ORIGEM | Soberana Magazine #4

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Editorial

Momentos de Reflexão

Uma pergunta… aqui deixo hoje.

Retórica? Não. De profundo significado… cada uma avaliará à sua maneira.

De reflexão… Sim

Quereriam escrever o Vosso nome na História ou seria virtude que a própria História encerrasse o vosso nome em si.

A diferença pode parecer nenhuma, para alguns certamente até poderá parecer pouca.

Não vou dissertar. Vou apenas deixar dois exemplos que ilustram a força deste ato no seu pleno significado:

Hitler quis escrever o seu nome na História…

Churchill foi um dos quais a História escreveu o seu nome.

Muitas vezes passamos pela liderança e, sem ambiguidade, que os nossos atos sejam recordados em nome da causa maior e, se assim for entendido, que o nosso nome possa ser associado e recordado nas ações, boas, livres e de bons costumes, que marcaram essa mesma liderança.

Mas não significa isto que a Liderança seja ausente, menos características ou menos marcante.

Não

Tenhamos presente que o líder não se fabrica. A liderança é uma aptidão humana, que pode emergir em resultado de um ciclo de oportunidades, mas está ou sempre esteve na esfera do indivíduo (leia-se líder). Ela evolui, matura-se, trabalha-se, mas não pode ser imputada como um corpo estranho a quem não nasceu para liderar.

E se olharmos para as características intrínsecas da liderança, resultam então três pilares fundamentais na arquitetura do líder:

Experiência – O líder não se assume como uma autoridade na matéria, mas absorve essa experiência na esfera de lhe permitir lidar com as situações, em ambientes de maior ou menos pressão, transmitindo um sentimento de segurança. Diminui o fator risco nas equipas, otimizando a sua ação na orientação do objetivo que está definido;

Humildade: A liderança é implicitamente reconhecida sem necessidade de ser apregoada. A perca de sinergias no exercício de autoridade ou demonstrações de Poder é anulada;

Retorno: A liderança retorna ao líder ou o líder encontra sempre uma forma de liderança, independentemente das conjunturas, dos atores, dos contextos.

Por tudo isto tenhamos sempre presente que, na verdade, a determinante maior da nossa conduta enquanto homens de bons costumes é a nossa natureza moral, a nossa condição humana, a nossa estrutura de valores.

Desenganem-se aqueles que alguma vez na liderança procurem aspiração ou afirmação pessoal.

Não é nem nunca será o primado de conduta da nossa augusta ordem. Por tudo isto apenas vos deixo, hoje e aqui, estas singelas palavras. O que resta competirá à História julgar. Se ela entender escrever o meu nome na sua sucessão sucessiva de sucessos será sinónimo que a minha conduta traçada sobre as traves mestras que sustentaram a minha ação foi um contributo conseguido para a afirmação humana e enriquecimento espiritual de todos nós, Homens, e neste particular de todos nós Homens de bons costumes desta nossa Augusta Ordem. Mas não só. Porque nunca nos esqueçamos meus irmãos deste Portugal Pequenino de que orgulhosamente fazemos parte e que todos os dias se afirma maior no mundo, afirmação essa que, por mais singela que seja, nos possamos orgulhar sempre de ter dado o nosso contributo.

E se afirma maior no mundo será o termo certo, deixando-se eu aqui o desafio a algum historiador para poder vir a estabelecer o friso ou o ciclo cronológico dos momentos impactantes do papel de Portugal no mundo e na História da Humanidade.

Na verdade, para os mais desatentos, esta realidade de afirmação de Portugal no mundo e muitas vezes em momentos determinantes da História da Humanidade parece uma miragem enaltecida por Camões. Mas, desde a tenacidade de Viriato à teimosia de D. Afonso Henriques – e aqui relembro o livro do professor Freitas do Amaral – que Portugal é um país inviável e aí, pelo menos, já temos nós, os portugueses, uma característica intrínseca de sucesso que nos distingue de todos os outros: somos o único povo capaz de tornar viável um país inviável e já o fazemos há 900 anos.

E que sempre assim seja.

Mas também não nos iludamos porque, na verdade, o legítimo e esperado progresso civilizacional, na educação, na formação de novas elites, na procura de uma sociedade mais justa e equitativa ainda não é uma realidade tangível no nosso país. Portugal ainda milita na ignorância. Não aquela motivada por falta de educação ou de oportunidades, mas sobretudo a que é vincada por falta de valores, de cultura, de motivação, de orgulho e de capacidade de fazer.

Portugal precisa de elites, precisa de mais instituições de ensino que formem elites, precisa de uma sociedade que se reveja nas suas elites, precisa de um Poder Político que entenda as elites como um fator de coesão para o seu exercício político.

E aqui o papel da Maçonaria será determinante para a afirmação de um Portugal Maior. E não esqueçamos deste primado: fundamental será o papel da Maçonaria, não dos Maçons, deste ou qualquer outro Maçon.

Não queiramos nós Maçons escrever o nosso nome na História.

Deixemos que a história relembre a afirmação da nossa augusta ordem na afirmação de uma humanidade maior.

Nota da Direção

Retomamos hoje a publicação da Origem após um período de suspensão motivado pela crise pandémica que atravessámos. Que também este facto represente um sinal de regresso a uma normalidade desejada.

Ficha Técnica

Origem - Soberana Magazine

Edição Janeiro de 2022

Nº de Registo na ERC: 127460

www.glsp.com.pt

Estatuto Editorial

Origem | Soberana Magazine (glsp.pt)

Diretor José Manuel Caria (CPTE-554)

Diretor Adjunto Fernando Correia (CPTE-809)

Editores Fotográficos

Bruno Melão

Tomás Arantes

Direcção de Arte, Design e Paginação

Wrahiguer Rodríguez Miau Digital Agency

Christian Höhn Miau Digital Agency

Redação

Av. João Crisóstomo, 77 B

1050-126 Lisboa

Edição impressa

Janeiro de 2022

Tiragem: 600 Exemplares

Impressão: Imprimir com Arte - Cascais Villa Loja 2.08 2750-786 Cascais

Depósito legal: 474660/20

Distribuição nacional e internacional

Editor e Proprietário

João Pestana Dias

Grande Loja Soberana de Portugal – Associação

Av. João Crisóstomo, 77 B

1050-126 Lisboa

NIF: 514 991 437

Momentos de Reflexão | José Manuel Caria

Passos de Pessoa | Fernando Correia

A Cerimónia de Lembrança | Ricardo Jorge Dias

Ajuda Solidária da Soberana em Moçambique | Mário Bastos

Regularidade, Reconhecimento ou Relacionamento | Fernando Marques da Costa

A Maçonaria não é uma Sociedade Secreta, mas tem os seus Segredos! | Miguel Arantes

Carta do Grão Mestre | Abílio Alagôa da Silva

Inspiração e Colaboração da Sociedade Civil por uma Cultura de Integridade | Naíde Müller

Os Direitos Humanos ao Longo do Tempo | Paulo Réfega

A Soberana Comemorou Três Anos de Vida Maçónica | Fernando Correia

As Palavras do Grão Mestre na Afirmação da Nova Ordem Maçónica Portuguesa | Abílio Alagôa da Silva

A Romã e o seu simbolismo na Maçonaria | Justino S. Pereira

“O Silêncio do Aprendiz” e não só | Joaquim Mendes

O Condestável “Uma Visão Sobre Funções Investidas” | Nuno Henrique Duarte

Sociedade Global, Ética e Responsabilidade Social das Organizações | Fernando Casqueira

David Sylvian | Paulo Réfega

O Fado da Saudade | Vasco Lima

Os Novos Pedreiros Livres

“LIBERTÉ CHÉRIE” | João Alves dos Reis

General Correia Barreto um “Pupilo” do Exército | Fernando Correia - 04 - 08 - 12 - 16 - 18 - 24 - 28 - 30 - 32 - 36 - 44 - 48 -

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“A minha Pátria é a língua portuguesa e se percorrerem os passos que lhes mostro vão, certamente, encontrar – me, ao passarem aquela curva da estrada que daqui se avista!”

Passos de Pessoa por Fernando Correia

Seguir os passos de Pessoa é descobrir o que está para além da vida, tal como a conhecemos, e é navegar no mar imenso do futuro que já foi passado de história.

Fernando Pessoa foi o grande poeta da alma portuguesa, de tal forma intenso, de tal modo edificador, que permanece em nós como se ainda fosse matéria, o que significa e traduz a sua força espiritual e a sua continuidade, não só nas palavras escritas e deixadas à Pátria como insubstituível herança, mas também na sua capacidade de nos dizer: Estou aqui!

E foi por estar aqui e por permanecer connosco que a Soberana promoveu, no vasto conjunto de iniciativas que marcaram a sua ação no ano passado, uma tarde de cultura, no seu Templo, em Lisboa, para mostrar Pessoa através da arte dos artistas plásticos Xicofran e Santiago Bellacqua; nas palavras escritas de poetas do espírito que permanecem a nosso lado, irradiando luz; e na voz de Fernando Pereira que percorreu passos de cantigas na procura de Fernando Pessoa.

A Nova Maçonaria é isto:

Permitir, de coração aberto, a entrada no Templo e mostrar o que deve ser mostrado aos caminhantes da vida que passam por nós, guiar – lhes os passos no caminho do espírito, em pleno Oriente de paz, onde está Fernando Pessoa, ao lado dos seus heterónimos, abrindo a porta ao “Quinto Império”, para dizer “a minha Pátria é a língua portuguesa e se percorrerem os passos que lhes mostro vão, certamente, encontrar – me, ao passarem aquela curva da estrada que daqui se avista!”

«A Soberana promoveu, no mês de Junho passado, uma tarde de cultura, no seu Templo, em Lisboa, para mostrar Pessoa através da arte dos artistas plásticos Xicofran e Santiago Bellacqua.»

Decorre o 4º dia do mês de Setembro do ano 6021 e pela primeira vez, na Grande Loja Soberana de Portugal, conforme ditam os pergaminhos da nossa Augusta Ordem está prestes a celebrar-se uma Cerimónia da Lembrança.

A Cerimónia da Lembrança

por Ricardo Jorge Dias

Para nós, obreiros da RL:. General Gomes Freire de Andrade, tão cedo era que o novo dia quase começou no anterior. Pese embora a previsão apontasse para um céu descoberto, a manhã, ainda apegada aos rigores da noite, estava surpreendentemente pálida. A jornada de trabalho seria intensa e longa mas os espíritos, esses, estavam elevados e ao rubro. Próximo das 8 horas e com o dissipar da neblina, começaram também a chegar os primeiros Irmãos que se prestaram a percorrer os quase 200km que nos separavam da Metrópole, para auxiliar na tarefa de preparar a cerimónia que se avizinhava. O cansaço que assolava os corpos de todos os envolvidos não afetou a vontade de fazer acontecer.

Decorria o 4º dia do mês de Setembro do ano 6021 e, pela primeira vez, na Grande Loja Soberana de Portugal, conforme ditam os pergaminhos da nossa Augusta Ordem, estávamos prestes a celebrar-se uma Cerimónia da Lembrança - Imortalizar a Memória e evocar o Espírito dos Irmãos que, tendo desaparecido do plano terrestre, já se juntaram na Cadeia de União que perpassa as Eras. E por fim, aliviando de preocupações as mentes mais sépticas, escolheu o G:.A:.D:.U:. abrir os Céus e banhar de Sol, Luz e Calor, o vale de Miranda do Corvo.

“Mãos a Obra!”

Após quase 5 horas de preparativos, suor, poeira, entre incontáveis peripécias e contratempos, lá se ergueu a estrutura daquele que será um dia a gravar na memória. Já pelas 15 horas, em estilo de introdução e também já com a larga maioria dos Irmãos e convidados presentes, fomos recebidos por Jaime Ramos, antigo Presidente de Câmara Municipal de Miranda do Corvo, responsável principal

«A entrada no Templo é Ritual. Cumprem-se escrupulosamente os Ritos que têm por fim preparar a consagração do Espaço e abrir o Tempo entre Horas Canónicas, que é só nosso.»

do Templo Ecuménico Universalista e nosso anfitrião que, num tom enérgico e acolhedor, guiou os presentes numa visita ao Espaço da Mente, lugar dedicado à teorização do Divino e do Conhecimento Maçónico.

Cá fora, ao longe e acima dos telhados das rústicas casas que nos circundam, erguem-se os ermos e picos montanhosos da Serra da Lousã. O Sol já há muito que os deixou e está agora a cair na direção do Horizonte. Chegou a hora da deslocação para a Colina do Templo Ecuménico e, numa questão de minutos, formou-se o cortejo que seguiu pelos sinuosos caminhos que levam ao topo da colina onde este se ergue, tal lança em riste.

Chegados ao destino, mais uma vez encontrámos Jaime Ramos que novamente nos presenteou com uma fantástica visita ao espaço envolvente. Apenas a sua voz se fazia ouvir. A voz e o silvar do vento ao passar, leve mas convictamente, entre as folhas das poucas árvores que aqui e ali se faziam erguer dentro do recinto. Ao deambular pelos estreitos caminhos, que mais fazem lembrar rotas iniciáticas, torna-se sempre difícil não dispersar a atenção pelas magníficas paisagens que abaixo se estendem.

Nem todos, no entanto, estão a usufruir deste privilégio. Também no exterior, mas no lado a Ocidente da Pirâmide, preparava-se o Templo. Como todo o plano traçado ao milímetro, pouco corre como o previsto, mas, no final, tudo resulta de forma Harmoniosa. Após os

últimos preparativos e com todos os Irmãos à porta do Templo, teve início a Cerimónia.

Ao terminar do dia, no Ocaso da Marcha Solar, onde praticamente só as silhuetas dos intervenientes se faziam notar, a mística do momento só se deixou suplantar pela luz da egrégora que, como Halo, sempre se forma entre os Irmãos presentes.

A entrada no Templo é Ritual. Cumprem-se escrupulosamente os Ritos que têm por fim preparar a consagração do Espaço e abrir o Tempo entre Horas Canónicas, que é só nosso. A antecipação dos convidados que, neste momento, habitam o Interior da Pirâmide situada no topo da colina é palpável.

“Meus Irmãos, a vossa atenção, vamos dar entrada no Templo!“

Ao som destas palavras proferidas pelo Mestrede-cerimónias, todos os Irmãos se preparam em conformidade. Ajeitam-se as gravatas, compõem-se os Aventais e, claro, sacode-se a poeira do fato na medida do possível. Os ossos do ofício.

A Sessão inicia-se, desenrola-se, e as estrelas começam a fazer-se notar. Palavras não bastam para descrever o que acima de nós se presencia. Já com o Universo espelhado na Terra e as principais esferas celestes visíveis, é hora de chamar os convidados. A par da sua entrada no Templo, a Oeste, rompe pelo ar a Aria “Beata Viscera” pela voz da soprano Carla Bernardino.

Fratibus Defunctis, diz a placa que empunha ao alto o Mestre-de-cerimónias.

O resto é Música, Visão, Beleza e Transcendência. Numa Cadeia de União Singular, desta vez, a introspeção fez-se por via do vislumbre da abobada Celeste.

Ao sabor do vento certamente que ainda hoje lá estão as vozes dos que abriram o coração. Aqui, ignomínia seria não prestar homenagem ao nosso querido irmão Fernando Correia que, com a sua habitual verticalidade e rigidez de Espírito, proferiu as Orações que nos elevaram muito além do Reino Visível, fazendo-nos tocar naqueles que, mesmo já não partilhando a carne connosco, não nos deixaram. Arrisco, no entanto, dizer que sobretudo nos marcou a possibilidade de poder partilhar todos estes momentos com aqueles que mais nos dizem. E quão raramente surge esta oportunidade na vida Maçónica de todos nós…

Permitir um efémero vislumbre do Templo, coberto àqueles que ainda não passaram a porta que dá acesso aos nossos mistérios. A título pessoal resta-me afirmar o que certamente afirmaria qualquer Venerável Mestre que na minha posição estivesse – A terrível responsabilidade de perpetuar tão nobre tradição Iniciática só é suplantada pelo gáudio do sentimento de missão cumprida.

Em ambiente de peregrinação e munidos de espírito aventureiro, escolheram os Maçons da

Grande Loja Soberana de Portugal deslocar-se em peso a este canto do mundo, cuja beleza austera e posição privilegiada se dedica a exaltar a Paz, o Amor e o ecumenismo.

Imortalizaram assim a vontade férrea que os rege.

Ao Ágape arrefeceram-se as almas e os espíritos. Num ambiente festivo, de confraternização e entre iguarias locais, terminou o dia que certamente marcará, não só a RL:. General Gomes Freire de Andrade, como toda a Soberana.

Da parte da RL:. organizadora fica um enorme sentimento de gratidão.

Lembrando as palavras do seu Patrono, martirizado em prole dos valores da Liberdade: «Morrei Livres!» Certamente que o General, estando entre os Irmãos lembrados na Cerimónia e sentado à beira do abismo do Arco Celeste, nos olhou com o espírito revigorado e preenchido por pensamentos de esperança, augurando um futuro auspicioso para a nossa Obediência.

Lá deixámos a nossa Rosa.

Daquele dia ficará certamente… A Saudade.

Ajuda Solidária da Soberana em Moçambique

por Mário Bastos

Muito recentemente estive em Moçambique e num almoço no qual participei foi me colocada a hipótese de visitar uma instituição que anteriormente se chamava os Meninos da Rua da Casa do Gaiato de Maputo, do Padre José Maria e da Irmã Quitéria.

De imediato desloquei-me à referida instituição e fiquei extasiado com o que se apresentava. Instalações condignas, no sul de Maputo, inseridas em milhares de hectares de terra.

A instituição alberga 150 meninos e rapazes sem carências básicas de dignidade humana.

