ZINT ⋅ Edição #15: Pose

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e di to ri al

Nova Edição na área! Agosto foi um mês ocupado para os nossos Colabs. Em uma das maiores Edições até então, falamos sobre a série Pose, o filme “Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo”, o aniversário de 60 anos de Madonna e os 10 anos do primeiro álbum de Lady Gaga! Ainda, textos sobre os álbuns novos de Ariana Grande, Travis Scott, Alice In Chains, Mac Miller, Jão e Melim. Também, matérias sobre a excelente Good Girls, o fim de The Originals e os 20 anos de That ‘70s Show. Mais três palavras figuram no nosso Guia pra você aprender e o Calendário Cultural te lembra que em setembro tem o Primetime Emmy Awards, novos jogos de HomemAranha e Tomb Raider e um álbum novo da Cher. Aproveitem!


O QUê A ZINT TEM?

como uma publicação digital, as possibilidades de interações são promissoras. usando a plataforma ao nosso alcance, a revista sempre vem acompanhada de interatividade. aproveitamos de todos esses recursos e você pode usufruir de tudo sem muito mistério. »


paleta de cores;

para ficar fácil diferenciar as áreas de cobertura, cada uma delas possuem suas próprias cores, que ficam visíveis nas barras laterais da revista

vídeo;

stories;

com uma revista de Cultura & Entretenimento, estamos sempre escrevendo sobre algo que possui um trailer ou um videoclipe, por exemplo. o ícone do Youtube é sempre visível para encontrar esse conteúdo audivisual. ao clicar na imagem, uma janela com o player será aberto e você poderá assistir ao vídeo!

se você está pelo app Issuu, é possível ler as principais matérias da Edição em versão “Stories”. na parte superior direita você pode ver um ícone de barras; basta clicar nele para ser levado para a área onde o conteúdo está em um formato de texto corrido

playlists;

links;

algumas das nossas matérias vem acompanhadas playlists. quando isso acontece, eles são encontradas ao final da respectiva matéria. ainda, nas páginas finais de cada publicação, você pode encontrar todas as listas, com ícones para ouvi-las no Deezer, Spotify e Youtube

além do conteúdo audiovisual principal, as matérias contém outros tipos de links, como para páginas da internet, ou até mesmo outros vídeos e áudios. toda vez que essa identificação visual aparecer saiba que ela corresponde a um link. é só clicar!

rodapé;

o easter-egg da revista. no rodapé de cada página de matéria, no mesmo lugar da paginação, o zint.online sublinhado também é um link. neste caso, ele leva para a versão correspondente da matéria no site, em formato blog


colabs da edição a cada publicação, o nosso time de colaboradores muda um pouco

joão

vics

criador da revista; editor de conteúdo

criador da revista; diretor de arte

15 colaboradores participam dessa edição, com matérias sobre séries, filmes, especial, música e até mesmo nas playlists

clique aqui para ver todos nossos colabs


adan

alisson millo

ana luisa santos

bruna curi

carolina cassese

cecília basílio

debora drumond

deborah almeida

giovana silvestri

giulio bonanno

guilherme rodrigues

mike faria

nathália cioffi

vitoria cristine

vitória silva


agenda cultural as principais datas de estreias e lançamentos de setembro [veja o calendário completo clicando aqui]

06

06

06

a freira

crô em família

06

07

o grande circo místico

alfa

07

07

raise vibration

iron fist

lenny kravitz

estreia da 2ªT

spider man ps4

11

13

nba 2k19

o predador

pc, ps4, switch, xbox one


14

14

nhl 19

shadow of tomb raider

14

14

cry pretty

bojack horseman

ps4, xbox one

carrie underwood

20

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estreia da 5ªT

20

coração de cowboy

primetime emmy awards

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always in between

spyro reignited trilogy

27

27

27

um simples favor

piano and a microphone 1983

o homem perfeito

o mistério do relógio na parede

jess glynne

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fifa 19

pc, ps4, switch, xbox one

prince

ps4, xbox one

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dancing queen cher


guia do en tre te ni men to

não é todo mundo que está imerso no mundo do entretenimento, podendo ficar sem entender alguns (ou vários) dos termos utilizados na área. por essa e outras, mês a mês, nos prontificamos a trazer três palavras, traduzidas, explicadas e exemplificadas

veja o dicionário completo


sitcom a sitcom é uma abreviação para situation comic, que em português significa algo como “comédia de situação”. neste caso, são as séries que colocam um grupo de pessoas vivendo em um determinado ambiente, passando por determinadas situações. geralmente, essas comédias tem aqueles típicos risos de fundo. Friends, How I Met Your Mother, That ‘70s Show e The Big Bang Theory são uma das mais famosas séries de comédia de situação.

casting o casting de um filme é, de uma forma bem simples e direta, o processo de formação do elenco de uma produção.

showrunner o showrunner é um cargo que, geralmente, é atribuído ao criador da série. esta pessoa acumula as funções, constantemente, de roteirista, produtor executivo e editor do roteiro, ficando encarregados de dar consistência no aspecto geral do programa. Em Pose, Ryan Murphy é o criador da série, sendo o atual showrunner do programa, além de roteirista, diretor e diretor executivo.


CONTEÚDO 16

séries

p.32

The Originals Bruna Curi

p.16

Pose

p.36

The 100

Adan

Vitoria Cristine p.40

p.26

Deus Salve o Rei

Insatiable

Bruna Curi

Debora Drumond

p.44

p.30

That ‘70s Show

Good Girls

Vitória Silva

Ana Luisa Santos

50

filmes p.50

Mamma Mia Carolina Cassese p.60

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Banana Bruna Curi


NA EDIÇÃO

especial

p.66

Peça de Casamento Giulio Bonanno

70

74

música p.70

Madonna

p.94

Travis Scott

Nathália Cioffi

Giovana Silvestri

p.74

p.102

Lady Gaga

Jão

Deborah Almeida

Mike Faria

p.80

p.106

MTV Video Music Awards 2018

Mac Miller

Cecília Basílio

Giovana Silvestri

p.84

p.112

Alice in Chains

Melim

Alisson Millo

Vitoria Cristine

p.88

p.116

Ariana Grande

Blues

Mike Faria p.122

Todas as nossas listas musicais [ +2 ]

Guilherme Rodrigues

playlists



[

sĂŠries

]


A CATE GORIA É... por

ADAN

diagramação

vics


INDYA MOORE DÁ VIDA A ANGEL, UMA JOVEM MULHER TRANS


V Vida. Glamour. Realidade. Marginalidade. Beleza. Medo. Cultura. Os anos 80 é uma década que se firmou no imaginário popular como uma época de intermédio, de criação, mudanças e surgimento da cultura mais emergente que vemos hoje da forma que temos hoje. Vários movimentos culturais nasceram ou se firmaram nessa década e são vividos até os dias atuais com toda intensidade de forma religiosa. O mundo estava de ressaca, vinha se reerguendo da cultura do amor livre dos anos 60, dos rombos do fim da Guerra do Vietnã e o auge da Guerra Fria, John Lennon era assassinado nos Estados Unidos e o mundo entrava em choque. No Brasil, os anos 80 serviu para nos livrarmos de uma ditadura que durou 21 anos e junto com o resto do mundo, estávamos nos reunindo e tentando crescer. Nessa ambientação oitentista, o showrunner Ryan Murphy em conjun-

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to com Brad Falchuk e Steven Canals nos brinda com uma das melhores séries de 2018 até agora: Pose . Criação para o canal norte-americano FX, o drama teve sua estreia em 3 de junho e conta com apenas oito episódios, cuja segunda temporada já está anunciada oficialmente para 2019. Pose já chama atenção desde que foi anunciada: o programa traz o maior elenco de atores que se identificam como transgêneros em uma mídia, que não seja reality show. Ainda, os atores são, na maioria, negros e latinos. Com tamanha representatividade incluída em uma linha televisiva, já é possível ter uma noção que o seriado tem muito motivo para incomodar os mais conservadores, trazendo vários temas que não são discutidos com frequência em tópicos ocasionais.

Encabeçado por Lou Eyrich, com colaboração de Analucia McGorty, o figurino eclético de Pose é inspirado no documentário Paris Is Burning, sendo feito no melhor estilo Faça Você Mesmo, para ser crível que as peças teriam sido, de fato, garimpadas pelos brechós e mercados de pulga da vida e produzidas pelos personagens


DOMINIQUE JACKSON COMO ELEKTRA, A RAINHA-MÃE DA CASA ABUNDANCE


DA ESQUERDA PARA A DIREITA, AS MULHERES DE POSE: HAILIE SAHAR (LULU), DOMINIQUE JACKSON (ELEKTRA), INDYA MOORE (ANGEL), ANGELICA ROSS (CANDY) E MJ RODRIGUEZ (BLANCA). NA SESSÃO FOTOGRÁFICA, ELAS TRAJAM O FIGURINO DA PRIMEIRA CATEGORIA MOSTRADA NA SÉRIE: REALEZA.



A série é uma verdadeira homenagem a cultura queer dos anos 80, sendo também uma ovação a comunidade transexual, nicho que vivia renegado aos guetos raciais, sejam eles negros ou hispânicos. O preconceito rasgado na luta em busca de aceitação da sexualidade, as dores da epidemia da AIDS, drogas e a condenação de morte ao se tratar do tão assustador positivo. O embrião da produção foi implantada em Ryan Murphy a mais de uma década atrás. Após assistir ao documentário Paris is Burning, de 1990, o produtor quis trazer um projeto onde tratasse da cultura, mostrando a cena social e abrangendo o movimento que é mostrado no documentário. Paris is Burning é voltado ao que muitos chamam da época de ouro de Nova York para os transexuais. No ano de 2014, um então aspirante a roteirista Steven Canals apareceu com a proposta de uma história de um jovem de família porto-riquenha que era protegido pela família do crack e da AIDS. A ideia era uma mistura que envolve influências de longas como Fama (1980) e A Cor Púrpura (1985) na sua identidade visual, inspirado na vida do próprio roteirista. Murphy comprou a ideia e trouxe Pose em um projeto grandioso e magistral. Para ajudar a dar vida ao programa, Janet Mock, criadora do movimento de empoderamento de mulheres trans #GirlsLikeUs, ingressou na equipe de produtores e roteiristas, dando voz a uma personalidade da comunidade, mostrando que estava comprometido em sua inclusão. Os personagens de Pose são singulares em seus mais diversos meios, mostrando uma realidade que

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os permeiam até os dias atuais. Já no primeiro episódio somos apresentados a todas as figuras que irão nos fazer amar e torcer durante os episódios que virão. Ambientada em 1986, a série vai do gueto, em um primeiro vislumbre da casa Abundance, liderada pela Rainha-Mãe Elektra (Dominique Jackson), com seus “filhos” Blanca (Mj Rodriguez), Angel (Indya Moore), Lulu (Hailie Sahar), Candy (Angelica Ross), Lemar (Jason A. Rodriguez) e Cubby (Jeremy McClain), para o cenário social emergente do universo onde Donald Trump era idolatrado por muitos, que almejavam viver no mesmo luxo e sucesso que o então empresário esbanjava.

Com Paris is Burning sendo a maior inspiração para Pose, a diretora do documentário, Jennir Livingston, faz parte da equipe técnica do programa da FX, como produtora-consultora. O aclamado longa de 1990 está, atualmente, disponível no catálogo da Netflix Brasil.


MJ RODRIGUEZ É BLANCA, FILHA DA CASA ABUNDANCE QUE PASSA A SER MÃE DA CASA EVANGELISTA


Aqui, os bailes de Vogue, evento presente já nos primeiros minutos da série, são os cenários principais de vários dos melhores momentos do show, onde personagens e Casas irão se enfrentar em busca de prêmios e reconhecimento. A ideia do showroom é promover um espaço onde eles podem ascender e mostrar suas personalidades, individualidades e talentos, em uma competição que mescla desfile, passos de dança, carões e figurinos deslumbrantes, nas mais variadas categorias. Realidade esta já bem familiar para os que já assistiram Paris is Burning ou o reality show RuPaul’s Drag Race. A mudança de cenário ocorre quando Blanca descobre que é portadora do vírus da AIDS e, em um momento de aceitação, decide sair da Casa Abundance para ser a mãe da Casa Evangelista, homenagem a supermodelo canadense e apoiadora das pesquisas sobre AIDS, Linda Evangelista. Ainda, neste núcleo, além de Angel, que eventualmente segue a amiga para o novo lar, somos apresentados a Damon (Ryan Jamaal Swain), aspirante a dançarino profissional e o primeiro que Blanca acolhe dentro de sua Casa; Ricky (Dyllon Burnside), um garoto conquistador que está de olho em Damon; Lil Papi (Angel Bismark Curiel), um cara divertido que vende drogas; e Pray Tell (Billy Porter), o apresentador dos bailes e melhor amigo de Blanca. A disputa entre mãe e filha, em busca de maior relevância para as Casas Abundance e Evangelista, é um dos motes condutores da narrativa de Pose. Mas se engana que a série é apenas bailes e a busca pelo glamour: vale lembrar a proliferção e surto do vírus do HIV tem seu auge nos anos 1980, assim como o uso desenfreado das drogas e da emersão de uma nova classe rica nos Estados Unidos, que de alguma forma são vivenciados pelos personagens, seja entre si ou em seus companheiros.

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No núcleo branco, vivendo a outra realidade, somos apresentados a Stan (Evan Peters), um emergente funcionário das empresas Trump. Ele é casado com Patty (Kate Mara), uma dona de casa que inicialmente se vê encantada com sua nova realidade; no trabalho, ele responde à Matt Bromley (James Van Der Beek), um cara que não tem nada a perder e goza de um vida de pura luxúria, drogas e prazer. Por sentir que não se encaixa em nenhum grupo social, Stan eventualmente cria uma relação com Angel, em busca de um conforto e aceitação. São entre esses bailes, disputas por coroas, romance, corações quebrados e várias lições de humanidade e luta por sobrevivência, que a série mostra a cada episódio a arte de emocionar o telespectador com histórias profundas. Aclamado pela crítica, Pose vem arrancando elogios de diversos veículos de comunicação, como a revista norte-americana Vanity Fair, que chama a produção televisiva de “ousada e necessária”. A produção faz parte de uma nova leva de produtos audiovisuais protagonizados por minorias, como são os casos das séries Raio Negro, do canal estadunidense The CW, e Cara Gente Branca, do serviço de streaming Netflix. Ter a ousadia de apresentar a junção de várias minorias em uma era atual dominada por tamanha bagagem de racismo e preconceitos, é um verdadeiro tapa na cara, que está sendo sentida e, aos poucos, absorvida para encontrar o caminho da aceitação. Pose chega ao Brasil no segundo semestre de 2018 pelo canal pago Fox Premium. A segunda temporada, que chega em 2019, terá um breve pulo temporal de um ano, com sua season finale concluindo no lançamento da música Vogue, da cantora norte-americana Madonna. A faixa, que é um dos maiores hinos da comunidade queer, celebra a arte dos ballrooms e terá grande influência na cultura dos bailes de vogue. //


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NA IMAGEM (1), ELEKTRA E BLANCA VÃO A PROCURA DE EMPREGO. NO TOPO (2), RICKY, PAPI, BLANCA E PRAY TELL PRESTIGIAM UMA APRESENTAÇÃO DE DANÇA DE DAMON. NA IMAGEM AO LADO (3), CANDY, LEMAR, CUBBY E LULU ENSAIAM UMA APRESENTAÇÃO

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PARA O BALLROOM. ABAIXO DELA (4), PATTY E STAN FAZEM TERAPIA DE CASAL. EM DESTAQUE (5), AS CASAS EVANGELISTA E ABUNDANCE COMEMORAM JUNTOS UMA TRÉGUA.

