INTRODUÇÃO DE EXEGESE BÍBLICA - MÓDULO TOPÁZIO - SEMINÁRIO BATISTA LIVRE

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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1. DEFINIÇÃO DE TERMO

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2. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

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3. PORQUE A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA É IMPORTANTE

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4. OS PROBLEMAS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

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5. CORRELAÇÃO ENTRE HERMENÊUTICA, EXEGESE E EISEGESE

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6. CRÍTICA TEXTUAL

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7. TIPOS DE ALTERAÇÕES EFETUADAS PELOS COPISTAS

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8. CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DAS VARIANTES

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REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO Quem se aproxima das Escrituras com a intenção de compreendê-la, logo descobre que se encontra ante um duplo desafio. Primeiro tem a ver com a estranheza da fonte: como entender o significado de textos que foram escritos há pelo menos dois milênios, num contexto histórico e geográfico distinto do nosso? O segundo se deve à natureza da fonte: ela não se contenta em informar sobre o passado, mas quer provocar nos leitores de hoje uma resposta obediente, engajada e comprometida. Há um relativo consenso na pesquisa bíblica de que não se pode responder ao segundo desafio sem que antes se tenha respondido ao primeiro. Para se proclamar o Evangelho de forma adequada nos dias atuais, deve o intérprete descobrir e avaliar o impacto do texto no ambiente original em que foi gerado. Essa, em síntese, é a tarefa a que se propõe a ciência bíblica conhecida pelo nome de exegese. A exegese busca ajudar as pessoas a ler e estudar a Bíblia com maior compreensão. A maioria dos cristãos tem a Bíblia em alta estima, aceitando-a como Palavra de Deus, entretanto, poucos concordam que entendê-la seja uma tarefa fácil. Esta disciplina, em termos práticos e não técnicos, tem como finalidade guiar os leitores a descobrirem por si mesmos o objetivo da leitura bíblica e a maneira de alcançar esses objetivos. O objetivo de colocarmos esta disciplina em nosso curso teológico é o de animar o leitor para o gosto de interpretar e ser interpretado pela Bíblia. Esperamos que ao final desta leitura, nossos leitores possam adquirir uma estrutura de interpretação que os auxilie a compreender melhor o significado dos textos bíblicos e a sua aplicação prática. Boa Leitura!

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1 DEFINIÇÃO DE TERMO Como muitas palavras da língua portuguesa “exegese” é um vocábulo que nos foi dado pelo idioma grego. O termo deriva-se da palavra exhgeomai (ekseguéomai); a preposição ek – carrega a noção semântica do “a partir de dentro”, que não arbitrariamente, foi juntada ao tema verbal hge. Portanto, significa literalmente, “conduzo de dentro para fora”, e, aplicadamente ao texto, é trazer para fora a mensagem que está “oculta”, “dobrada”, daí, a origem da palavra exhghsiv/exegesis, que tanto pode significar “apresentação, descrição ou narração bem como explicação e interpretação”. Os dicionários comumente definem o termo “exegese” como “comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra”. 1 Dentro do contexto bíblico, a ênfase recai sobre a interpretação, quando aplicado a algum texto das Escrituras, com o intuito de aclarar o seu sentido. Exegese é, pois, o trabalho de explicação e interpretação de um texto ou de uma palavra. Mas não se trata de uma explicação qualquer, como de uma leitura rápida de um texto e a conseqüente interpretação a partir de idéias pré-concebidas e muitas vezes interesseiras. A “exegese” pressupõe uma interpretação crítica, justificada por diversos elementos. O exegeta se envolverá com as funções e sentidos das palavras (lingüística); com a análise da literatura e do discurso (filologia); com a teologia; com a história; com a transmissão dos escritos bíblicos (crítica textual); com a estilística, com a gramática e a analise de vocábulos. Nesse sentido, salienta D. A. Carson: “Em outras palavras, exegese crítica... é aquela que dá boas razões para as escolhas que faz e as posições que adota”. 2 1.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Versão 5.0. Rio de Janeiro: Editora Positivo; Lexicon, 2004. CD-ROM.

2. CARSON, D. A. A exegese e suas falácias. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999, p.14.

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O termo “exegese” é usado neste livro num sentido limitado para referir-nos à investigação histórica do significado de um texto bíblico. O processo de se fazer exegese e escrever um trabalho exegético têm como meta solucionar as dificuldades de um texto, ou uma passagem problemática. Para auxiliar a interpretação hoje contamos com uma vasta bibliografia especializada em diversas áreas do estudo da Bíblia: gramáticas e livro texto para o aprendizado das línguas bíblicas, léxicos, dicionários teológicos do grego, hebraico e aramaico; séries de comentários exegéticos, literários, sociológicos, homiléticos; compêndios de arqueologia bíblica, história de Israel, história do período do Novo Testamento; introdução ao Antigo e Novo Testamento; manuais de formas literárias de crítica textual, de metodologia exegética e muito mais. Graças a essa bibliografia o trabalho de interpretação fica bastante facilitado, pois muitas questões já foram solucionadas por estudiosos.

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2 MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO A Bíblia é a Palavra inerrante e infalível de Deus, de tal forma que, quando ela fala, Deus fala. Desde sua canonização, os cristãos a tem estimado, aceitando-a como a Palavra de Deus escrita. Poucos, porém, já se precipitaram em dizer que é fácil compreendê-la. Como seu objetivo é revelar a verdade e não ocultá-la, não há dúvida de que Deus pretende que a entendamos. Além do mais, é vital que compreendamos as Escrituras, pois nossas doutrinas sobre Deus, o homem, a salvação e os acontecimentos futuros dependem de uma interpretação correta da Bíblia. Para uma compreensão exata das Escrituras é necessário conhecer os métodos interpretativos. É hoje um postulado quase universal a tese de que não há norma sem interpretação, ou seja, toda norma é, pelo simples fato de ser posta, passível de interpretação. Entre os escritos judaicos da antiguidade podemos encontrar alguns métodos de interpretar as Escrituras, sendo os principais: a alegórica, a midrashica, a literal e a tipológica. Vale salientar que essa classificação não é uma regra para os intérpretes judaicos primitivos. 2.1 ALEGÓRICA

A concepção de interpretar um texto de forma alegórica consiste na interpretação de um texto da perspectiva de alguma coisa, sem levar em consideração, seja o que for essa outra coisa. O mais proeminente intérpretes judeus da forma alegórica foi Fílon, um filósofo judeu do século I, de Alexandria, contemporâneo de Jesus. Para Fílon, as Escrituras possuíam duas formas de ser interpretada: o literal e o subjacente, sendo que este último era recuperado somente por intermédio da exegese alegórica.

