Tecnosaúde #20 - Setembro/Outubro

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N.º 20

Setembro/Outubro 2023

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

PUBLICAÇÃO DIGITAL BIMESTRAL

CANCRO DE MAMA: TRABALHO CONTÍNUO NA PREVENÇÃO


ÍNDICE SAÚDE PARA SI

02 04 12 14

Dra. Nádia Noronha Directora Executiva da Tecnosaúde

Tornamos a assinalar o Outubro Rosa, movimento internacional de consciencialização para a prevenção e detecção precoce do cancro de mama. A data, celebrada anualmente, tem como objectivo a partilha de informação sobre o tipo de cancro que mais mulheres acomete em todo o mundo, seja nos países desenvolvidos, seja nos países em desenvolvimento. Cerca de 2,3 milhões de casos novos foram estimados para o ano de 2020, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticados nas mulheres. A primeira acção de sensibilização para a prevenção do cancro de mama foi uma corrida em Nova Iorque. Pouco a pouco, o movimento começou a fazer eco em várias cidades dos Estados Unidos, sendo dado um laço cor-de-rosa a cada participante. Ainda hoje, é o símbolo da luta contra o cancro de mama. Estas acções de sensibilização espalharam-se pelo mundo, criando-se assim o Outubro Rosa. E, com elas, o laço cor-de-rosa tornou-se um símbolo global. O Outubro Rosa é, assim, uma forma de colocar na agenda o combate ao cancro de mama, pondo a tónica na prevenção para contrariar este significativo problema de saúde pública. Mas não é o único e, aproveitando a realização das Jornadas de Medicina Dentária, damos também destaque à saúde oral, cuja negligência afecta metade da população mundial. Os casos globais de doenças orais aumentaram em cerca de mil milhões, nos últimos 30 anos, um sinal claro de que muitas pessoas não têm acesso à prevenção e ao tratamento. Em matéria de saúde, prevenir é mesmo o melhor remédio.

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ANÁLISE

Iniciativa de cobertura universal de saúde continua a deixar milhares de milhões sem assistência

Inteligência artificial no sector farmacêutico Dra. Nazaré Amaro faz uma revisão da literatura sobre o linfoma

ENTREVISTA

Dr. Severino Chova de Azevedo alerta para a importância do trabalho contínuo na prevenção do cancro de mama Outubro Rosa - Acções que criam memórias Dr. Edwin Tavares aborda a importância da medicina dentária preventiva Jornadas de Medicina Dentária Dra. Vania Rodríguez enumera as manifestações bucais de doenças epidemiológicas africanas Dr. Agnelo Lucamba aborda os tumores da orofaringe e cavidade oral

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EDITORIAL

RUBRICA OCULAR Dr. Djalme Fonseca assinala o Dia Mundial da Visão

Jornada Científica da AGOA Mesa redonda CRL-OFA Dra. Violeta Issenguele destaca a importância da classe farmacêutica Rubrica Regulamentar: a prescrição não racional

Propriedade e Editor: Tecnosaúde, Formação e Consultoria Nacionalidade: Angolana Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º Andar, Sala 224, Luanda, Angola Directora: Nádia Noronha E-mail: nadia.noronha@tecnosaude.net Sede de Redacção: Edifício Presidente Business Center Largo 17 de Setembro, N.º 3 - 2.º andar, sala 224, Luanda, Angola Periodicidade: Bimestral Suporte: Digital http://www.tecnosaude.net/pt-pt/


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ANÁLISE

INICIATIVA DE COBERTU UNIVERSAL DE SAÚDE CONTINUA A DEIXAR MILHARES DE MILHÕES SEM ASSISTÊNCIA O MUNDO ESTÁ LONGE DE FAZER PROGRESSOS SIGNIFICATIVOS EM DIRECÇÃO À COBERTURA UNIVERSAL DE SAÚDE (ODS 3.8) ATÉ 2030, JÁ QUE AS MELHORIAS NA COBERTURA DOS SERVIÇOS DE SAÚDE ESTAGNARAM DESDE 2015 E A PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO QUE ENFRENTOU NÍVEIS CATASTRÓFICOS DE GASTOS COM A SAÚDE AUMENTOU.

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URA

A

Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Banco Mundial lançaram conjuntamente o Relatório de Monitorização Global da Cobertura Universal de Saúde 2023, que revela uma estagnação alarmante nas melhorias no fornecimento de cuidados de saúde de qualidade e acessíveis em todo o mundo. Este relatório, divulgado antes da Reunião de Alto Nível sobre a Cobertura Universal de Saúde, na 78.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, apresenta uma dura realidade com base nos últimos dados disponíveis: mais de metade da população mundial ainda não recebe serviços de saúde essenciais. Além disso, dois mil milhões de pessoas enfrentam graves dificuldades económicas, porque têm de pagar os serviços e produtos de que necessitam. “A pandemia de Covid-19 ensinou-nos que as sociedades e as economias só podem ser saudáveis se isso acontecer para todas pessoas que as compõem. Por conseguinte, o facto de tantas pessoas não conseguirem aceder a serviços de saúde essenciais e de qualidade a um preço acessível não só compromete a sua saúde, como também põe em risco a estabilidade das comunidades, das sociedades e das economias. Há uma necessidade urgente de reforçar a vontade política,

fazer investimentos mais fortes nos cuidados de saúde e uma mudança decisiva para transformar os sistemas de saúde baseados nos cuidados primários”, afirma o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. O relatório de 2023 conclui que, nas últimas duas décadas, menos de um terço dos países melhoraram a cobertura dos serviços de saúde e reduziram as despesas directas com estes cuidados. Além disso, 96 dos 138 países para os quais existem dados disponíveis sobre as duas dimensões da cobertura universal de saúde (cobertura dos serviços e protecção financeira) estão longe de atingir os objectivos fixados para uma ou ambas as dimensões. “Sabemos que fornecer uma cobertura universal de saúde é fundamental para ajudar as pessoas que vivem na pobreza a saírem da pobreza permanentemente, mas muitas continuam a enfrentar dificuldades económicas crescentes, especialmente as mais pobres e vulneráveis. Este relatório traça um quadro desolador, mas também mostra que há medidas que priorizam os cuidados de saúde nos orçamentos públicos e fortalecem os sistemas de saúde para aumentar a equidade na prestação de serviços essenciais e de qualidade e na protecção financeira”, acrescenta a Dra. Mamta Murthi, vicepresidente para o Desenvolvimento Humano do Banco Mundial. 2019 e 2021 sem avanços Embora a cobertura dos serviços de saúde tenha melhorado desde a viragem do século, houve uma desaceleração a partir de 2015, quando os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável foram adoptados, e nenhum progresso foi feito entre 2019 e 2021. Os cuidados às doenças infecciosas progrediram significativamente desde 2000, mas a cobertura dos serviços de doenças não transmissíveis e de saúde reprodutiva, materna, neonatal e infantil pouco ou nada aumentou nos últimos anos. Em 2021, cerca de 4.500 milhões de pessoas, ou seja, mais de metade da população mundial, não estavam totalmente cobertas por serviços de saúde essenciais, devendo notar-se que esta estimativa não reflecte os potenciais impactos a longo prazo da pandemia de Covid-19.

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Despesas criam dificuldades económicas As despesas directas com cuidados de saúde superiores a 10% do orçamento familiar continuam a aumentar. Mais de mil milhões de pessoas (cerca de 14% da população mundial) foram forçadas a desembolsar esses montantes, ainda que, em termos absolutos, gastos inferiores possam ser devastadores para as famílias de baixos rendimentos. Cerca de 1.300 milhões de pessoas caíram na pobreza, ou viram mesmo esta situação agravada, por estes pagamentos, incluindo 300 milhões de pessoas que já sofriam de pobreza extrema. Além disso, pagar os cuidados de saúde do próprio bolso pode significar que as famílias tenham de renunciar a serviços essenciais ou escolher entre pagar uma consulta médica, comprar comida e água ou enviar os filhos para a escola. Tais compensações podem significar que um membro da família não recebe

Declaração política Na declaração política, os chefes de Estado e os líderes mundiais comprometem-se a tomar medidas fundamentais a nível nacional, a fazer investimentos essenciais e a reforçar a cooperação internacional e a solidariedade global ao mais alto nível político, para acelerar o progresso rumo à cobertura universal de saúde até 2030, através de uma abordagem de cuidados de saúde primários. Para que os cuidados de saúde sejam verdadeiramente universais, é necessário passar de sistemas de saúde concebidos em torno das doenças para sistemas de saúde concebidos para as pessoas. Estima-se que seja necessário um investimento adicional de 200 mil a 328 mil milhões de dólares por ano para ampliar esta abordagem em países de baixa e média renda. Tal poderia ajudar a prestar até 90 % dos serviços de saúde essenciais, salvar pelo menos 60 milhões de vidas e aumentar a esperança média de vida em 3,7 anos até 2030. Uma vez adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a declaração política será monitorizada regularmente para identificar lacunas na sua implementação e procurar soluções para acelerar os progressos e será debatida na próxima reunião de alto nível da ONU sobre o assunto, em 2027.

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tratamento precoce para uma doença evitável ou que, numa fase posterior, sofre sintomas mais graves ou mesmo fatais. “A resolução deste problema exige políticas progressivas de financiamento da saúde que isentem as pessoas com baixa capacidade de consumo do pagamento de serviços”, defendem a OMS e o Banco Mundial. Recuperar o terreno perdido Alcançar a cobertura universal de saúde até 2030 é fundamental para realizar a promessa feita na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e garantir o direito humano básico à saúde. Para o efeito, os Governos e os parceiros de desenvolvimento tiveram de investir montantes substanciais no sector público e acelerar a adopção de medidas importantes, tais como uma reorientação drástica das políticas de saúde e o aumento do investimento público. Estas mudanças são essenciais para combater o impacto da Covid-19 nos sistemas de saúde e na força de trabalho em todo o mundo e para enfrentar os novos desafios colocados pelas tendências macroeconómicas, climáticas, demográficas e políticas, que podem minar os ganhos de saúde duramente conquistados em todo o mundo. Na reunião de alto nível da ONU, os líderes mundiais adoptaram uma nova declaração política, intitulada “Cobertura Universal de Saúde: ampliemos as nossas aspirações para a saúde e o bem-estar num mundo pósCovid”. A declaração é saudada como um catalisador essencial para que a comunidade internacional tome medidas de longo alcance e mobilize os investimentos financeiros e compromissos políticos necessários para alcançar a meta de cobertura universal de saúde, que mede a capacidade dos países de garantirem que todas as pessoas recebem os cuidados de saúde de que necessitam, quando e onde precisam, sem enfrentar dificuldades financeiras, e abrange todo o espectro de serviços de saúde essenciais, desde a promoção da saúde até à prevenção, protecção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. “Em última análise, a cobertura universal de saúde é uma escolha, uma escolha política”, defende o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. “A declaração política que os países adoptaram é um sinal claro de que estão comprometidos com essa escolha. No entanto, não é uma escolha que possa ser feita apenas no papel. Traduz-se em decisões orçamentais e políticas. E, acima de tudo, traduz-se em investimentos nos cuidados de saúde primários, o caminho mais inclusivo, equitativo e eficiente para a cobertura universal de saúde.”


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SAÚDE


TENDÊNCIAS

DR. ALGORITMO

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É UMA DAS GRANDES TENDÊNCIAS NO SECTOR DA SAÚDE. SÃO JÁ RECONHECIDOS OS SEUS BENEFÍCIOS E OPORTUNIDADES, NOMEADAMENTE NA ÁREA DO RASTREIO E DO DIAGNÓSTICO, MAS A PROMESSA ENCERRADA POR ESTAS TECNOLOGIAS NÃO ESTÁ ISENTA DE RISCOS E DE DESAFIOS. PARA A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, HÁ QUE TER CAUTELA, PARA QUE A TECNOLOGIA NÃO FAÇA MAL A NINGUÉM. E, SOBRETUDO, PARA QUE NÃO SEJA MAIS UM MECANISMO DE POSSÍVEL VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS.

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que um algoritmo de inteligência artificial poderá analisar um conjunto muito maior de imagens do que um radiologista – até um milhão ou mais de imagens radiológicas. Além disso, esse algoritmo pode ser replicado sem nenhum custo, excepto para hardware.