Mas, com a abertura das restrições impostas pela pandemia do Covid, começaram a surgir alguns problemas de ordem de manutenção imediata, de alimentos e pagamento de algumas contas e da ajuda de voluntários para darem resposta às necessidades da instituição.

Entretanto, com a retirada do apoio da Diocese do Porto, razão pela qual a Irmã Quitéria se viu obrigada a alterar o nome da intuição de Os Meninos da Rua Casa do Gaiato para Casa do Gaiato de Moçambique, eu e mais um conjunto de pessoas com espírito de ajuda abraçamos a causa com a intenção de divulgar a obra e vir à praça pública solicitar a ajuda de todos, quer na oferta de alimentos, como também em ajuda técnica e monetário para a sobrevivência da referida instituição.

E felizmente logo em pouco menos de 24 horas se conseguiu um donativo imediato de 2000€, que permitiu assim pagamento de luz e água.

Também já se encontra em andamento um projeto em conjunto com associação Projecto Gratitude do Barreiro para reunir um conjunto de necessidades para a referida instituição.

Ficou para trás a irmã Quitéria, mais os seus voluntários Ibéricos, como também da casa de Portugal, que agradecem o pouco que podemos oferecer. Basta uma ação individual, como o passar a palavra, um donativo, algo que já não necessitam, um pacote de arroz ou leite, uma peça de vestuário e isso já será um contributo precioso.

Há uma diferenciação de práticas maçónicas que tem que ser compreendida. Por paradoxal que pareça, é nessa diferenciação que parece residir, no caso francês e também no português, o crescimento da expressão numérica da Maçonaria

Regularidade, Reconhecimento ou Relacionamento

por Fernando Marques da Costa

Historiador. Grande Oriente Lusitano

«No princípio era o Verbo», pode ler-se no Evangelho de S. João. Com a Maçonaria Moderna (não gosto de usar a expressão «especulativa» que é redutora) o princípio também é o «verbo» consagrado na Constituições ditas de Anderson de 1723. Ora esse texto fundador diz pouco sobre a questão da Regularidade e Reconhecimento.1 Tem, é verdade, uma frase críptica sobre o respeito pelos antigos landmarks, sem que ninguém saiba muito bem aquilo a que o texto se refere, abrindo campo às mais variadas e às vezes disparatadas interpretações. Também, explica, é certo, os preceitos, sejam administrativos, sejam rituais, para a instalação de uma Loja. Esta forma de constituir uma Loja é, aliás, a coisa mais próxima de um texto ritual que se encontra nas Constituições. Tudo o resto é omisso, deliberadamente. O reconhecimento entre maçons era feito por sinais, palavras e toques específicos que permitiam reconhecer essa qualidade. Muito cedo, porém, quer no Reino Unido, quer na Europa continental, começaram a ser publicadas «revelações» que, com bastante rigor, detalhavam as cerimónias rituais e os sinais

de reconhecimento, tornando mais difícil distinguir o verdadeiro maçon do embusteiro. A Maçonaria Inglesa decidiu até alterar a ordem das Colunas J e B e as palavras dos graus de Aprendiz e Companheiro para poder distinguir os que conheciam a Maçonaria pelo que tinham lido, daqueles que a conheciam pela sua prática que era agora diferente. Um trabalho infrutífero porque em breve novas «revelações» detalhavam essas mudanças.

Quando se pergunta «és maçon?» a resposta clássica é «os meus irmãos reconhecem-me como tal», mas esse reconhecimento passou a implicar algo mais do que a simples comunicação dos sinais, palavras e toques. Passou a ser exigido um documento, um diploma», que atestasse a qualidade maçónica do seu portador emitido pela loja a que pertencia. Esse diploma, mais tarde designado por passaporte, era obrigatoriamente mostrado pelo visitante a um oficial da loja responsável por controlar os visitantes – as designações desse oficial variam consoante as épocas e os ritos – e fazer o «telhamento»2 , isto é, comprovar que para além do diploma eles conheciam os meios de reconhecimento dos maçons.

Durante muito tempo estes foram os dois únicos meios de reconhecimento dos maçons que circulavam livremente entre lojas, quer do seu país, quer do estrangeiro, sem outra necessidade que não fosse mostrar o seu diploma e conhecer a resposta às perguntas que lhe eram feitas. No verso desses diplomas era feito o registo da vista, como neste exemplo de um diploma de 1817, do meu arquivo.

A livre circulação de maçons entre lojas, cujos locais e dias de reuniões vinham anunciados em roteiros de viagem da época, como em França, por exemplo, deu lugar a um conceito que Pierre-Yves Beaurepaire tipificou da «Republica Universal dos Franc-Maçons» 3 . Este conceito corresponde a um passado onde o que contava era o reconhecimento dos maçons e esse reconhecimento dava acesso a todas as Lojas, em todos os países por onde circulasse, e a todo o apoio que pudesse carecer nas suas viagens. A tradição era, aliás, que o visitante de uma Loja recebia uma carta de apresentação para entregar na Loja da cidade seguinte a onde se dirigia. O reconhecimento obedecia assim a uma dimensão simbólica, sinais toques e palavras, a uma dimensão documental, por

apresentação de diploma, ou na ausência deste por qualquer motivo, a uma necessidade testemunhal, isto é um maçon da Loja a visitar certificava a qualidade maçónica do visitante. Assim aconteceu, por exemplo, a muito maçons exilados em França durante as lutas liberais.

Esta característica, tão típica do século XVIII, foi-se esbatendo à medida em que as organizações maçónicas se foram estruturando de uma forma territorial nacional (e já não apenas regional, como em muitos casos). Ao assumir a hegemonia do controlo organizativo da Maçonaria num território, à semelhança do que já acontecia em Inglaterra, as maçonarias, agora nacionais, transformaram aquilo que tradicionalmente se designavam por «lojas da sua correspondência» em «lojas da sua obediência». É esta a razão por que o nome Obediência ainda hoje (infelizmente) subsiste. A autonomia das lojas diminuiu, mas, sobretudo, as organizações maçónicas assumiram-se como símiles de Estados, adotando posturas constitucionais semelhantes (o caso da divisão de poderes, por exemplo) e introduzindo a necessidade de formalizar um reconhecimento entre organizações para que os maçons, que antes circulavam livremente, tivessem agora direitos de inter-visita estabelecidos regulamentarmente. Este novo patamar de relacionamento passava agora, em primeiro lugar pelas organizações e não pelas lojas. O seu garante não era o diploma que provava o facto de ter sido iniciado, mas a existência de um «Tratado» de reconhecimento recíproco entre organizações. Sem a existência desse «Tratado» as visitas a outras lojas não eram permitidas

A esta evolução veio acrescentar-se, no último quartel do século XIX, a radicalização da questão da regularidade maçónica, a partir do momento em que as maçonarias franco-belgas retiraram a obrigatoriedade da referência (e crença) no Grande Arquiteto do Universo. O «cisma» criado por esse acontecimento veio dar uma nova dimensão ao conceito de Landmark, de que existiam várias versões

com uma listagem mais ou menos extensa. As maçonarias anglo-saxónicas cristalizam agora o conceito e impõem-no como forma de reconhecimento da regularidade de uma organização maçónica. Mesmo assim, essa rutura que foi imediata entre organizações não se traduziu logo na recusa de direitos de visita a maçons, desde que eles, ao visitar uma loja regular, jurassem acreditar no princípio de um Deus revelado e na imortalidade da Alma. Mas, isso pouco tempo durou e as lojas regulares – isto é reconhecidas pela Grande Loja Unida de Inglaterra – deixaram, até hoje, de aceitar formalmente a vista de maçons oriundos de organizações não reconhecidas.

É aqui que estamos, ou melhor, estaríamos, se a realidade maçónica internacional não se tivesse alterado tanto nas últimas duas décadas. A verdade é que a Maçonaria está a sofrer uma significativa quebra de efetivos a nível mundial, mais acentuada nas maçonarias regulares, sobretudo Estados Unidos e Reino Unido. Na europa as maçonarias, no seu conjunto estão a sofrer com o mesmo fenómeno, com exceção da França, onde os números indicam outro sentido.

Não cabe aqui a análise dessas causas, que alguns académicos e mesmo organizações maçónicas têm estudado com atenção. Queria apenas referi-lo para sublinhar que, a par desse movimento, tem-se manifestado uma tendência generalizada para a multiplicação de novas organizações, um pouco por todo o lado, inclusive em Inglaterra, onde a Grande Loja Unida já não detém o monopólio da Maçonaria masculina.

A crise de efetivos e a multiplicação de organizações vêm colocar novos desafios à Maçonaria a nível internacional. O modelo dos tratados de reconhecimento entre obediências, que iniciou o seu caminho no século XIX e se consolidou no XX, procurando, por esse meio, evitar a proliferação de organizações, confronta-se hoje com o insucesso do seu modelo. É verdade que o Grande Oriente de França, faz um esforço (ou deverei dizer pressão) internacional para que se contenha essa proliferação, pressionado, porventura, pelo facto de ser o país onde essa dispersão é maior, contando-se já bem mais de uma centena de organizações.

Perante esta realidade, e o anseio já irrealizável das «grandes» organizações, de conterem por normativos internacionais restritivos a adesão dessas maçonarias de menor dimensão nos fóruns internacionais, é preciso olhar para esta realidade e procurar instrumentos de análise que ultrapassem o paradigma clássico da «Regularidade» e «Reconhecimento». Esses dois critérios não impediram, diga-se em abono da verdade, que algumas das organizações regulares ou reconhecidas, por uns ou por outros, não tivessem passado por crises e cometido abusos que hoje se julgam possíveis (porquê a suspeita?) de poderem ser praticados pelas pequenas maçonarias.

O modelo que herdamos do século XX está gasto e não é mais sustentável a prazo. A diversidade está instalada, mesmo em Portugal onde coexistem duas dúzias de organizações. A pergunta que importa fazer é como lidar com esta realidade que, goste-se ou não, veio para ficar. O Grande Oriente Lusitano Unido 5 (que se chamava Unido por ter feito a união de todas as organizações) sofreu várias cisões de 1869 a 1914 e, em nome do seu nominativo, procurou sempre (e conseguiu sempre) encontrar caminhos de diálogo para recuperar a unidade. Mas esse tempo passou, porque a tendência das sociedades

contemporâneas é apara a atomização a todos os níveis, incluindo, por maioria de razão, no o universo das sociabilidades.

As cisões do passado eram quase exclusivamente querelas de egos e personalidades, algumas ainda hoje o são, não o podemos negar. Mas, para além disso, há uma diferenciação de práticas maçónicas que tem que ser compreendida. Por paradoxal que pareça, é nessa diferenciação que parece residir, no caso francês e também no português, o crescimento da expressão numérica da Maçonaria. As grandes organizações – como é regra mesmo no mundo empresarial ou académico – têm mais dificuldade em se aperceber das dinâmicas de mudança de comportamentos, de anseios e de inquietações. Têm os seus modelos mais cristalizados e a lógica dos grandes números dita a reprodução de modelos de recrutamento que dificultam a expressão de caminhos diversos de entendimento e prática da Maçonaria.

Podemos querer fechar os olhos a esta realidade e olhar com alguma sobranceria (que nunca é boa conselheira) para estas

organizações achando que a sua pequena dimensão as torna marginais. É um erro, em primeiro lugar um erro de entendimento do que é ser maçon, que deve, mais do tudo, ser sensível à diversidade e à liberdade de exercer essa diversidade, que é apenas outra forma de exercer a liberdade de pensamento e expressão que constitucionalmente cultivam.

Esta situação só se ultrapassa, não no sentido de se reverter, mas no sentido de lhe conferir um racional baseado nos princípios maçónicos, se opusermos ao tradicional modelo da Regularidade e do Reconhecimento (baseado em «Tratados») o modelo do Relacionamento, como base de um conhecimento recíproco do que temos em comum e do que nos diferencia. É a diferencia que nos enriquece, mas apenas se a conhecermos. Se a quisermos conhecer.

As pequenas organizações têm, sem dúvida, pouca tradição e escassa experiência, mas muito maior dinâmica e atratividade, mas frescura e maior empenho, menos corveias organizacionais, menos peso do «aparelho», e maior enfoque no trabalho das lojas e dos maçons. Algumas, que ainda há poucos anos eram bem pequenas, são hoje organizações com um número expressivo de maçons.

É preciso olhar para este fenómeno não como uma ameaça, mas como uma nova realidade que vai abrir portas diversificadas de acesso à Maçonaria. Os seus valores fundamentais são universais, e enformam quer as pequenas, quer as grandes organizações. É o respeito por esses valores e o rigor do trabalho maçónico que contam como critério de relacionamento, e apenas isso. É um preconceito imputar às pequenas organizações uma suspeita de menor qualidade de trabalho ou «outras» que tantas vezes se deixam insinuadas e não explicitas. Porém, os grandes escândalos têm ocorrido em organizações «históricas» e não em pequenas: recordo apenas dois, o da Grande Loja Nacional de França, que levou inicialmente a perda do seu estatuto de loja «Regular» e o da Grande Loja de Itália, com a Loja P2. A dimensão não

é critério de qualidade, apenas de expansão, e nem todo o entendimento da prática rigorosa da Maçonaria implica um critério de expansão como objetivo. A Maçonaria não é prosélita.

Chegou por isso o momento de dessacralizar o relacionamento e abandonar a obsessão tratadística e procurarmos, todos, plataformas de diálogo e de relacionamento franco e aberto, no respeito pelas diferenças de cada um. A única coisa que verdadeiramente importa é que se faça um trabalho maçónico, simbólico e ritual, sério, uma prática livre de interesses e de caciquismos pessoais (que também os há) e o respeito pelos nossos valores fundamentais. Maçonaria

séria é o que importa, independentemente de regularidade, de modelo (mono género ou mistas) e de ritos praticados.

«- És maçon?»

«-Os meus irmãos reconhecem-me como tal.»

É preciso voltar as origens. Ao diálogo e às visitas recíprocas baseadas apenas naquilo que é essencial, o reconhecimento da qualidade maçónica do Outro.

A Maçonaria é o diálogo das diferenças.

A senioridade não é um posto, é apenas uma história a respeitar, como se deve respeitar aqueles que agora começam a construir a sua história.

A Maçonaria não é uma Sociedade Secreta, mas tem os seus Segredos! por Miguel Arantes

Quando um Maçon suspeita que determinado indivíduo é da Maçonaria existe um código secreto para se fazerem conhecer.

Mas este segredo é o primeiro de muitos da Maçonaria, que não os divulga senão para os devidamente iniciados como Maçons, de acordo com o Rito adoptado, em Loja.

Para conhecer todos os segredos é preciso chegar ao topo da hierarquia Maçónica, pois os mistérios vão sendo desvendados à medida que o “Irmão” vai aprofundando o conhecimento até à Cadeira de Salomão e cada vez mais alto, até ao Trono do Grande Arquitecto do Universo.

Os “terríveis e temíveis segredos e mistérios da Ordem” nada mais são que o conhecimento das verdades de que o simbolismo Maçónico é a tradução visível.

Apenas e só! Haverá algum mal nisto?...

Quem faz parte dessa elite de gnósticos?

Quem são os Mestres do Universo?

Afastados aqueles apontados pelas mentes paranóicas da teoria da conspiração, todos são desconhecidos, pessoas com ou sem fama que não se podem dar a conhecer, senão entre elas, porque fizeram um juramento de obediência à “lei do silêncio” que, se for violada, tem por consequência um terrível castigo:

- Antes quero ter a garganta cortada do que revelar os segredos que me foram confiados.

Poucos assuntos atraem mais atenções que “aqueles segredos dos Maçons” e muitos são os que querem entrar para a Maçonaria só para os conhecer e conhecerem quem são esses “donos da verdade secreta”!

Qualquer organização, seja ela de que natureza for, tem os seus próprios segredos. As organizações políticas, religiosas, empresariais, científicas, filosóficas, místicas, filantrópicas, satânicas...

- E os grupos terroristas?

- Sim, também os têm!

Ter segredos é uma forma de estar e de actuar na condução dos assuntos e processos internos, enfim, tudo aquilo que só diz respeito àquela própria organização.

Não se pode pois dizer que a Maçonaria é uma Sociedade Secreta, no sentido depreciativo, mais que qualquer outra fraternidade ou confraria de pessoas de uma mesma classe ou categoria, com os mesmos interesses e objectivos, em pleno respeito da dignidade de todos os seres humanos e dos valores de Igualdade, Fraternidade e Liberdade.

De uma maneira geral, todos gostamos de conhecer segredos, de os ouvir quando

crianças, de saber algo que a maioria ignora. Se a coisa for importante, sermos um dos poucos conhecedores dá-nos uma sensação de poder; se não for, ao menos ficamos com a impressão de saber o que os outros não sabem.

Como disse Andreas Önnerfors, director do Centro de Estudos da Maçonaria da Universidade de Sheffield, em Inglaterra, “um dos maiores propósitos de um segredo é criar uma comunidade, partilhar um segredo é fortalecer uma união”.

Entre o que segreda e o que escuta estabelece-se uma sociedade secreta!

O perigo é quando, como acontece no mundo profano, as pessoas têm dificuldade em guardar os segredos para si, e facilidade em divulgá-los para outros que muitas vezes nem os merecem, nem os reconhecem!

As ditas Sociedades Secretas sempre fizeram parte da História e, via da regra, todas elas vocacionadas para o bem da sociedade, mesmo que, ao longo dos séculos, tenham existido algumas exceções. Mas, na verdade e embora sempre marcadas pelo silêncio e pelo secretismo, também sempre foi manifesto o seu contributo para o evoluir da Humanidade. Eis algumas das mais conhecidas internacionalmente ainda hoje existentes:

Ordem Hermética da Aurora Dourada –Centra-se nas ciências ocultas, no desenvolvimento espiritual e no estudo da teurgia, ritos e práticas religiosas para comunicar com os espíritos e os seres divinos, na busca da sua proteção.

