Jul2020 "Carrossel sombrio e outras histórias" - Inéditos

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Carrossel sombrio e outras histรณrias


julho/2020 TAG Comércio de Livros Ltda. Rua Câncio Gomes, 571 | Bairro Floresta Porto Alegre - RS | CEP: 90220-060 (51) 3095-5200

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Redação Fernanda Grabauska Luísa Santini Januário Igor Natusch produto@taglivros.com.br Revisão Caroline Cardoso Rafaela Pechansky Impressão Gráfica Eskenazi Projeto Gráfico Bruno Miguell M. Mesquita Gabriela Heberle Paula Hentges Kalany Ballardin design@taglivros.com.br Capa Pedro Corrêa pedro@pedrocorrea.com 2


Ao leitor Respire fundo ao embarcar neste carrossel: é para dar medo mesmo. O termômetro do terror é esse, afinal. Você vai se se sentir perturbado; os mais suscetíveis terão dificuldade para dormir. Mas o livro que você recebe neste nosso aniversário é de um autor experiente. Joe Hill chega à TAG com a promessa de cativar quem dá sua primeira chance à literatura de terror e de renovar o laço de quem é fã da arte do assombro. Nesta revista, você conhecerá melhor o autor de Carrossel sombrio e outras histórias, e mais: este seu livro, repleto de referências para fãs dos mestres do terror, não só terá aqui essas referências destrinchadas como será feito em partes (no melhor estilo Jack, o estripador) para que seja melhor apreciado. Passeando por todos os contos do livro, você saberá mais sobre o contexto e verá referências que pode ter perdido em uma primeira leitura. Esperamos que você goste! Com carinho, Equipe TAG


Este mês na sua caixinha A caixinha de julho é mais do que especial, pois marca os seis anos de existência da TAG, e, no aniversário do clube, quem recebe o presente é você: cereja do bolo, o livro de contos inéditos deste mês traz treze narrativas de suspense escritas por Joe Hill, uma das vozes mais proeminentes na literatura de mistério atual. Duas das histórias são coassinadas por Stephen King, pai do autor e considerado por muitos o mestre do terror. Cada conto traz elementos ilustrados pelas mãos de Pedro Correa, ilustrador freelancer responsável por dar vida ao universo de fantasia que permeia as páginas da obra. Além disso, preparamos uma revista cheia de curiosidades e elaboramos uma case de livros exclusiva em neoprene — Giovanna Cianelli foi a designer escolhida para estampar o mimo, inspirado nos cenários e nas referências literárias da antologia. Boa leitura!

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Sumário 04

Muito mais que um nome bonito

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O bizarro carrossel de Joe Hill

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A árvore genealógica da família King

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Embarque nesse carrossel

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Próximo mês

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Muito mais que um nome bonito Ser filho de Stephen King não deixa de ser um problema daqueles caso você também queira ser um escritor, mas Joe Hill, nosso nome do mês, tirou esse desafio de letra. Pode acreditar.

Joe Hill em Creepshow

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Você talvez já conheça Joe Hill há muitos anos – apenas não lembra, em especial se gosta dos filmes de horror baseados em histórias de Stephen King. Filho do meio de Stephen e Tabitha King, nascido em 4 de junho de 1972, o jovem Joseph Hillström King fez uma participação em Creepshow (1982), filme dirigido por George Romero e baseado em histórias escritas por Stephen. Ele é a criança que aparece no prólogo e no encerramento do filme: proibido de ler quadrinhos por seu pai autoritário, ressurge no final com uma vingança, causando dores por meio de um boneco de vodu. Participar de Creepshow foi um evento definidor na