A

inteligência artificial poderá ser capaz de reduzir a carga de trabalho dos radiologistas no rastreio do cancro de mama, de acordo com os primeiros dados de um estudo realizado na Suécia e publicado na Lancet Oncology. O estudo envolveu cerca de 80 mil mulheres, divididas em dois grupos semelhantes. Todas fizeram mamografia, mas um dos grupos foi rastreado através da análise de dois radiologistas, enquanto o outro foi rastreado primeiro por inteligência artificial e depois por um único radiologista. O estudo apurou que, neste último grupo, foram detectados mais casos de cancro de mama. Já a taxa de falsos positivos foi semelhante em ambos. De acordo com a investigação, como no procedimento envolvendo inteligência artificial apenas foi necessário um radiologista, esta tecnologia tem o potencial de reduzir para metade a carga de trabalho dos médicos. Considerando a importância do rastreio no combate ao cancro de mama, os resultados do estudo são promissores, mas serão necessários vários anos de análise para avaliar a eficácia da inteligência artificial face à dupla opinião dos radiologistas. Como tal, dentro de dois anos, os investigadores irão comparar a taxa dos cancros que escaparam à triagem, mas que foram diagnosticados posteriormente. Os dados iniciais também deixam alguma incerteza quanto ao risco do sobrediagnóstico. No mesmo sentido, na Universidade do Havai, uma outra pesquisa descobriu que a tecnologia de inteligência artificial de aprendizagem profunda (deep learning) pode melhorar a previsão do risco de cancro de mama. Tal como na investigação realizada na Suécia, são necessárias mais pesquisas, mas o investigador principal apontou

Inteligência artificial na saúde De facto, a inteligência artificial é uma das grandes tendências no sector da saúde. Em 2023, metade das organizações de saúde a nível global planeia utilizar o ChatGPT para fins de aprendizagem e 52% recorrer a co-pilotos de inteligência artificial, segundo aponta um estudo da Accenture. O recurso a esta tecnologia poderá aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde, estimando-se que até 40% das horas de trabalho possam ser apoiadas pela inteligência artificial generativa. A título de exemplo, a Accenture estima que a aplicação de tecnologia de automatização nos cuidados de enfermagem poderá libertar até 20% do tempo despendido pelos profissionais em funções repetitivas de baixa complexidade e há já robots que fazem a entrega de materiais cirúrgicos, lençóis ou tabuleiros com refeições, libertando as pessoas para funções de valor acrescentado. A inteligência artificial poderá também contribuir para melhorar os níveis de literacia dos pacientes, indicam os estudos, ao simplificar a linguagem médica complexa em termos que aqueles possam compreender, possibilitando ainda a tradução para qualquer idioma. De acordo com a Statista, o mercado da inteligência artificial aplicado ao sector da saúde, avaliado em 11 mil milhões de dólares em 2021, deverá crescer para 187 mil milhões de dólares em 2030. Esse aumento significa que veremos mudanças consideráveis na forma como os prestadores de serviços médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e de biotecnologia e outras no sector da saúde operam. Melhores algoritmos de machine learning, mais acesso a dados, hardware mais barato e a disponibilidade do 5G têm acelerado o ritmo da mudança.

A ACCENTURE ESTIMA QUE A APLICAÇÃO DE TECNOLOGIA DE AUTOMATIZAÇÃO NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM PODERÁ LIBERTAR ATÉ 20% DO TEMPO DESPENDIDO PELOS PROFISSIONAIS EM FUNÇÕES REPETITIVAS DE BAIXA COMPLEXIDADE E HÁ JÁ ROBOTS QUE FAZEM A ENTREGA DE MATERIAIS CIRÚRGICOS, LENÇÓIS OU TABULEIROS COM REFEIÇÕES, LIBERTANDO AS PESSOAS PARA FUNÇÕES DE VALOR ACRESCENTADO

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Desafios Mas esta mudança não está isenta de desafios. Apesar da grande promessa trazida pela inteligência artificial no sentido de melhorar a prestação de cuidados de saúde, crescem os alertas sobre a necessidade da ética e dos direitos humanos serem colocados no centro do seu desenho, implementação e uso. “Como toda a nova tecnologia, a inteligência artificial possui um enorme potencial para melhorar a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo, mas também pode ser mal utilizada e causar danos”, afirma o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório “Ethics and governance of artificial intelligence for health” da OMS é o resultado de dois anos de consultas realizadas por um painel de especialistas internacionais. Este novo relatório fornece um guia valioso sobre como maximizar os benefícios da inteligência artificial, minimizando os seus riscos e evitando as suas armadilhas. Efectivamente, nota o estudo, a inteligência artificial pode ser, e nalguns países ricos já está a ser, usada para melhorar a velocidade e a precisão do diagnóstico e da triagem de doenças, como no rastreio do cancro de mama reportado pelas duas investigações citadas, para auxiliar no atendimento clínico, fortalecer a pesquisa em saúde e o desenvolvimento de medicamentos e apoiar diversas intervenções de saúde pública, como a vigilância de doenças, a resposta a surtos e a gestão de sistemas de saúde. Também pode capacitar os pacientes a terem um maior controlo sobre os seus próprios cuidados de saúde e a compreenderem melhor as suas necessidades. Há também benefícios para os países com poucos recursos e as comunidades rurais, onde o acesso a profissionais de saúde é mais restrito e difícil, podendo a inteligência artificial preencher as lacunas. No entanto, o relatório da OMS adverte para

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PODE SER, E NALGUNS PAÍSES RICOS JÁ ESTÁ A SER, USADA PARA MELHORAR A VELOCIDADE E A PRECISÃO DO DIAGNÓSTICO E DA TRIAGEM DE DOENÇAS, COMO NO RASTREIO DO CANCRO DE MAMA REPORTADO PELAS DUAS INVESTIGAÇÕES CITADAS, PARA AUXILIAR NO ATENDIMENTO CLÍNICO, FORTALECER A PESQUISA EM SAÚDE E O DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS E APOIAR DIVERSAS INTERVENÇÕES DE SAÚDE PÚBLICA, COMO A VIGILÂNCIA DE DOENÇAS, A RESPOSTA A SURTOS E A GESTÃO DE SISTEMAS DE SAÚDE

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a sobrestimação dos benefícios da inteligência artificial para a saúde, especialmente à custa de investimentos e estratégias essenciais para alcançar a cobertura universal de saúde. O documento também aponta que as oportunidades estão ligadas a desafios e riscos, incluindo a recolha e uso não ético de dados dos pacientes, para a codificação em algoritmos dos preconceitos já existentes e para os riscos para a segurança do paciente, cibersegurança e meio ambiente. Assim, a OMS alerta que os sistemas de inteligência artificial devem ser cuidadosamente projectados para reflectir a diversidade dos ambientes socioeconómicos e de saúde e acompanhados pela capacitação e competências digitais, já que milhões de profissionais precisarão de formação se suas funções forem automatizadas. 6 princípios Para limitar os riscos e maximizar as oportunidades intrínsecas ao uso da inteligência artificial, a OMS fornece seis princípios como base para a regulamentação e governança. A começar pela protecção da autonomia humana. Isso significa que os seres humanos deverão permanecer no controlo dos sistemas de saúde e das decisões médicas, a privacidade e a confidencialidade deverão ser protegidas e os pacientes deverão dar o consentimento informado válido, por meio de estruturas legais apropriadas para protecção de dados. Outro princípio é a promoção do bem-estar e segurança humana e o interesse público. Quem concebe tecnologias de inteligência artificial deverá atender aos requisitos regulamentares de segurança, precisão e eficácia para casos de uso ou indicações bem definidos. Além disso, deverão estar disponíveis medidas de controlo de qualidade no uso da inteligência artificial. O terceiro princípio é a garantia da transparência, explicabilidade e inteligibilidade. A transparência requer que informações suficientes sejam publicadas ou documentadas antes do projecto ou implementação de uma tecnologia de inteligência artificial. Essas informações deverão ser facilmente acessíveis e dever-se-á facilitar uma consulta pública significativa e promover o debate sobre como a tecnologia é projectada e como deve ser ou não usada. A OMS aponta ainda a responsabilização e prestação de contas. Embora as tecnologias de inteligência artificial executem tarefas específicas, é responsabilidade das partes interessadas garantir que sejam usadas nas


condições apropriadas e por pessoas devidamente capacitadas. Deverão estar disponíveis mecanismos eficazes para questionar e apoiar os indivíduos adversamente afectados por decisões baseadas em algoritmos. O quinto princípio é a garantia da inclusão e equidade. A inclusão requer que a inteligência artificial para a saúde seja projectada para encorajar o uso e acesso equitativos o mais amplos possível, independentemente da idade, género, rendimento, raça, etnia, orientação sexual, capacidade ou outras características protegidas por códigos de direitos humanos. Finalmente, o sexto e último princípio é a promoção da inteligência artificial que seja responsiva e sustentável. As aplicações deverão ser avaliadas de forma contínua e transparente durante o uso real, para determinar se respondem de forma adequada e apropriada às expectativas e requisitos. Os sistemas também devem ser projectados para minimizar as suas consequências ambientais e aumentar a eficiência energética. Os Governos e empresas deverão, ainda, abordar as interrupções previstas no local de trabalho, incluindo para a capacitação dos profissionais de saúde para se adaptarem ao uso de sistemas de inteligência artificial, e as possíveis perdas de postos de trabalho devido ao uso de sistemas automatizados. Estes princípios guiarão o trabalho futuro da OMS para apoiar os esforços e garantir que todo o potencial da inteligência artificial para saúde seja usado para o benefício de todos. Note-se que, em Maio deste ano, a OMS tornou a pedir

cautela com as plataformas que simulam a comunicação humana, como ChatGPT, o Bard ou o Bert, e a alertar para a falta de mecanismos que garantam o uso seguro e ético das novas tecnologias. Segundo a OMS, as chamadas ferramentas de modelo de linguagem geradas por inteligência artificial podem representar riscos para o bem-estar humano e para a saúde pública, já que a adopção precipitada de sistemas não testados poderá levar a erros por parte dos profissionais de saúde, causar danos aos pacientes e minar a própria confiança na inteligência artificial e em tecnologias futuras.

Algumas preocupações da OMS As ferramentas de modelo de linguagem geradas por inteligência artificial, as chamadas LLMs, geram respostas que podem parecer confiáveis e plausíveis para um utilizador final. No entanto, essas respostas podem estar completamente incorrectas ou conter erros graves, especialmente para temas relacionados com a saúde, alerta a OMS. De igual modo, a agência alerta que as LLMs podem ser treinadas em dados para os quais o consentimento pode não ter sido fornecido anteriormente. Além disso, não necessariamente protegem dados confidenciais, incluindo de saúde, fornecidos pelo utilizador para gerar uma resposta. As LLMs podem ser também utilizadas para gerar e disseminar desinformação altamente convincente na forma de texto, áudio ou vídeo, tornando difícil para o público diferenciar o conteúdo falso do conteúdo confiável.

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ANÁLISE

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL TERÁ IMPACTO NO CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DE ACORDO COM UM RELATÓRIO DIVULGADO PELA CRÉDITO Y CAUCIÓN, O USO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO SECTOR FARMACÊUTICO ESTÁ A GANHAR FORÇA DEVIDO À SUA CAPACIDADE PARA MELHORAR A EFICIÊNCIA DA I+D.