C avaleiros da Távola Redonda – Mito literário ou verdadeira confraria, os Cavaleiros inspiraram muitas lendas em todas as épocas, envolvendo o Rei Artur e em redor do simbolismo Arturiano. Não desapareceram passados 15 séculos, continuam na actualidade e são mais que os 12, ou 24, na sua génese.

Opus Dei – Os seus membros são laicos e religiosos que seguem a mensagem de Cristo, e a Opus Dei procura colocá-los no centro do poder político e económico mundial.

Ordem Rosacruz – Os seus ensinamentos remontam ao Antigo Egipto e às escolas dos mistérios, do esoterismo e do misticismo. A Ordem define-se como um movimento filosófico não-religioso, não-sectário e apolítico.

Clube Bildergerg – É mesmo um clube de reflexão da elite mundial sobre economia e problemas contemporâneos, que se reúne uma vez por ano numa conferência de fim-de-semana.

Mantém segredo sobre o carácter das suas discussões e a identidade dos seus membros, que vão desde homens de negócios a políticos, de artistas a intelectuais, que toda a gente conhece!

Kabbalah – Organização mista de esoterismo, pensamento e misticismo judaico que visa a aproximação de Deus sem ser pela via do conhecimento. Mas estes objectivos podem variar, dependendo de quem os persegue.

Illuminati - Sempre teve uma imagem tenebrosa de nova ordem mundial, especulativa e conspirativa, uma potência de corrupção secular. Será?

Ordem do Templo – Os Templários, cuja organização, princípio e fundamentos se assemelham à Maçonaria, com quem tem estabelecida uma relação de proximidade.

Maçonaria – A Sociedade Secreta por excelência, cujos mistérios são os mais bem guardados da Humanidade! Mas que a Internet diz conhecê-los todos e até os publica...

E atrás destas Sociedades Secretas há ainda mais de que ninguém ouviu falar, ou pouco, mas que negam ser secretas.

Ao fim e ao cabo, tudo é secreto, quando ninguém sabe que é segredo!

Nos EUA proliferam as sociedades secretas e semi-secretas, bem como seitas religiosas e semi-religiosas, raro é o americano que não seja membro de alguma.

Este desejo de conhecer os mistérios, cujas manifestações são por vezes estranhas, é característico da mentalidade do novo continente, que se vem alastrando para o velho continente.

Ora a Maçonaria não é uma sociedade secreta ou semi-secreta, nem é uma seita religiosa ou semi-religiosa. A Grande Loja Soberana de Portugal, a Nova Maçonaria portuguesa do século XXI, é visível, não faz parte do crime organizado e não alinha em conspirações.

Não é fácil definir uma Sociedade Secreta, mas têm quase todas algumas características em comum:

Ensinamentos graduais e progressivos... ... apenas passados a indivíduos escolhidos ... ... transmitindo o conhecimento de verdades ocultas e exclusivas ... ... com benefícios individuais inacessíveis e incompreensíveis para profanos.

E praticam rituais a que os não-iniciados não podem assistir...

O secretismo sempre foi endémico na sociedade mundana e especialmente entre eruditos, teósofos e místicos, Maçons e outros membros de organizações filosóficas, religiosas, científicas e de sociedades esotéricas, e até mesmo bruxos da bruxaria e magos da magia.

A Ordem Maçónica mundial conta com mais de 320 mil membros activos em Inglaterra e no País de Gales, dezenas de milhares na Europa e talvez 3,5 milhões nos Estados Unidos da América, uns 75 mil na Escócia e mais de 30 mil na Irlanda.

Em Portugal seremos talvez uns 5 mil, e mais, ou nada mais.

Na SOBERANA não entra quem quer, mas somente quem merece e apenas por convite. Assim que, com 3 anos de existência, podemos não ser muitos mas somos melhores que muitos, e temos em dia todas as nossas obrigações individuais e colectivas. Inclusivamente obrigações pecuniárias pois uma Obediência não sobrevive do ar que se respira, e cabe-lhe um dever de assistência e auxílio aos Maçons mais necessitados e aos mais desfavorecidos da sociedade, como por exemplo os sem-abrigo que contam connosco para um apoio material, espiritual e sobretudo fraterno e social, os quais visitamos regularmente.

Eis o grande segredo da Maçonaria: como tornar o homem consciente do ser divino que é, da beleza e do significado da sua vida, como por ela é inspirado a seguir e a obedecer os seus ensinamentos.

Com esta aprendizagem adquirimos o conhecimento.

Com a sua prática transmitimos a sabedoria.

Sem segredo, claro está!

Carta do Grão Mestre

Agora que virámos a página de mais um ano repleto de eventos que marcaram de forma indelével as nossas vidas, é sempre bom recordar a obra feita em circunstâncias tão adversas e desafiantes.

Na Soberana, consolidámos a nossa posição enquanto obediência que se afirma no mundo da Maçonaria Regular, com a assinatura de vários tratados de amizade com obediências de referência mundial, sustentados num relacionamento estreito com as suas respetivas lideranças, alicerçados na confiança, na honra e nos princípios e valores de que não abdicamos.

A nossa cerimónia de Equinócio de Outono foi a prova viva disso mesmo.

Em 2021, no meio de tanta incerteza quanto ao futuro da humanidade, reiterámos publicamente o nosso comprometimento na construção de um mundo ambientalmente mais sustentável.

Inovámos durante o período de confinamento, tomando a iniciativa de complementar o sucesso dos nossos podcasts com uma série, criteriosamente elaborada, de visitas de estudo online com enorme sucesso. Levámos, assim, até casa de milhares de pessoas, a beleza única do nosso património nacional carregado de simbologia Maçónica numa constelação de conteúdos intemporais.

Continuámos ainda e de forma continuada a abrir o nosso “Templo Portugal” à cultura, com destaque para o recente pré-lançamento do livro “Os Novos Pedreiros Livres”, com o alto patrocínio da SOBERANA, e a realização de exposições temáticas de caracter artístico, destacando-se a de “Passos de Pessoa”.

Foi mais um ano em que continuámos a fazer o nosso trabalho com os sem-abrigo, com famílias em risco e com instituições que careciam do nosso apoio. A SOBERANA diz presente!

Marcante foi ainda uma bonita e sentida homenagem a um dos nossos, que partiu prematuramente para o Oriente Eterno, num jantar de gala com o propósito de apoiar a sua família, que nos honrou com a sua presença. Realizámos ainda mais recentemente uma cerimónia de Lembrança a céu aberto, culminada com uma cadeia de união ímpar num Templo Ecuménico Universalista. Momentos

únicos de união e solidariedade que perdurarão até ao fim dos tempos nos nossos corações e no meu muito em particular.

Perspetivando este novo ano e embora ninguém tenha a capacidade de prever o futuro, as tecnologias existentes e desenvolvidas no mundo inteiro levam-nos a acreditar que se vão concretizar avanços importantes com uma rapidez nunca vista na história da humanidade, e não será uma questão de se, mas de quando. A Inteligência Artificial dará o grande empurrão e será transversal a todas as áreas, desde a medicina, passando pela alimentação, pela mobilidade, pelos relacionamentos interpessoais, pela monotorização de pessoas e objetos, por novas formas de energias mais verdes, enfim uma infinidade de acontecimentos e descobertas que nos conduzirão, ainda durante as nossas vidas terrenas a um Mundo Novo.

Neste desafiante Mundo Novo, o Maçon terá cada vez mais um papel fundamental na preservação dos seus valores na sociedade, cujo seu culto lhes possibilitará preservar o classismo, o humanismo, os princípios da liberdade, da democracia, da igualdade, da fraternidade e do consequente aperfeiçoamento intelectual, que em nada se poderá confundir nem deixar substituir pela evolução tecnológica desenfreada.

A SOBERANA, ciente de ter nascido no meio desta turbulência tecnológica, social e pandémica, inicia assim este ano novo ano de 2022, revigorada e de Alma cheia, firmemente apostada em ser uma Maçonaria de ponta mas sempre firmemente ancorada aos seus princípios basilares. Continuaremos sempre a dignificar, através dos nossos obreiros, no mundo profano, o bom nome do Maçon e de PORTUGAL.

Parafraseando Agostinho da Silva e sobre a SOBERANA termino:

“deixem-na ser o que seja em todo o tempo futuro talvez encontre sozinha o mais além que procuro”

Meus Queridos Irmãos, que a nossa honestidade, educação e simpatia jamais sejam confundidas com subserviência e fraqueza.

Mantenhamos a nossa união e façamos a nossa História!

Inspiração e colaboração da sociedade civil por uma cultura de integridade por Naíde Müller

1ª Edição do PRÉMIO TÁGIDES: Pessoas que nos inspiram no combate à corrupção

Quando o José Manuel Caria teve a gentileza de me convidar para escrever este artigo, estávamos a preparar a 1ª Edição do PRÉMIO TÁGIDES: Pessoas que nos inspiram no combate à corrupção, que até ao dia 30 de setembro de 2021 convidou os/as portugueses/as - em Portugal e pelo mundo - a nomearem pessoas que os/as inspirem na promoção de uma cultura de integridade através do site criado para o efeito (https://www.premioanticorrupcao.site/ ), que convido, desde já, os/as leitores/as a visitarem para conhecerem melhor as próximas etapas desta iniciativa organizada pela associação All4Integrity: #libertemomeupaísdacorrupção. O projeto conta com vários parceiros e com um júri constituído por especialistas nacionais das mais diversas áreas da prevenção e luta contra a corrupção. Tem como objetivo principal o envolvimento e mobilização de mais pessoas no movimento anticorrupção, através do reconhecimento público do bom trabalho que se tem feito na defesa de uma cultura e sociedade mais transparente.

A origem da All4Integrity.org, uma associação que está a ser formalmente constituída, está no inconformismo informado do português da diáspora, professor, autor e empreendedor social, André Corrêa d’Almeida (Columbia University) com quem tive o privilégio de começar a trabalhar em 2015, no âmbito da investigação que deu origem ao livro, publicado em 2019, “Reforma do Sistema Parlamentar em

palavras ditas

Portugal - Análises e instrumentos para um diálogo urgente” (Principia). A 5 de outubro de 2020 realizou uma ação de rua em Nova Iorque para sensibilizar para o problema da corrupção em Portugal. Por essa altura, e inspirados/as pela robustez da sua visão, começámos a formar organicamente uma rede interdisciplinar e transnacional composta por diversas pessoas que queriam oferecer as suas competências para ajudar. Atualmente este movimento, apartidário e da sociedade civil, conta com dezenas de voluntário/as cuja capacidade de colaboração em torno de um ideal comum, rapidamente o tornou numa incubadora de iniciativas e programas de prevenção/combate à corrupção e de desenvolvimento de uma cultura de integridade em Portugal. Exemplo disso é o programa ‘RedEscolas AntiCorrupção: escolas que nos inspiram no combate à corrupção’, a iniciativa ‘Empresas e Integridade’ e as parcerias existentes com várias universidades, nacionais e internacionais, para o desenvolvimento de investigação científica aplicada.

Enquanto profissional e investigadora da área da comunicação o mais interessante deste desafio é perceber como podemos contrariar o ciclo de cinismo e de descrença que orbita em torno do tema da corrupção. Premiar as boas práticas e contribuir para estimular um debate informado, simbolicamente apoiado nas ninfas do Tejo a quem Camões pede inspiração para compor a sua obra, parece-me um bom começo.

Doutoranda em Ciências da Comunicação e investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Faculdade de Ciências Humanas, Universidade Católica Portuguesa, onde também leciona na Licenciatura em Ciências da Comunicação. Licenciada em Comunicação Empresarial e Relações Públicas pela Escola Superior de Comunicação Social e mestre em Comunicação Integrada pelo Instituto Superior de Novas Profissões. Trabalha desde 2008 como consultora de comunicação tendo colaborado com diversas entidades públicas e privadas. Entre 2015 e 2019 trabalhou como assessora de comunicação e relações públicas na Assembleia da República Portuguesa e no desenvolvimento das campanhas eleitorais do partido Pessoas – Animais – Natureza. Investiga na área da comunicação estratégica e ativismo por direitos humanos. Até dezembro de 2021 está a realizar um estágio de investigação na Kent State University nos Estados Unidos com uma Bolsa de estudo da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.

Os Direitos Humanos ao longo do tempo por Paulo

palavras ditas

Réfega

Os Direitos Humanos são uma categoria de direitos básicos e inalienáveis. O seu objectivo é garantir o direito à defesa e ao justo julgamento a quem seja acusado de um crime, e direitos fundamentais, como a vida, a liberdade, a saúde e a segurança das pessoas. Garantem assim direitos básicos a todos os membros da espécie humana.

As Declarações de Direitos são muito antigas, mas como seria de esperar o seu conceito tem evoluído e tem-se adaptado e sido influenciados pelas ideias dominantes em cada período histórico.

Assim, eis alguns de declarações de direitos ao longo do tempo:

- Código de Hamurabi, com cerca de 4.000 anos de idade, e que continha diversas leis e punições;

- Cilindro de Ciro, cerca de 569 a.C. que abolia a escravatura e permitia liberdade de religião no império persa;

- Constituição de Atenas, em 508 a.C. que estabeleceu a democracia ateniense;

- Lei das 12 tábuas de Roma em 450 a.C. legislação que está na origem do direito romano.

- Magna Carta em Inglaterra, 1215;

- Bill of Rights nos Estados Unidos em 1789;

- Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em França, 1789;

- Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1949.

Considera-se, contudo, apesar dos precedentes históricos cotados acima, que os seus primeiros reconhecimentos formais ocorreram na Revolução Americana e na Revolução Francesa.

A Bill of Rights (ou Declaração dos Direitos dos Cidadãos dos Estados Unidos) assegura certos direitos

aos nascidos no país. Entre eles, garante o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade. Assim, o governo não poderia atacar um desses direitos de alguém sem o devido processo e julgamento dentro dos parâmetros da lei.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da revolução francesa define os direitos individuais e coletivos dos homens (tomada, teoricamente, a palavra na acepção de “seres humanos”) como universais.

Foi, tal como a revolução americana e o seu Bill of Rights, influenciada pela teoria dos direitos naturais e pelo iluminismo. No século XVII e XVIII, filósofos europeus, destacando-se John Locke, desenvolveram o conceito do direito natural. Os direitos naturais, para Locke, não dependiam da cidadania nem das leis de um Estado, nem estavam necessariamente limitadas a um grupo étnico, cultural ou religioso em particular. A teoria do contrato social, de acordo com seus três principais formuladores, o já citado Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau, baseia-se no facto de que os direitos do indivíduo são naturais e que, no estado de natureza, todos os homens são titulares de todos os direitos. Os direitos dos homens são tidos como universais: válidos e

exigíveis a qualquer tempo e em qualquer lugar, pois permitem a própria natureza humana.

Sabemos também que a Maçonaria teve uma enorme influência nestas ideias e que boa parte dos signatários da Bill of Rights eram Maçons, bem como muitos dos autores da revolução francesa.

Considera-se que os Direitos Humanos não são uma invenção e sim o reconhecimento de que, apesar de todas as diferenças, ou seja, existem aspectos básicos da vida humana que devem ser respeitados e garantidos.

O momento mais importante na história dos Direitos do Homem ocorre durante 1945-1948. Em 1945, os Estados tomam consciência das tragédias e atrocidades vividas durante a 2ª Guerra Mundial, levando-os a criar a ONU que visa estabelecer e manter a paz no mundo. E assim, a 10 de Dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. São 30 artigos e um preâmbulo, hoje já sobejamente conhecidos.

Penso que é importante que os Direitos Humanos provêm da civilização ocidental e das ideias filosófico/morais aí desenvolvidas. Numa altura em que o Ocidente é atacado como colonialista, opressor, criador do capitalismo e outros pecados mortais, devemos-mos lembrar disto. Os Direitos Humanos não são respeitados nas ditaduras como a China, Cuba

ou Venezuela. Não são respeitados em autocracias como a Rússia, a Bielorrússia e a Turquia. Muito menos são respeitados nas autocracias islâmicas do Golfo e nos regimes islamofascistas do Irão, Afeganistão e Paquistão e já agora pelos islamofascistas que habitam a Europa. Não são respeitados em África, onde salvo muito poucas excepções, ou há ditaduras ou há autocracias. Nem sequer são respeitados pelos defensores do politicamente correcto e da cultura de cancelamento, onde se acha que os Direitos Humanos só se aplicam a pessoas que partilham os mesmos ideais.

Mas os Direitos Humanos fazem parte do tecido moral do Ocidente e apesar da dificuldade em os respeitar totalmente, mesmo nas democracias ocidentais, são um pilar essencial dos Estados de Direito e das nossa vidas

O que nos trará o futuro, o tal que ao GADU pertence, relativamente aos direitos humanos? O mundo já foi muito pior, nem é preciso recuar mais do que o sec. XX, com a litania de guerras, fascismo, nazismo e comunismo a espezinhar os Direitos Hu-

manos. Contudo e conhecendo a natureza humana não se vê que num futuro mais ou menos distante deixará de haver ditadores e autocratas e pessoas que os apoiam. Mas gradualmente parece haver entre a população do mundo uma maior consciencialização dos seus direitos.

Cabe-nos a nós, enquanto homens livres e de bons costumes, pugnar pela defesa dos Direitos Humanos com toda a nossa energia. Sempre foi assim entre os Maçons e continuará a ser.

palavras ditas

Na Sessão de Grande Loja do dia 2 de Outubro – que decorreu na Penha Longa, em Sintra –estiveram presentes representantes das várias Grandes Lojas que fazem parte da OMI - Organização Maçónica Internacional, cujo Presidente é Abílio Alagoa da Silva, MRGM da Grande Loja Soberana de Portugal.