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UMA BUSCA INSACIÁVEL POR AUDIÊNCIA? por

debora drumond

A

diagramação

nova série da Netflix, Insatiable, se tornou polêmica mesmo antes de sua estreia. O trailer, liberado no final do mês de julho, causou muito alvoroço ao mostrar a per-

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vics

sonagem principal, Patty Bladell (Debby Ryan), usando uma fat suit (roupa de enchimento), passando a impressão de que série seria extremamente gordofóbica. Sem nem ter ido ao ar, Insatiable já contava com uma petição com mais


de 200 mil assinaturas pedindo o cancelamento da série. Em meio a esse cenário desconfortável, os produtores e elenco se manifestaram pedindo aos fãs que aguardassem a estreia da série que, segundo eles, ia muito além da questão do emagrecimento. No dia 10 de agosto, a primeira temporada de Insatiable foi liberada no site de streaming, contando com doze episódios.

A trama gira em torno de Patty, uma adolescente de 17 anos que sofreu bullying durante toda a vida por ser gorda. Tudo muda quando um mendigo quebra sua mandíbula e ela só consegue ingerir líquidos por três meses, fazendo com que ela emagreça e tenha o corpo com que sempre sonho. Agora, o objetivo da adolescente é se vingar de todos que a fizeram sofrer durante todos os anos em que ela era gorda. Como Patty foi quem agrediu o mendigo primeiro, ele acaba a processando e o único advogado da cidade que aceita defendê-la é Bob Armstrong (Dallas Roberts). Quando os dois se encontram pela primeira vez, o advogado vê em Patty a chance de realizar seu sonho: voltar a trabalhar como orientador de misses, carreira que havia após uma falsa denúncia de pedofilia feita pela mãe de uma cliente. A partir disso, a série começa a se desenrolar com Bob tentando transformar Patty na Miss Perfeita. A relação dos dois

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é um dos muitos pontos problemáticos da trama, devido a paixão que a menina acaba sentindo por ele, mesmo com Armstrong sendo casado, mais velho e acusado de ter abusado de uma adolescente (algo que ela comentar achar positivo, já que significava que ela tinha mais chances com ele). E assim como Patty, Bob também passou por

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uma grande perda de peso, causando uma maior identificação por parte da garota. Por ter uma sede de vingança insaciável, Patty se envolve em vários problemas, incluindo investigações criminais, sempre recorrendo a Bob para salvá-la. Ao longo dos episódios, há momentos em que a trama deixa transparecer que a protagonis-


ta está prestes a recuperar o juízo e se tornar uma boa pessoa, mas o momento é interrompido, colocando Patty numa situação em que ela faz algo bem pior do que foi realizado antes. A personagem, então, parece seguir um plano para manter a aparência da menina bonita que superou a depressão e emagreceu, mas sem muito êxito. Viver de aparências é algo que todos os personagens fazem. Bob é um homem extremamente afeminado e apaixonado pelo universo feminino, acreditando que isso pode ter relação com sua sexualidade quando seu “arquinimigo”, Bob Barnard (Christopher Gorham), admite ser apaixonado por ele há mais de dez anos. Para a sociedade, Barnard é homem perfeito: rico, bonito, advogado e casado com uma médica, pai de uma filha brilhante – mas ninguém desconfia de sua homosexualidade. Insatiable traz tantos temas para serem abordados sem aprofundar ou

discuti-los de fato. Na verdade, a série reafirma estereótipos como o de bissexuais serem apenas pessoas indecisas (quando Bobs fazem comentários como "bissexuais são como demônios ou aliens: não existem" ou "bi é apenas uma parada do trem para Gayville") ou então da adolescente que é obcecada pela melhor amiga e na verdade se descobre lésbica. Depois de doze exaustivos episódios a conclusão é de que a série joga um monte de informações que o público alvo não está preparado para digerir. Os problemas sociais ali retratados não são desconstruídos ao longo da trama e sim reforçados. Quem assinou a petição e se revoltou com a produção da Netflix só ganhou ainda mais argumentos para pedir seu cancelamento, pois em pleno 2018 a gente não aceita mais conteúdo preconceituoso se passando por comédia pastelão! //

Patty (Debby Ryan) e Bob Armstrong (Dal l as Roberts)

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A virada das mocinhas

Good Girls quebra o estereótipo da série de bandidos trazendo protagonistas fora do comum por

ana luisa santos

M

ulheres no poder, bandidos “do bem”, crush no vilão, muitas risadas e, claro, emoções a flor da pele. É isso que você vai encontrar em Good Girls. A série, criada por Jenna Bans e produzida junto à emissora norte americana NBC, com distribuição no Brasil pela Netflix, narra a história de três mulheres que estão passando por dificuldades financeiras, decidindo assaltar um supermercado onde uma delas trabalha. O roubo toma

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diagramação

Maria Nagib

proporções inimagináveis e, cada vez mais imersas nessa realidade, as três se veem metidas com criminosos de verdade. O trio de protagonistas é formado por Beth Boland (Christina Hendricks), uma dona de casa com quatro filhos e que acaba de descobrir a que o marido é infiel, além de ter perdido todo o dinheiro da família. Já Annie Marks (Mae Whitman) briga na justiça com o ex pela guarda da filha Sadie (Izzy Stannard), que não se identifica com seu gênero, e por isso passa por uma série de problemas na escola. Ruby Hill (Retta) é uma garçonete,


casada com um policial e tem dois filhos. Sua filha sofre de uma grave doença, que limita sua vida e cujo tratamento é muito caro para o padrão de vida deles. O diferencial da série não é a trama, uma vez que produções com narrativas parecidas são comuns. O que diferencia Good Girls das outras produções é o protagonismo feminino. A mulher, antes vista como vítima, passa a ser o centro da história, a mandante do crime, tudo de forma muito real, apresentando os problemas que mulheres de verdade enfrentam. É este fator que traz um ar revolucionário a uma narrativa convencional e a torna tão inquietante. Aqui, a comédia das ações desajeitadas das mulheres e nova vida no crime se mesclam deliciosamente com os dramas individuais vividos por cada uma delas, deixando a história muito envolvente. A rotina das mulheres, seus dilemas e as questões pessoais, como o casamento, a maternidade, dentre outras questões, faz com que o público se identifique. A relação entre Annie e Sadie é muito bem trabalhada e trata com leveza a questão da transexualidade, mostrando que o assunto não deve e nem precisa ser tratado como tabu. Em um tempo de tantos debates e reflexões acerca da sociedade, a série trouxe essas conversas de forma leve e divertida,

tratando de diversas questões, por meio das situações enfrentadas pelas personagens. De forma geral, fala muito sobre o papel da mulher e até brinca com isso, fazendo uma inversão com as mulheres, antes consideradas o sexo frágil, agora assumindo o poder. Good Girls traz críticas ácidas à desigualdade racial e o papel do negro na sociedade. Além de tratar também sobre machismo, estupro e relacionamentos abusivos. O roteiro é perfeitamente encaixado e prende a atenção do espectador ao longo dos dez episódios, com personagens dinâmicos, intrigantes e muito bem trabalhados e um trio de protagonistas com uma atuação impecável. A trilha sonora dialoga com as cenas de forma muito harmônica, sendo um fator a mais no envolvimento daquele que assiste. Outro destaque são as cenas protagonizadas por Beth e o chefe da gangue, Rio (Manny Montana), sempre com uma tensão no ar e repletas de flertes. É praticamente impossível não shippar o casal. Com um final de temporada surpreendente, a série traz grandes questões que nos fazem pensar sobre o que pode vir na sequência. A segunda temporada já está confirmada e não tem previsão de lançamento, mas a notícia deixou os fãs mais tranquilos, embora muito ansiosos para saber que rumo a história dessas mulheres vai tomar. //

r uby, Ann i e e bet h, res p ec ti va m e n te .

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por

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bruna curi

diagramação

maria nagib


A

primeira vez que o vampiro Niklaus “Klaus” Mikaelson (Joseph Morgan) apareceu em The Vampire Diaries (20092017) foi no episódio Klaus, o S02E19, em 2011. A recepção do vilão pelo público foi tão boa que não demorou muito para que outros membros da família Mikaelson — Elijah (Daniel Gillies), Rebekah (Claire Holt), Kol (Nathaniel Buzolic) e Finn (Caspar Zafer) — se integrassem à trama. O sucesso da família de vampiros originais foi grande o suficiente para eles ganhares

Depois de muitas mortes e conflitos envolvendo seres sobrenaturais, The Originals chegando ao fim em sua quinta temporada, que estreou em abril deste ano. Para dar seu esperado ponto final, a produção dá um pulo no tempo de sete anos, após o bruxo Vincent Griffith (Yusuf Gatewood) conseguir salvar Hope Mikaelson (Summer Fontana) da Hallow, uma antiga e poderosa entidade (final da quarta temporada). Contudo, para ajudar a jovem Mikaelson, o bruxo teve de dividir o espírito da vilã no corpo dos vampiros originais: Klaus,

o próprio spin-off. The Originals, também produzida pela The CW, foi ao ar pela primeira vez em outubro de 2013, mostrando uma Nova Orleans construída com a ajuda de Klaus e seus irmãos. Mostrando o dia a dia da família de vampiros mais velha, poderosa e temida do mundo, a série explora de tensões entre vampiros, bruxas e lobisomens, obrigando o protagonista a enfrentar uma guerra de poder contra o vampiro Marcel Gerard (Charles Michael Davis) ao mesmo tempo que protege a lobisomem Hayley Marshall (Phoebe Tonkin), grávida de um filho seu.


Rebekah, Elijah e Kol. Dessa forma, os irmãos precisam se separar para evitar um possível retorno de Hollow. O primeiro episódio da quinta temporada, Where You Left Your Heart, mostra as consequências que essa separação causa para os irmãos Mikaelson e as pessoas próximas a eles. Klaus voltou a se tornar um assassino frio, que não se importa em causar morte e destruição por onde passa. Apesar de ter conseguido a liberdade com qual sempre sonhou, ao lado de Marcel, Rebekah não consegue se sentir totalmente feliz devido à ausência de sua família. O mesmo acontece com Freya Mikaelson (Riley Voelkel), que está decidida a encontrar um feitiço que quebre a maldição, sendo capaz de colocar a sua vida amorosa de lado, para garantir que sua família volte a ficar unida novamente. O único que parece estar feliz com toda essa situação é Elijah, uma vez que teve suas memórias apagadas. Além de Kol, que aparenta desfrutar de sua vida de casado ao lado de Davina (Danielle Campbell). Enquanto isso, uma onda de paz e prosperidade é sentida em Nova Orle-

ans. Vampiros, bruxas e lobisomens estão convivendo em harmonia, graças à parceria estabelecida por Josh Rosza (Steven Krueger), Freya, Hayley e Vincent. Já em Mystic Falls, Hope (Danielle Rose Russell) enfrenta alguns problemas de conduta na The Salvatore School for the Young and Gifted, uma escola para pessoas sobrenaturais. Os acontecimentos são apresentados de maneira linear e preparam o terreno para o reencontro da família Mikaelson, em Nova Orleans. O episódio ainda figura um momento aguardado pelos fãs: o reencontro entre Klaus e a vampira Caroline Forbes (Candice King). Como era de se esperar, o drama é muito presente na quinta temporada de The Originals, uma vez que as coisas nunca foram simples ou fáceis para os membros da família Mikaelson. A última temporada serve para acompanhar o crescimento de Hope na relação dela com sua família, principalmente com o seu pai Klaus, abalada pelos acontecimentos da quarta temporada, além de mostrar a luta contra a entidade maligna que assolava os originais. E como o produtor


e roteirista Julie Plec já havia avisado, o último ano do programa também é marcado por mortes de personagens importantes. Em contrapartida, as ameaças que Klaus e sua família precisaram enfrentar acabam deixando muito a desejar, com inimigos superficiais e não tão perigosos quanto são vendidos para ser. Afinal, em tese, é praticamente impossível derrotar os originais, que são os vampiros mais velhos e fortes do mundo. A última temporada de The Originals deixa claro seus sinais de despedida desde o começo, com alguns ciclos sendo encerrados ao longo dos episódios. É um jornada e tanto acompanhar a família Mikaelson por tantos anos, ver seus erros, acertos e seu amadurecimento. Mesmo com o fim, Klaus, Elijah,

Rebekah, Kol, Freya, Hayley, Marcel e Vincent vão ficar para sempre em nossos corações, enquanto Hope dá continuidade ao poderoso legado. SPIN-OFF DO SPIN-OFF Recentemente, a The CW divulgou a produção de um spin-off de The Originals chamado Legacies, focado em Hope Mikaelson. Com Julie Plec e Brett Matthews no comando, a série vai acompanhar a vida da nova geração de seres sobrenaturais,

que estudam na instituição The Salvatore School for the Young and Gifted, uma escola fundada por Alaric Satlzman (Matt Davis) e Caroline. Além de Hope, foram divulgadas informações sobre outros personagens que vão fazer parte da trama, como as gêmeas Lizzie e Josie Saltzman. A primeira temporada de Legacies estreia dia 25 de outubro, nos Estados Unidos. //

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THE THE

100

e a constante luta pela sobrevivência por

Vitoria Pereira

The 100 é a história baseada no livro de mesmo nome publicado por Kass Morgan, retratando um mundo futurístico em que os personagens sempre precisam lutar pelo seu povo e para sobreviverem diante de um cenário apocalíptico. A série, lançada em 2014 pela emissora norte-americana The CW, e exibida no Brasil pelo Warner Channel, mostra uma a Terra inabitável, resultado de uma guerra nuclear que devastou o planeta. Os únicos sobreviventes vivem na Arca, 36 |

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diagramação

Thales assis

uma espécie de estação especial orbitando o planeta. Neste lugar, foram criados meios de sustentar a raça humana, entretanto, os recursos começaram a ficar cada vez mais escassos e para isso, Jaha (Isaiah Washington), comandante da Arca, envia para Terra 100 prisioneiros, em busca de saber se o lugar podia ser habitável novamente. Ao longo das temporadas, vemos os enviados tendo que lidar com as diferenças e os mistérios que acercam esse

novo mundo, principalmente ao descobrirem que não estão sozinhos. No decorrer da primeira temporada, temos o conflito entre os terrafirme (nativos da Terra) e os prisioneiros, até que no final da trama, Clarke (Eliza Taylor) se depara com o que irá enfrentar na próxima temporada: Mount Weather, um local que abriga outros sobreviventes. Eventualmente, os personagens descobrem que o local é um centro de testes, com a finalidade de encontrar um


modo dos Mount Weather saírem sem morrerem por radiação. O grande problema é que a tal “cura” é feita da mistura do sangue dos terra-firme e dos 100. A terceira temporada, lançada em 2016, foca na questão da tecnologia avançada e a implantação de A.L.I.E., uma inteligência artificial que foi responsável pela destruição da Terra no passado. Assim, a AI passa a dominar os personagens, enviando-os de forma ilusória para um lugar conhecido como Cidade da Luz, onde tudo é perfeito e calmo. No final, o planeta acaba sendo bombardeado por radiação, foco este que dá caminho para a quarta temporada. Aqui, os personagens entram numa corrida contra o

tempo para salvar todos diante da radiação, que logo consumirá todo o planeta. No decorrer da história, eles encontram um bunker em que clãs passam a dividir, enquanto outros voltam para o espaço. Na quinta temporada, que teve o seu season finale no dia 7 de agosto, ocorre o reencontro dos personagens que haviam se separado por anos como resultado da radiação. Nesse cenário, uma tripulação de mineradores vem para o planeta em busca de recursos, emergindo uma nova guerra, que eventualmente causa, novamente, a destruição da Terra. Ao final, os sobreviventes entram num sono criogênico, acordando 125 anos depois para habitar um novo planeta. EVOLUÇÃO Para os que acompanham a série, é perceptível ver a evolução dos personagens desde o primeiro episódio. Clarke Griffin sempre foi a pessoa responsável por carregar nas costas o peso de tomar as decisões difíceis, principalmente por ser considerada a grande heroína da série. Nesse novo ano, vemos Clarke criar uma grande afetividade com Madi (Lola Flanery), a nova comandante, por quem quase deixou que seu espírito de salvadora fosse exilado. Madi mostra, no entanto, a quem Clarke deve realmente lutar: seu povo. Bellamy Blake (Bob Morley), que no começo era apenas um vilão egoísta que só se preocupava em proteger a irmã, Octavia (Marie Avgeropoulos), passou por uma mudança de arquétipo, logo assumindo um papel de herói na trama, amadurecendo e permanecendo um grande líder. Mas mesmo com as mudanças, Bellamy não