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EXEGESE BÍBLICA Muitos cristãos faziam uso da alegoria para encontrar Cristo no Antigo Testamento, dessa forma este método passou a ser “uma estratégia interpretativa para declarar que isso significa aquilo. Como tal, era um meio fundamental de conseguir do significado oculto do texto pelo motivo manifesto de tornar o texto relevante”.3 Orígenes (185-254 d.C.) foi o maior dos intérpretes alegóricos do cristianismo primitivo, seu praticante mais notável e seu mais adequado expoente. Ele acreditava que as Escrituras continham um significado literal e outro espiritual. No seu entendimento, o sentido literal do texto, era inferior ao significado espiritual da mesma forma que, para Platão, as coisas terrenas são sombras das formas celestiais e que o corpo humano é inferior ao espírito. Dessa forma, uma Escritura inspirada por Deus tinha que ser interpretada de forma espiritual, unificado mais profundo, além de um significado de “superfície”. Com base nesse pressuposto, Orígenes desenvolveu uma abordagem tríplice das Escrituras, ou seja, a Palavra de Deus tinha um sentido literal ou físico; um sentido moral ou psíquico e por fim um sentido alegórico ou intelectual. Ao fazer essa divisão ele seguiu Clemente e Fílon, embora adotasse três diferentes sentido em vez dos dois anteriores, porém, na prática menosprezou o sentido literal, raramente se referiu ao sentido moral, e usou constantemente a alegoria.

2.2 MIDRÁSHICA

Para os rabinos, a Torá é a própria Palavra de Deus e contém a soma do conhecimento de Deus para seu povo. Pelo fato de ser um produto divino, até mesmo as próprias letras das Escrituras estão repletas de um significado profundo. Assim sendo, a interpretação é o meio pelo qual as Escrituras falam com as gerações subseqüentes em situações diferentes. Os rabinos também acreditam, em outra Lei, conhecida como Torá Schebealpe (Lei Oral) que é fruto de milhares de anos de sabedoria judaica, um compêndio de Lei, lenda e filosofia. Tamanha é a força desta Lei Oral na vida religiosa, pois “ela exerce influência sobre a teoria e a prá3. VANHOOZER, Kevin. Há um significado neste texto. São Paulo: Vida, 2005, p.137.

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EXEGESE BÍBLICA tica da vida judaica, dando forma a seu conteúdo espiritual e servindo de guia de conduta”.4 Esta Lei Oral, para a tradição judaica serve para interpretar o conteúdo escrito da Lei e também suprir suas lacunas. Do ponto de vista histórico-critico, é muito difícil precisar quando começaram a cultivar no judaísmo as tradições orais e quando surgiu a consciência de uma dupla fonte da Torá, a oral e a escrita. Entretanto, é sugerido que este processo teve início na era do Segundo Templo, com Esdras, sacerdote e escriba. Esdras seguido pelos homens da Grande Assembléia,5 conhecido como denominação geral de Sofrim (escribas) exerceu grande influência sobre o corpo legislativo judaico. Uma das principais tarefas desta instituição legislativa foi “levar a observância da Torá escrita e das tradições orais, introduzindo novas disposições no campo normativo e incluindo inovações no campo das doutrinas”.6 Foram os escribas (sofrim) que elaboraram os métodos básicos da exegese halákhica, isto é, os métodos de estudar as decisões rabínicas dos próprios textos bíblicos, conciliando aparentes contradições do texto, interpretando informações obscuras, analisando e resolvendo problemas do esquadrinhamento do texto e organizando o material para facilitar sua transmissão sistemática e estudo metódico. A partir do século I d.C., a atividade da transmissão oral se sistematiza e seus transmissores são chamados de Tanaítas, isto é, aqueles que estudam, repetindo e passando adiante o que aprenderam de seus mestres. A atividade dos tanaítas finda com a redação da Mischná por volta do ano 220 d.C., quando Yehudá Há-nassi, o Príncipe compila a tradição. A Mischná do rabino Yehudá foi adotada como livro texto pela escola Palestina como Babilônica. Os professores, chamados naquela época de Amoraítas, trabalhavam palavra por palavra o texto mischnaico, discutindo, elucidando juntando novo material. Este trabalho dos amoraítas fez surgir a Guemará. Os dois elementos, a Mischná e a Guemará formam o Talmud. 4. SZPICZKOSWI, Ana. Educação e Talmud. São Paulo: Humanitas, 2002, p.33. 5. Grande Assembléia – uma espécie de corpo legislativo. Existiu logo após o início do período que corresponde ao segundo Templo; e dela faziam parte Esdras e Neemias de acordo com a tradição judaica.

6. Idem, 2002, p.34.

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EXEGESE BÍBLICA Vale salientar que há duas Guemarot,7 uma realizada nas escolas palestinas e outra nas escolas babilônicas. Sendo esta última três vezes maior que a primeira. Essa forma de interpretar as Escrituras tornou-se conhecida como Midrash,8 usado pelos rabinos e fariseus para sua leitura bíblica. “o midrash tem o significado de comentários, em particular, com a idéia de tornar contemporânea a Escritura a fim de aplicá-la ou torná-la significativa para a situação atual do intérprete”.9 2.3 LITERAL

A maioria dos dicionários descreve o sentido literal como o significado primário de um termo, o significado estabelecido pelo uso comum. Podemos assim dizer que, o significado literal é o significado “puro, simples, direto do texto”. Os comentários rabínicos emitem diversos exemplos nos quais as Escrituras Sagradas foram entendidas de forma direta, o que resultou na aplicação, significado, manifesto simples e natural do texto, à vida das pessoas. A escola exegética do rabino Shammai era extremamente literal, evidenciada pelos comentários dos textos bíblicos a ele atribuído. “os comentários de Shammai observam que à noite todos devem reclinar-se ao recitar o Shemá, mas pela manhã devem ficar em pé, pois está escrito: Quando vos deitardes e quando vos levantardes”.10 Jesus fez uso desta forma de interpretação em alguns de seus discursos, em especial com relação às questões morais. Em Mateus, o mestre Jesus repreende os fariseus com citações diretas do Livro de Êxodo dizendo: “Honra a teu pai e a tua mãe...” (Êxodo 20.12) e “E quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe certamente morrerá” (Êxodo 21.17). Concernente ao divórcio, ele fez citação direta de Gênesis 2.24 que diz: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Durante muitos séculos, a interpretação esteve adstrita à explicação de textos considerados obscuros, em que ao ato de interpretar fazia se necessário, somente, 7. Plural de Guemará. 8. O termo Midrash vem da raiz hebraica darash, que significa “investigar, averiguar” e denota estudo intenso, ou exame do sentido de uma passagem. Era o método usado por alguns escribas para chegarem ao sentido de uma passagem da Torá. 9. DOCKERY, David S. Hermenêutica Contemporânea à luz da Igreja primitiva. São Paulo: Vida, 2005, p.33. 10. Idem, 2005, p.31.