A afirmação da Nova Maçonaria Portuguesa

A Soberana comemorou três anos de vida maçónica

As promessas e os mistérios de Sintra voltaram a marcar a vida da Grande Loja Soberana de Portugal nas festas do Equinócio de Outono que coincidiram com o início do seu quarto ano de existência ao serviço da Nova Maçonaria Portuguesa.

Para além da vasta representação de todas as suas Lojas, a Soberana registou ainda a presença de várias delegações estrangeiras que vieram assinar Tratados de Amizade e Cooperação, com especial destaque para a formalização da OMI – Organização Maçónica Internacional.

O primeiro fim-de-semana de Outubro, deste novo ano da renovação, fica na história da Soberana pela comemoração do seu terceiro aniversário e pela visita de várias Delegações de Obediências

O Ser Humano obriga-se a criar bases sólidas, neste tempo de mudança, neste período de transição

As Delegações Estrangeiras

Na Sessão de Grande Loja do dia 2 de Outubro estiveram presentes representantes das várias Grandes Lojas que fazem parte da OMIOrganização Maçónica Internacional, cujo Presidente é Abílio Alagoa da Silva, MRGM da Grande Loja Soberana de Portugal.

O registo de presenças foi o seguinte:

BRASIL

Grande Oriente Independente de São Paulo

GS Willian Fernando Lima

Grande Oriente Independente da Amazónia

GM representado por Willian Fernando Lima

ESPANHA

Grande Loja Marbella

MRGM Sebastian Fune

FRANÇA

Grande Loge Maçons Libres de France

MRGM Jean – Pierre Schwentzer

Grande Loge de L ´Europe et de la Méditerranée

MRPGM François Furia

GS Didier Aynoun

ITÁLIA

Grande Priorado Retificado de Itália

MRGM Domenico Chindamo

Grande Loja de Jerusalém

MRGM Gianmario Ferromonti

GI Denerando Garozzi

ROMÉNIA

Marea Loja Nationala Romam

RAGM Gianmario Ferromonti

RVM Eros Valerio Cenci

Irmãs, vindas de várias partes do Mundo, que se quiseram associar às comemorações e firmar Tratados de Amizade que marcam o desenvolvimento conjunto da Maçonaria, não só na Europa, como também no Brasil, através da criação da OMI – Organização Maçónica Internacional que congrega um vasto número de Obediências, determinadas em seguir um caminho conjunto e uniforme.

A OMI tem como Grão-Mestre Internacional, Abílio Alagoa da Silva, que juntamente com o Past Grão-Mestre, João Pestana Dias, teve um enorme protagonismo na expansão internacional da Nova Maçonaria Portuguesa, para mais quando as línguas oficiais da OMI são o Português e o Inglês.As representações internacionais chegaram a meio da semana e ficaram alojadas nos hotéis que escolheram antecipadamente.

A Soberana proporcionou às delegações irmãs passeios à Lisboa Maçónica e à Quinta da Regaleira, sempre orientadas pelo Grande Perceptor, Professor Fernando Casqueira, e jantares em Lisboa e em Sintra, em locais históricos e emblemáticos da vida portuguesa.

A Festa do Equinócio

A Grande Loja Soberana de Portugal completou o terceiro aniversário da sua fundação, mas bem mais do que isso celebrou o

início de mais um ano de trabalho, de mais uma jornada fraterna de comunhão espiritual, na celebração do Equinócio de Outono que significa reflexão, recolhimento interior, amadurecimento pessoal e renovação.

Tal como as árvores que se despem de folhas e se preparam para enfrentar a invernia, também o Ser Humano deve criar espaços novos na sua vida, abrir – se em confiança, encarar o futuro com otimismo, disponível para ultrapassar os rigores que terá diante de si.

O Equinócio sugere equilíbrio na transição e como nada acontece por acaso, até nas estações do ano, nas diversas etapas do tempo, é possível colher preciosos ensinamentos.

No hemisfério Norte do Planeta Terra, o caminho que se percorre é do Verão para o Inverno, a anunciar que é preciso ser verdadeiro, ser autêntico, sem fingimentos nem subterfúgios, sem receios e sem angústias, despido de artifícios, disponível para criar um espaço, ao mesmo tempo, humilde e sagrado naquilo que se designa, em linguagem da alma, como o Templo Interior.

O Ser Humano obriga-se a criar bases sólidas, neste tempo de mudança, neste período de transição, para que, depois, tudo possa crescer e desenvolver-se a seu contento e ao preceito da comunidade.

Com a Soberana acontece exatamente o mesmo, mas com mais intensidade, com mais força, com mais razão de ser, porque o Equinócio de Outono celebrou a força da sua alma conjunta.

Ou seja: a sessão de Grande Loja serviu para cimentar ideais e forças e para tornar mais forte a egrégora.

Pedreiros Livres

A Soberana, ao comemorar três anos de existência, provou que quando se sabe fazer do tempo o nosso tempo, é possível pro-

duzir muito mais do que se imagina, abrindo em cada dia que passa novos caminhos sempre na direção do Oriente.

A nova Maçonaria portuguesa esteve unida, na Penha Longa, num ato de fraternidade que eternizou o seu canteiro de trabalho coletivo, graças aos seus Pedreiros Livres, aos seus Obreiros que demonstraram, mais uma vez, merecer a vida espiritual e integrar a grandeza do Universo.

As emoções de Sintra e os mistérios anunciados foram parte ativa de um Encontro de Almas, unidas pela vontade única de sendo diferentes, serem mais puras. E as que ficaram pelo caminho, por vontade própria, foram celebradas sem rancor, mas com tristeza.

Mesmo tendo piedade delas percebeu-se que ficou a verdade do ensinamento.

Depois da sessão de Grande Loja, marcada pela assinatura de Tratados Internacionais de Amizade e Colaboração; pela troca de lembranças; pelos Diplomas (de diversos graus) entregues a Obreiros que se distinguiram pelas suas ações meritórias e bondosas; pelas oratórias dos convidados; pelas palavras emocionadas de Veneráveis Mestres e do Grão Mestrado; pela emoção manifestada pelos representantes das Obediências Internacionais, realizou – se um cocktail de boas vindas a familiares, amigos e convidados especiais, durante o

qual foi apresentado o livro, patrocinado pela Soberana, “Os Novos Pedreiros Livres”, do qual se faz pormenorizada referência noutra página desta edição da revista.

Realizou – se, depois, um jantar em honra das Senhoras, durante o qual foram leiloados, com fins beneficentes, quadros dos pintores Xicofran e Santiago Belacqua.

Para finalizar tão intenso e belo dia e culminando um jantar de grande fraternidade, a Soberana ofereceu uma sessão de fados e guitarradas portuguesas, principalmente destinada às comitivas estrangeiras.

Fartas palmas para quem tanto as mereceu. Seus nomes: Cláudia Leal (que bela voz!), Ivan Cardoso (viola) e José Manuel Duarte (guitarra portuguesa).

O Significado de Encontro

Este encontro de irmãos serviu, sobretudo, para anunciar novos caminhos e confirmar a intensão de dar bom rumo a novas propostas conjuntas.

A Maçonaria é, cada vez mais, um necessário encontro de almas e quando se atravessa um período tão conflituoso e tão carregado de imoralidade e desconforto espiritual, percebendo – se que a vaidade e o egoísmo são uma constante e que a maior parte dos Seres Humanos só pensa em si, ignorando os outros ou servindo – se dos outros para seu conforto pessoal, também se conclui que a Maçonaria é mais necessária que nunca.

Para quê?

Para confirmar os caminhos da criação e para lhes dar sentido. Para cumprir desígnios da existência humana que podem não ter sido

condição anunciada, mas foram condição supostamente exigida. Para valorizar as almas. Para celebrar os espíritos. Para unificar a vida tal como foi concebida.

Ser Maçom (ficou demonstrado mais uma vez) pode não ser para todos, mas é uma necessidade e um conforto moral para muitos que ainda não descobriram os seus verdadeiros propósitos, caminhos e finalidades espirituais.

A Soberana orgulha – se do seu passado e projeta – se num futuro radioso de Paz, Amor e Luz.

Destaque

III Anos de Soberana

As Palavras do Grão Mestre na Afirmação da Nova Ordem Maçónica Portuguesa

Por Abílio Alagôa da Silva

Volvidos 12 meses da nossa sessão de Equinócio de Outono, onde fui orgulhosamente instalado, aqui estamos a comemorar o 3º Aniversário da nossa SOBERANA. E que melhor prova de vitalidade poderíamos querer ter do que anunciar, em plena crise pandémica, que nos apresentamos aqui hoje em sessão de Grande Loja com mais 3 novas Lojas, quando quase todas as obediências se desmobilizaram e perderam obreiros.

E tudo começou com o Rito Português…

A Soberana, firme nas suas convicções de abertura à sociedade de forma continuada, permanece apostada em dignificar a Maçonaria e prestigiar o bom nome dos Maçons.

Orgulhosos de sermos a Nova Maçonaria Portuguesa estamos na primeira linha das melhores práticas da Maçonaria Universal e trabalhamos no Renascimento do ideal maçónico com outras obediências internacionais, divulgando e destacando o nosso Rito Português por todo o espaço lusófono espalhado pelos quatro cantos do mundo, seja em África, na Ásia, na América ou onde haja uma afirmação da nossa portugalidade.

Firmámos 3 tratados de amizade neste período (e hoje acabámos de assinar protocolos que nos permitiram firmar muitos mais a curto prazo) e estamos também na génese e na liderança de uma nova Organização Maçónica Internacional (OMI), que hoje aqui formalizou a sua existência.

Com a terceira e, esperamos, última fase de desconfinamento em curso e com as nossas vidas a retomarem o curso normal, continuamos as sessões e ágapes no nosso templo, desta feita sem quaisquer restrições, mas com todos os cuidados de higienização que reconhecidamente devemos incorporar nas nossas vidas. Retomámos os eventos de carácter

cultural e artístico, de portas abertas para a sociedade e em prol das comunidades e do bem comum. Vamos muito em breve retomar o nosso programa de visitas de estudo Maçónicas, já aprovadas, com o nosso Grande Perceptor Fernando Casqueira.

Porque os Rituais se querem dinâmicos, atualizados e corrigidos, à semelhança do Rito Português, o REAA da SOBERANA verá sair antes do final do ano uma versão revista, destacando o trabalho em curso dos irmãos Jorge Fabião e Ricardo Dias.

Também a egrégora que vivenciamos na Soberana nos ajudou a angariar e a operacionalizar, de forma discreta, o apoio a quem dele necessitou, destacando de forma muito particular e especial o valor angariado e integralmente entregue, com o apoio fundamental do Grande Hospitaleiro Christian Hohn e da sua equipa, à família do nosso falecido e muito querido irmão João Vieira, que estiveram aqui connosco numa homena-

gem muito digna e sentida. E continuámos também os nossos trabalhos solidários e com os sem-abrigo de forma continua com o Grande Esmoler João Gonçalves.

Igualmente continuámos a produzir conteúdos resultantes de muito trabalho Maçónico, mas também profano, como nenhuma outra obediência em Portugal. Crescemos, quando as maiores obediências nacionais não reuniam e estavam desmobilizadas. Continuamos a dignificar a Maçonaria e os Maçons e isso, meus irmãos, deve encher-nos de orgulho. O lastro histórico da nossa existência atesta a veracidade do que sempre nos propusemos fazer desde a nossa constituição.

Assim, a nossa esperança nunca foi abalada, nunca se cansou e nunca deixou que a descrença se apoderasse de nós.

O ágape que realizaremos hoje em honra das senhoras é a prova disso mesmo e tem como grande desígnio comemorar o nosso III aniversário,

marcar o início oficial da OMI mas também o lançamento do livro “Os Novos Pedreiros Livres” com o alto patrocínio da Soberana, cujo autor é o nosso MRVGM Fernando Correia. Todos os Maçons, independentemente da sua origem ou obediência, não deveriam prescindir de o adquirir pelo seu conteúdo didático superlativo e pelos caminhos da espiritualidade com que nos inspiramos ao lê-lo.

Nunca é demais recordar-vos e dizer, principalmente aos nossos aprendizes e companheiros, os mais recentes chegados ao nosso seio, mas também a alguns Mestres, que continuamos a trabalhar para que os valores e princípios, como a integridade, a lealdade, o comprometimento, o mérito e a solidariedade espontânea e desinteressada, sejam o ADN da nossa augusta ordem e o barómetro para nomeações e distinções na Soberana.

Esta não é, nem nunca será, uma obediência para maldizer, difamar, trair ou enganar irmãos. Teremos mão pesada para práticas não recomendáveis e indesejadas, dentro e fora do templo, pois na Soberana não somos Maçons a tempo parcial.

Como sempre disse desde a minha instalação é cada vez mais difícil entrar na Soberana pelo rigor que o passado e a experiência nos obrigaram a ter na admissão de novos membros, mas a saída para quem ousar perturbar os nossa trabalhos será rápida e definitiva, contando para tal com a total isenção e imparcialidade do nosso Tribunal Maçónico, presidido pelo nosso irmão Rui Teixeira e os restantes 4 juízes eleitos.

Vamos juntos continuar a fazemos acontecer a bem da nossas respeitáveis lojas, a bem da nossa obediência e a bem de PORTUGAL!

Deixo-vos aqui uma vez mais o apelo, para que não aguardem que o vosso VM:. ou um Grande Oficial vos peça ajuda. Vençam a inércia, antecipem-se, participem, ajudem, façam parte do que é vosso e saibam que, ao não o fazerem, estarão a sobrecarregar os vossos irmãos e a atrasar os propósitos da nossa existência e o nosso crescimento. Nada mais vos posso dar a não ser a oportunidade, o impulso e a chave para o fazerem…

Gostaria de deixar um agradecimento muito especial a muitos de vós que diariamente nas várias RRLL:. e na Grande loja nos ajudam a manter um nível de excelência nos nossos trabalhos, voluntariando-se e, na maioria das vezes, tomando a iniciativa para o muito que temos de fazer.

E também a vinda de tantas e distintas obediências a esta sessão, prestigiam e dignificam ainda mais todo o trabalho realizado por todos nós.

Quero deixar uma palavra de agradecimento

a todos vós que têm ativamente colaborado para a obra feita mas permitam-me que tenha um destaque muito especial ao MRPGM João Pestana Dias, ao MRVGM Fernando Correia e ao RI Orlando Gomes, por todo o apoio incondicional que diariamente, inclusivamente em horas menos próprias, me têm dado e que humildemente agradeço.

Aproveito para vos dar duas breves explicações que julgo merecerem ser feitas nesta ocasião: uma é explicar-vos que existe todo um racional e hierarquia na atribuição das ordens honorificas que, em loja e se assim o entenderem, poderei eu ou o nosso Grande Chanceler Miguel Arantes, explicar em detalhe. A integridade, a excelência, a capacidade de iniciativa, a dedicação e disponibilidade dos visados e a consequente assiduidade às nossas sessões de Loja e Grande Loja são os fatores mais importantes para a sua atribuição. Alguns irmãos que não foram hoje agraciados já o foram nas sessões passadas, outros serão seguramente nas próximas, pois muitos deles estão a meio dos seus diversos percursos e atribuições. Ainda outros poderão ser agraciados com ordens superiores, como foi o caso de hoje.

A segunda explicação tem a ver com a ordem de precedência das altas entidades da nossa obediência, que contrariam um pouco as demais, e tem a ver com o facto de nesta obediência - e assim espero que se mantenha sempre - os PPGGMM apesar de não terem funções executivas, continuarem ativos e a representar a Obediência ao mais alto nível, honrando e dignificando a mesma.

Explicações dadas, e terminando deixem-me dizer-vos, com uma mensagem de esperança, que antevejo e acredito que o legado pandémico, apesar de duradouro, será o prenúncio de um mundo mais fraterno, mais preparado e mais sustentável. A restauração da independência das nossas vidas está ao virar da esquina, num novo paradigma universal face a este devastador vírus, e poderá muito bem materializar o sonho do Quinto Império, o Império Português, o império espiritual do Espírito Santo.

Parafraseando Vitor Hugo : “O futuro tem muitos nomes.

Para os fracos é o inalcançável.

Para os temerosos, o desconhecido.

Para os valentes é a oportunidade.”

Meus irmãos, mantenhamos a nossa Luz e façamos a nossa História!

A Romã e o seu simbolismo na Maçonaria.

A Romã, cujo nome científico é Punica Granatum, é um fruto de estrutura complexa. Interiormente é compartimentado por membranas que albergam numerosas sementes rodeadas de uma polpa carnosa comestível de rosa intenso e sabor doce.

A sua árvore é a romãzeira, originária do extremo oriental Mediterrânico e do Himalaia, e pode atingir até cerca de 5 metros de altura. É uma planta resistente, raramente afetada por pestes ou doenças.

Foi cultivada na antiguidade pelos fenícios, gregos e egípcios, e a importância do seu fruto é milenar, sendo considerada pelos gregos como símbolo do amor e da fecundidade. A árvore da romã foi consagrada à Deusa Afrodite, pois acreditava-se nos seus poderes afrodisíacos. Para os Judeus é um símbolo religioso com grande significado no ritual de ano novo.

Durante o seu reinado, Salomão mandou esculpir a fruta no alto das colunas do seu templo, onde se encontra hoje o muro das lamentações, em Jerusalém.

Está presente em diversos textos bíblicos, como por exemplo nos Livros dos Reis.

No primeiro livro dos Reis capítulo 7 versículo 20 podemos ler:

“Nos capitéis das duas colunas, acima da parte que tinha formato de taça, perto do conjunto de correntes, havia duzentas romãs enfileiradas ao redor”.

No segundo Livro dos Reis, capítulo 25, versículo 17:

“Cada coluna tinha oito metros e dez centímetros de altura. O capitel de bronze no alto de cada coluna tinha um metro e trinta e cinco centímetros de altura e era decorado com uma fileira de romãs de bronze ao redor”.