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A

pesar da sua natureza disruptiva e de um elevado nível de investimento em I+D, o sector farmacêutico está a adoptar as tecnologias baseadas em inteligência artificial com lentidão. As principais razões para esta prudência são a forte regulamentação do sector e a preocupação com os riscos que implicaria para a saúde a utilização de dados imprecisos. Actualmente, a sua aplicação limita-se à monitorização e imagiologia médica. No entanto, de acordo com o último relatório divulgado pela Crédito y Caución, há indícios de que o uso de inteligência artificial no sector farmacêutico está a ganhar impulso. Oportunidade Os megadados e a inteligência artificial representam uma oportunidade para aumentar a eficiência da I+D farmacêutica, à qual o sector afecta cerca de 25% das suas receitas. Actualmente, colocar um medicamento no mercado pode envolver mais de uma década de trabalho, com taxas de insucesso próximas dos 90% durante o período de ensaios clínicos. A inteligência artificial e a aprendizagem automática (machine learning) permitirão não só reduzir o tempo necessário para colocar um medicamento no mercado e a taxa de insucessos, como desenvolver abordagens de tratamento mais adaptadas e personalizadas. A maioria dos países impõe restrições ao uso da inteligência artificial nos cuidados de saúde. “As preocupações da União Europeia baseiam-se em questões de privacidade e enviesamento de decisões ou sugestões”, refere Ruben del Rio, analista do sector farmacêutico para a Europa. No entanto, existem diferenças entre mercados. As autoridades britânicas são mais permissivas com o desenvolvimento da inteligência artificial,

enquanto as suíças parecem esperar pelas decisões finais da União Europeia e de outras organizações internacionais antes de implementar um quadro normativo. A China, por sua vez, removeu as restrições à tecnologia de diagnóstico assistido por inteligência artificial em 2022, o que permite um uso mais amplo dessa tecnologia fora do ambiente hospitalar. A tendência actual, especialmente no Ocidente, são as colaborações ou parcerias entre empresas farmacêuticas e empresas especializadas em inteligência artificial ou Big Data. Na Europa e nos Estados Unidos da América, é cada vez mais comum ver parcerias entre empresas farmacêuticas tradicionais, empresas de saúde impulsionadas por inteligência artificial e empresas líderes em tecnologia. Algumas das principais farmacêuticas já estão a criar as suas próprias equipas internas para desenvolver sistemas de dados e manter as máquinas fora do alcance da concorrência. Concorrência A inteligência artificial já está a criar uma concorrência nova e crescente para os operadores tradicionais na indústria farmacêutica. Já existem dispositivos portáteis que monitorizam tudo, desde os níveis de glicose no sangue à frequência cardíaca. Grande parte deles é proveniente de fabricantes e comercializadores que são novos no sector, incluindo gigantes do retalho e da tecnologia. Na realidade, a inteligência artificial é apenas uma das áreas na qual as empresas não farmacêuticas estão a entrar no sector: promotores imobiliários constroem hospitais, fabricantes de electrodomésticos produzem equipamentos médicos, gigantes da Internet vendem medicamentos, empresas de telecomunicações oferecem telemedicina e instituições financeiras começaram a oferecer seguros de saúde e cuidados de saúde preventivos. Algumas destas empresas poderão adquirir empresas farmacêuticas ou de biotecnologia de média dimensão, indica o estudo.

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL JÁ ESTÁ A CRIAR UMA CONCORRÊNCIA NOVA E CRESCENTE PARA OS OPERADORES TRADICIONAIS NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA. JÁ EXISTEM DISPOSITIVOS PORTÁTEIS QUE MONITORIZAM TUDO, DESDE OS NÍVEIS DE GLICOSE NO SANGUE À FREQUÊNCIA CARDÍACA. GRANDE PARTE DELES É PROVENIENTE DE FABRICANTES E COMERCIALIZADORES QUE SÃO NOVOS NO SECTOR, INCLUINDO GIGANTES DO RETALHO E DA TECNOLOGIA

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PERSPECTIVA

LINFOMAS. REVISÃO DE LITERATURA O TERMO CANCRO É UTILIZADO PARA REPRESENTAR UM AMPLO ESPECTRO DE DOENÇAS, QUE POSSUEM EM COMUM O CRESCIMENTO DESORDENADO DE CÉLULAS QUE PODEM OU NÃO INVADIR OU INFILTRAR OUTROS TECIDOS E ÓRGÃOS DIFERENTES DAQUELES EM QUE SURGIRAM. ENTRE OS TIPOS DE CANCRO, ENCONTRAMOS OS CANCROS OU NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS, GRUPO HETEROGÉNEO DE DOENÇAS QUE AFECTAM OS PRECURSORES DE CÉLULAS SANGUÍNEAS NA MEDULA ÓSSEA. ISTO É, SÃO DOENÇAS QUE APRESENTAM ALTERAÇÕES NO SANGUE OU NOS TECIDOS FORMADORES DO MESMO, DESENCADEANDO UMA PROLIFERAÇÃO ANORMAL DAS CÉLULAS DO SANGUE. DE ENTRE ALGUMAS DAS DOENÇAS HEMATOLÓGICAS CONHECIDAS, ENCONTRAMOS AS LEUCEMIAS, O MIELOMA MÚLTIPLO E OS LINFOMAS.

Dra. Nazaré da S. Amaro Oncohematologista no Instituto Angolano de Controlo do Câncer (IACC)

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O

cancro é, actualmente, um dos principais problemas de saúde pública no mundo e configura-se como uma das principais causas de morte, o que constitui uma barreira importante para o aumento da expectativa de vida em todos os países do mundo. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o cancro é a primeira ou a segunda principal causa de morte antes dos 70 anos de idade em 112 de 183 países e ocupa o terceiro ou quarto lugar em mais de 23 países. A incidência e a mortalidade por cancro têm vindo a aumentar, em parte pelo aumento da expectativa de vida (as pessoas vivem mais agora dos que nos séculos passados), pelo declínio acentuado nas taxas de mortalidade por AVC e doenças coronárias em muitos países, pelo crescimento populacional, como também pela mudança na distribuição e na prevalência dos factores de risco de cancro, especialmente os associados ao desenvolvimento socioeconómico. De acordo com o Globocan, a estimativa produzida pela Agency for Research on Cancer, ocorreram 19,3 milhões de casos novos de cancro (18,1 milhões se excluirmos cancro de pele não melanoma) e quase 10 milhões de mortes por cancro (9,9 milhões se excluirmos cancro de pele não melanoma) em 2020. O cancro de pele não melanoma foi o mais incidente (177 mil), seguido pelos cancros de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41

A INCIDÊNCIA DE CASOS DE LINFOMA PERMANECEU ESTÁVEL NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, ENQUANTO A MORTALIDADE FOI REDUZIDA EM MAIS DE 60%, DESDE O INÍCIO DOS ANOS 1970, DEVIDO AOS AVANÇOS NO TRATAMENTO

mil), linfomas (33 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). A incidência de casos de linfoma permaneceu estável nas últimas décadas, enquanto a mortalidade foi reduzida em mais de 60%, desde o início dos anos 1970, devido aos avanços no tratamento. O que é um linfoma? Linfoma é o nome dado a um conjunto de cancros que atacam o sistema responsável por combater infecções, o sistema linfático. Esse sistema é composto por órgãos, vasos e tecidos linfáticos e pelos linfonodos, que se distribuem em posições estratégicas do corpo para ajudar na defesa contra infecções. Esse sistema produz e transporta os glóbulos brancos, células que combatem as infecções e participam do sistema imunológico. O linfoma ocorre quando uma célula normal do sistema linfático sofre mutações e passa a multiplicar-se de forma descontrolada, disseminando-se por todo o organismo. Quais os tipos de linfomas presentes em Angola? Os linfomas podem ser divididos em dois grupos: Linfomas de Hodgkin (LH) e Linfomas não Hodgkin (LNH), ambos presentes em Angola. O LH é um tipo diferenciado de linfomas pela presença de um tipo específico de células cancerosas, chamadas de Reed-Sternberg. Por sua vez, o LNH é constituído por mais de 50 entidades diferentes que envolvem os linfócitos B (mais de 80% a 85%) ou os linfócitos T (representam 20%). Cada um deles tem uma histologia diferente, um padrão celular e de sintomas e progressão diferentes.

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OS LINFOMAS PODEM SER DIVIDIDOS EM DOIS GRUPOS: LINFOMAS DE HODGKIN (LH) E LINFOMAS NÃO HODGKIN (LNH), AMBOS PRESENTES EM ANGOLA

Os LNH são mais comuns do que os LH; constituem o sexto cancro mais comum em termos de prevalência na estatística mundial e a quarta causa de morte por cancro. Esta doença pode acometer qualquer faixa etária, no entanto, é mais comum entre adolescentes e adultos de 15 a 39 anos e idosos acima de 55 anos, sendo os homens mais acometidos do que as mulheres. Alguns linfomas estão relacionados a infecções virais crónicas (como HIV - vírus da imunodeficiência humana, HTLV - vírus linfotrópico humano, EBV - vírus Epstein Barr) que podem propiciar a mutação das células linfáticas. Outros factores, como histórico familiar e factores ambientais, podem estar relacionados, mas, na maior parte dos casos, não há uma causa definida. Quais são os principais sinais e sintomas? Em relação aos sinais e sintomas do linfoma, o primeiro sinal é a presença de linfonodos (ínguas) aumentados, mesmo sem infecção. Podem surgir em qualquer parte do corpo e os sintomas dependem da sua localização. Caso se desenvolvam em locais superficiais, como pescoço, axilas e virilhas, formamse linfonodos indolores nos locais. Caso ocorram na região do tórax, podem manifestar-se com sintomas como tosse, falta de ar e dor torácica. Na pelve e abdómen, os sintomas são sensação de estômago cheio e distensão abdominal. De modo geral, os linfonodos podem ser dolorosos e estar acompanhados de febre, perda de peso sem motivo aparente, suor excessivo à noite, fraqueza, prurido e aumento do volume do abdómen. Os sintomas são parecidos com os de outras doenças das células B (linfócitos). O aparecimento de adenopatias (aumento do volume dos gânglios linfáticos decorrente da proliferação de linfócitos ou infiltração por células inflamatórias ou neoplásicas) na região cervical num adulto jovem, a presença de febre intermitente, perda de peso involuntária e sudorese nocturna podem permitir a

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suspeita de um diagnóstico, que deverá ser confirmado por exames complementares. Como é feito o diagnóstico dos linfomas? Quando há suspeita de linfoma, o paciente deve ser submetido à biópsia do linfonodo alterado, que será analisado posteriormente por um patologista especializado. O procedimento é feito através da remoção de uma pequena amostra do tecido, ou do gânglio inteiro, para análise. Feito o diagnóstico, deve ser feito o estadiamento, para identificar outras áreas possivelmente acometidas pelo cancro. São solicitados exames de imagem, para auxiliar no diagnóstico, dependendo de cada tipo de linfoma. A tomografia computorizada (TAC) constitui a técnica mais sensível disponível para determinar a localização e o tamanho dos linfonodos; outros exames, tais como ressonância magnética (RM) do cérebro ou da medula espinhal, são realizados conforme a presença ou não de sintomas no sistema nervoso (SNC). Após os exames, o linfoma é classificado em quatro estágios com base na extensão da sua disseminação: I, II, III e IV. Quanto mais alto o número, mais disseminada a doença. É de vital importância que o diagnóstico seja feito o mais brevemente possível, pois disso dependem as possibilidades de sucesso do tratamento. Quanto mais tarde for o diagnóstico, maiores as probabilidades da doença estar num estágio mais avançado. Em que consiste o tratamento para esses casos? A maioria dos pacientes com linfoma pode ser curada com o tratamento actual, quando tratados adequadamente. O tratamento clássico é a poliquimioterapia, isto é, quimioterapia (QT) com múltiplas drogas, com ou sem radioterapia (RdT) associada ou isolada. Dependendo da gravidade da doença,


ou seja, do estágio em que estiver a doença (doença localizada ou doença avançada), estima-se a quantidade de QT que o paciente receberá. Existe a possibilidade de reincidência dos linfomas? Para os pacientes que sofrem recaídas, ou seja, que não respondem favoravelmente ao tratamento inicial ou cuja resposta dura menos de um ano, existem muitas alternativas que vão depender da forma inicial de tratamento, mas geralmente envolvem poliquimioterapia e transplante de medula óssea. Após o tratamento, todos pacientes devem ser seguidos em consultas periódicas, cujos intervalos podem ir aumentando progressivamente de acordo com o estado do paciente. Que trabalho o Instituto Angolano de Controlo do Câncer (IACC) e outras instituições têm vindo a desenvolver no caso destes pacientes? O IACC, como instituição pública de referência, presta cuidado assistencial aos doentes com linfomas e outras patologias hematológicas, desde o momento do diagnóstico até ao tratamento, e além, pois os mesmos mantêm-se em seguimento por cinco anos após o término do tratamento oncológico. Quais são os maiores desafios e dificuldades sentidos pelos doentes oncológicos em Angola? Os maiores desafios e dificuldades encontrados baseiam-se nas limitações de conhecimento que a população tem sobre os cancros, em geral, e sobre os linfomas, em particular. A cultura exerce também um grande impacto, pois dificulta não só o diagnóstico precoce como o tratamento atempado das doenças oncológicas. E, por último, e não menos importante, o comum

a todos os países em vias de desenvolvimento e com baixos recursos, como o nosso: existem poucas unidades e poucos profissionais especializados na área para a alta demanda. Considerações finais O termo cancro engloba as neoplasias hematológicas, que têm como característica o crescimento desordenado de células, podendo invadir tecidos e órgãos. É o principal problema de saúde pública no mundo. O linfoma é caracterizado por atacar o sistema imune (sistema linfático), acometendo pessoas de todas as idades, mas principalmente jovens e adultos de 15 a 39 anos e acima de 55 anos, sendo mais comum em homens. Em relação aos sintomas do linfoma, o primeiro sinal é a presença de linfonodos (ínguas) aumentados, mesmo sem infecção. Quando há suspeita de linfoma, o paciente deve ser submetido a uma biópsia do nódulo alterado. Os factores de risco para o linfoma de Hodgkin ainda não estão bem estabelecidos, mas os investigadores sugerem algumas associações para o risco aumentado de desenvolvimento da doença. A incidência de novos casos permaneceu estável nas últimas cinco décadas, enquanto a mortalidade foi reduzida em mais de 60%, desde o início dos anos 70, devido aos avanços no tratamento.