Na i m agem , B e l la m y e Cl ar k e, r e s p e ct i va m en t e

abdicou de seu amor por sua irmã, sempre determinada a protegê-la – como ele mesmo diz: “minha irmã, minha responsabilidade”. Octavia Blake é uma das personagens que mais mudou

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significativamente. No começo da série, ela é uma personagem bastante animada, um tanto rebelde e inconsequente, com seus erros sempre sendo protegidos pelo seu irmão. Octavia, no entanto, sofre perdas ao longo da série, criando uma fortaleza dentro de si, tornando-a assim uma personagem forte, posta como uma líder guerreira que transpassa

medo e bravura. Nessa temporada, O conhece sua fraqueza: perder a batalha. Diante disso, ela reflete e entende que precisa deixar que Madi assumisse o posto de nova comandante. Indo em uma linha um pouco mais contrária, está Monthy Green (Christopher Larkin), um personagem cujas mudanças não mudaram tanto a essência de sua personalidade. Green sempre está em busca de ajudar os amigos, e, no final da temporada, ele conseguiu eternizar essa


E m d e staq u e, n o ce nt r o, O c tav i A

qualidade ao dar aos outros uma chance de sobreviver em um novo mundo. Assim como ele, temos Raven Reyes (Lindsey Morgan), cuja maior mudança foi o seu amadurecimento, mantendo seu espírito prestativo de ajudar os amigos. O que mais diferencia na sua história é que, finalmente, Raven encontra um par romântico. É ao longo de todas as temporadas anteriores que John Murphy (Richard Harmon) foi construído como o vilão que despreza a todos e só pensa em se manter vivo. Sua grande redenção vem junto a quinta temporada, quando Murphy se dispõe a se sacrificar pelos amigos, para que, de alguma forma, ele pudesse também reconquistar o amor de sua amada Emori (Luisa d’Oliveira). A temporada, peca, no entanto, ao cair em uma fórmula circular de acontecimento. Novamente, pela terceira

O L I VRO QU E DÁ ORI G EM A S ÉRI E

vez, os personagens se deparam com o fim do mundo como eles conhecem, precisando encarar essa nova aventura que dá a impressão de um retorno à primeira temporada. A sexta temporada já foi oficializada pela The CW. //


Os altos e baixos de Deus Salve o Rei por

A

ntes de ir ao ar, a novela Deus Salve o Rei, criada por Daniel Adjafre e dirigida por Fabrício Mamberti, passou por alguns obstáculos. O primeiro deles foi com o ator Renato 40 |

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Bruna curi

diagramação

Góes, que iria dar a vida ao príncipe Afonso, mas precisou ser substituído por Rômulo Estrela, que já estava escalado para a novela. Ainda, no dia 9 de novembro de 2017, um galpão localizado nos Estúdios Globo, utilizado para a produção da telenovela, pegou fogo e as gravações precisaram

maria nagib

ser interrompidas. Um mês depois, no dia 3 de dezembro de 2017, Estrela teve de ir ao hospital, após se ferir com uma espada cenográfica. Muito se especulava sobre Deus Salve o Rei, principalmente se a novela seria capaz de entregar o que estava prometendo. Quando


as primeiras imagens foram divulgadas, os internautas logo começaram a comparar a telenovelada Globo com a famosa série Game of Thrones (2011), exibida pelo HBO: o príncipe Afonso com Jon Snow (Kit Harington), e a princesa Catarina (Bruna Marquezine) com Cersei (Lena Headey). Originalmente, o plano era enviar parte do elenco para gravar a introdução da novela na Europa, mas devido ao alto custo, apenas a equipe de gravação e efeitos especiais foi mandada para fora do país. Com gravações da Espanha, Escócia e Islândia, o objetivo de captar cenas aéreas de castelos, bosques, montanhas e vilarejos preservados, para ajudar a simular a ideia de um cenário que se passasse no continente europeu. A combinação dessas imagens com os efeitos especiais criaram belíssimos cenários, superando as expectativas. Deus Salve o Rei foi ao ar pela primeira vez no dia 9 de janeiro deste ano. A trama

gira em torno dos fictícios reinos de Montemor e Artena, os mais poderosos da Calía. Há anos os dois locais selaram um acordo de paz: como Artena possuiu água em abundância, cederia um pouco desse recurso para Montemor, que por sua vez proveria o aço. O acordo de paz também era beneficiado pelos seus monarcas bons e justos: a rainha Crisélia de Monferrato (Rosamaria Murtinho), de Montemor, e Augusto de Lurton (Marco Nanini), o rei de Artena. Contudo, a paz é ameaçada devido a alguns acontecimentos. Tudo começa quando o príncipe Afonso parte em uma jornada para tentar encontrar uma fonte de água para abastecer Montemor, mas no meio do caminho sofre uma emboscada e só não morre porque é socorrido por Amália (Marina Ruy Barbosa) e seu irmão, Thiago (Vinícius Redd). Plebeus e moradores de Artena, eles passam a cuidar de Afonso sem desconfiar que ele é o príncipe herdeiro do reino vizinho.

Na imag em, o p rí nc i p e Af o n so, a ple b e i a A m á l i a e a pr in ce sa C ata r ina

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Na imag em , Rodol f o e C ata r i n a se b e ij a m d u r a n te a ce r im ô nia d e c a s a me nto

Enquanto isso, em Montemor, todos acreditam que Afonso está morto, agravando o estado de saúde da rainha Crisélia, que acaba falecendo. Desse modo, Rodolfo (Johnny Massaro), o irmão mais novo do príncipe, se vê obrigado a assumir o trono – mas tornar-se rei nunca foi o seu sonho. O jovem monarca já tinha aceitado que aquele era o destino de seu irmão mais velho, que tinha se preparado durante anos para a função, enquanto ele preferia aproveitar os prazeres da vida e viver sem grandes responsabilidades. Uma onda de esperança surge para Rodolfo quando descobrem que Afonso estava vivo esse tempo todo. Porém, 42 |

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pouco tempo depois de voltar para Montemor, o príncipe herdeiro decide abdicar do trono para viver o seu grande amor ao lado de Amália, a feirante que o resgatou e por quem ele acabou se apaixonando. Já em Artena, o rei Augusto tenta arrumar um casamento arranjado para sua filha, a princesa Catarina (Bruna Marquezine), na esperança de que isso ajude a melhorar o comportamento dela. Porém, os planos da princesa são muito mais ambiciosos do que os de seu pai e assim ela se une ao Duque de Vicenza, Constantino (José Fidalgo), para se livrar de seu noivo. Inicialmente, o plano de Catarina é fortale-

cer o exército de seu reino, mas sua ambição é tamanha que seus desejos se tornam maiores e para conseguir o que quer, ela não vê nenhum problema em contribuir para que uma guerra se inicie entre os dois reinos. REVIRAVOLTAS Construir uma trama tão complexa e cheia de detalhes como a de Deus Salve o Rei pode ser um verdadeiro desafio, e os índices de audiência, que variaram bastante, comprovaram a dificuldade da novela em encontrar seu caminho. Para conseguir uma maior repercussão, foi necessária a ajuda do autor Ricardo Linhares, que entrou para o time de direção


da telenovela e contribuiu para alguns ajustes no enredo. Uma das principais mudanças é a atuação de Bruna Marquezine. Inicialmente, a atriz foi muito criticada por sua interpretação, com internautas comparando-a com um robô. Eventualmente, a situação mudou e a atuação de Bruna garantiu que a vilã Catarina se tornasse uma das personagens mais amadas e queridas pelo público, até o final da telenovela. Enquanto isso, a mocinha da trama, interpretada por Marina Ruy Barbosa, foi apelidada de “Sopália” pelos internautas, em uma referência ao trabalho de vendedora de sopa que a personagem exercia no início.

Ao longo de seus episódios, o elenco da novela global também sofreu com algumas mudanças. Alguns personagens, como Cássio (Caio Blat) e Saulo (João Vithor Oliveira), foram eliminados da trama, resultado de sua baixa popularidade e pouco espaço. Em contra partida, novos atores como Mel Maia, Alexandre Borges e Danton Mello entraram no núcleo da novela, ajudando a construir novas tramas e intrigas. Um dos pontos fortes da novela foi seu arco cômico, que contou com atores experientes como Johnny Massaro e Tatá Werneck (que interpretava a personagem Lucrécia, a princesa de Alcaluz). Os dois formaram uma dupla bastante divertida e dinâmica, arrancando muitos risos do público. Além de mostrar que é ótimo

na comédia, Johnny também se destacou ao interpretar Rodolfo como um rei extremamente tirânico e que não se importava com o povo. Apesar de algumas baixas ao longo de sua trajetória, Deus Salve o Rei chegou ao seu fim no dia 30 de julho de forma satisfatória, registrando recordes de audiência durante a reta final. A novela foi um marco por apresentar uma trama diferente do que estávamos acostumados, repleta de muita experimentação (um dos grandes destaques foram os efeitos especiais utilizados pela produção) e muita fantasia. De uma maneira ou de outra, Deus Salve o Rei irá permanecer na memória das pessoas por bastante tempo. //

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De volta aos anos 70 por

V

vitória silva

ocê já imaginou como era o mundo nos anos 70? As roupas, os estilos musicais, os programas de TV, as festas.... Mas, e se você não precisasse só imaginar, e sim ver como realmente as pessoas viviam naquela época? A série That '70s Show te mostra tudo isso e um pouco mais. Lançada há 20 anos, pela emissora FOX, a sitcom contou com alguns nomes conhecidos até os dias de hoje, como Mila Kunis (no corpo de Jackie Burkhart), Ashton Kutcher (Michael Kelso), Laura Prepon (Donna Pinciotti), Wilmer Walderrama (Fez), Topher Grace (Eric Forman) e Danny Masterson (Steven Hyde). Juntos, eles são seis jovens que se reuniam todos os dias no porão da casa dos Forman, fosse para jogar conversa fora ou para planejar como roubar cerveja da festa dos adultos.

diagramação

vics

Ambientada na cidade fictícia de Point Place, no estado de Wisconsin (EUA), a série retrata muito bem a estética dos anos 70. As semelhanças vão desde o estilo das personagens até diversas outras referências da época, como o rock ‘n roll, as discotecas, o Woodstock e até o cenário político dos Estados Unidos, governado por Richard Nixon naquele período. Ainda, sem perder o tom cômico através de tiradas inteligentes, alguns episódios conseguiam, de forma muito subjetiva, levantar temáticas de extrema relevância até os dias atuais. Como exemplo temos a personagem Donna Pinciotti, uma garota forte e disposta a contestar todos os padrões que impunham as mulheres como submissas e frágeis, se contrapondo completamente à sua amiga, Jackie Burkhart. E também o personagem Fez, estudante de intercâmbio que,

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mesmo sem a sua nacionalidade revelada, representava o estereótipo completo de um imigrante latino e, muitas vezes, se viu diante de piadas e comentários xenófobos. Do outro lado do núcleo adolescente se passava a trama dos adultos, centrada no cotidiano dos pais de Eric: Red Forman, interpretado por Kurtwood Smith, e Kitty Forman, interpretada por Debra Jo Rupp. Um pai veterano de guerra, extremamente conservador e rabugento, e uma mãe tipicamente norte-americana e um tanto ingênua, contrastavam diante de Eric e seu grupo de amigos. Dessa forma, a maioria dos episódios se pautavam em um conflito de gerações, permitindo que tanto o público juvenil quanto o adulto pudessem se identificar. Seguindo a linha da maioria das sitcoms, That '70s Show também deixou sua marca registrada. E não foi por suas transições de cena extremamente psicodélicas ou por sua abertura com a música Out In The Street, na versão da banda Cheap Trick, mas sim pelo que ficou conhecido como High Circle. Os produtores da série 46 |

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O núc l e o a d o l e s c e nte e a d ulto d e That '7 0 s S ho w, da e s q ue r da pr a d ir e ita , da l inha d e fr e nte pa r a o fund o : Mic ha e l , Kitty, R e d, S te ve n, J ac kie , E r ic, Fe z, D o nna e B o b

queriam tratar sobre a questão do uso de drogas de forma que não sofressem censura, então criaram uma situação em que as personagens se reuniam em um círculo, com fumaça ao fundo, e criavam um diálogo totalmente desconexo, dando a entender que estavam sob o efeito da maconha, mas sem mostrar nenhuma substância ilícita. A cena se tornou uma tradição nos episódios, levando até mesmo uma recriação por Ashton Kutcher e Danny Masterson em um vídeo de divulgação da série The Ranch, estrelada por ambos. Mesmo com o seu auge e uma legião de fãs, o seriado não conseguiu se tornar tão memorável até os dias atuais, como aconteceu com Friends e How I Met Your Mother, sendo vítima de um final extremamente fracassado. Quando o programa estava concluindo a sua sétima temporada, a produção se deparou diante de um impasse: a saída do ator Topher Grace, responsável por interpretar o personagem principal. O enredo conseguiu contornar a situação,


mas o mesmo não se deu com o rumo da série, que ainda ganhou mais uma temporada. Apesar da tentativa de substituir o vazio deixado com novos personagens, a trama foi se desgastando aos poucos, tendo também a saída do ator Ashton Kutcher. Com isso, os conflitos tratados na oitava temporada não se sustentaram, além de muitos personagens perderem a essência ao tomarem atitudes que contradiziam completamente com as temporadas anteriores. Com todos esses problemas reunidos, o programa finalizou sua trajetória de forma um tanto decepcionante para a maioria dos fãs, tendo como único ponto positivo o grupo todo reunido novamente no último episódio para

comemorar a virada dos anos 70. Mesmo com seu trágico fim, a série criada por Mark Brazill, Bonnie Turner e Terry Turner conseguiu inovar no mundo das sitcoms, em função de todos os fatores já citados. 70s também foi uma das primeiras a retratar um grupo de adolescentes com personalidades bem diversas e que realmente agiam como adolescentes, tendo seus dilemas internos e cometendo atitudes pouco pensadas e que, na maioria das vezes, não acabaram bem, mas nos renderam boas risadas. Mesmo sem ter o final digno que merecia, That '70s Show tem o potencial de ser algo muito maior nos dias atuais, e não mais um seriado esquecido no catálogo da Netflix. //

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filmes

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LÁ VAMOS NÓS DE NOVO! por

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carolina cassese

diagramação

vics


Dez anos atrás

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a adaptação cinematográfica da peça Mamma Mia (2008) entrava em cartaz. Contando com atuações de Meryl Streep, Amanda Seyfried, Colin Firth, Pierce Brosnan, Stellan Skarsgård, Dominic

Cooper, Julie Walters e Christine Baranski, o musical gerou ampla repercussão, sendo bem sucedido comercialmente e com uma resposta divida da crítica especializada. Com uma boa reposta na zint.online | 51


bilheteria e com o público cada vez mais apaixonado com o filme, uma sequência foi anunciada em maio de 2017. Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo estreou no início de agosto nos cinemas brasileiros, com o retorno de todo o elenco e, de brinde, a participação da atriz e cantora Cher, longe das telonas desde 2010, quando estrelou Burlesque. Se no primeiro filme o espectador acompanha os preparativos para o casamento de Sophie (Seyfried), na continuação o evento da vez, também organizado pela jovem, é a reinauguração do hotel de Donna, nome dado em