vida do jovem Joe: mais até do que a influência do pai, foi a convivência com o técnico em efeitos especiais Tom Savini que despertou nele a paixão pelo horror. Como o próprio Joe recorda no prefácio de Carrossel sombrio e outras histórias, foram sete dias assistindo Tom "assassinando pessoas artisticamente e inventando monstros deformados e inesquecíveis" – um deles o próprio Stephen King, transformado em criatura do pântano em um dos segmentos do filme. "Savini foi meu primeiro rock star", recorda Joe e, com uma inspiração dessas, não surpreende que o garoto de dez anos tenha mesmo se embrenhado nas trilhas do horror. Ser filho de uma lenda da literatura não é um problema quando você está disposto a aprender a escrever histórias. Quem não gostaria de ter alguém com tamanho currículo lendo seus primeiros esforços literários? No entanto, as coisas ficam complicadas quando você toma coragem e decide publicar suas obras. Disposto a provar que era capaz de ser um escritor consagrado pelos próprios méritos, John Hillström King virou Joe Hill – um nome pouco chamativo, incapaz de apontar a ligação entre o autor novato e o escritor multimilionário. Uma estratégia que não é inédita ao próprio Stephen King: por anos ele publicou obras sob o pseudônimo Richard Bachman – algo que deu tão certo que revistas literárias escreveram que Bachman era o melhor nome do horror a surgir desde… Stephen King. O primeiro livro de Joe Hill, Fantasmas do século XX (2005), foi publicado originalmente por uma editora independente e com tiragem limitada. Mas o pequeno número de cópias não foi suficiente para que a obra passasse despercebida: ganhou o prestigioso Bram Stoker Award de "melhor novidade no horror", concedido pela Horror Writers Association a escritores promissores do gênero, e foi alvo de honrarias semelhantes por parte do International Horror Guild e do British Fantasy Awards. Sem que ninguém soubesse da linhagem de Joe, o escritor começou uma trajetória ascendente na literatura fantástica – uma promessa que logo mostrou a que veio. 5


O primeiro romance, Heart-shaped box (2007), lançado no Brasil com o título A estrada da noite, consolidou Joe Hill na linha de frente do horror contemporâneo. A história de Judas Coyne, roqueiro cinquentão que coleciona objetos macabros e adquire um fantasma em um leilão na internet, tornou-se um best-seller, foi licenciada em mais de 20 países e teve direitos para cinema vendidos para ninguém menos que a Warner Brothers – o filme acabou parando nas etapas iniciais de produção. História semelhante ao sucesso de Stephen King, que estourou no romance de estreia, Carrie, e sinal de que Joe não precisava do sobrenome famoso para se destacar. Foi nessa época que o pedigree literário do autor revelação se tornou de conhecimento público: após alguns anos de especulações, a verdade surgiu na imprensa. Até então, nem mesmo os editores de A estrada da noite sabiam do parentesco. Joe Hill aceitou a revelação sem maiores dramas: reconheceu a verdade em entrevistas, lamentando apenas não ter conseguido manter o segredo por mais tempo. Depois do reconhecimento pelos livros, Joe Hill partiu para os quadrinhos. Entre 2008 e 2013, foi o roteirista da HQ Locke & Key, ilustrada por Gabriel Rodríguez e que narra a jornada da família Locke. Em sua mansão mágica, as chaves têm poderes mágicos e abrem portais para entidades perigosas. Em 2011, Joe conquistou o Eisner de melhor roteirista, uma das maiores honras do mundo dos quadrinhos. Depois de anos debatendo a possibilidade de uma trilogia para cinema, a história de Locke & Key chegou à Netflix em fevereiro deste ano. Os livros seguintes, O pacto (2010) e NOS4A2 (2013, trocadilho simplificado em inglês para Nosferatu), agarraram o público leitor pelo pescoço. Em ambos, a imaginação do escritor une horror, fantasia e observação cotidiana: em O pacto, um jovem acusado de estuprar e matar a namorada precisa usar seus poderes paranormais (concentrados nos chifres que surgem em sua testa) para revelar a verdade, enquanto NOS4A2 6


Fotografia: Lawrie Photography

Quer ler uma entrevista exclusiva com Joe Hill? Vá até bit.ly/JoeHillTAG e aproveite!

reinventa as histórias de vampiros ao opor Vic, mulher capaz de viajar magicamente de bicicleta a qualquer lugar do mundo, e Charlie, que se deleita aterrorizando crianças em sua Terra natal. O primeiro desses livros (agora com o título Amaldiçoado) chegou ao cinema em 2014, com Daniel Radcliffe no papel principal; o segundo deve virar série televisiva em breve. Seu quarto romance é O mestre das chamas (2016), que alcançou o topo da lista de mais vendidos do The New York Times. A obra trata de uma pandemia global de combustão espontânea e da única figura capaz de controlar as labaredas. No ano seguinte, Hill lança seu segundo volume de contos, Tempo estranho, que reúne quatro novelas. Tudo isso sem parar de se destacar nos quadrinhos: Joe assina revistas como Wraith (2014), Basketful of heads (2019) e Dying is easy (2020). Desde o fim de 2019, passou a ser curador do selo Hill House, da editora DC Comics, voltado para histórias de horror. Carrossel sombrio e outras histórias é o livro mais recente de Joe Hill. A coletânea reúne desde histórias antigas até outras concluídas poucos meses antes da publicação. Ao todo, são treze narrativas de temáticas variadas, passeando por horror, ficção científica e fantasia – unidas, é claro, pelo estilo vibrante, direto e, por vezes, de peculiar sutileza do autor. Em dois contos, Hill e King trabalham juntos, décadas depois de Creepshow: ambos dividem a assinatura em Alta velocidade (releitura de Richard Matheson que coloca o confronto entre pai e filho em cima de motocicletas envenenadas) e Campo do medo, que virou filme homônimo e pode ser assistido na plataforma Netflix. 7


