Marcel Duchamp, a pintura me ama (ou je suis la peinture) por Sergio Romagnolo
Na exposição que terminou no dia 5 de janeiro de 2015, no Centro Pompidou, pôde-se ver pela primeira vez uma grande quantidade de pinturas executadas por esse artista, que se notabilizou por inventar novas categorias de objetos de arte. Na biografia que escreveu sobre Duchamp, Calvin Tomkins relata que certo dia, depois de um jantar com amigos em sua casa, “Marcel leu em voz alta para ela (sua esposa Teeny) algumas passagens do livro de Alphonse Allais, que fizeram os dois rir”. Tratavase de um livro de trocadilhos e textos humorísticos. O próprio título da exposição faz um jogo de palavras com même, “mesmo” em francês, que dita em voz alta lembra a expressão “me ama”. Essa ambiguidade já existia no título de outro trabalho de Duchamp La Mariée mise à nu par ses célibataires, même (A noiva despida pelos seus solteiros, mesmo). Nesse caso, na versão induzida, ficaria: A noiva despida pelos seus solteiros, me ama. Essa maneira de dizer, sem dizer, ou deixar versões em camadas, caracteriza toda a obra de Duchamp. Em 1913 Duchamp construiu um objeto sem função aparente, simplesmente porque gostou do som que produzia, era uma roda de bicicleta sobre um banquinho. Nesse momento Duchamp inaugurou uma operação que se repetiu algumas vezes na história da