Servindo o templo de Salomão como modelo e base simbólica para grande parte do REAA, encontram-se à entrada do templo Maçónico, inseparáveis das colunas J e B, três romãs entreabertas, acima do olhar de cada obreiro, passando talvez por isso despercebidas, mas que nos oferecem, enquanto Maçons, um belo motivo de reflexão e conhecimento.

Vejamos como a Romã é única e ao mesmo tempo multíplice. Os seus bagos cintilantes estão unidos e de forma harmoniosa, cada um deles

ocupa o seu lugar, no espaço que lhe é reservado. É como um tecido do corpo humano composto por inúmeras células organizadas de diferentes formas.

Quando é retirada uma pequena parte, continua a existir, pese embora a marca deixada no formato das partes vizinhas.

Como um reflexo do Universo onde todas as partes são necessárias, se completam e complementam. Constituído por partes num número surpreendente, quase infindáveis que, se por um lado aparentam estar isoladas, por outro sabemos estar intimamente ligadas.

Desta forma, talvez se compreenda o porquê de a Maçonaria ter recebido a romã como um dos seus símbolos. Senão vejamos a analogia existente entre a nossa Augusta Ordem e este formidável fruto:

Como referido por Jules Boucher no seu livro “A Simbólica Maçónica”, na Maçonaria, os grãos da Romã mergulhados numa polpa transparente, simbolizam os Maçons unidos entre si por um ideal comum. Sendo a casca da raíz da romãzeira tóxica, a romã mostra-nos ainda os Maçons saídos de um mundo mau por essencia elevando-se a um estado de excelência.

Podemos entender assim, que as sementes da romã são o símbolo da fraternidade Maçónica, da união e da solidariedade. Cada uma das lojas com vida própria, mas servindo a mesma finalidade. Dentro de nossas lojas somos como as sementes, uns maiores, outros menores, de aparências várias, de aspetos diferentes, com pensamentos próprios, estreitamente ligados, apoiando-nos uns nos outros, unidos pelo sentimento e pela vontade de nutrir o mundo profano sob a orientação do Grande Arquiteto Do Universo.

A Romã simboliza também a harmonia entre Maçons que, por mais que cresça, por mais que seja multiplicado, constitui uma única e grande família, em que apenas com as suas sementes apoiadas entre si, ela pode tomar a sua verdadeira forma. É a união de todas essas frágeis sementes

que faz deste fruto um dos mais fortes e resistentes. A sua casca dura e resistente, representando a loja que proteje os seus obreiros. Podem tentar quebrá-la e esmagá-la, pois manterá a sua tonalidade natural por muito tempo. Pode secar mas dificilmente apodrece. Com a sua casca dura e de cor nada atrativa, parece à primeira vista desprovida de qualquer encanto, inacessível até, e quase impenetrável.

Todos aqueles que já tentaram abrir uma romã saberão que a forma mais simples é esperar que ela própria nos mostre o seu interior, espontaneamente e no seu devido tempo, apresentando assim o seu convite para um mundo recheado de cor, beleza e sabor.

Desta mesma forma se apresenta a Maçonaria, impenetrável para quem a olha ao longe, mas absolutamente encantadora para aqueles que com abertura de espírito, tomaram um dia a decisão de ver com os próprios olhos, através das aberturas que lhes foram oferecidas.

Apenas aos que lhes foi concedida a luz é permitida viver a sua extraordinária beleza. Tal como o lento amadurecimento da romã até finalmente tornar visível os seus cintilantes bagos, também na Maçonaria a sua beleza vai crescendo, num demorado trabalho de evolução espiritual, até que a pedra bruta esteja polida e brilhante.

Num sentimento de gratidão profundo, termino este trabalho com uma frase que li algures na Internet de um nosso Irmão de nome Paulo Ursaia: “Não sou Maçom de coração, porque um dia ele pára de bater. Sou Maçom de alma, porque ela é eterna”.

Justino S. Pereira

Companheiro Maçom

R:.L:. General Correia Barreto

“O Silêncio do Aprendiz” e não só

por Joaquim Mendes

O silêncio na nossa vida profana tem em traços gerais por definição: estado de quem se abstém ou deixa de falar, cessação de som, término de uma de comunicação, sossego, quietude, calma, segredo ou sigilo.

A comunicação, ao senso comum, é associada imediatamente a fala, ao elemento verbal.

Seria redutor ficar por aqui. Silêncio é muito mais que a sua simples definição e ausência da verbalidade. Pelo que temos que aprofundar os seus mais profundos e verdadeiros significados.

A interpretação do silêncio, nas mesmas circunstâncias, pode ser interpretado de diferentes maneiras, quer no que que se quer transmitir, pela parte do emissor, quer de quem recebe, o recetor, já aqui se pode perceber a complexidade do silêncio. É neste “jogo” que nos apercebemos que o silêncio “fala” e muito.

Quantos de nós avançamos para a interpretação do silêncio de outro? O difícil e o desafio que essa tarefa representa. Por outro lado, o silêncio absoluto não existe na vida terrena.

Existem inúmeras representações do silêncio. O silêncio pode ser sábio, angustiante, aterrador, melancólico, em tudo isto depende de quem o representa e de quem o interpreta.

Quanto ao silêncio do aprendiz, o primeiro contacto com a regra de silêncio acontece na iniciação, através da reflexão silenciosa na câmara de reflexão, o silêncio verbal das viagens que “obrigam” à necessária interpretação silenciosa das mesmas.

São inúmeras as referências ao silêncio ou a oportunidade de assim ficar durante a iniciação. É assim desde o início o contacto do Aprendiz com a oportunidade única de permanecer em silêncio.

O silêncio do Aprendiz deve ser visto como uma oportunidade de interiorização do pensamento, de observação sem ter a necessidade de intervir ou verbalizar. O silêncio deve ser um permanente trabalho interior.

É importante compreender que estar em silêncio é totalmente diferente de estar calado. Estar calado é sinal de regressão, permanecer em silêncio é trabalho interior, é sinal de progresso.

Sendo o principal trabalho do Aprendiz o seu aperfeiçoamento, o trabalhar a pedra bruta, deve para isso permanecer em silêncio já que não tem ainda a capacidade e conhecimento necessários para falar. Deve em silêncio apreender e reflectir e, através deste, fazer o seu aperfeiçoamento interior. Assim, não é com o intuito de não reconhecer ao Aprendiz capacidade de falar, ou que se lhe atribua um reconhecimento inferior que permanece em silêncio, mas sim porque o período de silêncio é de extrema importância para se aperfeiçoar.

Deste modo, o silêncio defende o Aprendiz, dá-lhe segurança, levando a sua atenção para a simbologia e tudo o que o rodeia em loja construindo e definindo o seu processo de aperfeiçoamento. O facto de estar em silêncio e não a pensar na resposta a dar ou intervenção a fazer leva a que se concentre e absorva plenamente os significados à sua volta.

O silêncio do Aprendiz é confortante, nesta fase nada lhe é pedido que diga, apenas que observe e apreenda. Em fases de aprendizagem plena o que se espera é que se aprenda e que se foque em si mesmo, que no silêncio seja ativo e interessado.

É deste diálogo com si mesmo que nasce a evolução do aprendiz, é neste estado de silêncio que vai desbastar a sua pedra bruta em busca do seu interior e melhoramento do mesmo.

A sigla VITRIOL (Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem) “Visita o Teu Interior, purificando-te, encontrarás o Teu Eu Oculto”, ou, “a essência da tua alma humana” é um bom exemplo de como o silêncio está refletido, olha para dentro de ti e descobrirás a tua verdadeira essência, que melhor forma para o fazer do que em silêncio.

O silêncio é assim um processo decisivo no aperfeiçoamento interno e não uma limitação. É uma ferramenta poderosa que permite talhar a pedra bruta.

“Se os homens tivessem no silêncio a mesma capacidade que têm no falar o mundo seria muito mais feliz.” Baruch Spinoza

Joaquim Mendes

Aprendiz Maçom

R:. L:. Marechal Teixeira Rebelo

O Condestável “Uma Visão Sobre Funções Investidas”

por Nuno Henrique Duarte

O Condestável etimologicamente é um termo antigo do tempo dos Romanos. Seria o estribeiro mor ou superintendente das cavalariças, sendo um importante cargo militar.

Ele comandava a vanguarda do exército na falta de algum grande senhor.

Em Portugal este cargo foi criado por D. Fernando I, em 1382, para substituir o cargo de alferes-mor e passando a ser a 2ª personagem da hierarquia militar (temporalmente uma altura relevante e determinante na história de Portugal pois de seguida seguiu-se a guerra da independência).

Na ausência do Rei comandava as tropas e mantinha a disciplina do exército. Por ele passavam todos os inquéritos militares (nos dias de hoje seria um chefe do estado maior).

Esta função existiu nestes moldes durante 3 séculos. Do Século XIV ao Século XVII com D. João IV. Mais uma vez uma altura relevante da nossa história com a guerra da Restauração. Deixando nesta altura de ter conotações militares ou admi-

nistrativas e passando a ser apenas honorífica.

A partir daqui o Condestável assistia o ato de aclamação real empunhando a Espada de forma a garantir as obrigações e manter os desafios em nome do rei.

A construção dum processo identitário da Alma Lusitana e em virtude igualmente da valência ecuménica, surgiu a necessidade de se efetuar um Rito português. Um Rito que traduz a especificidade de ser português e constitui uma importante via para a dignificação, divulgação e engrandecimento da nossa imagem e identidade. Fomentando a divulgação da História e Cultura portuguesa. Cabe-me assim a mim, aqui, a missão de evocar D. Nuno Álvares Pereira, que foi o 2º Condestável do reino de Portugal (sucedendo a Alvaro Pires de Castro – irmão de Inês de Castro). D. Nuno Alvares Pereira, filho de Alvaro Gonçalves Pereira que pelos seus feitos obteve do Grão-Mestre da Ordem do Hospital (mais tarde em 1530 Ordem de Malta) o Priorado de Portugal, com sede no Castelo do Crato.

D. Nuno Alvares Pereira, O Condestável, considerado o maior estratega, comandante e génio militar português de sempre (venceu todas as batalhas que travou sendo as mais notáveis a batalha dos Atoleiros e a Batalha de Aljubarrota) sendo o patrono da Infantaria portuguesa. Comandou sempre pelo exemplo. Luis de Camões, das mais variadas formas e sentidos, evoca-o 14 vezes nos Lusíadas.

Referir que a sua única filha casou com D. Afonso I. Este casamento deu origem á casa de Bragança, sendo D. Afonso I o 1º duque de Bragança.

Terminou a sua vida como Carmelita no convento do Carmo que mandara construir. Era conhecido pelos seus atos em prol dos mais desfavorecidos em Lisboa como o Santo Condestável. Mais tarde beatificado nos princípios século XX e Canonizado já no século XXI com o nome de São Nuno de Santa Maria (6 de novembro).

Um facto pouco conhecido ocorreu em 1918. O Condestável teve o condão de unir Católicos e Maçons. Crentes e descrentes, monárquicos e

republicanos, todos unidos pela mesma causa: essa foi a missão impossível concretizada por uma organização cívico-política, nacionalista e conservadora, criada em 1918, ainda na I República (durante o consulado do IR… Sidónio Pais).

A Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira, assim se chamava a organização. Dela fizeram parte António de Oliveira Salazar, futuro primeiro-ministro ditador, e Manuel Gonçalves Cerejeira, mais tarde cardeal-patriarca de Lisboa, ainda outras personalidades ilustres como o Presidente António José de Almeida (também maçon), o Nobel Egas Moniz ou o historiador Fortunato de Almeida. Depois desta evocação histórica e para melhor perceber o papel do Condestável como Oficial de Loja, em que exerce uma função ritual seguindo e auxiliando o mestre cerimónias na execução dos rituais de abertura e encerramento dos trabalhos e vigiando a sua boa execução. É o oficial de justiça da Loja cabendo-lhe a entrega das intimações e comunicações externas da Loja. É o oficial encarregado de

proceder á inspeção dos visitantes antes de ingressarem no Templo. Tem um papel relevante nas cerimónias de iniciação e existe para essa cerimónia.

É o elo ligação entre o profano que procura a luz e a Loja. O Condestável acompanha, auxilia e prepara o profano para superação das provas. Ele dá e retira a luz. Ele acompanha o profano enquanto este se recompõe e o conduz á plena integração na loja. É a mão amiga e o guia que indica o caminho para a luz.

O condestável é o apoio e suporte dos candidatos.

A Joia do irmão Condestável é a Espada cruzada com uma régua.

A Espada é a defesa impiedosa, a manutenção da dignidade, energia e símbolo de Justiça. A Régua é a Lei ou a Regra. Mede os trabalhos podendo ser instrumento de meditação, consciência, inteligência e cautela na execução dos afazeres

Sendo um ofício fundamental no primeiro grande momento dum Maçon, agradeço esta prova de confiança para o desempenho desta função.

O Condestável é normalmente alguém conhecido pelo conhecimento ou capacidade, que se tornou perito pela experiência, que se diferencia pela sabedoria e sólido julgamento.

Esta é a visão que assumo no desempenho das funções para as quais fui investido. Procurarei ser Justo.

Deixo-vos com um pensamento do poeta dos heterónimos sobre o Santo Condestável.

Que Auréola te cerca?

É a espada que, volteando,

Faz que o ar alto perca

Seu azul negro e brando

Mas que espada é que, erguida

Faz esse halo no céu?

É Excalibur a ungida

Que o Rei Artur te deu

Esperança consumada

(Esperança consumada esse) S. Portugal em ser Ergue a luz da tua espada

Para a estrada se ver

Nuno Henrique Duarte

Mestre Maçom

R:. L:. Almada Negreiros

Fernando Pessoa

Grande Percetor

Sociedade global, ética e responsabilidade social das organizações

Este tema foi inicialmente apresentado numa conferência realizada no Hotel da Penha Longa (Sintra) num contexto de debates sobre ética dos profissionais e das organizações de saúde. Simultaneamente e aproveitando o contexto, foi possível assinalar a obra da Professora da Universidade La Sapienza de Roma, Lauretta Napoleoni – O Lado Obscuro da Economia. A citada obra, bem como o presente texto, apesar de alguma antiguidade (2010) a sua pertinência continua atual e ressalta mais evidente dadas as circunstâncias dramáticas de comportamentos desviantes, de difícil controlo e cujas dimensões são infelizmente transversais à Sociedade Global (não redutível apenas ao tecido social português). Uma ideia inovadora da autora reside na sugestão por ela formulada de que a existência de economia fraudulenta, de nepotismos, corrupção institucional e do vasto leque de práticas económicas ilícitas (nomeadamente o branqueamento de capitais) constituem, na atualidade,

CONDIÇÃO NECESSÁRIA PARA A ESTABILIDADE DO SISTEMA ECONÓMICO GLOBAL E FUNCIONAMENTO DA ECONOMIA LEGAL!

Se pensarmos, ao nível dos comportamentos de decisão e de gestão, não apenas o que ocorre entre nós, mas igualmente ao nível das políticas dos Estados, por exemplo, na Rússia, Malta, Luxemburgo, Países Baixos, alguns NarcoEstados, poderemos ser levados a pensar na urgência da criação de soluções. É sabido que vêm sendo pensadas soluções e implementadas algumas medidas de alcance e profundidade diversa, por parte de entidades várias, de índole jurídica, política, comportamental e organizacional, mas que, todavia, se têm mostrado de limitadas consequências corretoras. Assim sendo, este será um modesto contributo, no campo teórico da Ética Organizacional (ou ausência dela), que designarei por Responsabilidade Social das Organizações e que foi sendo atualizada no desenvolvimento da minha anterior prática da docência universitária.

A CRISE DE VALORES DA SOCIEDADE ACTUAL e as INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS Segundo A Guidens e outros, (em Modernização Reflexiva - Política Tradição e Estética no Mundo Moderno, Celta Editores, 2000), a disseminação generalizada e impressiva de um amplo e difuso sentimento de crise, afetando a totalidade do sistema, é conexo com a emergência de importantes disfuncionamentos estruturais e processuais que afetam a vida das organizações e do nosso viver institucional, pessoal e coletivo. Dir-se-ia que a lógica do funcionamento das instituições responsáveis por importantes processos de socialização (Estado, Associação Sindical, Partido Político, Escola, Universidade, Família, entre outras), as quais responderam satisfatoriamente às nossas necessidades sociais e individuais, durante o longo período que culminou com o final da modernidade, vem mostrando dificuldades de resposta adaptativa, perante as novas condições de funcionamento e novos desafios da sociedade global. Corroborando tais asserções, Manuel Castells (A Sociedade em Rede, ed. Gulbenkian) mostra que o (dis) funcionamento atual de bom número de instituições, releva de um desajuste adaptativo face às novas e complexas circunstâncias da mundialização da economia, conexo com o desenvolvimento explosivo das TIC (e consequente instauração gradual de uma nova lógica económica, designada por “capitalismo informacional”), dos desafios colocados pela “sociedade do conhecimento” (obrigando a uma alteração das estruturas e processos organizacionais), da instauração da interatividade das redes, da imprevisibilidade e rapidez das mudanças, entre outras causas. Todavia, “…ao mesmo tempo, as catividades criminosas e as organizações ao estilo da Máfia, também se tornam globais e informacionais, propiciando os meios para estimular a hiperatividade mental e os desejos proibidos, juntamente com toda e qualquer forma de comércio ilícito procurado pelas nossas sociedades, desde o armamento sofisticado aos (comércio dos) seres humanos...” (Castells, op. cit.)

