Sesc Parque Dom Pedro II: transições culturais da cenografia à arquitetura Sesc Parque Dom Pedro II: cultural transitions from scenography to architecture
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As fundações de um trabalho multidirecional The foundations of multidirectional work — Danilo Santos de Miranda
Várzea, parque, viadutos: a história do Parque Dom Pedro II Dale, park, overpass: the history of Dom Pedro II Park — Vanessa Ribeiro Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II Dom Pedro II Park’s Urban Planning — Regina Meyer
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Cronologia Chronology
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Memórias e conexões afetivas da Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II Memories and affective connections of the Parque Dom Pedro II Sesc Occupation — Dóris Sathler de Souza Larizzatti
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Montagens e espaços Assemblies and spaces
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São Paulo Delgada, a impermanência e a vida por uma arquitetura efêmera Slender São Paulo, impermanence and life by an ephemeral architecture — Coletivo Leve – Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espinola A gestão de um espaço em transitoriedade The management of a transitory space — Simone Engbruch Avancini Silva
Programação: um olhar de dentro e de perto Schedule: a close look, from the inside — Laudo Bonifácio Junior Ações programáticas Programmatic actions
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O projeto arquitetônico do Sesc Parque Dom Pedro II Sesc Parque Dom Pedro II’s architectural project — UNA Arquitetos — Fernanda Barbara e Fábio Valentim
As fundações de um trabalho multidirecional Danilo Santos de Miranda, Diretor do Sesc São Paulo
São múltiplas as possibilidades de tornar concreta a missão do Sesc, qual seja, de proporcionar bem-estar e melhoria da qualidade de vida das pessoas, em especial dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e seus familiares. Ao longo de mais de 75 anos, a instituição experimentou caminhos que variaram de acordo com as necessidades e potencialidades de cada época e lugar. Em alguns casos, a ação institucional está calcada no território e efetiva-se no espaço circunscrito de um centro cultural e desportivo. Em outros, é espraiada e se dá com a publicação de livros, transmissões via internet e com a coleta e distribuição de alimentos que complementam a refeição de crianças, jovens, adultos e idosos em situação de vulnerabilidade. A pandemia e as políticas de distanciamento social têm dado maior visibilidade às estratégias que adotamos para alcançar as pessoas onde quer que elas estejam. Ainda assim, arriscamos dizer que é principalmente por meio do trabalho realizado nas estruturas que convencionamos chamar de “unidades operacionais” que a instituição é identificada e reconhecida socialmente. “Sesc” tornou-se quase sinônimo do equipamento que dá suporte à sua ação. Muita gente que ouve falar em “Sesc” imagina, antes de qualquer coisa, instalações com piscina, quadra poliesportiva, restaurante, consultórios
odontológicos, teatro, biblioteca, espaço expositivo, salas para bebês e crianças. A metonímia revela a intensidade da atuação concentrada e, ao mesmo tempo, o impacto na vida das pessoas e das cidades da presença de um centro polivalente, em regiões muitas vezes desprovidas de áreas de convivência. Entretanto, a consciência de que o mais importante é a proposta socioeducativa, que independe de espaços pré-determinados, nos estimulou a trabalhar com o conceito de “unidades provisórias”. Essas ocupações de caráter transitório, em estruturas físicas ainda rudimentares, marcam o advento da instituição em um novo bairro ou cidade, essencialmente por meio da exposição de nossos princípios basilares: acolhimento dos públicos, diálogo com o entorno e atividades curadas e acompanhadas por uma rede qualificada de profissionais. Dizendo de outra forma, é como se no período que antecede a inauguração da unidade operacional, estivessem sendo estabelecidas as próprias fundações sobre as quais, posteriormente, será erguida a edificação. É, também, uma maneira do próprio Sesc ambientar-se à localidade, conhecendo a vizinhança, os seus moradores, trabalhadores e visitantes. Em 28 de maio de 2015, assinamos o documento no qual a Prefeitura de São Paulo concede ao Sesc, por 99 anos, o terreno de 9 mil metros quadrados situado na confluência da avenida do
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Estado, avenida Mercúrio e praça São Vito, no centro da capital. Poucos dias depois, abrimos as portas da Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II para receber o público durante a Virada Cultural. Era o primeiro indício do nosso desejo profundo e urgente de conexão com a cidade. Desde então, em uma área marcada por intensa circulação de pessoas, que se constitui como entreposto comercial e entroncamento viário, nosso esforço tem sido o de criar um espaço e um tempo de respiro, que propiciem aos frequentadores desenvolvimento pessoal e reforcem os laços comunitários. Para o Sesc, modos de fazer são tão importantes quanto aquilo que se faz. No intuito de registrar as memórias e dar visibilidade a uma experiência que consideramos bem-sucedida, o presente material reúne textos e imagens sobre as estratégias, os dilemas e as realizações do Sesc Parque Dom Pedro II no período de 2015 a 2021. Fechar as portas para início das obras constitui um desafio quase tão grande quanto o de sua inauguração. A interrupção, mesmo que temporária, das atividades pode trazer uma estranha sensação de vazio e saudade. Esperamos, contudo, que, ao evidenciar alguns dos alicerces do trabalho institucional, esta publicação possa contribuir para manter firmes os vínculos com as pessoas até o momento de reabertura, e para além dele.
na página anterior Vista aérea, em 1º de fevereiro de 2019. Foto: Acervo Sesc
on previous page Aerial view of the temporary unit, on February 1, 2019. Photo: Sesc Collection
The foundations of multidirectional work Danilo Santos de Miranda, Director of Sesc São Paulo
There are many ways to turn Sesc’s mission into reality, that is, to provide well-being and improve the quality of life of people, especially workers in the trade in goods, services and tourism and their families. Over more than 70 years, the institution has experimented with paths that vary according to the needs and potential of each time and place. In some cases, institutional action is based on the territory and takes place in the circumscribed space of a cultural and sports center. In others, it is spread out and happens with the publication of books, Internet broadcasts and the collection and distribution of food that complements the meals of children, young people, adults and elderly people in situations of vulnerability. The pandemic and social distancing policies have given greater visibility to the strategies we adopt to reach people wherever they are. Even so, we venture to say that it is mainly through the work carried out in the structures that we have come to call “operational units” that the institution is identified and socially recognized. “Sesc” has become almost synonymous with the equipment that supports its action. Many people who hear about “Sesc” imagine, before anything else, facilities with a swimming pool, sports court, restaurant, dental offices, theater, library, exhibition space, rooms for babies and children. Metonymy reveals the intensity of concentrated action and, at the same time,
the impact on people’s and cities’ lives of the presence of a multipurpose center, in regions that often lack coexistence areas. However, the awareness that the most important is the socio-educational proposal, which does not depend on predetermined spaces, encouraged us to work with the concept of “temporary units”. These transitory occupations, in still rudimentary physical structures, mark the institution’s advent in a new neighborhood or city, essentially through the exposition of our basic principles: public reception, dialogue with the surroundings and activities thought out and accompanied by a network of qualified professionals. In other words, it is as if in the period prior to the inauguration of the operational unit, the foundations on which the building will later be built were being established. It is also a way for Sesc itself to get acquainted with the location, getting to know the neighborhood, its residents, workers and visitors. On May 28, 2015, we signed the document in which the City Hall of São Paulo grants Sesc, for 99 years, the 9,000 square meter land located at the confluence of Estado Avenue, Mercúrio Street and São Vito Square, in the center of capital. A few days later, we opened the doors of the Occupation Sesc Parque Dom Pedro II to receive the public during the Virada Cultural event. It was the first indication of our deep and urgent desire to connect with the city. Since then, in an
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area marked by the intense movement of people, which constitutes a commercial warehouse and a road junction, our effort has been to create a space and time for leisure, which provides visitors with personal development and strengthens community ties. For Sesc, ways of doing things are as important as what you do. To register memories and give visibility to an experience that we consider successful, this material brings together texts and images on the strategies, dilemmas and achievements of Sesc Parque Dom Pedro II from 2015 to 2021. Closing the doors to begin the works is a challenge almost as big as the one for its inauguration. Interruption, even if temporary, of activities can bring a strange feeling of emptiness and longing. We hope, however, that by highlighting some of the foundations of institutional work, this publication can help to maintain strong bonds with people until the moment of reopening, and beyond.
Várzea, parque, viadutos: a história do Parque Dom Pedro II Vanessa Ribeiro, Historiadora
Hoje, quando se lê ou escuta uma notícia sobre o Parque Dom Pedro II, certamente a imagem que figura em nosso imaginário é associada aos meios de transporte que por lá circulam: os ônibus que partem do terminal urbano mais movimentado da capital; os trens do metrô que cruzam a estação homônima, da Linha Vermelha, ponto de maior estrangulamento de passageiros por vagão, entre as sempre movimentadas estações do Brás e da Sé; as fileiras de carros, motos, caminhões e ônibus parados no trânsito caótico dos viadutos, que se sobrepõem às copas das árvores centenárias que resistem; e mesmo os ônibus articulados que, solitários, parecem cruzar o céu através do sistema de transporte que revolucionaria o acesso às áreas centrais da cidade, o Expresso Tiradentes. Em meio a tanta fumaça, buzinas e multidões, são poucos os que se lembram de que há um parque nesse cenário de caos urbano. Há um parque? Sim! Que já teve direito a coreto, casa de banhos, bancos e até parque de diversões, com montanha-russa, carrinhos de bate-bate e joão-minhoca. É o saudoso Parque Shanghai, ali instalado em 1945, e que além dessas atrações organizava festas com artistas ilustres como Ataulfo Alves, Grande Otelo e Adoniran Barbosa. A região do Parque Dom Pedro II corresponde à antiga Várzea do Carmo, uma porção charcosa de terras do rio
Tamanduateí, localizada entre o núcleo antigo da cidade e o bairro do Brás. Desde o final do século XVIII começaram a ser implantados projetos que visavam o saneamento e o embelezamento dessa região, em um esforço que culminaria com a construção de um parque urbano dedicado aos moradores dos bairros operários do Brás e da Mooca, em sua maioria imigrantes. A transformação do incômodo atributo natural em um grande e encantador parque, como prescrito por um paisagista francês, pode ser apontada como a maior iniciativa tomada pelo poder público para eliminar os males causados à saúde física e moral dos habitantes do núcleo central da cidade. As constantes cheias do rio Tamanduateí; a presença de lavadeiras que, ao pôr para quarar seus lençóis brancos na beira do rio, atraíam os olhares dos estudantes da Faculdade de Direito e de homens ilustres da capital; os banhos em pele de Adão – expressão usada para a prática de banhos nus, que gerava inúmeras reclamações nas atas da Câmara Municipal – mais a sujeira de dejetos despejados no rio eram alvos de queixas frequentes nas páginas dos jornais – e foi isso o que despertou a atenção do poder público para esse logradouro, que urgia ser saneado. O saneamento da várzea era desejado tanto do ponto de vista da saúde pública, em razão das teorias sanitárias que
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area marked by the intense movement of people, which constitutes a commercial warehouse and a road junction, our effort has been to create a space and time for leisure, which provides visitors with personal development and strengthens community ties. For Sesc, ways of doing things are as important as what you do. To register memories and give visibility to an experience that we consider successful, this material brings together texts and images on the strategies, dilemmas and achievements of Sesc Parque Dom Pedro II from 2015 to 2021. Closing the doors to begin the works is a challenge almost as big as the one for its inauguration. Interruption, even if temporary, of activities can bring a strange feeling of emptiness and longing. We hope, however, that by highlighting some of the foundations of institutional work, this publication can help to maintain strong bonds with people until the moment of reopening, and beyond.
Várzea, parque, viadutos: a história do Parque Dom Pedro II Vanessa Ribeiro, Historiadora
Hoje, quando se lê ou escuta uma notícia sobre o Parque Dom Pedro II, certamente a imagem que figura em nosso imaginário é associada aos meios de transporte que por lá circulam: os ônibus que partem do terminal urbano mais movimentado da capital; os trens do metrô que cruzam a estação homônima, da Linha Vermelha, ponto de maior estrangulamento de passageiros por vagão, entre as sempre movimentadas estações do Brás e da Sé; as fileiras de carros, motos, caminhões e ônibus parados no trânsito caótico dos viadutos, que se sobrepõem às copas das árvores centenárias que resistem; e mesmo os ônibus articulados que, solitários, parecem cruzar o céu através do sistema de transporte que revolucionaria o acesso às áreas centrais da cidade, o Expresso Tiradentes. Em meio a tanta fumaça, buzinas e multidões, são poucos os que se lembram de que há um parque nesse cenário de caos urbano. Há um parque? Sim! Que já teve direito a coreto, casa de banhos, bancos e até parque de diversões, com montanha-russa, carrinhos de bate-bate e joão-minhoca. É o saudoso Parque Shanghai, ali instalado em 1945, e que além dessas atrações organizava festas com artistas ilustres como Ataulfo Alves, Grande Otelo e Adoniran Barbosa. A região do Parque Dom Pedro II corresponde à antiga Várzea do Carmo, uma porção charcosa de terras do rio
Tamanduateí, localizada entre o núcleo antigo da cidade e o bairro do Brás. Desde o final do século XVIII começaram a ser implantados projetos que visavam o saneamento e o embelezamento dessa região, em um esforço que culminaria com a construção de um parque urbano dedicado aos moradores dos bairros operários do Brás e da Mooca, em sua maioria imigrantes. A transformação do incômodo atributo natural em um grande e encantador parque, como prescrito por um paisagista francês, pode ser apontada como a maior iniciativa tomada pelo poder público para eliminar os males causados à saúde física e moral dos habitantes do núcleo central da cidade. As constantes cheias do rio Tamanduateí; a presença de lavadeiras que, ao pôr para quarar seus lençóis brancos na beira do rio, atraíam os olhares dos estudantes da Faculdade de Direito e de homens ilustres da capital; os banhos em pele de Adão – expressão usada para a prática de banhos nus, que gerava inúmeras reclamações nas atas da Câmara Municipal – mais a sujeira de dejetos despejados no rio eram alvos de queixas frequentes nas páginas dos jornais – e foi isso o que despertou a atenção do poder público para esse logradouro, que urgia ser saneado. O saneamento da várzea era desejado tanto do ponto de vista da saúde pública, em razão das teorias sanitárias que
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O Parque Dom Pedro II em cartão postal da década de 1920. Foto: Coleção particular de Apparecido Salatini
Dom Pedro II Park in 1920’s postcard. Photo: Apparecido Salatini Private Collection
entendiam locais úmidos como vetores potenciais de doenças, como também do ponto de vista moral, com a substituição de hábitos tidos como coloniais e que não mais se adequavam ao espírito republicano, entusiasta das novas práticas citadinas. A partir dessa ótica o prefeito Raimundo Duprat (1911-1914) convida o engenheiro-paisagista francês Joseph-Antoine Bouvard, responsável pelas reformas de Paris e pela criação dos pavilhões da Exposição Universal de 1889 na capital francesa, para avaliar os planos de melhoramentos para cidade. Bouvard prescreve a construção de um parque urbano semelhante ao projeto que havia implantado na capital argentina, Buenos Aires. A aprovação da construção do parque ocorreu apenas na gestão seguinte, quando Washington Luís estava à frente da Prefeitura (1914-1918). Porém, em função da grave epidemia de gripe que assolou a cidade no ano de 1918, as obras foram interrompidas por um longo período e o parque foi entregue à municipalidade sem a conclusão do ajardinamento, já na gestão posterior, de Firmiano de Morais Pinto (1920-1926). Em 1921, ratificou-se a denominação de Parque Dom Pedro II, de acordo com a lei municipal n° 2360, provavelmente como parte das celebrações que marcaram o centenário da Independência, no ano seguinte. O Parque Dom Pedro II teve seu auge nas décadas de 1920 e 1930, quando era intensamente frequentado. Em seu interior, havia áreas ajardinadas ao largo do canal do Tamanduateí, equipadas com coretos, cujo mais famoso era denominado Ilha dos Amores, às margens da rua 25 de Março. Esculturas eram dispostas ao largo de sua extensão, dentre as quais: um leão de mármore que hoje figura no Parque do Ibirapuera; uma escultura de bronze de autoria de Caetano Fracarolli intitulada O Semeador, removida para praça Apecatu, na zona oeste da cidade; e o imponente monumento de mármore feito por Ettore
Ximenes em homenagem à Amizade Sírio-Libanesa, em frente ao Palácio das Indústrias, ofertado por essa comunidade de comerciantes ao poder público municipal. Atualmente esse monumento encontra-se na praça Ragueb Chohfi, ao pé da Ladeira General Carneiro. O Palácio das Indústrias foi a primeira edificação pública de grande porte instalada na Várzea do Carmo. Construído no período de 1911 a 1924, foi projetado pelo arquiteto italiano Domiziano Rossi (1865-1920), contratado pelo escritório de arquitetura de Ramos de Azevedo. Provavelmente, esse edifício eclético, projetado para abrigar as exposições das indústrias de São Paulo, teve como referência o Castello Mackenzie, uma residência de luxo burguesa construída na cidade italiana de Gênova. A construção de um palácio em uma várzea que fora transformada em parque é emblemática do processo de dominação da natureza pelo poder público, seja em razão de sua técnica construtiva monumental, de seus elementos arquitetônicos (sobretudo as alegorias do progresso, do comércio, da indústria, da agricultura e da pecuária), seja por sua funcionalidade. Também havia um parque infantil no Parque Dom Pedro II, inaugurado nos primeiros anos da gestão do prefeito Fábio Prado (1934-1938). Tratava-se de um espaço que pode ser compreendido como precursor das creches e da ideia de escola em tempo integral, isto é, um espaço de complemento à educação tradicional oferecida nas escolas da rede normal de ensino, que tinha a função de “colaborar na obra de preservação e previsão social, contribuindo para educação higiênica das crianças” (NIEMEYER, 2002, p. 108). No período diurno o parque infantil era frequentado por crianças com idades de três a doze anos, que praticavam atividades físicas supervisionados pela direção geral do parque, exercida por um higienista ou educador sanitário, auxiliado por uma comissão de técnicos formada
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São Paulo vista do Parque, em cartão postal da década de 1940. Foto: Editora Foto Postal Colombo. Coleção particular Apparecido Salatini
São Paulo seen from the Park in 1940’s postcard. Photo: Editora Foto Postal Colombo. Apparecido Salatini Private Collection
por representantes do Serviço Sanitário do Estado de São Paulo, da Diretoria Estadual de Ensino, do Departamento Estadual de Educação Física, do Instituto de Higiene do Estado, contando ainda com um professor de Biologia Educacional do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo e um representante da Associação de Assistência à Infância. Já no período noturno o parque recebia jovens com até 21 anos de idade. Sabe-se que no ano de 1938 o Parque Infantil Dom Pedro II registrou uma afluência diária, no período noturno, de trezentos jovens trabalhadores, que para lá se dirigiam em seu tempo livre em busca de lazer. Em função disso esse espaço também ficou conhecido como Clube de Menores Operários e Centro de Moças (NIEMEYER, 2002, p. 108). Mas, se era um espaço da cidade tão amplamente frequentado, o que explica a sua desestruturação? Essa pergunta pode ser respondida quando buscamos compreender as diferentes imagens criadas acerca desse logradouro ao longo do tempo e as transformações ocorridas na cidade, especificamente aqui, na área ocupada pelo parque público, entendida como um campo em que atuam agentes com forças e visibilidade desiguais: frequentadores do parque, moradores dos bairros fabris, transeuntes, poder público e imprensa. Desde a primeira versão do Plano Municipal de Avenidas (1924-1930), elaborado pelos engenheiros Ulhoa Cintra e Francisco Prestes Maia, já havia uma série de propostas de intervenção na área do Parque Dom Pedro II, tais como: o alargamento do sistema viário nos três eixos correspondentes aos antigos aterros (da Mooca ou Tabatinguera, do Carmo e do Gasômetro) e sua transformação em avenidas radiais; o alargamento de todo o sistema viário perimetral ao parque e a intervenção nas duas praças semicirculares que ligavam o parque à Ladeira General Carneiro. Porém, as primeiras obras do Perímetro de Irradiação iniciam-se apenas
na gestão de Prestes Maia como prefeito (1939-1945), quando ocorrem as primeiras alterações no parque, a saber: o alargamento da avenida Rangel Pestana e da rua Santa Rosa, atravessando o parque (atual avenida Mercúrio); a subtração de área junto ao Palácio das Indústrias para ampliação do sistema viário e a construção de uma ponte com 40 metros de largura sobre o Rio Tamanduateí, no prolongamento da Avenida Mercúrio, ao lado do Mercado Municipal (NAVARRO, 2011, p. 47). Nas décadas de 1940 e 1950 os cartões-postais que registram o Parque Dom Pedro II circularam intensamente. Entretanto, é importante notar que, ao contrário dos postais produzidos nas décadas anteriores, em que se privilegiavam os elementos do parque como coretos e canais ajardinados, nesses o parque se torna uma moldura para os arranha-céus, colocados no centro das imagens. As árvores do parque e o espelho d’água do Palácio das Indústrias (atual Museu Catavento) circundam os edifícios Martinelli, Altino Arantes (Banespa, atual Farol Santander) e do Banco do Brasil, ícones do progresso que alcançara a cidade, que se consolidava como a capital financeira do país. De espaço privilegiado para a convivência, prática de esportes e educação de crianças e jovens, sobretudo estrangeiros e seus filhos (italianos, portugueses, espanhóis e outros), o parque se torna um ornamento da metrópole, sintetizada na figura dos arranha-céus. Essa função ornamental, assumida já nos primeiros anos da década de 1940, permitiria sua desestruturação em prol da lógica de circulação de mercadorias e pessoas, imposta com uma série de intervenções pelo poder público que priorizaram a construção de vias e avenidas em detrimento das áreas do parque, que pouco a pouco passam a ser sufocadas por asfalto, fumaça e viadutos.
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Joguinho no Parque Infantil Dom Pedro II Foto: B.J. Duarte. Acervo fotográfico Museu da Cidade de São Paulo
Play in Dom Pedro II Children’s Park Photo: B.J. Duarte. Photographic Collection São Paulo Museum
Na década de 1950, consolidam-se as obras do Perímetro de Irradiação: as avenidas Ipiranga e São Luís, viadutos Jacareí e Maria Paula, praça João Mendes, avenida Rangel Pestana, rua da Figueira, viaduto Mercúrio e avenida Senador Queiróz, circuito que abraça o centro. Tais obras, somadas à construção do trecho inicial da avenida Radial Leste, indicam o forte cunho rodoviarista conferido à região do Parque Dom Pedro II, que sofreu transformações e reduções significativas após a conclusão de tais obras. Na contramão desta tendência destaca-se a construção do Edifício São Vito, no período entre 1954 e 1959, pela construtora Zarzur & Kogan: um prédio residencial destinado a famílias pequenas ou solteiros, que contava com conjuntos comerciais no térreo. Destaca-se também a transferência do Colégio São Paulo, em 1958, para um edifício modernista que foi erguido no parque, entre o Palácio das Indústrias e a avenida Rangel Pestana, projetado na perspectiva das escolas-parque, em que áreas do parque urbano foram integradas à construção como meio de estimular o desenvolvimento físico e intelectual dos educandos. Nos anos de 1960 deu-se continuidade à lógica de priorizar a circulação de mercadorias e pessoas, por meio da complementação das obras da avenida Radial Leste e do sistema de viadutos que cruzam o Parque Dom Pedro II. Em dezembro de 1969 foi inaugurado o primeiro deles, o viaduto Diário Popular, que liga a rua do Gasômetro ao outro lado da avenida do Estado e passa por cima do Parque Dom Pedro II. Nesse mesmo ano inaugura-se também a primeira alça do complexo de viadutos do Glicério, ligação entre as zonas Leste e Oeste, cujas obras foram concluídas no início da década posterior. Na década de 1970 as áreas do parque são definitivamente desestruturadas, quando se concretizaram os projetos que o transformaram em um nó de
transportes intermodal. Neste período foram finalizadas as obras do sistema de viadutos, inaugurou-se o trecho inicial da Linha 3 – Vermelha, do metrô, mais especificamente a estação Brás, em 1979; e se iniciaram as obras de uma estação encravada na porção sudoeste do parque, inaugurada apenas na década seguinte. Por fim, ali foi instalado um terminal de ônibus urbanos, para onde foram transferidos os pontos-finais de grande parte dos coletivos das praças da Sé e Clóvis Bevilacqua. Poucos sabem que o projeto do Terminal Parque Dom Pedro II é de autoria de Paulo Mendes da Rocha, ganhador dos principais prêmios internacionais de arquitetura. Tudo isso era parte de uma política municipal desenvolvida para desafogar os fluxos de veículos e de pedestres no centro, complementada pela transformação das ruas na região do triângulo central em vias exclusivas para pedestres, pelo então prefeito Olavo Setúbal (1975-1979). Se por um lado, entre os habitantes da região, o parque continuava a ser um espaço de lazer, sobretudo pela prática do futebol (atividade que pode ser facilmente percebida entre os que circulam pelas imediações da zona cerealista e do Mercado Municipal), para o poder público estava consolidada a sua vocação como área de passagem para a vazão de mercadorias e pessoas. Já alguns veículos da imprensa, que entendiam as áreas remanescentes do parque como um vazio urbano, o apresentaram como um lugar perigoso, a ser evitado sobretudo pelos transeuntes. Ironicamente, a transformação da condição natural dessa região de várzea pelo poder público foi o que apagou o que ela tinha de mais singular – e que atualmente se busca recuperar nos projetos arquitetônicos contemporâneos, que pretendem transformá-la novamente em uma paisagem que atenda aos interesses dos capitais político, financeiro e cultural.
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BIBLIOGRAFIA
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ANDRADE, Margarida Maria de. 1991. Bairros alémTamanduateí: o imigrante e a fábrica no Brás, Mooca e Belenzinho. Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH-USP. BRUNO, Ernani da Silva. 1953. Histórias e tradições da cidade de São Paulo. Volume III – Metrópole do Café (1872-1918). Rio de Janeiro: José Olympio. _____. 1991. Histórias e tradições da cidade de São Paulo. Volume III – Metrópole do Café (1872-1918). São Paulo: Hucitec. _____. 1981. Memórias da cidade de São Paulo. Depoimentos de moradores e visitantes. São Paulo: Prefeitura Municipal de São Paulo/ Secretaria da Cultura. DE BEM, José Paulo. 2006. São Paulo cidade/memória e projeto. Tese de doutorado. São Paulo: FAU-USP. KLIASS, Rosa Grena Alembick. 1993. Parques urbanos de São Paulo e sua evolução na cidade. São Paulo: Pini. MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. 1996. Morfologia das cidades brasileiras: Introdução ao estudo histórico da iconografia urbana. Revista USP. São Paulo, nº 30, jun./ago. 1996, p. 144-155. MEYER, Regina & GROSTEIN, Marta. 2010. A leste do Centro: territórios do urbanismo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. NAVARRO, Maria Rosana. 2011. A história de um parque que pede socorro!!! São Paulo: ed. do autor. NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. 2002. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp. REBOLLO, Tomás André. 2012. Urbanismo e mobilidade na metrópole paulistana: estudo de caso do Parque Dom Pedro II. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. RIBEIRO, Vanessa Costa. 2021. Várzea do Carmo a parque Dom Pedro II: de atributo natural a artefato. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2021. SANT’ANA, Denise Bernuzzi. 2007. Cidade das águas: de rios, córregos, bicas e chafarizes em São Paulo (1822-1901). São Paulo: Senac. — Vanessa Ribeiro é Mestra em História Social pela USP, pesquisadora nas áreas de fotografia e imaginário urbano em São Paulo, dedicando-se especialmente à Várzea do Carmo.
Dale, park, overpass: the history of Dom Pedro II Park Vanessa Ribeiro, Historian
Today, when you read or listen to news about Dom Pedro II Park, you certainly imagine the means of transportation circulating in that area: the buses departing from the busiest urban terminal in the capital; the subway that cross the homonymous Red Line station, the biggest choke point for passengers per car, between the always busy stations of Brás and Sé; the rows of cars, motorcycles, trucks and buses stopped in the overpass chaotic traffic, which overlap the tops of the resisting centuries-old trees; and even articulated buses that, alone, seem to cross the sky through the transport system that would revolutionize access to the city’s central areas, the Expresso Tiradentes. Amid the smoke, honks and crowds, the park in the urban chaos crosses the mind of only a few people. Is there a park? Yes! And it even already had a gazebo, a bath house, banks and even an amusement park with roller coaster, bumper cars and Wacky Worm. In the addition to these attractions, the wistful Shanghai Park had parties with famous artists, including Ataulfo Alves, Grande Otelo and Adoniran Barbosa. The Dom Pedro II Park region corresponds to the former Várzea do Carmo, a marshy portion of land on the Tamanduateí River, located between the old core of the city and the Brás district. Projects for sanitation and beautification of the region began to be implemented in the end of the 18th century, an effort that
would lead to the construction of an urban park dedicated to residents of the Brás and Mooca working-class districts, most of them immigrants. From the uncomfortable natural attribute transformation into a large and charming park, as described by a French landscaper, it be seen as the greatest initiative undertaken by the public authorities to eliminate the harm caused to the physical and moral health of the inhabitants of the city’s central core. The constant Tamanduateí River floods, the washerwomen who, by putting their white sheets on the riverbank, caught the eyes of students from the Law School and distinguished men in the capital, the baths in Adam’s skin – an expression used for naked bathing, which caused numerous complaints in the minutes of the City Council – plus the dirt from waste dumped in the river were the targets of frequent complaints on newspapers pages – was what called the public authorities attention to this place, which urgently needed to be sanitized. Dale sanitation was desired both from the public health standpoint, because of sanitary theories that understood humid places as potential vectors of diseases, and from a moral standpoint, with the replacement of habits considered colonial and that no longer suited the republican spirit, which was enthusiastic about new city practices. Mayor Raimundo Duprat (1911-1914) invited the French landscape engineer Joseph-Antoine Bouvard, responsible for
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the renovations in Paris and the creation of the Universal Exhibition of 1889 pavilions in the French capital, to evaluate the city’s improvement plans. Bouvard recommends building an urban park similar to the project he had implemented in Buenos Aires, Argentina. The construction was only approved in the subsequent administration when Washington Luís was the Mayor (1914-1918). However, a severe flu epidemics ravaged the city in 1918, causing an interruption of the works for a long period, and the park was handed over to the city without the landscaping completion in the subsequent administration of Firmiano de Morais Pinto (1920-1926). In 1921, the name Dom Pedro II Park was ratified in accordance with municipal law No. 2360, probably as part of the celebrations that marked the centenary of Independence the following year. Dom Pedro II Park peaked visits in the 1920s and 1930s. Inside, garden areas took over the longsides of Tamanduateí canal with gazebos, the most famous of which was called Ilha dos Amores, on the margins of Rua 25 de Março. Sculptures were displayed along its length, including: a marble lion that now appears in Ibirapuera Park; a bronze sculpture by Caetano Fracarolli entitled O Semeador (The Sower), which was moved to Apecatu square on the west side of the city; and the imposing marble monument made by Ettore Ximenes in honor of the SyrianLebanese Friendship, in front of the Palácio das Indústrias, offered by this community of merchants to the municipal government. Currently, this monument is displayed in Ragueb Chohfi square at the foot of Ladeira General Carneiro. Palácio das Indústrias was the first large public building constructed in Várzea do Carmo. It was built from 1911 to 1924 and designed by the Italian architect Domiziano Rossi (1865-1920) hired by the Ramos de Azevedo architecture office. The alleged reference for this eclectic building designed to house the exhibitions of São Paulo’s industries was a luxurious bourgeois residence built in the Italian city of Genoa.