Referências: 1. American Cancer Society. Cancer Facts & Figures 2009. Atlanta: American Cancer 2. Características do câncer da criança e do adolescente, segundo a classificação de tumores infantis 3. Estatística para linfoma não Hodgkin. Oncoguia, 2020. Disponível em http://www.oncoguia.org.br/conteudo/estatistica-para-linfoma-naohodgkin/7771/52/#:~:text=O%20Instituto%20Nacional%20de%20 C%C3%A2ncer,par a%20cada%20100%20mil%20mulheres. Acesso em: 28/05/2022. 5. ESTEVES NUNES, Ana Isabel. Tumores do tecido hematopoiético e linfático que afetam as células B maduras 6. Instituto Nacional do Câncer – INCA. O que é câncer? 7. SENA OLIVEIRA, Lorena; AIRES LUTOSA DA CRUZ, Jordão; ROCKENBACH, Mariana; DOBRACHINSKI, Leandro. ASPECTOS CLÍNICOS E HISTOPATOLÓGICOS DOS LINFOMAS HODKING E NÃO HODKING: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Brazilian Journal of Development, [S. l.], p. 1-8, 17 fev. 2021 8. António Armando1,2§, Mary Clarisse Bozzetti1, Alice de Medeiros Zelmanowicz2 e Fernando Miguel2. A epidemiologia do cancro em Angola - Resultados do Registo de Cancro do Centro Nacional de Oncologia de Luanda/Angola

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ENTREVISTA

“DEVEMOS SENSIBILIZAR SEMPRE, CADA VEZ MAIS, E NÃO ESPERAR APENAS POR OUTUBRO”

Dr. Severino Chova de Azevedo MD e Oncologista Clínico

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OUTUBRO É CONSIDERADO O MÊS DE SENSIBILIZAÇÃO PARA O CANCRO DE MAMA, UM DOS MAIS PREVALENTES NO MUNDO E QUE, SEGUNDO A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, É A PRIMEIRA OU SEGUNDA CAUSA DE MORTE FEMININA POR CANCRO EM 95% DOS PAÍSES. MAS, ALERTA O DR. SEVERINO CHOVA DE AZEVEDO, ESTE É UM TRABALHO QUE DEVE SER CONTÍNUO AO LONGO DO ANO, DADA A IMPORTÂNCIA DO RASTREIO E DIAGNÓSTICO PRECOCE NO TRATAMENTO E SOBREVIDA DOS PACIENTES COM CANCRO DE MAMA. NESTA EDIÇÃO, O ONCOLOGISTA CLÍNICO ABORDA OS PRINCIPAIS DESAFIOS NA ABORDAGEM AO CANCRO DE MAMA EM ANGOLA, NOMEADAMENTE AQUELES QUE TÊM AFECTADO NEGATIVAMENTE O DIAGNÓSTICO PRECOCE. TRABALHAR SOBRE CRENÇAS E BARREIRAS LINGUÍSTICAS E DESCENTRALIZAR O ACESSO AOS SERVIÇOS DE ONCOLOGIA FAZEM PARTE DAS RESPOSTAS.

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stamos no mês de sensibilização para o cancro de mama. Em que consiste esta doença? Quais são os vários tipos de cancro de mama? O cancro da mama é um tumor maligno que consiste num crescimento ou proliferação anormal, autónoma e descontrolada dos tecidos mamários, geralmente nos ductos (tubos que transportam o leite para o mamilo) ou nos lóbulos (glândulas que produzem o leite). Os tipos histológicos de cancros de mama são o carcinoma ductal in situ, o carcinoma microinvasivo, o carcinoma mamário invasivo (ductal e lobular), o carcinoma tubular, o carcinoma cribriforme invasivo, o carcinoma medular, o carcinoma mucinoso, o carcinoma com diferenciação em células em anel de sinete, o carcinoma micropapilar invasivo, o carcinoma com diferenciação apócrina, o carcinoma inflamatório, a doença de Paget, o angiossarcoma e o tumor filoide. Do ponto de vista molecular, os cancros de mama podem ser luminal A (corresponde àquele cancro que é positivo para receptores das hormonas de estrogénio e progesterona e apresenta crescimento mais lento das células - ki67 <14% - , possui melhor prognóstico, com taxas mais altas de sobrevivência e baixas taxas

de recorrência), luminal B (aquele cancro que é positivo para receptores das hormonas de estrogénio e progesterona, no entanto, o seu nível de proliferação celular é mais acelerado que o luminal A - ki67 >14% -, possui um prognóstico mais reservado, pois os pacientes com este subtipo são normalmente diagnosticados com tumores em estágios mais avançados e com linfonodos positivos, além de maior percentagem de mutações de p53), HER2 positivo (possui apenas este gene - HER2 - positivo, o prognóstico é mais reservado relativamente aos subtipos luminais, pois as pacientes estão propensas a recorrência frequente e precoce, além de metástases, porém respondem a terapia alvo biológica anti-HER2) e triplo-negativo (aquele cancro que é negativo para receptores das hormonas de estrogénio, progesterona e HER2, possui um prognóstico pior em comparação aos subtipos luminais em relação à sobrevida em cinco anos, até porque não pode ser tratado com terapia hormonal ou transtuzumab, justamente pela ausência de receptores). O que poderá estar na causa do aparecimento de cancro de mama e quais os principais factores de risco associados? O cancro de mama é causado por alterações genéticas, directamente relacionadas à biologia celular, que podem ser estimuladas por factores ambientais, tais como tabagismo, uso de hormonas (TRH – terapia de reposição hormonal por tempo prolongado), obesidade, fumo e alcoolismo. Também é mais frequente nas mulheres que têm início da menstruação em idade muito jovem e menopausa tardia. O uso de anticoncepcionais orais tem sido associado ao aumento da incidência, porém, os dados da literatura não são conclusivos. Em 5% a 10% dos casos, o tumor decorre de mutações genéticas encontradas em grupos familiares e é mais frequente em determinados grupos étnicos, como, por exemplo, as mulheres brancas, caucasianas, particularmente as judias de origem europeia. Atenção deve ser dada às pacientes com antecedentes familiares importantes de cancro de mama, particularmente quando há casos na família de mulheres acometidas antes dos 35 anos de idade. Que sintomas poderão ser sinais de alerta da doença? O sintoma mais comum de cancro de mama é o aparecimento de nódulos, que em geral são indolores, frequentemente duros e irregulares, e menos frequentemente macios e arredondados.

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A par do nódulo, outros sinais observados são o inchaço em parte da mama semelhante à casca de laranja, irregularidades ou retracções na pele da mama, dor ou inversão do mamilo, vermelhidão e descamação do mamilo ou na pele da mama, saída de secreção pelo mamilo, particularmente se for sanguinolenta ou translúcida, e nódulo nas axilas. Em que consiste o diagnóstico do cancro de mama? O diagnóstico de cancro de mama consiste no exame físico (é imprescindível na avaliação de lesões suspeitas de neoplasia mamária, bem como na diferenciação entre nódulos palpáveis e não palpáveis), ecografia (mostra se é um nódulo ou um quisto cheio de líquido, ou uma massa sólida que pode, ou não, ser cancerígena), mamografia e exame de biópsia de nódulo de mama (que consiste em tirar um pedaço do tumor para confirmação do diagnóstico e definir o tipo histológico) e imunohistoquímica para definir o perfil ou tipo molecular (luminal A, luminal B, HER2 e triplo-negativo). Sabemos que o diagnóstico precoce pode ser um factor de extrema importância para combater a doença. Qual a importância dos rastreios associados ao mês de sensibilização da doença? O rastreio e o diagnóstico precoce do cancro de mama são uma estratégia que deve ser dirigida para detectar as lesões pré-malignas ou malignas o mais cedo possível, de forma a permitir o maior sucesso no tratamento, evitar tratamentos mais mutilantes (agressivos) e possibilitar uma sobrevida livre de doença e global mais longa. Devemos sensibilizar sempre, cada vez mais, e não esperar apenas por Outubro. Este mês deveria ter como foco o reforço da informação. Quais são as opções de tratamento de cancro de mama? O cancro de mama tem várias opções de tratamento. Estes tratamentos incluem cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapêutica hormonal, terapêuticas alvo dirigidas e imunoterapia. Que acompanhamento deverá ser feito a um doente com cancro de mama? Qual a importância dos cuidados médicos, de enfermagem e do apoio psicológico a estes doentes? De forma geral, seguindo as recomendações da Sociedade Americana de Oncologia (ASCO) e da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO), devese fazer consulta de acompanhamento regular, exame físico completo e exame de imagem mamária, entre outros, no sentido de fazer um diagnóstico

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precoce das recidivas tumorais (mesmo fazendo o tratamento correcto, ainda existe a possibilidade de reaparecimento do tumor) ou surgimento de um outro tumor, dependendo de factores de risco. É de extrema importância e dever do profissional de saúde (médico, enfermeiro e psicólogo) fazer um acompanhamento rigoroso, para detectar efeitos colaterais ou complicações do tratamento, actuando no controlo dos sintomas da doença e do estado mental, atendendo os estigmas que as pacientes podem sofrer no meio social. Esse olhar cuidadoso vai além do cuidado físico e psicossocial. Quais são os principais desafios enfrentados por um doente com cancro de mama em Angola? Os principais desafios passam por divulgar mais a informação sobre o cancro de mama, fazer diagnóstico precoce; descentralizar ao máximo o serviço de oncologia (está restrito à capital, Luanda), para que a população da periferia e de outras províncias tenha acesso fácil ao mesmo; trabalhar sobre as crenças que têm afectado negativamente o diagnóstico precoce, trabalhar sobre as barreiras linguísticas, uma vez que somos um povo heterogéneo; fazer palestras sobre o cancro de mama, principalmente em línguas nacionais, para que as informações consigam chegar; e melhorar o sistema de diagnóstico, para melhor direccionar o tratamento de cancro de mama, entre outros. Que mensagem de sensibilização passaria a todas as mulheres? As mulheres que desenvolveram o cancro de mama devem saber que a sua presença não significa o fim da vida, mas o início de uma nova luta, forte e contínua, para combater um inimigo que pode ser destruído; basta estarmos unidos que seremos mais fortes. Aquelas que não desenvolveram o cancro, e são consideradas de alto risco, devem fazer o rastreio de forma regular, para que se detecte lesões iniciais, caso desenvolvam. Na sua opinião, o que poderemos ainda realizar na temática da sensibilização para o cancro de mama? Devemos fazer o máximo de palestras possível, principalmente na língua materna e nacionais, para que a informação chegue a toda a população, no sentido de se fazer o rastreio, trabalhar sobre as barreiras culturais, de modo a facilitar o diagnóstico precoce da doença, assim como descentralizar o serviço de oncologia para zonas fora de Luanda, para facilitar o acesso ao mesmo.


Quem somos Somos uma empresa Portuguesa que atua na área da saúde. Fazemos armazenamento, distribuição e exportação de medicamentos, dispositivos médicos, material hospitalar e consumíveis obedecendo aos altos padrões de qualidade internacional. O acompanhamento e proximidade para com os nossos clientes é algo que nos caracteriza e diferencia.

Os nossos serviços

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Comercialização Dispomos de um vasto leque de fornecedores e milhares de referências de produtos nas várias áreas da saúde.

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Principais áreas de atuação

Orgulhamo-nos de desenvolver relações próximas com quem trabalhamos, acreditando que o sucesso e crescimento dos nossos clientes são também eles o nosso crescimento e sucesso enquanto empresa.

Análises Clínicas

Oncologia

Anatomia Patológica

Medicina Dentária

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ENTREVISTA ANÁLISE

2,3 MILHÕES DE MULHERES EM TODO O MUNDO DIAGNOSTICADAS COM CANCRO DE MAMA 22 SAÚDE


EM 95% DOS PAÍSES, O CANCRO DE MAMA É A PRIMEIRA OU SEGUNDA CAUSA DE MORTE FEMININA POR CANCRO. NO ENTANTO, A SOBREVIVÊNCIA AO CANCRO DE MAMA É AMPLAMENTE DESIGUAL ENTRE PAÍSES E DENTRO DE CADA PAÍS. QUASE 80% DAS MORTES POR CANCRO DE MAMA E DO COLO DO ÚTERO OCORREM EM PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO.