Na direita, Lily James como a jovem Donna. Abaixo, Sophie (no centro), realiza o seu sonho de ser uma Dínamo e une-se à Tanya (esquerda) e Rosie (direita) para cantar I’ve Been Waiting For You

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homenagem a mãe (Streep). Também, assim como o primeiro, é claro, as canções do grupo ABBA voltam a dar continuidade narrativa à trama. Com diversas novas músicas do repertório da banda sueca (algumas famosas e outras mais desconhecidas), Lá Vamos Nós De Novo escolhe reinterpretar algumas já presente no primeiro filme, coisa que desagradou parte da crítica – mas, convenhamos, é difícil se cansar de Dancing

Queen ou Mamma Mia, não é mesmo? No Reino Unido, antes da estreia do longa, a trilha sonora já liderava as listas de vendas. No segundo Mamma Mia, conhecemos mais sobre o passado de Donna. A versão jovem da

No filme, Cher (esquerda), que no longa canta Fernando, interpreta Ruby Sheridan, a avó distante de Sophie. Abaixo, da esquerda pra direita: Harry, Bill e Sam

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Da esquerda para a direita, os personagens do segundo MAMMA MIA: RUBY (Cher), SKY (Dominic Cooper), TANYA (Christine Baranski), ROSIE (Julie Walters), HARRY (Colin Firth), BILL (Stellan Skarsgård), SAM (Pierce Brosnan), DONNA (Meryl Streep), SOPHIE (Amanda Seyfried), DONNA (Lily James), SAM (Jeremy Irvine), BILL (Josh Dylan), HARRY (Hugh Skinner), TANYA (Jessica Keenan Wynn), ROSIE (Alexa Davies) e SR. CIENFUEGOS (Andy Garcia)



Sophie e Donna cantam, juntas, My Love, My Life, que conta também com vocais (e flashbacks) da jovem Donna grávida

personagem é interpretada por Lily James, que protagonizou Cinderela (2015) e participou da série Downton Abbey. Sua atuação é mais do que satisfatória, capturando todo o espírito de Donna e entregando tudo aquilo que o público esperava de sua versão jovem-adulta: independente e sonhadora. Com tantos positivos e uma voz tão angelical quanto, é difícil não mergulhar na história do passado da personagem e se divertir e emocional com sua trajetória, a “polêmica” dos três pais de Sophie e o processo de decidir em tornar a pequena ilha de Kalokairi, na Grécia, seu lar permanente. A atriz, que também estrela o longa A Sociedade Literária e a Torta

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A trilha sonora de Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo ficou em #1 nas paradas musicais de nove países, incluindo o Reino Unido (no chart geral e de trilha sonora) e nos EUA (no de trilhas). Além deles, o álbum ficou em #3 na Billboard 200, figurando no Top 10 de outros 14 países


de Casca de Batata (2018), disponível na Netflix, afirmou ter chorado ao conhecer Meryl Streep e ser uma grande fã de Mamma Mia (musical e filme). “Sou tão fã do musical, vi tantas vezes quando eu era mais nova... e amei o filme também. Acho que capturou o espírito da peça, o que é muito difícil de se fazer — manter a essência e a atmosfera”, disse em entrevista. No longa, não só Donna ganha uma contraparte jovem. Explorando do passado da protagonista, quando ela decide viajar o mundo para poder se encontrar, Lá Vamos Nós de Novo também agracia o seu público com os outros 2/3 das Dínamos e, claro, os

No primeiro filme, Sky e Sophie estão desesperadamente apaixonados, prestes a se casar, dando voz à Lay All Your Love On Me. Na sequência, no entanto, eles passam por alguns problemas, devido a distância física, cantando One of Us

pais de Sophie no início da vida adulta, fazendo um casting absurdamente certeiro, com contrapartes idênticas às suas "versões originais". Rosie, originalmente interpretada por Walters, fica sob responsabilidade de Alexa Davies, enquanto Jessica Keenan Wynn é a jovem Tanya (Baranski). No lado masculino, Harry (Firth) fica a cargo de Hugh Skinner, Josh Dylan é Bill (Skarsgård) e Jeremy Irvine é Sam (Brosnan). Quando comparado ao seu antecessor, o filme pode não apresentar grandes novidades, mas conta com um roteiro melhor trabalhado. Com exceção da crise entre Sophie e Sky (Cooper), que é mal desenvolvida e solucionada de forma muito simplista, o longa apresenta bons arcos. A presença da icônica Cher, como a distante avó, é sem dúvidas um acerto, mas,

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por conta do pouco tempo de tela, fica a sensação de que a cantora é apenas uma participação especial para satisfazer os fãs. Ao assistir Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo, o espectador pode se preparar para se apaixonar ainda mais pelos personagens e se encantar com as paisagens estonteantes (dessa vez, o longa foi filmado em Vis, uma ilha da Croácia), em meio a músicas

De origem sueca, o ABBA fez um tremendo sucesso ao longo de 10 anos, lançando oito álbuns de estúdio (sete deles #1 na Suécia), sete compilações e 73 singles. Desde 2010 no Hall da Fama do Rock & Roll, os integrantes do grupo, da esquerda pra direita: Björn, Anni-Frid, Agnetha e Benny. Nos dois filmes, os homens aparecem rapidamente no longa, além de serem creditados como produtores executivos

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divertidas, que se encaixam perfeitamente no roteiro e causam diversos tipos de emoção ao longo das quase 2h de filme. A apresentação de Super Trouper (música também presente no primeiro filme, quando somos apresentado à Donna e as Dínamos), na cena final, garante um fechamento incrível para o longa, que é divertido, leve e despretensioso. ABBA O grupo que criou as músicas que dão embalo à trilha sonora de Mamma Mia é integrado por Anni-Frid Lyngstad, Benny Andersson, Björn Ulvaeus e Agnetha Fältskog – o nome ABBA

NÃO CONHECE O ABBA? TALVEZ UM MIX NO YOUTUBE TE AJUDE


OUÇA A TRILHA

Com 80% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes, Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo está em cartaz nos cinemas mundiais há pouco mais de um mês, já tendo arrecadado pouco mais de 350 milhões de dólares em bilheteria, em um orçamento de US$ 75 mihões.

é justamente formado pela inicial do nome de cada membro. O quarteto sueco, que ficou em atividade entre os anos de 1972 e 1982 (retornando em 2018 com a formação original), foi um dos primeiros grupos de pop europeu a estourar mundialmente. Em 1983, a produtora britânica Judy Craymer teve a ideia de adaptar as canções do grupo para um musical, no teatro. A música The Winner Takes it All foi a responsável por servir de base para um fio narrativo. O espetáculo Mamma Mia, escrito por Catherine Johnson e dirigido por Phyllida Lloyd, estreou em Londres no ano de 1999. O filme surgiu, portanto, como uma adaptação ao cinema da peça musical homônima, trazendo os mesmos personagens do espetáculo teatral. //

Apple Music Deezer

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Tidal

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A LITERATURA COMO REFÚGIO por

rRUNA CURI

O

filme A Sociedade Literária e a Torta de Cascas de Batatas chegou ao catálogo da Netflix no dia 10 de agosto deste ano. Produzido por Mike Newell, a película é uma adaptação do romance homônimo escrito por Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, apresentando um viés interessante e intimista de alguns amigos durante a Segunda Guerra Mundial. No início da trama, conhecemos a 60 |

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Thales assis

escritora de sucesso Juliet Ashton (Lily James), que apesar de estar no auge de sua carreira, sendo convidada para escrever um artigo sobre literatura para o The Times britânico e noiva do diplomata Mark Reynolds (Glen Powell), não se sente totalmente feliz. É como se ela não tivesse se curado de suas feridas internas que foram causadas durante o conflito da Segunda Guerra; “Já sentiu que saía de um túnel escuro para um parque de diversões?”, ela questiona. Porém, após receber uma carta de


Dawsey Adams (Michiel Huisman), um homem que tinha encontrado um livro que outrora pertencera a ela, uma chama de esperança parece surgir no coração de Juliet. Ela e Dawsey passam a se comunicar através de cartas, falando sobre livros e sobre a história do surgimento do clube de leitura A Sociedade Literária e a Torta de Cascas de Batatas. A história narrada por Dawsey deixa Juliet tão intrigada que ela decide viajar até Guernsey para conhecer um pouco mais a respeito dos membros deste curioso clube de leitura.

A sociedade literária iniciou-se pouco tempo depois da ocupação dos alemães em Guernsey, durante a Guerra. Com os nazistas na ilha, a qualidade de vida dos moradores da região piorou bastante: eles tinham que obedecer aos toques de recolher e todos foram obrigados a plantar e consumir batatas como forma de alimento. Diante desse cenário, Amelia Maugery (Penelope Wilton), Dawsey Adams, Elizabeth McKenna (Jessica Brown Findlay), Eben Ramsey (Tom Courtenay) e Isola Pribby (Katherine Parkinson) resolvem se reunir para fazer um jantar clandestino, com direito a um delicioso porco assado (criado para o abate as escondidas) e uma torta feita apenas com batatas. O jantar é um verdadeiro sucesso, pelo conglomerado de diversos problemas que eles passavam na época: a constante falta de alimento e nutrientes necessárias para enfrentar o rigoroso inverno do loca e a constante falta de companhia, resultado do rigoroso toque de recolher. Mas, ao retornar para casa na calada da noite, eles dão de cara com com as autoridades alemãs, precisando inventar a história de

reunião do clube do livro do grupo, no qual nomeiam, de forma improvisada, como A Sociedade Literária e a Torta de Cascas de Batatas.

Dawsey é o primeiro amigo que Juliet faz, r e s u lta d o da troca de correspondência entre os dois. Logo, a moça descobre que ele e s tá n o c e n t r o do segredo q u e e n v o lv e A Sociedade e o motivo que isso o t o r n a tã o especial


Juliet fica fascinada com a história do grupo de leitura, considerando que aquele seria o tema perfeito para o seu artigo no The Times. Mas na medida em que o tempo passando, ela não consegue deixar de se apegar aos moradores, ficando mais íntima e descobrindo uma história por trás da união do grupo: o sumiço de Elizabeth, no qual decide investigar por conta própria para poder dar aos seus novos amigos um final definitivo, seja ele feliz ou triste. Um dos pontos altos do filme é a construção do cenário pós-guerra e a fotografia, que ajudaram a passar uma maior credibilidade para a trama. Além disso, o filme mescla as cenas da época atual com alguns flashbacks da Guerra em Guernsey, que ajudam a explicar o grande mistério que envolve Amelia, Dawsey, Elizabeth, Eben e Isola. Ainda, a história abre caminho para explorar um pouco mais do passado de Juliet. Lily James já vinha chamando atenção para si mesma ao aparecer na série 62 |

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Da esquerda pra direita, Isol a, Eben, El i, Amel ia e Dawsey recebem, pel a primeira vez, Jul iet. na ocasião, após l erem o l ivro da escrita, eben of erece sua famosa torta cujo único ingrediente s ão batatas (que dá nome à sociedade)


britânica de época Downton Abbey (esta também conta com a presença da veterana Penelope Wilton), que abriu caminhos para ela estrelar filmes como Cinderella (2015), Baby Driver (2017) e, recentemente, Mamma Mia! Here We Go Again (2018), provando que a jovem atriz é uma verdade estrela em ascensão. E em A Sociedade Literária e a Torta de Cascas de Batatas o seu poder não é diferente, com a atriz

incorporando muito bem o papel de uma mulher bem sucedida, mas também cheia de inseguranças sobre sua vida pessoal e sua carreira. Para completar, Lily e Michiel Huisman constroem o romance entre Juliet e Dawsey de uma forma delicada, sendo capaz de encantar ao público com suas nuances. A Sociedade Literária e a Torta de Cascas de Batatas retrata uma visão totalmente diferente do que estamos acostumados, quando pensamos no cenário pós Segunda Guerra. Ainda que a trama aposte por uma trama mais lenta, a película não perde o peso de sua história tocante e bonita, cuja principal mensagem é reforçar a importância da literatura e em como ela pode servir de companhia para as pessoas em momentos de extrema solidão. //

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PEÇA DO CASAMENTO



Peça do Casamento por

Giulio Bonanno

Apresentado e patrocinado pelo Banco do Brasil, Peça do Casamento estreou nacionalmente em Belo Horizonte como parte das comemorações de cinco anos do Centro Cultural Banco do Brasil - Belo Horizonte (CCCBB-BH). O roteiro e a direção são assinados por Guilherme Weber, consagrado 66|

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ator e dramaturgo, enquanto Eliane Giardini e Antonio Gonzalez materializam no palco as turbulências que buscam, em vão, estancar a sangria de um relacionamento. Adaptado a partir da obra homônima de Edward Albee (“uma versão minimalista de Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”,


comenta o diretor), o ascender das cortinas já torna o espectador defronte aos reflexos da plateia enquanto revelam-se os espelhos estrategicamente posicionados. Mergulhamos numa jornada mental sobre as entranhas do matrimônio sacral e suas feridas acumuladas. Não se trata de uma crítica velada à monogamia. Sobretudo, abrimos as portas da percepção para encararmos a nós mesmos e como somos percebidos pelo público alheio. A representatividade de idiossincrasias é um tema recorrente na arte contemporânea, principalmente nas manifestações escancaradamente politizadas. A abertura para novas ideias é um grande passo para assimilar novas concepções não só no contexto da dramaturgia, como da vida nua e crua em sociedade. Nos dias de hoje, uma trama como a de Peça do Casamento serve para conciliar as fraquezas das tradições com as impurezas do desejo e da curiosidade; conflitos que reforçam a polarização e a incessante busca pela aprovação que governa nossos espíritos. Consequentemente, percebemos que não adianta: somos mais do mesmo. Eis o paradoxo da inserção social nas civilizações globalizadas. Até mesmo pelo ideal ocidental burguês de vida familiar, a monogamia é apresentada aqui como um construto falho e indigesto. “Os melhores casamentos são os arranjados”, exclama a mulher num tom enigmático misturando ironia e arrependimento. Essa fixação pela cara-metade surge como uma necessidade sobressalente, cuja urgência aparente se consolida na passagem do tempo. Envelhecer é um processo natural. Envelhecemos uns aos outros. Se pararmos para pensar, nunca estamos de fato sozinhos. Estamos sim, angustiados, e criamos uma sensação de vazio. Agredimos o livre arbítrio ao fugir da realidade e buscar o preenchimento na reciprocidade do próximo. Num tom humorístico, podemos ver na figura do casal o sacrifício da identidade em troca da representação mais efêmera e traiçoeira da felicidade. À direita surge a esposa intercalando

com risadas uma leitura prazerosa. Curte o momento. Nenhum sinal de preocupação. Podemos sentir a estabilidade pútrida e a falta de novidade imperando no recinto. À esquerda, o marido impõe-se numa postura ereta e cheia de vigor, prestes a emitir o duro comunicado: “Eu estou deixando você!”. Quando estamos acomodados no cotidiano, preocupados com temas superficiais, tendemos a esquivar de qualquer possibilidade de ruptura. Uma nota de falecimento, uma notificação de multa, uma carta de demissão... ou um término de uma relação. A negação é, instintivamente, o primeiro passo. É quando se pretende voltar e cultivar as ilusões, agora já quebradas e fracamente sustentadas pela ignorância em definhamento. Acompanhamos a discussão e descobrimos gradualmente as motivações do rompimento. Nada necessariamente concreto. O apagar da velha chama adquire uma celebração reservada em meio às representações de desejos, traições, segredos e confissões. Muita história se passou, porém nada suficiente para persistir. Uma esperança surge quando as tensões esquentam e as diferenças se explicitam. Mediante a novidade e a descoberta de novos contornos, vê-se retornada a curiosidade e a busca pelo gozo instantâneo. Chega de satisfações. Celebra-se o momento, a carne e as novas situações. O núcleo da trama consiste numa extensa revisitação ao histórico do casal. Mais precisamente, nas cômicas leituras que a esposa faz, a mando do marido, de seu “registro de trepadas”. Não há nada especial; sucessos e fracassos em doses equivalentes moldam a impressão de um casal comum, não fosse o fato de agora sabermos em primeira mão. Revelações da intimidade são um terreno fértil para a construção de fantasias. O público se estranha e se diverte, ao mesmo tempo em que se identifica. Somos guiados pelas contradições. Num momento, o confronto; em outro, a submissão. Como síntese, o cenário mais otimista seria o da aceitação. Um doloroso “Eu sei!” pode ser a mais segura das decisões; a peça que falta para estabelecer, de fato, algum comprometimento. // zint.online | 67



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música

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O MUNDO PRECISA DE MAIS

MADONNAS por

Nathália Cioffi

Se não fosse por Madonna, os conceitos de dança, ritmo e performance estariam estagnados à simplicidade. Questões como a liberdade sexual e religiosa talvez nunca se tornariam temas de grandes hits e videoclipes. A cantora reinventou o mundo da música pop com suas danças e letras carregadas de simbolismos e, com seis décadas completas de vida, ainda é referência mundial. A dança à lá Madonna é considerada um marco da ascensão da cultura pop dos anos oitenta. Carregada de simbologias, ela representa a liberdade de expressão e o grito das minorias em busca de direitos iguais. As performances pouco dignas da família tradicional norte-americana exercidas pelos dançarinos, abusavam de movimentos ousados e eróticos, simbolizando, sem o menor pudor, o ato de rebelar-se contra o conservadorismo da época.