O bizarro carrossel de Joe Hill Referências históricas, lendas, clássicos da literatura e do cinema de horror: fica claro que Joe Hill bebeu da água de diferentes fontes enquanto elaborava os contos de Carrossel sombrio e outras histórias. Diante dessa profusão de referências – algumas claras, outras escondidas nas entrelinhas – a TAG convida você a tomar seu lugar e dar uma voltinha conosco. Fique à vontade para escolher o assento que achar melhor. A mente de um escritor talvez gire mais rápido do que estamos acostumados, mas não se preocupe: conosco, você está em segurança. Talvez.

ENCURRALADO Hoje, o nome Steven Spielberg é quase sinônimo de sucesso nas bilheterias. Em 1971, no entanto, era apenas um jovem diretor tendo sua primeira chance em Hollywood, contratado pela Universal para rodar um longa-metragem que só seria exibido na televisão. Uma oportunidade pouco empolgante, talvez, mas que Spielberg agarrou da melhor forma possível. Rodado em míseros 13 dias e com orçamento bem abaixo da média, Encurralado (Duel, no original) se tornou um filme cult, e é amplamente considerado um dos maiores filmes para televisão de todos os tempos. A história de um pacato vendedor que passa a ser perseguido por um caminhoneiro assassino – sem aviso, sem tréguas e sem motivo aparente – é contada de forma sufocante, com poucos diálogos, e o caminhão Peterbilt 281 é tão onipresente que acaba ganhando vida própria. 8


SHIRLEY TEMPLE Virar uma estrela do cinema aos cinco anos de idade não deve ser exatamente a coisa mais fácil do mundo. De fato, inúmeros foram os boatos em torno de Shirley Temple: dizia-se que seus cabelos encaracolados eram uma peruca, que ela havia arrancado os dentes infantis e usava uma dentadura para não perder o sorriso angelical e até mesmo que não se tratava de uma criança, mas de uma anã de 30 anos de idade. As más línguas, porém, foram atropeladas pelo sucesso estrondoso da lenda mirim. Até os dez anos de idade, Temple havia aparecido em nada menos de 29 filmes, além de se transformar em fenômeno de merchandising: durante anos, as bonecas com seu nome foram as mais vendidas dos Estados Unidos. Muitos lugares usavam as visitas da celebridade infantil como chamariz para seus negócios – alguns fazem isso até hoje. A atriz faria sucesso no rádio e na televisão, além de atuar como diplomata até sua morte, em 2014 – mas sua carreira no cinema teve um fim tão precoce quanto o início: admitindo que seus últimos filmes eram muito ruins, Shirley Temple pendurou os sapatinhos em 1950, com meros 22 anos de idade. UM LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES Desde os tempos de assistente de produção, o futuro diretor John Landis pensava em fazer um filme que unisse horror e comédia. Após mais de uma década lutando para encontrar quem topasse bancar a maluquice, Um lobisomem americano em Londres chegou aos cinemas em 1981. A história de dois mochileiros que encontram uma criatura maligna em uma cidadezinha da Inglaterra marcou época e se tornou um filme cult entre os aficionados por terror. Muito disso, é claro, é devido aos efeitos especiais de Rick Baker, que ganharam o Oscar: quem assistiu ao filme não esquece, acima de tudo, da primeira 9


transformação em lobo de David, personagem principal do filme. A sequência é tão realista que ainda consegue causar arrepios quase quarenta anos depois. Não é à toa que, mais tarde, Baker acumularia outras seis estatuetas e seria convidado para trabalhar no videoclipe de Thriller, de Michael Jackson: seu trabalho revolucionou o visual dos filmes de terror, tornando-se um ponto de partida para todos os sustos que viriam depois.