Building a palace on a dale that had been transformed into a park is emblematic in the process of domination of nature by the public authorities, whether because of its monumental construction technique, its architectural elements (especially the allegories of progress, commerce, industry, agriculture and livestock), or for its functionality. Dom Pedro II Park also had a playground, inaugurated in the early years of Mayor Fábio Prado’s (1934-1938) administration. It was a space that can be seen as precursor of day care centers and the idea of full-time school, that is, a space to complement the traditional education offered in schools, with the purpose of “collaborating in the preservation work and social forecast, contributing to children’s hygiene education” (NIEMEYER, 2002, p. 108). During the day, children between the ages of three and twelve went to the playground to do physical activities supervised by a hygienist or health educator acting as general manager of the park, and assisted by a committee of technicians comprised by representatives of the Health Service of the State of São Paulo, from the State Board of Education, from the State Department of Physical Education, from the State Hygiene Institute, and also with a Biology teacher from the Education Institute of the University of São Paulo and a representative from the Association of Childhood Assistance. At night, young people up to 21 years old went to the park. It is known that in 1938 the Dom Pedro II Children’s Park registered a daily influx, at night, of three hundred young workers who went there for leisure in their free time. Because of this, the space also became known as Youth Workers’ Club and Young Women’s Center (NIEMEYER, 2002, p. 108) However, what could explain its demise since it was so widely attended? We can answer this question by trying to see the different images created on this address over time, and the transformations that took over the city; more specifically here, in the area where the public park is built
which is seen as field where agents act with unequal strength and visibility: park visitors, residents of industrial districts, passersby, public authorities and the press. Since the first draft of the Municipal Plan of Avenues (1924-1930), drawn up by engineers Ulhoa Cintra and Francisco Prestes Maia, there had already been a series of intervention proposals in the Dom Pedro II Park area, such as: the expansion of the road system in three axes corresponding to the old landfills (Mooca or Tabatinguera, Carmo and Gasômetro) and their transformation into radial avenues; the extension of the entire road system next to the park and the intervention in the two semicircular squares that connected the park to Ladeira General Carneiro. However, the first works of the Irradiation Perimeter began only during Prestes Maia’s administration (1939-1945), when the first changes in the park took place, namely: the widening of Rangel Pestana Avenue and Santa Rosa Street crossing the park (now Mercúrio Avenue); the subtraction of the area next to Palácio das Indústrias to expand the road system and the construction of a 40 meter-wide bridge over the Tamanduateí River, in the extension of Mercúrio Avenue, next to the Municipal Market (NAVARRO, 2011, p. 47). During the 40s and 50s, Dom Pedro II Park’s postcards circulated intensively. However, unlike the postcards produced in previous decades with elements of the park such as gazebos and landscaped canals were privileged, these postcards feature the park as a frame for the skyscrapers, placed in the center of the images. The trees in the park and the water mirror of Palácio das Indústrias (now the Catavento Museum) surround the Martinelli, Altino Arantes (Banespa, now Farol Santander) and Banco do Brasil buildings, icons of the city’s progress, which was being consolidated as the country’s financial capital. From a privileged space for socializing, practicing sports and educating children and young people, especially foreigners and their children (Italians, Portuguese, Spaniards and others), the park
becomes an ornament of the metropolis, summarized in the image of skyscrapers. This ornamental function assumed in the early 1940s, would allow its de-structuring in favor of the logic of circulation of goods and people imposed with a series of interventions from the government that prioritized the construction of roads and avenues to the detriment of park areas, which little by little was replaced by asphalt, smoke and overpasses. In the 1950s, the Irradiation Perimeter works started being consolidated: the avenues Ipiranga and São Luís, the overpasses Jacareí and Maria Paula, João Mendes square, Rangel Pestana avenue, Figueira street, Mercúrio overpass, and Senador Queiróz avenue, a circuit that embraces the downtown. Such works, along with the construction of the first stretch of Radial Leste avenue show a strong road character given to the Dom Pedro II Park region, which underwent significant changes and reductions when said works were completed. Contrary to this trend, the construction of the São Vito Building between 1954 and 1959 by the construction company Zarzur & Kogan, stands out: a residential building for small families or single people with stores on the ground floor. Colégio São Paulo transfer in 1958 to a modern building built at the park between Palácio das Indústrias and Rangel Pestana avenue also stands out; the building was designed from the perspective of park schools with areas of the urban park integrated into the construction as a means of encouraging the physical and intellectual development of students. In the 1960s, the logic of prioritizing the circulation of goods and people was continued by complementing the works at Radial Leste avenue and the system of overpasses crossing Dom Pedro II Park. In December 1969, the first of them was inaugurated, the Diário Popular overpass connecting Gasômetro Street to the other side of Estado Avenue and passing over Dom Pedro II Park. That same year, the first stretch of the Glicério overpass
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complex was also inaugurated connecting the East and West zones, whose works were completed at the beginning of the following decade. In the 1970s, the park’s areas were definitively de-structured, when the projects that turned it into an intermodal transport node were implemented. During this period, the overpass system works were completed; the initial stretch of subway Line 3 – Red, more specifically the Brás station, was inaugurated in 1979; and the work of a station located in the southwestern portion of the park began, which was inaugurated only in the next decade. Finally, an urban bus terminal was built there where most public buses from Sé and Clóvis Bevilacqua squares made their final stops. Few people know that the Dom Pedro II Park Terminal project was designed by Paulo Mendes da Rocha, winner of the main international architecture awards. All of this was part of a municipal policy designed to relieve the flow of vehicles and pedestrians in the center, complemented by the transformation of streets in the central triangle region into pedestrian-only lanes by then-mayor Olavo Setúbal (1975-1979). If, on the one hand, among the inhabitants of the region, the park continued to be a leisure space, especially for practicing football (an activity that can be easily noticed among those who circulate in the vicinity of the cereal market and the Municipal Market), for the public power its use as an area of passage for the flow of goods and people was consolidated. Some press vehicles, which saw the remaining areas of the park as an urban void, presented it as a dangerous place, especially to be avoided by passersby. Ironically, the transformation of the natural condition of this dale region by the public authorities was what erased what was most unique about it – and which is currently bring recovered in contemporary architectural projects intended to transform it again into a landscape that meets the interests of political, financial and cultural capital.
BIBLIOGRAPHY ANDRADE, Margarida Maria de. 1991. Bairros alémTamanduateí: o imigrante e a fábrica no Brás, Mooca e Belenzinho. Tese de doutorado. São Paulo: FFLCH-USP. BRUNO, Ernani da Silva. 1953. Histórias e tradições da cidade de São Paulo. Volume III – Metrópole do Café (1872-1918). Rio de Janeiro: José Olympio. ______. 1991. Histórias e tradições da cidade de São Paulo. Volume III – Metrópole do Café (1872-1918). São Paulo: Hucitec. ______. 1981. Memórias da cidade de São Paulo. Depoimentos de moradores e visitantes. São Paulo: Prefeitura Municipal de São Paulo/ Secretaria da Cultura. DE BEM, José Paulo. 2006. São Paulo cidade/memória e projeto. Tese de doutorado. São Paulo: FAU-USP. KLIASS, Rosa Grena Alembick. 1993. Parques urbanos de São Paulo e sua evolução na cidade. São Paulo: Pini. MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. 1996. Morfologia das cidades brasileiras: Introdução ao estudo histórico da iconografia urbana. Revista USP. São Paulo, nº 30, jun./ago. 1996, p. 144-155. MEYER, Regina & GROSTEIN, Marta. 2010. A leste do Centro: territórios do urbanismo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. NAVARRO, Maria Rosana. 2011. A história de um parque que pede socorro!!! São Paulo: ed. do autor. NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. 2002. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume/Fapesp. REBOLLO, Tomás André. 2012. Urbanismo e mobilidade na metrópole paulistana: estudo de caso do Parque Dom Pedro II. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. RIBEIRO, Vanessa Costa. 2021. Várzea do Carmo a parque Dom Pedro II: de atributo natural a artefato. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2021. SANT’ANA, Denise Bernuzzi. 2007. Cidade das águas: de rios, córregos, bicas e chafarizes em São Paulo (1822-1901). São Paulo: Senac.
O Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II
Regina Maria Prosperi Meyer, Coordenadora do plano
A demanda feita em 2011 pela então Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU – USP) foi sucinta: desenvolver um plano urbanístico para o Parque Dom Pedro II. Mas trazia condicionantes bem precisas, algumas com grandes possibilidades, outras com responsabilidades exigentes. A delimitação de dois perímetros urbanos, denominados Arco Norte e Arco Oeste, para os quais a SMDU solicitou a elaboração de projetos específicos, abriu caminho para as estratégias do plano. Outras condicionantes foram decisivas para a análise e o partido geral (ou seja, a decisão sobre as grandes linhas do projeto). Na dimensão urbana, a condicionante mais decisiva, por sua abrangência metropolitana e impacto local, foi o rebaixamento em túnel da avenida do Estado, no trecho entre as avenidas Mercúrio e Cruzeiro do Sul, uma proposta encaminhada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) e cujo porte abriu possibilidades para projetos de grande impacto. Outra condicionante importante estabelecida pela Siurb e que também estimulou proposições foi a demolição do viaduto Diário Popular, construído em 1969 para facilitar o acesso ao Centro de veículos vindos dos bairros a leste do Brás. Hoje, o viaduto é considerado superado em termos viários e funcionais. Do ponto de vista das edificações existentes e desapropriação de quadras, as condicionantes oferecidas pelo
poder público definiram premissas para as propostas dos projetos específicos a serem elaborados para os dois arcos, entre as quais a desapropriação de três quadras entre as avenidas Mercúrio, do Estado e a praça São Vito, assim como a demolição dos edifícios Mercúrio e São Vito, ambos localizados no Arco Norte. As duas demolições estavam definidas, e seu processo, em curso antes da contratação do plano urbanístico e dos projetos específicos. No caso do Arco Oeste, a decisão do poder público de demolir o edifício-garagem localizado na rua 25 de Março, construído irregularmente nos anos 1980, abriu perspectivas para intervenções importantes. Muito acima dos gabaritos da região, esse edifício era uma indesejável barreira visual a partir do mirante do Pátio do Colégio. Acompanhando a proposta da sua demolição, a SMDU demandou também a reorganização da praça Fernando Costa, que lhe é adjacente. Como compensação da retirada do comércio informal, que hoje domina o espaço público, foi solicitada a criação de um edifício-galeria voltado ao comércio popular, a ser implantado no perímetro de uma quadra que seria também desapropriada.
VISÃO GERAL Os grandes projetos urbanos definidos tanto pela dimensão territorial como pela complexidade e, consequentemente,
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elevados orçamentos, realizados a partir dos anos 1980 em países desenvolvidos e em desenvolvimento, são bastante controversos. Porém, quando o foco é o atendimento de funções urbanas regidas pela mobilidade, verifica-se que propiciam valiosas inovações em territórios urbanos centrais consolidados. Pelo que possuem de potencialidades positivas para uma renovação urbana abrangente, tanto do ponto de vista de novos programas como da reorganização dos espaços públicos, são fundamentais para o urbanismo contemporâneo. Um de seus predicados é a capacidade de mitigar com novos arranjos urbanísticos os impactos negativos causados pelo processo aleatório que acompanhou a gradual implantação dos diversos modos de transporte público em territórios urbanos específicos, sobretudo nas áreas centrais das metrópoles.
PREMISSAS
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1. Base cartográfica: Jules Martin, 1890 2. Base cartográfica: Sara Brasil, 1930
1. Cartographic base: Jules Martin, 1890 2. Cartographic base: Sara Brasil, 1930
Alguns pressupostos acompanharam a primeira fase dos trabalhos sem precisar ser explicitados. O primeiro surge de um alerta expresso pelo filósofo e político italiano Massimo Cacciari: “para transformar a cidade é necessário conhecer as suas lógicas e não ter a indecente pretensão de iniciar um jogo novo”. Isso nos conduziu a análises históricas e geográficas do sítio do Parque Dom Pedro, buscando entender a evolução urbana daquele lugar. O segundo pressuposto vem como um desdobramento e tem viés operacional: a necessidade de ler o contexto, uma prática usual nos projetos de urbanismo e de arquitetura. As leituras, obviamente, podem variar muito. No caso do Parque, por se tratar de um lugar cuja denominação é precisa do ponto de vista administrativo e cadastral, mas que pareceu insuficiente para uma análise urbana mais ampla, buscamos uma figura que representasse de forma mais precisa seus âmbitos funcional e espacial.
Tal postura foi básica para a análise e, consequentemente, para as proposições. Uma análise cartográfica de quatro mapas históricos cobrindo um longo período de sete décadas, entre 1890 e 2008, possibilitou uma leitura histórico-geográfica e urbana. Desse exame emergiram questões que se tornaram dominantes. Foram identificados, em cada uma das etapas, os atributos e os impasses entre os desígnios da história urbana e as resistências do sítio geográfico. Obtivemos, a partir desse procedimento evolutivo, uma clara visão dos processos que produziram transformações e também permanências urbanas no interior e nos delimites externos do Parque. Ainda assim não enxergamos com a nitidez necessária a imagem através da qual o identificaríamos nas nossas análises e propostas. Foi necessário explorar outras escalas, com as quais o Parque se articula mais localmente, para alcançar nosso objetivo. Ao analisar essas relações mais próximas, o imenso corpo do Parque indicou, tomando-o como ponto irradiador, a demarcação de nove bairros e alguns setores urbanos. Em alguns casos, o mote da análise é a atual atividade do setor, como no caso da denominada zona cerealista. Mas também foram identificados trechos dos bairros que tangenciam o Parque, como o Brás, o Glicério e o Cambuci. Foram considerados ainda antigos e novos marcos arquitetônicos e funcionais que, por suas dimensões e atuais desconexões, também possuem interesse para o plano urbanístico. É o caso do Mercado Municipal, da antiga Casa das Retortas, instalações do antigo Gasômetro, o desativado pátio ferroviário do Pari e a imensa Igreja Pentecostal. Investigar as continuidades, as descontinuidades ou, ainda, a possibilidade de falsas continuidades constitui um exercício sempre exigente, pois implica penetrar os fluxos, que tanto podem ser estruturais, como no caso do sistema viário, ou funcionais, como nas bordas dos bairros.
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1. Foto aérea, 1958 2. Foto aérea, 2008
1. Aerial photo, 1958 2. Aerial photo, 2008
É preciso reconhecer as permanências e as dissipações, propor a reconstituição daquelas que parecem desejáveis para um plano urbanístico que contemple o presente e o futuro. Uma dimensão também conceitual esteve presente no encaminhamento e representou um parâmetro para o plano e os projetos específicos. Trata-se do método de trabalho baseado no conceito de intervenção na cidade existente, elaborado pelo arquiteto português Nuno Portas (em seu texto “Notas sobre a intervenção na cidade existente”, publicado na revista Sociedade & Território, n. 2, Porto, 1985). Busca-se articular os projetos públicos que incidem sobre tecidos urbanos consolidados, sejam os mais antigos ou os relativamente recentes, com as novas condições de reorganização urbana, que visa atender a novas demandas sociais, funcionais e urbanas contemporâneas. É um partido de análise e, consequentemente, de projeto urbanístico que busca recuperar atributos urbanos considerados indispensáveis para o restauro de melhores condições de urbanidade, ameaçadas por usos abusivos do espaço urbano. Tal opção corresponde à percepção das limitações dos modelos de análise, elaboração de planos e projetos urbanos esquemáticos, ditados por regramentos e ordenações abstratas, previamente estabelecidas. A necessidade de equacionar os usos presentes, mesmo quando objeto de críticas, com o potencial de recuperação de qualidades urbanas é uma ação complexa, que exige análises, justificativas e proposições também complexas. No caso do Parque Dom Pedro II, a enorme carga histórica representada pela incorporação de uma várzea com as características criadas pela presença do rio Tamanduateí no contexto urbano da cidade apresentou um desafio e, ao mesmo tempo, uma feliz oportunidade. É preciso sublinhar que a recuperação dos atributos urbanos do Parque, tal como proposto em 1914 e entregue à população
em 1922, não pautou o plano solicitado em 2011; ou seja, a restituição dominante dos aspectos essencialmente bucólicos não conduziu o partido geral do Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II e dos Projetos Específicos. A nova figura que demarcou o perímetro de análise e proposição incorporou trechos de antigos bairros adjacentes. Assim, foram incluídos outros temas, como a presença de áreas definidas como Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis 3), que demandaram novas conexões com o transporte público, com as áreas de fruição situadas no próprio Parque e em outros logradouros do Centro. Foram destacadas ainda possíveis articulações entre a Casa das Retortas, os edifícios do Gasômetro, o Museu Catavento e a Escola Estadual de São Paulo.
O PARQUE DOM PEDRO II COMO PORTA DA ZONA LESTE NO CENTRO O partido geral adotado no plano urbanístico assenta-se numa afirmação sobre os grandes espaços públicos da área central de São Paulo: a presença de relações interescalares que indicam o processo da expansão da cidade a partir do Centro rumo à consolidação do território metropolitano. O Parque Dom Pedro II é um evidente espaço com tais atributos e, para um plano urbanístico contemporâneo, tal realidade é incontornável. A análise inicial, que repousou na definição de uma figura sobre a qual deveríamos trabalhar, explicitou a presença de sistemas urbanos infraestruturais que colocam o Parque em relação com diversas escalas, desde a mais local até a metropolitana. As premissas gerais que conduziram o Plano e os Projetos Específicos, para os Arcos Norte e Oeste, abarcam as questões que compõem cada um desses sistemas interescalares. Dois se destacaram: o sistema hidrográfico representado pela presença do rio Tamanduateí e sua várzea, quando incide no interior do Parque; e a presença de um poderoso sistema viário
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e de transporte público de massa que foi ali aleatoriamente instalado. Ambos forneceram as pautas para as propostas estruturantes do Plano e abriram possibilidades para os projetos dos dois arcos. O enterramento da avenida do Estado, a desapropriação de quadras e a demolição de um viaduto e edificações foram terminantes no encaminhamento do Plano e dos Projetos Específicos.
A LAGOA DE RETENÇÃO: UMA PRAÇA LÍQUIDA COM FUNÇÕES DE DRENAGEM, TRATAMENTO E REÚSO DAS ÁGUAS DO TAMANDUATEÍ
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2 1. Várzea do Carmo, 1918. Fonte: Ângela Garcia, José Martins, Rubens Jr. (Aurélio Becherini, 2009) 2. Rua 25 de Março, abril de 2010.
1. Várzea do Carmo, 1918. Source: Ângela Garcia, José Martins, Rubens Jr. (Aurélio Becherini, 2009). 2. 25 de Março Street, April, 2010.
O sistema hidrográfico representado pelo rio Tamanduateí e a sua várzea alagável, cuja ocupação histórica produziu os setores urbanos localizados a oeste do parque, impôs a necessidade de enfrentar os alagamentos sazonais. A história dessa várzea é contada em imagens pictóricas e fotográficas que registram as recorrentes inundações. Considerando que os problemas relacionados à bacia do Tamanduateí não poderiam ser resolvidos de maneira total, a proposta da Lagoa aborda a drenagem a partir de uma escala local. Trata-se, portanto, de um projeto estratégico, pois situado na escala local, e que oferece informação para as escalas mais amplas, abrindo futuras possibilidades. Ao incorporar a questão da drenagem, o Plano Urbanístico indica uma solução que aproxima a paisagem natural ao espaço público contemporâneo e de qualidade que dela resulta. O Plano Urbanístico assume em relação à drenagem soluções que visam integrar o sistema primordial, representado pelo rio e sua várzea, e a infraestrutura secundária, de forma a considerar as exigências técnicas e reforçar o caráter urbano e paisagístico das obras hidráulicas necessárias para aquele contexto. O conjunto de ações propostas assume funções infraestruturais, urbanísticas
e paisagísticas. O projeto foi elaborado com consultoria especializada que desenvolveu sistemas específicos de drenagem, um para a margem leste e outro para a margem oeste do Parque. Apesar da forte presença das questões e soluções técnicas que encaminharam a proposta da Lagoa, esta manteve o objetivo de criar um espaço de fruição ao alcance dos usuários que transitam ou que buscam um lugar tranquilo no interior do Parque. As soluções encontradas para o convívio do rio com o Parque possibilitam a criação de um espaço público no qual a relação com a água recria uma “geografia mental” que retoma a presença do rio na escala do pedestre.
A ESTAÇÃO INTERMODAL: CRIAÇÃO DE UM AMBIENTE DE MOBILIDADE CONTEMPORÂNEO A vida urbana cotidiana nas sociedades contemporâneas tem na mobilidade uma função crucial. A relação entre a urbanização extensiva e a mobilidade das pessoas no continuamente ampliado território urbanizado tornou-se uma questão incontornável e complexa. Acompanhamos, a partir dos anos 1980, projetos urbanos, tanto em países desenvolvidos como em países em desenvolvimento, nos quais o foco foi o atendimento de funções urbanas regidas pela mobilidade. São projetos de grande porte que propiciaram inovações em territórios urbanos centrais já consolidados. Por sua capacidade de mitigar com novos arranjos urbanísticos os impactos negativos causados pelo processo aleatório, são indispensáveis para o urbanismo contemporâneo. O Parque Dom Pedro II é hoje um manifesto resultado da relação entre o processo de urbanização extensiva da metrópole de São Paulo e o de transporte público de massa, que impactou fortemente seu território a partir dos anos 1950. Tornou-se um dos pontos de convergência de usuários do transporte
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Implantação geral.
General implementation.
público, que se deslocam diariamente dos bairros e distritos situados à leste do município e da metrópole rumo ao Centro e, em seguida, a outros quadrantes da metrópole. Como “porta da Zona Leste” no Centro, o Parque foi durante décadas alvo de constantes e assistemáticas adaptações de suportes viários que atendiam às exigências de ampliação e acomodação de diferentes modos de transporte. O disperso conjunto de espaços voltados ao atendimento do transporte de massa reúne hoje vários equipamentos. O terminal de ônibus Parque Dom Pedro II, criado em 1996, localizado na denominada avenida do Exterior, junto à avenida do Estado, é considerado o mais movimentado do Centro, com cerca de 80 linhas de ônibus e 79 mil embarques diários. Foi criado em 1966 e ampliado de forma provisória, com demolição prevista para dez anos após o término das obras em 1994, e sua localização é um dos problemas mais candentes da atual conjuntura urbana do Parque. A estação de metrô Dom Pedro II, da Linha 3, inaugurada em 1980, acolhia, antes da pandemia, cerca de 24 mil usuários por dia. Por fim, o corredor exclusivo de ônibus Expresso Tiradentes, inaugurado em 2007, atende a cerca de 75 mil passageiros por dia. O antídoto para essas disfunções é a criação de um ambiente de mobilidade que articule os equipamentos e crie sistemas seguros e confortáveis de acesso para pedestres. Os desafios para a localização de tal equipamento no interior do Parque, já ocupado de forma disfuncional e segregada, impôs escolhas. A provisoriedade do Terminal Dom Pedro II apontou uma possibilidade. A articulação espacial e funcional com a estação Dom Pedro II do metrô (Linha Vermelha) surge como uma possibilidade de grande importância. A estação intermodal proposta deverá reunir os dois terminais de ônibus, o da SPTrans e o Expresso Tiradentes, e ainda, no futuro, abrigar uma nova estação
de metrô, que deverá chegar ao Centro através da avenida Celso Garcia. A estrutura proposta tem como objetivo criar um ambiente de mobilidade no qual o transporte público ganhe a importante função de incorporar os fluxos de passageiros dos diferentes modos – ônibus, metrô, bicicleta – em condições de conforto e segurança. Tem ainda a vantagem de reduzir a circulação de ônibus no perímetro do Parque e, assim, facilitar a criação de novos acessos para atender aos fluxos de usuários das redes de transporte público. A sua localização no setor central a leste do Parque é estratégica do ponto de vista das demais funções objeto do Plano, pois garante a articulação dos demais equipamentos e cria percursos adequados para os usuários que fazem conexões entre os diversos modos. Deverá assumir o papel catalisador das transformações almejadas pelo plano urbanístico, tanto para o atendimento dos importantes equipamentos ali situados como para aqueles que serão elaborados pelos projetos específicos, como é o caso do futuro Sesc Parque Dom Pedro II.
ELIMINAÇÃO DE VIADUTOS E CRIAÇÃO DE NOVAS TRAVESSIAS A análise do sistema viário, sobretudo dos viadutos que atravessam o Parque, leva a importantes conclusões traduzidas em propostas e projetos. A partir da década de 1960 ficou evidente que as vias expressas acompanhadas de viadutos tiveram bons resultados para a conexão de territórios distantes, mas impactaram pesadamente e de forma muito negativa os sistemas urbanos locais, que atravessam e desconectam. Esse foi o resultado calamitoso dos viadutos que cruzam o Parque. Por meio da eliminação ponderada de viadutos, o plano urbanístico incorporou as propostas de projetos estruturais, sobretudo da lagoa e da estação intermodal. E, como já foi
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Terminal Parque Dom Pedro II e Terminal Expresso Mercado.
Parque Dom Pedro II Terminal and Expresso Mercado Terminal.
dito, o plano assumiu o rebaixamento da avenida do Estado no trecho entre as avenidas Mercúrio e Cruzeiro do Sul, proposto pelo poder público municipal. Com essa ligação expressa subterrânea no sentido norte–sul do Parque, novas e decisivas propostas mais seus desdobramentos devem ser viabilizados no Plano. A importante obra proposta pela administração municipal, no entanto, não afasta por si só a complexidade atingida pelo sistema viário elevado, realizado de forma assistemática, sempre a partir do único objetivo de transpor, de forma expressa, a dimensão leste–oeste do Parque, e, no caso do Expresso Tiradentes, no sentido norte–sul. Tais travessias criaram uma imagem icônica da ruína urbana do Parque. Resultado de décadas de intervenções viárias voltadas para facilitar o fluxo de veículos e transporte público sobre pneus, as denominadas vias expressas intraurbanas ganharam enorme presença em toda a cidade e de forma abusiva no Parque Dom Pedro II. A construção de um conjunto de viadutos que atravessam o Parque acabou criando grandes barreiras no seu sentido leste–oeste. A diferença de cotas entre os setores situados a oeste da várzea foi vencida com viadutos que alcançavam os bairros situados nos demais quadrantes, estabelecendo geometrias próprias, inerentes aos conceitos dos sistemas viários expressos. Criaram barreiras aéreas destinadas estritamente ao fluxo de veículos, projetando no Parque seus percursos de forma fragmentada. Produziram um “arquipélago de vazios” que foram devidamente representados nas nossas análises. Posteriormente, os dois sistemas de transporte público introduzidos nas áreas adjacentes ao Parque, a Linha Azul do metrô e o Expresso Tiradentes, seguiram o mesmo padrão de implantação. O metrô, por razões técnicas, só poderia cruzar a várzea de forma elevada, mas o Expresso Tiradentes
poderia ter encontrado outras opções para sua implantação. A partir de uma análise detalhada, o Plano Urbanístico propôs um remanejamento do sistema viário aéreo que reintegra o Parque ao seu entorno imediato – considerando que as demolições dos viadutos das ruas 25 de Março, Mercúrio, Antônio Nakashima e Diário Popular já estavam propostas pela Siurb. Sua substituição por travessias em nível irá garantir duas premissas muito importantes dentro do Parque: a circulação de pedestres de forma abrangente e contínua, mais a abolição dos espaços residuais deixados pelas grandes estruturas do sistema viário elevado nas cotas mais baixas.
O PEDESTRE E O PARQUE DOM PEDRO II A caracterização do Parque como “porta da Zona Leste” do município e da metrópole de São Paulo no Centro vem do reconhecimento do conjunto de funções ali concentradas e sobrepostas, relacionadas à mobilidade. Embora o conceito de mobilidade inclua a noção de acessibilidade, é importante qualificar essa interdependência neste contexto. As análises feitas em função do Plano Urbanístico mostraram que as atividades e funções com foco na mobilidade receberam tratamento prioritário na sua organização funcional e espacial. Situada sobretudo na escala local, a acessibilidade é avaliada pelas possibilidades oferecidas aos usuários do transporte público de organizar seus deslocamentos. E a qualidade dos deslocamentos está intrinsecamente relacionada a distâncias, tempo, adequação e qualidade do espaço público. Assim como o transporte público de massa apresenta a exigência de uma rede viária adequada, a acessibilidade também necessita de uma rede específica destinada ao seu usuário – o pedestre – antes este que a alcance. Embora as duas redes estejam subordinadas a exigências físico-espaciais distintas, ambas confluem
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1. Estação intermodal dentro do Parque atenderá ao Sesc Parque Dom Pedro. 2. Convívio do rio com o Parque, na escala do pedestre.
1. Intermodal Station inside the Park will serve Sesc Parque Dom Pedro. 2. The river in the Park, on pedestrian scale.
para atender à mesma função urbana: a mobilidade acompanhada de seu complementar atributo, a acessibilidade. Dentre os problemas identificados na análise do funcionamento do Parque, a condição do pedestre mostrou-se um tema central e incontornável. Ao caminhar para alcançar os equipamentos, acessar o transporte público ou atravessar o parque, o pedestre encontra sempre um obstáculo. A lógica que presidiu à distribuição dos viadutos monofuncionais, exclusivos dos veículos, impactou o espaço do pedestre. A análise comparativa das transformações das travessias de pedestres em nível entre 1945 e 2006 deixou clara a diminuição acentuada das suas possibilidades. A prioridade dada às grandes estruturas, sobretudo viadutos, para circulação de veículos é notória, tanto na forma como na abrangência. E o desaparecimento do espaço público no Parque Dom Pedro II, como espaço polivalente, de passagem e de permanência, é uma questão enfrentada nos Projetos Específicos. O espaço do pedestre no Parque transformou-se em itinerários contingentes, determinados pelos acessos ao transporte público. A separação entre veículos e pedestres acabou por exigir destes últimos uma resiliência quase sem limite. A persistência, na cultura urbanística, em buscar soluções lastreadas na separação de funções e atividades pode, ainda hoje, induzir propostas nas quais os espaços destinados aos pedestres se baseiem numa proteção que lhes impõe percursos mais penosos. As passagens de pedestres de Brasília sob os eixos viários testemunham o fracasso de tal partido. O pedestre não deve ser conduzido a ceder a cota da rua para o veículo, pois a continuidade dos percursos é sua prerrogativa. Os partidos assumidos nas propostas estruturantes do Plano Urbanístico possuem uma intrínseca consideração com a vida urbana cotidiana, promovida pela ação do pedestre no espaço público. O espaço de fruição e lazer junto
à Lagoa e o ambiente de mobilidade criado na Estação Intermodal marcam os denominados espaços de fluxos, como encaminhamentos para alcançar o transporte público, e os lugares públicos.
ARCO OESTE As características urbanas do Arco Oeste têm origem na sua localização entre o lado esquerdo da várzea do Tamanduateí e a Colina Histórica, lugar primordial da fundação da cidade. A localização da aldeia na “parte alta” teve, na diferença de cotas que separa a várzea da colina, a sua razão de ser: enxergar possíveis invasores à distância explica a estratégica opção dos fundadores. Uma preciosa iconografia histórica traduz a importância e o desenvolvimento dessa relação entre o núcleo urbano e a várzea. As imagens mostram uma adaptada relação funcional e histórico-geográfica entre os dois níveis. Na primeira década do século XX, a Várzea do Carmo ganhou o ambicioso e afrancesado projeto que criava o Parque Dom Pedro II – e que permaneceu incompleto. A partir dele, definiram-se novas interações entre as cotas. Tão forte quanto a distância física imposta pelas cotas foi o contraste entre o desenvolvimento urbano das ruas centrais, localizadas “no alto”, do qual o Pátio do Colégio participava, e o partido bucólico do Parque, que acabou por gerar um distanciamento funcional. Construir uma seção transversal do Arco Oeste, cortando o Parque no sentido leste–oeste, foi uma opção metodológica que ajudou a confirmar a necessidade de novas articulações entre os dois níveis. Dialogar com as permanências do sítio geográfico e as transformações acumuladas historicamente se tornou o cerne das propostas. Do ponto de vista funcional, vale lembrar que o Parque Dom Pedro II é assumido neste plano urbanístico como uma plataforma de transporte público na qual uma multidão de usuários que acessa o terminal de
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Parque Dom Pedro II, proposta [fotomontagem]. Foto: Nelson Kon
Parque Dom Pedro II, Proposal [Photo montage]. Photo: Nelson Kon
ônibus se distribui e completa a pé seus deslocamentos rumo aos demais quadrantes da cidade. As propostas encaminhadas seguiram duas vertentes: uma baseada em intervenções de caráter estritamente urbano, que incidia apenas no espaço público; e outra de caráter programático e arquitetônico, que visava intervir no interior das quadras em busca de maior fluidez entre elas e de valorização das atividades existentes. Quanto à malha urbana não foram buscados nexos compositivos, mas apenas a criação de novas e confortáveis condições para a circulação máxima de pedestres em função dos acessos aos demais setores do Centro. Uma única e importante relação que poderia ser vista como de tipo compositivo visa a articulação entre a praça da Sé e o Parque Dom Pedro II através da avenida Rangel Pestana. Aliás, trata-se de um eixo já existente, mas pouquíssimo utilizado pela ausência de pontos de travessia que acessem a borda do Parque. Propõe-se intervir na tradicional rua 25 de Março, com padronização e alargamento de suas calçadas, mais um novo sistema de iluminação pública. Cria-se assim um trecho denominado Nova 25 de Março, onde os pedestres poderão percorrer as calçadas das lojas comerciais confortavelmente. A praça Fernando Costa deverá ser reorganizada a partir da eliminação de um trecho de via perimetral, acomodado de outra forma. Atendendo à solicitação da SMDU, será construído um estacionamento subterrâneo com 260 vagas por pavimento e acessos na praça. No interior das quadras são simuladas ocupações particulares, para atender a diversas situações. Há preocupações com a proteção dos edifícios históricos e com a normatização de gabaritos. Para abrigar o comércio ambulante que hoje ocupa a praça Fernando Costa e será eliminado, propõe-se a construção de edifícios-galeria. Indica-se a adaptação de antigos imóveis para a instalação
de equipamentos sociais públicos, destinados por exemplo à população em situação de rua. Em um outro registro, propõe-se manter desobstruída a paisagem visual abrangente do Parque a partir da Colina, por meio de correções e normatização de gabaritos dos edifícios situados no Arco Oeste. Dentro dessa premissa, e atendendo a uma condicionante apresentado pela então SMDU, será demolido o edifício-garagem erguido de forma irregular, situado na rua 25 de Março em frente à praça Fernando Costa, que constitui uma grave barreira visual para o mirante junto ao Pátio do Colégio. No que se refere aos programas de uso das edificações, tanto as remanescentes como as novas, propostas pelos Projetos Específicos, o objetivo é promover o uso misto, com adensamento habitacional combinado com reforço à atividade comercial já tradicionalmente ali presente. Propõe-se uma nova ligação vertical com a instalação de um conjunto de escadas rolantes ao ar livre, conectando a cota baixa na praça Fernando Costa com o nível no Pátio do Colégio.
