Revista LiteraLivre 21ª edição

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LiteraLivre Vl. 4 - nº 21 – Mai/Jun. de 2020

cheias, o samba, a riqueza dos desfiles, as praias tão lindas como as de Varadero; os carros que circulavam novinhos, novinhos; liberdade plena, dinheiro fácil, no Brasil sim, é que seria bom viver. Andava farta de tanta pobreza a seu redor. No cortiço, onde vivia com os pais e um irmão, quatro outras famílias dividiam as mesmas áreas internas, os banheiros, a luz, e às vezes, o pão e o rum. A bolsa de alimentação era horrível, tudo muito escasso: comida, sabonete, papel higiênico e só mesmo no Hostal ela podia sentir um pouco mais de conforto.

Desde que começara no novo trabalho passou a se dar a pequenos luxos e grandes prazeres, nunca antes conseguidos. Além dos muitos presentes deixados pelos hóspedes, passou a usar roupas melhores, menos velhas e surradas; se maquiava, possuía quatro batons de cores diferentes, trazia os olhos sempre bem pintados e todos os dias, usava lápis e rímel. Aprendeu a cuidar dos cabelos e o pequeno espelho quebrado, onde se via antes de sair, lhe dizia o quanto se fazia bonita. Já podia se dar ao luxo de usar quase tudo que quisesse e variar entre três brincos de argolas, dourado, prateado, de diversos tamanhos. Naquele verão os voos do Brasil chegavam em grande quantidade; não só para ilha mas também para as praias, belíssimas como Varadero, Cayo Coco, Guardalavaca, próxima à cidade de Holguin e muitos, muitos lugares de indescritível beleza natural. Quem ficasse uma semana em Cuba não deixava jamais de conhecer Santa Clara, Trinidad, Camaguey, Santiago...A ilha era mesmo uma grande festa. Numa dessas manhãs preguiçosas, no salão do café, Octávia olhou para aquela mulher, sozinha na fila, esperando para se servir de um suco. Pareceu-lhe alguém familiar, mas não era nenhuma hóspede habitual do hotel; uma pessoa conhecida, talvez? Achou que não. A despeito destas interrogações, se dirigiu à mesa para lhe perguntar o número do seu quarto. Que olhar era aquele? Que coisa estranha lhe passava aquela mulher? Uma pessoa tão igual, nem alta nem baixa, nem feia nem bonita, nem gorda nem magra, mas que tinha um certo encanto, ah, tinha sim. Foram inúmeras as trocas de olhares durante aquele café e durante os quatro dias em que a misteriosa mulher permaneceu ali. Conversaram poucas vezes, perguntas comuns, sem nada de especial, Ela iria para Jamaica e voltaria dentro de dois dias para passar, em Havana o resto das férias.

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