RAY BRADBURY Pouca gente plantou tantas sementes na imaginação de futuros escritores quanto Ray Douglas Bradbury. Além de ser um dos pilares da ficção científica moderna, o norte-americano também se destacou em outros gêneros, escrevendo obras de fantasia, suspense e horror. Algumas das suas histórias são nada menos que lendárias. O conto Um som de trovão, sobre uma viagem no tempo para caçar animais pré-históricos, é um dos textos que mais recebeu reimpressões no último século (além de se intrometer na própria ciência, ajudando a gerar o termo "efeito borboleta"), enquanto Farenheit 451 é um marco na literatura de distopia, retratando uma sociedade futurista distópica na qual livros são ilegais e agentes públicos são encarregados de incendiá-los. De certo modo, Bradbury conseguiu o que, antes dele, seria uma façanha quase inimaginável: dar ao sci-fi o status de literatura "de verdade", elevando ao mainstream um gênero visto até então como uma tolice descartável. JOAN BAEZ Não é todo mundo que tem o privilégio de ter seu nome (mesmo que artístico) em um clássico da música folk. Mesmo que o autor de Carrossel sombrio e outras histórias não seja exatamente o homenageado: a 10


canção "Joe Hill", gravada pela cantora Joan Baez, é para um ativista que virou mártir do movimento sindical após ser injustamente julgado e executado em 1915. A música está em One day at a time (1970), um dos álbuns mais festejados da compositora e intérprete norte-americana – o que não é pouca coisa, considerando que ela está na estrada há mais de 60 anos e colocou vários trabalhos entre os mais vendidos nos EUA. Para quem nunca ouviu a obra emocional e de fortes cargas política e social de Joan Baez, esse álbum pode ser um bom ponto de partida – mas se prepare para uma longa jornada, pois a voz da cantora é daquelas que não se consegue ouvir e deixar para lá.

SEREIAS O conceito de uma criatura com corpo metade humano e metade peixe vem de longe: a deusa assíria Atagartis (que vira peixe após matar acidentalmente seu amante humano) é citada em histórias que remontam há pelo menos mil anos antes de Cristo. Presentes na mitologia de diferentes regiões, as sereias fazem mais de uma aparição nos contos das Mil e uma noites, e se consolidaram como lenda de marinheiros a partir das grandes navegações: praticamente não havia embarcação que voltasse do mar aberto sem alguma história para contar. Foi entre os séculos XV e XVI que se consolidou a imagem que hoje temos das sereias: mulheres deslumbrantes que surgem nas costas mais íngremes, cantando e seduzindo os navegantes até que seus navios se arrebentem contra as pedras. Não surpreende que uma criatura tão resistente no imaginário humano tenha inspirado tanta arte: de A pequena sereia até A forma da água, do Anel dos nibelungos de Richard Wagner às pinturas de John William Waterhouse, o sedutor canto das mulheres-peixe segue seduzindo criadores de todas as épocas. 11


A árvore genealógica da família King Que os frutos (sejam doces, amargos ou sombrios) nunca caem muito longe da árvore, todo mundo sabe. E Joe Hill faz parte de uma das famílias mais literárias da recente história norte-americana – uma árvore que vem alimentando a imaginação de leitoras e leitores desde 1974 e não dá sinais de que vá deixar de produzir livros tão cedo.

Fotografia: Barbel Schmidt para o The New York Times Da esquerda: Joe Hill, Tabitha King, Kelly Braffet, Owen King, Stephen King e Naomi King.

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STEPHEN KING Mais do que uma lenda viva da literatura de horror, Stephen King é um dos escritores mais bem-sucedidos da atualidade. A produção é tão vasta quanto lucrativa: são quase 80 livros entre romances, novelas e contos, que, juntos, venderam mais de 350 milhões de exemplares em todo o mundo. Muitas das suas obras foram adaptadas para o cinema e a televisão, o que rendeu sucessos tão díspares quanto O iluminado (1980), Conta comigo (1986), Louca obsessão (1990) e À espera de um milagre (1999). Seu método de trabalho também é notório: segundo ele, o segredo de ser um


bom escritor é sentar e escrever de forma incansável, até cumprir a meta do dia. Escrevendo uma página aproveitável por dia, você termina o ano com um livro novo na conta – uma média que Stephen King, mesmo em ritmo menos frenético, segue cumprindo com sobras.