ARCO NORTE O setor norte do Parque Dom Pedro II, no qual foi delimitado pela SDMU o perímetro do Arco Norte, é um exemplo claro da complexidade urbana construída historicamente. Isso vale para todo o entorno, mas é ali que se apresentam de maneira mais forte os atributos físicos e funcionais da organização urbana que condicionaram tanto as propostas de intervenção como os projetos específicos. As funções urbanas consolidadas nesse território reproduzem, na escala local, uma organização físico-espacial que se expandiu a partir do Centro, condicionada pelo padrão de urbanização extensiva. Assim, as propostas para o Arco Norte são, obrigatoriamente (como em todo plano urbanístico), multiescalares. A presença natural do rio Tamanduateí, que
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tangencia o designado como perímetro no sentido norte–sul, é acompanhada por um enredado sistema viário cujo objetivo é garantir a presença do transporte público de massa. Portanto, refletem-se no Arco Norte questões do funcionamento urbano associadas à localização próxima do terminal Dom Pedro II. Do ponto de vista funcional, outra característica importante do Arco Norte é a contiguidade com setores urbanos de comércio popular. Além do Mercado Municipal, no interior do perímetro, há um amplo conjunto de ruas comerciais, conhecido genericamente como “região da rua 25 Março”. Trata-se de um dos mais tradicionais e mais frequentados setores comerciais atacadista e varejista da metrópole. O fluxo de transporte público e veículos de carga mais a multidão de frequentadores atraídos pelas atividades ali concentradas geram um ambiente urbano ao mesmo tempo vivo e muito desordenado. O acesso cotidiano a essas ruas flui de diversos pontos, em especial do terminal de ônibus Dom Pedro II e da estação de metrô São Bento. Completando tal caracterização, inclui-se o grande contingente de usuários com origem externa à metrópole que aflui em numerosos ônibus fretados. São consumidores que chegam e partem no mesmo dia. O desembarque, o estacionamento e o embarque nos fretados são improvisados nos espaços livres da antiga área de manobra junto à ferrovia no Pátio do Pari. É dali que a multidão de visitantes caminha para as ruas comerciais. A dispersão dos acessos aos transportes públicos no setor norte do Parque cria intensa circulação de pedestres, expondo seu caráter disfuncional. O foco na demanda permanente de maior capacidade para o tráfego de veículos afastou qualquer tentativa de oferecer qualidade aos percursos de pedestres. As características espaciais e funcionais que ali vigoram cabem bem na definição de espaço urbano implodido. Portanto, considerar os problemas situados fora do
perímetro do Arco Norte é indispensável para que as propostas feitas no seu interior ganhem coerência.
CONDICIONANTES DAS PROPOSTAS DO ARCO NORTE A análise urbana do Arco Norte parte das condicionantes previamente estabelecidas pela PMSP: desapropriação das quadras 34, 35 e 36, entre a avenida Mercúrio, a avenida do Estado e a praça São Vito, onde estavam localizados os edifícios São Vito e Mercúrio; e a demolição do viaduto Diário Popular. A programada demolição dos edifícios Mercúrio e São Vito, seguida pela integração de seus terrenos ao novo parque, possibilita uma nova articulação e a abertura de vias transversais para transpor o rio Tamanduateí, criando condições para uma relação entre o setor norte de outros logradouros, interiores ou adjacentes ao Parque. O partido assumido pelo Projeto é, neste caso, criar relações de continuidade entre espaços importantes que hoje estão desconectados entre si.
AS PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO URBANA As intervenções urbanas no Arco Norte são pautadas por relações multifuncionais que têm no espaço público o seu agente de organização. A circulação de pedestres é o leitmotiv das propostas. Como usuário do transporte público e frequentador de todas as atividades oferecidas, são protagonistas das intervenções. Por se tratar de um movimento de rearticulação, que visa conter ou corrigir a implosão espacial e funcional, as propostas se concentram em enfrentar os problemas existentes, e potencialmente facilitar o acesso aos equipamentos que serão ali instalados. Antecipam estrategicamente um espaço público capaz de receber as novas atividades oferecidas pelos novos equipamentos: Senac e Sesc.
A PRAÇA DO MERCADO COMO PONTO DE CONVERGÊNCIA DA CIRCULAÇÃO PEDESTRE Como histórico equipamento público que permanece pleno de vitalidade, o Mercado Municipal se tornou o centro da reorganização urbana proposta pelo Plano, como detalhado no projeto do Arco Norte. Sua complexidade funcional é enorme e não foi suficientemente enfrentada no belo restauro do edifício realizado pelo poder público no início dos anos 2000: as questões de carga e descarga de mercadoria, mais a presença diária de compradores e frequentadores, ampliadas depois do restauro, exigem ainda transformações estratégicas. Inaugurado em 1933, o Mercadão é um foco do partido para as propostas das transformações urbanas que as análises indicaram. Desde sua inauguração mantém sua atividade de forma muito intensa. Embora o imponente e inovador projeto tenha ocupado toda uma quadra, hoje está bastante cerceado em relação ao seu entorno imediato, carente de um destaque urbano claro, que identifique seus acessos. Essa função é contornada por entradas laterais diretamente ligadas à rua, sem nenhuma transição entre o exterior e o interior. A atual implantação urbana não corresponde a sua importância histórica e merece ser explorada neste Plano e no Projeto para o Arco Norte. A análise urbana conduziu à premissa: o Mercado merece conviver de forma mais destacada com o espaço público no qual está inserido. Deve desempenhar um papel articulador entre os edifícios e os espaços públicos do seu entorno. A realização dessa proposta está condicionada à desapropriação de uma das quadras laterais ao Mercado, a fim de criar um espaço público contíguo ao edifício, a Praça do Mercado. Com mais de 9 mil metros quadrados, essa praça, além de desafogar e demarcar uma passagem clara, permeável entre o espaço externo e interno, terá suas funções ampliadas
ao receber outros acessos, a começar de um estacionamento subterrâneo, já hoje bastante demandado. Outro elemento completará o novo espaço público com a inclusão da estação de metrô Mercado, prevista a partir da futura Linha 19. O impacto dessa nova praça no seu entorno deverá ser considerável. Com a estação, a Praça do Mercado ganhará características de nó de articulação de um sistema de espaços públicos mais qualificado para a circulação pedestre. As novas atividades propostas para o Arco Norte deverão ampliar a sua diversidade funcional em horários mais estendidos. A articulação dos novos equipamentos de cultura, lazer e atividades esportivas, com o transporte público e demais equipamentos e atividades, se tornou uma meta a ser explorada. A proposta privilegiou os acessos aos novos equipamentos, as continuidades do sistema de circulação de pedestres em função do transporte público de massa, incluindo a vizinhança imediata, entre outros edifícios históricos que já possuem programas de lazer e cultura, com destaque para o Museu Catavento e o futuro Museu do Estado, na Casa das Retortas.
LIGAÇÕES TRANSVERSAIS E UMA REDE DE PERCURSOS UNIFICADOS As futuras vias transversais transpondo o Rio Tamanduateí, a interligação do Parque com o Arco Norte e o próprio Centro da cidade configurarão uma única quadra que englobará as duas ruas locais do Arco Norte. O rebaixamento da avenida do Estado irá aproximar o vértice do Arco Norte, que coincide com a ponta norte do próprio Parque e o Mercado Municipal. A partir das possibilidades abertas por essas intervenções propõe-se uma nova rua transversal, de caráter local, separando a nova quadra do Parque. Irá cruzar o rio e fazer a ligação entre as ruas da Figueira e da Cantareira. O rebaixamento da avenida do Estado permitirá também a construção
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de uma ampla plataforma que cruzará a nova via e o rio Tamanduateí, criando uma ligação direta entre o Mercado e os edifícios do Senac, que posteriormente saiu do projeto, e do Sesc. Estas intervenções são essenciais para a criação de uma rede de caminhos para os pedestres que circulam entre os transportes públicos e o novo equipamento de lazer e cultura, o Sesc, cuja proposta de funcionamento diurno e noturno exigirá conexões pedestres seguras. A instituição, que se afirma década após década pela qualidade dos programas de atividades, também ganhará bastante com a interlocução urbana oferecida pelo novo Parque Dom Pedro II. E este, ao mesmo tempo, ganhará uma forte caracterização no seu setor norte, onde deverão se agregar outros importantes equipamentos públicos: o Catavento, o Mercado Municipal mais o futuro Museu da História do Estado de São Paulo, localizado na Casa das Retortas.
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Regina Maria Prosperi Meyer é arquiteta urbanista, professora titular da FAU – USP.
Dom Pedro II Park’s Urban Planning
Regina Maria Prosperi Meyer, Plan coordinator
In 2011, the Municipal Secretary for Urban Development (SMDU) at the time put forward a succinct demand to the School of Architecture and Urbanism of the University of Sao Paulo (FAU - USP): to develop an urban planning for Dom Pedro II Park. However, conditions were very specific, some of them bearing great possibilities and others demanding responsibilities. Delimiting two urban perimeters named Arco Norte and Arco Oeste, for which the SMDU requested the elaboration of specific projects, is what paved the way for the plan’s strategies. Other conditions have been decisive for the analysis and general party (that is, deciding on the main lines of the project). On the urban side, the most decisive condition, due to its metropolitan scope and local impact, was the lowering of Avenida do Estado in a tunnel, in the stretch between Mercúrio and Cruzeiro do Sul avenues, whose proposal the Municipal Department of Urban Infrastructure and Works (Siurb) submitted and whose size opened up possibilities for high-impact projects. Siurb established another condition, which also gave rise to proposals: the demolition of the Diário Popular overpass, built in 1969 to facilitate access to the Downtown for vehicles coming from the districts to the east of Brás. Today, the overpass is considered outdated in road and functional terms. From the perspective of existing buildings and expropriation of blocks, the government provided for conditions that
defined the premises for propositions of specific projects to be elaborated for the two arches, including the expropriation of three blocks between Mercúrio, Estado avenues and the São Vito square, as well as the demolition of the Mercúrio and São Vito buildings, both located in Arco Norte. Both demolitions were defined and started before the contracting of the urban plan and specific projects. For Arco Oeste, the decision of the government to demolish the garage building located at 25 de Março street, built irregularly in the 1980s, gave rise to placed important interventions into perspective. Far above the region’s specifications, this building was an undesirable visual barrier from Pátio do Colégio viewpoint. Following the proposal for its demolition, the SMDU also demanded the reorganization of the adjacent Fernando Costa square. Because the informal commerce that is located today all over the public space was removed, a gallery-building for commerce was requested to be implemented on the perimeter of a block that would also be expropriated.
OVERVIEW Large urban projects defined both by their territorial dimension and complexity and, consequently, high budgets, carried out from the 1980s onwards in developed and developing countries, are quite
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controversial. However, when focused on serving urban functions of mobility, these provide valuable innovations in consolidated central urban territories. Because of their positive potential for comprehensive urban renewal, both from the point of view of new programs and the reorganization of public spaces, they are fundamental to contemporary urbanism. One of its attributes is the ability to mitigate, with new urban arrangements, the negative impacts caused by the random process that accompanied the gradual implementation of different modes of public transport in specific urban territories, especially in the central areas of metropolises.
ASSUMPTIONS
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Some assumptions accompanied the first phase of the work without having to be explained. The first arises from an alert expressed by the Italian philosopher and politician Massimo Cacciari: “In order to transform, it is necessary to know the rules, not to have the indecent pretense to create the game”. That lead us to historical and geographical analyzes of the Dom Pedro Park site in order to understand the urban evolution of that place. The second assumption comes as an offshoot and has an operational bias: the need to read the context, a common practice in urban and architectural projects. And the readings, obviously, can vary greatly. Since the Park has a precise name from an administrative and registration point of view, but seemed insufficient for a broader urban analysis, we sought a figure that would more accurately represent its functional and spatial scope. This posture was basic for the analysis and, consequently, for the propositions. A cartographic analysis of four historical maps covering a long period of seven decades, between 1890 and 2008, allowed a historical-geographic and urban reading. Questions that became dominant emerged from this examination.
Attributes and impasses between the designs of urban history and the resistance of the geographic site were identified at each stage. From this evolutionary procedure, we drew a clear vision of the processes that produced transformations and urban permanence inside and outside the Park. Even so, we do not see with the necessary clarity the image through which we would identify it in our analyzes and proposals. It was necessary to explore other scales, with which the Park articulates more locally, to reach our goal. By analyzing these closer relations, the immense body of the Park indicated, taking it as a radiating point, the demarcation of nine neighborhoods and a few urban sectors. In some cases, the motto of the analysis is the current activity of the sector, as in the case of the so-called Cerealist Zone. But stretches of neighborhoods bordering the Park were also identified, such as Brás, Glicério and Cambuci. Old and new architectural and functional landmarks were also considered, since they are interesting for the urban planning for their dimensions and current disconnections. This is the case of the Municipal Market, the former Casa das Retortas, installations of the former Gasômetro, the deactivated railway yard in Pari and the immense Pentecostal Church. Investigating continuities, discontinuities or even the possibility of false continuities is an always demanding exercise, as it implies penetrating flows, which can either be structural as in the case of the road system, or functional, such as on the edges of neighborhoods. Permanencies and dissipations must be recognized, the reconstitution must be proposed for those that seem desirable for an urban planning that contemplates the present and the future. A conceptual dimension was also present in the referral and represented a parameter for the plan and specific projects. It is a working method based on the concept of intervention in the existent city developed by the Portuguese
architect Nuno Portas (in his text “Notes on intervention in the existent city”, published in Sociedade & Território magazine, n. 2, Porto, 1985 ). It seeks to articulate public projects that focus on consolidated urban fabrics, whether the oldest or relatively recent, with the new conditions of urban reorganization aimed at meeting new social, functional and contemporary urban demands. This is an analysis and, as a consequence, an urban project that seeks to recover urban attributes considered essential for the restoration of better urban conditions, threatened by abusive uses of urban space. Such an option corresponds to the perception of the analysis models limitations, preparation of schematic urban plans and projects dictated by rules and abstract ordinances established beforehand. The need to equate present uses, even when criticized, with the potential for recovering urban qualities is complex and requires analysis, justifications and complex propositions. In the case of Dom Pedro II Park, the enormous historical burden represented by the incorporation of a floodplain with characteristics derived from the presence of the Tamanduateí River in the city posed both a challenge and a happy opportunity. We must emphasize that the recovery of the Park’s urban attributes, as proposed in 1914 and delivered to the population in 1922, did not guide the plan requested in 2011; in other words, the dominant restitution of the essentially bucolic aspects did not lead the general party of the Dom Pedro II Park Urban Plan and the Specific Projects. The new figure outlining the analysis and proposition perimeter incorporated stretches of old adjacent neighborhoods. Thus, other themes were included, such as the presence of areas defined as Social Interest Special Zones (Zeis 3) which demanded new connections with the public transportation with fruition areas located in the Park itself and other public places Downtown. Potential articulations between the Casa das Retortas, the
Gasômetro buildings, the Catavento Museum and the São Paulo State School were also highlighted.
DOM PEDRO II PARK AS A GATEWAY TO THE EAST ZONE DOWNTOWN The general party adopted in the urban plan is based on an assertion about the large public spaces in the central area of São Paulo: the presence of interscale relations indicating the process of the city expansion from Downtown towards the consolidation of the metropolitan territory. Dom Pedro II Park is an obvious space with said attributes and, for a contemporary urban plan, such a reality is unavoidable. The initial analysis, which rested on the definition of a figure on which we should work, made explicit the presence of infrastructural urban systems that place the Park in relation to different scales, from the most local to the metropolitan. The general premises that guided the Plan and the Specific Projects for the North and West Arcs encompass the issues that make up each of these interscalar systems. Two stood out: the hydrographic system represented by the presence of the Tamanduateí River and its floodplain, when it affects the interior of the Park; and the presence of a powerful mass public transport and road system that was randomly installed there. Both provided guidelines for the Plan’s structuring proposals and opened up possibilities for projects in both arcs. The burial of Estado Avenue, the expropriation of blocks and the demolition of an overpass and buildings were decisive factors in forwarding the Plan and Specific Projects.
THE RETENTION LAKE: A LIQUID SQUARE WITH DRAINAGE, TREATMENT AND REUSE OF WATER FROM THE TAMANDUATEÍ RIVER The hydrographic system represented by the Tamanduateí River and its floodplain, whose historical occupation produced the
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urban sectors located to the west of the park, imposed the need to face seasonal flooding. The history of this floodplain is told in pictorial and photographic images that record the recurrent floods. Considering that the problems related to the Tamanduateí basin could not be fully resolved, the Lake proposal addresses drainage from a local scale. It is, therefore, a strategic project, since it is located at the local scale, and which offers information for the broader scales thus opening up future possibilities. By incorporating the drainage issue, the Urban Plan indicates a solution that brings the natural landscape closer to the contemporary and quality public space resulting from it. The Urban Plan assumes, in relation to drainage, solutions aimed at integrating the primordial system represented by the river and its floodplain, and the secondary infrastructure so as to consider the technical requirements and reinforce the urban and landscape character of the hydraulic works necessary for such context. The set of proposed actions assumes infrastructural, urban and landscape functions. A specialized consulting company that developed the project with specific drainage systems, one for the east bank and one for the west bank of the Park. Despite the strong presence of technical issues and solutions that led to the Lake’s proposal, it maintained the objective of creating a space for passing users’ leisure or users looking for a quiet place inside the Park. The solutions found for the coexistence of the river with the Park enable the creation of a public space where the relation with water recreates a “mental geography” that takes up the presence of the river at the pedestrian scale.
THE INTERMODAL STATION: CREATING A CONTEMPORARY MOBILITY ENVIRONMENT Everyday urban life in contemporary societies has a crucial role in mobility. The relation between extensive urbanization and the mobility of people in the
continuously expanded urbanized territory has become an unavoidable and complex issue. Since the 1980s, we have followed urban projects, both in developed and developing countries where the focus was on meeting urban functions governed by mobility. These are large-scale projects that provided innovations in already consolidated central urban territories. Due to their ability to mitigate the negative impacts caused by the random process with new urban arrangements, they are essential for contemporary urbanism. Today, Dom Pedro II Park is a manifest result of the relationship between the extensive urbanization process in the metropolis of São Paulo and that of mass public transport, which strongly impacted its territory from 1950 onwards. It has become one of the points of convergence of public transport users commuting daily from east neighborhoods and districts land the metropolis towards the Downtown and then to other quadrants of the metropolis. As the “Gateway of the East Zone” Downtown, for decades the Park was the target of constant and unsystematic adaptations of road supports that served the expansion and accommodation requirements of different transportation modes. The dispersed set of spaces aimed at serving mass transport today brings together various pieces of equipment. The Dom Pedro II Park bus terminal, created in 1996, located at Exterior Avenue, next to Estado Avenue, is considered the busiest in Downtown with approximately 80 bus lines and 79,000 daily departures. It was built in 1966 and provisionally expanded with its demolition scheduled for ten years after the completion of the works in 1994, and its location is one of the most greatest problems of the current urban situation in the Park. The Line 3, Dom Pedro II subway station, opened in 1980 used to have 24 thousand users commuting a day before the pandemic. Finally, the exclusive bus lane Expresso Tiradentes, opened in 2007, serves around 75 thousand passengers a day.
One of the solutions is to create a mobility environment that articulates equipment and creates safe and comfortable pedestrian access systems. The challenges for locating such equipment inside the Park, already occupied in a dysfunctional and segregated way, imposed choices. The temporary location of the Dom Pedro II Terminal pointed to a possibility. The spatial and functional articulation with the Dom Pedro II subway station (Red Line) is a very important possibility. The proposed intermodal station should bring together the two bus terminals, SPTrans and Expresso Tiradentes, and also, in the future, house a new subway station, which should reach the Downtown through Celso Garcia Avenue. The proposed structure aims to create a mobility environment in which public transport gains the important function of incorporating passenger flows in different modes – bus, subway, bicycle – comfortable and safely. It also has the advantage of reducing the circulation of buses within the Park’s perimeter and, thus, facilitate the creation of new accesses to meet the flow of public transport networks users. Its location in the central sector to the east of the Park is strategic from the point of view of the other functions covered by the Plan, as it guarantees the articulation of the other equipment and creates suitable routes for users who make connections between the different means of transport. It should be a catalyzer of the transformations aimed for in the urban plan both for the service of important equipment located there and for those that will be elaborated by specific projects, as is the case of the future Sesc Parque Dom Pedro.
ELIMINATION OF OVERPASSES AND CREATION OF NEW CROSSINGS The analysis of the road system, especially overpasses crossing the Park, leads to important outcomes translated into proposals and projects. From 1960 onwards,
it became evident that expressways accompanied by overpasses had good results connecting distant territories; however, they had a heavy and very negative impact on local urban systems, which cross and disconnect. This was the calamitous result of the overpasses that cross the Park. With a considered elimination of overpasses, the urban plan incorporated the proposals for structural projects, especially for the lake and the intermodal station. And, as already mentioned, the plan included the lowering of Estado Avenue between Mercúrio and Cruzeiro do Sul Avenues proposed by the municipal government. With this express Park north-south underground connection, the Plan should provide for new and decisive proposals and their consequences. However, the important work proposed by the municipal government does not by itself remove the complexity reached by the elevated road system, carried out in an unsystematic way, always with the sole purpose of expressly transposing the east-west dimension of the Park, and, in the case of Expresso Tiradentes, the north-south direction. Such crossings created an iconic image of the Park’s urban ruin. After decades of road interventions aimed at facilitating the flow of vehicles and public transportation, the so-called intra-urban expressways gained enormous presence throughout the city and in an more so in Dom Pedro II Park. A set of overpasses crossing the Park ended up creating barriers towards the east-west. The difference in elevations between the sectors located to the west of the floodplain was overcome with overpasses that reached the neighborhoods located in the other quadrants, establishing their own geometries that were inherent to the concepts of express road systems. They created aerial barriers aimed strictly at the flow of vehicles, designing their paths in a fragmented way in the Park. They produced an “archipelago of voids” that was duly represented in our analyses. Subsequently, the two public transport
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systems introduced in the areas adjacent to the Park, the Blue Line of the subway and the Expresso Tiradentes, followed the same implementation pattern. The subway, for technical reasons, could only do an elevated cross of the floodplain, but the Expresso Tiradentes could have found other options for its implementation. Based on a detailed analysis, the Urban Plan proposed a relocation of the aerial road system that reintegrates the Park to its immediate surroundings – considering that the demolition of the 25 de Março, Mercúrio, Antônio Nakashima and Diário Popular streets overpasses had already been proposed by Siurb. Its replacement for level crossings will guarantee two very important premises within the Park: the circulation of pedestrians in a comprehensive and continuous manner, plus the abolition of residual spaces left by the large structures of the elevated road system in the lower elevations.
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PEDESTRIANS AND DOM PEDRO II PARK The characterization of the Park as the “gateway of the East Zone” of the city and the metropolis of São Paulo Downtown comes from the recognition of the set of mobility functions concentrated and overlapped there. Although the concept of mobility includes the notion of accessibility, it is important to qualify this interdependence in this context. The analyzes carried out according to the Urban Plan showed that activities and functions focused on mobility became a priority in terms of their functional and spatial organization. Mainly at the local scale, accessibility is evaluated by the possibilities offered to public transport users to organize their commutes. And the quality of commutes is intrinsically related to distances, time and adequacy and quality of public space. As mass public transport requires an adequate road network, accessibility also requires a specific network intended for its user – the pedestrian – before the latter can reach
it. Although the two networks are subject to different physical-spatial requirements, both converge to meet the same urban function: mobility accompanied by its complementary attribute - accessibility. An analysis of the functioning of the Park pointed to the condition of the pedestrian as a central and unavoidable problem. When walking to reach the equipment, accessing public transport or crossing the park, there is always an obstacle to the pedestrian. The logic that presided over the distribution of monofunctional overpasses, exclusive to vehicles, impacted the pedestrian space. The comparative analysis of the transformations of level pedestrian crossings between 1945 and 2006 made the sharp decrease in their possibilities clear. Priority was notoriously given to large structures, especially overpasses for the circulation of vehicles both in form and scope. And the disappearance of the public space in Dom Pedro II Park, as a multipurpose space, of passage and permanence, is an issue faced by Specific Projects. The Park’s pedestrian space has been transformed into contingent itineraries, determined by access to public transport. The separation between vehicles and pedestrians ended up demanding an almost limitless resilience from the latter. The urban culture persistence in looking for solutions focused on separating functions and activities may, even today, induce proposals in which spaces for pedestrians are based on protection that imposes more difficult paths. Brasília’s pedestrian crossings under the axes testify to the failure of such a party. Pedestrians should not be led to give up the street level to the vehicle, as the continuity of the paths is their prerogative. The parties assumed in the Urban Plan structuring proposals have an intrinsic consideration for everyday urban life, promoted by pedestrian action in public space. The space for enjoyment and leisure next to the Lake and the mobility environment created at the Intermodal
Station mark the so-called flow spaces, as routes to reach public transport and public places.
ARCO OESTE (WEST ARCH) West Arch’s urban characteristics originate on the left side of the Tamanduateí floodplain and the Historic Hill, a primordial place for the foundation of the city. The location of the village in the “upper part” had, in the difference in elevations that separate the floodplain from the hill, its reason for being: seeing possible invaders from a distance explains the strategic option of the founders. A precious historical iconography reflects the importance and development of this relationship between the urban core and the floodplain. Images show an adapted functional and historical-geographic relationship between the two levels. In the first decade of the 20th century, Várzea do Carmo won the ambitious, French-style project that created the Dom Pedro II Park – and which remained incomplete. New interactions between the elevations were defined from it. As strong as the physical distance imposed by the elevations was the contrast between the urban development of the central streets, located “up high” with Pátio do Colégio as part of it, and the park’s bucolic party, which ended up generating a functional distance. Building a cross section of Arco Oeste, cutting the Park in an east-west direction, was a methodological option that helped to confirm the need for new articulations between the two levels. Dialoguing with the permanence of the geographical site and the historically accumulated transformations became the core of the proposals. From a functional point of view, it is worth remembering that Dom Pedro II Park is assumed in this urban plan as a public transport platform in which a multitude of users who access the bus terminal are distributed and complete their journeys on foot towards the other quadrants of the city.
The proposals submitted followed two aspects: one based on strictly urban interventions which focused only on public space; and another programmatic and architectural aimed at intervening within the blocks in search of greater fluidity between them and the enhancement of existing activities. As for the urban fabric, no compositional links were sought, but only the creation of new and comfortable conditions for maximum pedestrian circulation due to access to other Downtown sectors. A single and important relation that could be seen as a composition is the articulation between Praça da Sé and Dom Pedro II Park through Rangel Pestana Avenue. In fact, it is an existing axis, but very little used due to the absence of crossing points towards the edge of the Park. A proposal included standardizing and widening the sidewalks of the traditional 25 de Março streets with a new public lighting system. Thus, a section called Nova 25 de Março (New 25 de Março) is created where pedestrian may comfortably walk along the sidewalks of stores. Fernando Costa square should be reorganized by eliminating a stretch of perimeter road, accommodated in another way. At the request of SMDU, an underground car park will be built with 260 spaces per floor and accesses in the square. Private occupations are simulated to meet different situations inside the blocks. There are concerns about the protection of historic buildings and the standardization of specifications. To house the street commerce that now occupies Fernando Costa square and will be eliminated, there is a proposal to build a gallery-building. Old buildings should be adapted to receive public social equipment for the homeless. Another record proposes to keep the Park’s comprehensive visual landscape from the Hill unobstructed, by means of corrections and standardization of the Arco Oeste buildings’ specifications. Within this premise, and in compliance with a condition presented by the then SMDU, the irregular garage building, located at 25 de Março
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street in front of Fernando Costa square, which constitutes a serious visual barrier to the overlook next to the Pátio do Colégio. With regard to programs for the use of buildings, both the remaining and the new ones, proposed by the Specific Projects, the objective is to promote a mixed use with housing density combined with reinforced commercial activity already traditionally present there. A new vertical connection is proposed with the installation of a set of outdoor escalators connecting the low level in Fernando Costa square with the Pátio do Colégio level.
ARCO NORTE (NORTH ARCH)
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The north of Dom Pedro II Park, named Arco Norte by SDMU, is a clear example of the historically built urban complexity. This is true for the entire environment, but it is where the physical and functional attributes of the urban organization that conditioned both the intervention proposals and the specific projects are most strongly presented. The urban functions consolidated in this territory reproduce, at local scale, a physical-spatial organization that expanded from Downtown, conditioned by the extensive urbanization pattern. Thus, the proposals for Arco Norte are necessarily (as in any urban plan) multi-scale. The natural presence of the Tamanduateí River, on the edge of the north-south perimeter, is accompanied by an intertwined road system whose objective is to guarantee mass public transport. Therefore, the Arco Norte encompass matters of the urban operation associated with the location near Dom Pedro II terminal. From the function viewpoint, another important characteristic of Arco Norte is the proximity to popular commerce urban sectors. In addition to the Municipal Market inside the perimeter, many commercial streets surround the area and are known as “25 de Março street region”. This is one of the most traditional and visited wholesale and
retail sectors in the metropolis. The flow of public transport and cargo vehicles, plus the multitude of visitors attracted by the activities concentrated there, generate an urban environment that is both lively and very disorderly. Daily access to these streets comes from different points but specially the Dom Pedro II bus terminal and the São Bento subway station. Topping up this characterization is the high number of users coming from outside the metropolis in several charter buses. They are consumers arriving and leaving on the same day. Disembarkation, parking and boarding of chartered buses are improvised in the open spaces of the former maneuvering area next to the railway in Pátio do Pari. It is from there that the crowd of visitors walks to the commercial streets. The dispersion of accesses to public transport in the north of the Park creates intense pedestrian circulation, exposing its dysfunctional character. A focus on the permanent demand for greater capacity for vehicular traffic has ruled out any attempt to provide quality footpaths. Both spatial and functional characteristics fit well into the definition of imploded urban space. Therefore, the problems outside the Arco Norte perimeter must be considered for the proposals focused on its interior gain coherence.
Tamanduateí River, creating conditions for a relationship between the northern sector of other public spaces, interiors or adjacent to the Park. In this case, the party assumed by the Project is to create relations of continuity between important spaces that today are disconnected from each other.
CONDITIONS FOR ARCO NORTE PROPOSALS
As a historic public facility that remains full of vitality, the Municipal Market became the center of the urban reorganization proposed by the Plan, as detailed in the Arco Norte project. Its functional complexity is enormous and was not sufficiently addressed in the beautiful restoration of the building carried out by the public authorities in the early 2000s: the issues of loading and unloading goods, plus the daily presence of buyers and regulars, expanded after the restoration, still require strategic transformations. Opened in 1933, Mercadão is a focus of the party for the urban transformations’ proposals indicated in the analyzes. Since
Arco Norte’s urban analysis is based on the conditions previously established by the PMSP: expropriation of blocks 34, 35 and 36, between Mercúrio street, Estado Avenue and São Vito Square, where the São Vito and Mercúrio buildings were located; and the demolition of the Diário Popular overpass. The scheduled demolition of the Mercúrio and São Vito buildings followed by the integration of their land into the new park, allows for a new articulation and the opening of crossways to cross the
URBAN INTERVENTION PROPOSALS Urban interventions in Arco Norte are guided by multifunctional relations that have their organizational agent in the public space. Pedestrian circulation is the leitmotif of the proposals. As a public transport user, participating in all the activities offered, they are protagonists of the interventions. As this is a re-articulation movement, aimed at containing or correcting the spatial and functional implosion, the proposals are focused on facing the existing problems, and potentially facilitating access to the equipment that will be installed there. They strategically anticipate a public space capable of receiving the new activities offered by the new facilities: Senac and Sesc.