-As considerações precedentes foram inspiradas em literatura diversa, relevando-se sobretudo a obra referida, da Doutora Loretta Napoleoni (O Lado Obscuro da Economia, ed. Presença-2009), na qual se expõe com grande transparência a enorme rede tentacular que representa a nível mundial, a eco-

nomia ilegal, associada às múltiplas modalidades de crime e ao terrorismo, fenómenos que a globalização possibilitou, em paralelo com:A rápida liberalização das economias do antigo bloco do centro e leste e as novas mobilidades tornadas possíveis, bem como; As dificuldades, limitações, inoperância, das instâncias de regulação e controle (nacionais e internacionais) e das despectivas políticas; A conivência passiva ou a cumplicidade dos centros de decisão políticos e financeiros do mundo ocidental.

A obra citada, constitui um excelente exemplo da numerosa literatura que tem vindo a público, colocando diversas questões, nomeadamente, até que ponto as práticas económicas ditas eticamente responsáveis e inclusivamente, a possibilidade de desempenho das nossas profissões não dependerão afinal da “saúde” da economia ilegal e mais preocupante ainda, até que ponto a subversão das práticas eticamente censuráveis na economia e na política não porão em causa a sobrevivência do sistema social global. A autora antevê como possibilidade regeneradora, o reforço da tradicional noção de Estado de Direito e de um novo Contrato Social, com o contributo do desenvolvimento de um tribalismo económico (?) e da pujança das finanças islâmicas (?). Quanto a nós, não sentindo especial competência para discutir tais previsões, cabe-nos apenas reiterar a impressão, sobre a eventual excelência do diagnóstico, que a obra referida acima propõe e avançar, para o que nos parece configurar um contributo interessante, em ordem a lidar com esta problemática.

Vivenciando um preocupante e crescente disfuncionamento ecológico (e não apenas) em plena situação pandémica, talvez valha a pena evocar o que foi referido, há já alguns anos, mas que pode conter alguns elementos e reflexão:

Parece inegável, a existência de um discurso social de suspeição ética e descredibilização, sobre a estrutura e a ação hegemónica de muitas organizações imbricáveis entre si, a começar pela OMS, industria farmacêutica (laboratórios incluídos), passando pelos espetaculares desenvolvimentos científicos e tecnológicos (biomédicos, genéticos, cirúrgicos, medicina molecular, etc.), instituições variadíssimas, estatais e privadas, cobrindo diversificadas e sofisticadas áreas de prestação de cuidados, passando por poderosas

ramificações com que se articula, nomeadamente, a omnipresente indústria agroalimentar, não esquecendo a oculta, perigosa e poderosa contrafação.

Em paralelo, vem sendo publicitada a impressão, por parte de cidadãos anónimos (que financiam o sistema), de que afinal a postura ética tradicional de muitos profissionais, relativamente a certos aspetos pontuais, como os diagnósticos, a prescrição de medicamentos, ou o prolongamento desnecessário de tratamentos, sobrepõe-se (ou leva em linha de conta) eventualmente, a interesses meramente económicos, em convergência com os interesses, dos laboratórios e organizações empresariais diversas, algumas já referidas (desde seguradoras, lares de idosos, hotéis sénior, indústria alimentar e outras). A tudo isto acresce o debate sobre a efetiva etnicidade do complexo e delicado problema da manutenção de estados terminais penosos, com ou sem salvaguarda da dignidade para o paciente, a coberto de um padrão de valores morais, cuja discussão merece igualmente ser efetivada. O debate sobre eutanásia está em aberto em inúmeros pontos do globo.

Na atualidade pressentem-se as profundas alterações a prazo e os novos condicionalismos do exercício da profissão médica e de outros profissionais de saúde, o que em última análise chamará igualmente à colação, as questões que intitulam o presente texto.

É que as expectativas legítimas do prolongamento da vida humana, da melhoria da saúde e qualidade e vida, em resultado dos grandes avanços dos conhecimentos e intervenções médicas, cirúrgicas e científicas, incluem a possibilidade de “efeitos perversos”, ou “colaterais” que é preciso prevenir.

As referências a uma” Medicina da Longevidade” e as especulações sobre o impacte na sociedade global, geralmente incluem, para além da apologética entusiasta das transformações positivas da humanidade, a expressão dos riscos e a descrição de perversões potenciais. Recordemos que o designável Direito ao Prolongamento da Vida e de Aperfeiçoamento da Saúde (Canton, 2008), pode não consignar a distribuição equitativa (democrática) e acesso facilitado, às suas espetaculares promessas ou realizações, criando ou acentuando assimetrias sociais, podendo mesmo fazer emergir questões sociais importantes.

Na obra já bastante referenciada, Lauretta Napoleoni, leva-nos a interrogar sobre as (reais) causas do aumento do consumo do tabaco, sobretudo na Ásia e no Centro-Leste Europeu, contrariamente às aparências e a crescente invasão das tabaqueiras na

indústria alimentar ou ainda, a substituição da gordura por hidratos de carbono, nas dietas alimentares finalizando com uma frase para mim lapidar “…faz-se com que as pessoas fiquem doentes, com alimentos que adoram comer, e depôs, trata-se delas com fármacos e, eventualmente, com cirurgia (angioplastia) …”. Essas causas, radicam num mundo de ilusões que impregnam o moderno consumismo, incorporado numa matriz de mercado, comandado por uma economia marginal, utilizando com rara eficácia o ciberespaço e as novas tecnologias do virtual e da Rede. Embora a fome seja ainda hoje um flagelo em diversas partes do mundo, a abundância de alimentos disponíveis pode não significar um mínimo de qualidade, por questões meramente economicistas e de ganância de lucros crescentes. Passando de lado sobre os custos físicos e sociais de tudo isso e sobre a necessidade de implementação de uma e efetiva pedagogia do consumo (que seria imperativo começar por incidir, nas residências parentais e nas escolas), bem como uma nova forma de produzir, mais ecológica e mais sustentável, inspiro-me, ainda, em Loretta Napoleoni solicitando o olhar para um presente (e para um futuro a curto prazo), pleno de problemas de dimensão global, de dificílima resolução configurando uma possível catástrofe planetária. È neste quadro que a relação ou a interação entre a poluição (química, marítima), a piscicultura, o armamento e indústria naval, portuária e de transportes, as fábricas ilegais de pescado, as alterações climatéricas, a indústria alimentar, a contrafação, a moderna indústria de processamento de tecido humano, convergem numa matriz de mercado, do qual temos pouca consciência da ambiguidade e fluidez, do real e do virtual, tal como no filme Matrix.

-O debate já antigo e recorrente, sobre a complexidade dos processos sociais implicados nesta temática, nomeadamente, quanto ao futuro da sociedade humana, tem já uma longa história, desde o famoso relatório de 1972, do Clube de Roma (“Limites do Crescimento”) e Conferência de Estocolmo do mesmo ano, passando pelo Relatório da Comissão Brundtland (1987, definindo o conceito de Desenvolvimento Sustentável), a Cimeira da Terra (1992), Agenda 21 e Declaração do Rio, a Estratégia de Lisboa e diversos outros acontecimentos e publicações mais recentes, refletindo idênticas preocupações (nomeadamente as grandes opções políticas da U.E. em 2004, para o período de 2007 / 2013). Isso significa que, pelo menos ao nível da retórica, existe uma gradual consciência sobre a necessidade de uma visão holística destes problemas e vontade manifesta na sua concretização.

PARA UMA DEFINIÇÃO DE ÉTICA e da INFORMALIDADE

Em verdade, as questões que aludimos ganham extrema atualidade se as contextualizarmos na atual crise global do sistema e no desajuste ao nível do deficit de comportamentos éticos, individuais e institucionais. Na vasta literatura disponível, a gestão ética, na ótica de alguns autores (Rego e al., 2006), pode ser definida como um sistema de princípios, valores e práticas, adotados pelos centros de decisão de qualquer organização, indo muito para além do objetivo restrito da procura do lucro, incorporando a noção de responsabilidade social e sustentabilidade do negócio. Estas asserções têm uma dimensão operativa dado que, na atualidade, instrumentos analíticos, como os crescentes relatórios de certificação de RSO, são capazes de avaliar com objetividade relativa, o desempenho organizacional ao longo do tempo, ao nível gerencial, social e ambiental. As organizações (não apenas empresariais - PME’s incluídas - mas igualmente todas as instituições públicas e privadas, nomeadamente autarquias, sindicatos, ONG’s e outras), tem todo o interesse em procurarem certificação, já que isso representa novas oportunidades de negócio, novos nichos de mercado, maior otimização nas relações com os stakeholders, imagem institucional positiva, maior competitividade, aumento dos lucros, etc.

Hoje è relativamente pacífica a questão da perca de eficácia organizacional, da quebra de competitividade e insustentabilidade da organização a prazo se aqueles conceitos e práticas, não forem incorporados nas suas estruturas e processos. Todavia, um pouco paradoxalmente, ainda se coloca para muitos decisores, a questão concreta dos limites da ética e da responsabilidade social, perante a imperatividade (ou expectativa da estrutura acionista) de tudo ser admissível para liquidar a concorrência e maximizar os resultados da exploração. Poder-se-ia até, colocar a questão da formulação de juízos negativos, sobre a proficiência profissional do gestor/administrador, se máxime estritos comportamentos éticos imperassem na sua ação, ou na de outros parceiros, agentes económicos e políticos, etc. Em síntese, a questão da adoção da estrita racionalidade na gestão, pode –para alguns - confrontar em qualquer medida, com os princípios da RSO. As considerações precedentes, suscitam a formulação de indagações sobre as causas da resistência à adoção de ações menos éticas por

parte de muitos decisores. Em que medida as práticas de muitos gestores colidem com aqueles princípios e valores?

Em última análise, as razões pelas quais demasiadas vezes não funcionam os códigos da ética radicam no facto de que a cultura dominante, estrutura-se prevalentemente em função de aprendizagens centradas em lógicas de racionalidade instrumental, valorizando a materialidade e sentido utilitário das práticas e especificamente a maximização a todo o custo do lucro e do auto interesse.Daí a nossa insistência em proclamar-se a necessidade urgentíssima, de uma incorporação por via formativa/ educativa, envolvendo todo o processo de socialização e implicando instituições e agentes educativos nomeadamente universitários.

Configurando a importante questão da fraude e da corrupção em Portugal e a imagem da relativa ineficácia das instâncias fiscalizadoras e judiciais, que geralmente se constrói sobre elas, são inúmeras as intervenções retóricas produzidas pelos diversos quadrantes, sobre a necessidade urgente da alteração de tal quadro.

Os próprios agentes económicos, na sua concordância expressa, ao nível do discurso para consumo público, na maioria dos casos, não aplicam efetivas práticas de gestão ética, o que coloca, segundo catuais tratadistas da economia e da gestão, não apenas problemas estruturais de falta de competitividade das nossas empresas e da economia, mas também, efeitos perniciosos no mundo do trabalho.

A situação em Portugal é preocupante e tem sido publicitada, quer por decisores responsáveis, quer por comentadores e articulistas, os quais insistem na efetividade e persistência muito notória dos diversos mecanismos ou fontes de fraude e corrupção, implicando complacências, cumplicidades e inoperâncias nas mais diversas instâncias. Lembro-me num artigo já distante do Jornal O Público (17 Set. de 2003), a propósito do “velho” problema da falta de competitividade da nossa economia, comparativamente com outros países e muito particularmente com Espanha, podia ler-se o seguinte: “…a identificação e a quantificação das barreiras ao crescimento da produtividade nacional constituem a grande revelação do estudo designado Portugal 2010. O maior desses obstáculos chama-se informalidade, expressão que vários assumiram ser a primeira vez que a ouviam aplicada a comportamentos de evasão fiscal e à corrupção e que acompanhado pelas duas “tradicionais” barreiras ao nosso desenvolvimento (o desordenamento do

território e a ainda vivaz burocracia) Project o país para a cauda do pelotão Europeu”.

A dita informalidade, termo académico a que recorreu a McKinsey, para definir o histórico incumprimento dos agentes económicos em matéria de obrigações fiscais, sociais, ecológicas e outras, representava entre nós, já em 2003, cerca de 28% do diferencial de produtividade diretamente solucionável por políticas económicas.

O texto referido, não perdeu em nada a sua atualidade, só que, como nos mostra o muitas vezes citado trabalho de, Loretta Napoleoni (2009), estas situações atingiram uma escala planetária, integrando a própria lógica de funcionamento e manutenção do sistema económico global: a fraude, a corrupção, o tráfego de influências e as inúmeras formas de economia marginal associadas, nas sociedades democráticas, tende a persistir e até mesmo a exponenciar-se, mantendo com as atividades sociais e económicas legalmente instituídas, uma fluidez de fronteiras por vezes imprecisa. Mas, ainda mais preocupante, o que aquela autora acentua com maior preocupação, reside na forte possibilidade de se vir a observar que, as atividades económicas legais, para se manterem, tenderão a depender cada vez mais, do crescimento e contaminação da economia marginal (nomeadamente da lavagem do dinheiro, comércio sexual, imigração clandestina, tráfego de droga, terrorismo financeiro, o jogo, nomeadamente o eletrónico, a contrafação alimentar e de fármacos, entre outras) e que as sociedades democráticas ocidentais - e a correlativa noção de Estado de Direito - não podem ignorar. O condicionamento nefasto exercido pelas organizações criminosas (em crescente internacionalização) sobre as instituições políticas e económicas, as complexas técnicas de lavagem de dinheiro, o seu domínio do comércio do sexo, da droga, do álcool, do petróleo, da contrafação, da pirataria a nível da biotecnologia e da alta tecnologia, vem conduzindo à formulação de propostas e implementação de dispositivos de regulação e de controlo pouco concertadas, geralmente tímidas e pouco eficazes.

BREVE HISTÓRIA DESTA ECONOMIA OBSCURA

Sobre a etapa inicial destes desenvolvimentos, Napoleoni (e outros) referem que os acontecimentos subsequentes à queda do muro de Berlim marcam a transição para uma economia marginal hegemónica a par da ascensão á vida democrática (a partir

da década de 90), de numerosos países do Sudoeste Asiático, América Latina e especialmente do Leste da Europa, como consequência da queda do muro de Berlim e do desmembramento da União Soviética. Tais factos, articulados com as possibilidades abertas por virtude do fenómeno da Globalização implicaram em curto intervalo de tempo, uma enorme mobilidade e penetrabilidade de milhões de cidadãos, errando agora por espaços outrora interditos e que eram fortemente controlados.

Tudo isso teve (tem ainda) efeitos perversos, assinalando a autora com particular relevo a escravatura sexual, assumindo um carácter internacional “nas mãos de protagonistas diversos com particular relevo para as máfias de leste e cujo valor em 2006, se estimava em cerca de 52 mil milhões de dólares”.

Para se perceber a permeabilidade destes fenómenos sobre a economia e as atividades financeiras legais, a referência a um exemplo apenas talvez seja suficiente: só à conta de um único patrão do crime - Semion Mogilecitch - branquearam-se nesta época 10 mil milhões de dólares através do Bank of New York. A transição da ex-União Soviética para o liberalismo económico capitalista realizou-se no completo vazio de um plano adequado de substituição da ordem até então vigente. Em conformidade, nas nações emergentes criou-se um espaço que foi preenchido por predadores económicos.

O processo de democratização plenamente apoiado pelo Ocidente, engendrou forças económicas marginais presentes em atividades tão díspares e tão aparentemente inocentes, como os concursos de beleza, concertos musicais, diversos processos de privatização e obviamente o processo de monetarização da economia Russa.

E nesta conformidade a Rússia tornou-se o paraíso de uma oligarquia saída das velhas instituições como o Komsomol (Mikahail Khodorkovsky, por exemplo) ou a KGB, atuando nos limites fluidos da marginalidade e do mercado negro. Nesta altura (década de 80/90) o FMI e o Banco Mundial que supervisionavam o processo de privatização dos ativos russos ou não tinham a noção de que o Tesouro russo era controlado por um grupo de indivíduos sem escrúpulos, aspirantes a oligarcas que se articulavam muito intimamente com a máfia, ou então, eram manifestamente incompetentes para lidar com o processo complexo da transição de uma economia comunista para o capitalismo. Os lucros obtidos por aqueles personagens eram (são) reinvestidos em países ocidentais, em contas off shore abertas em locais como as ilhas Caimão ou o Chipre. Calcula-se que, na década de 90, a Rússia deve ter sido espoliada em recursos que atingiriam a cifra de 350 mil milhões de dólares, segundo cálculos de Raymond Baker, do Centro para a Política Internacional, em Washington” (Loretta Napoleoni, O Lado Obscuro da Economia, Editorial Presença, 2009).

Atualmente, segundo a autora, o quadro já não configura, é certo, uma mera ação predatória, espoliadora diretamente dos recursos, onde quer que se encontrem, tal como era no início da era Gorbachov/Yieltsin.

Atualmente os mafiosos e oligarcas, acabaram por compreender que a ganância excessiva não teria continuidade futura e assim sendo houve que providenciar a moderação relativa da ganância, em ordem a permitir um mínimo de prosperidade às suas vítimas, ao mesmo tempo que transformam a economia num mutante económico marginal regulamentador do mercado. Para a autora, ainda subsistem outros efeitos

perversos, quer da entrada de milhares de potenciais trabalhadores provenientes da chamada “Cortina de Ferro” e de outras paragens, com consequências nefastas nas condições de trabalho dos congéneres ocidentais, quer pelo fenómeno da deslocalização ou externalização das empresas, com especial relevância para a China que vem comprando obrigações do tesouro dos EUA (financiando o deficit orçamental) em contrapartida das suas exportações para aquele território. O resultado determinou um arrastamento, no qual nações inteiras vêm mergulhando na pobreza e numa profunda anarquia política, criando-se enormes oportunidades bem aproveitadas, para toda a casta de predadores económicos e sociais. De resto, a China, em associação com as suas tríades, que atuam praticamente sem controlo por todo o lado, representa a tábua de salvação da indústria internacional de produtos falsos e da sobrevivência de milhares de fábricas de contrafação existentes não apenas no seu território. Calcula-se que um em cada dois produtos falsos produzidos no mundo seja efetuado por chineses! É conhecida a emergência de um “Estado Mercado” totalitário chinês, anti-humanista, de espantosos deficits legislativos, sociais e laborais, em completa oposição à nossa noção de Estado de Direito. Esta circunstância permite entender o interesse o interesse dos chineses emprestarem dinheiro a países pobres sem aplicarem as regras adotadas pela OCDE, ficando o caminho aberto para a corrupção e tráfico de influências.