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m 2020, 685 mil pessoas morreram de cancro de mama em todo o mundo. Cerca de metade de todos os casos de cancro de mama afectam mulheres que não têm outros factores de risco específicos para além do sexo e da idade. Esta patologia ocorre em todos os países do mundo, mas os que têm sistemas de saúde mais frágeis são os menos capazes de gerir o fardo crescente. “Coloca uma tremenda pressão sobre indivíduos, famílias, comunidades, sistemas de saúde e economias, por isso, deve ser uma prioridade para os Ministérios da Saúde e Governos em todos os lugares”, alerta o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Temos as ferramentas

e o know-how para prevenir o cancro de mama e salvar vidas. A OMS está a apoiar mais de 70 países, particularmente de baixo e médio rendimento, para detectar precocemente o cancro de mama, diagnosticá-lo mais rapidamente, tratá-lo melhor e dar a todas as pessoas com cancro de mama a esperança de um futuro sem cancro”. O cancro de mama é uma doença em que as células anormais da mama se multiplicam incontrolavelmente e formam tumores que, se não forem tratados, podem espalhar-se por todo o corpo e causar a morte. De acordo com a OMS, em 2020, 2,3 milhões de mulheres em todo o mundo foram diagnosticadas com cancro de mama. No final do mesmo ano, 7,8 milhões de mulheres que tinham sido diagnosticadas com cancro de mama nos cinco anos anteriores ainda estavam vivas, tornando-se no cancro mais prevalente no mundo. A mortalidade por cancro de mama pouco mudou entre as décadas de 1930 e 1970, quando o tratamento primário consistia apenas em intervenção cirúrgica (mastectomia radical). As taxas de sobrevivência começaram a melhorar na década de 1990, quando os países implementaram programas de detecção precoce, associados a programas de tratamento abrangentes, que incluíam tratamentos medicamentosos eficazes.

O OBJECTIVO DA INICIATIVA GLOBAL CONTRA O CANCRO DE MAMA DA OMS É REDUZIR A MORTALIDADE GLOBAL POR ESTA PATOLOGIA EM 2,5% POR ANO, PREVENINDO 2,5 MILHÕES DE MORTES POR CANCRO DE MAMA EM TODO O MUNDO, ENTRE 2020 E 2040. SE ESSA META FOR CUMPRIDA, 25% DAS MORTES POR CANCRO DE MAMA ENTRE AS MULHERES COM MENOS DE 70 ANOS SERÁ EVITADO ATÉ 2030 E, ATÉ 2040, ESSE NÚMERO SERÁ DE 40%

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Impacto global Entre as décadas de 1980 e 2020, a mortalidade por cancro de mama padronizada por idade caiu 40% nos países de alta renda. Os que foram bem-sucedidos nos seus esforços para reduzir a mortalidade por cancro de mama conseguiram uma redução anual de 2% a 4%. O objectivo da Iniciativa Global contra o Cancro da Mama da OMS é reduzir a mortalidade global por esta patologia em 2,5% por ano, prevenindo 2,5 milhões de mortes por cancro de mama em todo o mundo, entre 2020 e 2040. Se essa meta for cumprida, 25% das mortes por cancro de mama entre as mulheres com menos de 70 anos será evitado até 2030 e, até 2040, esse número será de 40%. Pertencer ao sexo feminino é o principal factor de risco no caso do cancro de mama. Apenas aproximadamente 0,5% a 1% dos casos afecta homens, cujo tratamento segue os mesmos princípios que os aplicados às mulheres. O cancro nas mulheres, incluindo o cancro de mama, tem um impacto devastador para a próxima geração. Um estudo de 2020 da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro sugere que, com cerca de 4,4 milhões de mulheres a morrer de cancro em 2020, quase um milhão de crianças ficaram órfãs, 25% das quais devido ao cancro de mama. O quadro recentemente publicado tira partido de estratégias comprovadas para conceber sistemas de saúde específicos de cada país e adequados aos recursos para a prestação de cuidados ao cancro da mama, em contextos de baixo e médio rendimento. Define três pilares de acção com indicadores-chave de desempenho específicos: • Recomendar aos países que se concentrem nos programas de detecção precoce do cancro da mama, de modo que, pelo menos, 60% seja diagnosticado e tratado como doença em fase inicial. O diagnóstico dentro de 60 dias após a apresentação inicial pode melhorar os resultados. O tratamento deve ser iniciado no prazo de três meses após a primeira apresentação. • Gerir o cancro da mama de modo que, pelo menos, 80% das doentes complete o tratamento recomendado.

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• Acelerar a implementação da Iniciativa Mundial contra o Cancro da Mama da OMS. Tem o potencial de evitar não só milhões de mortes por cancro feminino, mas também as consequências intergeracionais associadas a essas mortes. Em 2017, a Assembleia Mundial da Saúde aprovou a Resolução “Prevenção e controlo do cancro no contexto de uma abordagem integrada”. Desde 2018, a OMS tem desenvolvido iniciativas integradas nos cancros das mulheres e das crianças, apelando também à eliminação do cancro do colo do útero e à duplicação da sobrevivência ao cancro infantil. No seu conjunto, estas iniciativas podem reverter os danos geracionais causados pelo cancro e salvar mais de um milhão de vidas nos próximos 10 anos.


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PERSPECTIVA

OUTUBRO ROSA ACÇÕES QUE CRIAM MEMÓRIAS UM POUCO POR TODO O MUNDO, O MÊS DE OUTUBRO É DEDICADO À SENSIBILIZAÇÃO PARA O CANCRO DA MAMA, UMA DOENÇA QUE É A PRINCIPAL CAUSA DE MORTE POR CANCRO NAS MULHERES DE TODO O MUNDO. ANGOLA NÃO É EXCEPÇÃO. EMBORA NÃO CONSIGA PRECISAR OS NÚMEROS CORRECTOS E OFICIAIS, ESTA AINDA É UMA DOENÇA QUE CAUSA A MORTE A MUITAS MULHERES QUE, SE TIVESSEM A OPORTUNIDADE DE SEREM PREVENTIVAS NO DIAGNÓSTICO, PODERIAM INICIAR O TRATAMENTO NUM ESTADO INICIAL DA DOENÇA.

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Ana Rita Fernandes Directora de Marketing e Comunicação da Clínica Luanda Medical Center

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ara combater esta doença, o Luanda Medical Center associa-se a este movimento e realiza, todos os anos, uma campanha de rastreio e literacia para a saúde. Esta campanha, ainda que simples na sua dinâmica, consiste em oferecer palestras sobre cancro da mama, alimentação e estilo de vida, realizadas sobretudo em empresas sediadas em Luanda ou Talatona. Num mercado tão competitivo e desafiador como o da saúde em Angola, é fundamental que clínicas ou hospitais se diferenciem e se tornem relevantes e gerem valor aos seus clientes. Para isto acontecer, é preciso investir nos clientes com estratégias de consciencialização e acções que criam memórias positivas, que tragam mais conhecimento a si próprios e trabalhem o vector da reputação e valor. É preciso investir em pessoas e no seu empoderamento individual, para que possam fazer cada vez mais escolhas conscientes.


ACREDITAMOS QUE TODAS AS PESSOAS TÊM O DIREITO DE TER ACESSO A CUIDADOS DE SAÚDE DE QUALIDADE E QUE ESSAS PESSOAS DEVEM SER EMPODERADAS PARA TOMAR DECISÕES INFORMADAS SOBRE A SUA PRÓPRIA SAÚDE

O Luanda Medical Center tem como propósito gerar valor ao prestar cuidados de saúde de qualidade, centrados no doente e na sua participação activa no processo de tratamento. Acreditamos que todas as pessoas têm o direito de ter acesso a cuidados de saúde de qualidade e que essas pessoas devem ser empoderadas para tomar decisões informadas sobre a sua própria saúde. A nossa estratégia de comunicação baseia-se na transparência, no valor que geramos no mercado e nos conteúdos relevantes que desenvolvemos, por isso, trabalhar em acções consistentes e de longo prazo demonstra o compromisso de continuidade que queremos assumir com os nossos clientes. Gerar memórias positivas e empoderar estas mulheres constrói uma consciencialização cada vez maior sobre temas de saúde e bem-estar, enquanto geramos um valor de “employeer

branding” com as empresas que, em conjunto, se unem a nós nestas acções. A equipa do Luanda Medical Center por detrás destas acções, e de que raramente se fala, é a base para que estes projectos sejam um sucesso para todos. O poderoso envolvimento e entrega destas equipas de profissionais são de uma dedicação impressionante. Nestas palestras, a nossa equipa de Imagiologia desdobra-se para conseguir responder à exigência do serviço e à afluência de clientes diários e, ao mesmo tempo, estar presente em todas as empresas com as quais nos comprometemos em levar valor. Ter equipas comprometidas no mesmo propósito é de um valor muito grande para uma marca. Posso adiantar que, pessoalmente, tenho muito orgulho na nossa equipa de profissionais, que usam a nossa marca diariamente com muita estima e sentimento de pertença.

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ANÁLISE

NEGLIGÊNCIA COM A SAÚDE ORAL AFECTA QUASE METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL 28 SAÚDE


O ÚLTIMO “GLOBAL STATUS REPORT ON ORAL HEALTH”, DIVULGADO PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), FORNECE A PRIMEIRA VISÃO ABRANGENTE DA DOENÇA ORAL, COM PERFIS DE DADOS PARA 194 PAÍSES. O RELATÓRIO MOSTRA QUE QUASE METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL (45% OU 3,5 MIL MILHÕES DE PESSOAS) SOFRE DE DOENÇAS ORAIS E QUE TRÊS EM CADA QUATRO PESSOAS AFECTADAS VIVEM EM PAÍSES DE BAIXA E MÉDIA RENDA.

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s casos globais de doenças orais aumentaram em cerca de mil milhões, nos últimos 30 anos, um sinal claro de que muitas pessoas não têm acesso à prevenção e ao tratamento. “A saúde oral tem sido negligenciada como parte da saúde global, mas muitas doenças orais podem ser prevenidas e tratadas com as medidas custo-efectivas descritas neste relatório”, indica o director geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. “A OMS está empenhada em fornecer orientação e apoio aos países, para que todas as pessoas, independentemente de onde vivam e qualquer que seja o seu rendimento, tenham o conhecimento e as ferramentas para cuidar dos seus dentes e boca e para aceder a serviços de prevenção e a cuidados quando deles necessitam”. Rápido aumento das doenças orais As doenças orais mais frequentes são a cárie dentária, a periodontite grave, a perda dentária e o cancro oral. A cárie dentária não tratada é a condição mais

prevalente a nível mundial e estima-se que afecte 2.500 milhões de pessoas. Já a periodontite grave, uma das principais causas de perda total de dentes, afecta mil milhões de pessoas em todo o mundo. Por sua vez, cerca de 380 mil novos casos de cancro oral são diagnosticados a cada ano. O relatório destaca a flagrante desigualdade no acesso aos serviços de saúde oral, já que as pessoas com baixos rendimentos, as pessoas com deficiência, os idosos que vivem sozinhos ou em lares, as pessoas que vivem em comunidades rurais remotas e as pertencentes a grupos minoritários suportam um fardo mais elevado. Este padrão de desigualdades é semelhante ao de outras doenças não transmissíveis, como o cancro, as doenças cardiovasculares, a diabetes e as perturbações mentais. Factores de risco comuns para doenças não transmissíveis, como o alto consumo de açúcar, todas as formas de uso de tabaco e o consumo nocivo de álcool, contribuem para a crise global na saúde oral. Factos e números Em todo o mundo, estima-se que dois mil milhões de pessoas sofram de cáries em dentes definitivos, enquanto 514 milhões de crianças sofrem de cáries em dentes de leite. Já as doenças periodontais graves afectam aproximadamente 19% dos adultos, representando mais de mil milhões de casos em todo o mundo. Os principais factores de risco são a má higiene oral e o consumo de tabaco. Por sua vez, a perda dentária é, muitas vezes, o ponto final de uma longa história de doenças orais, particularmente cáries avançadas e doença periodontal grave, mas também pode ser devida a traumas. A prevalência média global estimada desta condição entre pessoas com 20 anos ou mais é de quase 7%. No caso das pessoas com 60 anos ou mais, essa percentagem é bem maior, chegando a 23%. O trauma oral, por seu turno, é o resultado de lesões nos dentes, boca e cavidade oral. De acordo com as estimativas mais recentes, afecta mil milhões de pessoas e a sua