THE MARKET SQUARE AS A POINT OF CONVERGENCE FOR PEDESTRIAN CIRCULATION
its opening, it has been active in a very intense way. Although the imposing and innovative project occupied an entire block, today it is quite restricted in relation to its immediate surroundings, lacking a clear urban highlight that identifies its accesses. This function is bypassed by side entrances directly connected to the street, without any transition between the exterior and the interior. The current urban implantation does not correspond to its historical importance and deserves to be explored in this Plan and in the Project for Arco Norte. The urban analysis led to the premise: the Market deserves to be more prominently with the public space in which it is inserted. It must play an articulating role between buildings and the public spaces around them. The realization of this proposal is conditioned to the expropriation of one of the blocks on the side of the Market, in order to create a public space adjacent to the building, the Praça do Mercado. With more than 9,000 square meters, this square, in addition to opening up and demarcating a clear, permeable passage between the external and internal spaces, will have its functions expanded by receiving other accesses, starting with an underground parking, which is already in great demand today. Another element will complete the new public space with the inclusion of the Mercado subway station, planned for the future Line 19. The impact of this new square on its surroundings should be considerable. With the station, Praça do Mercado will gain the characteristics of an articulation node in a system of public spaces that is more qualified for pedestrian circulation. The new activities proposed for Arco Norte should expand its functional diversity in longer hours. The articulation of new equipment for culture, leisure and sports activities, with public transport and other equipment and activities, has become a goal to be explored. The proposal favored access to new equipment, continuities of the pedestrian circulation system due to mass public transport, including the immediate neighborhood, among other historic
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buildings that already have leisure and cultural programs, with emphasis on the Catavento Museum and the future State Museum, in Casa das Retortas.
CROSS CONNECTIONS AND A NETWORK OF UNIFIED PATHWAYS
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The future cross roads crossing the Tamanduateí River, the interconnection of the Park with Arco Norte and the Downtown itself will form a single block that will encompass the two local streets of Arco Norte. The lowering of Estado avenue will bring together the apex of Arco Norte, which coincides with the north end of the Park and the Municipal Market. Based on the possibilities opened up by these interventions, a new transversal street is proposed, with a local character, separating the new block from the Park. It will cross the river and connect Figueira and Cantareira streets. The lowering of Estado avenue will also allow the construction of a wide platform that will cross the new road and the Tamanduateí River, creating a direct connection between the Market and the Senac’s, which later left the project, and Sesc’s buildings. Such interventions are essential to create a network of paths for pedestrians circulating between the public transport and the new leisure and cultural facility, Sesc, whose proposed day and night operation will require safe pedestrian connections. The institution, which is decade after decade consolidated for the quality of its activities, will also benefit a lot from the urban dialogue offered by the new Dom Pedro II Park. Which, at the same time, will gain a strong characterization in its northern sector where other important public facilities should be added: the Catavento, the Municipal Market plus the future Museum of History of the State of São Paulo, located in Casa das Retortas. — Regina Maria Prosperi Meyer is an urban architect, professor at FAU – USP.
Cronologia Timeline
Assinatura de uma carta de intenção pela Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), na gestão Gilberto Kassab, para cessão futura do terreno à Federação do Comércio. Signature of a letter of intent by the Municipality of São Paulo (PMSP), under the Gilberto Kassab administration, for the future assignment of land to the Federation of Trade.
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Área em 2011, na assinatura da intenção de cessão. Foto: Secretaria de Habitação Area in 2011, at the signing of the concession intention. Poto: Housing Department
buildings that already have leisure and cultural programs, with emphasis on the Catavento Museum and the future State Museum, in Casa das Retortas.
CROSS CONNECTIONS AND A NETWORK OF UNIFIED PATHWAYS
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The future cross roads crossing the Tamanduateí River, the interconnection of the Park with Arco Norte and the Downtown itself will form a single block that will encompass the two local streets of Arco Norte. The lowering of Estado avenue will bring together the apex of Arco Norte, which coincides with the north end of the Park and the Municipal Market. Based on the possibilities opened up by these interventions, a new transversal street is proposed, with a local character, separating the new block from the Park. It will cross the river and connect Figueira and Cantareira streets. The lowering of Estado avenue will also allow the construction of a wide platform that will cross the new road and the Tamanduateí River, creating a direct connection between the Market and the Senac’s, which later left the project, and Sesc’s buildings. Such interventions are essential to create a network of paths for pedestrians circulating between the public transport and the new leisure and cultural facility, Sesc, whose proposed day and night operation will require safe pedestrian connections. The institution, which is decade after decade consolidated for the quality of its activities, will also benefit a lot from the urban dialogue offered by the new Dom Pedro II Park. Which, at the same time, will gain a strong characterization in its northern sector where other important public facilities should be added: the Catavento, the Municipal Market plus the future Museum of History of the State of São Paulo, located in Casa das Retortas. — Regina Maria Prosperi Meyer is an urban architect, professor at FAU – USP.
Cronologia Timeline
Assinatura de uma carta de intenção pela Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), na gestão Gilberto Kassab, para cessão futura do terreno à Federação do Comércio. Signature of a letter of intent by the Municipality of São Paulo (PMSP), under the Gilberto Kassab administration, for the future assignment of land to the Federation of Trade.
2011
Área em 2011, na assinatura da intenção de cessão. Foto: Secretaria de Habitação Area in 2011, at the signing of the concession intention. Poto: Housing Department
Realização da 39ª Mostra Internacional de Cinema SP, em parceria com Ministério da Cultura, Petrobrás e PMSP.
Sesc e PMSP assinam a escritura de concessão ao Sesc, por 99 anos, do terreno triangular de 9 mil metros quadrados, localizado entre o Mercado Municipal e o Palácio das Indústrias, que abriga o Museu Catavento Cultural e Educacional.
Abertura da unidade provisória, chamada inicialmente Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II, com a Virada Cultural, em parceria com Secretaria Municipal de Cultura. Um dos destaques do evento foi o show do rapper Rashid.
MAY 28, 2015 Sesc and PMSP sign concession deed to Sesc, for the period of 99 years, of the 9,000 square meters triangular land located between the Municipal Market and the Palácio das Indústrias, which houses the Catavento Cultural and Educational Museum.
JUN. 21, 2015 Opening of the provisional unit initially called Parque Dom Pedro II Sesc Occupation, with the Virada Cultural event in partnership with the Municipal Department of Culture. The rapper Rashid was the main attractions of the event.
28 MAI. 2015
21 JUN. 2015
30 e 31 OUT. 2015
NOV. 2015 a AGO. 2016
Show do rapper Rashid, em 21 de junho de 2015. Foto: Adauto Perin Concert by rapper Rashid, on june 21, 2015. Photo: Adauto Perin
Plateia sentada, integrada ao Autocine da 39ª Mostra Internacional de Cinema SP, em outubro de 2015. Foto: Acervo Sesc Seated audience, integrated to the Autocine of the 39th Mostra International Film SP, in October 2015. Photo: Sesc Collection
Oficina de pintura com Splashcletas, em 22 de maio de 2016. Foto: Alexandre Nunis Painting workshop with Splashbikes, on May 22 2016. Photo: Alexandre Nunis
Assinatura da concessão do terreno, em 2015. Foto: CPA Signing of the land concession on 2015. Photo: CPA
OCT. 30 and 31, 2015 Hosting of the 39th São Paulo International Film Festival, in partnership with the Department of Culture, Petrobrás and PMSP.
Ocupação com oficinas, jogos, espetáculos e shows mensais. NOV. 2015 to AUG. 2016 Occupation with monthly workshops, games, shows and concerts.
Fechamento da unidade provisória para ambientação cenográfica, com adaptação da proposição inicial pelo Coletivo Leve. SEP. 2016 to APR. 2017 Closing of the provisional unit for the scenographic setting, with adaptation of the initial proposal by Coletivo Leve.
Reabertura do Sesc Parque Dom Pedro II com a exposição “Armazém do Brasil: Memórias do comércio da Zona cerealista”, em parceria com o Museu da Pessoa. MAY 1ST, 2017 Reopening of Sesc Parque Dom Pedro II with the exhibition “Brazil Warehouse: Memories of the Cereal Zone Trade” in partnership with Museu da Pessoa.
SET. 2016 a ABR. 2017
1 MAI. 2017
Projeto cenográfico inicial do Coletivo Leve, com estruturas de andaimes, contêineres e pista. Foto: Coletivo Leve Initial scenographic project by Coletivo Leve, with modular structures, containers and track. Photo: Coletivo Leve
Exposição Armazém do Brasil, em 24 de maio de 2017. Foto: Alexandre Nunis Exhibition “Brazil Warehouse: Memories of the Cereal Zone Trade”, on may 1st, 2017. Photo: Alexandre Nunis
Programação mensal com exposições, oficinas, jogos, espetáculos e shows, com melhorias nas instalações.
Programação online durante a pandemia. Online schedule during the pandemic.
2017 to 2020 Monthly schedule with exhibitions, workshops, games, shows and concerts, with improvements to facilities.
2017 a 2020
MAR. 2020 a DEZ. 2021
Vivência em trampolim acrobático, em julho de 2017. Foto: Thaís Kruse Trampoline experience acrobatic, on July 2017. Photo: Thaís Kruse
#EMCASACOMSESC Clã-destin@: uma viagem cênico-cibernética, com Clowns de Shakespeare, de 15 a 18 de setembro de 2021. Foto: Acervo Sesc #EMCASACOMSESC Clã-destin@: a scenic cyber trip, with Clowns de Shakespeare, on September 15-18, 2021. Photo: Sesc Collection
Início das obras da unidade definitiva, com projeto arquitetônico de UNA Arquitetos. Start of permanent unit works with architecture project by UNA Arquitetos.
Memórias e conexões afetivas da Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II Dóris Sathler de Souza Larizzatti, Gerente Adjunta do Sesc Carmo e Sesc Parque Dom Pedro II
Nossa deformação cultural nos faz pensar que cabe a um segmento da sociedade levar cultura a outro. Nós temos é que buscar a cultura no povo, dando condições para que ela brote. Fernanda Montenegro
AGO. 2021
Projeto Arquitetônico de UNA Arquitetos com imagem do terraço e sua vista panorâmica. Foto: UNA Arquitetos Architecture project by UNA Arquitetos, with image of terrace and its panoramic view. Photo: UNA Arquitetos
A cultura nos mantém, mas a arte nos faz avançar. Teixeira Coelho
O centro histórico de São Paulo resiste como emblema da metrópole. Com seu alto valor estratégico, a região é elemento vital para onde convergem vias, fluxos, funções, pessoas, culturas. Uma das áreas mais esquecidas pelo poder público, o Parque Dom Pedro II já foi um espaço de lazer para os paulistanos devido a sua beleza e capacidade de compartilhamento e continua a desempenhar esse papel fundamental no contexto citadino, além de ser a porta de entrada da Zona Leste e dos municípios do ABC ao âmago da capital do estado. Dentre os inúmeros exemplos, na cidade paulistana, de mudanças espaciais, o Parque Dom Pedro II é um dos mais significativos, sendo alvo de degradação urbana e devastação sofrida em áreas verdes para construção e alargamento de vias. De grande brejo e depósito de resíduos, virou um território de convivência e por anos fez parte da infância e vida de pessoas. A partir de
iniciativas com consequências diversas a curto, médio e longo prazos, observamos que propostas de requalificação desse Parque são de suma importância para o centro e para a cidade, no mínimo por estar inserido na área que originou a ocupação e a formação da capital paulista, mas também por sua localização singular como um nó de interligação entre várias regiões municipais e destinos interestaduais. No sentido de requalificar esse Parque, em 2011 ocorreu a assinatura de uma carta de intenção pela Prefeitura do Munícipio de São Paulo (PMSP), na gestão Gilberto Kassab, para a cessão futura de um terreno com cerca de 9 mil metros quadrados à Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado de São Paulo. Tal propósito se concretizou em 28 de maio de 2015, quando o Sesc e a PMSP registraram a escritura desse terreno, localizado entre o Mercado Municipal e o Palácio das Indústrias, que também abriga o Museu Catavento. A área situada nesse entorno histórico e emblemático da cidade foi assim concedida por meio de projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal. Desde então, tem sido ocupada com programação cultural e educativa, coordenada pelo Sesc Carmo, mediante consecutivas aprovações de alvarás para eventos temporários junto a órgãos técnicos da PMSP, entre apoios e parcerias com instituições próximas. Os objetivos são promover o novo polo
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Virada Cultural, em 21 de junho de 2015. Foto: CPA
Virada Cultural, event on June 21, 2015. Photo: CPA
de lazer, além de conhecer e integrar-se aos diversos frequentadores sempre bem-vindos: famílias, trabalhadores, estrangeiros e pessoas em situação de vulnerabilidade. O termo firmado entre as entidades previu a instituição de nova área verde, não inferior à da atual praça São Vito, no perímetro da unidade provisória, mais a prestação gratuita de contrapartidas pelo concessionário, a saber: a) oferecer exposições de cunho artístico e/ou educativo, espetáculos e intervenções artísticas em espaços de convivência, bem como palestras e debates abertos sobre temas ligados a saúde, cultura e ambiente; b) dar e manter acesso à leitura, com empréstimo de livros e periódicos, bem como área de conexão com Internet, com instrutores e equipamentos para navegação virtual, além de desenvolver atividades de arte-mídia e cultura digital; c) promover jogos recreativos para crianças (Espaço de Brincar), jovens e adultos (jogos de tabuleiro, atividades físicas e esportes); d) oferecer, no mínimo, 100 vagas para crianças de 7 a 12 anos no Projeto Curumim, com inscrições e atividades inteiramente gratuitas; e) disponibilizar instalações na unidade para a concretização de ações de órgãos públicos, mediante parcerias entre Secretarias Municipais de Cultura, Educação, Esportes, Saúde, Lazer e Recreação, Verde e Meio Ambiente. Para tanto, um dos primeiros eventos realizados em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura foi a Virada Cultural, em 21 de junho de 2015, com programação intensa, das 10 às 20h: oficinas, intervenções literárias, danças urbanas, orquestra-cortejo, circo, teatro e show do rapper Rashid. O espaço foi nomeado inicialmente como Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II, com o objetivo de atuar cultural e educativamente no local, com destaque à missão institucional, que é promover ações que contribuam para bem-estar e melhoria da qualidade de vida das
pessoas, em especial trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo e seus familiares, mediante a requalificação daquele bairro e de seu entorno. Vale notar que o uso do termo “ocupação” demonstra a flexibilidade com que a entidade nomeia suas unidades provisórias, à semelhança do que fez com o então “Espaço Transitório” Sesc 24 de Maio, também coordenado pelo Sesc Carmo, de 2007 a 2008, ou mesmo “Polo Avançado” de alguma unidade operacional, no interior do estado de São Paulo. Nos dias 30 e 31 de outubro de 2015, realizamos a 39ª Mostra Internacional de Cinema em SP, em parceria com Ministério da Cultura, Petrobrás e PMSP, compondo um ambiente de autocine, com exibições vistas de dentro de carros, e, além disso, equipado com assentos para pedestres e ciclistas. Foram projetados filmes clássicos e lançamentos, com legendas eletrônicas em português: “Juventude Transviada” (Rebel without a cause), “Longo Caminho Rumo ao Norte” (Tout en Haut Du Monde) e “Bone Tomahawk”. Nessa ocasião, também foi montada uma Loja Sesc Móvel, com venda de produtos da instituição e da mostra cinematográfica. A partir de dezembro de 2015, a programação da Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II se tornou constante nas áreas de música, cinema, circo e teatro. Nesse mês houve a publicação na Revista E de uma matéria intitulada “São Paulo Tropicana”, na qual foram divulgadas atrações da unidade, tais como os shows de Trio Virgulino e Alceu Valença, além de intervenções visuais nos edifícios do entorno, integradas ao 3º Festival de Direitos Humanos, com retirada de ingressos nas unidades do Sesc, e foco para a atividade “Cidadania nas Ruas”. A fim de conhecer melhor o entorno, em janeiro de 2016 realizamos enquetes para avaliar a população circundante quanto a origem, interesses culturais, frequência e faixa etária, entre outras características. Colhemos informações
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Show Planta & Raiz em 24 de junho de 2016. Foto: Matheus José Maria
Planta & Raiz Concert on June 24, 2016. Photo: Matheus José Maria
importantes para nortear as diretrizes programáticas, com resultados predominantes para shows, Basquete e lazer em família. Como se vê, na fase de “Ocupação”, tudo foi pesquisado, produzido e avaliado pela equipe do Sesc Carmo, que atuava tanto na unidade definitiva como na provisória, com seu funcionamento de quarta a domingo e feriados, das 10 às 18 horas. Com veiculação mensal, a grade programática do Sesc Parque Dom Pedro II ainda aparecia contida na do Sesc Carmo, tanto na Revista E quanto no guia Em Cartaz. Neste, o destaque no primeiro mês de 2016 foi o artigo “SP 462: Festa no Parque Dom Pedro II”, indicando cinco razões para aproveitar o aniversário de São Paulo: o show da escola de samba Vai-Vai, que aqueceu os tambores para o desfile de Carnaval, tematizado na França; a apresentação dos sambistas Reinaldo e Dudu Nobre; o show do grupo de reggae Planta e Raiz; a vivência de beisebol com o atleta Paulo Orlando, jogador do Kansas City Royals e campeão da World Series 2015; por fim, a vista panorâmica da cidade de São Paulo, a partir da unidade, em que era possível observar o Mercado Municipal, o conjunto de arranha-céus da zona central com o Edifício Martinelli, os prédios do Banespa e do Banco do Brasil, o castelinho do Museu Catavento Cultural e Educacional e as casas coloridas da zona cerealista do Brás. A partir de março de 2016, a Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II passou a ter sua programação divulgada de forma independente da do Sesc Carmo, apesar de continuar sendo coordenada por este último. Foram promovidas atividades nas linguagens de teatro, circo, música, dança, tecnologia, literatura, artes visuais, esporte e meio ambiente, tendo como ponto alto a apresentação do grupo Sandália de Prata, realizada no Carnaval. Em julho, o show de Almir Sater foi o clímax, atraindo cerca de 7 mil pessoas, a fim de conhecer o novato centro cultural, que realizava uma grande atração a cada mês.
Por meio de um jogo de palavras, esclarecemos que, antes da unidade provisória, tivemos uma versão “improvisada”, com uma estrutura mínima instalada: gradil perimetral e guarita para maior segurança do espaço; duas meias quadras para o Basquete 3×3; uma tenda menor; um contêiner para área de alimentação; sanitários; infraestruturas de iluminação e hidráulica; grandes totens quadriculares de ferro, localizados em cada vértice do terreno triangular, com destaques programáticos em suas faces, além de banners acoplados aos gradis com comunicação bilíngue (português e inglês), devido à visitação de estrangeiros no triângulo cultural formado por Mercadão, Catavento e Sesc. A fim de ofertar mais ambientes educativos para uma maior gama de manifestações culturais a serem desenvolvidas na unidade provisória, bem como acolher melhor os públicos interno e externo, foram convidados quatro escritórios de arquitetura para propor projetos cenográficos, a saber: Triptyque Architecture, Bloc Arquitetura, Camila Toledo Arquitetura e Coletivo Leve (composto por Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola). Concluiu-se que a proposta do Coletivo Leve era a que mais se aproximava de uma ocupação temporária, com estruturas modulares, andaimes, bases metálicas, cimbramentos, contêineres, pisos móveis: uma composição que, depois de cumprir sua função nesta unidade, pudesse ser reaproveitada nas futuras unidades provisórias da instituição. Assim, de setembro de 2016 a abril de 2017 o espaço esteve fechado ao público – que, diga-se de passagem, sentiu muito a suspensão das atividades para a implantação cenográfica. A proposição inicial, idealizada pelo Coletivo Leve, teve sua grande estrutura de andaimes simplificada por questões técnicas, adaptada com nichos de aduelas, depois foi complementada por outros
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profissionais e empresas, conforme breve descritivo dos principais:
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Vista aérea em 3 de novembro de 2017. Foto: Sensoreng
Aerial view, on November 3, 2017. Photo: Sensoreng
• Marcelo Larrea e Drika Bourquim Produções – Área expositiva delimitada por deck de madeira naval, travado para maior estabilidade às aduelas, suportes em concreto para fixação de obras artísticas, e manilhas como grandes vasos para plantas, recriados a partir de seus usos primários na canalização de rios, em alusão à história do rio Tamanduateí. Sombreamentos com tecidos estendidos por cabos de aço também foram instalados para propiciar conforto térmico aos visitantes da exposição “Armazém do Brasil – Memórias do Comércio da Zona cerealista”, realizada em parceria com o Museu da Pessoa. • Archidomus Arquitetura e Design – Bioconstrução e ambientação em permacultura, para as manilhas e os “canteiros” com plantas, dispostos no piso asfáltico, visando oferecer maior frescor ao espaço árido. • Assalto Cultural – Deck de madeira naval instalado entre os “canteiros”, para escoar a água acumulada das chuvas, além da área de convivência, com mesas, bancos e vasos, destinada ainda a apresentações artísticas. • Celophane Cultural – Ambientação de contêineres adquiridos pela empresa Esteto, para jogos de tabuleiro, tênis de mesa, leitura de periódicos, oficina de artes, educação ambiental, caixa d’água e reserva de materiais. • Acupuntura Urbana Ideias e Serviços – Exposição “Mapeamento Afetivo” para o contêiner voltado à educação ambiental. • Biorama-Lab Arte e Produção – Topografia afetiva com visitas e oficinas educativas a partir da análise do entorno, com foco na sustentabilidade. • Erelab – Espaço de brincar com brinquedos e instalações para crianças menores acompanhadas de responsáveis.
Nesse processo de oferecer condições físicas mais adequadas ao acolhimento de visitantes e funcionários, também foram adicionados novos ambientes: três quadras poliesportivas da Flexquadras, moduláveis e pintadas após sua sobreposição ao piso, para jogos e torneios esportivos; uma grande tenda multiuso, estabilizada com estaqueamentos no solo, como sombreamento e prevenção às chuvas para oficinas e apresentações culturais; contêineres complementares de alimentação, área administrativa e banheiros, com locação da empresa Metal Módulos; e implantadas melhorias elétricas, hidráulicas, lógicas, audiovisuais e de segurança para todo o espaço, com câmeras perimetrais. E, em uma segunda etapa de montagem, que se estendeu até novembro de 2017, mediante registro videográfico (time lapse) pela Sensoreng, foram finalizadas as instalações seguintes: • Alutent, Kurkdjian & Fruchtengarten e WPA Eventos – Palco tipo “concha”, espacial ou geodésico, com fundação consistente em 13 valas concretadas, com cerca de 3 metros quadrados cada, e cobertura atirantada em 8 pontos ao solo, para grandes shows; estruturas em box truss para equipamentos de luz e som; piso revestido; e escadas de acesso. • Eduardo Saretta – Pintura artística da área esportiva, pista de caminhada e corrida no perímetro interno da unidade, simulando o leito de um córrego. Em síntese, essas foram memórias e conexões afetivas da Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II, unidade provisória construída com esforços conjuntos, com seu nome reduzido para Sesc Parque Dom Pedro II, em sua reabertura em 1º de maio de 2017, passando pela cenografia temporária, em transição no ambiente virtual, rumo à arquitetura da unidade definitiva. Com essa cultura criativa, o Sesc colabora para que a cidade se faça educativa – parafraseando Paulo
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Freire (2001), em seus ensaios sobre Política e Educação. É pela necessidade de cultivar, educar, aprender, ensinar, conhecer, criar, imaginar e sonhar que impregnamos casas, ruas, praças, fontes, parques e edifícios, deixando a indelével marca de determinado tempo e estilo, a estética de certa época, ao tecer histórias vivenciadas coletivamente.
Memories and affective connections of the Parque Dom Pedro II Sesc Occupation Dóris Sathler de Souza Larizzatti, Deputy Manager of Sesc Carmo and Sesc Parque Dom Pedro II
REFERÊNCIA FREIRE, Paulo. 2001. Política e Educação: ensaios. São Paulo: Cortez. 5ª ed. (Coleção Questões de Nossa Época, v.23).
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— Dóris Sathler de Souza Larizzatti é Gerente Adjunta do Sesc Carmo e do Sesc Parque Dom Pedro II; Doutora em Comunicação pela ECA USP; Mestra em Educação pela PUC SP; MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV; Pós-graduada em: Gestão e Políticas Culturais pelo Itaú Cultural/Universidade de Girona, Gestão da Comunicação pela ECA USP, Lazer e Recreação pela UNICAMP, Organização e Administração da Recreação pela FAM; Graduada em Educação Física pela USP.
Our cultural deformation makes us think that one society segment is responsible for taking culture to the other. We have to search for culture in the people, giving them conditions to make it flourish. Fernanda Montenegro Culture keeps us going, but art drives us forward. Teixeira Coelho
São Paulo’s historic center stands as an emblem of the metropolis. With a high strategic value, the region is vital with convergence of roads, flows, functions, people, cultures. One of the areas most forgotten by the government, Dom Pedro II Park was once a leisure space for São Paulo residents due to its beauty and sharing capacity and continues to play this fundamental role in the city context. It is also a gateway to the East Zone and the ABC municipalities to the heart of the state capital. From the various examples of spatial changes in São Paulo, Dom Pedro II Park is one of the most significant ones, being the target of urban degradation and devastation in green areas for the construction and widening of roads. From large wetlands and waste deposit to a territory for coexistence that was part of people’s childhood and lives for years. Based on initiatives with different consequences in the short, medium and
long term, we observe that proposals for the requalification of this Park are of paramount importance for the Downtown and the city; at least because it is located in the area that gave rise to the occupation and formation of the São Paulo capital, and also because of its unique location as an interconnection node between various municipal regions and interstate destinations. To requalify this Park, in 2011 a letter of intent was signed by the Municipality of São Paulo (PMSP), under the Gilberto Kassab administration, for the future assignment of an approximately 9,000 square meters land to the Federation of Trade in Goods and Services in the State of São Paulo. This purpose was achieved on May 28, 2015, when Sesc and PMSP registered the deed of this land, located between the Municipal Market and the Palácio das Indústrias, which also houses the Catavento Museum. The area located in this historic and emblematic area of the city was thus assigned through a bill approved by the City Council. Since then, it has been occupied with cultural and educational programming, coordinated by Sesc Carmo, through consecutive approvals of permits for temporary events with PMSP technical bodies, among support and partnerships with nearby institutions. The goals are to promote the new leisure center, in addition to getting to know and integrating with the various regulars who are always welcome: families, workers, foreigners and people in vulnerable situations.
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The term signed between the entities provided for the establishment of a new green area, no less than that of the current São Vito square, within the perimeter of the provisional unit, plus the free provision of compensation by the concession holder, namely: a) offer artistic and/or educational exhibitions, shows and artistic interventions in living spaces, as well as lectures and open debates on topics related to health, culture and the environment; b) provide and maintain access to reading, with the loan of books and journals, as well as an Internet connection area, with instructors and equipment for virtual navigation, in addition to developing media art and digital culture activities; c) promote recreational games for children (Play Room), young adults and adults (board games, physical activities and sports); d) offer at least 100 places for children from 7 to 12 years old in the Curumim Project, with free enrollment and activities; e) make facilities available at the unit to carry out actions by public bodies, through partnerships between Municipal Departments of Culture, Education, Sports, Health, Leisure and Recreation, Green and Environment. To this end, one of the first events held in partnership with the Municipal Department of Culture was Virada Cultural, on June 21, 2015, with an intense schedul from 10 am to 8 pm: workshops, literary interventions, urban dances, orchestra-parade, circus, theater and concert by rapper Rashid. The space was initially named Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II (Occuppation Sesc Parque Dom Pedro II), with the objective of acting culturally and educationally, with emphasis on the institutional mission, which is to promote actions that contribute to the well-being and improvement of people’s quality of life, especially workers in the trade of goods, services and tourism and their families, through the requalification of that neighborhood and its surroundings. Please note that the term “occuppation” shows the entity’s flexibility with its provisional units, similarly to what it did with the then
“Transitory Space” Sesc 24 de Maio, also coordinated by Sesc Carmo from 2007 to 2008, or even “Advanced Center” of an operational unit in the countryside of the state of São Paulo. On October 30 and 31, 2015, we held the 39th São Paulo International Film Festival, in partnership with the Department of Culture, Petrobrás and PMSP, creating an drive-in with exhibitions seen from inside cars, and also equipped with seats for pedestrians and cyclists. Classic movies and new movie releases were projected with Portuguese subtitles: “Juventude Transviada” (Rebel without a cause), “Longo Caminho Rumo ao Norte” (Long Way North) and “Bone Tomahawk”. At the time, a Sesc Itinerary Shop was also assembled to sell the institution’s and the cinematographic exhibition’s products. As of December 2015, the programming of Occuppation Sesc Parque Dom Pedro II became constant in music, movie, circus and theater. This month, the Revista E published an article entitled “São Paulo Tropicana” that promoted the unit’s attractions, including concerts by Trio Virgulino and Alceu Valença, in addition to visual interventions in the surrounding buildings, integrated to the 3rd Human Rights Festival, with ticket withdrawals at Sesc units, and focus on the “Citizenship on the Streets” activity. To better understand the surroundings, in January 2016 we carried out surveys to assess the surrounding population regarding origin, cultural interests, frequency and age group, among other characteristics. We gathered important information to guide programmatic guidelines with predominant results for concerts, basketball and family leisure. As can be seen, during the “Occupation” phase, everything was researched, produced and evaluated by the Sesc Carmo team who worked in both the definitive and provisional units Wednesdays through Sundays and holidays, from 10 am to 6 pm. Published monthly, the schedule of Sesc Parque Dom Pedro II was also contained in that of Sesc Carmo, both in Revista E
and the guide Em Cartaz. In this one, the highlight in the first month of 2016 was the article “SP 462: Festa no Parque Dom Pedro II” (SP 462: Party in Dom Pedro II Park), indicating five reasons to enjoy the anniversary of São Paulo: the show by the Vai-Vai samba school, which warmed up the drums for the Carnival parade, themed in France; the presentation of samba musicians Reinaldo and Dudu Nobre; the concert by the reggae group Planta e Raiz; the baseball experience with athlete Paulo Orlando, Kansas City Royals player and 2015 World Series champion; finally, the panoramic view of the city of São Paulo, from the unit, where it was possible to observe the Municipal Market, the set of skyscrapers in the central area with the Martinelli Building, the Banespa and Banco do Brasil buildings, the small castle of the Catavento Cultural and Educational Museum and the colorful houses in the cerealist area of Brás. Since March 2016, the Sesc Parque Dom Pedro II Occupation began to have its schedule published independently from that of Sesc Carmo, although it continues to be coordinated by the latter. Activities were promoted in the form of theater, circus, music, dance, technology, literature, visual arts, sports and the environment, with the presentation of the Sandália de Prata group, held at Carnival, being the highlight. In July, Almir Sater’s show was the climax, attracting around 7,000 people in order to get to know the new cultural center, which held a major attraction every month. Using a word play, we clarify that, before the provisional unit, we had an “improvised” version with a minimum structure installed: fence and guardhouse for greater space security; two half-courts for 3×3 basketball; a smaller tent; a container for the food area; restrooms; lighting and hydraulic infrastructures; large square iron totem poles, located at each vertex of the triangular terrain, with programmatic highlights on their faces, as well as banners attached to railings with bilingual communication (Portuguese
and English), due to foreign visitors in the cultural triangle formed by Mercadão, Catavento and Sesc. To offer more educational environments for a greater range of cultural manifestations to be developed in the provisional unit, as well as to better accommodate internal and external audiences, four architecture offices were invited to propose scenographic projects, namely: Triptyque Architecture, Bloc Arquitetura, Camila Toledo Arquitetura and Coletivo Leve (composed by Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno and Vanessa Espínola). Coletivo Leve’s proposal was considered the closest to a temporary occupation with modular structures, scaffolding, metal bases, falsework, containers, mobile floors: a composition that, after fulfilling its function in this unit, could be reused in the institution’s future provisional units. Thus, from September 2016 to April 2017, the space was closed to the public – which, by the way, missed the activities during the scenographic implementation. The initial proposal, conceived by Coletivo Leve, had its large scaffolding structure simplified by technical issues adapted with stave niches, then complemented by other professionals and companies, as per a brief description of the main ones: • Marcelo Larrea e Drika Bourquim Produções – Exhibition area delimited by a naval wood deck, locked for greater stability to the staves, concrete supports for fixing artistic works, and shackles as large vases for plants, recreated from their primary uses in the canalization of rivers, alluding to the history of the Tamanduateí river. Shadings with fabrics extended by steel cables were also installed to provide thermal comfort for visitors to the exhibition “Armazém do Brasil – Memórias do Comércio da Zona cerealista” (Brasil Warehouse – Memories of Trade in the Cerealist Zone), held in partnership with the Museu da Pessoa.