TABITHA KING Entre os aficionados pela literatura de horror, Tabitha King costuma ser lembrada por uma anedota: a forma como ela resgatou do lixo os originais de Carrie, descartados pelo marido, Stephen, e fez com que concluísse aquele que seria o primeiro grande sucesso da carreira dele. Mas a escritora é bem mais do que a esposa de um escritor famoso: ao todo, ela já publicou mais de vinte livros entre romances, contos e poesias – o mais recente, Candles burning, é a conclusão de uma obra incompleta de Michael McDowell, autorizada pela família após o falecimento do escritor. Muitas das histórias de Tabitha acontecem na cidade ficcional de Nodd’s Ridge, no Maine, e sua preferência é por narrativas realistas e contemporâneas, sem muitas concessões ao mundo fantástico. Além da literatura, Tabitha é uma das administradoras de uma cadeia de rádios FM do Maine, um dos vários negócios que ela e seu marido possuem no estado norte-americano.

NAOMI KING A filha mais velha da família King foi a única que não seguiu o caminho da literatura. Nascida em 1970, Naomi King optou pela fé e é pastora da Igreja Unitário-Universalista dos EUA – uma religião que é descrita por seu seguidores como liberal, já que abre mão de dogmas e foca seus esforços no crescimento espiritual. Na verdade, Naomi nunca se deu muito bem com o terror; em homenagem a ela, que disse uma vez preferir histórias com dragões, Stephen King 13


escreveu Os olhos do dragão, uma das suas primeiras incursões no mundo da fantasia. Além dos sermões (feitos online, já que Naomi tem uma deficiência hormonal crônica que a impede de manter uma rotina muito intensa), Naomi também é uma ativista das causas LGBT+, sendo casada com uma companheira de ministério desde os anos 2000, e administra uma loja de alimentos orgânicos.

JOE HILL

Fotografia: Raeanne Rubenstein Os Kings em abril de 1981, posando para a revista People. No sentido horário, do canto superior esquerdo: Naomi, Tabitha, Stephen, Joe e Owen.

Ser filho de Stephen King deve ter muitas vantagens, mas também traz algumas inseguranças, em especial se você também deseja ser um escritor. Afinal, como saber que não estão lendo seus livros apenas para matar tempo enquanto não sai o novo trabalho do seu pai famoso? Filho do meio de uma família de escritores, Joseph Hillström King achou sua própria solução: deixou o sobrenome famoso de fora, cortou o segundo nome pela metade e assumiu a identidade artística de Joe Hill. O único King que não assina este sobrenome tem se virado muito bem depois disso: Carrossel sombrio e outras histórias é seu oitavo livro após best-sellers como A estrada da noite e Mestre das Chamas. É também autor da HQ Locke & Key, que ganhou o prestigioso prêmio Eisner, e algumas de suas obras já chegaram ao cinema e às plataformas de streaming. Sua esposa, Gillian Redfearn, também tem conexão com a literatura: é editora do selo Gollancz, especializado em ficção científica.

OWEN KING Mais novo dos três filhos, Owen King também mergulhou no ofício de contar histórias. Nascido em 1977, o autor estreou com o livro de contos We're all in this together (2005), e lançou seu 14


Fotografia: James Leonard Família King em 1979. No sentido horário, do canto superior esquerdo: Tabitha, Owen, Stephen, Naomi e Joe.

primeiro romance, Double feature, em 2013. Seu maior sucesso comercial até aqui, no entanto, é Belas Adormecidas (2017), escrito em parceria com seu pai e que já foi adaptado para história em quadrinhos. Ele também já publicou uma graphic novel, Intro to alien invasion, em parceria com Mark Jude Poirier e Nancy Ahn, e tem histórias espalhadas por revistas literárias dos EUA. Nenhuma dessas obras guarda grande semelhança com o horror explorado por Stephen King e Joe Hill: seu trabalho é muito mais voltado para o cotidiano, com uma linguagem simples e toques generosos de drama e humor. Belas adormecidas, é claro, foge dessa linha, em uma alegoria sobre mulheres que se veem envoltas em casulos quando adormecem.