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EXEGESE BÍBLICA se a estrutura gramatical desse texto não fosse suficiente para o entendimento de seu significado. Na Idade Média, no âmbito da cultura teológica, intensificaram-se as inquietações quanto à compreensão do texto bíblico, contudo, inicialmente, ficou restrita a interpretação gramatical e lógica sistemática. 2.4 TIPOLÓGICA

A exegese tipológica busca reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras fazendo uma correspondência entre pessoas e acontecimentos do passado e do presente e do futuro. O Antigo Testamento está repleto de tipos que o Novo Testamento se refere a eles e os explica como dizia Agostinho: “O Novo está contido no Antigo; o Antigo é explicado pelo Novo”. Assim sendo é muito importante entendermos qual é o significado de um tipo. Paulo ao escrever aos Coríntios disse que: “Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras (i.e. de modo típico), e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1 Coríntios 10.11). A partir deste texto, podemos concluir que a lição quando não bem aprendida torna a se repetir na história, ou seja, se não aprendermos com os erros da história vamos cometer os mesmos erros da história. Certos personagens bíblicos são referidos no Novo Testamento como tipos, pessoas vivas e reais que deixaram um legado para os cristãos como disse Robert Anderson: “A tipologia do Antigo Testamento é o próprio abecedário da linguagem em que a doutrina do Novo Testamento é escrita”.11 O escritor aos Hebreus menciona com freqüência algumas peças existentes no Tabernáculo e os sacrifícios ali oferecidos, e declara que todas estas coisas são “uma alegoria para o tempo presente (Hebreus 9.9), naturalmente se referindo à dispensação da graça. Jesus usou várias vezes os tipos em suas pregações. Repetida vezes se referia a eles e demonstrava como apontavam para Ele mesmo como no caso do caminho de Emaús, quando: “começando por Moisés e por todos os profetas, explicava11. ANDERSON apud HABERSHON, 2003, p.12.

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EXEGESE BÍBLICA -lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lucas 24.27). Os eventos que tinham acontecido em Jerusalém estavam todos prefigurados nas Escrituras como disse Jesus: “convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lucas 24.44). Atualmente os métodos de interpretação bíblicos mais conhecidos são o fundamentalista, o estruturalista e o histórico-crítico. Cada qual com seus aspectos positivos e negativos. A seguir apresentamos uma pequena avaliação dos três métodos. 2.5 FUNDAMENTALISTA

O método fundamentalista parte do pressuposto de que cada detalhe da Bíblia é divinamente inspirado, não podendo em decorrência, apresentar erros ou incongruências. Esse método tende a absolutizar o sentido literal das Escrituras, com o objetivo último de defender a Bíblia como referencial único, confiável e integro para a formulação da doutrina e ética cristã. Seu aspecto positivo reside na seriedade com que encara a revelação de Deus através de sua Palavra, na responsabilidade e no compromisso que exige frente à sua mensagem. Pesa contra este método, a acusação de ser demasiadamente apegado à letra dos textos.

2.6 ESTRUTURALISTA

Este método vê o texto bíblico como estrutura e organização que produz sentido para além da intenção do seu autor. Caracteriza-se por analisá-los da maneira como se encontram escritos na atualidade, independentemente do processo pelo qual a tradição possa ter passado até alcançar o nível de evolução final. Em favor deste método destacam-se duas vantagens importantes: a primeira é que este método consegue devolver as várias narrativas numa dinâmica bem viva e diversificada entre as ações praticadas e agentes envolvidos; a segunda consiste no fato de a análise estruturalista ter intensificado a percepção da importância das oposições no

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EXEGESE BÍBLICA texto como elementos determinantes dos eixos das narrativas. Pesam contra este método as críticas pelo seu desinteresse pela gênese e evolução dos textos, o que torna reducionista ao fazer a abstração da vida do texto, sua história, seu contexto cultural, social ou religioso. 2.7 HISTÓRICO-CRÍTICO

É o método que prioriza as fontes históricas, que no caso da Bíblia, datam de milênios anteriores à nossa era. Este método busca analisar as diversas fontes dentro de uma perspectiva de evolução histórica, procurando determinar os diversos estágios da sua formação e crescimento, até terem adquirido sua forma atual.

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3 PORQUE A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA É IMPORTANTE Todo leitor é um intérprete. Muitos não se apercebem do fato de que cada leitura de um texto envolve um processo de interpretação do mesmo. Não existe compreensão de um texto sem que haja interpretação, mesmo que esta leitura seja de uma revista, pois o processo de interpretação nesse caso acontece inconscientemente. Sendo um texto, a Bíblia Sagrada não foge a esta regra. Cada vez que a abrirmos e lermos, esquadrinhando a mensagem de Deus, nos engajamos num processo de interpretação.

Fazer exegese é um trabalho importante. Por seu intermédio procuramos interpretar as Escrituras. Atualmente esta tarefa conta com a ajuda de um enorme instrumental científico à disposição dos pesquisadores, fruto do labor abnegado de inúmeros pesquisadores e pesquisadoras em diferentes áreas. O estudo exegético é importante porque, infelizmente muitas interpretações distorcidas ocorrem em nosso meio, levando muitos a naufragarem na fé. A questão é muito séria, pois interpretar errado uma peça teatral é uma coisa, mas interpretar erroneamente a Palavra de Deus acarreta conseqüências eternas. Certas pessoas “adulteram a Palavra de Deus” intencionalmente (2 Coríntios 4.2); outras “deturpam” as Escrituras, como escreveu Pedro: “Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pedro 3.16). Há ainda aqueles que interpretam a Bíblia erroneamente sem saber. Por quê? Por não darem a devida atenção aos princípios e processos de interpretação bíblica. Uma simples olhada para a Igreja contemporânea, por exemplo, torna abundantemente claro que nem todos os leitores das Escrituras são unânimes em suas

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EXEGESE BÍBLICA interpretações. Para alguns, a Bíblia “ensina claramente” o batismo dos crentes por imersão; outros acreditam que podem defender o batismo de crianças por meio da Bíblia. Alguns cristãos buscam o batismo com o Espírito Santo com base em Atos 1.5. Já outros lêem o mesmo texto e entendem que tal acontecimento limitava-se à era apostólica sem aplicar-se à atualidade. Tanto a “segurança eterna” quanto a possibilidade de “perder a salvação” são advertidas na Igreja, mas nunca pela mesma pessoa! As duas posições, no entanto, são afirmadas como sendo o significado claro dos textos. Quando a Bíblia não é interpretada corretamente, a teologia, seja de um individuo ou de toda uma Igreja, pode ser desorientada ou superficial, e seu ministério desequilibrado. Todas estas – como tantas outras – são questões de interpretação. Evidentemente, essa discrepância de concepções ressalta que nem todos os leitores seguem os mesmos princípios para compreender a Bíblia. A ausência de uma hermenêutica correta é a causa dos enormes desmandos e da difamação que sofre as Sagradas Escrituras. As finalidades a serem perseguidas pela interpretação bíblica são de grande importância, porque visam garantir a efetividade da Palavra de Deus e a aplicabilidade de seus preceitos. Para isso, existem muitas regras para interpretação de textos, para o nosso caso, o bíblico. Algumas são mais extensas outras mais curtas. Umas se concentram em certos aspectos específicos outras procuram um aspecto geral. Todas essas listas têm grande utilidade e mesmo que possam parecer repetitivas contém princípios de grande valia para o exercício hermenêutico. Devemos compreender seu sentido para a época antes de percebermos seu significado para hoje. Se negligenciarmos a hermenêutica bíblica (ciência e arte de interpretar a Bíblia) estaremos passando por cima de uma etapa indispensável do estudo bíblico e deixando de nos beneficiar dela.

