio, estático, indiferente para umas pessoas, enquanto para outras pessoas o mesmo espaço pode remeter a tranquilidade, organização e praticidade pela pouca informação e ausência de adornos. De qualquer forma, cada pessoa é tocada involuntariamente pelo espaço que ocupa, devido ao conjunto de elementos que ele apresenta, podendo o mesmo ambiente afetar as pessoas de maneiras diferentes.
Outro aspecto importante é a permeabilidade de elementos naturais, a iluminação solar que adentra os espaços, desperta a energia e contribui para que as pessoas tenham noção do período do dia pela posição da luz que incide nas superfícies. O vento que renova a qualidade do ar, refresca o ambiente e movimenta os objetos leves, como os tecidos, trazendo esse dinamismo. Essas sensações são o oposto do que é possível sentir ao visitar uma caverna, onde há a ausência desses elementos naturais e provocam um sentimento de opressão e confinamento que podem ser sufocantes.
A neuroarquitetura é definida como “a ciência interdisciplinar que aplica conhecimentos da neurociência à relação entre o ambiente construído e as pessoas que dele fazem uso” (PAIVA e GONÇALVES, 2018, p. 396). Ou seja, por meio de
observações acerca do comportamento e reações dos seres humanos aos estímulos do meio externo, bem como da análise da atividade cerebral através das técnicas de imagem funcional vistas anteriormente, esse campo da ciência torna o que antes era visto como uma decisão arquitetônica intuitiva em decisões pensadas com a finalidade de influenciar certos comportamentos e reações nas pessoas.
A neuroarquitetura é uma área que está em desenvolvimento na busca por compreender como o cérebro interpreta os elementos do espaço, quais regiões do cérebro são ativadas quando há essa interação entre o homem e o ambiente e como ocorre essa resposta comportamental ou emocional influenciada pelo meio externo. Entender essas questões irão possibilitar traçar um caminho projetual convicto de que a harmonia, o equilíbrio, o bem-estar e a satisfação serão alcançados através da composição arquitetônica. As subjetividades podem de fato se tornarem objetivos a serem materializados pela neuroarquitetura, conforme afirmado por PAIVA e GONÇALVES (2018):
O que antes eram apenas impressões subjetivas, respostas aparentemente sem razão para os sentimentos causados pelo mundo material, agora podem ser compreendidas como processos cerebrais capazes de gerar conforto, medo, contrição, dentre outras sensações.
(PAIVA e GONÇAVES, 2018, p. 395)
Os sistemas sensoriais, como visto antes, fazem as pessoas perceberem os ambientes que as circundam de forma consciente ou inconscientemente. No entanto, o processo de percepção consciente é mais lento que o inconsciente, o que faz com que as pessoas processem os estímulos percebidos de forma instintiva e automática primeiro para depois processar racionalmente.
O cérebro está a todo momento interpretando as informações que recebem. PAIVA e GONÇALVES (2018) abordam dois termos relacionados com o processamento dessas informações: a Gestalt que se refere a percepção das formas e do ambiente construído, no qual através de imagens é demonstrado que o cérebro ao reconhecer um elemento de forma rápida e instintiva é impreciso e irracional, necessitando de um esforço maior para que o córtex perceba a informação de forma objetiva. Assim, este órgão funciona como um filtro, no dia a dia, ao receber uma enorme quantidade de estímulos, ele absorve e processa informações no nível consciente apenas do que é considerado relevante, descartando o que é inútil. Essa