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• Archidomus Arquitetura e Design – Bioconstruction and setting in permaculture, for the shackles and “beds” with plants, arranged on the asphalt floor, in order to offer greater freshness to the arid space. • Assalto Cultural – Naval wooden deck installed between the “beds” to drain the accumulated rain water, in addition to the living area with tables, benches and vases, also intended for artistic presentations. • Celophane Cultural – Setting of containers acquired by the company Esteto, for board games, table tennis, reading journals, art workshops, environmental education, water tank and material reserve. • Acupuntura Urbana Ideias e Serviços – “Affective Mapping” exhibition for the container aimed at environmental education. • Biorama-Lab Arte e Produção – Affective topography with visits and educational workshops based on the analysis of the surroundings, with a focus on sustainability. • Erelab – Play area with toys and facilities for younger children accompanied by guardians. In this process of offering more adequate physical conditions to welcome visitors and employees, new environments were also added: three multi-sport courts, modular courts painted after their overlapping to the floor, for games and sports tournaments; a large multipurpose tent stabilized with stakes into the ground, such as shading and rain prevention for workshops and cultural presentations; complementary food containers, administrative area and restrooms, leased from the company Metal Módulos; and electrical, hydraulic, logical, audiovisual and security improvements were implemented for the entire space, with perimeter cameras. And, in a second stage of assembly, which lasted until November 2017, through time lapse video recording by Sensoreng, the following installations were completed:
• Alutent, Kurkdjian & Fruchtengarten and WPA Eventos – “Shell-type”, spatial or geodesic stage with a foundation consisting of 13 concreted ditches measuring about 3 square meters each, and a roof trussed at 8 points to the ground, for large concerts; box truss structures for light and sound equipment; coated floor; and access stairs. • Eduardo Saretta – Artistic painting of the sports area, walking and running track on the unit’s internal perimeter, simulating a stream bed. In short, these were memories and affective connections of the Occupation Sesc Parque Dom Pedro II, a temporary unit built with joint efforts, with its name reduced to Sesc Parque Dom Pedro II, in its reopening on May 1, 2017, passing through the temporary scenography in transition in the virtual environment, towards the architecture of the definitive unit. With this creative culture, Sesc collaborates for the city to become educational – paraphrasing Paulo Freire (2001), in his essays on Politics and Education, it is for the need to cultivate, educate, learn, teach, know, create, imagine and dream that we impregnate houses, streets, squares, fountains, parks and buildings, leaving the indelible mark of a certain time and style, the aesthetics of a certain period, by weaving collectively lived stories.
Montagens e espaços Assemblies and spaces Ocupação inicial Initial occupation
Portaria 1 Entrance
Recreação com roller, na Virada Cultural, em 21 de junho de 2015. Foto: Alexandre Nunis Recreation with roller at ViradaCultural, on June 21, 2015. Photo: Alexandre Nunis
Comunicação visual de Folia no Parquinho, em fevereiro de 2020. Foto: Simone Avancini Visual communication of Carnival on Playground, on February 2020. Photo: Simone Avancini
Gradil Fence
Tenda Tent
Intervenção Bordado no Gradil com Meio-Fio, em setembro de 2018. Foto: Andréa Oliveira Intervention Embroidery on the Fence with Curb, on september of 2018. Photo: Andréa Oliveira
Apresentação musical, na tenda maior, em 1 de maio de 2017. Foto: Dóris Larizzatti Musical performance in the tent major, on May 1, 2017. Photo: Dóris Larizzatti
REFERENCE FREIRE, Paulo. 2001. Política e Educação: ensaios. São Paulo: Cortez. 5ª ed. (Coleção Questões de Nossa Época, v.23). — Dóris Sathler de Souza Larizzatti is Deputy Manager of Sesc Carmo and Sesc Parque Dom Pedro II; PhD in Communication from ECA USP; Master in Education from PUC SP; MBA in Strategic People Management from FGV; Graduate in: Cultural Management and Policies from Itaú Cultural/University of Girona, Communication Management from ECA USP, Leisure and Recreation from UNICAMP, Organization and Administration of Recreation from FAM; Graduated in Physical Education from USP.
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Espaço expositivo Exhibition space
Praça Lúdica Playful square
Montagem do espaço expositivo, com aduelas e deck de madeira, em 29 de abril de 2017. Foto: Dóris Larizzatti Assembly of the exhibition space, with staves and wooden deck, on April 29, 2017. Photo: Dóris Larizzatti
Virada Cultural: performance com balões, na Praça Lúdica, em maio de 2018. Foto: Thais Kruse. Virada Cultural event: performance with balloons, in Playful square, on May 2018. Photo: Thais Kruse.
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Palco Stage
Circo no Parque, com distanciamento social, em 7 de novembro de 2020. Foto: Ricardo Ferreira
Circus in the Park, with social distancing, on November 7, 2020. Photo: Ricardo Ferreira
Canteiros Plant beds
Espaço de brincar Play space
Espaço de leitura Reading space
Bicicletário Bike parking rack
Construção de canteiros, em 6 de maio de 2017. Foto: Dóris Larizzatti Construction of plant beds, on May 6, 2017. Photo: Dóris Larizzatti
Espaço de Brincar (área interna do contêiner), em 21 de maio de 2017. Foto: Dóris Larizzatti Play space (internal area of the container), on May 21, 2017. Photo: Dóris Larizzatti
Espaço de Leitura (área extena), em 2017. Foto: Thais Kruse Reading Space (external area), in 2017. Photo: Thais Kruse
Bicicletário, no Sesc Verão, em 7 de fevereiro de 2018. Foto: Dóris Larizzatti Bike parking rack, at Sesc Summer, on February 7, 2018. Photo: Dóris Larizzatti
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Tênis de mesa Table tennis
Oficina Workshop
Recreação com tênis de mesa, em 25 de junho de 2017. Foto: Dóris Larizzatti Recreation with table tennis, on June 25, 2017. Photo: Dóris Larizzatti
Ateliê de Linhas, em outubro de 2018. Foto: Patrícia Ribeiro Yarn whorkshop, on October 2018. Photo: Patrícia Ribeiro
70 Espaço de Tecnologias e Artes (ETA) Technology and Arts Space
Ginástica Multifuncional (GMF) Multifunctional gymnastics
Vista externa do ETA. Foto: Simone Avancini External view of the Space. Photo: Simone Avancini
Recreação na GMF. Foto: Vania Toffoli Recreation at Multifunctional gymnastics. Photo: Vania Toffoli
Quadras Courts
Recreação orientada nas quadras. Foto: Simone Avancini
Guided recreation at courts. Photo: Simone Avancini
Parque de Habilidades Skills Park
Escalada Boulder Boulder Climb
Recreação no Parque de Habilidades, em 24 de março de 2018. Foto: Matheus José Maria Recreation at Skills Park, on March 24, 2018. Photo: Matheus José Maria
Recreação orientada em Escalada Boulder na Semana Move, em setembro de 2018. Foto: Thaís Kruse Guided recreation on Boulder climb, on Move Week, on September 2018. Photo: Thaís Kruse
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São Paulo delgada, a impermanência e a vida: por uma arquitetura efêmera
Horta Vegetable garden
Coletivo Leve — Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola
AS CIDADES DELGADAS¹ A cidade de Sofrônia é composta de duas meias cidades. Na primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras vertiginosas, o carrossel de raios formados por correntes, a roda-gigante com cabinas giratórias, o globo da morte com motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra e mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e todo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e, quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade. Assim, todos os anos chega o dia em que os pedreiros destacam os frontões de mármore, desmoronam os muros de pedra, os pilares de cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a refinaria de petróleo, o hospital, carregam os guinchos para seguir de praça em praça o itinerário de todos os anos. Permanece a meia Sofrônia dos tiros-ao-alvo e dos carrosséis, com o grito suspenso do trenzinho da montanha-russa de
Montagem final da Horta, em fevereiro de 2018. Foto: Thaís Kruse Vegetable garden final assembly, on February 2018. Photo: Thaís Kruse
72 Central de Atendimento Customer service
Cafeteria
Vista externa da Central de Atendimento. Foto: Wagner Pinho External view of the Customer service. Photo: Wagner Pinho
Cafeteria, em novembro de 2019. Foto: Wagner Pinho Cafeteria, on November 2019. Photo: Wagner Pinho
1
Neste trecho do romance As cidades invisíveis, a personagem Marco Polo descreve, para o imperador mongol Kublai Kan, as cidades do Ocidente, no fim do século XIII. [N.E.]
ponta-cabeça, e começa-se a contar quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana retorne e a vida inteira recomece. (CALVINO, 1990, p. 61)
São Paulo são muitas cidades, assentadas em mares de morros e vales, em constante mutação vertiginosa. Urbanizado com grandes avenidas e viadutos sinuosos que aprisionam o rio e recortam o Parque, está o vale do Tamanduateí, lugar que acolhe de tudo um pouco: mercados de rua, de alimentos e de cereais; a comida e a fome; a madrugada e os invisíveis que vagueiam pelos não lugares, nos baixios e nos espaços residuais dessa urbanização. O antigo Palácio, que outrora representou as indústrias e a modernidade; os terrenos baldios e os empreendimentos sem personalidade, as antigas construções carregadas da história de muitas famílias e trabalhadores. Os edifícios históricos, a colina onde a cidade foi fundada, as crenças catequizadas, o marco zero e a Sé, a igreja universal, as descrenças. Planos e cidades inventadas, construídas e imaginadas, essas muitas cidades operam em muitos sentidos e tempos, se dividem, se sobrepõem, se somam e se subtraem. A matéria, a memória e a imaginação coexistem. A cidade construída só se completa com a cidade imaginada, onde
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São Paulo delgada, a impermanência e a vida: por uma arquitetura efêmera
Horta Vegetable garden
Coletivo Leve — Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola
AS CIDADES DELGADAS¹ A cidade de Sofrônia é composta de duas meias cidades. Na primeira, encontra-se a grande montanha-russa de ladeiras vertiginosas, o carrossel de raios formados por correntes, a roda-gigante com cabinas giratórias, o globo da morte com motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com os trapézios amarrados no meio. A segunda meia cidade é de pedra e mármore e cimento, com o banco, as fábricas, os palácios, o matadouro, a escola e todo o resto. Uma das meias cidades é fixa, a outra é provisória e, quando termina a sua temporada, é desparafusada, desmontada e levada embora, transferida para os terrenos baldios de outra meia cidade. Assim, todos os anos chega o dia em que os pedreiros destacam os frontões de mármore, desmoronam os muros de pedra, os pilares de cimento, desmontam o ministério, o monumento, as docas, a refinaria de petróleo, o hospital, carregam os guinchos para seguir de praça em praça o itinerário de todos os anos. Permanece a meia Sofrônia dos tiros-ao-alvo e dos carrosséis, com o grito suspenso do trenzinho da montanha-russa de
Montagem final da Horta, em fevereiro de 2018. Foto: Thaís Kruse Vegetable garden final assembly, on February 2018. Photo: Thaís Kruse
72 Central de Atendimento Customer service
Cafeteria
Vista externa da Central de Atendimento. Foto: Wagner Pinho External view of the Customer service. Photo: Wagner Pinho
Cafeteria, em novembro de 2019. Foto: Wagner Pinho Cafeteria, on November 2019. Photo: Wagner Pinho
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Neste trecho do romance As cidades invisíveis, a personagem Marco Polo descreve, para o imperador mongol Kublai Kan, as cidades do Ocidente, no fim do século XIII. [N.E.]
ponta-cabeça, e começa-se a contar quantos meses, quantos dias se deverão esperar até que a caravana retorne e a vida inteira recomece. (CALVINO, 1990, p. 61)
São Paulo são muitas cidades, assentadas em mares de morros e vales, em constante mutação vertiginosa. Urbanizado com grandes avenidas e viadutos sinuosos que aprisionam o rio e recortam o Parque, está o vale do Tamanduateí, lugar que acolhe de tudo um pouco: mercados de rua, de alimentos e de cereais; a comida e a fome; a madrugada e os invisíveis que vagueiam pelos não lugares, nos baixios e nos espaços residuais dessa urbanização. O antigo Palácio, que outrora representou as indústrias e a modernidade; os terrenos baldios e os empreendimentos sem personalidade, as antigas construções carregadas da história de muitas famílias e trabalhadores. Os edifícios históricos, a colina onde a cidade foi fundada, as crenças catequizadas, o marco zero e a Sé, a igreja universal, as descrenças. Planos e cidades inventadas, construídas e imaginadas, essas muitas cidades operam em muitos sentidos e tempos, se dividem, se sobrepõem, se somam e se subtraem. A matéria, a memória e a imaginação coexistem. A cidade construída só se completa com a cidade imaginada, onde
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o fixo não necessariamente se corporifica, mas sim as marcas deixadas pelo cotidiano. Pela vida.
SESC, VITALIDADE E MEMÓRIA: PROJETO-SISTEMA FLEXÍVEL NÔMADE, TRANSITÓRIO, TEMPORÁRIO A Lua, reconhecida, deu à cidade de Lalage um privilégio mais raro: o de crescer com leveza. (CALVINO, 2002, pp. 75-76) 1
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3 1. Projeto cenográfico, entrada principal. Imagem: Coletivo Leve 2. Praça do projeto cenográfico. Imagem: Coletivo Leve 3. Projeto cenogoráfico, corte com quatro andares. Imagem: Coletivo Leve
1. Scenographic project, main entrance. Image: Coletivo Leve 2. Scenographic project, square. Image: Coletivo Leve 3. Scenographic project, cut with four floors. Image: Coletivo Leve
De um terreno que abrigava diversas famílias, esse lugar em constante disputa territorial, palco da luta por moradia digna, passou a estacionar carros vazios. Nessa ilha de asfalto às margens do rio brotou a ideia de um espaço comunitário de saúde, lazer, cultura e esporte. Um imóvel móvel, preenchendo com vida o espaço estacionado. Um projeto nômade, o da unidade temporária do Sesc, que ao fim da sua temporada fosse desmontado e levado a outro espaço vazio. Uma estrutura leve e delgada, aberta ao público e à cidade. Um percurso contínuo e acessível de apreciação dos conteúdos internos e do entorno. Projeto-sistema flexível, multifuncional e adaptável ao cotidiano e à genética do Sesc, abrigando a diversidade e a flexibilidade para o fortalecimento da cidadania. Uma arquitetura que se modifica a partir do uso. Uma experiência e um aprendizado de ativação. Elementos simbólicos da construção e transformação das cidades – os andaimes e escoras – bem como da logística – os contêineres – compõem o sistema arquitetônico desse ambiente e a cenografia de um processo. Um passeio contínuo do entorno a um sistema de rampas funde o espaço expositivo e a cidade, permeia múltiplos usos e termina num mirante, de onde se avistam os marcos urbanos, o rio e as brutas estruturas viárias. A estrutura permeável se mistura à paisagem local e sombreia a ilha de calor do concreto e asfalto. Bancos, mesas
e plantas partem dos montantes para confortar os usuários. Na extensão do asfalto, uma pintura azul sinuosa com as espinhas de peixe, formigas e tamanduás remete às áreas alagadiças do rio e à história da sua nomeação: os tamanduás que vinham comer as formigas, que vinham comer os peixes mortos, sujeitos à variação do nível do rio. Manilhas e aduelas – símbolos da cultura de canalização dos rios, associada ao urbanismo rodoviarista – constroem espaços de sombra e floreiras para arborização temporária. Esses elementos fazem uma alusão à “Ilha dos Amores”, que outrora esteve no Parque projetado por Bouvard. A planta baixa do Edifício São Vito remete ao ambiente habitado ao longo de décadas por famílias e suas lutas. Os espaços livres abrigam quadras, pistas de corrida ou hortas, e podem ser convertidos, transformando-se em palco para festivais, feiras e datas comemorativas. Uma grande cobertura contínua abriga esportes, ginástica, skate e atividades lúdicas que geram o intercâmbio de diferentes tribos e gerações, integrando todas estas atividades numa área comum, nos moldes da marquise do Ibirapuera. Ações de ativação para uma construção contínua e conjunta dos espaços possibilitam a construção da relação das pessoas com o projeto-flexível nômade, dando protagonismo ao usuário. Carrinhos de mão com equipamentos permitem a ativação de diversos espaços com oficinas e atividades educativas. Projeto-sistema flexível que dilui os limites entre público e privado. Projeto-sistema flexível nômade, transitório, temporário, que precisa ser desmontado para, mais uma vez, dar lugar ao que é fixo. Assim, chega o dia em que as escoras e andaimes são desmontados, os contêineres e aduelas içados, toda a estrutura fretada para um novo vazio. Permanecem a experiência, a memória e a técnica. A experiência corporificada, fixa na memória.
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Parte dessa história é imaginada, parte realizada e vivida. Em Sofrônia, somos levados a pensar na perenidade e efemeridade da arquitetura a partir das suas metades antagônicas. Lá, a cidade que se desloca é a cidade dos mármores, dos muros de pedra e dos pilares de cimento, colocando em um lugar mais elevado a cidade transitória, a cidade da vida cotidiana e das dinâmicas sociais, o que evidencia o atrofiamento da cidade perene e nos faz questioná-la. Ainda em As cidades invisíveis, Marco Polo, questionado sobre a existência de suas cidades e sobre o efeito consolatório de suas fábulas diante da decadência do império, conclui:
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Slender São Paulo, impermanence and life – By an ephemeral architecture Coletivo Leve — Zoom Urbanismo, Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espínola
THE SLENDER CITIES¹ The city of Sophronia is made up of two half cities. In the first, there is the great rollercoaster of dizzying slopes, the carousel with chain spokes, the Ferris wheel with revolving cabins, the death globe with upside-down motorcyclists, the circus dome with the trapezoids tied in the middle. The second half city is made of stone and marble and cement, with the bank, factories, palaces, slaughterhouse, school and all the rest. One of the half cities is fixed, the other is temporary, and when its season ends, it is unscrewed, dismantled and taken away, transferred to the vacant lots of another half city. So, every year, the day comes when the masons detach the marble pediments, collapse the stone walls, the cement pillars, dismantle the ministry, the monument, the docks, the oil refinery, the hospital, carry the winches to follow each year’s itinerary from place to place. Half Sophronia of target-shooting and carousels remains, with the scream suspended from the little train of the roller coaster upside down, and you start counting how many months, how many days you should wait until the caravan returns and the whole life starts over. (CALVINO, 1990, p. 61)
Ao passo que mediante o seu gesto as cidades erguem muralhas perfeitas, eu recolho as cinzas das outras cidades possíveis que desaparecem para ceder-lhe o lugar e que agora não poderão ser nem reconstruídas nem recordadas. Somente conhecendo o resíduo da infelicidade que nenhuma pedra preciosa conseguirá ressarcir é que se pode computar o número de quilates que o diamante final deve conter, para não exceder o cálculo do projeto inicial. (CALVINO, 1990, p. 58)
REFERÊNCIAS CALVINO, Ítalo. 1990. As cidades invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras. Ed. original: Le città invisibili, 1972. _____. 2002. As cidades invisíveis. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Teorema. 12ª ed. Ed. original: Le città invisibili, 1972. — Texto escrito coletivamente pelo Coletivo Leve, integrado pelos escritórios de arquitetura Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, pelos designers Barão di Sarno e Vanessa Espinola. O Coletivo Leve foi autor do projeto de cenografia para unidade temporária (provisória) do Sesc Parque Dom Pedro II (não executado) e do espaço expositivo da unidade, que funcionou durante o período de 2015 e 2021, e abrigou importantes exposições, tais como a Bienal de Arquitetura.
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In this excerpt from the novel The Invisible Cities, the character Marco Polo describes, for the Mongol Emperor Kublai Kan, the cities of the West at the end of the 13th century. [N.E.]
São Paulo is many cities, located in seas of hills and valleys, in constant vertiginous change. Urbanized with large avenues and winding overpasses that imprison the river and cut through the Park, is the Tamanduateí valley, a place that welcomes a little of everything: street, food and cereal markets; food and hunger; the dawn and the invisibles that wander through the non-places, in the shallows and in the residual spaces of this urbanization. The old Palace, which once represented industries and modernity; the vacant lots and the characterless developments, the old buildings charged with the history of many families and workers. The historic buildings, the hill where the city was founded, the catechized beliefs, the ground zero and Sé, the universal church, the disbeliefs. Invented, constructed and imagined plans and cities, these many cities operate in many senses and times, they divide, overlap, add and subtract. Matter, memory and imagination coexist. The built city is only complete with the imagined city, where the fixed is not necessarily embodied, but the marks left by everyday life. For life.
SESC, VITALITY AND MEMORY: NOMADIC, TRANSIENT, TEMPORARY FLEXIBLE PROJECT-SYSTEM The recognized Moon gave the city of Lalage a rarer privilege: of growing lightly. (CALVINO, 2002, pp. 75-76)
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From a land that housed several families, this place in constant territorial dispute, stage of the struggle for decent housing, started to park empty cars. On this asphalt island on the banks of the river, the idea of a community space for health, leisure, culture and sport emerged. A mobile property, filling the parked space with life. A nomadic project, Sesc temporary unit, which at the end of its season would be dismantled and taken to another empty space. A light, slender structure open to the public and the city. A continuous and accessible path of appreciation of internal and surrounding contents. Flexible, multifunctional and adaptable projectsystem to Sesc’s daily life and genetics, sheltering diversity and flexibility to strengthen citizenship. An architecture that changes from use. An activation experience and learning. Symbolic construction and transformation elements of cities – scaffolding and props – as well as logistics – containers – make up the architectural system of this environment and the scenography of a process. A continuous walk from the surroundings to a system of ramps merges the exhibition space and the city, permeates multiple uses and ends in an overlook, from where you can see the urban landmarks, the river and the rough road structures. The permeable structure blends into the local landscape and shades the heat island of concrete and asphalt. Benches, tables and plants leave the uprights to comfort users. Along the asphalt, a sinuous blue painting with fish bones, ants and anteaters refers to the swampy areas of the river and the history of its name: the anteaters that came to eat the ants, that came to eat the dead fish, subject to variation of the river level. Shackles and staves – symbols of the culture of channeling rivers, associated with highway urbanism – build shady spaces and flower boxes for temporary afforestation. These elements allude to the “Ilha dos Amores”, which was once in the Park designed by Bouvard. The floor plan of the São Vito Building refers to the
environment inhabited for decades by families and their struggles. The open spaces house courts, running tracks or vegetable gardens, and can be converted into a stage for festivals, fairs and commemorative dates. A large continuous coverage includes sports, gymnastics, skateboarding and recreational activities that generate the exchange of different tribes and generations, integrating all these activities in a common area, similar to the Ibirapuera marquee. Activations for a continuous and joint construction of spaces make it possible to build a relationship between people and the nomadic flexibleproject, giving prominence to the user. Wheelbarrows with equipment allow the activation of different spaces with workshops and educational activities. Flexible project-system that blurs the boundaries between public and private. Nomadic, transitory, temporary, flexible project-system that needs to be dismantled to, once again, make room for what is fixed. Thus, the day comes when the props and scaffolding are dismantled, the containers and staves hoisted, the entire structure chartered to a new void. Experience, memory and technique remain. Embodied experience, stick in memory. Part of this story is imagined, part realized and lived. In Sophronia, we are led to think about the perpetuity and ephemerality of architecture from its antagonistic halves. There, the city that moves is the city of marbles, stone walls and cement pillars, placing the transitory city in a higher place, the city of everyday life and social dynamics, which highlights the stunting of the city perennial and makes us question it. Still in The Invisible Cities, Marco Polo, when questioned about the existence of his cities and the consolatory effect of his fables in the face of the decay of the empire, concludes: While through their gesture the cities erect perfect walls, I collect the ashes of other possible cities that have
disappeared to give you their place and which now can neither be rebuilt nor remembered. Only by knowing the residue of unhappiness that no gemstone will be able to repay is it possible to compute the number of carats that the final diamond must contain, so as not to exceed the calculation of the initial design. (CALVINO, 1990, p. 58)
REFERENCES CALVINO, Ítalo. 1990. As cidades invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras. Ed. original: Le città invisibili, 1972. ______. 2002. As cidades invisíveis. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Teorema. 12ª ed. Ed. original: Le città invisibili, 1972. — Text written collectively by Coletivo Leve, integrated by the architecture firms Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, by designers Barão di Sarno and Vanessa Espinola. Coletivo Leve was the author of the scenography project for the temporary (provisional) unit of Sesc Parque Dom Pedro II (not executed) and of the unit’s exhibition space, which operated in 2015 and 2021, and hosted important exhibitions, such as the Biennial of Architecture.
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A gestão de um espaço em transitoriedade
Simone Engbruch Avancini Silva, Gerente do Sesc Carmo e do Sesc Parque Dom Pedro II
Em minha visão, SER no mundo significa transformar e re-transformar o mundo, e não se adaptar a ele. Como ser humano, não resta dúvida de que nossas principais responsabilidades consistem em intervir na realidade e manter nossa esperança. Paulo Freire
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O DESAFIO Ao chegar para gerenciar o Sesc Parque Dom Pedro II, em 2017, me deparei com um espaço que tinha data de validade. A concessão do terreno pela Prefeitura da Cidade de São Paulo tinha um cronograma de entrega e aprovação do projeto para início da obra da unidade definitiva, e também o compromisso de uso do espaço até que as aprovações fossem feitas. Então, desde a assinatura da concessão do terreno, em 2015, o Sesc começou a ocupar o espaço, com ações pontuais até maio de 2017, quando foram instaladas as estruturas provisórias utilizadas até o fechamento em 2021. A esta ocupação nos referimos como unidade provisória, que é uma unidade operacional em que a equipe promove as atividades no espaço ou nas instalações disponíveis, até que sejam construídas as instalações definitivas da unidade. Desde 1998 o Sesc atua desta forma com alguns terrenos que se transformaram
ou se transformarão em futuras unidades. O Sesc Parque Dom Pedro II então iniciou sua ação como uma unidade provisória, uma forma de acolher o entorno de que fará parte e ser por ele acolhido.
A GESTÃO DO ESPAÇO Gestão é a ação de gerir, conduzir os assuntos e exercer autoridade sobre uma organização, utilizando o conhecimento como mecanismo de melhora contínua. Essa melhora é centrada não na hierarquia, mas sim na capacidade de promover a inovação sistemática do saber e de sua aplicação na produção do resultado. Trata-se quase do oposto de administração, que é mandar numa estrutura hierarquizada, mecânica, sujeita a procedimentos, normas e controles, garantindo seu correto funcionamento. Desta forma, a gestão vai ao encontro da cultura, por ser uma forma de entender a ação dentro da complexidade. Isso exige uma capacidade de definir os objetivos, bem como autonomia para decisões, liberdade para soluções de problemas, criatividade na busca de alternativas, inovação e sensibilidade. É por isso que: Gerir significa uma sensibilidade de compreensão, análise e respeito dos processos sociais em que a cultura mantém sinergias importantes. A gestão cultural implica numa
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Vista aérea da unidade provisória, em 3 de novembro de 2017. Foto: Sensoreng
Aerial view of the temporary unit, on November 3, 2017. Photo: Sensoreng
valoração dos intangíveis e em assumir a responsabilidade de gestão do discutível e da circulação do subjetivo, e circulando, entre a necessária avaliação dos seus resultados e da visibilidade de seus aspectos qualitativos. (MARTINELL, 2011; trad. nossa). A gestão de um equipamento sociocultural só faz sentido se for dinâmica e efetiva, capaz de contribuir para experiências duradouras e significativas, empenhada em entender os diversos caminhos, as suas relações presentes e suas perspectivas de futuro. E se for capaz de pôr isso tudo em prática a partir dos sentidos que a realidade cultural faz para aqueles que a vivenciam por meio de uma experiência poética que “supõe experiências humanas básicas, vividas ou intuídas, delicadas e violentas, singulares e universais, que se incorporam na vida e se transformam silenciosamente em quem as vive” (WISNIK, 2005). O grande desafio é como realizar a gestão cultural a partir dessa sensibilidade, sem cair em uma gestão que apenas oferece atividades, serviços e bens, já que, para ser efetiva, tem de propiciar experiências aos indivíduos. Partimos, portanto, de quatro pontos: o lugar, a equipe, o público e os princípios institucionais.
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O LUGAR
Recreação no Parque de Habilidades, em 24 de março de 2018. Foto: Matheus José Maria
Recreation at the Skills Park, on March 24, 2018. Photo: Matheus José Maria
Um terreno cercado com gradis, uma grande praça no vértice das avenidas Mercúrio e do Estado, no centro da zona cerealista de São Paulo, entre dois grandes ícones históricos da cidade: o Palácio das Indústrias, hoje Museu Catavento, e o Mercado Municipal de São Paulo, na rua da Cantareira. O Sesc Parque Dom Pedro II surgiu como um “lugar provisório”, um sítio onde as pessoas poderiam se encontrar para conseguir abrigo, proteção ou mesmo uma pausa, por breves que fossem.
Como considera o geógrafo Edward Relph (1979), os lugares só adquirem identidade e sentido por meio das intenções humanas e da relação existente entre elas e os seus atributos objetivos, ou seja, o cenário físico e as atividades ali desenvolvidas. As Unidades Provisórias, assim como as Definitivas, são espaços multidisciplinares, que associam lazer, atividades culturais e sociabilidade, e com isso possibilitam que se construa uma relação de maior intimidade entre os indivíduos e o lugar. Este lugar provisório, marcado pela transitoriedade, ativa uma rede social que insere o Sesc como um ponto de encontro em um contexto de ações que contribuem para difundir e democratizar o acesso do público aos bens culturais.
O PÚBLICO O funcionamento do Sesc Parque Dom Pedro II ocorria das dez às dezoito horas, de quartas-feiras a domingos, incluindo feriados. Esses dias e horários foram pensados para atender ao fluxo do entorno, com estudantes, turistas, trabalhadores, imigrantes, refugiados e moradores. O atendimento prioritário e subsidiado é destinado aos trabalhadores do comércio, serviços e turismo, incluindo seus familiares, mas impacta toda a população, todos aqueles que frequentam a unidade e acompanham sua programação, gerando um benefício geral para a comunidade. As pessoas em situação de rua também usufruem de nossos espaços e nossas programações. Procuramos ter o cuidado em acolhê-los na medida em que nos procuravam, sem nenhuma distinção. As regras de convívio são iguais para todos os que frequentam o espaço.
A EQUIPE Sob o gerenciamento do Sesc Carmo, o espaço do Sesc Parque Dom Pedro II conta com uma equipe multidisciplinar
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de aproximadamente 30 funcionários, dos setores de Programação de Atividades, Comunicação, Alimentação, Infraestrutura e Serviços, comprometidos com nossa missão institucional¹. A equipe foi formada por funcionários do quadro funcional do Sesc Carmo e de outras unidades, bem como de novos contratados. Essa mistura gera trocas de experiências e vivências, sendo a oralidade um aspecto fundamental nesse processo. O espaço ainda em construção exigiu da equipe que, além dos atributos específicos à natureza dos cargos e funções, tivesse sensibilidade e abertura para novos olhares e para a construção de novos caminhos, aprimorando os serviços já prestados. Deste modo, o Sesc pensa a educação como pressuposto para a transformação social, sendo este conceito fundamental na gestão e qualificação das equipes. Os funcionários atuam como educadores, independentemente de sua formação ou cargo.
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OS PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS O Sesc desenvolve uma ação de educação não formal e permanente, com o intuito de valorizar seus diversos públicos, ao estimular a autonomia pessoal, a interação e o contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir. Para levar adiante a programação dos espaços, o Sesc se pauta por um entendimento de cultura ampliado, de caráter antropológico, em que estão presentes os valores, os hábitos e os aspectos ligados a comportamentos, crenças, condutas, forças políticas, consciência reflexiva e identidade de grupo, isto é, aspectos que ultrapassam 1
Exposição 11ª Bienal de Arquitetura: Imaginários da Cidade, em janeiro de 2018. Foto: Simone Avancini
11th Biennial of Architecture Exhibition: Imaginaries of the City, on January 2018. Photo: Simone Avancini
“Promover ações socioeducativas que contribuam para o bem-estar social e a qualidade de vida dos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, de seus familiares e da comunidade, para uma sociedade justa e democrática.” (Disponível no portal do Sesc em https://www.sesc.com.br/ portal/ sesc/ o_sesc/Missao/)
a esfera das linguagens artísticas (MIRANDA, 2018). O Sesc Parque Dom Pedro II oferta gratuitamente o acesso às práticas culturais, de lazer e esportivas, reunidas nas diversas linhas de ação do Sesc, vinculadas a artes, esportes, alimentação, saúde, educação para a sustentabilidade e diversidade, mais turismo social. O acesso possibilita o bem-estar às pessoas e o senso de pertencimento. Está vinculado à possibilidade de cada indivíduo participar de relações e interações humanas, dando-lhe dignidade de ser ator nesta cadeia. Sem o direito de participar da vida cultural, as pessoas não conseguem desenvolver vínculos sociais e culturais que são importantes para a manutenção de condições satisfatórias de igualdade. Quando as pessoas são excluídas da vida cultural, isso pode ter consequências para o bem-estar e até para a sustentabilidade da ordem social. A participação está intimamente relacionada à capacidade dos cidadãos de criar um senso de responsabilidade em áreas como respeito pelos outros, não discriminação, igualdade, justiça social, preservação da diversidade e do patrimônio e no que se refere a outra cultura (LAAKSONEN, 2011, p. 49). O Sesc tem um papel fundamental na formação cultural dos indivíduos, baseado no princípio da democratização da cultura para superar as desigualdades de acesso da maioria da população à cultura. A ideia de democratização cultural fomenta o conceito do direito de todos de participar ativamente da vida cultural, ressaltando a importância dessa participação como fruidores e criadores. Uma das maneiras de contribuir para a efetivação da participação na vida cultural é por meio da experiência vivida pelos indivíduos. Incorporar esse tipo de experiência na formação dos indivíduos é, provavelmente, o passo mais efetivo
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para disseminar essas linguagens e seus códigos, de maneira que provoquem uma real alteração na relação das pessoas com a cultura, a arte e o lazer. Aí está a chance de alterar o padrão de relacionamento com as diversas expressões artísticas e a sociabilidade, permitindo que se passe de uma fruição apenas de entretenimento para uma prática na qual este se desdobra em um processo de desenvolvimento pessoal. Outro fator importante é a educação informal na alteração da relação das pessoas com as atividades culturais, por ser possível em qualquer etapa da vida dos indivíduos, bem como por seu caráter complementar e continuado. É essa a esfera em que se dá a maior possibilidade de intervenção, podendo chegar a uma atuação propositiva no sentido de formar públicos e ampliar as possibilidades da vida cultural dos indivíduos. A educação informal como estratégia de alteração do relacionamento entre o indivíduo e a cultura, em sua articulação com o lazer, tem se mostrado um modo efetivo de aproximar públicos de certos conteúdos. O sociólogo francês Joffre Dumazedier (1999) já relatava as bem-sucedidas experiências resultantes da associação entre educação informal e transmissão de conteúdos via lazer e atividades lúdicas.