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OS PROBLEMAS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA Se a construção dos significados se dá em uma determinada sociedade, a partir de sua experiência e de sua práxis social, torna-se importante reconhecer o contexto histórico de produção dos discursos por meio dos quais se constroem esses significados. A redação da Bíblia Sagrada, totalizando 66 livros, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento, foi escrita num período de 1500 anos, teve cerca de 40 autores, das mais variadas profissões e atividades, viveram e escreveram em países, regiões e continentes distantes uns dos outros, em épocas e condições diversas, entretanto seus escritos formam uma harmonia perfeita. Dois dos escritores eram reis (Davi e Salomão), dois eram sacerdotes (Jeremias e Ezequiel). Lucas era médico. Dois eram pescadores (Pedro e João). Dois eram pastores (Moisés e Amós). Paulo era fariseu. Daniel era político. Mateus era cobrador de impostos. Josué era soldado. Esdras era escriba. Neemias era mordomo. A pluralidade de autores muito contribuiu para a riqueza do próprio texto, o qual deixa de apresentar o ponto de vista de um indivíduo ou grupo, e passa a representar crenças de um povo ao longo de muitos séculos. Além das qualidades literárias, inclusive poéticas, que a Bíblia apresenta em muitos de seus textos, temos também informações históricas e lingüísticas da maior importância. Mesmo porque a organização que lhe deram seus compiladores e editores acabaram gerando novas informações. Os cinco primeiros Livros do Antigo Testamento foram escritos por Moisés, por volta de 1400 a.C., e o último Livro da Bíblia, foi escrito pelo apóstolo João por volta de 90 d.C. Portanto alguns dos Livros foram escritos há mais ou menos 3400 anos, sendo que o último deles há cerca de 1900 anos. Isto mostra a dificuldade que temos que transpor para compreender a Palavra de Deus. Em meio a essa di-

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EXEGESE BÍBLICA versidade cronológica, cultural, geográfica, idiomática, vários abismos se apresentam pelo fato de termos em mãos um Livro tão antigo.

4.1 O ABISMO CRONOLÓGICO

A Bíblia foi escrita há séculos atrás. Seu último Livro foi escrito no final do primeiro século da Era Cristã, o que nos separa temporalmente em dois milênios. Como não estávamos presente quando estes textos foram escritos, não podemos perguntar aos autores o que eles queriam dizer quando escreveram. A história da interpretação das Escrituras visa mostrar como, desde cedo, o estudioso da Bíblia procurou condições de transpor esse abismo temporal. 4.2 O ABISMO GEOGRÁFICO

Os lugares onde ocorreram os fatos das Escrituras estão distantes da maior parte dos seus leitores. Foi no Oriente Médio, no Egito e nas nações mediterrâneas e meridionais da Europa, de hoje, que os personagens bíblicos viverem e peregrinaram. 4.3 O ABISMO CULTURAL

O mundo em que os escritores da Bíblia viveram não é o mesmo da atualidade. Seus costumes, tradições e crenças estão num passado distante. A falta de conhecimento de tais hábitos gera interpretações errôneas. Os intérpretes das Escrituras devem observar atentamente os traços culturais, onde o texto sagrado foi gerado, da qual preserva vestígios significantes. 4.4 O ABISMO LINGÜÍSTICO

Além dos abismos cronológico, geográfico e cultural, o intérprete vai se deparar com o abismo lingüístico. A forma de falar e de escrever dos autores sagrados já não existe. Não se fala mais o hebraico, o aramaico e o grego bíblicos nos dias de hoje,

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EXEGESE BÍBLICA mesmo em países onde as Escrituras foram escritas. Para se ter uma noção, os verbos e substantivos que se referem a um mesmo núcleo de significados derivam de uma mesma raiz. Assim, por exemplo, as três consoantes MLK formam o substantivo MeLeK (rei) ou a forma verbal MaLaK (ele reinou). Para reconhecer qual das duas formas deve ser lida numa determinada passagem, o intérprete, sem os recursos da escrita vocálica, não tem alternativa senão recorrer ao contexto. As formas para indicar tempo e pessoa se formam mediante flexão interna e flexão por prefixação, sufixação ou de infixo: MeLaK-TeM (vós reinastes), HiMLîK (ele fez reinar) etc. Qualquer estudante de hebraico sabe como é difícil algumas vezes identificar a raiz de uma forma verbal. Não é de admirar que o próprio texto bíblico apresente algumas vezes duas leituras variantes, ocasionadas pela diferente identificação da raiz verbal. O hebraico é uma língua relativamente pobre em adjetivos. Carece também de formas específicas para expressar o comparativo e o superlativo. Em seu lugar utiliza a forma do construtor ou outro tipo de expressão. Assim, por exemplo, “o Santo dos Santos”, designa o espaço mais sagrado do Templo e “o Cântico dos Cânticos”, o cântico por antonomásia. Além disso, tanto o hebraico quanto o aramaico são lidos da direita para a esquerda, e não da esquerda para a direita. Ademais, não havia separação entre as palavras. As palavras escritas nessa língua bíblica emendavam-se umas às outras. As cópias do Novo Testamento chegaram até nossos dias em uma quantidade incomparavelmente maior do que qualquer outra obra do mundo clássico. “Conhecem-se cerca de 5.000 manuscritos gregos do Novo Testamento, aos quais é preciso acrescentar uns 10.000 manuscritos das distintas versões antigas, assim como milhares de citações nos Padres da Igreja”.12 Outra dificuldade imposta pelo abismo lingüístico é o fato de que as línguas bíblicas originais continham expressões incomuns de sentido obscuro, difíceis de compreender em nosso idioma. A ciência que busca descobrir quais textos são originais é conhecida pelo nome de crítica textual. 12. BARRERA, Julio Trebolle. A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999, p.397.