OS CASOS GLOBAIS DE DOENÇAS ORAIS AUMENTARAM EM CERCA DE MIL MILHÕES, NOS ÚLTIMOS 30 ANOS, UM SINAL CLARO DE QUE MUITAS PESSOAS NÃO TÊM ACESSO À PREVENÇÃO E AO TRATAMENTO

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prevalência no caso de crianças até aos 12 anos ronda os 20%. Pode ser devido tanto a lesões orais (como desalinhamento dos dentes) como ambientais (falta de segurança em instalações recreativas, comportamentos de risco, colisões de trânsito e actos violentos). O tratamento é dispendioso e demorado e, por vezes, leva à perda dentária, o que prejudica o desenvolvimento facial e psicológico e a qualidade de vida. Fazem também parte do conjunto de doenças orais a noma, a fissura labiopalatina e o cancro oral. Noma é uma doença gangrenosa grave da boca e da face, que afecta principalmente crianças de 2 a 6 anos que sofrem de desnutrição e doenças infecciosas e vivem em condições de extrema pobreza, com má higiene oral e um sistema imunológico enfraquecido. Embora a doença ocorra principalmente na África Subsaariana, alguns casos também foram relatados na América Latina e na Ásia. A noma começa como uma lesão de tecidos moles (uma ferida) das gengivas. Posteriormente, evolui para gengivite necrosante aguda, que progride rapidamente e destrói os tecidos moles e, posteriormente, os tecidos duros e a pele da face. De acordo com as estimativas mais recentes (1998), registam-se 140 mil novos casos de noma por ano. Se não tratada, a doença é fatal em 90% dos casos. Os sobreviventes sofrem de desfiguração facial grave, têm dificuldade em falar e comer, sofrem estigma social e necessitam de cirurgia e reabilitação complexas. Quando a doença é detectada numa fase inicial, a sua

Saúde oral A saúde oral é o estado da boca, dentes e estruturas orofaciais que permite ao indivíduo desempenhar funções essenciais, como comer, respirar e falar, e engloba dimensões psicossociais, como a autoconfiança, o bemestar e a capacidade de socializar e trabalhar sem dor, desconforto e constrangimento. A saúde oral varia ao longo da vida, desde o início até à velhice, é parte integrante da saúde geral e apoia os indivíduos na participação na sociedade e na realização do seu potencial. As doenças orais englobam uma série de condições que incluem cáries dentárias, doença periodontal (gengiva), perda dentária, cancro oral, trauma orodentário e malformações congénitas, como a fissura labiopalatina. As doenças orais estão entre as doenças não transmissíveis mais comuns em todo o mundo, afectando cerca de 3,5 mil milhões de pessoas.

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evolução pode ser interrompida rapidamente com medidas básicas de higiene, antibióticos e melhor nutrição. Já a prevalência mundial de fissura labiopalatina, uma das anomalias congénitas craniofaciais mais comuns, é de um caso a cada mil a 1.500 nascimentos, embora variações consideráveis sejam observadas em diferentes estudos e populações. Uma das suas principais causas é a predisposição genética, embora a má nutrição materna, o consumo de tabaco e de álcool e a obesidade durante a gravidez também desempenhem um papel. Em ambientes de baixa renda, observa-se uma alta taxa de mortalidade no período neonatal. Se estas condições forem devidamente tratadas por intervenção cirúrgica, a reabilitação completa é possível. Finalmente, o cancro oral engloba os cancros de lábio, outras partes da boca e orofaringe e combinados são o 13.º tipo de cancro mais comum em todo o mundo. A incidência global estimada, em 2020, foi de 377.713 novos casos e 177.757 mortes. Na América do Norte e na Europa, uma percentagem crescente de cancros orais entre os jovens deve-se a infecções pelo vírus do papiloma humano. Barreiras e oportunidades Apenas uma pequena percentagem da população mundial está coberta por serviços essenciais de saúde oral e aqueles com maiores necessidades são também, muitas vezes, os que menos conseguem aceder a esses mesmos serviços. As principais barreiras aos cuidados de saúde oral incluem


a disponibilidade financeira. A prestação de serviços depende fortemente de prestadores altamente especializados, que utilizam equipamentos e materiais de alta tecnologia dispendiosos, e estes serviços não estão bem integrados nos modelos de cuidados de saúde primários. A fragilidade dos sistemas de informação e vigilância, aliada à baixa prioridade dada à investigação pública em saúde oral, são os principais estrangulamentos ao desenvolvimento de intervenções e políticas de saúde oral mais eficazes, de acordo com a OMS. Mas o relatório descreve também uma série de oportunidades para melhorar a situação global da saúde oral, incluindo a adopção de uma abordagem de saúde pública, versando os factores de risco comuns, promovendo uma dieta equilibrada e pobre em açúcares, deixando de fumar, reduzindo o consumo de álcool e melhorando o acesso a pastas dentífricas com flúor eficazes e a preços acessíveis. O planeamento dos serviços de saúde oral como parte da saúde nacional e a melhoria da integração dos serviços de saúde oral nos cuidados de saúde primários, como parte da cobertura universal de saúde, a redefinição dos modelos de pessoal para responder às necessidades da população e a ampliação das competências dos trabalhadores de saúde não dentária, de forma a alargar a cobertura dos serviços de saúde oral, assim como o reforço dos sistemas de informação através da recolha e integração de dados sobre saúde oral nos sistemas nacionais de vigilância da saúde fazem também parte das oportunidades.

A CÁRIE DENTÁRIA NÃO TRATADA É A CONDIÇÃO MAIS PREVALENTE A NÍVEL MUNDIAL E ESTIMA-SE QUE AFECTE 2.500 MILHÕES DE PESSOAS. JÁ A PERIODONTITE GRAVE, UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DE PERDA TOTAL DE DENTES, AFECTA MIL MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO. POR SUA VEZ, CERCA DE 380 MIL NOVOS CASOS DE CANCRO ORAL SÃO DIAGNOSTICADOS A CADA ANO

Angola De acordo com os dados da OMS, as cáries são as doenças orais mais prevalentes em Angola. Os dados de 2019 mostram uma prevalência de 37,8% de cáries não tratadas em dentes de leite em crianças de 1 a 9 anos e de 27,2% em dentes definitivos em pessoas com mais de 5 anos. Já a prevalência da doença periodontal grave em pessoas com mais de 15 anos é de 23,9% e a do edentulismo, ou seja, a falta de um ou mais dentes, em pessoas com mais de 20 anos é de 4%. No que se refere ao cancro dos lábios e da cavidade oral, em 2020, foram detectados 482 novos casos, dos quais, 316 em homens. A taxa de incidência por cada 100 mil pessoas é de 3,3 (4,6 entre os homens). A OMS indica ainda alguns dados sobre o impacto económico relacionado com o tratamento e prevenção das doenças orais. Segundo as informações de 2019, os gastos totais nos cuidados de saúde oral foram de 70 milhões de dólares, o que dá um gasto per capita de 2,3 dólares. A OMS estima, ainda, em 196 milhões de dólares a perda de produtividade relacionada com cinco doenças orais.

Resposta da OMS A prevalência das principais doenças orais continua a aumentar em todo o mundo, devido à crescente urbanização e às mudanças nas condições de vida. Isto deve-se principalmente à exposição insuficiente ao flúor (no abastecimento de água e em produtos de higiene oral, como a pasta de dentes), à disponibilidade e acessibilidade de alimentos ricos em açúcar e ao acesso insuficiente aos serviços de saúde oral na comunidade. Em 2021, a 74.ª Assembleia Mundial da Saúde aprovou uma resolução sobre saúde oral, recomendando o abandono da lógica curativa tradicional e a adopção de uma lógica de promoção preventiva, incluindo a promoção da saúde oral na família, na escola e no local de trabalho, e que inclui cuidados atempados, integrais e inclusivos no âmbito do sistema de cuidados primários. A resolução afirma que a saúde oral deve estar firmemente ancorada no combate às doenças crónicas não transmissíveis e que as intervenções nessa área devem ser incluídas em programas relacionados com cobertura universal de saúde. Em 2022, a Assembleia Mundial da Saúde adoptou a Estratégia Global de Saúde Oral, que visa alcançar a cobertura universal de saúde oral para todas as pessoas e comunidades até 2030. Para ajudar os países a implementar a estratégia global, está a ser desenvolvido um plano de acção pormenorizado, incluindo um quadro para monitorizar os progressos, com metas mensuráveis a atingir até 2030.

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PERSPECTIVA

A IMPORTÂNCIA DA MEDICINA DENTÁRIA PREVENTIVA: PREVENINDO PROBLEMAS E PROMOVENDO A SAÚDE BUCAL A MEDICINA DENTÁRIA PREVENTIVA DESEMPENHA UM PAPEL CRUCIAL NA MANUTENÇÃO DA SAÚDE BUCAL. ESSA ABORDAGEM PROACTIVA AJUDA A EVITAR PROBLEMAS DENTÁRIOS, COMO CÁRIES, GENGIVITE E DOENÇAS PERIODONTAIS. AO INCENTIVAR PRÁTICAS PREVENTIVAS, A MEDICINA DENTÁRIA NÃO SÓ EVITA O DESCONFORTO E A DOR ASSOCIADOS A ESSAS CONDIÇÕES, MAS TAMBÉM PROMOVE A SAÚDE BUCAL A LONGO PRAZO.

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2. Melhora da saúde geral: a saúde bucal está directamente relacionada à saúde geral. Problemas dentários, se não tratados, podem levar a complicações sistémicas, como doenças cardíacas, diabetes e pneumonia. A medicina dentária preventiva ajuda a manter a saúde bucal em dia, contribuindo para a prevenção dessas complicações.

Dr. Edwin Tavares Médico Dentista da Clínica CISOG da Centralidade do Kilamba

O

presente artigo explora a importância da medicina dentária preventiva e como pode beneficiar pessoas de todas as idades. A principal vantagem da medicina dentária preventiva é que aborda os problemas bucais antes mesmo de se manifestarem. Ao praticar uma boa higiene bucal e realizar exames regulares, podemos evitar a progressão de condições dentárias prejudiciais. Por exemplo, escovar os dentes, pelo menos, duas vezes ao dia, usar fio dental regularmente e fazer limpeza profissional a cada seis meses pode ajudar a prevenir o acúmulo de placa bacteriana, evitando assim cáries e doenças gengivais. Além disso, a medicina dentária preventiva envolve a educação sobre hábitos alimentares saudáveis, redução do consumo de açúcar e tabaco, cuidados com dentes e gengivas durante toda a vida e intervenções precoces quando os problemas começam a surgir. Estas medidas preventivas ajudam a reduzir a necessidade de tratamentos caros e invasivos no futuro.

3. Preservação de dentes naturais: cuidados preventivos, como exames regulares, limpezas profissionais e instruções sobre higiene bucal adequada, ajudam a preservar os dentes naturais por mais tempo. Isso resulta numa melhor qualidade de vida e autoestima. 4. Prevenção de doenças gengivais: a gengivite é uma condição inflamatória comum, mas pode levar à doença periodontal, que é mais grave e pode resultar na perda de dentes. A medicina dentária preventiva ajuda a identificar e a tratar a gengivite no seu estágio inicial, evitando a progressão para doença periodontal. A medicina dentária preventiva é fundamental para manter uma boa saúde bucal e geral. Ao adoptar hábitos de higiene oral adequados, fazer exames regulares e receber instruções sobre práticas preventivas, é possível evitar problemas dentários e preservar a saúde bucal ao longo da vida. Além disso, a medicina dentária preventiva contribui para a redução de custos financeiros e melhoria da qualidade de vida. Portanto, é essencial priorizar a prevenção e cuidar da saúde bucal de forma proactiva.

Benefícios da medicina dentária preventiva 1. Economia financeira: ao prevenir problemas dentários, a medicina dentária preventiva pode ajudar a evitar custos elevados com tratamentos correctivos ou procedimentos complexos. A detecção precoce de problemas dentários permite intervenções menos invasivas e, portanto, menos dispendiosas.

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REPORTAGEM

CLÍNICA SAGRADA ESPERANÇA REALIZA 5.ª JORNADAS DE MEDICINA DENTÁRIA O SERVIÇO DE MEDICINA DENTÁRIA DA CLÍNICA SAGRADA ESPERANÇA REALIZOU, NO DIA 7 DE OUTUBRO, NA ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS (ENAPP), AS 5.ª JORNADAS DE MEDICINA DENTÁRIA, COM O OBJECTIVO DE PROMOVER A PARTILHA DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO COM PROFISSIONAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS.