Em suma, o processo de democratização promovido e saudado pelo Ocidente perante a liberalização dos países comunistas terá tido, sem dúvida, a contrapartida da emergência de potentíssimas forças não democráticas que guiaram a transição de vários países para o capitalismo global. Este processo deu origem a fenómenos não expectáveis de efeitos perversos, refletindo-se em inúmeros campos, como os que a autora refere. A enorme dimensão e impacto global de economia marginal em crescente sofisticação e atuando em rede torna muito difícil aos profissionais da política, regulamentarem o mercado. As medidas tomadas por um dado país podem possuir um alcance limitado e restrito ou podem (no caso dos grandes países) provocar reações em cadeia com consequências globais e devastadoras. Todavia, grande número de pessoas (políticos inclusive) continua com uma consciência muito limitada, das interdependências económicas marginais, como as que se iniciaram após o desmantelamento de um sistema económico

complexo e predatório (fora da lógica psíquico - cultural do modelo Ocidental), que acabou por fugir ao controlo dos promotores da mudança.

Efetivamente a autora que vimos seguindo, afirma e tenta demonstrar que ninguém controla a “economia marginal”. Esta, como refere, associada à queda do muro de Berlim e à globalização, contribui, por exemplo, para o esvaziamento do mito do “sonho americano”, verificando-se uma aceleração das assimetrias sociais nos últimos quinze anos (estagnação dos salários, falências, a desigualdade de rendimentos, o acesso a cuidados básicos de saúde, entre outros sintomas). Ironicamente, a derrota da Guerra-Fria teve como consequência uma pobreza generalizada do Bloco Soviético, criando os alicerces parta o declínio económico da coluna vertebral dos EUA: a classe média e o fim do “sonho americano”

O exemplo da ex-União Soviética e dos efeitos nefastos sobre os mercados legais não constitui caso isolado: muitos outros países como a Bulgária, China e diversos Estados antes socialistas, as repúblicas da Ásia e África, vão na mesma esteira.

Sob o ponto de vista da superação e contenção destes processos (em ambas as despectivas nacionais e internacionais), torna-se necessária uma concertação amplamente participada e efetiva entre Estados, possibilitando uma intervenção unitária com poder de persuasão e controle, suscetível de a diversos níveis e de forma sistémica, implicar agentes e organizações na sua sustentabilidade. As organizações deveriam posicionar-se em rede e conjugar esforços aos mais diversos níveis colaborando com as entidades estatais.

Cada vez mais se reafirma a necessidade de se definirem linhas de intervenção das diversas entidades em ordem ao robustecimento cada vez maior do Estado de Direito em detrimento do “Estado de Mercado”. Tudo isto conduz à formulação de questões que, embora especulativamente, não posso deixar de colocar: A ser plausível o que acima vimos referindo, questiono-me, sobre que poderá acontecer à paz e à segurança global se Estados como a China, continuarem a crescer sem constituírem uma verdadeira democracia? O que poderá acontecer à paz e á segurança mundial, se aproveitando um conjunto integrado de possibilidades (as novas tecnologias, a impossibilidade de controlo da rede, a fluidez do espaço, a sofisticação da indústria financeira, as incapacidades e fragilidades das Democracias Ocidentais, entre outras), as organizações de traficantes, terroristas, contrafatores unirem esforços, para de-

sagregar ou destruir as instituições mundiais?

UMA VEZ MAIS: CÓDIGOS DE ÉTICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES

Torna-se para muitos cada vez mais óbvio que, dada a fragilidade das instituições de controlo Nacionais e Internacionais e em reforço dos processos de socialização, muitos estudiosos discutem com entusiasmo, a importância das organizações adotarem códigos de ética e de conduta nas sua práticas de gestão ou a sua adaptação no caso de organizações que já as possuem. Em Portugal, como de resto um pouco por todo o lado, as comunidades percecionando a existência de práticas não éticas nas diversas modalidades sociais (e não apenas nos negócios) vêm induzindo, por parte das organizações, a elaboração de documentação escrita visando orientar os comportamentos dos colaboradores. Estes códigos de ética e de conduta explicitam os valores filosóficos e princípios de justiça de uma organização, bem como, as práticas que os devem refletir. Tais procedimentos tiveram a sua origem na década de 70, representando uma prática de tautorregulação, preferencialmente adotada por classes profissionais e por empresas, em lugar da regulamentação governamental. Em conformidade, gradualmente foram surgindo outros mecanismos, como o provedor de ética, a comissão de ética, a auditoria ética, gabinete de aconselhamento, esclarecimento de dúvidas e registo de denúncias de violações.

Não existem muitos estudos sobre o impacto no nosso tecido empresarial, embora sejam conhecidos dados de 2003, que revelam que 41% das empresas estavam atentas ao problema, sobretudo por parte de organizações de certa dimensão. A tipologia é diversa, existindo códigos que exprimem vários critérios e motivações, embora, nem sempre seja fácil estabelecer uma distinção clara: Assim, segundo os autores, existem códigos normativos (formalizam valores e práticas organizacionais), códigos instrumentais (orientam-se para a manutenção ou promoção da reputação organizacional através de uma imagem positiva, procurando otimizar os resultados económicos. Outras tipologias foram sendo estabelecidas em função de diferentes conteúdos, nomeadamente os punitivos, os quais preveem sanções, procurando controlar o comportamento dos colaboradores, ou os códigos baseados em princípios prevendo imple-

mentar ações socialmente responsáveis (sem enfatizar, contudo, como tais ações serão implementadas) ou ainda códigos de natureza mista.

Naturalmente que este documento tem objetivos concretos de interesse empresarial:

- Estabelecem visivelmente a diferença face á concorrência, nomeadamente:

1-Podem permitir a diminuição de riscos e portanto a diminuição dos custos de seguros;

2-Obtêm uma melhor reputação;

3-Melhores relações com stakeholders e clientes;

4-Melhores padrões de qualidade;

5-Permitem uma melhor clarificação do pensamento dos centros de decisão acerca do que dever ser ou não feito;

6- Fornecem o enquadramento de legitimação de opções em dilemas éticos;

7-Incrementam a mútua compreensão e confiança entre colaboradores;

8-Promovem a confiança entre os diversos agentes económicos;

9-Evitam a ocorrências de situações litigiosas, superando os problemas de processos judiciais.

São conhecidas, no entanto, a existência de limitações e dificuldades que sinteticamente procuramos resumir:

a) Não sendo, por um lado, fácil descriminar a grande variedade de problemas éticos que podem surgir, também será verdade que a extrema especificação pode resultar em pouca flexibilidade na aplicação às situações concretas;

b) Pode facilitar a ocorrência de comportamentos indevidos, sobretudo se a sua interpretação permitir concluir que aquilo que não estiver expressamente proibido é consentido. Isto tem probabilidade de acontecer se o código estiver redigido em linguagem positiva;

c) Os processos mutacionais ao nível das organizações e da sociedade (políticos, tecnológicos, económicos, outros), podem resultar numa incongruência e desadaptação das normas no que se refere á sua pertinência e validade;

d) A existência destes códigos, não garantem o eventual conflito entre normas, par além do facto de que só por si, não garantem a observância de princípios éticos e de boas práticas;

e) Os princípios e as orientações neles consignadas apenas serão efetivadas em estreita sintonia com os valores e da idoneidade das lideranças e dos colaboradores em geral.

NOTAS FINAIS

Muitas outras situações se poderiam identificar, mas o que fica expresso lança a compreensão, para a grande divulgação e adesão entusiástica, perante uma nova conceção em que as organizações decidem subordinar à sua atuação aos princípios do desenvolvimento sustentável, assumindo uma postura institucional de observação e prevenção dos impactes sociais, económicos e ambientais, decorrentes da sua atividade. Se a questão da sustentabilidade está razoavelmente assimilada pela comunidade empresarial, pelos decisores organizacionais e das instituições em geral, o mesmo não se pode afirmar do seu reflexo em boas práticas e da sua integração nos objetivos estratégicos das organizações. É neste contexto que o debate e a adoção de um conjunto de princípios e ações, inspirados em documentos que ao longo do tempo foram conhecendo diversas versões, vulgarmente designados por GRI (Global Reporting Initiative), da iniciativa das Nações Unidas, vêm adquirindo uma extraordinária relevância. Em Portugal, sobretudo a partir de 2004, assistiu-se a um importante movimento de adesão, em ordem à transposição de tais princípios, por parte de algumas grandes empresas e organizações públicas e privadas independentemente dos fins lucrativos.

De um modo geral as organizações percecionam o interesse estratégico no estabelecimento de parcerias com entidades consultoras desencadeando um conjunto de procedimentos complexos e que culminam em ordem à elaboração e publicação de relatórios periódicos de sustentabilidade (RSO).

Concretamente tudo isso mostra-se decisivo em termos de imagem positiva e novas oportunidades de negócio e vantagens competitivas dado que:

-Permite manter e fortalecer os níveis de confiança entre a instituição e os stakeholders;

-Permite uma maior integração entre funções diversas como Finanças, Marketing, I & D e outras operações;

-Identifica desafios e oportunidades nos diversos âmbitos de atuação, no relacionamento externo e na Imagem Corporativa;

-Permite avaliar e medir o valor das práticas de

sustentabilidade, relativamente à estratégia da organização e competitividade;

-Por virtude da relativa complexidade e custo não negligenciável de todo o processo, e pretendendo-se ajudar as PME’s, a GRI, lançou no decorrer da Conferência Europeia sobre Responsabilidade Social (2004) o Manual “High 5” constituindo um guia prático de implementação e aconselhamento na utilização das diretrizes da GRI. Em Portugal, em consequência da constituição do grupo multistakeholder da GRI, a quantidade de candidaturas aos prémios nacionais e europeus para a elaboração de tais relatórios vem subindo em flecha. A credibilidade desses relatórios de sustentabilidade é essencial para que o respetivo relato mereça a confiança dos seus utilizadores. Para isso, todo o processo deve ser verificado por auditores que cumpram requisitos como, a independência funcional de ação, capacidade de compreensão relativamente às partes envolvidas, não envolvimento nos sistemas internos e naturalmente, competência profissional para a sua execução. No interior de cada sociedade um contributo importante para a banalização das boas práticas de RSO, em todo o tecido organizacional, passaria, pela concessão de um forte apoio público, destinado a fomentar as auditorias e relatórios de sustentabilidade, em todo o tipo de Organizações, incluindo as empresas e dentro destas, as PME’s. As referências que atrás fizemos ao enorme défice de comportamentos legais e legítimos, nomeadamente, à corrupção e falta de ética dos agentes económicos e políticos, indiciam, certamente, a ponta de um enorme icebergue, exprimindo uma crise ampla e profunda que perpassa todas as modalidades do social.

Não parece hoje, expectável que os processos de socialização e nomeadamente os educativos/formativos, que ocorrem ao longo da experiência de vida dos sujeitos, sejam suscetíveis de, por si só, fazerem emergir de forma permanente e consistente os comportamentos organizacionais adequados ao século XXI.

É nesse sentido que também, vimos propondo para todos os cursos e graus do ensino superior, a obrigatória formação e pesquisa, sobre todo e vasto e complexo campo da Ética e do Comportamento Organizacional.

Numa sondagem realizada por alguns órgãos de comunicação social em anos recentes, a grande maioria dos empresários inquiridos ainda associava erradamente, o êxito empresarial e a sustentabilidade do seu negócio, à eventualidade da adoção de comportamentos, hoje considerados menos éticos. Na atualidade, todavia, tal posição vem gradualmente sofrendo alterações, havendo já um apreciável número de empresários, que ao menos sob o ponto de vista da retórica, percebem que a ética nas suas múltiplas vertentes e implicações, tem impacto importante na eficácia organizacional,

maximizando o sucesso do empreendimento e a sua sustentabilidade.

Dissemos acima que, existe a perceção da RSO, poder constituir uma via para a implementação de uma imagem corporativa positiva, possibilitando novas oportunidades, faltando apenas facilitar, banalizar e disseminar o processo, no universo das PME’s. Todavia isso não tem obstado à adesão em Portugal de um apreciável número de organizações, adotando gradualmente os diversos requisitos da Responsabilidade Social e implementando parcerias com entidades consultoras externas com as quais definem um programa de certificação por fases, geralmente por um período anual.

Na verdade, as vantagens que esta técnica (de consultoria) e o dispositivo utilizado possibilitam (culminando com a certificação periódica), não se fundamenta em possíveis atitudes altruístas ou éticas, assumidas voluntariamente pelas entidades responsáveis.

As possibilidades radicam antes, em suscitar um crescente interesse por parte dos centros de decisão, de todo o género de organizações públicas ou privadas (não apenas empresariais, mas também, Autarquias, IPSS, Fundações, Hospitais, Clínicas, Associações, Cooperativas, outras), no sentido prático de que tal ação, aumenta a eficácia organizacional, possibilitando novas oportunidades de negócio, num mercado altamente competitivo.

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Seitz, Jonh L. (1995) Questões Globais, Uma Introdução, Lisboa, Instituto Piaget.

Verdu, Vicente, (2009) O Estilo do Mundo- A vida no capitalismo de Ficção, Lisboa, ed. Fim de Século.

David Sylvian por Paulo Réfega

David Sylvian, de seu verdadeiro nome David Alan Batt, é um músico inglês nascido a 23 de Fevereiro de 1958.

O seu percurso musical começou pelos Japan, banda formada no ano de 1974, em Catford, sul de Londres, sendo os seus membros David Sylvian (vocais e guitarra Mick Karn (baixo fretless, saxofone), Richard Barbieri (teclados), Rob Dean (guitarra principal) e Steve Jansen, irmão de David Sylvian (bateria). Ao longo de sua carreira, passaram do som glam rock/new

romatics dos seus dois primeiros discos para um som técnico e experimental, dando assim o mote à carreira a solo de David Sylvian. Mick Karn merece uma referência especial, pois era um baixista extremamente original e talentoso, que faleceu em 2011.

Os Japan lançaram quatro discos de estúdio e um disco ao vivo, tendo terminado em 1982. O álbum de 1981, Tin Drum é considerado a obra-prima do grupo, com fortes influências orientais, principalmente chinesas, resultantes

David Sylvian

de viagens pelo extremo oriente. Há alguma ironia no facto de uma banda chamada Japan tocar música de influência chinesa… O disco ao vivo Oil on Canvas foi também lançado em vídeo e filmado num concerto em Londres. Numa inovação para a época, enquanto os músicos tocavam eram mostradas em fundo filmagens feitas por eles nas viagens ao extremo oriente. O álbum Tin Drum incluía o maior êxito da banda, o single Ghosts, mas outras músicas dos Japan que merecem ser realçadas são I Second That Emotion, Quiet Life, Gentlemen Take Polaroids, Cantonese Boy, Visions of China.

A carreira a solo

No período de tempo entre a dissolução dos Japan e 1991, David Sylvian iniciou uma carreira a solo, tendo colaborado inicialmente com Ryuichi Sakamoto. A música Forbidden Colours, em 1983 (da banda sonora do filme sonora de Merry Christmas, Mr. Lawrence) é talvez o seu maior êxito internacional.

Lançou 19 álbuns de estúdio, alguns deles absolutamente experimentais, com música ambiental, electrónica e influências de jazz. Alguns destes álbuns experimentais deram origem a documentários lançados em vídeo. Em 1990, Sylvian colaborou com os artistas Russell Mills e Ian Walton numa elaborada instalação multimedia

usando som, escultura e luz intitulada Ember Glance – The Permanence of Memory.

Em 1991 foi lançado um álbum da banda Rain Tree Crow, que não são mais que os membros do Japan.

Em 2005, com elementos dos Japan, fundou a banda Nine Horses, em cujos dois únicos álbuns colaboraram vários músicos, incluindo o novamente Ryuichi Sakamoto.

Ao longo da carreira, Davis Sylvian colaborou com grandes músicos, muitos deles pouco conhecidos pelo grande público, como Jon Hassell, Holger Czukai e Robert Fripp. Apesar de problemas pessoais e de saúde, continuou a lançar discos e a dar concertos, muitos deles mais electrónicos e experimentais, tocando com vários

e profundidade. É por isso pouco conhecido do grande público, mas tem uma pequena mas fiel legião de admiradores, incluindo muitos artistas e músicos de renome. O seu reconhecimento como um grande artista é mais do que merecido e a sua descoberta torna-nos mais ricos, tanto musical como espiritualmente.

músicos de grande qualidade, tendo sido curador de festivais de música e arte. O seu último álbum até à data é uma reedição da colaboração com Holger Czukai intitulado Plight & Premonition, lançado em 2018. O seu último trabalho até à data é um ensaio fotográfico, lançado em 2021 intitulado ERR.

Sylvian sempre foi muito espiritual, tentando descobrir-se, questionando-se constantemente e tentando libertar-se de todas as emoções negativas. Algumas das suas mais belas canções refletem essa espiritualidade, como a já referida Ghosts, I Surrender e Let The Happiness In, mas outras músicas que merecem realce são Orpheus, Taking the Veil, Red Guitar e Black Water.

Acabou por deixar as suas raízes cristãs para trás, e tendo explorado várias filosofias, desde as obras de Gurdjieff ao Gnosticismo e ao Budismo Zen, aceitando o budismo como seu principal caminho espiritual. Claro que estas explorações se refletem na sua música e letras.