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EXEGESE BÍBLICA 4.5 O ABISMO LITERÁRIO

A Bíblia Sagrada é um conjunto de escritos produzidos por pessoas reais que viveram em épocas históricas diferentes. Essas pessoas usaram suas línguas nativas e as formas literárias então disponíveis para a auto-expressão, criando, no processo, um material que pode ser lido e apreciado nas mesmas condições que se aplicam à literatura em geral, onde quer que seja encontrada, sem jamais se esquecer que as Escrituras é um repositório da verdade religiosa. A Bíblia não é um Livro no sentido comum do termo, mas uma antologia – um conjunto de seleções de uma biblioteca de escritos religiosos e nacionalistas produzidos ao longo de um período de 1500 anos. Não houve uniformidade de condições na composição dos Livros da Bíblia. Uns foram escritos na cidade, outros no campo, no palácio, em ilhas, em prisões e no deserto. Apesar de tantas diferentes condições a mensagem das Escrituras é sempre única. Embora a Bíblia seja, num sentido geral, literatura, tais como o são os produtos dos escritos modernos, as suas formas literárias são bastante diferentes das nossas para exigir um estudo particular. Os estilos e formas de escrita dos tempos bíblicos são diferentes do mundo ocidental moderno. Os escritores bíblicos, naturalmente, estavam cônscios disso, de modo que escolheram as palavras e formas literárias que melhor poderiam transmitir o significado pretendido. Quando o propósito era compartilhar informações de natureza histórica, a melhor forma era a narrativa, como, por exemplo, as de Paulo, Pedro e João. Vários Livros das Escrituras empregaram este gênero (de Gênesis à Ester e de Mateus a Atos). Até mesmo na linguagem profética encontramos narrativa, como por exemplo, em Jeremias 26-29; 32-45; 52; Ageu 1-2; Daniel 1-6. Vale, ainda, ressaltar que em muitas narrativas há, também, poesia (Êxodo 15; Juízes 5; 1 Samuel 2). Está claro, portanto, que existem várias formas literárias na Bíblia, cada uma com suas próprias regras de interpretação.

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EXEGESE BÍBLICA 4.6 O ABISMO ESPIRITUAL

O fato de sermos pecadores impõe limites à nossa capacidade de interpretar as Escrituras. Quem não é salvo está cego espiritualmente (2 Coríntios 4.4) e morto espiritualmente (Efésios 2.1). O apóstolo Paulo escreveu sobre isso dizendo: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém” (1 Coríntios 2.14-15). Deus, que é infinito, não pode ser plenamente compreendido pelo que é finito. As Escrituras descrevem os milagres de Deus e suas predições sobre o futuro. Ela também faz menção de verdades difíceis de ser assimiladas, por exemplo, a doutrina da Trindade, as duas naturezas de Cristo, a soberania de Deus e a vontade humana. Transpor o abismo causado pela queda é certamente o ponto de partida para a correta interpretação da Bíblia. Existem outros abismos que dificultam a compreensão da Bíblia, mas estes são suficientes para demonstrar os graves problemas que qualquer intérprete enfrenta ao buscar compreender a Palavra de Deus. Isso não nos isenta de buscarmos compreender de forma mais exata e completa a revelação que Deus fez de si mesmo. Com muita oração - o estudo dos princípios de interpretação da Bíblia e outros meios disponíveis - podemos receber iluminação do Espírito Santo de Deus para aclarar muitas passagens difíceis contida nas Escrituras, mas sua mensagem básica é suficientemente simples para qualquer individuo compreender.

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EXEGESE BÍBLICA

5 CORRELAÇÃO ENTRE HERMENÊUTICA, EXEGESE E EISEGESE

Que relação existe entre hermenêutica, exegese e eisegese? Que termos são estes difíceis de falar? Em que difere a exegese da exposição? A finalidade principal da hermenêutica bíblica é auxiliar o obreiro e a qualquer estudante da Bíblia, a usar os métodos de interpretações confiáveis, além de estabelecer os princípios fundamentais da exegese bíblica, como base para o estudo do texto na sua diversidade lingüística, cultural e histórica. Desta forma, a hermenêutica ajuda o estudante a analisar criticamente, com critérios objetivos, os métodos e resultados de um estudo ou exegese de qualquer texto das Escrituras Sagradas. A hermenêutica bíblica é a ciência e a arte de interpretar a Bíblia. Na qualidade de ciência, enuncia os princípios, investiga as leis do pensamento e da linguagem e classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina como esses princípios devem ser aplicados. Qual a relação então entre hermenêutica e exegese? A hermenêutica antecede a exegese. Esta, por sua vez, faz uso dos princípios, regras e métodos hermenêuticos em suas conclusões e investigações. De uma forma simples poderíamos dizer que a hermenêutica é a teoria e a exegese é a prática, pois esta aplica os princípios hermenêuticos para chegar a um entendimento correto do texto. A homilética é a ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o significado e a importância do texto bíblico sob forma de pregação. A pedagogia é a ciência (princípios) e arte (tarefa) de transmitir o significado e a aplicação do texto bíblico sob forma de ensino. A exegese consiste no estudo individual, e a exposição, na apresentação em público. A exegese é feita na sala de estudo, ao passo que a exposição é feita detrás

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EXEGESE BÍBLICA de um púlpito, da mesa do professor ou da plataforma. Um bom expositor é antes de qualquer coisa um bom exegeta. A exegese é, portanto, um meio que visa um fim; é um passo rumo à exposição. Ao contrário da exegese, a eisegese ocorre quando o intérprete aborda o texto com preconceitos, extraindo dele um sentido que já desejava de antemão, ou seja, significa ler no texto aquilo que ele quer encontrar ali, mas que, na realidade, não se encontra no mesmo, ou então distorce um texto para adaptá-lo às próprias idéias do intérprete. Em outras palavras, quem usa de eisegese força o texto, mediante várias manipulações, fazendo com que uma passagem diga o que na verdade não se acha ali. A eisegese usualmente ocorre quando um intérprete desconsidera uma regra de interpretação porque está em conflito com as noções preconcebidas dele. Em todos esses passos para uma frutuosa interpretação das Escrituras é indispensável a presença do Espírito Santo. A participação do Espírito Santo na interpretação das Escrituras indica várias coisas: a) Sua participação não significa que as interpretações de alguém serão infalíveis. Inerrância e infalibilidade são características peculiares dos manuscritos originais e não de seus intérpretes; b) A atuação do Espírito Santo na interpretação não quer dizer que Ele vai “revelar” um sentido “oculto”, diferente do significado normal e literal do texto; c) O novo nascimento é a demonstração da mudança dos antigos hábitos para uma nova vida em Cristo. O intérprete que esteja vivendo em pecado ou que nem mesmo se converteu é suscetível de interpretar erroneamente a Bíblia, pois seu coração e sua mente não estão em harmonia com o Espírito Santo; d) O papel do Espírito Santo na interpretação indica que a Bíblia foi dada para que todos os crentes a entendessem. Sua interpretação não pertence a uma elite minoritária de eruditos.