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Sexo, religião e amor são palavras-chave presentes nas letras de Madonna. A abordagem de temas considerados taboo para a época – crítica ao fanatismo religioso e a expressão da liberdade sexual – fizeram da cantora uma das artistas mais polêmicas das décadas de 80/90. Sempre ligada aos movimentos sociais da época, exaltando a luta pelos direitos das mulheres, dos negros e principalmente da comunidade queer, Madonna também sempre se posicionou contra a questão das perseguições religiosas em torno do mundo. Na música Forbidden Love, de 2005, a cantora aborda sobre dois personagens que vivem uma paixão proibida por diferenças étnicas. O termo strike a pose (“Faça uma pose”, em tradução literal) é uma das expressões mais ilustres já ditas pela Rainha. O termo surgiu pela primeira vez na letra

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Madonna Louise Ciccone nasceu no dia 16 de agosto de 1958, em Bay City, no Michigan, Estados Unidos. Cantora, compositora, atriz, empresária, dançarina, escritora e diretora, a artista já lançou 13 álbuns de estúdio, esteve em 21 filmes e dirigiu dois, é dona de uma rede de academias e possui sete Grammy Awards e dois Golden Globe Awards. É estimado que, juntos, seu patrimônio líquido esteja em torno de US$ 590 e 800 milhões de dólares.

da música Vogue, em 1990, e indica que tudo vai ficar bem se você apenas relaxar e fizer uma pose – a palavra seria uma metáfora para levantar a cabeça e ser forte. A partir de então, a expressão foi usada como símbolo de resistência para reforçar o grito pela liberdade da comunidade LGBTQ+. A reivindicação pelo direito de existir e ocupar espaço expressou-se também nas roupas usadas na arte da Madonna. Figurinos exóticos, carregados de brilho e glamour, são vestidos pelos dançarinos não importando o gênero, reforçando a ideia dos corpos Queer, com o Gender Bending (termos que explicitam a quebra da ideia de roupas de gênero, usando peças tanto femininas quanto masculinas). Todos esses looks chamam a atenção, causando incomodo aos conservadores e reafirmando o conceito de ocupar um espaço que é seu por direito, não importando o gênero, raça e crença. Com tamanho ativismo, não é de se espantar que a cantora tenha sofrido, ao longo da carreira, com muitas críticas e comentários agressivos pelas ideias que defendia. Porém, mesmo sofrendo com a crueldade que perpetua no mundo das divas pop, Madonna não se intimida e segue reivindicando os direitos das minorias e da liberdade artística. Aos sessenta anos, ela mostra que a luta sempre continua e que o amor vencerá – e é por isso que nós precisamos de mais Madonnas. //

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UMA ODE À CRIATIVIDADE E REINVENÇÃO por

deborah almeida

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N

o dia 19 de agosto de 2008, Lady Gaga lançou seu primeiro álbum de estúdio, abrindo sua carreira da melhor forma possível. Passados 10 anos desde que The Fame chegou as paradas, fomos apresentados a Gaga por meio de hit singles como Just Dance e Poker Face. A artista trouxe um sopro de renovação a um gênero que, durante algum tempo, estava estagnado e sem muitas novidades, ganhando uma artista que quebrou expectativas, mostrou um novo jeito de fazer música e se tornou um marco para uma geração de fãs do pop. Na época de lançamento, Lady Gaga explicou que o conceito principal do álbum seria sobre qualquer um poder se sentir famoso. Nas palavras da cantora, “Cultura pop é arte. Você não é legal por odiar cultura pop, então

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eu a abracei e você a escuta por todo o The Fame. Mas é uma fama compartilhável. Eu quero convidar todos para a festa. Eu quero que as pessoas se sintam parte deste estilo de vida”. The Fame, lançado pela Interscope Records, debutou a artista no mercado musical com batidas viciantes e muita ambição. Além de músicas, a cantora trouxe histórias e não deixou nenhuma delas passar despercebidas. Das 12 faixas da versão simples, seis viraram singles: Just Dance, Poker Face, Eh, Eh (Nothing Else I Can Say), LoveGame, Paparazzi e Beautiful, Dirty, Rich. Cada uma dessas compo76|

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The Fame chegou ao topo das paradas musicais de 11 países, incluindo o Reino Unido e a Austrália. Nos EUA, o álbum alcançou o #2, vendendo, até hoje, quase 5 milhões de unidades. Mundialmente, já foram comercializados mais de 15 milhões de CDs.

sições ganhou clipes com direito a produção teatral e figurinos excêntricos – tudo seguindo o estilo único e inconfundível da cantora. O sucesso da Mother Monster (como é cha-


mada pelos fãs) foi incontestável. The Fame foi nomeado 13 vezes para importantes prêmios, vencendo 11 desses. Dentre essas vitórias, dois prêmios no Grammy Awards como Melhor Álbum Eletronic/Dance e Melhor Gravação Dance, com Poker Face. Um ano depois, a cantora lançou The Fame Monster, um extended play (EP) do álbum anterior com oito novas canções, confirmando ainda mais a capacidade de Lady Gaga para fazer músicas boas, diferentes e com alta qualidade. O EP trouxe uma nova visão sobre a fama, de maneira bem mais obscura que o álbum anterior. Com a nova tracklist, os singles foram Bad Romance, Telephone (com participação de Beyoncé), Alejandro e Dance In The Dark. A união de The Fame e The Fame Monster é tida como um yin-yang sobre a fama e seus desdobramentos. Enquanto o primeiro fala sobre ambição, dinheiro e sucesso, o segundo traz à tona todos os medos enfrentados pela artista. Essas produções opostas foram uma forma de mostrar ao mundo a dicotomia vivida pela Mother Monster, que vivenciava os altos e baixos da fama. Contudo, ainda que os sentimentos tenham variado bastante, ela conseguiu manter todo o sucesso, talento e excentricidade anterior.

Com o The Fame Monster, a estética passou a ser mais obscura e grotesca, representando o teor musical do EP. zint.online | 77


CONTINUIDADE Três anos após lançar The Fame, Lady Gaga surgiu com seu segundo álbum – possivelmente o mais marcante de toda a sua carreira. Born This Way, também gravado pela Interscope Records, veio em março de 2011. Segundo ela, o disco serviria para entender sua existência e responder diversas perguntas que foram-lhe feitas ao longo da da trajetória. O álbum veio com cinco singles: Born This Way, Judas, The Edge Of Glory, Yoü And I e Marry The Night. Todos seguiram o mesmo modelo do primeiro disco, contando com figurinos inusitados e produção teatral. Além disso, seu talento foi novamente reconhecido e rendeu diversas críticas positivas, nomeações e prêmios. Sendo a autoaceitação um dos temas principais da obra, Gaga passou a afirmar constantemente que tudo bem ser diferente das outras pessoas ou ser chamada de “aberração”. Seu discurso era tão verbal

quanto visual, pois vestia-se de maneira incomum nos eventos e chamava bastante atenção por isso. Apesar de ter recebido críticas negativas sobre alguns trajes e aparições (como o vestido feito de carne, por exemplo), isso deixou-a bastante comentada na mídia e toda ocasião era motivo para aguardar ansiosamente pelo modelito escolhido por ela.

No Born This Way (ao lado), Gaga acentua diversas partes do seu corpo (como suas maças do rosto), vendendo, visualmente, a ideia do diferente. Com ARTPOP (acima), a cantora mistura o mundo da moda editorial, com a tecnologia e uma pegada futurista, onde a Arte é Pop e o Pop é Arte 78|

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Em 2013, Gaga lançou ARTPOP, seu terceiro álbum em estúdio, descrevendo-o como “uma celebração e uma jornada musical poética”. Com referências mitológicas, a artista traz à tona tabus sociais, como sexo, papéis de gênero e drogas. Mais uma vez, ela fugiu das produções ortodoxas e colocou bastante criatividade na obra. ARTPOP é um álbum de reflexões, libertações e autodescoberta. O disco veio com três singles: Applause, Do What U Want e G.U.Y.. Ainda que não tenha feito tanto sucesso quanto os anteriores, o projeto não deixou faltar ambição, genialidade ou traços marcantes de sua personalidade. Para alguns críticos, ARTPOP foi subestimado, talvez pela complexidade dos temas tratados. Após muitos anos focando em seu visual e aparições excêntricas, Gaga decidiu mudar seu estilo. Fez um projeto de música jazz, participando de um álbum colaborativo com Tony Bennett, chamado Cheek to Cheek. Isso lhe deu a chance de provar seu talento em outros estilos musicais, saindo de sua zona de conforto. Esse disco não possui composições autorais, porém inclui novas versões de clássicos do jazz, como Anything Goes, de Cole Porter, e I Can’t Give Anything But Love,

de Jimmy McHugh e Dorothy Fields. Gaga também decidiu trocar trajes extravagantes por visuais discretos e toda a arte visual foi deixada de lado para focar em seu talento vocal. Assim, surgiu Joanne, em 2016. O nome do disco é uma homenagem à uma falecida tia e carrega bastante sentimento, seguindo por um caminho bem mais espiritual. Com seus singles Perfect Illusion, Million Reasons e Joanne, além das demais faixas, a artista coloca em jogo diversas emoções que, até então, não eram reveladas. Apesar de ser a produção mais pessoal, Lady Gaga afirma que não é para ser um álbum triste. Joanne é sobre contar sua história e tocar pessoas com ela. Seu quinto e mais recente disco mostrou uma maior variedade de estilos musicais. Além do habitual pop dance, Joanne traz bastante soft rock e composições country. É uma produção eclética, tanto de gêneros quanto de emoções. Sendo fã ou hater, o mundo ouviu muito – e ainda ouve – as canções de Lady Gaga. Sua entrada no mercado deixou o pop mais moderno, com pegadas inteligentes e um novo modo de chamar atenção e fazer arte. //

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Luz, Moonman e ação! por

Cecilia Basílio

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MTV Video Music Awards, uma das premiações mais quentes do mundo da música realizou sua 34º edição no Radio City Music Hall, Nova Iorque, EUA, dia 20 de

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Agosto. Com performances memoráveis e alguns encontros polêmicos do mundo da música, a premiação reuniu grandes celebridades em uma noite inesquecível. A noite iniciou premiando o Moonman (troféu

oferecido pelo programa) à Ariana Grande na categoria Melhor Pop, pelo single no tears left to cry. A artista teve grande destaque na premiação ao fazer a memorável performance do single God is a woman, colocando


no palco a temática religiosa com uma representação d'A Última Ceia, famoso quadro do pintor Leonardo da Vinci, onde Jesus Cristo foi representado como uma mulher negra. A diversidade foi um dos focos da performance, que contava com dançarinas de diferentes formas e cores. Grande apresentou ao público um vocal impecável e uma apresentação que, certamente, é uma das melhores já feitas na história do VMA. Descontente com a posição de seu novo álbum nas paradas, Nicki Minaj também surpreendeu o público com o medley que incluía alguns hits de seu mais recente trabalho, Queen, como a música Barbie Dreams, seu próximo single. Presença de palco, muita coreografia e um público bastante animado foram as características da marcante apresentação, que serviu realeza e luxo ao publico. O momento mais aguardado da noite foi a entrega do Michael Jackson Video Vanguard, prêmio entregue a uma personalidade da música a cada ano como uma forma de homenageá-la pela sua carreira. A escolhida da vez foi a cantora e atriz Jennifer Lopez, que no ano que

vem celebra 20 anos de carreira musical. Aos 49 anos de idade, a artista subiu no palco do VMA tanto para receber seu prêmio (entregue por Shawn Mendes), quanto para entregar uma performance carregada de brilho e muita coreografia, em um megamix reunindo diversos de seus hits, como Love Don't Cost a Thing, Waiting for Tonight, Get Right, On the Floor, e seu mais recente single Dinero. JLo, como é apelidada, ainda contou com participações de DJ Khaled e do rapper Ja Rule, velho amigo da cantora. As categorias Música do Ano e Artista do Ano tiveram como vencedor, respectivamente, Post Malone e 21 Savage, por Rockstar, e a ex-Fifth Harmony, Camila Cabello que, também levou o prêmio mais importante da noite: Vídeo do Ano, pelo single Havana. A cantora recebeu o prêmio diretamente das mãos de Madonna, que fez um discurso homenageando a carreira da Rainha do Soul Aretha Franklin, falecida no dia 16 de agosto. A cantora, que completa 60 anos, discursou sobre como Franklin influenciou em sua própria carreira, marcada por altos e baixos e muitas dificuldades durante sua trajetória

Ariana Grande performa God is a woman

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Majesty e Barbie Dreams foram as músicas escolhidas por Nicki Minaj para levar ao palco da premiação

– causando a polêmica pelo teor do seu discurso ser muito “egocêntrico”. A noite deu prosseguimento com a apresentação do rapper Travis Scott de seu recente álbum, ASTROWORLD. A apresentação ficou marcada por uma polêmica entre ele e Nicki Minaj, que nos últimos dias tem sido bastante vocal com o uso de Stormi, a filha recém nascida dele, para promover o álbum. Ainda, Minaj alega que o rapper a sabotou nas paradas musicais americanas por usar sua namorada famosa, a socialite Kylie Jenner, para conseguir sucesso.