O FUTURO O século XXI ampliou o acesso às informações rápidas, por meio da conectividade. A pandemia nos fez migrar e assumir esse espaço virtual também como o lugar de lazer, aprendizagem e sociabilidade. Com a previsão de início das obras da unidade definitiva para o segundo semestre de 2021, consideramos estratégico manter um núcleo de ação cultural, a fim de elencarmos possibilidades de atividades com apoios e parcerias, para sustentar nossa ação cultural e educativa durante a construção
da futura unidade. Tal núcleo tem duas frentes: uma online, em que o sítio eletrônico e as redes sociais do Sesc Parque Dom Pedro II mantêm ofertas de atividades programáticas; e outra presencial, também vinculada aos programas institucionais, realizada com e nos espaços parceiros, mantendo os laços com o público frequentador e o entorno. Assim, aguardaremos a nova unidade Sesc Parque Dom Pedro II seguindo com o nosso fazer.
The management of a transitory space
REFERÊNCIAS
For me, BE in the world means to transform and re-transform the world, and not adapt to it. As a human being, there is no doubt that our main responsibilities consist of intervene in the reality and keep our hope. Paulo Freire
DUMAZEDIER, Joffre. 1999. Sociologia empírica do lazer. Trad. Sílvia Mazza e J. Guinsburg. São Paulo: Sesc SP/Perspectiva. LAAKSONEN, Anamar. 2011. O direito de ter acesso à cultura e dela participar como características fundamentais dos direitos culturais. Observatório Itaú Cultural. São Paulo, SP, nº 11. MARTINELL, Alfons. 2011. Gestión de la cultura y contemporaneidad: problemas, deseos e realidades. Espanha: Universidad de Girona. MIRANDA, Danilo Santo de. 2018. Juventude, públicos e comunidades no Sesc. 2º Encontro IberoAmericano sobre Desenvolvimento de Audiências, Buenos Aires. RELPH, Edward. 1979. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia. Rio Claro, SP, v. 4, nº 7, p. 1-25. WISNIK, José Miguel. 2005. Drummond e o mundo. In: NOVAES, Adauto (org.). Poetas que pensaram o mundo. São Paulo: Cia. das Letras. — Simone Engbruch Avancini Silva é Gerente do Sesc Carmo e Sesc Parque Dom Pedro II, MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV, Especialista em Gestão e Políticas Culturais pelo Itaú Cultural e pela Universidade de Girona e em Semiótica Psicanalítica – Clínica da Cultura pela PUC/SP. Graduada em Educação Física pela Fefisa.
Simone Engbruch Avancini Silva, Sesc Carmo and Parque Dom Pedro II Sesc Manager
THE CHALLENGE When I joined Sesc Parque Dom Pedro II to manage it, in 2017, I came across a space that had an expiration date. The concession of the land by the City Hall of São Paulo had a schedule for the delivery and approval of the project to start the construction of the definitive unit, and also a commitment to use the space until the approvals were made. So, since the signing of the land concession in 2015, Sesc began to occupy the space, with specific actions until May 2017, when the temporary structures used until closing in 2021 were installed. We call this occuppation temporary unit, which is an operational unit in which the team promotes activities in the space or available facilities, until the unit’s definitive facilities are built. Sesc operates in this way since 1998 with some of the lands that have been or will be transformed into future units. Sesc Parque Dom Pedro II then began its action as a temporary unit, a way of welcoming the surroundings of which it will be a part and being welcomed by it.
SPACE MANAGEMENT Management is the action of managing, conducting matters and exercising authority over an organization, using knowledge as a mechanism for continuous improvement. This improvement is centered not on hierarchy, but on the ability to promote systematic innovation of knowledge and its application in the production of results. It is almost the opposite of administration, which is to command a hierarchical, mechanical structure, subject to procedures, rules and controls, ensuring its correct functioning. Therefore, management meets culture as it is a way of understanding action within complexity. This requires an ability to define objectives, as well as autonomy for decisions, freedom to solve problems, creativity in the search for alternatives, innovation and sensitivity. That's why: Managing means a sensitivity to understanding, analyzing and respecting social processes in which culture maintains important synergies. Cultural management implies valuing the intangibles and assuming responsibility for managing the debatable and the circulation of the subjective, and circulating between the necessary evaluation of its results and the visibility of its qualitative aspects. (MARTINELL, 2011; trad. nossa). Managing a sociocultural facility only makes sense if it is dynamic and effective, capable
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of contributing to lasting and meaningful experiences, committed to understanding the different paths, their present relations and their future prospects. And if capable of putting all this into practice based on the meanings that cultural reality makes for those who live it through a poetic experience that “assumes basic human, lived or intuited, delicate and violent, singular and universal experiences that they incorporate into life and silently transform themselves into those who live them” (WISNIK, 2005). The big challenge is how to carry out cultural management based on this sensitivity, without falling into a management that only offers activities, services and goods, since, to be effective, it has to provide experiences to individuals. Therefore, we started from four points: the place, the team, the public and the institutional principles.
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THE PLACE A land fenced with railings, a large square at the apex of Mercúrio and Estado avenues, in the center of São Paulo’s cereal zone, between two great historical icons of the city: the Palácio das Indústrias, today Catavento Museum, and the São Paulo Municipal Market Paulo, in Cantareira street. Sesc Parque Dom Pedro II emerged as a “temporary place”, a place where people could meet to get shelter, protection or even a break, however brief they were. As the geographer Edward Relph (1979) considers, places only acquire identity and meaning through human intentions and the relation between them and their objective attributes, that is, the physical setting and the activities developed there. The Temporary Units, as well as the Definitive ones, are multidisciplinary spaces that combine leisure, cultural activities and sociability, and thus enable the building of a more intimate relationship between individuals and the place. This temporary place, marked by transience, activates a social network that inserts Sesc as a
meeting point in a context of actions that contribute to spreading and democratizing public access to cultural goods.
THE AUDIENCE Sesc Parque Dom Pedro II was open from 10 am to 6 pm, from Wednesdays to Sundays, including holidays. These days and times were designed to meet the flow of the surroundings, with students, tourists, workers, immigrants, refugees and residents. Priority and subsidized service is aimed at workers in commerce, services and tourism, including their family members, but impacts the entire population, all those who attend the unit and follow its schedule, providing a general benefit for the community. Homeless people also enjoy our spaces and our schedules. We were careful to welcome them as they came to us, without any distinction. The rules of coexistence are the same for everyone who use the space.
THE TEAM Managed by Sesc Carmo, Sesc Parque Dom Pedro II space has a multidisciplinary team of approximately 30 employees in Activity Programming, Communication, Food, Infrastructure and Services, committed to our institutional mission.¹1 The team was made up of employees from Sesc Carmo and other units staff, as well as new hires. This mix generates exchanges of experiences, and orality is a fundamental aspect in this process. Still under construction, the space required that the team, in addition to attributes specific to the nature of the positions and functions, had sensitivity and openness to new perspectives and to build 1
“Promoting socio-educational actions that contribute to the social well-being and quality of life of workers in the trade in goods, services and tourism, their families and the community, for a fair and democratic society.” (Available at Sesc portal https:// www.sesc.com.br/portal/ sesc/ o_sesc/Missao/)
new paths aimed at improving the services already provided. So, Sesc considers education as a prerequisite for social transformation, and this concept is fundamental in the management and qualification of teams. Employees act as educators, regardless of their background or position.
INSTITUTIONAL PRINCIPLES Sesc develops a non-formal and permanent education to value its different audiences, by encouraging personal autonomy, interaction and contact with different expressions and ways of thinking, acting and feeling. To carry out the programming of spaces, Sesc is guided by an understanding of expanded, anthropological culture in which values, habits and aspects related to behaviors, beliefs, conducts, political forces, reflective awareness and group identity are present, that is, aspects that go beyond the sphere of artistic languages (MIRANDA, 2018). Sesc Parque Dom Pedro II offers free access to cultural, leisure and sports practices, gathered in Sesc’s various lines of action, linked to arts, sports, food, health, education for sustainability and diversity, plus social tourism. Access enables people’s well-being and a sense of belonging. It is linked to the possibility of each individual participating in human relationships and interactions, giving them the dignity of being an actor in this chain. Without the right to participate in cultural life, people are unable to develop social and cultural bonds that are important for maintaining satisfactory conditions of equality. When people are excluded from cultural life, this can have consequences for the well-being and even for the sustainability of the social order. Participation is closely related to the ability of citizens to create a sense of responsibility in areas such as respect for others, non-discrimination, equality,
social justice, preservation of diversity and heritage and with regard to another culture (LAAKSONEN, 2011, p .49). Sesc has a fundamental role in the cultural formation of individuals, based on the principle of democratization of culture to overcome inequalities in access to culture for the majority of the population. The idea of cultural democratization fosters the concept of everyone’s right to actively participate in cultural life, emphasizing the importance of this participation as users and creators. One of the ways to contribute to the effective participation in cultural life is through the experience lived by individuals. Incorporating this type of experience in the formation of individuals is probably the most effective step to disseminate these languages and their codes, in such a way that they bring about a real change in people’s relationship with culture, art and leisure. Here is the chance to change the pattern of relationship with the various artistic expressions and sociability, allowing one to move from a mere enjoyment of entertainment to a practice in which it unfolds into a personal development process. Another important factor is informal education in changing people’s relationship with cultural activities, as it is possible at any stage of individuals’ lives, as well as because of its complementary and continuous nature. This is the sphere with the greatest possibility of intervention, and may reach a purposeful action in the sense of forming audiences and expanding the possibilities of the cultural life of individuals. Informal education as a strategy to change the relationship between the individual and culture, in its articulation with leisure, has been shown to be an effective way of bringing audiences closer to certain contents. The French sociologist Joffre Dumazedier (1999) already reported the successful experiences resulting from the association between informal education and the transmission of content via leisure and recreational activities.
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THE FUTURE The 21st century has expanded access to fast information through connectivity. The pandemic made us migrate and assume this virtual space also as a place of leisure, learning and sociability. With works of the definitive unit expected to begin in the second half of 2021, we consider it strategic to maintain a cultural action center, in order to list possibilities of activities with support and partnerships, to sustain our cultural and educational action during the construction of the future unit. This center has two focus: one online, in which Sesc Parque Dom Pedro II’s website and social networks offer programmatic activities; and another in-person, also linked to institutional programs carried out with and in partner spaces, maintaining ties with the regular audience and the surroundings. So, we’ll wait for the new Sesc Parque Dom Pedro II unit, continuing with our work.
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REFERENCES DUMAZEDIER, Joffre. 1999. Sociologia empírica do lazer. Trad. Sílvia Mazza e J. Guinsburg. São Paulo: Sesc SP/Perspectiva. LAAKSONEN, Anamar. 2011. O direito de ter acesso à cultura e dela participar como características fundamentais dos direitos culturais. Observatório Itaú Cultural. São Paulo, SP, nº 11. MARTINELL, Alfons. 2011. Gestión de la cultura y contemporaneidad: problemas, deseos e realidades. Espanha: Universidad de Girona. MIRANDA, Danilo Santo de. 2018. Juventude, públicos e comunidades no Sesc. 2º Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento de Audiências, Buenos Aires. RELPH, Edward. 1979. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia. Rio Claro, SP, v. 4, nº 7, p. 1-25. WISNIK, José Miguel. 2005. Drummond e o mundo. In: NOVAES, Adauto (org.). Poetas que pensaram o mundo. São Paulo: Cia. das Letras.
— Simone Engbruch Avancini Silva is Manager of Sesc Carmo and Sesc Parque Dom Pedro II, MBA in Strategic People Management from FGV, Specialist in Cultural Management and Policies from Itaú Cultural and the University of Girona and in Psychoanalytical Semiotics – Clínica da Cultura from PUC /SP. Undergraduated in Physical Education from Fefisa.
Programação: um olhar de dentro e de perto Laudo Bonifácio Júnior, Coordenador de Programação do Sesc Parque Dom Pedro II
Quando eu falo a palavra Futuro, a primeira sílaba já pertence ao passado. Quando eu falo a palavra Silêncio, o destruo. Quando eu falo a palavra Nada, crio algo que nenhum não ser comporta. Wislawa Szymborska
Se as instituições sociais são fruto da imaginação, em primeiro lugar, e depois dos esforços pessoais e coletivos, a criação do Sesc Parque Dom Pedro II surge, como profetizou o geógrafo brasileiro Milton Santos (2008, p. 11) em relação à cidade, “fadado a ser tanto o teatro de conflitos crescentes, como o lugar geográfico e político da possibilidade de soluções”. Partindo deste princípio, a programação foi pensada com o desejo coletivo de contribuir com a transformação deste, para nós, novo território, remodelando processos, pensamentos, comportamentos e visões de mundo, estabelecendo diálogos, conexões e movimentos sobre as percepções, vivências e compreensões da realidade de diferentes atores sociais deste espaço: as pessoas (trabalhadores, moradores, transeuntes, crianças, jovens, velhos, ambulantes, pessoas em situação de rua), as instituições (Escola, Creche, Igreja, Centro Cultural, OSCIPs) e empresas (Lojas, Bares, Restaurantes, Atacadistas) ali instaladas, com suas histórias e potências.
Concordamos com o antropólogo argentino radicado no México Néstor García Canclini (2008), para quem a cidade não é só o que vemos nos mapas ou no GPS, mas também varia segundo os modos com que cada pessoa experimenta as interações sociais pelas cartografias mentais e emocionais. Nesse sentido, a arquitetura pode se fazer presente nos espaços da cidade, não apenas com prédios de escritórios ou condomínios residenciais, mas sim como “respiro” para pessoas e comunidades, em que o simples estar para contemplar o espaço é importante e necessário. Assim, chegamos pensando em como poderíamos ser este “respiro” para as pessoas e a comunidade, como nos fazer presentes no território de forma coletiva, já imaginando os possíveis usos e modos de apropriação deste novo espaço pelos diferentes públicos dali. Em um espaço que foi o resultado das transformações urbanas causadas por interesses e necessidades muitas vezes divergentes entre o poder público, o mercado imobiliário e os moradores e trabalhadores do centro da cidade, um terreno de 9 mil metros quadrados incrustrado entre a avenida do Estado, a avenida Mercúrio e a praça São Vito, um espaço histórico desta região da cidade, onde foram construídos, e depois demolidos, dois edifícios de moradias populares, o São Vito e o Mercúrio, cercado por gradis, com uma arquitetura do nada, sem
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Circo Zanni, em 7 de novembro de 2020. Foto: Ricardo Ferreira
Circo Zanni, on November 7, 2020. Photo: Ricardo Ferreira
construções, um espaço como elemento urbano e sociocultural. Totalmente à disposição para pensarmos percursos, sensações, emoções e a experiência do espaço a partir da programação, da proposição de ações que contemplassem as diversidades, as múltiplas identidades, os desejos e as utopias que, de alguma forma, criam uma condição urbana, estruturada por linguagens e ritos de convivência, para esses diferentes públicos. A programação foi, então, pensada enquanto espaço da cidadania e da cultura pública, o início da construção de um imaginário com apropriação, identificação, reconhecimento e espaço simbólico-psíquico de pertencimento. Nossa chegada no território movimentou a coletividade, tanto urbana quanto social. Levamos em conta todas as tensões presentes no espaço urbano, como os problemas e dinâmicas de transporte, conservação urbana, segurança, limpeza, dinâmicas das moradias, organização do comércio e demais atividades econômicas. E com isso nos tornamos mais um dos elementos ali presentes no processo de requalificação de uma área determinada da cidade, mais especificamente deste território no centro de São Paulo. O desafio estava ali, à nossa disposição: pensar e propor uma programação para os diferentes públicos, gente de várias procedências, com histórias pessoais e familiares distintas, condições diversas e distinções de direitos impostas em termos de classes sociais, vivências e hábitos culturais, idades, etnias, sexualidades e gêneros. As pessoas com seus conflitos, medos, alegrias e paixões. Ser uma novidade, ter a possibilidade de trabalhar em uma dinâmica diferente, uma Unidade que está chegando em um território novo, poder ter esse contato com as pessoas, poder apresentar o que é o Sesc, mostrar o trabalho que a gente faz. A comunidade deste território tem uma característica de periferia – periferia entendida como um espaço de existência de sujeitos sociais vulnerabilizados, articulados e questionadores de sua realidade política,
social e cultural – ainda que exista no centro da capital. Seus vários conflitos, tensões sociais e questões a serem trabalhadas também se tornavam uma particularidade para as equipes e para o desenho da programação, de alcançar os diferentes públicos e de pensar em ações efetivas que contribuíssem com a melhora do cotidiano destas pessoas. Trata-se de uma experiência diferenciada, porque uma unidade provisória, diferentemente de uma unidade definitiva, nos dá a liberdade de pensarmos e criarmos as mais diversas programações, tendo em vista que a possibilidade de criação transcende as especificidades de determinado locus, de um espaço específico. Como praticamente só tínhamos o piso, o asfalto, nos era permitido fazer tudo, e assim fizemos: desde um Cinema drive-in, com tela gigante e as pessoas assistindo a um filme dentro de seus carros, de bicicleta ou nos pufes e cadeiras de praia dispostos pelo espaço, até uma partida de Futebol ou uma apresentação de Skate, Rugby, Floorball, Beisebol ou algum outro esporte incomum em nossa cultura ou realidade, incluindo ainda um cortejo que integrava espetáculo de Teatro, oficinas para construir um Foguete, para construir um Carrinho de Rolimã ou fazer um Bordado, um curso para confecção de Terrários, a criação de Horta Agroecológica, mais vivências de Danças contemporâneas e urbanas. Fizemos até apresentações de Circo e Trapézio, pois podíamos, como dito na linguagem circense, levantar a lona, estaquear e furar o piso para fixar as estruturas do Trapézio, sem preocupação com quaisquer questões arquitetônicas. E assim todos os que passavam pelas avenidas, fosse de carro, moto, bicicleta, caminhão, ônibus ou mesmo a pé, podiam também aproveitar aquelas cenas, ainda que fortuitas, do Dançarino, do Poeta, da Atleta ou da Acróbata se lançando no meio do nada, largando a mão do Trapézio para encontrar uma outra mão, fazendo com que muitos ficassem com um frio na barriga com sua travessia pelos ares.
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Final da Copa Sesc de Futsal, em março de 2018. Foto: Arquivo Sesc
Sesc Futsal Cup Finals, on March 2018. Photo: Sesc Archive
Foi uma unidade aberta, permeável, um respiro bem no meio da cidade, o contato com a dura e caótica natureza urbana, com as coisas boas e as coisas ruins, o ônus e o bônus, a dor e a delícia de ser o que é. Os ônus da chuva, do frio, de ventos intensos e principalmente do calor, da poluição, do barulho. Mas também o bônus de poder experimentar as mais diferentes propostas artísticas, esportivas e socioeducativas, o bônus dos encontros, dos sorrisos, dos olhares e das trocas com artistas, grupos e companhias, com as crianças, jovens e famílias que passaram a assumir e se apropriar do novo espaço como seu, fazendo da unidade o seu pedaço, o bônus das aproximações e afetividades que se estabeleciam com os trabalhadores do território, com os transeuntes, com os moradores vizinhos, com os “noias”, com os camelôs, com os ambulantes, com as pessoas em situações precarizadas que momentaneamente viviam nas ruas. E que se sentiam acolhidos e convidados a participarem dos shows, das apresentações, dos cursos e das oficinas, desta programação que causava encantamento e também estranhamento. Uma programação pensada, construída, tecida por várias mãos, com o desejo de mostrar essa diversidade que o Sesc tem em suas unidades, apresentando, na medida do que nos era possível, essa diversidade de possibilidades de ações. Conscientes de ocuparmos um lugar privilegiado, de termos a Cultura e a Educação como nossos valores, disponibilizando e compartilhando nossa expertise para o usufruto dos diferentes públicos, da coletividade. A programação entendida também como elemento de mediação e negociação com ações propositivas, para contribuir com o processo de formação e ampliação das possibilidades da vida cultural dos diferentes públicos, por meio de atividades como porta de entrada para outros saberes mais específicos, aproveitando a vivência de situações de sociabilidade despretensiosas como
as que são experienciadas e vividas no tempo-espaço-momento do Lazer, e que permitem a troca de informações e conhecimentos entre as pessoas, a criação de uma rede básica de sociabilidade mais as possibilidades de expressão e realização de cada pessoa. Esse era o nosso espaço de ação, de permitir que os públicos pudessem se apropriar da Unidade como seu espaço de lazer e sociabilidade, rompendo algumas barreiras simbólicas, barreiras de estranhamento – seja pela mediação a partir de um espaço aberto, cuja arquitetura e disposição dos espaços físicos contribuíam para essa chegada, seja pelo acolhimento e formação de redes sociais, que ofereciam a coexistência de espaços que permitiam a transição para diferentes possibilidades de fruição de vivências e atividades. A unidade funcionava como mediadora, entendendo-se que o espaço não é passivo, mas se constitui como um sistema de signos e significados dinâmicos, estabelecendo uma política de relacionamento com o público. Também funcionava pela mediação por meio da escuta ativa e da relação dialógica que estabelecemos com as pessoas. Não menos importante, pela mediação que acontecia de forma espontânea no encontro com amigos e conhecidos deste novo pedaço, que gerou uma relação de apropriação não só do espaço físico, da unidade, mas também das atividades propostas e de uma relação mais íntima entre esses públicos diversos. Adorávamos ver ali, no dia a dia, as diferentes apropriações que eram feitas por cada um: o senhor que vinha para “ficar de boas”, o pai e o filho que pediam para jogar xadrez, “ou um daqueles desafios e jogos de estratégia que o professor apresentou outro dia”, a galera que diariamente vinha “bater uma bola”, as mulheres que trabalhavam nas lojas da zona cerealista e aproveitavam o horário do almoço para “ler um jornal, uma revista e dar uma mexida nos livros”, a família que aos finais de semana vinha
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Semana Move: Handebol em cadeira de rodas, em setembro de 2017. Foto: Acervo Sesc
Handball, at sport festival Move Week, on September, 2017. Photo: Sesc Collection
“passear pela exposição”, os manos e as minas do Basquete que adotaram o novo espaço como seu, os vizinhos-alunos da Escola São Paulo que apareciam para jogar Basquete ou ensaiar alguns passos de uma coreografia de dança ou mesmo quando cabulavam as aulas e ficavam só trocando uma ideia, as senhoras que frequentavam a Igreja São Vito, que ficava bem próxima da unidade, e faziam as atividades de tecnologias e artes, ou, como elas mesmas diziam, as atividades de “internet e de computador”, além das aulas de costura, customização e design de roupas, os “boleiros e peladeiros” que fielmente, aos sábados e domingos, participavam dos torneios e campeonatos de futsal, os grupos de alunos de escolas do interior de São Paulo que vinham passear e conhecer os nossos outros vizinhos, o Museu Catavento e o Mercadão, e que invariavelmente passavam por dentro da Unidade e ficavam jogando Pingue-Pongue, Badminton, Xadrez, Futebol, Basquete – para desespero dos professores, que certamente tinham hora marcada não para estes momentos espontâneos, mas sim para os eventos oficiais; a multidão que chegava em grupos para os shows musicais, primeiro os fãs, que faziam questão de ficar grudados na boca do palco, e depois os outros 4.000, 5.000, 10.000 espectadores que lotavam a unidade, trazendo aquela tensão gostosa e positiva de tanta gente junta com o mesmo desejo de curtir um show ao vivo. Além de tanta gente que vinha participar de um bate-papo, de uma oficina artística, uma aula de expressão corporal, para andar e correr, ver um espetáculo ou simplesmente para sentar-se em uma cadeira e não fazer nada. Nesse dia a dia é que se tecia a trama do cotidiano, em que estavam presentes também conflitos decorrentes dos diferentes arranjos dos próprios atores sociais no processo de usufruir dos serviços, atividades e equipamentos, bem como de estabelecer encontros e trocas. Eram as crianças que corriam e
brincavam pelos espaços, empolgadas, e falavam alto, atrapalhando aqueles que estavam atentos às orientações do profissional que ministrava um curso; os boleiros do futebol que invariavelmente passavam do debate para o embate; os testes e as passagens de som antes dos shows, que invadiam todos os ambientes, causando interferência nas conversas e contemplações; os gritos de “pega ladrão” dos transeuntes que eram furtados nas calçadas e adentravam a unidade para que tomássemos providências sobre a situação; a mediação e a relação dialógica entre os diversos públicos para o entendimento do acolhimento das pessoas em situação de rua nas atividades. Essa riqueza era a nossa realidade diária, conquistada pouco a pouco na relação que estabelecemos desde o início, no processo da chegança, de nos apresentar e convidar esses públicos para fazerem parte da nova experiência. Há um ditado africano que diz: “Se quer ir mais rápido, vá sozinho, mas se quer ir mais longe, vá em grupo”. Pensar a programação do Sesc Parque Dom Pedro II foi tentar sempre juntar os diferentes pontos de vista, memórias, experiências, desejos, sonhos e necessidades, tanto dos profissionais que especificamente trabalham refletindo sobre a programação, como dos gestores, parceiros de trabalho das demais áreas, como Alimentação, Comunicação, Serviços e Infraestrutura; dos profissionais da cultura, como os criadores, pensadores, artistas, grupos, companhias e iniciativas sociais; além, claro, dos nossos públicos, num exercício cotidiano de escuta atenta. No nosso caso, por estarmos ali no espaço diariamente, imersos nas trocas e na potência de tudo o que acontecia no ambiente, o nosso fazer era quase um método de trabalho como prescreve a etnografia urbana – como gosta de dizer o professor José Guilherme Magnani, com o olhar de dentro e de perto, tentar compreender as dinâmicas culturais e as formas de sociabilidade dos nossos diferentes públicos, e, assim, pensar propostas para difundir experiências
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artísticas e educativas, criando um conjunto de proposições e práticas de transformação dos nossos públicos de maneira aberta, crítica e plural. Nesse processo de construção coletiva da programação, lembro o educador Paulo Freire (2003, p. 61): “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja a tua prática”. Escolhemos contribuir para uma transformação social que considerasse a micropolítica de produção de subjetividades. Para o começo de uma história, acredito que escolhemos um dos possíveis bons caminhos. Assim fizemos. Assim fomos. E assim seguimos juntos, presencial ou virtualmente, neste exercício de despertar e provocar coisas nas pessoas, tentando contribuir para a confecção de um tecido urbano mais heterogêneo, mais integrado e mais afetivo.
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REFERÊNCIAS CANCLINI, Néstor García. 2008. Imaginários culturais da cidade: conhecimento / espetáculo / desconhecimento. In: COELHO, José Teixeira (org.). A cultura pela cidade. São Paulo: Iluminuras. FREIRE, Paulo. 2003. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. MAGNANI, José Guilherme Cantor. 1998. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo, Hucitec. [1ª ed. Brasiliense, 1984] _____. 2002. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais [online], 17, n. 49, p. 11-29. ISSN 1806-9053. https://doi.org/10.1590/S0102-6909200200020000 SANTOS, Milton. 2008. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp. SZYMBORSKA, Wislawa. 2011. Poemas. Trad. Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras. — Laudo Bonifácio Jr. é Coordenador de Programação do Sesc Parque Dom Pedro II, Especialista em Gestão Cultural pelo CPF/Sesc SP, Graduado em Educação Física pela UNESP.
Schedule: a close look, from the inside Laudo Bonifácio Júnior, Parque Dom Pedro II Sesc schedule coordinator
When I pronounce the word Future, the first syllable already belongs to the past. When I pronounce the word Silence, I destroy it. When I pronounce the word Nothing, I make something no nonbeing can hold. Wislawa Szymborska
If social institutions are a product of imagination first, and after personal and collective efforts, the creation of Parque Dom Pedro II Sesc emerges, as prophesied by the Brazilian geographer Milton Santos (2008, p. 11) regarding the city, “doomed to be both the theater of growing conflicts and the geographical and political place of the possibility of solutions”. Based on this principle, the schedule was prepared with the collective desire to contribute to its transformation in mind. For us, new territory, reshaping processes, thoughts, behaviors and visions of the world by establishing dialogues, connections and movements on the perceptions, experiences and understandings of the reality of different social players in this space: the people (workers, residents, passersby, children, young people, old people, street vendors, homeless people), institutions (School, Day Care Centers, Church, Cultural Center, OSCIPs) and companies (Stores, Bars, Restaurants, Wholesalers) located there, with their stories and potencies.