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EXEGESE BÍBLICA

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CRÍTICA TEXTUAL A crítica textual é o segundo passo da exegese. Sua tarefa consiste em reconstituir com maior exatidão possível o texto bíblico que poderá servir de base para a tradução e pesquisa posterior. Pode-se atribuir à crítica textual dupla finalidade: restaurar o texto danificado para chegar mais próximo da intenção do autor, e determinar a história da transmissão e do desenvolvimento do texto escrito de que temos várias formas hoje. O texto do Antigo Testamento conheceu longa história evolutiva. Aquele que se tornou o texto “oficial” pelos fins do século I de nossa era é o “texto massorético”, fruto do trabalho dos massoretas e de seus antepassados. O termo “massorá”- “tradição”, em seu sentido amplo refere-se ao texto da Bíblia Hebraica, desenvolvido e padronizado pelos massoretas, os quais adotaram o texto de sinais vocálicos, acentos e notas relacionados a detalhes textuais. O texto bíblico hebraico, desempenhado por estes estudiosos é denominado pelos eruditos de “Texto Masssorético” (TM). Em sentido estrito, o termo Massorá refere-se ao conjunto de notas escrito nas laterais e nas margens superior e inferior do texto bíblico, nos códices massoréticos medievais e nas modernas edições críticas da Bíblia Hebraica. A necessidade da crítica textual decorre do fato que o Novo Testamento foi escrito em grego e em manuscritos cujos originais desapareceram devido às constantes perseguições que a Igreja do Senhor sofreu. Entretanto, inúmeras cópias foram sucessivamente copiadas no decorrer dos séculos, de modo que chegaram até nossos dias milhares dessas cópias. Comparando essas cópias entre si, constata-se que o texto produzido nem sempre é igual. São exatamente essas diferenças existentes entre essas várias cópias que perfazem o objeto de estudo da crítica textual.

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EXEGESE BÍBLICA A árdua tarefa desta disciplina consiste em constatar as diferenças entre os diversos manuscritos que contém cópias do texto em análise e avaliar qual das variantes poderia corresponder com maior probabilidade ao texto originalmente escrito pelo autor bíblico. Os estudantes devem possuir conhecimentos básicos sobre história do texto do Novo Testamento e o valor de suas principais testemunhas. Devem ter a capacidade de utilizar tecnicamente o aparato crítico da 27ª edição do Novum Testamentum Graece de Nestle-Aland e saber aplicar as regras fundamentais das decisões da crítica textual. Para a realização da crítica textual é necessário inicialmente, ter alguma informação básica sobre os tipos de manuscritos e suas devidas variantes. Boa parte dessas informações pode ser encontrada nas introduções e nos apêndices apresentados em alemão e inglês do Novum Testamentum Graece de Nestle-Aland, e em inglês no The Greek New Testament, bem como nos manuais de crítica textual. A edição do The Greek New Testament publicado EM 1881/1882 pelos ingleses B.F.Westcott (1825-1901) e F.J.Hort (1828-1872), que se destaca pela reconstrução confiável do texto grego e por critérios metodológicos convincentes. Para a crítica textual do Novo Testamento, são importantes as distinções que Westcott-Hort estabeleceram ao investigar o parentesco entre os diferentes documentos. De acordo com seus estudos, eles concluíram que há quatro tipos principais de texto do Novo Testamento: a) O texto ocidental (representante principal: Codex Bezae D 05); b) O texto alexandrino (representantes principais: Codex Ephraemi C 04 e Codex Regius L 019); c) O texto neutro (representantes principais: Codex Sinaiticus a 01 e Codex Vaticanus B 03); d) O texto sírio (representante principal: Codex Alexandrinus A 02). O textus receptus moderno foi elaborado por Eberhard Nestle (1851-1913) com seu Novum Testamentum Graece, publicado em 1898 por incumbência da

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EXEGESE BÍBLICA sociedade bíblica de Württemberg. Nestle tomou com base para sua obra as três grades edições científicas do século XIX, a saber: Tischendorf (T), Westcott-Hort (H) e inicialmente R.E. Weymouth, em cujo lugar inseriu desde a 3ª edição (1901) a publicação de B. Weib (W). Em seu apparatus criticus, Nestle não apenas levou em conta as variantes entre H, T e W, mas também num segundo aparato, variantes de outros manuscritos do Novo Testamento. A análise dos manuscritos originais foi constantemente ampliada por seu filho, Erwin Nestle (1883-1972), e por Kurt Aland (1915-1994), co-editor desde a 21ª edição de 1952, no que se revelaram de suma importância papiros de descobertas recente. Até a 25ª edição de 1963, Nestle-Aland também pressupôs tipos textuais representados por famílias de manuscritos, entre os quais se distinguem até a atualidade quatro formas principais do texto do Novo Testamento. 6.1 O TEXTO NEUTRO (OU ALEXANDRINO, RESPECTIVAMENTE HESIQUIANO)

Esse tipo textual representado, sobretudo pelos manuscritos maiúsculos a 01, A 02, B 03, C 04, (A e C, porém não abarcam os evangelhos) e relevantes papiros (por exemplo P66, P75 para os evangelhos, P46 para as cartas de Paulo), é designado de “neutro” porque Westcott-Hort o consideravam texto não-revisado. Foi chamado de “alexandrino”, porque também é apresentado pelos pais alexandrinos Clemente, Orígenes, Dionísio e Cirilo de Alexandria. Por meio de W. Bousset foi introduzida a designação de texto “hesequiano”, porque relacionou com esse tipo textual o bispo Hesíquio de Alexandria, mencionado por Jerônimo. Por influencia do texto Koiné, o texto alexandrino desenvolveu-se durante os séculos para formar o texto egípcio.

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EXEGESE BÍBLICA

TESTEMUNHAS Segundo os tipos de manuscritos

Papiros: P1, P3, P6, P8 (parcial), P10, P11, P13, P14, P15, P16, P18, P20, P23, P26, P27, P28, P31, P32, P33, P34, P35 (parcial), P36 (parcial), P39, P40, P43, P44, P45 (parcial), P46, P47, P49, P50, P51 (parcial), P52, P54, P55, P56, P57, P58, P59, P60, P61, P62, P65, P67, P71, P72, P74, P75.

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Proto-alexandrinos: P45(em Atos), P45, P66, P75, a, B, cosa (parcial), Clemente de Alexandria, Orígenes (parcial), Dionísio e Cirilo de Alexandria e a maior parte dos fragmentos em papiros que contêm as epístolas paulinas. Alexandrinos posteriores: Evangelhos: (C), L, T, W (em Lucas 1.1-8.12 e João), (X), Z, ) (em Marcos), X, Q (em Marcos; parcialmente em Lucas e João), 33, 579, 892, 1241 e copbo. Atos: P50, A, (C), Q, 33, 81, 104 e 326.

Unciais: a, A (com exceção dos evangelhos), B, (C) H, I, L, T, W, Z, ), e Q.

Epístolas Paulinas: A, (C), H, I, Q, 33, 81, 104, 326 3 1739.

Cursivos: 33, 579, 892, 1241, 3052 e 2344.

Apocalipse: A, (C), 1006, 1611, 1854, 2053, 2344 e em P47 e a com qualidade inferior.

Epístolas Católicas: P20, P23, A, (C), Q, 33, 81, 104, 326, 1739.

Versões: co, it (parcial) e sy (parcial).1 Pais da Igreja: Atanásio, Orígenes, Hesíquio, Cirilo de Alexandria, Cosmos Indicopleustes (parcial).