Pelos seus quase 20 anos de carreira, Jennifer Lopez foi a grande homenageada da noite com o prêmio Michael Jackson 82|

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Indubitavelmente, é impossível deixar de citar a merecida vitória da música This is America, de Childish Gambino, nome apresentado no mundo da música pelo ator Donald Glover. A vitória veio na categoria de Melhor Vídeo Com Mensagem e contou com discurso profundo da coreógrafa do videoclipe, Sherrie Silver. A música denuncia a onda de violência constante contra negros nos EUA, sendo a maioria realizada pela polícia. Atualmente o vídeo já contabiliza quase 380 milhões de visualizações no Youtube, com uma mensagem visual bastante clara e de conteúdo forte sobre os efeitos desta violência. Certamente, ainda que as premiações como um todo venham sofrendo bastante com a queda de audiência, o

VMA continua consagrado como um colecionador de polêmicas. O programa já trouxe momentos icônicos para a música e para a mídia, como o beijo entre Madonna, Britney Spears e Christina Aguilera em 2003, ou o surto de Kanye West quando Taylor Swift ganhou a estatueta no lugar que ele acreditava ser de Beyoncé, em 2009. Ano após ano, temos uma nova história, uma nova surpresa, um novo destaque. O que podemos esperar para a próxima edição? //

VEJA TODAS AS PERFORMANCES DA NOITE DO VMA 2018

Cerca de 10 músicas entraram no super megamix de Jennifer Lopez, incluindo Jenny From the Block, Get Right e On the Floor

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OS 30 ANOS DE UMA GERAÇÃO QUE RESISTE por

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alisson millo

diagramação

vics


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undada em meio a geração de ouro do grunge de Seattle, nos anos 80 e início dos 90 (que contou com Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, entre outras), o Alice in Chains se mantém na ativa ainda hoje e lançou, em agosto, um disco de inéditas comemorando três décadas de carreira. Intitulado Rainier Fog, o álbum é o sexto de estúdio da banda, com um total de dez faixas. Sobreviver 30 anos de mudanças no cenário musical, passar por mudanças drásticas na formação, inovar e se reinventar e ainda assim manter a identidade que projetou a banda é um trabalho para poucos. Mas o grupo comandado por Jerry Cantrell consegue exatamente isso. Jerry é um dos fundadores, guitarrista e letrista desde a formação inicial, além de co-vocalista. Nos últimos três trabalhos do Alice In Chains (Rainer Fog, The Devil Put Dinosaurs Here e Black Gives Way To

Blue), Cantrell divide os microfones com William DuVall, que entrou na banda em 2006 e faz também a guitarra base. DuVall teve a ingrata missão de substituir o antigo vocalista Layne Staley, falecido em 2002. Principal voz nos álbuns clássicos da banda, Layne conviveu anos com abuso de drogas e depressão. Os demônios enfrentados por Staley são perceptíveis nas letras que ele escrevia, na maneira como ele cantava, e causaram alguns contratempos à banda, que passou um tempo inativo depois de o vocalista decidir não se apresentar mais ao vivo. A data estimada de sua morte é 5 de abril de 2002, por uma overdose de speedball (uma mistura de heroína ou morfina com cocaína ou metanfetamina), com seu corpo sendo encontrado já em estágio de decomposição. Mas, se a tarefa de William DuVall não era das mais fáceis, ele vem sendo bem-sucedido. Ele e toda a banda. A

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crítica especializada avaliou muito bem, em 2009, o Black Gives Way to Blue, que vendeu mais de um milhão de cópias, teve dois singles nomeados ao Grammy e estreou no quinto lugar da Billboard 200, enquanto o The Devil Put Dinosaurs Here, de 2013, chegou ao topo das paradas de álbuns de rock e ficou em segundo na Billboard 200. Rainer Fog não foi unanimidade para a crítica como os dois anteriores, mas se tornou sucesso absoluto entre os fãs. Para muitos é a versão 2.0 de Dirt, álbum de 1992 considerado a obra-prima da banda. Sem entrar no mérito, mas a título de review, nota 9/10. O primeiro single divulgado do trabalho é The One You Know, a primeira faixa do disco, e mostrou logo de cara o quão promissor seria o álbum.

O segundo single, So Far Under, possui um riff bem distinto e uma harmonização perfeita entre Cantrell e DuVall nos vocais, aumentando ainda mais a expectativa para o então vindouro disco. Também, antes do lançamento oficial do álbum, Never Fade chegou aos ouvidos do público. Particularmente a melhor do trabalho, a faixa traz um instrumental mais pesado e um raro solo. Nesse momento, o hype já beira o insuportável. No dia 24 de agosto, Rainier Fog chegou as lojas físicas e digitais, além das plataformas de streaming. A média deixada pelos três singles foi alta, mas as outras sete faixas mantiveram a nota – Fly, Deaf Ears Blind Eyes e Maybe, principalmente. O fato de Jerry Cantrell participar dos vocais e da composição das letras desde o

DA ES Q U ER DA PARA A DI RE I TA, A AT UAL F O R MAÇ ÃO DA B ANDA ALI CE I N CHAI NS: WILL I AM D UVA LL , S EA N K INNEY, JE RRY CANTE LL E M I KE I NE Z

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OUÇA O ÁLBUM

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Tidal

início da banda ajudam na sensação de que o Alice In Chains voltou às origens. Visto a média relativamente esporádica de lançamentos de projetos, a espera pelo próximo álbum será longa, mas o material disponível faz com que a espera não seja sofrida, apenas cercada de muita expectativa. //

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o retorno leve da grande artista que é ariana por

mike faria

diagramação

vics

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ocais em destaque, batidas suaves e harmonias agradáveis: assim é composto o Sweetener, novo álbum de Ariana Grande. Vindo de uma investida sensual e provocante com Dangerous Woman, lançado em 2016, ela parece finalmente se render as suas preferências e emoções. Apostando em um ritmo delicado, a artista traz um disco mais doce, como sugere o próprio título do projeto (Adoçante, em português), em um repertório harmônico e diferente de seus trabalhos anteriores.

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“É sobre trazer luz para uma situação ou para a vida de alguém, sobre alguém que traz luz para sua vida, ou adoça a situação” ARIANA SOBRE O ÁLBUM

A nova era, tanto em sua vida pessoal quanto em sua carreira, é marcada um pop sombrio, com detalhes instrumentais, possivelmente o resultado do atentado terrorista que sofreu em 2017, quando uma bomba explodiu durante seu show na Manchester Arena, em Manchester, Inglaterra, deixando 22 mortos e 59 pessoas feridas. O primeiro single do disco, no tears left to cry, revela em

em no tear left to cry, ariana aposta no tridimensionalismo e perspectiva, no melhor estilo a origem (201), para criar a estética do clipe

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um tom otimista e sensato a vontade de recomeçar, combinada com a sua voz suave. Em um dos versos ela diz:

“Agora, estou em um estado de espírito / No qual eu quero estar o tempo todo / Não tenho mais lágrimas para chorar / Então, estou correndo atrás, correndo atrás / Estou amando, estou vivendo, estou correndo atrás”.

Dando continuidade a sequência de lançamentos e divulgações, Ariana veio com uma aposta ousada e rica em referências, God is a woman certamente marcou essa nova fase da cantora. A música, divulgada juntamente com o clipe, oferece uma investida audiovisual que vai desde O Pensador, de Auguste Rodin, até o Jardim do Éden, ambiente importante da história bíblica, para questionar toda uma perspectiva do mundo guiada pelo olhar masculino.



No clipe, a mulher aparece como principal, protagonista da própria história e da construção da humanidade, seja ela na Bíblia ou nas artes – afinal a figura feminina na arte vai muito além da Monalisa apenas. A artista compõe uma narrativa feminina de enfrentamento, expondo os desafios encontrados ao longo da trajetória, baseada em várias ligações com momentos e obras marcantes da histó-

A faixa-título Sweetener começa com um canto natalino e passando por um hip hop, mostra como mudar as situações e transformar os momentos difíceis para levar a vida mais tranquila e doce.

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a arte é a principal aposta em God is a woman, onde ariana faz uma releitura de obras com o propósito de colocar a figura feminina como ser superior; ainda, há diversas referências ao útero, órgão sexual e até mesmo a masturbação

ria humana. Muito provável no final da música você também ‘‘acreditará que Deus é uma mulher’’. Outro destaque são as participações presentes ao longo das 15 faixas do disco. Ariana aparece com Nicki Minaj em the light is coming, uma repetição da parceria com a rapper que já esteve presente no Dangerous Woman, com a música Side to Side. Além disso, colaboram também no novo trabalho Pharrell Williams (brazed), que também produz algumas das músicas, e Missy Elliott (bordeline). A vida amorosa da artista também ganhou espaço no disco. Pete Davidson, nome do seu noivo, mostra as realizações e a felicidade em estar completa com si própria e o companheiro e agradecida pelo


OUÇA O ÁLBUM

momento que está passando em sua vida. Ainda para os que gostam do ritmo eletrônico da artista, breathin é a música certa. Menos elaborada, com ritmo eletrônico e letra de superação, tem tudo para conquistar os admiradores do som que marcou Ariana. Dessa forma, para os fãs acostumados com as batidas fortes e melodias ousadas que se tornaram a marca registrada da cantora e o ponto forte de seu trabalho, podem se surpreender com o álbum recém-lançado. A produção de Pharrell Williams, alinhada as suas referências, parecem trazer uma atmosfera que não explora todo o potencial da artista, com muitas repetições das letras em algumas músicas, apesar de trazer grandes destaques. Por outro lado, ao ouvir todas as faixas a impressão que fica é que Ariana Grande parece estar bem à vontade e fazendo o que gosta, ultrapassando assim elementos que a tornaram famosa. Vemos aparecer uma artista honesta, sensível e preparada para lidar com os desafios da vida, os momentos e escolhas que passou durante a carreira, essa é a sensação que domina todo o trabalho. A emoção assume o tom principal do álbum e nesse sentido a cantora mostra sua grandeza ao investir em um discur-

Succesful é a primeira com um refrão viciante, daqueles que não conseguimos parar de cantar. Em um pop atraente de letra levemente irônica, ela diz que fez uma concessão ou outra para ser famosa sim e, se tivesse no seu lugar, faria isso também.

so pessoal e autêntico. Sweetener é uma declaração de Ariana Grande para o que e quem ela se sente bem. Um discurso de encorajamento para uma vida doce, mesmo que para isso precise de um adoçante. //

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ASTROWORLD: um fenômeno mundial por Giovana

Silvestri

diagramação Thales

assis


O

dia 3 de agosto foi um pouco ocupado para o rap, que além de trazer os novos álbuns de Mac Miller e YG, teve o lançamento do aguardado ASTROWORLD, de Travis Scott (ou La Flame). A produção de Travis comporta colaborações de grandes artistas, recebeu inúmeras críticas positivas, carrega consigo anos de dedicação, superou a expectativa das vendas e até causou polêmica. Com todas as letras em maiúsculo, ASTROWORLD é o terceiro álbum de estúdio do rapper, sucedendo Birds in The Trap Sing McKnight, de 2016. O título, que tem Mike Dean como produtor chefe e é lançado sob os selos Grand Hustle Records, Epic Records e Cactus Jack Records, conta com ilustres participações especiais tanto nos vocais quanto na produção

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musical. Enquanto Frank Ocean, Drake e The Weeknd emprestam suas vozes para as músicas CAROUSEL, SICKO MODE, WAKE UP e SKELETONS, respectivamente, artistas como Allen Ritter, HitBoy, Tay Keith, Tame Impala, Sonny Digital, John Mayer ficam encarregados de diversos dos arranjos ouvidos no álbum. A tracklist é composta por dezessete músicas no total. BUTTERFLY EFFECT é o single principal de ASTROWORLD, lançada em maio de 2017. A faixa,

CAPA “L I M PA“ DO Á L BU M

produzida pelo frequente colaborador de Drake, Murda Beatz, foi a primeira música confirmada a aparecer no álbum que viria apenas um ano depois. O disco é o resultado de um grande planejamento e dedicação do artista, que já tinha um nome pro projeto antes mesmo de lançar seu segundo álbum em 2016. ASTROWORLD foi revelado no mesmo ano, durante a ANTI World Tour, turnê de Rihanna, em homenagem ao parque que marcou sua infância, o finado Six Flags AstroWorld. Localizado em Houston, no Texas. Em entrevista para a versão britânica da revista GQ, em 2017, Scott contou que o projeto é como tirar a diversão de uma criança: “Eles demoliram o AstroWorld para construir apartamentos, e é assim que esse álbum vai soar, como tirar um parque de diversões de crianças, queremos de volta. É por isso que eu estou fazendo isso. Eles tiraram a diversão da cidade”. Para o rapper, o álbum é o fim de uma saga iniciada por Rodeo, seu primeiro álbum, lançado em 2015. PARQUE MUSICAL STARGAZING abre o álbum com o uso marcante


do auto-tune, dispositivo eletrônico que pode disfarçar breves incorreções vocais ou tirar a naturalidade da voz, dando força às batidas e ritmos da faixa. CAROUSEL introduz uma melodia com os vocais bem demarcados de Ocean, que encanta o ouvinte. A música acabada de supetão induzindo uma entrada para a seguinte. A transição para SICKO MODE é discreta, começando com o som de um órgão. A participação dessa vez é Drake, que assume os primeiros vocais da música, seguido por uma dança da versos entre o cantor e Travis. Se uma hora o canadense é repentinamente interrompido com uma virada no beat, na outra Travis retorna apenas para trocar, mais uma vez, de lugar com Drake. A primeira apoteose do álbum começa com STOP TRYING TO BE GOD, cujo o refrão afirma: “Pare de tentar ser Deus / Não é quem você é / Pare de tentar ser Deus / Esse não é o seu trabalho”. Travis insere a ideia de poder, controle e reconhecimento, mesclando outros temas como amor e relações. O final é emocionante, que dá um monólogo profundo para James Blake. Já SKELETONS, por sua vez, passa a produção para outro ritmo. Pharrell Williams e The Weeknd participaram da composição produzida pela banda Tame Impala. Mas é apenas em WAKE UP que The Weeknd se revela o grande

artista que é ao impressionar a todos a partir da orientação do maestro Travis. A faixa, a única com um começo acústico, tem uma temática mais romântica ao falar sobre não querer sair da cama e permanecer nos lençóis com a garota de seus doces sonhos. NC-17 dá um foco maior a temática do álbum: seu tom nostálgico faz lembrar um parque de diversão, que dá inspiração para capa do álbum e é o grande objetivo de Travis. A repetição das batidas e a música melódica de parques de diversões no plano de fundo leva o ouvinte, em apenas 2 minutos e 38 segundos, a uma nova dimensão, onde a melancolia, alegria e nostalgia se configuram em um plano só, proporcionando uma ideia de um sentimento feliz que acabou e não vai retornar. YOSEMITE e CAN’T

SAY são as faixas que comportam mais intimidade com suas letras e seus ritmos que diferem das demais. A primeira é uma música lenta em comparação com as outras, parecendo uma balada pura se não fosse pelas batidas constantes. A entrada da segunda quebra a lentidão da antecessora, dando uma emoção nova ao álbum que é mediada ao longo da faixa, variando o ritmo balada com o ritmo de hip-hop. Por fim, COFFEE BEAN fala sobre a relação de Scott com Kylie Jenner, comparandoos ao famosa casal de assaltantes Bonnie e Clyde, que em 1929 viverem uma história de amor, roubos e tiroteios nos EUA. Leais um ao outro, Travis é a má influência (Clyde) e Kylie a boa moça (Bonnie). A faixa traz o rapper romântico, revelando sua felicidade em ter uma vida com Jenner e com a filha deles, Stormi.