We agree with the Argentinean anthropologist based in Mexico Néstor García Canclini (2008), for whom the city is not only what we see on maps or the GPS, but also varies according to the ways in which each person experiences social interactions through mental and emotional cartography. In this sense, architecture can be present in the city’s spaces not only through office or residential buildings, but as a “breathing” spot for people and communities where contemplating the space is important and necessary. Thus, we started to think about how we could become this “breathing” spot for people and communities, about how to make ourselves collectively present in the territory, already imagining the possible uses and ways of making this new space used by the different audiences there. In a space that was the result of urban transformations caused by often divergent interests and needs between the government, the real estate market and the residents and workers of the city downtown, an area of 9,000 square meters inlaid between the Estado Avenue, Mercúrio Avenue and São Vito Square, a historic space in this region where two low-income residential buildings were built, and later demolished, São Vito and Mercúrio surrounded by railings, with an architecture from scratch without constructions, a space as an urban and sociocultural element. Entirely available for us to think about routes, sensations, emotions and the experience
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of space from the schedule, the proposition of actions encompassing the diversities, the multiple identities, the desires and the utopias that somehow create an urban, structured condition by languages and rites of coexistence, for these different audiences. The schedule was, then, conceived as a space of citizenship and public culture, the beginning of the construction of an imaginary with appropriation, identification, recognition and a symbolic-psychic space of belonging. Our arrival at the territory moved both the urban and social collectivity. We take all tensions in the urban space into account, including transportation problems and dynamics, urban conservation, security, cleaning, housing dynamics, trade organization and other economic activities. And with that, we became one of the elements in the requalification process of a specific area of the city, more specifically this territory in São Paulo downtown. We were faced with the challenge to think and propose a new schedule for the different audiences, people from different backgrounds, with different personal and family history, different conditions and distinctions of rights imposed in terms of social classes, cultural experiences and habits, ages, ethnicities, sexualities and genders. People with their own conflicts, fears, joys and passions. Being novel, having the chance to work in a different dynamic, a Unit arriving at a new territory, being able to have this contact with the people, being able to introduce Sesc and show our work. The community feels suburban - suburb meaning a space with socially vulnerable, articulated individuals questioning their political, social and cultural reality – existing in the center of the capital. Its various conflicts, social tensions and matters to be dealt with also became a particularity for the teams and for the design of the schedule, to reach different audiences and to think about effective actions that would contribute to the improvement of these people’s daily lives. It is a different experience, because unlike a definitive unit, a provisional unit
gives us the freedom to think and create the most diverse schedule, considering that the possibility of creation transcends the specificities of a given locus, of a space specific. As we practically only had the floor, the asphalt, we were allowed to do everything, and so we did: from a drive-in theater with a giant screen and people watching the movie from inside their cars, on bicycles or on the beanbags and beach chairs arranged throughout the space, even a soccer match or a skate, rugby, floorball, baseball performance or any other sport unusual in our culture or reality, including a procession that included a Theater performance, workshops to build a Rocket, to build a soap box cart, to emboider, a course for making terrariums, create an Agroecological Garden, more experiences in contemporary and urban dances. We even had Circus and Trapeze performance, since we could, as said in circus language, lift the canvas, stake and drill the floor to fix the Trapeze structures without worrying about any architectural issues. And so everyone who passed by the avenues, by car, motorcycle, bicycle, truck, bus or even on foot could also enjoy those scenes, even if fortuitous, of the Dancer, the Poet, the Athlete or the Acrobat throwing themselves in the middle of nowhere, letting go of the Trapeze's hand to find another hand, causing many to get butterflies in their stomachs with their passage through the air. It was an open, permeable unit, a breather right in the middle of the city, the contact with the harsh and chaotic urban nature, with the good and the bad, the odds and evens, the pain and the delight of being what you are. The burden of rain, cold, intense winds and especially heat, pollution, noise. But also the bonus of being able to experience the most different artistic, sporting and socio-educational proposals, the bonus of encounters, smiles, looks and exchanges with artists, groups and companies, with children, young people and families who have come to assume and take the new space as their own, making the unit their piece, the bonus
of the approximations and affections established with the workers of the territory, with passersby, with neighbors, the homeless, street vendors, with people in precarious situations who momentarily lived on the streets. And that they felt welcomed and invited to participate in shows, performances, courses and workshops, in this schedule that both delighted and caused strangeness. A schedule thought out, prepared and woven by several hands with a wish to show Sesc’s diversity, and showing as far as possible, this diversity of possibilities for actions. Aware of our privilege to have Culture and Education in our values, we provide and share our expertise to the benefit of different audiences, the people. Also seen as an element to mediate and negotiate with purposeful actions to contribute to the process of formation and expansion of the possibilities of cultural life for different audiences, the schedule includes activities as a gateway to other more specific knowledge, taking advantage of the experience of unpretentious sociability situations such as those experienced in the time-space-moment of Leisure, and which allow the exchange of information and knowledge between people, the creation of a basic network of sociability plus the possibilities of expression and realization of each people. This was our room for action, to allow the public to appropriate the Unit as their space for leisure and sociability, breaking some symbolic barriers, barriers of estrangement - either through mediation from an open space, whose architecture and layout of the physical spaces contributed to this result, either through the reception and formation of social networks which offered the coexistence of spaces allowing the transition to different possibilities of enjoyment of experiences and activities. The unit operated as mediator, understanding that space is not passive, but is constituted as a system of dynamic signs and meanings, establishing a policy of relationship with the public. It also operated with active listening and
dialogue established with the people. No less important, through spontaneous encounters with friends and acquaintances in this new space, which generated a relationship of appropriation not only of the unit’s physical space, but also the proposed activities and a more intimate relationship between these different audiences. We loved to see there, on a daily basis, the different appropriations by each one: the gentleman who came to “chill”, the father and son who asked to play chess, “or one of those challenges and strategy games that the teacher presented the other day”, the guys who came daily to “play ball”, the women who worked in the Cereal Market stores and used their lunch break to “read a newspaper, a magazine and browse through the books”, the family that came to “check out the exhibition” on weekends, the basketball boys and girls who adopted the new space as their own, the neighbor-students from São Paulo School who came to play basketball or rehearse a few steps of a dance choreography or even when they skipped classes and just hang out, the ladies who attended the São Vito Church, which was very close to the unit, and did the technology and arts activities or, as they said, the “internet and computer” activities, in addition to sewing, customization and design classes, the “ball players” who faithfully participated in futsal tournaments and championships on Saturdays and Sundays, groups of students from schools in the countryside of São Paulo who came to walk and meet our other neighbors, the Catavento Museum and the Mercadão, who invariably passed through the Unit and played Ping-Pong, Badminton, Chess, Soccer, Basketball – to the dismay of the teachers who certainly had an appointment not for these spontaneous moments but also for official events; the crowd arriving in groups for the concerts, first the fans, who insisted on being glued to the stage and then the other 4,000, 5,000, 10,000 spectators that packed the unit, bringing that great, positive tension of so many people together with the same
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desire to enjoy a live concert. And so many other people who would come join a conversation, an art workshop, a body expression class, to walk and run, to see a concert or just sit in a chair and chill. This was the day-to-day weaving the fabric of daily life, also including conflicts from the different arrangements of the social players in the process of using the services, doing activities and using the equipment, as well as establishing meetings and exchanges. It was the children who ran and played in the spaces, excited, and speaking loudly, disturbing those who were paying attention to the instructions of the professional teaching a course; the soccer players who invariably moved from debate to kicks; the tests and sound checks before the concerts invading all environments and interfering in conversations and contemplations; the cries of “catch a thief” from passersby who were stolen at the sidewalks and entered the unit so that we could take action on the situation; the mediation and the dialogic relationship between the different audiences to understand the reception of people living on the streets in the activities. This richness was our daily reality, conquered little by little in the relationship ever since our arrival of introducing ourselves and inviting these audiences to be part of this new experience. There's an old African proverb that says “If you want to go quickly, go alone. If you want to go far, go together”. Thinking about Parque Dom Pedro II Sesc schedule has always been about trying to combine the different points of view, the memories, experiences, wishes, dreams and needs, both from the professionals who work on the schedule and the managers, partners of the other departments, including Food, Communication, Services and Infrastructure; the culture professionals, including creators, thinkers, artists, groups, companies and social initiatives; in addition to our audiences, of course, in a daily exercise of active listening. In our case, since we are there daily, immersed in the exchanges and power of everything that
happened in the environment, our doing was almost a working method as urban ethnography prescribes – as professor José Guilherme Magnani likes to say, looking from within and up close, trying to understand the cultural dynamics and forms of sociability of our different audiences, and thus thinking of proposals to spread artistic and educational experiences, creating a set of propositions and practices to transform our audiences in an open, critical and plural way. In this joint schedule construction process, I remember the words of Paulo Freire: “Reducing the distance between what is said and what is done is essential, so that what you preach becomes what you do” (2003, p. 61). We choose to contribute to social transformation that takes subjectivities production micropolitics into account. For the beginning of a story, I believe we chose one of the possible good paths. And so we did. And so we were. And so we continue together, in person or virtually, in this exercise of awakening and provoking things in people, trying to contribute to the making of a more heterogeneous, more integrated and more affective urban fabric.
REFERENCES CANCLINI, Néstor García. 2008. Imaginários culturais da cidade: conhecimento / espetáculo / desconhecimento. In: COELHO, José Teixeira (org.). A cultura pela cidade. São Paulo: Iluminuras. FREIRE, Paulo. 2003. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. MAGNANI, José Guilherme Cantor. 1998. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. São Paulo, Hucitec. [1ª ed. Brasiliense, 1984] ______. 2002. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais [online], 17, n. 49, p. 11-29. ISSN 1806-9053. https://doi.org/10.1590/S0102-6909200200020000 SANTOS, Milton. 2008. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp. SZYMBORSKA, Wislawa. 2011. Poemas. Trad. Regina Przybycien. São Paulo: Companhia das Letras.
Ações Programáticas
As unidades do Sesc materializam a experiência de mais de 75 anos de ação institucional dedicados à formação e ao desenvolvimento de pessoas, orientados por uma perspectiva educativa transversal e permanente. Demandas provenientes das características etárias, sociais e culturais de seus públicos são contempladas na medida em que as atividades produzidas em cada um desses ambientes apresentam caráter múltiplo, compreendendo propostas, equipamentos e recursos vinculados aos programas basilares em Educação, Saúde, Cultura, Lazer e Assistência. Nesse sentido, o Sesc Parque Dom Pedro II realizou 1.650 ações programáticas, de 2015 a 2021, organizadas segundo as principais áreas de atuação institucional. Na sequência, são elencadas as linhas gerais que orientaram o desenvolvimento de tais ações, incluindo aspectos qualitativos – ressaltando o significado de cada campo para a instituição e, especificamente, para a unidade provisória, exemplificados por registros fotográficos e audiovisuais, disponíveis on-line – e quantitativos, com números de ações por área no período.
Artes cênicas As artes cênicas são constituídas por um conjunto de expressões estéticas em que aproximações transformadoras são possíveis num determinado recorte de tempo, no qual os corpos atuantes podem operar como portadores de discursos simbólicos e como lugares de memórias. Tais artes performativas são expressas por meio das seguintes linguagens:
TEATRO As ações nessa área no Sesc contemplam tanto companhias e nomes consagrados da cena teatral brasileira como coletivos periféricos, grupos de jovens atores e companhias de fora do estado de São Paulo, buscando atender às diversidades étnica, regional, etária, de corpos e orientações sexuais, tanto no que se refere às composições dos grupos quanto no que toca às temáticas discutidas nas dramaturgias. Também integram seu rol de ações espetáculos, cursos, oficinas, bate-papos, exposições e residências artísticas. Desse modo, procura-se reafirmar a importância da pluralidade de pontos de vista e formas artísticas, além de seus entrecruzamentos.
CIRCO Com atividades que fomentam diálogos e favorecem compartilhamentos, estimula-se a diversidade estética nos modos de fazer circo na atualidade. Para isso, a instituição trabalha com produções tradicionais e contemporâneas, que abarcam desde circos itinerantes de tradição
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familiar a artistas e trupes formados em escolas. Tal conjunto de ações reflete o compromisso com o oferecimento de uma programação variada, contemplando as diferentes modalidades e habilidades circenses, assim como os diversos públicos, ampliando o acesso a esses bens culturais e incentivando a preservação e o desenvolvimento desse gênero artístico.
DANÇA
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A partir de vertentes populares e contemporâneas, a tríade da difusão, circulação e fruição de espetáculos ou performances reflete parte importante do trabalho desenvolvido na área da dança. Busca-se a formação de novas plateias e a promoção do acesso às diferentes propostas na seara das experimentações relacionadas ao corpo. As ações formativas potencializam as possibilidades de encontro e a contínua reflexão sobre a dança, com vistas à promoção de intercâmbios com criadores e profissionais ligados a instituições locais e internacionais, nutrindo possibilidades de criação e pesquisa.
No Sesc Parque Dom Pedro II, o trabalho com as artes cênicas reconheceu temas contemporâneos fundamentais ligados a falas e escutas transversais, como a afirmação de identidades étnicoraciais e respeito à diversidade sexual dos diversos criadores, profissionais e frequentadores. Por meio de experimentações artísticas e provocações estéticas relacionadas às memórias e aos anseios de diferentes comunidades, foram realizadas intervenções, ficções, intersecções e hibridismos de técnicas de encenação. O espaço para performances, com cerca de 9 mil metros quadrados,
permitiu diversas configurações. No caso da linguagem circense, foi possível erguer lonas e trapézios, depois de perfurar o piso para fixar as estruturas, bem como pendurar liras e cordas indianas, que viabilizaram espetáculos a céu aberto, visíveis a variadas distâncias, incluindo transeuntes e motoristas que avistavam os artistas de fora da unidade. Como referências das programações, que ocorreram nas tardes, em finais de semana e feriados, no Palco, na Tenda ou Praça Lúdica, pode-se citar: Mostra de Repertório Trupe Sinhá Zózima, Arquiteturas do Circo e La Mínima no Parque, bem como atividades articuladas a projetos em rede, como Palco Giratório, Extensão Mirada, Circos – Festival Internacional Sesc de Circo e Virada Cultural. Além de apresentações, foram realizados cursos, oficinas e vivências para promover as artes performativas e capacitar interessados, tanto no regime presencial quanto no virtual, durante a pandemia. Em continuidade ao Plano de Retomada de Atividades, que se organizou tendo como premissa a segurança de funcionários, prestadores de serviços e públicos, foi iniciado o processo de preparação para retorno gradual da oferta de espetáculos com público no Sesc Parque Dom Pedro II. Para compor o evento Circo no Parque, nos meses de novembro e dezembro de 2020, foram reunidos quatro grupos circenses – Circo Zanni, Arena Circos, Irmãos Sabatino e Trixmix – que realizaram 10 apresentações presenciais, acompanhadas por 849 espectadores, mediante agendamento prévio de ingressos.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 407
Desenvolvimento físico-esportivo As ações do Sesc nessa área envolvem realizações voltadas ao estímulo e à ampliação das experiências relacionadas aos esportes, às atividades físicas e ao lazer. Ao mesmo tempo, procuram conscientizar sobre os benefícios da prática regular, segura e prazerosa, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida e o cuidado com a saúde, assim como o bem viver e a redução do comportamento sedentário, a partir do enfrentamento da inatividade física. Numa primeira etapa, a unidade provisória dispunha de equipamentos móveis, como tabelas de basquete 3x3, traves para futebol de caixão, empréstimo de patins, skates, patinetes, bicicletas e outros materiais esportivos que, posteriormente, se somaram a quadras poliesportivas, pista de caminhada e corrida, tenda multiúso, estações para ginástica multifuncional (GMF), parque de habilidades e escalada em boulder. Apesar de não haver inscrições para cursos regulares, as ações dessa área foram incrementadas a cada edição de eventos, como Sesc Verão, Dia do Desafio, Virada Esportiva, Semana Move ou Copa Sesc do Comércio e Serviços, com maior oferta de instalações e equipamentos para melhor acolhimento aos funcionários, aos frequentadores e aos visitantes nos finais de semana e feriados. A área triangular do terreno possibilitou a prática de atividades físicas de forma livre ou orientada por educadores do Sesc, sendo literalmente um espaço de respiro e relaxamento em meio às vias pavimentadas, com pontuais nichos verdes no entorno. Além disso, promoveram-se encontros entre atletas e público, com bate-papos, demonstrações e vivências para ampliar o conhecimento teórico-prático sobre modalidades esportivas.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 356
Música A programação em música no Sesc pauta-se pela sistemática e ampla pesquisa acerca da cena musical brasileira, acrescida por contribuições advindas do cenário internacional. Evidencia-se, assim, a diversidade de instrumentistas, cantores e compositores que integram e pluralizam o panorama atual da música nacional e estrangeira. A ação na área estabelece amplos recortes em atenção aos variados gêneros musicais, oferecendo elementos para o reconhecimento de seus signos e uma escuta aprimorada na formação de públicos. No Sesc Parque Dom Pedro II, desde o início a música criou uma atmosfera coletiva e informal de confraternização. Relatos de frequentadores elogiavam o fato de os shows acontecerem gratuitamente, sob a luz da lua e das estrelas, com vozes múltiplas harmonizando-se a teclados, pianos, percussões, baterias, metais, violões, guitarras ou baixos, cuja amplificação e qualidade sonora permitiam que moradores de prédios do entorno assistissem aos eventos “de camarote”. Foram realizados shows com grandes nomes da MPB, samba, rock, pop-rock, rap, funk, Hip Hop, assim como apresentações com temas infantis e carnavalescos (como Pequeno Cidadão, Tiqueque, Acadêmicos do Tatuapé); projetos como o Memórias Musicais, com artistas e suas influências; concertos da Orquestra Juvenil Heliópolis, da Orquestra Mundana Refugi, da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, da Jazz at Lincoln Center Orchestra, com Wynton Marsalis e convidados, do Coro Osesp, além de festivais, bate-papos, oficinas e outras atividades.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 215
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Recreação A área de recreação no Sesc abrange as atividades infantis do Espaço de Brincar, bem como um conjunto de ações físicoesportivas em diversos espaços, a saber:
os diversos grupos de interesse tinham a possibilidade de interação e satisfação em três dimensões: descanso, diversão e desenvolvimento.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 206
ESPAÇO DE BRINCAR As ações se desenvolvem em ambientes lúdicos, com concepção pensada para valorizar o brincar, seja espontâneo, dirigido ou mediado. Busca-se, com isso, favorecer os mais diversos vínculos, tanto os de natureza familiar e afetiva como os de procedência escolar ou programática. Os espaços são preparados com vistas às diversas possibilidades de montagens recreativas e educativas, selecionando elementos brincantes para estimular vivências individuais ou coletivas.
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AÇÕES FÍSICO-ESPORTIVAS As atividades físico-esportivas de lazer representam oportunidades de uso do tempo disponível, abrangendo conteúdos culturais e direitos sociais. Nesse sentido, promovem abordagens propícias à redescoberta de aspectos simbólicos e de suas possibilidades de apropriação em diferentes circunstâncias e contextos, mediante processos que têm na dimensão recreativa um de seus trunfos. A unidade provisória recebeu, em todo o seu período de funcionamento, milhares de famílias que passavam o dia no “parque”, desde bebês acompanhados por seus responsáveis no Espaço de Brincar, incluindo crianças e jovens explorando os contêineres com tênis de mesa e jogos de tabuleiro, a escolares nas quadras poliesportivas para brincadeiras, vivências recreativas ou partidas de futebol, basquete, vôlei e outras modalidades. Em meio à ludicidade do espaço triangular,
todo o perímetro, como suporte às obras expostas ou intervenções visuais, além de trechos livres do terreno para construções coletivas, contêineres ambientados e Espaço de Tecnologias e Artes, para o desenvolvimento de oficinas artísticas.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 161
Artes visuais A fim de proporcionar experiências de formação sensível e crítica acerca da cultura visual, o Sesc desenvolve ações ligadas à criação, à difusão, à fruição e à preservação de manifestações artísticas, contemplando diferentes formatos, temas e períodos históricos. Por meio de exposições, instalações, intervenções e performances, tanto de nomes consagrados quanto daqueles em meio ou início de carreira, estabelecem-se aproximações com profissionais dos campos da arte e da cultura nacional e internacional, parceiros institucionais e públicos diversos. O espaço expositivo do Sesc Parque Dom Pedro II foi inspirado em nichos de aduelas (suportes em concreto utilizados para canalização de rios), em alusão à história do rio Tamanduateí, incluindo manilhas com grandes vasos de plantas e sombreamentos com tecidos estendidos por cabos de aço, para propiciar maior conforto térmico aos visitantes. Em relação aos temas desenvolvidos, foram priorizadas as memórias e as conexões culturais de um antigo núcleo ligado à gestação da cidade paulistana: de várzea do Carmo, transformou-se em um território de convivência por décadas, com coreto, casa de banhos e até parque de diversões, sendo posteriormente devastado em sua vegetação, cortado por avenidas e viadutos, cercado por depósitos de itens variados, ocupado por moradores, circundado pelo comércio da zona cerealista. A unidade pôde também contar com o uso dos gradis em
Literatura e biblioteca As ações dessa área na instituição buscam dar continuidade às propostas de incentivo à prática de leitura e formação de leitores. Tendo isso em vista, fomenta-se a difusão, a criação literária e as contribuições trazidas por autores, com ênfase na experimentação da palavra em diálogo com outras linguagens artísticas, considerando a diversidade de manifestações e frequentadores. Desde sua ocupação inicial, a unidade provisória, em vez de uma biblioteca no sentido formal, utilizou-se de variados suportes para oferecer espaços de leitura, a saber: estantes, bancos, carrinhos, tendas, contêineres, Kombis e até ônibus. Além do empréstimo local de livros e periódicos, ocorreram intervenções, oficinas, produção de fanzines, contação de histórias, mediações de leitura, saraus e slams para desenvolvimento do pensar e fazer literários.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 123
Audiovisual O trabalho do Sesc com essa linguagem enfatiza a difusão e a fruição de conteúdos audiovisuais, destacando os diferentes dispositivos que contribuem para o fazer cinematográfico. Conjuntamente, reflete-se sobre a produção,
a preservação e as possibilidades de mediação de obras, fomentando o conhecimento por meio de cursos teóricos e práticos, além de debates, palestras e encontros, com o intuito de ampliar as experiências com o cinema. A vocação audiovisual do Sesc Parque Dom Pedro II esteve atuante praticamente desde a abertura até o encerramento da unidade provisória. Por ocasião da 39ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (2015), compondo um ambiente de autocine, com exibições vistas de dentro dos carros, além de assentos para pedestres e ciclistas, foram projetados em uma grande tela a céu aberto filmes clássicos e lançamentos. Já no momento da pandemia e isolamento social, as opções seguras de acesso à arte e ao lazer ficaram escassas. A partir das potencialidades oferecidas pela estrutura física da unidade provisória e de um estudo conforme as orientações de saúde e segurança, foi criada uma proposta que resgatou a experiência dos cinemas drive-in. O formato drive-in possibilitou, aos públicos com máscaras e funcionários com EPIs, vivências protegidas da disseminação do novo coronavírus, respeitada a lotação de até quatro espectadores por veículo, com vagas distanciadas em área aberta, evitando aglomerações, para assistir a produções nacionais e estrangeiras. O Cine Sesc Drive-in recebeu também parte da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (2020), totalizando 23 longas e 4 curtas, que foram vistos por 1.032 pessoas, em 437 carros, durante 23 sessões projetadas em uma tela de 10 por 4 metros. Com o objetivo de abordar diversas vertentes na linguagem, foram exibidos também filmes no Gabinete de Curiosidades e documentários como atividades integradas a exposições, bem como desenvolvidos cursos virtuais sobre a produção audiovisual negra.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 97
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Educação em saúde
Valorização social
Com o intuito de fomentar a consciência crítica a respeito de condições e modos de vida, criando oportunidades para indivíduos e comunidades fazerem as melhores escolhas dentro de suas realidades, são desenvolvidos processos educativos e ações programáticas interdisciplinares, com foco na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Por meio do compartilhamento de saberes e fazeres, os sujeitos podem participar como protagonistas de um arco de iniciativas dialógicas voltadas a produzir potência de vida e autonomia em relação aos cuidados com sua própria saúde. Desde sua origem, a ação da entidade privilegia a educação para e pelo lazer, por meio do uso do tempo livre, de conteúdos culturais e de abordagens educacionais, moduladas de acordo com as demandas locais e temporais. Por se localizar em uma região de vulnerabilidade social, o Sesc Parque Dom Pedro II teve como premissas e desafios as fundações de um trabalho multidimensional para tornar concreta a missão da instituição, a saber: proporcionar bem-estar e melhoria da qualidade de vida das pessoas. Orientados por profissionais educadores, seus espaços também se organizaram de forma educativa, sensibilizando o público e ampliando sua compreensão acerca da saúde, no sentido amplo do termo, para além da ausência de doença. Por meio de exemplos compartilhados com a população – disponibilização de água potável, oferecimento de banheiros limpos, promoção do uso de áreas acolhedoras, difusão de orientações com cuidados diários de higiene pessoal, alimentos saudáveis, atividades físicas e outras interfaces –, a unidade provisória conseguiu efetivar sua missão educativa, influenciando seu entorno de forma positiva.
A realização de processos socioeducativos em valorização social visa à inclusão produtiva de indivíduos e grupos por meio da ampliação de conhecimentos, tendo em vista a criação de possibilidades de inserção no campo do trabalho – vetor decisivo para melhoria das condições de vida e desenvolvimento local. Incentiva-se o intercâmbio de conhecimentos e a formação de redes entre iniciativas ligadas ao empreendedorismo social, à economia solidária e aos saberes e ofícios, mediante ações formativas. Em sua origem, a Ocupação Sesc Parque Dom Pedro II promoveu o evento São Paulo Tropicana, integrado ao 3º Festival de Direitos Humanos, com foco na atividade Cidadania nas Ruas. Durante a pandemia, o Sesc realizou o projeto Tecido Solidário: saúde, educação e geração de renda, com base nas orientações dos órgãos de saúde que, em maio de 2020, passaram a indicar o uso de máscaras têxteis pela população, além de distanciamento social e medidas de higiene. Para a confecção das máscaras foram contratadas 97 cooperativas, associações e iniciativas sociais de costura de comunidades próximas às unidades da instituição, fortalecendo o trabalho comunitário e a geração de renda para tais grupos. Além de integrar ações educativas nas redes sociais, houve a distribuição de mais de 38 mil máscaras a funcionários e 86 mil doações de máscaras para instituições.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 51
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 23
Nutrição e segurança alimentar Entendido como um dos pilares da promoção de saúde, esse programa tem como objetivo oferecer refeições e preparações saudáveis, com variedade local e regional, a preços subsidiados e acessíveis ao público prioritário e à comunidade. A entidade atua na área de alimentação desde a sua criação, agregando mudanças e contemplando outras necessidades ao longo do tempo. Desse modo, o Sesc incorpora novos valores, com foco nas práticas alimentares promotoras de saúde, respeitando a autonomia do sujeito sobre as escolhas alimentares. Situada entre o Mercado Municipal de São Paulo, a zona cerealista e a praça São Vito, a Cafeteria do Sesc Parque Dom Pedro II foi implantada para acolher melhor os públicos interno e externo, com oferta de salgados, bolos, frutas e doces produzidos no Sesc Carmo e transportados à unidade provisória conforme protocolos de segurança alimentar, além de bebidas quentes e frias. Em dias de shows, quando o número de visitantes era muito maior do que a frequência comum, foram feitas parcerias com food trucks para a venda de produtos diferentes dos da instituição. A programação também priorizou a realização de oficinas temáticas e a implantação de uma horta comunitária, em atendimento aos princípios de saúde e educação para a sustentabilidade. Além dessas frentes, foram realizados projetos como o Experimenta! Comida, Saúde e Cultura, e o Inspira – Ações para uma Vida Saudável, com atividades internas e visitas técnicas ao comércio de alimentos e produtos presente no território.
NÚMERO DE AÇÕES POR ÁREA: 11
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different audiences, expanding access to these cultural assets and encouraging the preservation and development of this artistic genre.
Programmatic actions
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Over 75 years of institutional action dedicated to train and develop people through a transversal and permanent educational perspective are materialized in Sesc units. Age, social and cultural demands from its audiences are encompassed in the activities held at each environment, such activities being diverse, including propositions, equipment and resources linked to basic Education, Health, Culture, Leisure and Assistance programs. In this sense, Sesc Parque Dom Pedro II conducted 1,650 programmatic actions from 2015 to 2021, organized according to the main areas of institutional action. Below are the general lines that guide the development of said actions, including qualitative ones - with emphasis to the meaning of each field for the institution and, specifically, for the provisional unit, exemplified by photographic and audiovisual records, available online – and quantitative, with numbers of actions by area during the period.
Performing arts Performing arts comprise a set of aesthetic expressions in which transformative approaches are possible in a certain time frame, in which the acting bodies can operate as bearers of symbolic discourses and as places of memories. Said performative arts are expressed through the following languages:
THEATER At Sesc, it comprises both consecrated companies and names in Brazilian theater as well as peripheral collectives, groups of young actors and companies outside the state of São Paulo, seeking to meet the ethnic, regional, age, body and sexual orientation diversities, both with regard to the compositions of the groups and with regard to the themes discussed in the dramaturgies. Actions also include shows, courses, workshops, chats, exhibitions and artistic residencies. This way, we seek to reaffirm the importance of the plurality of points of view and artistic forms, in addition to their intersections.
CIRCUS With activities that promote dialogue and favor sharing, aesthetic diversity is encouraged in today’s way of doing circus. Therefore, the institution works with traditional and contemporary productions, which range from traveling circuses of family tradition to artists and troupes trained in schools. This set of actions reflects the commitment to offer a diverse programming encompassing different circus modalities and skills, as well as the
DANCE From popular and contemporary sources, the triad of diffusion, circulation and enjoyment of shows or performances reflects an important part of the work developed in dance. We seek to form new audiences and promote access to different proposals in the field of body-related experimentation. The training actions enhance the possibilities of meeting and the ongoing reflection on dance with a view to promoting exchanges with creators and professionals linked to local and international institutions, nurturing possibilities of creation and research.
At Sesc Parque Dom Pedro II, the work in performing arts acknowledged essential contemporary themes related to transversal speeches and listening, such as the affirmation of ethnic-racial identities and respect for the sexual diversity of different creators, professionals and regulars. Through artistic experimentation and aesthetic provocations related to memories and desires of different communities, interventions, fictions, intersections and hybridizations of staging techniques were carried out. A 9-thousand square meter space for shows allowed different settings. In the case of the circus language, it was possible to erect tarpaulins and trapezes, after drilling the floor to fix the structures, as well as hanging lyres and Indian ropes, which made possible open-air shows, visible from different distances, including passersby and drivers who saw the artists from outside the unit. As references of the programming, which took place in the afternoons, on weekends and holidays, on the Stage, in the Tent or Praça Lúdica, we can mention:
Exhibition of the Troupe Sinhá Zózima Repertoire, Architectures of the Circus and La Mínima in the Park, as well as activities linked to network projects, such as Palco Giratório, Extensão Mirada, Circus – Sesc International Circus Festival and Virada Cultural. In addition to performances, courses, workshops and experiences were held to promote the performing arts and train interested parties, both face-to-face and virtual, during the pandemic. Continuing with the Activities Resumption Plan, which was organized based on the safety of employees, service providers and the public, the process of preparation for the gradual return of the offer of shows with audience at Sesc Parque Dom Pedro II was started. To compose the event Circo no Parque, in November and December 2020, four circus groups were brought together Circo Zanni, Arena Circos, Irmãos Sabatino and Trixmix - who performed 10 in-person presentations, accompanied by 849 spectators, with prior booking of tickets.
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 407
Physical-sports development Sesc actions in this field comprise accomplishments aimed at stimulating and expanding experiences related to sports, physical activities and leisure. At the same time, they seek to raise awareness about the benefits of regular, safe and pleasurable practice, with a view to improving the quality of life and health care, as well as well living and reducing sedentarism, based on coping with physical inactivity. First, the provisional unit had mobile equipment including 3x3 basketball hoops, mini soccer goals, loan of skates, skateboards, scooters, bicycles and other sporting equipment that were later added to multi-sport courts, a walking and running
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track, multipurpose tent, multipurpose gym (GMF) stations, skill park and bouldering. Although there registrations for regular courses are not open, the actions in this area were increased with each event, such as Sesc Verão, Dia do Desafio, Virada Esportiva, Semana Move or Copa Sesc do Comércio e Serviços, with a greater offer of facilities and equipment for better reception for employees, regulars and visitors on weekends and holidays. The triangular area of the land made it possible to practice physical activities freely or guided by Sesc educators, and was literally a space for breathing and relaxation amidst the paved roads, with occasional green niches in the surroundings. In addition, there were also meetings with athletes and the public, with chats, demonstrations and experiences to expand theoretical and practical knowledge about sports.
whose amplification and sound quality allowed residents of surrounding buildings to watch the events “from a box”. Shows were performed with big names from MPB, samba, rock, pop-rock, rap, funk, Hip Hop, as well as performances with children and carnival themes (such as Pequeno Cidadão, Tiqueque, Acadêmicos do Tatuapé); projects such as Memórias Musicais, with artists and their influences; concerts by Orquestra Juvenil Heliópolis, Orquestra Mundana Refugi, Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, Jazz at Lincoln Center Orchestra, with Wynton Marsalis and guests, Coro Osesp, in addition to festivals, chats, workshops and other activities.
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 356
The recreation area at Sesc includes children’s activities at Espaço de Brincar, as well as a set of physical-sports actions in different spaces, namely:
Music Sesc’s music programming is guided by systematic and extensive research on the Brazilian music scene with contributions from the international scene. Thus, the diversity of instrumentalists, singers and composers that integrate and pluralize the current panorama of national and foreign music is evidenced. Action in the area establishes broad cuts focused on the various musical genres, offering elements for the recognition of their signs and an improved listening in the formation of audiences. Since the beginning of Sesc Parque Dom Pedro II, music created a collective and informal atmosphere of fraternization. Reports from patrons praised the fact that all shows were free, under the light of the moon and stars, with multiple voices harmonizing with keyboards, pianos, percussions, drums, brass, guitars or bass,
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 215
Recreation
ESPAÇO DE BRINCAR Actions are developed in playful environments, with a conception designed to value spontaneous, directed or mediated play. With this, the aim is to favor the most diverse bonds, both those of a family and affective nature as well as those of school or programmatic origin. The spaces are prepared with a view to the various possibilities of recreational and educational settings, selecting playful elements to stimulate individual or collective experiences.
PHYSICAL-SPORTS ACTIONS Leisure physical-sports activities represent opportunities to use available time,
encompassing cultural content and social rights. In this sense, they promote approaches that lead to the rediscovery of symbolic aspects and their possibilities of appropriation in different circumstances and contexts, through processes that have the recreational dimension as one of their trump cards. The provisional unit received, during its operation, thousands of families who spent the day in the “park”, from babies accompanied by their guardians at Espaço de Brincar, to children and young people exploring the containers with table tennis and games of board, to schoolchildren on the multi-sport courts for games, recreational experiences or soccer, basketball, volleyball and other modalities. Amidst the playfulness of the triangular space, the various interest groups had the possibility of interaction and satisfaction in three dimensions: rest, fun and development.
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 206
Visual arts In order to provide sensitive and critical training experiences about visual culture, Sesc develops creation, dissemination, enjoyment and preservation of artistic manifestations actions, covering different formats, themes and historical periods. Through exhibitions, installations, interventions and performances, both by renowned names and those in the middle or beginning of their careers, approximations are established with art and national and international culture professionals, institutional partners and diverse audiences. The exhibition space at Sesc Parque Dom Pedro II was inspired by niches of staves (concrete supports used for channeling rivers), alluding to the history of the Tamanduateí River, including shackles with large potted plants and shading
with fabrics extended by steel cables, to provide greater thermal comfort to visitors. For the developed themes, memories and cultural connections from a former nucleus linked to the gestation of the city of São Paulo were prioritized: from Várzea do Carmo, it became a territory of coexistence for decades, with a gazebo, bath house and even amusement parks, being later devastated in its vegetation, cut by avenues and viaducts, surrounded by deposits of varied items, occupied by residents, surrounded by the commerce of the cereal zone. The unit could also use railings throughout the perimeter to support the works exhibited or visual interventions, in addition to free stretches of land for collective constructions, ambient containers and the Technology and Arts Space, for the development of artistic workshops.