6.2 TEXTO OCIDENTAL

Como já sugere o nome, esse tipo textual está documentado principalmente na região ocidental do Mediterrâneo. Pode-se classificá-lo como o tipo de texto mais “liberal”. Seus ancestrais e formas colaterais deixaram vestígios até o século III e IV, sendo atestado pelos códices D, W (para Marcos 1.1-5), P38, P48, pelas antigas versões latinas e pelos autores eclesiásticos latinos. Quando comparado com os demais, caracteriza-se pelo emprego de muitas paráfrases (sobretudo na versão D), por acréscimos em forma de esclarecimentos, pela harmonização entre os textos si-

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EXEGESE BÍBLICA nóticos, mas também por omissões. Em D, o texto dos Atos resulta quase 10% mais longo que nos outros manuscritos. É denominado de “ocidental” por encontrar-se fortemente presente nos códices latinos e nos pais ocidentais da Igreja. TESTEMUNHAS Segundo os tipos de manuscritos

Papiros: P5, P8 (parcial), P19, P25, P27, P29, P35 , P36 (parcial), P38, P41, P48.

(parcial)

Unciais: D, W (nos evangelhos), E, F e G nas epístolas. Versões: it, sy (parcial) e etiópica. Pais da Igreja: O grupo inteiro dos pais latinos/ocidentais, e os pais sírios até cerca de 450 d.C.; também alguns pais gregos, pelo menos em parte, como Irineu, Taciano, Clemente de Alexandria, Eusébio, Orígenes (parcial), Marcião, Hipólito, Tertuliano, Cipriano, Ambrósio, Agostinho, Jerônimo e Pelágio.

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Evangelhos: D, W (em Marcos 1.1 – 5.30), 0171, a versão latina antiga, sys e syc (parcial), os primeiros pais latinos e o Diatessaron de Taciano. Atos: P29, P38, P48, D, E, 383, 614, 1739, syhmg, sypms, copg67, primeiros pais latinos, Efraim. Epístolas: D, F, G, pais gregos até o fim do século III, manuscritos da versão latina antiga, primeiros pais latinos, pais sírios até cerca de 450 d.C.

6.3 TEXTO DE CESARÉIA

A designação texto de Cesaréia explica-se a partir da suposição de B. H. Streeter de que Orígenes teria utilizado esse texto após sua mudança de Alexandria para Cesaréia, e de que ali também surgiu essa forma. Em termos de qualidade, situa-se entre o ocidental e o alexandrino. Na pesquisa há controvérsia quanto à existência deste tipo de texto fora de Marcos 5.31-16.20 e também quanto aos manuscritos específicos que o representam.

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EXEGESE BÍBLICA TESTEMUNHAS Segundo os tipos de manuscritos

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Papiros: P37, P45 (parcial) Unciais: Y, W (em Marcos 5.31-16.20), O. Cursivos: família 1 (ƒ1), família 13 (ƒ13).

A maior evidência para este tipo de texto é encontrada no Evangelho de Marcos.

Versões: geórgica, armênia e alguns manuscritos da sy.

6.4 TEXTO BIZANTINO OU KOINÉ O tipo textual bizantino, ao qual pertencem quase todos os manuscritos a partir do século VI e VII, é bastante unitário e apresenta homogeneização literária, elegância nas expressões, modificações estilísticas. É o resultado de um processo de recensão efetuada pelo presbítero Luciano em Antioquia, falecido em princípios do século IV, concluído em Bizâncio, onde se difundiu por todo império. É o texto representado pela maioria dos unciais posteriores e pela grande maioria dos minúsculos. Caracteriza-se principalmente, pela harmonização de passagens entre os evangelhos e pelo polimento da linguagem. Os principais manuscritos deste tipo são A (evangelhos), E, F, G, H, K, entre outros.

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EXEGESE BÍBLICA

TESTEMUNHAS Segundo os tipos de manuscritos

Segundo a representatividade nos escritos do Novo Testamento

Papiros: P42, P68

Evangelhos: A, E, F, G, H, K, P, S, V, W, (em Mateus e Lucas 8.13-24.53), P, Q (em Lucas e João), W e a maioria dos minúsculos.

Unciais: a maioria editada após o século V.

Atos: H, L, P, 049 e a maioria dos minúsculos.

Cursivos: a maioria.

Epístolas: L, 049 e a maioria dos minúsculos.

Versões: eslavônica e peshita.

Apocalipse: 046, 051, 052 e a maioria dos minúsculos.

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EXEGESE BÍBLICA

7 TIPOS DE ALTERAÇÕES EFETUADAS PELOS COPISTAS Pelo fato ainda não possuirmos as introduções e os apêndices de ambas as edições em português, apresentamos a seguir uma síntese das principais informações. As variantes entre os manuscritos geralmente podem ser explicadas de duas maneiras: elas originaram-se de alterações involuntárias ou intencionais. As alterações involuntárias compreendem todas as modificações não intencionais provocadas no texto. Dentre elas podemos destacar: a) Equívocos visuais - devido à semelhança que existe entre algumas letras do alfabeto grego, os copistas, involuntariamente trocavam algumas palavras. Por exemplo, em Romanos 6.5 a conjunção adversativa alla (“mas, porém”) foi confundida por alguns copistas com o advérbio ama (ao mesmo tempo). De fato, os dois termos são muito parecidos em escrita continua maiúscula: ADDA e AMA! b) Equívocos auditivos - algumas vezes os textos eram ditados para os copistas, que involuntariamente trocavam uma mesma pronuncia grega para vogais com ditongos diferentes. Por exemplo, em (1 Coríntios 15.54), ao invés da palavra “tragada foi a morte na vitória” alguns manuscritos apresentam o texto: “tragada foi a morte no conflito”. Caso semelhante ocorre em (1 Coríntios 13.3), onde, ao invés de “entrego meu corpo para gloriar-me”, certos manuscritos escreveram: “entrego meu corpo para queimar”.

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EXEGESE BÍBLICA c) Equívocos mentais - a mente exerce grande influência na composição do texto, se a mente do copista não estava em condições adequadas, conseqüentemente a substituição podem ocorrer omissões e inversões de palavras. Por exemplo, em (Marcos 1.4), o texto diz: “e veio João, o Batista, no deserto e pregava arrependimento...” foi modificado para “e veio João no deserto, batizando e pregando arrependimento...”. As alterações intencionais compreendem todas aquelas que os copistas efetuaram conscientemente nos textos. Como exemplo, citamos: a) Harmonizações - ocorrem, sobretudo, entre textos dos evangelhos sinóticos. Quando as diferenças entre os textos dos evangelhos não eram consideráveis, costumava-se harmonizar seu conteúdo. No aparato Nestle-Aland, as harmonizações vêm assinaladas pela anteposição da sigla p. Em (Marcos 2.16), por exemplo, alguns manuscritos lêem: “por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?”, ao invés de “por que come e bebe ele com publicanos e pecadores?”. A leitura com os verbos na segunda pessoa do plural é claramente uma harmonização com o texto de (Lucas 5.30). b Correções de ortografia, gramática e estilo - em (Marcos 1. 12) alguns manuscritos apresentam “foi conduzido ao deserto” (com dativo), enquanto que outros escrevem com acusativo: “foi conduzido para o deserto”. c) Correções explicativas ou doutrinárias - alguns manuscritos procederam a uma correção doutrinária em (Lucas 1.3.) ao texto “a mim também pareceu conveniente... escrever-te” acrescentam uma referência ao Espírito Santo, ficando a leitura assim: “a mim e ao Espírito Santo também pareceu conveniente... escrever”. Com este acréscimo, os copistas podiam dar a entender que o evangelho foi escrito por Lucas divinamente inspirado. Outra correção doutrinária pode-se verificar em (Mateus 24.36): “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu nem o Filho, mas só o Pai”. Alguns manuscritos apresentam este versículo sem a referência ao Filho, para que o texto conflitasse com a onisciência de Jesus. d) Acréscimos com complementos naturais e interpolações de notas