CAPA E X P L Í CI TA DO Á L BU M

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Travis Scott e Kylie Jenner no tapete vermelho do Met Gala 2018

A letra também expõe como os pais de Kylie não aceitaram a união dos dois por Scott ser, segundo eles, uma péssima influencia, podendo ser o catalizador de uma possível má reputação de Jenner. Além disso, a música traz trechos onde Travis revela suas inseguranças e lamenta ter acidentalmente engravidado sua namorada e atual esposa, ao mesmo passo que demonstra o quanto gosta da relação e como é perdidamente apaixonado por Kylie. A junção das músicas configura um ato só, como uma sinfonia regida pelo maestro Travis – sua orquestra são suas as participações. Cada faixa tem seu próprio clima e sentimentos juntos em um único efeito de diversidade, e todos os convidados fazem parte disso de forma harmoniosa. A escolha dos produtores revela a criatividade rítmica e as mudanças harmônicas que o rapper buscou transformando a obra em sua produção de maior sucesso. ASTROWORLD é como se fosse um verdadeiro parque de diversões organizado 98|

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e planejado por uma única mente, mas com participações que dão vida a diferentes brinquedos ou atrações, que ora alegram, ora impressionam e até nos enjoam com tantas reviravoltas. Mas, ainda sim, elas nunca deixam de cativar seu público. MARKETING Para lançar ASTROWORLD, Travis fez uso de um marketing diferente, surpreendendo os fãs. No dia 27 de julho, a aparição de uma cabeça gigante dourada de Travis Scott instalada no topo de um dos marcos mais famosos de Hollywood, a loja Amoeba Music, anunciava a chegada do aguardado álbum. Depois de uma semana, outras duas cabeças gigantes apareceram no Minute Maid Park, em Houston, cidade natal de La Flame. No dia seguinte, a terceira apareceu no topo do Hard Rock Cafe, na Times Square de Nova York. Na manhã do dia 30 de julho, Travis confirmou a data de lançamento e compartilhou um trailer que revelou a faixa STARGAZING. Em uma entrevista para o programa de rádio Beats1, da Apple Music, o rapper comentou sobre seu trabalho e expôs seu perfeccionismo. “O álbum está terminado, é claro. Eu e Mike vamos até o último dia. Eu gosto de ouvir várias vezes, e, assim, ir aperfeiçoando a vibe. Eu não gosto de sair do estúdio até essa m**** estar certa”. COLOCAÇÕES ASTROWORLD tirou o reinado de cinco semanas do álbum Scorpion, de Drake, da Billboard 200, lista da revista Billboard que classifica semanalmente os 200 álbuns e EP’s mais vendidos nos EUA. O álbum vendeu 537 mil unidades na primeira semana, sendo 270 mil delas em mídia física, quebrando o recorde de maior número feito em uma semana de 2018. Após o lançamento do álbum, algumas das 17 faixas entraram simultaneamente na Billboard Hot 100, incluindo SICKO MOD , em quarto lugar, e STARGAZING, em oitavo, fazendo de Scott o quarto artista a estrear várias músicas no Top 10 do chart ao mesmo tempo. No Reino Unido, o álbum estreou em terceiro lugar na UK Albums Chart, dando ao rapper seu primeiro álbum Top 10 no chart.


N a e s q u e r d a , a v e r s ã o c o m A m a n d a L e p o r e . N a d i r e i ta , a e d i ç ã o, c a pa o f i c i a l d o d i s c o

Ainda, SICK MODE, STARGAZING e CAROUSEL entraram no Top 40 da UK Singles Chart, em 9º, 15º e 29º, respectivamente. Na Austrália, o disco estreou no topo da ARIA Albums Chart, tornando-se o primeiro #1 de Travis Scott na tabela. Duas faixas ficaram no Top 10 da parada de singles: SICKO MODE, em 7º, e STARGAZING, em 10º. AMANDA LEPORE A obra que Travis lançou pode ser interpretada como um “show” de perfeições ao compararmos as críticas, as colocações, as vendas e as participações que ele traz, mas como nada é perfeito, ASTROWORLD não escapou de um polêmica, envolvendo a capa do álbum, que possui duas versões. A primeira, limpa, traz um parque de diversões de dia, com crianças comendo pipocas ou pulando, enquanto uma família entra para ver o show através de uma cabeça gigante dourada de Travis, que forma a entrada para o parque. A segunda, revelada no dia primeiro de agosto,traz uma interpretação mais

explícita da ideia central do disco. O parque de Travis aparece no período da noite com mulheres nuas e sexualizadas, em um cenário que transmite uma sensação de desconforto como se um caos se instaurasse no parque durante a noite, lembrando um circo de horrores. Porém, quando foi publicada pelo artista em seu Instagram, a imagem sofreu um intrigante corte: Amanda Lepore, modelo e ícone transexual norteamericana, participou da fotografia feita por David LaChapelle, mas acabou sendo apagada na edição final. A modelo publicou a versão enviada para ela em seu Instagram, alegando estar “curiosa” com a retirada de sua participação da arte original: “Foi ótimo fazer parte da incrível fotografia de David Lachapelle para a capa do álbum de Travis Scott, mas estou curiosa para saber por que não estou na foto que Travis Scott postou”. O circo, então, estava realmente montado, com as redes sociais entrando em avalanches de críticas à Travis, assinalando a ausência da modelo transexual como um ato de transfobia. Aquaria, drag queen norte-americana e recentemente coroada zint.online | 99


no reality RuPaul’s Drag Race, se mostrou bastante vocal com a falta de respeito, tuitando sobre o acontecimento e contrapondo os argumentos dos fãs de Travis. “Talvez não seja transfobia imediata, mas a exclusão específica do corpo trans ainda é transfóbico. Principalmente se você acha que as pessoas não vão comprar seu álbum porque Amanda está na capa com uma aparência impecável como sempre”. Aquaria não foi a única Queen a se pronunciar sobre o assunto, sendo apoiada pela amiga íntima de LaPore, Violet Chachki: “F*** que Amanda Lepore foi cortada”, escreveu a vencedora da sétima temporada do Drag Race. A situação ficou ainda mais suspeita quando LaChapelle pesou sobre o assunto, alegando que Amanda estava “boa demais” para aparecer na capa. Ao explicar a remoção e tentar minimizar a situação, o fotógrafo disse que “Amanda foi tirada porque acabou ofuscando todo mundo. Esse é um caso de outra coisa que não consegui controlar. Não tem relação com odiar”. De acordo com o TMZ, a equipe de Scott falou em nome do rapper e negou todas as acusações, uma vez que Travis nunca chegou a receber a arte original (com Lepore), não podendo ter, portanto, relação com a polêmica. Enquanto alguns podem ficar contentes com a resposta, o TMZ parece inflexível em seguir a narrativa, preferindo transferir a culpa para David LaChappelle, mesmo após a própria Amanda ter aceitado a explicação e não ter dito que se ofendeu com o caso. Travis fez um pequeno texto que

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publicou em seu Twitter e Instagram (traduzido no box amarelo logo ao lado), agradecendo a participação de todos para a obra da capa, incluindo Lepore e David, afirmando que ASTROWOLRD é sobre amor e expressão e não sobre ódio. Amanda preferiu não aprofundar mais e focou na desculpa do amigo fotógrafo e do pronunciamento do rapper: “Uma garota não pode evitar. É muita distração para os olhos. Ofusquei todo mundo na fotografia!” disse ao editar o post que alegou estar curiosa. Ela também disse que ama David LaChapelle por ser o primeiro artista a fotografá-la diversas vezes, em ensaios de sucesso que percorreram museus em todo o mundo. “Ele é um amigo próximo e definitivamente não é transfóbico”, garantiu. //

“Isso é muito importante para que eu fale sobre: enquanto eu crescia fui ensinado a aceitar todos, jamais repelir as pessoas, mas recebê-las em casa. Eu não tenho nada além de respeito pela comunidade LGBT. Eu quero usar minha voz para deixar claro que todos nesse planeta são iguais e incrivelmente foda como seu próximo. Lachapelle e eu nos preparamos para criar imagens que eu cresci assistindo-o fazer por anos, que me inspiram até hoje. Você, Amanda, ofuscou a todos, incluindo eu. E eu não posso esperar para todos verem o encarte que Dave e eu realizamos que incluem todas essas imagens. Obrigado por fazer parte disso. Desculpa pelo mal-entendido. Amo vocês, pessoal e OBRIGADO A TODOS!!! TODOS SÃO BEM-VINDOS AO ASTROWORLD!”.

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UM TESTEMUNHO SOBRE

INSEGURANÇA E FRAGILIDADES

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mike faria

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‘‘Ai meu Deus / Eu vou morrer sozinho / Se eu continuar nesse caminho’’. Assim começa o primeiro álbum de estúdio de João Vitor Romania, profissionalmente conhecido como Jão. Com uma proposta pessoal e libertadora, o artista mostra o que o público ainda não sabia de si próprio. LOBOS traz um tom melancólico e dramático acompanhado de batidas empolgantes, combinação que domina em quase todo o disco do artista. Considerado um dos nomes mais promissores do cenário pop brasileiro para 2018, Jão aposta em músicas que trazem um som pop intenso por temas como tristeza, sarcasmo e pessimismo, porém com toques de diversão que equilibram o álbum e o tornam mais leve de certa forma. Após lançar Imaturo, em janeiro deste ano, e um projeto paralelo ao álbum, composto por versões acústicas de quatro músicas, o cantor veio alcançando a admiração do público por seu trabalho

original e destemido. Uma reflexão da sua personalidade; ‘‘muitas vezes crítico e pesado para certas situações’’, como conta o próprio Jão. Durante as 10 faixas que compõe o disco, lançado pela Universal Music, o

“Todas as coisas que eu odiava em mim quiseram vir pra cima. Só que, em vez de suprimir tudo mais uma vez, eu resolvi botar para fora cantando. […] No meio dessa confusão de juventude e sofrimento, foi estranho perceber que essas coisas que um dia tentei esconder de mim por tanto tempo, mesmo que não tão bonitas assim, eram minha verdade mais pura e fazem parte do que realmente sou”, JÃO SOBRE O CONCEITO DO ÁLBUM

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cantor expõe seus medos e experiências, aspectos marcantes em sua vida, em um relato honesto e corajoso sobre ser você mesmo e lidar com as dificuldades. O álbum, composto todo por Jão, conta apenas com uma parceria, na faixa Aqui, ao lado de Diogo Piçarra. Em Lobos, a faixa-título, acompanhada de uma melodia mais comum, indica: “o cara estranho, que eu fingi não ser, já renasceu, talvez eu possa descansar”. Em tempos onde se canta muito sobre ser forte, ter autoconfiança, estar por cima em uma relação, o jovem artista surpreende ao falar de forma aberta e genuína sobre os sentimentos dos quais não temos orgulho, apoiado nas sonoridades regionais brasileiras. “Quando a lua cheia cair sobre o sertão vazio, e iluminar a terra e seus corpos frios, anunciem em afoite, saiam das ruas todos, foi iniciado o expurgo da noite. É o arrebatamento dos desgraçados, malcriados, vagabundos, um a um, ainda que em medo, irão todos. Pois que uivem altos os perdidos. A alcateia saúda os novos lobos”, assim anuncia um testemunho na capa do álbum, uma verdadeira confissão sobre desafios e conquistas. Para chorar e dançar ao mesmo tempo, o fato é que Jão ultrapassou definitiva-

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mente a timidez ao revelar um discurso pessoal e sincero sobre liberdade para ser você mesmo, independente da aceitação ou apoio dos outros. Assim, assuntos como problemas de autoestima e dificuldades de se relacionar conduzem a narrativa construída ao longo do trabalho. Às vezes inseguro, às vezes frágil, ele se apropria da voz doce junto a elementos eletrônicos para falar (ou uivar) para quem quiser ouvir. Como um lobo, mal visto pela sociedade e reconhecido por conquistar seu território e o respeito no meio onde vive, Jão termina o álbum cantando ‘‘Bem nos olhos vejo os monstros / Que insistem em me encarar / Sempre me acharam louco / Por querer ser mais um pouco / Sei que eu tenho os meus monstros / Mas continuo a caminhar’’. //

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giovana silvestri

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O RETORNO DE MAC MILLER Mac Miller, rapper norte-americano, retornou ao cenário musical ao publicar, em maio deste ano, três novos singles e, em julho, um vídeo teaser anunciando Swimming, seu quinto álbum de estúdio, lançado no dia 3 de agosto. Além das novidades em sua carreira, a vida do cantor vem andando bem agitada, desde o término com a cantora Ariana Grande, com grande repercussão na imprensa e a 106|

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reação da artistas nas redes sociais. Ainda, Miller sofreu um grave acidente após dirigir embriagado e passou um tempo preso em Los Angeles. O último lançamento do cantor foi com The Divine Feminine, seu quarto álbum de estúdio. Lançado no dia 16 de setembro de 2016, em uma parceria entre as gravadores REMember Music e Warner Bros. Records, o álbum conta com


várias participações, incluindo de sua ex-namorada. Feminine traz sucessos como Dang!, parceria com Anderson .Paak, We, com CeeLo Green e My Favorite Part com Ariana Grande, inspiração para a faixa Cinderella. Muitos fãs, no entanto, apontam que quase todo o álbum tem influência do namoro deles, na época oficializado no mesmo mês de lançamento do disco. PRÉ-SWIMMING No dia 29 de maio deste ano o cantor liberou as faixas Small Worlds, Buttons e Programs, sendo bem recebidas pelo público e tendo um total de pouco mais de um milhão, dois milhões e seis milhões de visualizações

no Youtube, respectivamente. As músicas apresentavam o novo projeto do rapper, que seria lançado em pouco mais de dois meses. Com 13 faixas no total, Swimming foi colocado para pré-venda no dia 12 de julho, revelando a tracklist e a capa do álbum. No mesmo dia, Miller liberou a música Self Care, alcançando 10 milhões de visualizações no Youtube e apostando em um clipe mais diferenciado dos lançados pelo rapper até agora. Dispensando o cenário de festas, companhias ou lugares comuns como uma praia, Mac aparece numa caixa de madeira, sozinho, debaixo da terra, lembrando um caixão. O videoclipe fica

mais interessante quando o artista escreve na madeira “Memento Mori”, uma expressão latina que significa algo como “lembre-se de que você é mortal”, “lembre-se de que você vai morrer” ou traduzido ao pé-da-letra, “lembre-se da morte”. Poucos dias depois, no dia 23 de julho, What’s The Use? chegou as plataformas digitais, novamente sendo recebida positivamente pelos fãs, que apontam que “a progressão do Mac é uma das coisas mais legais da música moderna” e “já vejo a visão desse álbum, estou muito animada”. A leva de lançamentos foi acompanhada por Inertia, uma faixa que, no entanto, não chegou na versão final do então vindouro álbum.


a aceitação é uma construção constante e que um dia, quem sabe qual, irá chegar. Swimming é sobre a sensação de envelhecer, aprender e amadurecer ao abandonar o ideal de perfeição e aceitar si mesmo como realmente é. No entanto, mesmo os momentos mais brilhantes do álbum são medidos, menos influenciados pela felicidade total e mais pela leveza do ser. O otimismo coexiste no disco com o arrependimento e o turbilhão alterna-se com a clareza: em um momento, Miller está irradiando confiança, no seguinte, aceita que não sabe nada sobre si e sobre a vida. Assim, o novo álbum torna-se, possivelmente, o mais íntimo de sua carreira, resultado dos últimos acontecimentos em sua SWIMMING Enquanto The Divine Feminine formulou os espaços das pessoas na produção do rapper com as inúmeras participações, Swimming se concentra em um Mac Miller na direção à auto aceitação que não termina com uma vitória como esperávamos. Em vez disso, abraça a possibilidade de que ele nunca descobrirá tudo sobre si, mostrando que o rappper parece confortável com isso. O disco segue no mesmo ritmo vagaroso como se fosse um registro paciente e demorado de sons e conceitos. Come Back to Earth é a primeira faixa da lista, onde o cantor já elabora o título do álbum cantando: “Eu estava me afogando, agora estou nadando”. Self Care, co-escrito por Devonté “Blood Orange” Hynes, soa cansada e pouco convincente enquanto Miller murmura: “Claro que sim, vai dar tudo certo”. Small Worlds traz John Mayer na guitarra e Jon Brion no piano. A faixa de destaque, Ladders, atinge clímax constante com um ritmo que sugere dança, assim como What’s the Use?. Na última faixa, So It Goes, não há nenhuma conclusão ou obtenção da auto aceitação. Em vez disso, Miller canta o título da música como um mantra, até sua voz ser substituída pelo som. De certa forma, parece um final feliz que induz a compreensão que 108|

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vida. Com poucas parcerias musicais, é perceptível um amadurecimento na produção de Miller, assim como sua marcante criatividade e capacidade de aprender e lidar com as críticas e seu crescimento como artista. Comparando-se aos últimos cinco anos, a música do rapper mudou com rimas mais firmes e batida mais complexas. O seu marketing nas redes sociais ao liberar músicas e teasers, a produção com uma linha diferente nos videoclipes e até as últimas

letras parecem aproximar para o íntimo do cantor como prevíamos. Mas essa linha madura em sua vida profissional parece não seguir na sua vida pessoal quando lembramos de seu acidente e prisão na Califórnia. O rapper canalizou sua energia e sentimentos desses últimos meses gerando um projeto que já possuí uma tour programada, indo do dia 27 de outubro até 10 de dezembro, com início em São Francisco, na Califórnia, e fim em Vancouver, no Canadá. Ainda, há uma linha de roupas baseadas

nos singles, disponível para venda em seu site. O ANO DE 2018 Os primeiro rumores do fim do relacionamento em Miller e Ariana Grande vieram em maio de 2018. De acordo com o relatório do TMZ, os dois decidiram terminar devido à falta de tempo ocasionada pelo trabalho de ambos, que estavam juntos desde setembro de 2016. No dia 10 de maio, a cantora confirmou o fim da relação através do Stories

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Colocado como “a pessoa mais educada e legal que já vimos” pelo policiais, ainda não há detalhes sobre um possível julgamento contra Miller devido o ocorrido. Depois do acidente, Ariana foi até o Twitter para pedir que ele “Por favor, se cuide”, causando manifestações de fãs que culpavam a separação do casal pelo acidente do rapper. Na quarta-feira, 25 de maio, Ariana voltou à rede social para se defender, em um tom mais crítico. Nele, a cantora aponta, entre outras coisas, que ela sempre apoiou a sobriedade do rapper, mas o namoro havia chegado ao fim por ter sido uma “relação tóxica”. Mac se manifestou sobre o término apenas no final de julho, quando falou pela primeira vez como está lidando com a situação durante uma entrevista com a Zane Lowe no programa Beats1, além de contar que, para ele, sua prisão foi a melhor coisa que poderia ter acontecido.

