Revista Setor Agro&Negócios

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ESPECIAL ONE HEALTH

A SAÍDA PARA O investimento alto em pesquisas é um caminho necessário para aplicar o conceito One Health, aliando saúde animal, saúde humana e meio ambiente para impedir zoonoses. Por Gabriela De Toni de Almeida

E

stá comprovado cada dia mais a importância de utilizar o conceito One Health para prevenir doenças animais e, consequentemente, evitar epidemias ou pandemias humanas. Ao integrar saúde animal, saúde humana e o meio-ambiente, diminui-se a possibilidade de que um vírus se alastre por uma espécie animal e chegue no ser humano, como aconteceu com a Covid-19. Para prevenir que surjam novas zoonoses, ou seja, doenças transmitidas entre animais e pessoas, é muito importante que haja alto investimento em pesquisas para gerar resultados que melhorem a área da saúde animal. Uma instituição que investe alto utilizando as diretrizes do One Health é a Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Segundo a pesquisadora da Embrapa, Aiesca Oliveira Pellegrin, a pandemia da Covid-19 ressalta como é importante não negligenciar aspectos relacionados à saúde única. "Gerar conhecimento na interface homem-animal-ambiente demanda mobilizar conhecimento e colaboração efetiva de várias especialidades, das ciências ambientais, da ecologia básica e aplicada, de ciências veterinárias e médicas, só para citar algumas. E arranjos institucionais totalmente novos, bem como políticas públicas construídas com

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esse olhar, de gestão dessa interface. Podemos pegar como exemplo a Covid19. Em menos de um ano temos uma vacina. Um vírus que até então não havia infectado o ser humano, um vírus que estava restrito a um animal silvestre e que ainda não sabemos por quais outros hospedeiros ele passou até chegar ao homem. Não conhecemos a história natural dessa doença, ela é nova. Todo esse conhecimento teve que ser produzido em um ritmo alucinante e só pudemos ter essa vacina porque tínhamos, em alguns países, equipes capacitadas, meios e métodos disponíveis para gerar o conhecimento necessário sobre o vírus. A ciência, muitas vezes, mostra seus resultados somente a longo prazo e é um equívoco não darmos atenção para a ciência básica, porque dela é que emana o conhecimento que deve ser mobilizado em momentos de crise, aquelas que não prevíamos". Números da OIE, a Organização Mundial da Saúde Animal (em português), indicam que 60% das doenças humanas são zoonoses. Das doenças emergentes, 75% são de origem animal e, de cinco novos agentes de doenças humanas ao ano, três são de origem animal e 80% dos agentes com potencial de bioterrorismo são zoonóticos (por exemplo, a Brucella abortus - conhecida como Febre de Malta). Segundo a pesquisadora da

Embrapa, "diante desses dados, a conclusão é de que o caminho mais efetivo e econômico para proteger as pessoas é controlar as enfermidades animais em suas populações de origem e essa gestão deve ser feita na interface meio ambiente-animal-homem, o que mostra a urgência de internalizarmos em planos, programas e políticas essa perspectiva, que representa a saúde única em sua essência. O caminho para a implantação de políticas de saúde única é longo e, antes de necessário, urgente, uma questão de sobrevivência das espécies, incluindo a nossa". Em relação a projetos desenvolvidos pela Embrapa focando o combate às zoonoses, alguns importantes são contra a Brucelose, a Tuberculose e a Salmonelose. O portfólio de sanidade animal da Embrapa é constituído de 14 desafios de inovação e o conceito One Health perpassa vários deles. De acordo com Pellegrin, um exemplo de projeto que a Embrapa está desenvolvendo atualmente com foco na perspectiva de saúde única trata da resistência aos antimicrobianos, considerada pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS) e OIE como um dos tópicos que atualmente mais merecem atenção, "pois compromete a saúde humana e animal, afetando a capacidade do uso dos tratamentos para doenças infecciosas, tanto no âmbito da medicina humana quanto veterinária, sendo inclusive objeto de um convênio tripartite (FAO,OIE,OMS) com a elaboração, em 2015, de um Plano de Ação Global para a resistência aos antimicrobianos, visto que a resistência aos antimicrobianos não reconhece fronteiras tanto geo-

FOTO: SHUTTERSTOCK

EVITAR EPIDEMIAS E PANDEMIAS HUMANAS


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