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EXEGESE BÍBLICA marginais - em (Mateus 27.41), por exemplo, alguns manuscritos acrescentam “fariseus” após a menção dos “escribas”, ficando o texto assim: “Do mesmo modo, também os chefes dos sacerdotes, juntamente com os escribas, fariseus e anciãos, caçoavam dele”. e) Correções geográficas e históricas - em (Mateus 23.35), a omissão de “filho de Baraquias” no códice sinaítico (a) pode-se explicar pelo fato de esta informação contradizer (2 Crônicas 24.20), em que Zacarias é apresentado como sendo o filho de Joiada. Em (João 1.28), Orígenes e vários manuscritos testemunharam, ao invés de “Betânia”, a palavra “Betabara”. Esta modificação visava corrigir um eventual erro geográfico, pois, a localidade de “Betânia”, referida ainda em (João 11.18), não ficava “do outro lado do Jordão”, mas próximo de Jerusalém. O estudo comparativo dos numerosos manuscritos levou à descoberta de alguns tipos específicos de texto, que se caracterizam, sobretudo, por apresentarem tendências homogêneas na transmissão do texto, e por decorrerem em regra de conferências feitas em centros expressivos de difusão do cristianismo.

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EXEGESE BÍBLICA

8 CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DAS VARIANTES Quando os manuscritos apresentam leituras diferenciadas para um mesmo texto, a função da crítica textual é avaliar qual dessas leituras deve remontar com maior probabilidade ao texto mais próximo dos autógrafos (originais). Essa tarefa de avaliação emprega dois tipos de critérios: os externos e os internos. 8.1 CRITÉRIOS EXTERNOS

Por meio dos critérios externos, se avalia, sobretudo, a quantidade de testemunhas que apóiam uma variante, a menor ou maior abrangência geográfica desses manuscritos, o tipo de texto ao qual pertencem a sua datação.13 Os critérios que regem a avaliação destes dados são: a) Os manuscritos mais antigos devem ser preferidos, incluídas as versões; b) Entre os manuscritos mais recentes, devem ser preferidos aqueles que podem remontar a um original antigo. O decisivo, em manuscrito recente, não é, pois a sua própria idade, mas a antiguidade do texto que lhe serviu de base; c) A qualidade dos manuscritos que reproduzem uma variante deve predominar sobre a mera quantidade. O testemunho de muitos manuscritos em favor de uma variante pode ser de pouco significado se estes manuscritos são de data recente ou se pertencem a tipos de textos que não o alexandrino; 13. Como subsídios para a aplicação desses critérios destacamos as tabelas apresentadas por R.N. Champlim, O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, que incluem informações sobre data, conteúdo e tipos de textos escritos.

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EXEGESE BÍBLICA d) Variantes cujos manuscritos atestem ampla expansão geográfica devem ser preferidas àquelas originadas em um mesmo local. Assim, uma variante apoiada por manuscritos de Alexandria, Cesaréia e Roma leva vantagem sobre outra testemunha somente por manuscrito do Ocidente; e) Variantes testemunhadas pelo tipo de texto alexandrino devem ser preferidas às demais, sobretudo por sua neutralidade estilística e sua brevidade. 8.2 CRITÉRIOS INTERNOS

Estes critérios originam-se de considerações sobre leis amplamente reconhecidas que regem a transmissão de manuscritos, bem como de observações a serem feitas nos próprios escritos em que se encontram as variantes. Os critérios internos mais comuns recomendam priorizar: a) As leituras difíceis, desde que não sejam decorrentes de erros de audição ou visão. Os copistas comumente procuram facilitar, não dificultar a leitura; b) As leituras mais breves. A tendência de transmissão de textos sagrados está antes, no sentido de ampliá-lo do que de suprimir algumas de suas partes; c) As leituras que não estejam harmonizadas com textos paralelos. A tendência dos copistas está na direção de harmonizar os textos dos evangelhos, ou as citações encontradas nos evangelhos com o texto da Septuaginta; d) Texto de linguagem mais rudimentar, em detrimento daqueles, com aperfeiçoamento estilístico; e) As variantes que melhor reflitam as características teológicas e estilísticas próprias do autor da passagem em estudo; f) A variante que melhor consiga explicar a origem das demais.

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EXEGESE BÍBLICA

AVALIAÇÃO EXEGESE Nome: _________________________________________Data ____/_____/_________

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O termo “exegese” é um vocábulo que nos foi dado por qual idioma? Exegese significa literalmente? O que é necessário para uma compreensão exata das Escrituras? Entre os escritos judaicos da antiguidade podemos encontrar alguns métodos de interpretar as Escrituras, sendo os principais? 5. Os mais proeminentes intérpretes judeus da forma alegórica foram? 6. Quem foi o maior dos intérpretes alegóricos do cristianismo primitivo? 7. Os rabinos também acreditam, em outra Lei, conhecida como? 8. O que significa o termo hebraico “sofrim”? 9. Como se chamam aqueles judeus que estudam, repetindo e passando adiante o que aprenderam de seus mestres? 10. A escola exegética extremamente literal era de qual rabino? 11. Qual escola interpretativa busca reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras fazendo uma correspondência entre pessoas e acontecimentos do passado e do presente e do futuro? 12. O que pesa contra o método fundamentalista de interpretação? 13. Porque as finalidades a serem perseguidas pela interpretação bíblica são de grande importância? 14. A redação da Bíblia Sagrada, totalizando 66 livros, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento, foi escrita num período de quantos anos e quantos autores? 15. Quando e por quem foram escritos os cinco primeiros Livros do Antigo Testamento e o último do Novo Testamento? 16. Qual o nome da ciência que busca descobrir quais textos são originais? 17. Qual é o nome que se dá à ciência e à arte de interpretar a Bíblia? 18. O termo “massorá”- tradição, em seu sentido amplo, refere-se ao texto da Bíblia?

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EXEGESE BÍBLICA 19. Devido à semelhança que existem entre algumas letras do alfabeto grego, os copistas, involuntariamente trocavam algumas palavras. Como é chamado esse equívoco? 20. Qual é a função da crítica textual, quando os manuscritos apresentam leituras diferenciadas para um mesmo texto?

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EXEGESE BÍBLICA

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