KELLY BRAFFET A última peça no quebra-cabeça literário da família King (ao menos enquanto as crianças não lançam seus primeiros livros) é Kelly Braffet, casada com Owen King desde 2007. A escritora é pouco conhecida no Brasil, mas pode ser considerada um nome ascendente na literatura fantástica. Seu quarto romance, o recém-lançado The unwilling, traz uma história que mistura magia, fantasia, elementos góticos e intrigas palacianas – tudo isso em um formato vibrante que vem recebendo muitos elogios da crítica nos EUA. A ligação de Kelly com essa dinastia de imaginadores começou bem antes de conhecer seu futuro marido: fã dos livros de Stephen King desde a infância, ela admite que o sogro foi uma das suas principais influências na hora de enveredar pelo caminho das palavras. Um círculo que agora se fecha, já que o patriarca fala para quem quiser ouvir sobre a sua apreciação pelos livros da nora. De certa forma, talvez se possa dizer que ela sempre foi da família. 15


Embarque nesse carrossel Amigos robóticos, criaturas fantásticas, famílias problemáticas, viagens perigosas e grama alta demais: o novo livro de contos de Joe Hill traz brincadeiras de sobra para todos os gostos sombrios.

Mesmo em um parque de diversão repleto de brinquedos, o carrossel de Joe Hill é a primeira coisa para que você vai olhar. Na verdade, o carrossel parece meio sombrio visto de longe, enquanto pagamos o ingresso e juntamos o troco para o algodão doce, mas tudo bem: dependendo do assento escolhido, ele também pode ser um tanto fantástico, contemplativo, até mesmo sublime. Ele gira rápido, é verdade, mas, uma vez que você embarca e a música começa a tocar, você não vai querer parar antes de chegar ao final. Não que pudesse parar, é claro. Tudo começa com Alta velocidade, uma história de pai e filho, em mais de um sentido. Joe Hill e Stephen King nos contam a história de Vince (pai) e Race (filho), dois integrantes de uma gangue de motoqueiros que precisam lidar com as consequências de um crime não planejado – e com um caminhão assassino, perseguindo-os por estradas vicinais dos Estados Unidos. Certamente não é o melhor cenário para remoer problemas de família – mas, como a gente bem sabe, nem sempre dá para fugir de certas discussões. Conto que dá nome ao livro (e que inspira o conteúdo desta edição), Carrossel sombrio mostra dois casais adolescentes em um parque de diversões, em um passeio que ganha contornos terríveis 16


após um giro no... Bem, você sabe onde. Pode um simples carrossel assombrar pessoas por toda a vida? No mundo de Joe Hill, sim – e, se você for especialmente sensível (ou azarado), no seu mundo também. E poderá uma simples viagem de trem abrir os portões da insanidade? Visitando a Inglaterra a trabalho, um ex-hippie transformado em lobo dos negócios resolve usar a malha ferroviária local. O problema é que, quando você embarca na Estação Wolverton, há o risco real de ser o único ser humano no trajeto. Vivo, pelo menos. Se as linhas férreas do interior inglês escondem segredos, os lagos enevoados da fronteira entre Estados Unidos e Canadá também têm os seus. No conto Às margens prateadas do lago Champlain, um grupo de crianças tropeça em um deles, que remonta à era dos dinossauros. Poderia ser a fama repentina, mas os acontecimentos tomam uma curva indesejada, interferindo no futuro de um amor infantil. Temos certeza de que muita gente gostaria de caçar dinossauros – em especial caçadores que já tenham matado tudo mais que há para matar. Ray Bradbury que nos diga, não é mesmo? Nesse sentido, colocar a cabeça de um Fauno na parede poderia ser um chamariz imperdível para muita gente – mesmo que, nesse tipo de caçada, a presa possa mudar de uma hora para outra. Precisa respirar um pouco? Não tem problema. Podemos parar o carrossel por alguns instantes. Vá ao banheiro, tome um copo d’água. Vamos continuar aqui, esperando por você. Pronto. Podemos recomeçar? Imagine morrer antes de terminar aquele livro que capturou a sua imaginação. Chato, não é? E imagine o tamanho da multa que alguém deixa quando morre antes de entregar o livro na biblioteca… Devoluções Atrasadas trata dessas coisas – e, além de falar sobre o fim da vida, é uma história sobre leitores. Afinal, nem sempre somos nós que encontramos o livro certo: às vezes, é o livro certo que nos encontra. 17