Detentor de uma voz original e facilmente reconhecível, David Sylvian desenvolveu uma carreira esotérica e de longo alcance que abrangeu não só discos a solo como também uma série de colaborações, incluindo fascinantes incursões em cinema, fotografia e arte moderna. Nunca procurou o sucesso comercial, tendo sempre pautado a sua carreira pela busca da qualidade

O Fado da Saudade por Vasco Lima

Era fim-de-semana e fui dar uma volta pela praia e como de costume deixar-me guiar pelo som das ondas que me equilibram os sentidos.

Deixei que as memórias recentes me abraçassem as ideias para conseguir escrever, algo que fosse interessante, num tumulto inconstante de dúvidas e receios talvez ainda em processo de reintegração pós pandemia.

Recordo o dia ainda em plena época pandémica resolvi dar uma volta por Lisboa, cosmopolita e ao mesmo tempo bem caracterizada pelos seus

bairros, que sempre foram o perfume e a magia do contraste Lisboeta.

Era fim do dia, passo pela baixa subo à Sé e sigo por Alfama em apelo às saudades dos inícios de noite com a azafama característica das casas de fado, dos fadistas e amigos que sempre encontrei no Largo do Chafariz de Dentro, na esplanada do Chave d`Ouro, onde tantas vezes ficávamos à conversa até o fado começar, na Baiuca, na Parreirinha, na Taverna del Rei, na Esquina de Alfama, e acabar a noite na Mesa de

Frades ou passar pela tasca do Tino de madrugada, para comer a deliciosa sandes de carne assada regada com uma bela imperial.

Memórias que de repente me fizeram sorrir, lembrando grandes momentos repletos de boa gente, simples e sempre como fado no coração.

Deparo-me com um absurdo silêncio, parecia que Alfama dormia, não se ouviam as guitarras nem os fadistas nem os aplausos, nem as suas gentes na azáfama de fim do dia.

A pandemia tudo fechou e a vida do bairro também.

Pareceu-me que uma época tinha passado mas que deixou algum rasto e algum lastro em mim.

O bairro mudou muito, a própria cidade já tinha mudado, alterou-se vertiginosamente em termos de espaços vividos e também de vivência. As pessoas que aqui vivem hoje são muito diferentes das que habitavam há dez ou vinte anos, em classes sociais, e até nacionalidades.

Os protagonistas e os espaços que foram lugares de convívio e de consumo cultural, sobretudo à noite, estavam mudos em silêncio.

Restaurantes e tabernas de Alfama, figuras conhecidas da cultura, músicos, artistas, atores, escritores e poetas, e as gentes do bairro anónimos castiços aguerridos na sua vida e no seu fado.

Era uma realidade, Lisboa descaracterizou-se, as casas de pasto, as tascas de comes e bebes,

onde por poucos euros nos podíamos aviar ao balcão com uma “sandocha” acompanhada por um rissol de camarão ou um croquete e ainda um “penalti”, um copo de três ou um galão com um bolo de arroz.

O Bairro era uma aldeia dentro da cidade, com costumes próprios onde o fado éra a sua língua.

Estes sítios únicos foram desaparecendo numa voragem comercial, capitalista e neoliberal dos tempos que correm.

E o fado, onde é que ele está?

Vai sobrevivendo conforme pode, das memórias de Amália e dos fadistas antigos que

para além da pele numa sintonia que toca o sentido inconsciente de todos os que o escutam.

Hoje já acordaram as guitarras e os fadistas, mas faltam as gentes dos bairros, a característica da linguagem do fado, de Alfama, do Bairro Alto, da Mouraria e da Madragoa.

Que saudades que eu tenho de um futuro, onde o esplendor de ser Português e da Portugalidade nos torna únicos na forma de Ser e Estar.

Como disse Fernando Pessoa;

“A minha pátria é a língua Portuguesa”

passavam o testemunho aos novos, em muitos casos hoje descaracterizado pelo imediatismo de uma pertença modernidade que lhe altera a linguagem com a desculpa vã da modernidade.

O Fado da Saudade que cantou Carlos de Carmo diz:

“ Nasce o dia na cidade, que me encanta Na minha velha Lisboa, de outra vida E com um nó de saudade, na garganta Escuto um fado que se entoa, à despedida”

Digo tantas vezes aos artistas, cantores e alunos com quem trabalho que escutar música só faz sentido, captando a emoção da sua forma e isso é o Fado, as palavras e as melodias que vão

Fernando Correia. Jornalista, comentador de rádio e televisão, professor, nasceu em 1935 e dividiu a sua infância entre a Mouraria, o Alto de Santo Amaro e São Domingos de Benfica.

Entrou para a Emissora Nacional em 1958. Trabalhou depois na RDP, Rádio Clube Português, Rádio Comercial e TSF. Foi diretor do Diário Desportivo, redator e colaborador dos jornais Record, A Capital, O Diário, Gazeta dos Desportos, Jornal de Notícias e Diário Popular. Sportinguista assumido, colabora também com a Sporting TV, depois de ter sido diretor-adjunto e diretor do jornal do clube.

Casado, pai de cinco filhos e avô de dez netos é autor de dezenas de livros nas mais variadas áreas temáticas, desde livros infantis a ensaios e romances.

Os Novos Pedreiros Livres

para um melhor entendimento da Arte Real

A Grande Loja Soberana de Portugal acaba de editar um livro sobre iniciação maçónica, notoriamente uma obra de grande utilidade para uma melhor compreensão da Maçonaria, das suas finalidades, das suas motivações, das suas propostas, nem sempre bem compreendidas pelo mundo profano.

Havendo várias obras publicadas, de boa qualidade, sobre a Arte Real, percebeu – se, no entanto, que não havia nada escrito sobre experiências individuais, nem sobre aquilo que um Ser Humano se obriga a saber quando entende ter chegado a hora de escolher um outro caminho, sob o ponto de vista espiritual, que lhe abra diferentes perspectivas de chegar ao Oriente Eterno.

Este livro ajusta – se perfeitamente a esse desígnio e faz revelações muito interessantes acerca dos mistérios da Maçonaria, ao mesmo tempo que anuncia outras obras, de reconhecidos e meritórios autores, que devem ser lidas para se entender, de forma definitiva, as grandes revelações do espírito.

Pode dizer – se que este era o livro que faltava e foi agora escrito por Fernando Correia, merecendo ampla divulgação e uma leitura atenta de um texto revelador.

“Os Novos Pedreiros Livres” tem o patrocínio da Soberana e inclui um Prefácio do Gão-Mestre, Abílio Alagôa da Silva, e um Posfácio do Past Grão-Mestre, João Pestana Dias.

Foi tratado graficamente e paginado pela Miau Digital Agency, de Christian Honn, incluindo fotos de Tomás Arantes, Bruno Melão e do próprio arquivo da Soberana.

O livro está disponível para venda ao público em geral, preferencialmente por encomenda direta à “Soberana”.

O ódio de Hitler pela Maçonaria ficou claramente documentado, em 1931, quando as autoridades do partido nazi receberam um “Guia e Carta de Instrução”, que declarava: “A hostilidade natural dos camponeses contra os judeus, e sua hostilidade contra o maçom como um servo dos judeus, devem ser trabalhados até um frenesi.”

“LIBERTÉ CHÉRIE”

A Loja Maçónica fundade em pleno Campo de Concentração Nazi! por João Alves dos Reis

Quando Hitler subiu ao poder, as dez Grandes Lojas da Alemanha foram dissolvidas pela então criada Ahnenerbe Forschungs- und Lehrgemeinschaft - conhecida como Ahnenerbe (do alemão, significando Comunidade para a Investigação e Ensino sobre a Herança Ancestral) - foi uma organização fundada para realizar e divulgar investigações em apoio à ideologia nazi e a suas teorias sobre a suposta superioridade da raça ariana. Tratava-se de um instituto de pesquisa criado por Heinrich Himmler, líder máximo das SS.

A pedido de Himmler, em 1942, a Ahnenerbe procedeu a experiências medicinais nos campos de concentração em prisioneiros, principalmente em Dachau e Natzweiler-Struthof, assim como servia de veículo de repressão e captura de Sociedades Secretas sediadas nos territórios sob domínio nazi. Muitos maçons, entre os mais dignos e proeminentes membros das Grandes Lojas, foram enviados para os campos de concentração. A Gestapo aproveitou a lista de membros das Grandes Lojas e saquearam os Templos e os espólios como bibliotecas e coleções de objetos. Grande parte desse tesouro foi então exposto numa “Exposição Antimaçónica”, inaugurada em 1937 pelo Dr. Herr Joseph Goebbels, em Munique. A exposição foi completamente mobiliada com os móveis dos templos maçónicos.

A perseguição foi-se estendendo mesmo para a Áustria, quando o país foi capturado pelos nazis. Mestres de várias lojas maçónicas de Viena foram imediatamente confinados nos mais notórios campos de concentração, inclusive o horrível inferno em Dachau, na Baviera. O mesmo procedimento foi re-

petido quando Hitler invadiu a Checoslováquia e o mesmo na Polónia. Imediatamente, após conquistar a Holanda e Bélgica, os nazis ordenaram a dissolução das lojas maçónicas nesses países. Quando a França foi tomada, o Grande Oriente da França e a Grande Loja Francesa foram dissolvidas, sendo os seus bens apreendidos e vendidos em leilões. Procedimento idêntico foi tomado pelo General Franco, aliado fascista do regime alemão, na Espanha em 1940, quando automaticamente condenou todos os maçons do reino a dez anos de prisão.

O ódio de Hitler pela Maçonaria ficou claramente documentado em 1931, quando as autoridades do partido nazi receberam um “Guia e Carta de Instrução”, que declarava: “A hostilidade natural dos camponeses contra os judeus e sua hostilidade contra o maçom como um servo dos judeus, devem ser trabalhados até um frenesi.”

No Manual Oficial do Ensino da Juventude Hitleriana - “The Nazi Primer” – determinava-se que deveriam ser atacados os maçons, os marxistas e as igrejas cristãs; ensinava que a igualdade entre todos os homens praticada pelos maçons era um equívoco, pelo qual estavam meramente na demanda pelo Poder sobre o mundo.

Em 7 de abril de 1933, Hermann Goering, que quase chegou a ser maçom, reuniu-se com o Grão-Mestre Von Heeringen, da Grande Loja da Alemanha, dizendo-lhe que não havia lugar para a Maçonaria na Alemanha nazi.

Apesar do massacre nas instituições maçónicas durante esse período, e o confinamento em campos de concentração, os “Filhos da Viúva” nunca deixaram de vivenciar o espírito maçónico. Vencendo to-

das as dificuldades, em 15 de novembro de 1943, sete maçons belgas e lutadores da Resistência fundaram, dentro da Barraca nº 6 do campo de concentração de Hut Emslandagler, na cidade de Esterwegen, na Alemanha, a Loja Maçónica “Liberté Chérie” (Querida Liberdade).

O nome do Loja foi inspirado na “La Marseillaise” – o Hino Nacional da França - composto por Claude Joseph Rouget de Lisle, em 1792, um oficial do exército francês e músico autodidata, da divisão de Estrasburgo, como uma canção revolucionária. A canção adquiriu grande popularidade durante a Revolução Francesa, especialmente entre as unidades do exército de Marselha, ficando conhecida como “La Marseillaise”.

Os Maçons eram enviados para os campos de Concentração como prisioneiros políticos e forçados a usar um “Triangulo Vermelho Invertido”. Motivo pelo qual ele aparece no brasão da Loja. Franz Bridoux foi preso e enviado para Esterwegen, onde conheceu os Maçons e a Loja por eles fundada, foi o responsável pelas pesquisas sobre a história da sua fundação.

O primeiro comboio de presos políticos NN (Nacht und Nebel) chegou a Esterwegen no dia 21 de maio de 1943 e o segundo em 28 de maio de 1943. Dentro deles, os primeiros maçons: Franz Rochat (1908-1945), farmacêutico, colaborador do jornal clandestino “La Voix des Belges”, foi iniciado na Loja Maçónica “ Les Amis Philanthropes N°3”, em Bruxelas; Jean Sugg (1897-1945), representante comercial de produtos farmacêuticos, membro da Resistência e

membro da Loja “Les Amis Philanthropes N°3”; Guy Hannecart (1903-1945), advogado, dirigente do jornal “Voix des Belges” e membro da mesma Loja, Paul Hanson (1889 - 1944), Juiz de Paz, em Louvain, pertencente ao serviço de informações belga e membro da Loja “Hiram”, na cidade de Liège. Estes quatro maçons foram os responsáveis de iniciar os preparativos para a fundação da Loja.

Relativamente isolados, os quatro fundadores puderam fazer as primeiras reuniões, ainda como uma espécie de Triângulo Maçônico. Porém, com a chegada de novos Irmãos, transformar-se-ia em Loja Maçónica, a “Liberté Chérie”. Ocorriam reuniões na parte interior nos fundos das Barracas nº 5 e nº 6, ainda que improvisadas, porém com redação de atas e discussões maçónicas.

Em meados de outubro de 1943 chegam a Esterwegen os maçons Luc Somerhausen (19031982), jornalista, iniciado na Loja “Action et Solidarité”, ao qual coube a tarefa de escrever os estatutos da futura Loja, dada sua experiência maçónica e, mais tarde, em comunicado por ele enviado ao Grande Oriente da Bélgica, obter o reconhecimento oficial da Loja “Liberté Chérie”. Joseph Degueldre (1904-1981), médico, membro da Loja “Travail”, em Verviers, e membro do Serviço Secreto do Exército Belga. O grupo dos sete fundadores completou-se em 22 de novembro de 1943, com a chegada do Irmão Amédée Miclotte (1902 - 1945), professor, membro da Loja

“Verdadeiros Amigos da União e Progresso”. Com ele o número mínimo de sete irmãos maçons para a fundação da Loja fora alcançado e, em 15 de novembro de 1943, a criação da Loja e o seu reconhecimento, na segunda metade de novembro de 1944. Coube ao Irmão Paul Hanson a honra de ser eleito o seu 1º Venerável Mestre.

Fernand Erauw - Diretor no Ministério do Exército e Tenente do Exército do Serviço Secreto Belga - foi iniciado na Loja “Liberté Chérie”. Após a primeira reunião, com a admissão do novo irmão, outras sessões foram preparadas tematicamente. Uma delas foi dedicada ao símbolo do Grande Arquiteto do Universo, outra ao “Futuro da Bélgica” e mais uma “A posição das mulheres na Maçonaria”. O Irmão Luc Somerhausen descreveu a iniciação do Irmão Fernand Erauw como uma cerimónia muito simples. Em verdade, devido às precárias condições e a iminência de serem descobertos a qualquer momento, os rituais praticados eram o mais simplificado possível.

A “Liberté Chérie” foi uma das poucas Lojas Maçónicas fundadas dentro de um campo de concentração nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Na barraca nº 6 haviam militares, funcionários públicos, médicos, advogados, jornalistas, padres, professores, estudantes, comerciantes, trabalhadores e aristocratas. Os grupos foram-se formando por afinidades linguísticas e pela participação de alguns de

seus membros na Resistência.

Como estratégia, para que os irmãos pudessem realizar suas reuniões em sigilo protegido, traziam sacerdotes católicos para orações coletivas em voz alta, para os demais prisioneiros do Barraco nº 6, enquanto realizavam suas reuniões maçónicas. Os fiéis eram muito mais numerosos e, no domingo pela manhã, reuniam-se na parte inferior do dormitório para a missa. Então, relativamente isolados os maçons podiam fazer as suas sessões.

De todos os membros da Loja “Liberté Chérie”, apenas, os Irmãos Somerhausen, Franz Bridoux e Erauw sobreviveram ao holocausto. Devido ao extermínio de seus demais membros, a Loja encerrou suas atividades no início de 1944.

Um monumento criado pelo arquiteto Jean de Salle foi levantado pelos maçons belgas e alemães, no dia 13 de novembro de 2004. Hoje, ele faz parte do memorial do Cemitério de Esterwegen.

Wim Rutten, o Grão-Mestre da Federação Belga dos Direitos Humanos assim se expressou durante o ato de fundação: “Nós estamos aqui reunidos, hoje, neste cemitério, em Esterwegen, não em luto, mas para expressar o livre pensamento, em público, em memória de nossos irmãos. Os direitos humanos, jamais, devem ser esquecidos”.

O maçon faz maçonaria onde quiser porque esta vive em si.

M:.M:. João Alves dos Reis, R.L. Gen. Gomes Freire de Andrade N°7

General Correia Barreto

Um

“pupilo” do exército

O general António Xavier Correia Barreto foi um militar ilustre e um republicano convicto que assumiu funções governamentais como Ministro da Guerra, por duas vezes, tendo sido distinguido com a mais alta condecoração (em grau) da Ordem Militar de Avis.

Foi iniciado em Maçonaria na Loja Portugal e distinguiu – se pelas suas acções solidárias e pela forma diferente que teve de viver em sociedade, intitulando – se um “servidor público”, sempre ao dispor da causa geral.

Faleceu em 1939 (mês de Agosto) e deixou como obra de grande mérito a fundação do Instituto Profissional dos Pupilos do Exército de Terra e Mar, instituição que ainda hoje marca a vida portuguesa em termos de formação académica e militar.

Era um homem bom que procurou sempre servir a Pátria e o povo de forma desinteressada, tornando – se num exemplo a seguir.

O General Correia Barreto também se distinguiu pela sua formação em física e química, tendo descoberto a forma de fabricar pólvora sem fumo, contrariamente ao que acontecia até então.

A “Soberana” deu a uma das suas “Lojas”, a celebrar agora três anos de existência, o nome de Correia Barreto, o que para além de ser uma justa homenagem a um grande homem, constitui um acto de justiça, porque as pessoas que se vão da lei da morte libertando, pela forma como souberam interpretar a sua passagem pela vida, justificam ser recordadas e respeitadas pela sua boa memória. É o que fazemos aqui.

“Musa

dos Glaciares I” por XicoFran

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