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O

evento, que contou com a organização da Tecnosaúde, acolheu cerca de 200 estudantes e profissionais da área de medicina dentária, que reforçaram o seu conhecimento sobre Medicina Dentária Digital, Periodontologia, Reabilitação Oral, Maxilo-Facial, Dentisteria, Implantologia, Endodontia e Ortodontia. Segundo a Dra. Júlia Sá Viegas, médica dentista e chefe do Serviço de Medicina Dentária da Clínica Sagrada Esperança, esta edição foi


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criada no âmbito da formação contínua, aperfeiçoamento dos seus colaboradores e promoção do intercâmbio de conhecimentos e da melhoria da qualidade dos serviços da clínica. “Desde 2011 que mantemos a ‘tradição’, com excepção da última organização, em 2021, que teve um formato online devido à pandemia de Covid-19. Por essa razão, é com grande satisfação que retomamos esta actividade que permite partilhar esse momento científico com todos os profissionais nacionais e, inclusivamente, trazer profissionais de outros países, de outra cultura e visão, especialistas das várias especialidades da medicina dentária, que enriqueceram o conteúdo das discussões”. O discurso oficial de abertura das jornadas, contou com a presença do Secretário de Estado do Ministério da Saúde para a área Hospitalar, Dr. Leonardo Europeu Inocêncio, que louvou a organização de iniciativas desta natureza, que contribuem para o desenvolvimento e capacitação dos quadros nacionais da área da saúde, reforçando que o Ministério da Saúde se encontra comprometido em acompanhar actividades que contribuam para o desenvolvimento do país e, em especial, da área da saúde.

EDIFÍCIO DA CHEVRON - LUANDA

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Temas Entre os diversos temas, o Dr. Agnelo Lucamba, presidente do Colégio de Cirurgia e Traumatologia Buco MaxiloFacial da Ordem dos Médicos de Angola, abordou os tumores da região maxilofacial que, na sua maioria, são benignos e devem receber considerável atenção no que diz respeito ao diagnóstico diferencial e tratamento. “Pacientes com tumores benignos podem apresentar um conjunto de diferentes sinais e sintomas com um prognóstico melhor, assim como são esperados menos problemas com a cirurgia e com a reabilitação, comparativamente aos tumores malignos. Geralmente de crescimento lento e autolimitado, os tumores benignos apresentam células que se assemelham às do tecido de origem, estando aumentadas quantitativamente. Este facto difere dos tumores malignos que apresentam células morfológica e fisiologicamente alteradas”, explicou. Foi levantado o tema “Manifestações Bucais de Doenças Epidemiológicas Africanas”, pela Dra. Vania Lopez, doutora em Ciências Estomatológicas e especialista em Periodontologia, com cerca de 27 anos de experiência, que defendeu que a população africana

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apresenta características biológicas, sociodemográficas e culturais que favorecem e condicionam o aparecimento de diversas doenças gerais, tais como anemia, incluindo anemia falciforme, infecção por HIV, doenças hepáticas, tuberculose, infecções sexualmente transmissíveis, malária, dengue, entre outras, que apresentam manifestações bucais, algumas patognomónicas e outras, como ulcerações, gengivite, sangramento gengival, periodontite, alterações na coloração dos dentes e cancros secundários. A Dra. Constância Miguel, médica dentista no Hospital Militar de Luanda, abordou o tema “Um olhar além do dente com destaque para Apneia Obstrutiva do Sono”, que explicou que o sono é fundamental para a saúde mental, física e emocional e deve ser prioridade para manter o equilíbrio funcional do nosso organismo e renovação de células. Na criança, o sono é fundamental, pois é durante o sono profundo que é libertada a hormona de crescimento (GH), sublinhando que todo o adulto ou criança que apresentar algum problema nas vias aéreas, e não só, poderá ter comprometimento das mesmas e, consequentemente, apneia obstrutiva do sono. Foi palestrado pelo Dr. Jorge Pereira, médico dentista no Porto Dental Institute by Falcão, o tema “Medicina Dentária Digital”, que frisou que a medicina dentária está cada vez mais encaminhada para as tecnologias digitais no processo de desenvolvimento de actuação clínica, nas suas vertentes de diagnóstico e planeamento. As formas de tratamento,

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através de novos protocolos clínicos e laboratoriais, por força do desenvolvimento de sistemas digitais CAD/CAM, tornam os tratamentos reabilitadores mais rápidos, precisos e rentáveis. O Dr. João Paulo de Brito, médico dentista com experiência na área de implantologia, destacou a importância do sistema Galaxy, especialmente em implantes pósextracionais e em situações onde o tipo de ossos é menos denso. Por sua vez, o Professor Dr. Rui Madureira, doutorado na área de Endodontia, abordou o diagnóstico e tratamento cirúrgico e não cirúrgico de lesões apicais de origem endodôntica. Por fim, foi feita a abordagem de temas na área da Dentisteria, pelo Dr. Bernardo Lemos, doutorado em ciências da saúde, e na área de Reabilitação Oral, pela Dra. Nancy Correia, médica dentista da Clínica Sagrada Esperança. O evento contou com uma grande adesão por parte dos profissionais de saúde da área de medicina dentária. Contou também com o patrocínio de várias empresas destacando, a Soers Corporation, a Lab52, a Teixeira Duarte e a Farmamed, entre outras, que marcaram presença no evento dinamizando a sua marca e serviços junto da comunidade médica. No final, os participantes fizeram uma avaliação positiva do evento e das apresentações dos palestrantes e manifestaram o desejo de participação em mais iniciativas desta natureza.


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PERSPECTIVA

MANIFESTAÇÕES BUCAIS DE DOENÇAS EPIDEMIOLÓGICAS AFRICANAS A POPULAÇÃO DO CONTINENTE AFRICANO APRESENTA CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS, SOCIODEMOGRÁFICAS E CULTURAIS QUE CONDICIONAM E FAVORECEM A APARIÇÃO DE DOENÇAS GERAIS QUE APRESENTAM MANIFESTAÇÕES BUCAIS.

N Dra. Vania Julexis López Rodríguez Doutorada em Ciências Estomatológicas e Especialista em Periodontologia, com cerca de 27 anos de experiência. Professora Catedrática, com Mestrado em Bioenergética e Medicina Natural.

o que diz respeito às características biológicas, é conhecido que a raça negra apresenta um sistema imunitário com gene associado a monócitos e macrófagos que condiciona uma maior resposta inflamatória e antigénica. A cor de pele negra está também associada a um gene da biossíntese de melanina. Características como dentes com macrodontia, supranumerários ou polirradiculares e algumas doenças hereditárias e epidemiológicas estão também associadas à raça negra. Por outro lado, as características sociodemográficas mais frequentes na população africana são: • Alto nível de pobreza; • Baixo nível de escolaridade e intelectual; • Superlotação; • Insalubridade; • Baixo nível de cuidados de saúde pública. Os factores anteriores, unidos às características culturais e tradicionais, como, por exemplo, alimentação e nutrição insuficientes, poligamia, casamentos consanguíneos, nascimentos múltiplos e crenças religiosas profundamente enraizadas, levam a uma alta incidência de doenças agudas gerais e bucais, alta prevalência de doenças crónicas e alta morbidade e mortalidade. É importante também referir que algumas doenças hereditárias estão associadas à raça negra, nomeadamente hipertensão arterial, diabetes Mellitus tipo II, anemia falciforme e anemia hemolítica, e apresentam manifestações bucais características.

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ALGUMAS DOENÇAS HEREDITÁRIAS ESTÃO ASSOCIADAS À RAÇA NEGRA, NOMEADAMENTE HIPERTENSÃO ARTERIAL, DIABETES MELLITUS TIPO II, ANEMIA FALCIFORME E ANEMIA HEMOLÍTICA, E APRESENTAM MANIFESTAÇÕES BUCAIS CARACTERÍSTICAS

Hipertensão arterial Na hipertensão arterial, o sangramento gengival pode estar presente em abundância, causando o compromisso do estado geral do doente. Também poderá estar presente um sangramento pós-cirúrgico de difícil controlo. Alguns medicamentos indicados para a hipertensão arterial, como os bloqueadores dos canais de cálcio, podem também produzir hiperplasia gengival, que poderá precisar de tratamento cirúrgico. Diabetes Mellitus tipo II Na diabetes Mellitus tipo II, existe uma alteração no metabolismo do colagénio e elastina e défice na resposta do sistema imunológico, aparecendo com frequência abcesso periapical e periodontal, periodontite com evolução entorpecida e estomatite aftosa recorrente.

Anemia falciforme A anemia falciforme apresenta glóbulos vermelhos defeituosos, o que leva à incapacidade de transportar oxigénio e dificulta o fluxo sanguíneo, porque aderem à parede dos vasos, gerando ulcerações na boca e glossites, com propensão para sangramento gengival e alteração na cicatrização. Anemia hemolítica Na anemia hemolítica com défice da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase, os glóbulos vermelhos quebram facilmente e não completam a eritropoiese, levando a alteração na cicatrização e sangramento gengival e pós-operatório. Outras doenças Existem também outras doenças crónicas frequentes na raça negra que apresentam lesões bucais determinadas, nomeadamente, tuberculose, hepatopatias, nefropatias e infecção pelo HIV. A tuberculose caracteriza-se pelo aparecimento de úlceras crónicas indolores (úlceras bracescentes com antecedentes regulares), osteomielite tuberculosa da mandíbula, linfadenopatia cervical escrófula e úlceras indolores cercadas por manchas amarelas, chamadas sinal de Trélat. Nas hepatopatias, como as hepatites B e C, estão presentes petéquias, equimoses, hematomas, sialodenite linfocítica e xerostomia, líquen plano oral, cancros (linfoma não Hodgkin e carcinoma espinocelular), estomatite, queilite angular, glossites, icterícia mucosa, coloração verde dos dentes e gengivas, hipoplasia do esmalte e alteração da microbiota oral. As nefropatias têm um aumento da alquilinidade bucal, o que condiciona e favorece a alta formação de cálculo dentário, o aumento do número de cáries e na prevalência de doença periodontal. Na infecção por HIV, devido a um sistema imunitário sem resposta, ou com baixa resposta, aparecem muitas doenças graves e com resposta baixa no tratamento. Algumas lesões fortemente associadas pelo vírus são a candidíase oral, leucoplasia pilosa oral, sarcoma de Kaposi, linfoma não Hodgkin, estomatite aftosa, infecção bucal por herpes simples e doença periodontal severa. Além das doenças referidas anteriormente, em África, existe também uma alta prevalência de doenças agudas epidemiológicas, como a malária ou o dengue, que causam danos no sistema imunitário com sangramento pósoperatório e gengival severo. Em suma, a população africana está propensa a certas doenças hereditárias, que condicionam o aparecimento de doenças orais, de uma forma geral: candidíases, sangramento gengival, alteração de cor nos dentes e gengiva, doenças periodontais, alterações na língua, salivação e alteração na cicatrização.

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PERSPECTIVA

TUMORES DA OROFARINGE E CAVIDADE ORAL: EXPERIÊNCIA DE UMA INSTITUIÇÃO NA CIDADE DE LUANDA—ANGOLA EXISTEM POUCOS ESTUDOS EM ANGOLA QUE INVESTIGAM A PREVALÊNCIA DE TUMORES, PARTICULARMENTE OS QUE SURGEM NA OROFARINGE E CAVIDADE ORAL (ARMANDO ET AL., 2015; MIGUEL ET AL., 2014). O SERVIÇO DE CIRURGIA MAXILOFACIAL DO HOSPITAL JOSINA MACHEL, O PRINCIPAL E MAIS ANTIGO HOSPITAL PÚBLICO DE ANGOLA, LIDA COM LESÕES CRANIOFACIAIS. O SERVIÇO É CONSTITUÍDO POR UMA EQUIPA MULTIDISCIPLINAR CAPAZ DE PROPORCIONAR MODALIDADES DE TRATAMENTO; PORTANTO, PACIENTES DE OUTRAS PROVÍNCIAS ANGOLANAS SÃO ENCAMINHADOS PARA O HOSPITAL JOSINA MACHEL PARA TRATAMENTO. NESTE ESTUDO, O OBJECTIVO FOI DESTACAR OS PRINCIPAIS TUMORES BENIGNOS E MALIGNOS QUE OCORREM NA OROFARINGE E NA CAVIDADE ORAL DE DOENTES TRATADOS NESTE HOSPITAL.