A amizade pode assumir diferentes formas e, é claro, durar diferentes períodos. Em Tudo que me importa é você, um robô de esquina dá tudo de si para que uma jovem adolescente tenha um aniversário inesquecível. Mas, como quem já perdeu um amigo ou amiga bem sabe, algumas relações têm vida curta, e não há moedas o suficiente para recomeçar a contagem. A guerra é o inferno. Em Impressão digital, uma ex-combatente na prisão de Abu Ghraib retorna aos EUA, trazendo o inferno junto com ela. Em uma escalada de tensão, sinais cada vez mais óbvios mostram que alguém está à espreita – um terror humano, criado por humanos, em um duelo que logo se revelará. Se você parar para pensar, toda história é uma escada: você precisa vencer um degrau depois do outro, seja para chegar às glórias do topo, seja para encontrar aquela coisa assustadora que se esconde no porão. O diabo na escadaria é a chance de sentar e conversar com alguns desses monstros. Brincando com os parágrafos, Joe Hill nos fala de uma fuga às profundezas que mistura amor, fortuna e desgraça. Convenhamos: na maior parte do tempo, o Twitter não passa de uma pessoa contando banalidades para outras pessoas. É basicamente isso que acontece em Twittando no Circo dos Mortos, mas com uma diferença: o que Blake e sua família estão vivenciando em sua viagem de férias longe está de ser algo trivial. Quer saber mais? Siga @TYME2WASTE no Twitter para se inteirar das novidades! Está achando a viagem rápida demais? A música talvez seja um tanto tétrica, ou é o cavalinho no qual você sentou que cheira mal, mas não se preocupe: ainda temos algumas voltas, e a diversão vale a pena. Confie em mim. Toda mãe planta sementes em nossos corações. Algumas rendem


flores bonitas, que alegrarão nossos jardins durante a vida. Outras, bem… digamos que, se uma vendedora de beira de estrada oferecer Mães para você, é melhor se assegurar de estar comprando a semente certa! Ambientado no coração separatista e conspiratório da América, o conto traz um reencontro peculiar entre mãe e filho, em meio a uma suja trama familiar. Falando em histórias de família, é muito fácil se apaixonar pelos carismáticos irmãos Cal e Becky enquanto eles vencem as estradas do Kansas rumo à casa dos tios. Mas Campo do medo é uma história de Joe Hill, e a segunda colaboração com seu pai, Stephen King, então as chances de uma viagem sem incidentes são bem baixas. Ao ouvir gritos de ajuda de uma criança, os dois decidem ver do que se trata – e, sim, eu e você conhecemos a família King, por isso sabemos que isso não tem como dar certo. Mas eles não sabem. Eles nunca sabem. É a vida. Qual é o tipo de turbulência mais assustador que você pode enfrentar em uma viagem de avião? Você está liberado, último conto de Carrossel sombrio e outras histórias, tenta responder essa pergunta – e a resposta, é claro, não é das mais agradáveis para quem tem medo de voar. Mas parte da graça dos livros de horror é justamente nos familiarizar com o medo que está por vir, não é mesmo? Então faça o check-in, porque a viagem promete. E, então, chegamos. ao fim do passeio. Foi divertido, não é? Alguns sustos, é claro, mas assustar-se é parte da diversão. Seja como for, essa voltinha foi só um gostinho do que está por vir. O verdadeiro carrossel de Joe Hill está do lado de fora desta revista, dentro das páginas de Carrossel sombrio e outras histórias. Fique conosco um pouco mais – mas saiba que o brinquedo de verdade tem animais mais exóticos, música mais alta, luzes mais assustadoras e gira mais rápido. Bem mais rápido.

Volte sempre.

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Próximo mês Best-seller do New York Times Narrativa emocionante e vira-páginas Romance de formação sobre um personagem cativante Prepare-se para fortes emoções. Após perder o mundo – seus pais e seu irmão mais velho – em um desastre de avião do qual foi o único sobrevivente, um garoto de 12 anos precisa aprender a viver junto aos tios. É nesse ambiente que ele encontra uma nova melhor amiga, uma garota de sua idade que o ajuda a atravessar o luto e a atar pontas soltas do passado. Este livro, que foi destaque do The New York Times Book Review em seu lançamento e que alçou sua autora pela primeira vez à lista dos mais vendidos, é uma história de aquecer o coração, embora não sem algumas lágrimas no caminho.

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“O mal é um ponto de vista.” - Anne Rice

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