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 161
Reading and library The actions in this field seek to continue propositions to encourage reading and training of readers. With this in mind, diffusion, literary creation and contributions brought by authors are encouraged, with emphasis on the experimentation of the word in dialogue with other artistic languages, considering the diversity of manifestations and regulars. Since its initial occupation, the provisional unit, instead of a library in the formal sense, used a variety of supports to offer reading spaces, namely: shelves, benches, carts, tents, containers, vans and even buses. In addition to locally lending books and newspapers, we also conducted interventions, workshops, production of fanzines, storytelling, reading mediations, soirees and slams for the development of literary thinking and doing.
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 123
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Audio-visual
Health education
Social valuation
Nutrition and food safety
Sesc’s work with this language emphasizes the dissemination and enjoyment of audiovisual content, highlighting the different devices that contribute to filmmaking. Together, it reflects on the production, preservation and possibilities of mediation of works, promoting knowledge through theoretical and practical courses, in addition to debates, lectures and meetings, with the aim of expanding experiences with cinema. The audiovisual vocation of Sesc Parque Dom Pedro II was active practically from the opening to the closing of the provisional unit. On the 39th São Paulo International Film Festival (2015), composing an autocite environment, with exhibitions seen from inside the cars, in addition to seats for pedestrians and cyclists, classic films and new releases were projected on a large open-air screen. During the pandemic and social isolation, safe options for accessing art and leisure were scarce. From the potential offered by the physical structure of the temporary unit and a study according to health and safety guidelines, a proposal that rescued the experience of drive-in cinemas was created. The drive-in format allowed audiences with masks and employees with EPIs to have experiences protected from the spread of the new coronavirus, respecting the capacity of up to four spectators per vehicle, with spaces distanced in an open area, avoiding agglomerations, to watch national and international productions. Cine Sesc Drive-in also hosted part of the 44th São Paulo International Film Festival (2020), totaling 23 features and 4 shorts, which were seen by 1,032 people, in 437 cars, during 23 sessions projected on a 10x4meter screen. In order to address various aspects of language, we also played films at the Gabinete de Curiosidades and documentaries as activities integrated into exhibitions, and we also developed virtual courses on black audiovisual production.
To promote critical awareness on conditions and ways of life, creating opportunities for individuals and communities to make better choices according to their realities, we develop education processes and interdisciplinary programmatic actions focusing on health promotion and prevention of diseases. By sharing knowledge and practices, individuals can participate as protagonists in an arc of dialogic initiatives aimed at producing life power and autonomy in relation to their own health care. Since its inception, the entity’s action has privileged education for and by leisure, using free time, cultural content and educational approaches modulated according to local and temporal demands. As it is located in a socially vulnerable region, Sesc Parque Dom Pedro II had as premises and challenges the foundations of a multidimensional work to turn the institution’s mission into a reality, namely: to provide wellbeing and improve the quality of life of people. Guided by professional educators, its spaces were also organized in an educational way, raising public awareness and expanding their understanding of health in the broadest sense of the term, beyond the absence of disease. Through examples shared with the population – making drinking water available, offering clean bathrooms, promoting the use of welcoming areas, disseminating guidelines with daily personal hygiene care, healthy foods, physical activities and other interfaces – the temporary unit was able to carry out its educational mission, influencing its surroundings in a positive way.
The conduction of socio-educational processes in social valorization aims at the productive inclusion of individuals and groups through the expansion of knowledge, with a view to creating possibilities for insertion in the work environment – which is decisive for improving living conditions and local development. The exchange of knowledge and the formation of networks between initiatives linked to social entrepreneurship, solidarity economy and knowledge and crafts are encouraged, through training actions. Originally, the Sesc Parque Dom Pedro II Occupation promoted the São Paulo Tropicana event, integrated into the 3rd Human Rights Festival, focusing on the Citizenship in the Streets activity. During the pandemic, Sesc carried out the Solidarity Fabric project: health, education and income generation, based on the guidelines of health bodies that, in May 2020, began to indicate the use of textile masks by the population, in addition to social distancing and hygiene measures. To make the masks, 97 cooperatives, associations and social sewing initiatives in communities close to the institution’s units were hired, strengthening community work and income generation for these groups. In addition to integrating educational actions on social media, more than 38,000 masks were distributed to employees and 86,000 masks were donated to institutions.
Seen as one of the pillars for health promotion, this program aims to offer healthy meals and preparations, with local and regional variety, at subsidized and accessible prices to the priority public and the community. The entity has been operating in the food sector since its creation, adding changes and contemplating other needs over time. In this way, Sesc incorporates new values, focusing on health-promoting food practices, respecting the subject’s autonomy over food choices. Located between the São Paulo Municipal Market, the cereal area and São Vito square, the Cafeteria at Sesc Parque Dom Pedro II was set up to better accommodate internal and external audiences, offering snacks, cakes, fruits and sweets produced at Sesc Carmo and transported to the provisional unit according to food safety protocols, in addition to hot and cold drinks. On show days, when the number of visitors was much higher than the usual frequency, partnerships were made with food trucks to sell products other than those of the institution. The programming also prioritized thematic workshops and the implementation of a community garden, in compliance with the principles of health and education for sustainability. In addition to these fronts, projects such as Experimenta! Food, Health and Culture, and Inspira – Actions for a Healthy Life, with internal activities and technical visits to the food and product trade in the territory were conducted.
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 97
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 51
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 23
NUMBER OF ACTIONS PER AREA: 11
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Apresentação circense na Virada Cultural, em 21 de junho de 2015. Foto: Alexandre Nunis
11ª Bienal de Arquitetura de São Paulo - Imaginário da Cidade: Módulo Satélite, em outubro de 2017. Foto: Acervo Sesc.
Semana Move: Treino de Basquete com Janeth Arcain, em 30 de setembro de 2018. Foto: Thaís Kruse
1.145.813
2015—2021
Palco Giratório: Manotas Musicais, em 3 de março de 2016. Foto: Alexandre Nunis
Dia do Desafio: recreação com escolas, em 29 de maio de 2019. Foto: Vania Toffoli
pessoas presentes
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Palco Giratório: Manotas Musicais, em 3 de março de 2016. Foto: Alexandre Nunis
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Dia do Desafio: recreação com escolas, em 29 de maio de 2019. Foto: Vania Toffoli
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Banda Sepultura, em 30 de março de 2019. Foto: Taba Benedicto
Comemoração do aniversário de São Paulo, com CBN, em 25 de janeiro de 2018. Foto: Matheus José Maria
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Orquestra Juvenil Heliópolis, em 18 de novembro de 2018. Foto: Evelson de Freitas
Virada Esportiva: vivência Kin-ball, em novembro de 2019. Foto: Wagner Pinho
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Mostra Sentidos: Dom Quixote, em 20 de outubro de 2019. Foto: Pedro Abude
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Festival Internacional Sesc de Circo: Naufragata, com Circo Zoé, em junho de 2019. Foto: Vania Toffoli
Show de Almir Sater, em julho de 2016. Foto: Luiz Felipe Santiago
Construtores do Som, com Lívio Tragtenberg e Marcos Scarassatti, em 14 de abril de 2019. Foto: Taba Benedicto
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Extensão Mirada: Caliban, com Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, em 12 de setembro de 2018. Foto: Dóris Larizzatti
Circo no Parque: Circo Zanni, em 7 de novembro de 2020. Foto: Ricardo Ferreira
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Aquele Festival: feira de discos de vinil, em 17 de agosto de 2019. Foto: Dóris Larizzatti
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Cine Sesc Drive-In, em 29 de agosto de 2020. Foto: Ricardo Ferreira
Sesc Verão: Jogando Beisebol com Thyago Vieira, em janeiro de 2019. Foto: Fagner Coelho
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Sesc Verão, Enduro a Pé, Roda de Capoeira, em 25 de janeiro de 2020. Foto: Tiago Lima
Sesc Verão: Jogando Beisebol com Thyago Vieira, em janeiro de 2019. Foto: Fagner Coelho
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Sesc Verão, Enduro a Pé, Roda de Capoeira, em 25 de janeiro de 2020. Foto: Tiago Lima
Exposição Jardinalidades: bate-papo na piscina, com Secura Humana, em novembro de 2019. Foto: Wagner Pinho
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Sesc Verão: Ginasloucos, em 25 de janeiro de 2016. Foto: Alexandre Nunis
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Circo Luna Parke, em 14 de julho de 2018. Foto: Thais Kruse
Abertura da exposição Jardinalidades, em 7 de setembro de 2019. Foto: Alexandre Nunis
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Experimenta, Banana para além da bananada, em outubro de 2018. Foto: Patrícia Ribeiro
Show de Alceu Valença, em dezembro de 2015. Foto: CPA
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39ª Mostra Internacional de Cinema em SP, em dezembro de 2015. Foto: CPA
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Concerto Grand Finale da Jazz at Lincoln Center Orchestra (JLCO), em 30 de junho de 2019. Foto: Ricardo Ferreira
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Carnaval de Brincar Tiqueque, em fevereiro de 2018. Foto: Fagner Coelho
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Campeonato Interdrag de Gaymada, com Coletivo Toda Deseo, em 6 de janeiro de 2018. Foto: Matheus José Maria
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Banho de Leitura, em 20 de maio de 2018. Foto: Dóris Larizzatti
Coro OSESP, em 22 de setembro de 2018. Foto: Thaís Kruse
7.550
Jazz at Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis
8.308
8.360
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Sepultura
Humberto Gessinger
Liniker & Os Caramelows
8.415
10.000
Nação Zumbi
shows de música + frequentados
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Futsal das Minas, em julho de 2019. Foto: Vania Toffoli
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Coro OSESP, em 22 de setembro de 2018. Foto: Thaís Kruse
Futsal das Minas, em julho de 2019. Foto: Vania Toffoli
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Espetáculo Miudinho, com Grupo Triii, em 20 de fevereiro de 2021. Foto: Kazuo Kajihara
Arquiteturas do Circo, em 12 de outubro de 2018. Foto: Dóris Larizzatti
Show de Zeca Baleiro, em 26 de maio de 2018. Foto: Matheus José Maria
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Carnaval: Bloco Mamãe Eu Quero, em março de 2019. Foto: Dóris Larizzatti
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Exposição Lá & Cá, com visita da trabalhadora Maria Nilza, em abril de 2018. Foto: Thaís Kruse
Exposição São Vito, em 2 de fevereiro de 2019. Foto: Taba Benedicto
Os Perdidos, da Cia Pé de Sola, em agosto de 2019. Foto: Vânia Toffoli
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Exposição Armazém do Brasil, em 24 de maio de 2017. Foto: Alexandre Nunis
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Palco Giratório: Cavalo-Marinho Estrela de Ouro, em 10 de agosto de 2019. Foto: Alexandre Nunis
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Jogos gigantes, em outubro de 2019. Foto: Wagner Pinho
Recreação com patinetes, em 20 de maio de 2018. Foto: Dani Sandrini
A Praga da Dança, em julho de 2018. Foto: Thaís Kruse
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Tiro ao alvo, em 17 de agosto de 2019. Foto: Dóris Larizzatti
espaços + frequentados
Espaço de Brincar
Quadras
Horta Comunitária
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30.238
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93.088
102.684
Espaço de Leitura
Beisebol, em 6 de junho de 2017. Foto: Dóris Larizzatti
Mutirão de Cuidados com a Horta, em março de 2020. Foto: Wagner Pinho
Beisebol, em 6 de junho de 2017. Foto: Dóris Larizzatti
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Mutirão de Cuidados com a Horta, em março de 2020. Foto: Wagner Pinho
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Semana Move, Bike, em setembro de 2018. Foto: Acervo Sesc
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Sesc Verão, Sumô, em 2019. Foto: Fagner Coelho
Cine Olho, em agosto de 2017. Foto: Luciana Ne Freire
Introdução ao Maracatu, em abril de 2018. Foto: Thaís Kruse
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Brinquedos artesanais, em 14 de junho de 2017. Foto: Dóris Larizzatti
Dança com Jam Bollywood, em abril de 2018. Foto: Thaís Kruse
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Trix Mix Cabaret, em 12 de outubro de 2018. Foto: Anderson Rodrigues
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Pipa-Escultura, em 15 de março de 2019. Foto: Taba Benedicto
Arquitetura Efêmera: construção coletiva de um Monumento de Papelão, com Olivier Grossetête, em 26 de outubro de 2018. Foto: Evelson de Freitas
Statistical data — 2015 to 2021 people attending
1,145,813 3,931
June to December
2016
131,668
2017
129,770
2018
385,056
2019
420,197 74,758
2020 2021
180
2015
people attending per year
433
January to February
January and February, with suspension of in-person activities due to the pandemic
people attending the actions, per program
430,839 430,041 80,659 20,389 1,024
8,415
Leisure
8,360
Education
8,308 7,550
Assistance
+ attended exhibitions
28,421 23,275
Liniker & Os Caramelows
Humberto Gessinger
Sepultura
Jazz at Lincoln Center Orchestra with Wynton Marsalis
São Vito: uma escavação
24,146
Lá & Cá – Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil
11a Bienal de Arquitetura de São Paulo: Imaginário da Cidade
Armazém do Brasil: Memórias do Comércio da Zona Cerealista
Jardinalidades
Nação Zumbi
+ attended physical-sports actions
41,085
6,581
10,000
Culture
Health
7,552
+ attended music concerts
23,854 22,223 19,037
Basketball
Futsal
Bouldering
Table tennis
O projeto arquitetônico do Sesc Parque Dom Pedro II
+ attended spaces
102,684 93,088 51,270 30,238
UNA Arquitetos — Fernanda Barbara e Fábio Valentim, Coordenadores do projeto arquitetônico
Courts
Play Space
Community Garden
24.225
Accesses as of 09/29/21
social media followers
13,973
Reading Space
9,220
599
433
Youtube
O Projeto do Sesc Parque Dom Pedro II tem sua origem no desenvolvimento de um plano urbano para a região, finalizado em 2011. O Una Arquitetos integrou a equipe multidisciplinar que realizou, para a Prefeitura de São Paulo, um Plano Urbano para a região do Parque Dom Pedro II, centro histórico da cidade. Cenário de violentas intervenções de infraestrutura metropolitanas, especialmente no início dos anos 1970, a região, de usos muito intensos (comercial, habitacional e cultural), transforma-se em uma zona cindida e com complexas questões de mobilidade. Além disso, conta com significativo conjunto de edifícios históricos, tombados pelos órgãos de patrimônio. O setor norte do plano – região norte do parque, caracterizada por importantes edifícios, em especial o Palácio das Indústrias, a Casa das Retortas e o Mercado Municipal – ficou a cargo do Una Arquitetos. Nesse setor foi proposta uma nova unidade do Sesc, que irá auxiliar de forma significativa o rompimento do forte uso sazonal da região, marcado pela ocupação extremamente densa durante o dia e muito rarefeita no período noturno. A presença do Sesc tem como objetivo também fortalecer a integração e a articulação de usos já consolidados no seu entorno, que se encontram hoje interrompidos por um conjunto de obstáculos urbanos. A nova unidade do Sesc é o mais importante passo na requalificação da
área do Parque Dom Pedro II, ao oferecer atividades de esporte, cultura e educação abertas às pessoas que moram, trabalham e já frequentam a região – além de atrair um público extenso e diverso, pela qualidade da programação normalmente oferecida pela instituição. O edifício se relaciona de forma direta com a cidade, sem muros, sem bolsões de estacionamento, sem mediações. Define calçadas arborizadas e uma convidativa transparência das atividades que se desenvolvem no edifício. O paisagismo do projeto procurou a maior densidade possível de vegetação, o que define qualidades específicas para os diversos espaços que desfrutam desse contato, além de estender a massa arborizada ainda existente no Parque Dom Pedro II para essa ponta norte da região. Para proporcionar livre acesso ao público e potencializar as atividades oferecidas, um volume horizontal de dois pavimentos ocupa grande parte da área da quadra. Essa volumetria procura fazer referência ao gabarito baixo das construções do Brás, sem alinhamento frontal, característico da paisagem circundante. Foram projetados três acessos ao edifício, voltados para cada uma das ruas que margeiam as faces dos lotes, como uma maneira de integrar o edifício à cidade e animar o passeio público. No nível térreo estão as diversas oficinas, a central de atendimento, uma cafeteria e uma sala de espetáculos. Esses
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O projeto arquitetônico do Sesc Parque Dom Pedro II
+ attended spaces
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UNA Arquitetos — Fernanda Barbara e Fábio Valentim, Coordenadores do projeto arquitetônico
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O Projeto do Sesc Parque Dom Pedro II tem sua origem no desenvolvimento de um plano urbano para a região, finalizado em 2011. O Una Arquitetos integrou a equipe multidisciplinar que realizou, para a Prefeitura de São Paulo, um Plano Urbano para a região do Parque Dom Pedro II, centro histórico da cidade. Cenário de violentas intervenções de infraestrutura metropolitanas, especialmente no início dos anos 1970, a região, de usos muito intensos (comercial, habitacional e cultural), transforma-se em uma zona cindida e com complexas questões de mobilidade. Além disso, conta com significativo conjunto de edifícios históricos, tombados pelos órgãos de patrimônio. O setor norte do plano – região norte do parque, caracterizada por importantes edifícios, em especial o Palácio das Indústrias, a Casa das Retortas e o Mercado Municipal – ficou a cargo do Una Arquitetos. Nesse setor foi proposta uma nova unidade do Sesc, que irá auxiliar de forma significativa o rompimento do forte uso sazonal da região, marcado pela ocupação extremamente densa durante o dia e muito rarefeita no período noturno. A presença do Sesc tem como objetivo também fortalecer a integração e a articulação de usos já consolidados no seu entorno, que se encontram hoje interrompidos por um conjunto de obstáculos urbanos. A nova unidade do Sesc é o mais importante passo na requalificação da
área do Parque Dom Pedro II, ao oferecer atividades de esporte, cultura e educação abertas às pessoas que moram, trabalham e já frequentam a região – além de atrair um público extenso e diverso, pela qualidade da programação normalmente oferecida pela instituição. O edifício se relaciona de forma direta com a cidade, sem muros, sem bolsões de estacionamento, sem mediações. Define calçadas arborizadas e uma convidativa transparência das atividades que se desenvolvem no edifício. O paisagismo do projeto procurou a maior densidade possível de vegetação, o que define qualidades específicas para os diversos espaços que desfrutam desse contato, além de estender a massa arborizada ainda existente no Parque Dom Pedro II para essa ponta norte da região. Para proporcionar livre acesso ao público e potencializar as atividades oferecidas, um volume horizontal de dois pavimentos ocupa grande parte da área da quadra. Essa volumetria procura fazer referência ao gabarito baixo das construções do Brás, sem alinhamento frontal, característico da paisagem circundante. Foram projetados três acessos ao edifício, voltados para cada uma das ruas que margeiam as faces dos lotes, como uma maneira de integrar o edifício à cidade e animar o passeio público. No nível térreo estão as diversas oficinas, a central de atendimento, uma cafeteria e uma sala de espetáculos. Esses
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Corte do projeto. Imagem: Una Arquitetos
Una Project cut. Image: Una Arquitetos
programas estão localizados ao redor de um pátio densamente arborizado, que permite que atividades em andares distintos se relacionem visualmente e possam também se abrir para um espaço mais resguardado em relação às avenidas do Estado e Mercúrio, vias de tráfego intenso. A sala de espetáculos foi desenhada para atender a configurações diversas, com várias possibilidades de montagem de cena e localização do público. A sala tem portas retráteis na face voltada à avenida do Estado, o que permite que se abra para a cidade e se relacione diretamente com o entorno. Os espaços internos do prédio foram pensados a partir de sua relação com o exterior: a visibilidade das atividades é um convite às pessoas que por lá circulam a usufruírem desse novo espaço, ao mesmo tempo em que as pessoas que usufruem das atividades oferecidas dentro do edifício possam sentir-se em contato direto com a cidade, incentivadas a usufruir da multiplicidade de usos desse entorno. A circulação interna entre os primeiros pavimentos é feita por escadas rolantes, que ligam o nível térreo ao amplo terraço que caracteriza o segundo pavimento. O primeiro andar acomoda a comedoria, a biblioteca e as áreas administrativas. A comedoria é um salão amplo com transparência tanto para o pátio arborizado como para a zona leste, mais diretamente, para a região do Brás. A biblioteca ocupa toda a fachada sul do edifício, voltada para a Praça São Vito. No segundo pavimento está localizada a convivência e grandes varandas. Proporciona também um passeio pelo terraço, ao redor das copas das árvores, que revela vistas sobre esse trecho da cidade. Ao redor do vazio triangular do pátio, há um espelho d’água e, no perímetro externo, um jardim faz a mediação com a paisagem. Esse pavimento já está acima do viaduto Diários Associados, assim essa grande varanda já oferece uma vista ampla do Palácio das Indústrias, uma perspectiva que se amplia nos pavimentos superiores.
Um segundo volume, mais elevado, contém uma quadra poliesportiva, áreas reservadas para atividades esportivas e uma ampla sala de ginástica. Uma pista de aquecimento que margeia toda a fachada do edifício permite que os usuários corram ou caminhem com vistas sobre abertas para o entorno. A cobertura do prédio é ocupada pelo conjunto aquático, que inclui uma piscina coberta para treino e duas piscinas de lazer ao ar livre. Ao redor dessas piscinas, um amplo jardim aberto ao público permite visuais para todos os lados, revelando, de uma cota mais elevada, novas vistas sobre a cidade. Assim, em sua implantação, o edifício do Sesc Parque Dom Pedro II procurou relações diretas com esse cenário expressivo da urbanização de São Paulo, oferecendo aos seus visitantes vistas para o Palácio das Indústrias, Mercado Municipal, Casa das Retortas, Gasômetro, a Colina Histórica e todo o skyline do Centro e zonas Norte e Leste. Sua volumetria buscou graduar suas alturas: os dois primeiros pavimentos ocupam uma grande extensão do terreno, enquanto um segundo volume, um pouco mais alto, ocupa apenas uma parte da projeção do edifício. Por fim, um terceiro volume, mais alto, está interno ao volume principal, bastante recuado das divisas. Esse recurso reforça a horizontalidade do edifício, respeitando e valorizando os edifícios do entorno – de modo que sua inserção seja delicada e transformadora nas relações diretas que procurou estabelecer com as pessoas e com a ocupação histórica da região central de São Paulo.
Projeto de autoria do Una Arquitetos, sob coordenação de Fernanda Barbara e Fábio Valentim — Fernanda Barbara é arquiteta do Una Arquitetos, Mestra em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP. Fábio Valentim é arquiteto do Una Arquitetos, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP.
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Sesc Parque Dom Pedro II’s architectural project UNA Arquitetos — Fernanda Barbara and Fábio Valentim, Architectural project coordinators
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Sesc Parque Dom Pedro II Project was originated in the development or an urban plan for the region and was completed in 2011. Una Arquitetos was part of the multidisciplinary team that draft an Urban Plan for the Dom Pedro II Park region, the city’s historic center for the City Hall of São Paulo. A scene of violent interventions in metropolitan infrastructure, especially in the early 1970s, the region, with very intense uses (commercial, housing and cultural), is transformed into a divided zone with complex mobility issues. In addition, it has a significant set of historic buildings, listed by heritage bodies. Una Arquitetos was in charge of the northern sector of the plan – the northern region of the park, characterized by important buildings, in particular the Palácio das Indústrias, the Casa das Retortas and the Municipal Market. A new Sesc unit was proposed in this sector to help significantly break the strong seasonal use of the region, marked by extremely dense occupation during the day and very rarefied at night. The presence of Sesc also aims to strengthen the integration and articulation of uses already consolidated in its surroundings, which are today interrupted by a set of urban obstacles. The new Sesc unit is the most important step in the requalification of the Dom Pedro II Park area, offering sports, culture and education activities open to people who live, work and already visit the region – in addition to attracting an extensive
and diverse audience due to the quality of the programming normally offered by the institution. The building relates directly to the city, without walls, without parking spaces, without mediations. It defines tree-lined sidewalks and an inviting transparency of the activities that take place in the building. The project’s landscaping sought the greatest possible density of vegetation, which defines specific qualities for the various spaces that enjoy this contact, in addition to extending the wooded mass that still exists in Dom Pedro II Park to this northern tip of the region. To provide free access to the public and enhance the activities offered, a twostory horizontal volume occupies a large part of the block’s area. This volume seeks to refer to the low level of the buildings in Brás, without frontal alignment, which is characteristic to the surrounding landscape. Three accesses to the building were designed, facing each of the streets that border the faces of the lots, as a way to integrate the building into the city and liven up the public walkway. The ground floor hosts the different workshops, customer service, a cafeteria and a concert hall. These programs are located around a densely wooded courtyard, which allows activities on different floors to relate visually and can also open up to a more sheltered space in relation to Estado Avenue and Mercúrio Avenue, which are routes with heavy
traffic. The concert hall was designed to meet different configurations, with several possibilities for setting up the stage and locating the audience. The room has retractable doors on the side facing Estado Avenue, which allows it to open onto the city and directly relate to the surroundings. The building’s internal spaces were designed based on their relationship with the outside: the visibility of the activities is an invitation for people circulating there to enjoy this new space, while people who enjoy the activities offered inside the building can feel in direct contact with the city, encouraged to enjoy the multiplicity of uses of this environment. Escalators connect the ground floor to the large terrace that characterizes the second floor. The first floor houses the dining room, library and administrative areas. The dining room is a large room with transparency both for the tree-lined patio and for the east side, more directly, towards the Brás region. The library occupies the entire south façade of the building, facing São Vito Square. The second floor houses the living room and large balconies. It also offers a walk on the terrace, around the treetops, which reveals views over this stretch of the city. Around the triangular void of the courtyard, there is a reflecting pool and, on the outer perimeter, a garden mediates with the landscape. This floor is already above the Diários Associados overpass, so this large balcony already offers a wide view of the Palácio das Indústrias, a perspective that expands on the upper floors. A second, higher floor contains a multi-sports court, areas reserved for sports activities and a large gym. A heating lane that borders the entire building façade allows users to run or walk with open views to the surroundings. The building’s roof is occupied by the aquatic complex, which includes an indoor training pool and two outdoor leisure pools. Around these pools, a large garden open to the public allows views to all sides, revealing, from a higher level, new views over the city.
Thus, in its implementation, Sesc Parque Dom Pedro II building sought direct relations with this expressive scenario of urbanization in São Paulo, offering its visitors views of the Palácio das Indústrias, Municipal Market, Casa das Retortas, Gasômetro, the Historic Hill and the entire skyline of the Downtown and North and East zones. Its volumetry sought to graduate its heights: the first two floors occupy a large extension of the land, while a second volume, a little higher, occupies only part of the building’s projection. Finally, a third, higher floor is internal to the main floor, quite indented. This feature reinforces the building’s horizontality, respecting and valuing the surrounding buildings – so that its insertion is delicate and transforms the direct relations it sought to establish with people and with the historic occupation of the central region of São Paulo.
Project authored by Una Arquitetos, coordinated by Fernanda Barbara and Fábio Valentim. — Fernanda Barbara is an architect at Una Arquitetos, Master in Architecture and Urbanism from FAU USP. Fábio Valentim is an architect at Una Arquitetos, Master in Architecture and Urbanism by FAU USP.
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Arte digital do projeto a ser construído. Imagem: UNA Arquitetos
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Digital art of the project to be built. Image: UNA Arquitetos
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O terraço do projeto a ser construído para o Sesc Parque Dom Pedro II. Imagem: UNA Arquitetos
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The project's terrace to be built for the Sesc Parque Dom Pedro II. Image: UNA Arquitetos
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Vista aérea, em 3 de novembro de 2017. Foto: Sensoreng
Aerial view, on November 3, 2017. Photo: Sensoreng
SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO SESC – SOCIAL SERVICE OF COMMERCE Administração Regional no Estado de São Paulo Regional Administration of São Paulo State Presidente do Conselho Regional Chairman of the Regional Council Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Director of the Regional Department Danilo Santos de Miranda Superintendentes Assistant Directors Técnico-Social Social-Technicial Joel Naimayer Padula Comunicação Social Social Communication Ivan Giannini Administração Administration Luiz Deoclécio M. Galina Assessoria Técnica e de Planejamento Technical and Planning Advisory Sérgio José Battistelli Gerentes Managers Estudos e Desenvolvimento Study and Development Marta Raquel Colabone Artes Gráficas Graphic Design Rogério Ianelli Sesc Carmo Patrícia Piquera Vianna
SESC PARQUE DOM PEDRO II: TRANSIÇÕES CULTURAIS DA CENOGRAFIA À ARQUITETURA SESC PARQUE DOM PEDRO II: CULTURAL TRANSITIONS FROM SCENOGRAPHY TO ARCHITECTURE
Gerente Adjunta Deputy Manager Shirlei Torres Perez (2015 a 2016) (2015 to 2016) Dóris Sathler de Souza Larizzatti (2017 a 2021) (2017 to 2021)
Organização Organization Dóris Sathler de Souza Larizzatti Simone Engbruch Avancini Silva
Coordenação – Administração Coordination – Administration José Santoro Filho (2015 a fevereiro de 2019) (2015 to February 2019) Célia Jesus Silveira Prado Oliveira (março de 2019 a 2021) (March 2019 to 2021)
Textos e pesquisas Texts and researches Danilo Santos de Miranda; Vanessa Ribeiro; Regina Meyer; Dóris Sathler de Souza Larizzatti; Coletivo Leve – Zoom Urbanismo Arquitetura e Design, Superlimão Studio, H2C Arquitetura, designers Barão di Sarno e Vanessa Espinola; Simone Engbruch Avancini Silva; Laudo Bonifácio Junior; UNA Arquitetos – Fernanda Barbara e Fábio Valentim Equipe Sesc Sesc Team Daniel Douek, Diogo de Moraes Silva, Érica Martins Dias, Helena M. A. Bartolomeu, Humberto Ochi, João Paulo Leite Guadanucci, Karina Musumeci, Leila Yuri Ichikawa, Lourdes Teixeira Benedan, Sergio F. Seabra Moreira, Tina Cassie e Wagner Pinho Coordenação editorial Editorial coordination Thereza Pozzoli Versão para o inglês English version Marina Acácia Lima dos Santos Projeto gráfico Graphic Design Celso Longo + Daniel Trench Caterina Bloise (assistente) EQUIPE SESC PARQUE DOM PEDRO II (2015 A 2021) SESC PARQUE DOM PEDRO II (2015 TO 2021) TEAM Gerente Manager Andréa Cristina Bisatti (2015 a novembro de 2017) (2015 to November, 2017) Simone Engbruch Avancini Silva (dezembro de 2017 a 2021) (December 2017 to 2021)
Alimentação Food Andréa Lanaro (2015 a abril de 2017) (2015 to April 2017) Susana Albino (maio de 2017 a 2021) (May 2017 to 2021) Comunicação Communication Dóris Sathler de Souza Larizzatti (2015 a 2016) (2015 to 2016) Demétrio de Almeida Leite (2017 a 2021) (2017 to 2021) Infraestrutura e Serviços Infrastructure and Services Sílvio Donizete Miron (2015 a abril de 2018) (2015 to April 2018) Luis Cláudio Vieira Bento (outubro de 2018 a 2021) (October 2018 to 2021) Programação Scheduling Maurício Del Nero (2015 a julho de 2017) (2015 to July 2017) Laudo Bonifácio Junior (agosto de 2017 a 2021) (August 2017 to 2021) Serviços Services Marcelo Correia Amorim (2021) (2021) Agradecimentos Acknowledgments Museu da Cidade Nelson Kon
Se71 Sesc Parque Dom Pedro II: transições culturais da cenografia à arquitetura / Serviço Social do Comércio. Administração Regional no Estado de São Paulo; Organização: Dóris Sathler de Souza Larizzatti; Simone Engbruch Avancini Silva. – São Paulo: Sesc São Paulo, 2021. – 200 p. il.: fotografias. bilíngue (português/ inglês). ISBN 978-65-89239-11-6 1. Arquitetura. 2. Unidade do Sesc São Paulo. 3. Sesc Parque Dom Pedro II. I. Título. II. Serviço Social do Comércio. III. Larizzatti, Dóris Sathler de Souza. IV. Silva, Simone Engbruch Avancini. CDD 729
Esta publicação foi composta da família tipográfica Poppins. O miolo foi impresso em papel Offset Alta Alvura 120 g/m2 e papel Pop'Set Sunshine Yellow 170 g/m2. A capa foi impressa em papel Cartão Supremo 300 g/m2. Foram impressas 1500 unidades.