“Você já se sentiu invencível? Você tem em seu Instagram, em uma espécie de declaração conjunta, alegando que ela e Miller continuam “melhores amigos”. A maior polêmica, no entanto, veio duas semanas depois, quando Ariana oficializou seu namoro com o comediante Pete Davidson através das redes sociais. Em julho, os dois estavam noivos. Foi nessa mesma época, duas semanas após o término, que Miller sofreu um acidente grave de carro ao dirigir embriagado. De acordo com o TMZ, o cantor estava dirigindo com dois amigos no Vale de San Fernando (Los Angeles, Califórnia) na madrugada do dia 17 de maio. Miller bateu seu Mercedes G-Wagon em um poste de energia, derrubando-o no chão e fugindo do local a pé. Após revistar o carro, a polícia encontrou o endereço do cantor, onde foi preso e confessou ter fugido por estar bêbado no momento da batida. O rapper foi solto logo após pagar a fiança de US$ 15 mil. 110|

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que entender: eu vivi uma certa vida por 10 anos e quase não tive nenhuma consequência real. Eu não tinha uma versão da história que não terminasse comigo estando bem. (...) Apesar de alguns comentários que venho recebendo, eu e Ariana tivemos um relacionamento muito normal que teve seus altos e baixos. A vida é estressante. Então, é claro, houve momentos estressantes. Não é tão singular assim. Você sabe, eu estava apaixonado por alguém. Estávamos juntos por dois anos. Trabalhamos em bons momentos, maus momentos, estresse e tudo mais. E então chegou ao fim e nós dois seguimos em frente. E é simples assim, você sabe.”


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Quando questionado sobre a preocupação dos fãs com seu bem-estar, Miller era grato pela energia positiva, mas que não entendia muito bem toda a necessidade em contar tudo através das redes sociais. “É estranho. Como, a coisa toda é um pouco estranha, mas não é negativa. É apenas uma parte de algo que vai continuar a me ajudar a ser quem eu sou. Você sabe, é tudo energia positiva. Estou feliz por ela seguir em frente com sua vida, assim como tenho certeza de que ela está comigo “. O relato de Miller pode ser interpretado como algo superficial perto do que Ariana comentou, principalmente por não assumir a relação tóxica que Ari revelou aos fãs. O rapper se manifestou sobre o incidente com o carro como algo que o libertou de perspectiva errada de si mesmo na realidade, em que segundo ele, sempre sai bem das situações. Agora, Miller parece entrar em um processo de aceitação sobre a realidade e seu lugar nela. //

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Melim é paz, pureza e amor!

Com um estilo good vibes, os Melim vem ganhando um espaço na música brasileira

Vitoria Pereira diagramação Thales assis por

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atural de Niterói, Rio de Janeiro, os gêmeos Rodrigo e Diogo junto da irmã Gabriela formam a banda Melim, nome que vem do sobrenome da família. Embora o trio engane aqueles que pensam que eles sempre tocaram juntos, Gabriela começou

a carreira como artista solo, enquanto os gêmeos mantinham uma banda de pop rock. Foi apenas após tocarem numa festa no Sul do Brasil que o trio percebeu o quanto eram melhores juntos, dando início ao Melim. O sucesso começou mesmo no programa

global SuperStar, em 2016, quando eles apresentaram um medley de Como é Grande o Meu Amor Por Você, de Roberto Carlos, e Super Duper Love, de Joss Stone, conquistando o público instantaneamente. Mesmo não ganhando o reality show, sendo eliminados na semifinal, os irmãos já haviam ganhado muitos fãs pelo carisma e as vozes que entram em uma sintonia muito gostosa de escutar. Após o estouro no reality, a banda começou a ganhar popularidade pelo YouTube, com a realização de covers que contam com mais de 1 milhão de visualizações, como Sorri,

Sou Rei, de Natiruts, e Mais Que a Mim, de Ana Carolina e Maria Gadú. Em 2017, o grupo lançou seu primeiro EP, Melim, com três músicas: Ouvi Dizer, Meu Abrigo e Transmissão de Pensamento. O PRIMEIRO ÁLBUM Os irmãos foram construindo um estilo próprio com tom de reggae, pop e MPB, lançando em junho o primeiro álbum da banda intitulado Melim. Com 16 músicas autorais, o disco inclui Meu Abrigo e Ouvi Dizer, que já ultrapassam 20 e 12 milhões de visualizações no Youtube, respectivamente. O álbum é repleto de canções que mostram o lado bom da vida e como podemos ser felizes com o amor. Meu Abrigo mostra a preciosidade de estar com quem se ama: “O seu colo é o meu abrigo”. Ouvi Dizer, sucesso mais recente do trio, fala sobre o quanto é maravilhoso ter alguém pra nos completar: “A paz se multiplicou / Que bom que você chegou / Pra somar”. Por fim, Transmissão de Pensamento fala sobre a conexão amorosa que criamos quando estamos apaixonados. Todas estas, já conhecidas do público, abrem o projeto musical que dá o pontapé oficial na jornada do grupo.

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Melim (o álbum) segue com Dois Corações, uma das músicas mais lentas da lista, relatando como duas partes distintas se complementam “Somos pão e padaria/ Piano e melodia/ Filme e pipoca/ De dois corações um só se fez”. A quinta faixa, Confusão, fala sobre aquele crush problema que mesmo assim nos encantam, enquanto a sexta faixa, Era Pra Ser Outra Canção Feliz, retrata sobre 114|

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o amor que se foi mas temos saudades. Sabe Lá segue com uma das músicas mais bonitas do projeto, que retrata como o amor afasta a solidão e melhora nosso astral. Mergulho No Mar é uma canção bem light sobre a brisa da praia com o mar e muito amor envolvido nesse cenário. A nona faixa, Maju, tem um tom bem good vibes e faz referência a uma garota chamada Maria Joana. A décima faixa, Peça Felicidade, tem uma pegada bem Natiruts e canta sobre festejar as coisas boas da vida e compartilhar o bem. Seguindo a tracklist, está Hipnotizou, faixa que fala sobre o que é estar encantado com a beleza da mulher “É toda alto astral / Sereia de água de sal / O samba enredo do meu carnaval”. Apê, é uma música bem fofa que vai cantar sobre como aprendemos a amar cada vez mais, “No meu coração você tinha um apê / Agora tem uma mansão antes era um apê, agora uma mansão”.

Avião de Papel, uma canção relativamente famosa, fala sobre como é difícil se acostumar com aquele amor que se foi, enquanto Viva o Amor exalta a ação de viver o amor, considerando um privilégio se apaixonar. A penúltima faixa do disco, Uma Lua, compara a raridade de encontrar alguém que nos faz sentir apaixonados “Mil estrelas no céu e só uma Lua / Tão rara como você”, dando para Não Demora a responsabilidade de fechar o álbum, falando sobre aproveitar o agora e não deixar nada para depois. Melim, lançado há apenas dois meses, ainda colhe os frutos para a banda. E para ajudar a alavancar a visibilidade do trio de irmãos, elas lançaram uma música em parceria da cantora Ivete Sangalo, uma das maiores inspirações dos Melim. Um Sinal foi lançado no dia 3 de agosto em todas as plataformas digitais, acompanhado de um videoclipe. Este, por sinal, já tem quase oito milhões de visualizações no YouTube. Ivete, por sua vez, possui em seu repertório uma faixa composta pela banda: Zero a Dez, em parceria com o cantor Luan Santana. //

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UM CANTO PARA A LIBERDADE Um passeio na história da escravidão e a música que nunca parou de tocar por

Guilherme Rodrigues

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ão se pode dizer ao certo qual foi o episódio mais detestável da humanidade, mas a escravidão negra certamente entra na lista. Com a necessidade de uma mão de obra para extrair metais preciosos dos países recém descobertos, o tráfico de pessoas para o trabalho forçado foi se tornando cada vez mais comum e não demorou muito para que os países colonizadores europeus retirassem a força cidadãos africanos, inserindo-os de forma 116|

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vics

mandatória em tal prática. E não foi diferente nos Estados Unidos. Tendo sido proibido o tráfico e comércio de escravos desde 1808, a prática não havia se extinguido e era exclusivamente utilizada na região Sul do país. Em 1820, é criado o tratado de Missouri, que divide o país em região Sul, totalmente a favor da escravidão e tinha sua economia e sistemas baseados em mão de obra escrava, e região Norte, que era abolicionista e não dependia de mão de obra escrava. Essas duas regiões disputariam, em


peça fundamental para a formação do movimento musical que moldaria toda a música moderna, do século XX em diante. O Blues, movimento que tem sua origem total pelos escravos, é um passeio pela história de sofrimento e angústia de todos aqueles que sofreram com os tempos difíceis de tirania e maldade humana, além de ser um refúgio para aqueles que sofrem com os resquícios sociais desse infeliz período, buscando forças onde não se tem. SOM TRANSGRESSOR

M u d dy Wate r s é um d os p r i m e i r o s n o m es d e gra n d e r e co n h e ci me n to n o Blue s. O m ú s i co m o r r eu em 1983.

1861, o que ficaria conhecido como Guerra Civil Americana e acaba com a vitória da Região Norte dos Estados Unidos e abolição da escravidão do país de uma vez por todas. O choque de cultura entre os escravos e os americanos e o processo de adaptação forçada que os africanos tiveram que passar trouxeram diversas mudanças de hábitos e a criação de novos que são usados até hoje. De certa forma, também foi se construindo uma espécie de cultura própria por parte dos escravos, que pouco a pouco iam formando uma identidade em vários aspectos, na intenção de preservar os hábitos de sua nação e também de se apropriar de hábitos novos dos americanos. Na música, esse fenômeno foi

Considerado o "pai do rock", o Blues foi o primeiro movimento musical que se consolidou depois do rompimento com o tradicionalismo e a metódica que se vivia até então. Assim como qualquer movimento artístico, a música moderna se opôs a tudo que pregava a música tradicional. Se antes se faziam arranjos de melodias que expressavam sentimentos e mensagens que o compositor queria transmitir, agora as melodias seriam cantadas, sem seguir as escalas tradicionais (ou, às vezes, adaptando-as), e vários instrumentos acompanhariam esse canto. Se a música “clássica” prega o individualismo do criador perante a arte, agora a música pregaria a coletividade de tal forma que seria impossível se reproduzir uma música sozinho, como se podia fazer no piano. Surgiriam conceitos como as bandas, “guitarra base” e “guitarra solo”, e uma das vertentes disso tudo seria o melódico, melancólico e histórico Blues. Sua origem vem dos escravos que, ao trabalhar, cantavam canções que contavam histórias que os lembravam de casa, ou até mesmo histórias sobre maldades feitas contra eles pelos seus donos, chamadas “work songs”, pois os ritmos dessas canções eram sempre marcados pelo barulho de suas ferramentas batendo. Como o caso da música Hoe Emma hoe, que conta a história de uma mulher que tentou fugir e teve que cavar a própria cova. Não se sabe onde exatamente surgiu o zint.online | 117


Blues, apenas que foi no Sul, por ainda ser escravocrata. Há quem diga que os famosos floreios do blues têm sua origem na voz que os escravos faziam ao cantarem e serem chicoteados, por isso o excesso de vibrato na voz de quem canta. A estrutura musical que se consolidaria com o passar do tempo consistia em três acordes separados por 5 notas cada, solos melódicos e pausados de escala pentatônica e letras sempre acompanhadas de histórias passadas e de tristeza, o que dá origem ao nome, uma variação de “blue”, que significa triste, melancólico, trágico. Todas palavras que descrevem muito bem a letra e a carga que a história desse estilo carrega. Uma das histórias mais pessoalmente comoventes entre as letras, é a história de Follow the drinking Gourd. A época de criação da música não é datada e os nomes por trás da obra também não são conhecidos, mas o tema referente à letra e o sofrimento

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de quem a criou são facilmente reconhecidos ao escutar a canção. Na época da escravidão nos Estados Unidos, os escravos se comunicavam por códigos. Um desses códigos veio em formato de música. Follow the Drinking Gourd é uma canção que faz referência à uma espécie de cuia, usada pelos escravos para beber água. Esse recipiente se assemelhava com a constelação da Ursa Maior, que apontava para o Norte. A música então foi composta como uma forma de encorajar e guiar os escravos que fugiam do Sul em direção ao Norte, que já havia abolido a escravidão na época, os “guiando para a liberdade”. Com o passar do tempo, a escravidão

No hal l do bl ues, B. B. Ki ng é um dos nomes mai s conheci dos do gênero musi cal . O arti sta faleceu em 2015


foi abolida e os negros migraram para o subúrbio, o que deu ao Blues uma roupagem moderna suburbana, com temáticas relacionadas ao sofrimento existencial e à relacionamentos desastrosos, não largando nunca a característica melancólica. Não é preciso dizer que o preconceito fruto da escravidão também migrou para a música e os cantores pioneiros de blues que gravaram seus discos sofreram muito com isso, sendo pouco reconhecidos e glorificados pelo seu trabalho. O Blues se ramificou, acelerou, mudou a temática, se enfureceu e virou o querido e conhecido Rock’ n’ Roll. Com temáticas já alegres e ritmos acelerados e explosivos, esse sim foi abraçado, em partes, pela população e reconhecido pelo público. O canto desesperado daqueles que lutavam pelas injustiças e atrocidades cometidas por questões de cor de pele e demonstração de poder pode ter dado indícios de ter

É i mpossí vel falar do blues sem l embrar de Etta James (19382012), voz por trás da mundi al mente famosa “At L ast” se perdido na memória musical, mas o emblema de luta e resistência será sempre eternizado por aqueles que sabem a marca e dor que todas as letras carregam e o rastro de ódio que esse momento da história deixa até hoje. Para muitos, tal momento deveria ser apago. Mas que fique eternizado. Que seja um aviso sobre o quão malévola a humanidade é capaz de ser e, ao mesmo tempo, diante de um momento tão nefasto, nos trazer histórias lindas em tons que oscilam entre o melódico e o agressivo. O Blues é uma cicatriz que vez ou outra as pessoas insistem em cutucar, e só quem carrega essa marca sabe o tamanho da dor. // zint.online | 119



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PLAYLISTS

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play lists

a revista possui suas próprias playlists temáticas, fruto das matérias que produzimos. ao todo, são 23 listas, que você pode usufruir e escutá-las pelo Deezer, Spotify e Youtube! PARA ACESSAR A LISTA, CLIQUE NA IMAGEM!











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