Dr. Agnelo Lucamba Doutorado em Patologia Oral. Presidente do Colégio de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilofacial, Chefe de Serviço de Cirurgia Maxilofacial

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F

oram analisadas 163 biópsias do Hospital Josina Machel no Serviço de Patologia Oral da Faculdade São Leopoldo Mandic, de Janeiro de 2017 a Dezembro de 2021. 57% das amostras foi diagnosticado com tumores, sendo 49,5% benignos e 50,5% malignos. Os dados


(NOS). Embora o estudo não se tenha focado nas características clínicas das lesões, uma das conclusões interessantes obtidas com base no observado na amostra foi que mesmo os tumores benignos atingiram grandes dimensões, afectando estruturas vitais e promovendo a desfiguração do paciente. Esta constatação poderá ser atribuída, em certa medida, à longa duração das lesões. De facto, alguns pacientes estavam cientes da presença de lesões. No entanto, em vez de procurarem ajuda profissional, estes doentes optaram por se tratar em casa recorrendo à medicina popular. Portanto, devem ser implementadas iniciativas educativas para melhorar o conhecimento do paciente sobre essas doenças. Isso favoreceria o diagnóstico precoce e a prevenção de tratamentos agressivos que possam levar à mutilação. Em conclusão, este estudo traz novas informações sobre os tumores da orofaringe e cavidade oral mais comuns entre as pessoas da cidade de Luanda. clínicos e histológicos estão descritos na Tabela 1. Entre todos os tumores malignos, o carcinoma espinocelular oral foi o mais prevalente na nossa amostra. Este tumor está tipicamente associado a tabagismo e hábitos de consumo de álcool, que podem causar danos celulares no ADN revelados em doentes idosos (Georgaki et al., 2021). Curiosamente, a maioria dos doentes foi observada na quinta década de vida. Para o perfil dos pacientes mais jovens, outras razões, que não fumar e consumir álcool, devem ser investigadas. Além do carcinoma espinocelular oral, outros tumores malignos também foram detectados na nossa amostra, como tumores de origem hematopoiética, glândula salivar e mesenquimal. Um caso de melanoma (sexo feminino, 68 anos, palato), dois casos de osteossarcoma (sexo feminino, 13 anos, mandíbula; homem, 33 anos, maxila) e outras sete neoplasias foram detectadas no grupo (Tabela 1). O diagnóstico destes sete tumores não pôde ser estabelecido unicamente com base nas suas características morfológicas e fomos incapazes de realizar a imunocoloração à pré-análise, devido a problemas com os materiais. Isso poderá explicar porque a amostra analisada continha uma percentagem mais elevada de adenocarcinoma não de outra forma especificada

UMA DAS CONCLUSÕES INTERESSANTES OBTIDAS COM BASE NO OBSERVADO NA AMOSTRA FOI QUE MESMO OS TUMORES BENIGNOS ATINGIRAM GRANDES DIMENSÕES, AFECTANDO ESTRUTURAS VITAIS E PROMOVENDO A DESFIGURAÇÃO DO PACIENTE. ESTA CONSTATAÇÃO PODERÁ SER ATRIBUÍDA, EM CERTA MEDIDA, À LONGA DURAÇÃO DAS LESÕES. DE FACTO, ALGUNS PACIENTES ESTAVAM CIENTES DA PRESENÇA DE LESÕES. NO ENTANTO, EM VEZ DE PROCURAREM AJUDA PROFISSIONAL, ESTES DOENTES OPTARAM POR SE TRATAR EM CASA RECORRENDO À MEDICINA POPULAR

Uma vez que os nossos dados foram recolhidos num dos hospitais mais importantes de Angola, os resultados deste estudo apresentam uma estimativa aproximada da prevalência destas lesões nesta nação.

Referências: • Armando, A., Bozzetti, M. C., de Medeiros Zelmanowicz, A., & Miguel, F. (2015). A epidemiologia do cancro em Angola – resultados do registo oncológico do Centro Nacional de Oncologia de Luanda, Angola. • Ecancermedicalscience, 9, 510 • El-Naggar, A. K., Chan, J. K. C., Grandis, J. R., Takata, T., & Slootweg, P. J. (2017). World health organization classification of head and neck tumours. lnternational Agency for Research on Cancer Press. • Georgaki, M., Theofilou, V. I., Pettas, E., Stoufi, E., Younis, R. H., Kolokotronis, A., Sauk, J. J., & Nikitakis, N. G. (2021). Understanding the complex pathogenesis of oral cancer: A comprehensive review. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology, 132(5), 566–579 • Miguel, F., Conceição, A. V., Lopes, L. V., Bernardo, D., Monteiro, F., Bessa, F., Santos, C., Oliveira, J. B., & Santos, L. L. (2014). Establishing of cancer units in low or middle income African countries: Angolan experienceA preliminary report. The Pan African Medical Journal, 19, 291

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TABELA 1 Caracterís0cas clínicas e histológicas dos tumores benignos e malign Maxilofacial do Hospital Josina Machel

TABELA 1 Características clínicas e histológicas dos tumores benignos e malignos da orofaringe e da cavidade oral tratados no Serviço de Cirurgia Maxilofacial do Hospital Josina Machel

Tumores benignos da glândula salivar Sexo Masculino Feminino Localização Palato Glândula paróJda NS

% (n/t)*

27,3% (3/11) 72,7% (8/11) 45,4% (5/11) 36,7% (4/11) 18,2% (2/11)

Tumores benignos odontogénicos Sexo Masculino Feminino Localização Maxila Mandíbula NS

% (n/t)*

48,5% (16/33) 51,5% (17/33) 24,2% (8/33) 66,7% (22/33) 9,1% (3/33)

Neoplasias da super<cie epitelial Sexo Feminino Masculino Localização Gengiva Chão da boca Mandíbula Orofaringe Palato Língua NS

Idade (década) 1.ª 3.ª 4.ª 9.ª NS

42 SAÚDE

Idade (década) 9,1% (1/11) 18,2% (2/11) 36,4% (4/11) 9,1% (1/11) 27,3% (3/11)

2.ª 3.ª 4.ª 5.ª 6.ª

39,4% (13/33) 21,2% (7/33) 18,2% (6/33) 9,1% (3/33) 3% (1/33)

Idade (década) 5.ª 6.ª 7.ª 8.ª 9.ª

% (n/t)*

36,4% (8/21) 63,6% (13/21) 19% (4/21) 23,8% (5/21) 9,5% (2/21) 9,5% (2/21) 14,3% (3/21) 14,3% (3/21) 9,5% (2/21) 47,6% (10/21) 23,8% (5/21) 9,5% (2/21) 4,8% (1/21) 4,8% (1/21)

Neoplasias da glândula salivar Sexo Feminino Masculino Localização Mucosa bucal Palato Glândula paróJda NS

Idade (década) 2.ª 3.ª 4.ª 6.ª 7.ª


nos da orofaringe e da cavidade oral tratados no Serviço de Cirurgia % (n/t)*

62,5% (5/8) 37,5% (3/8) 12,5% (1/8) 37,5% (3/8) 37,5% (3/8) 12,55% (1/8)

Neoplasias hematopoié>ca Sexo Feminino Masculino Localização Gengiva NS

% (n/t)*

25% (1/4) 75% (3/4) 75% (3/4) 25% (1/4)

Sexo Feminino Masculino Localização Seio maxilar Orofaringe Língua

% (n/t)*

50% (2/4) 50% (2/4) 25% (1/4) 50% (2/4) 25% (1/4)

Neoplasias de origem desconhecida Sexo Feminino Masculino Localização Maxila Mucosa bucal Mandíbula Língua NS

Idade (década) 12,5% (1/8) 12,5% (1/8) 12,5% (1/8) 12,5% (1/8) 37,5% (3/8)

Neoplasias dos tecidos moles

1.ª

Idade (década) 25% (1/4) 25% (1/4) 25% (1/4) 25% (1/4)

2.ª 4.ª 5.ª

1.ª 2.ª 4.ª

50% (2/4) 25% (1/4) 25% (1/4)

Idade (década) 2.ª 3.ª 5.ª 6.ª NS

% (n/t)*

42,8% (3/7) 57,8% (4/7) 42,8% (3/7) 14,3% (1/7) 14,3% (1/7) 14,3% (1/7) 14,3% (1/7)

14,3% (1/7) 28,6% (2/7) 14,3% (1/7) 28,6% (2/7) 14,3% (1/7)

Nota:

*n refere-se ao número de doentes para cada parâmetro avaliado (sexo, localização, idade e subtipos histológicos) e *t refere-se ao total de todos os tumores benignos ou malignos detetados na amostra. #A duração das lesões foi expressa como média ± desvio-padrão. NS, não especificado. Dois casos de fibroma de ossificação juvenil (masculino, 18 anos, mandíbula; feminino, 31 anos, maxila), um caso de melanoma (sexo feminino, 68 anos, palato), dois casos de osteossarcoma (sexo feminino, 13 anos, mandíbula; masculino, 33 anos, maxila) não foram incluídos na tabela. As neoplasias foram classificadas de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) (El-Naggar et al., 2017).

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RUBRICA ENTREVISTA OCULAR

DIA MUNDIAL DA VISÃO O DIA MUNDIAL DA VISÃO COMEMORA-SE ANUALMENTE A CADA SEGUNDA QUINTA-FEIRA DO MÊS DE OUTUBRO, SENDO EM 2023 COMEMORADO A 12 DE OUTUBRO. É UM EVENTO GLOBAL COM O OBJECTIVO DE CHAMAR A ATENÇÃO PARA A CEGUEIRA E A DEFICIÊNCIA VISUAL. FOI CRIADO ORIGINALMENTE PELA SIGHTFIRTSCAMPAIGN DA FUNDAÇÃO LIONS CLUB INTERNATIONAL E É ACTUALMENTE COORDENADO EM COOPERAÇÃO COM A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS).

Dr. Djalme Fonseca Licenciado em Optometria e Ciências da Visão pela Universidade do Minho, Portugal. Pósgraduado em Avaliação Optométrica Pré e Pós Cirúrgica pela Universidade de Valência, Espanha. Founder & CEO da Óptica Optioptika

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A

Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB) lançou a sua campanha anual na preparação para o Dia Mundial da Visão, assinalado a 12 de Outubro de 2023, com o tema principal “Ame os seus olhos no trabalho”, centrando-se na saúde ocular no local de trabalho. As actividades da campanha incluíram o envolvimento do sector, relatórios colaborativos com a Organização Internacional do Trabalho sobre a saúde ocular e o mundo do trabalho e com a Deloitte sobre investimentos de recursos governamentais na saúde


ocular, bem como o oitavo concurso consecutivo de fotografias e reuniões do Dia Mundial da Visão com líderes empresariais em todo o mundo. E é sobre esta temática que nos vamos debruçar, ou seja, a importância que devemos dar à saúde ocular nos nossos locais de trabalho e que inclui o bemestar visual de todos os trabalhadores. Em primeiro lugar, temos urgentemente de orientar e incentivar as associações apropriadas sobre como podem apoiar a implementação de exames oftalmológicos da força de trabalho e garantir que os padrões de saúde e segurança oculares sejam cumpridos no local de trabalho em todos os sectores. Temos de capacitar a força de trabalho, permitindo-lhe compreender os seus direitos à saúde, bem como educar os empregadores, Governos e sindicatos sobre a importância da visão. No que concerne especialmente os empregadores, é importante que

recebam informação e lhes sejam feitas recomendações sobre o que devem fazer em termos de bem-estar, tais como melhores práticas em relação à distância dos ecrãs, fazer uma pausa para exercitar a visão de longa e próxima distâncias e manter a saúde e a segurança em ambientes perigosos, onde olhos podem ser afectados. 8 coisas que precisamos de saber sobre os nossos olhos 1. Uma boa visão ajuda-nos a trabalhar melhor. Sabia que um par de óculos pode melhorar a produtividade em 22%? 2. Uma boa visão pode melhorar o nosso potencial de ganho. Existem estudos que mostram que 46% das pessoas mudou ou aumentou os salários após uma cirurgia às cataratas. 3. Quase nove em cada 10 lesões oculares no local de trabalho poderiam ser evitadas com medidas apropriadas, como o uso de óculos de segurança.

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4. As lesões oculares são um perigo no local de trabalho, pois podem levar à perda de visão. 5. O uso prolongado de ecrãs pode afectar pessoas de todas as idades e impactar negativamente na produtividade se não gerido de forma correcta. 6. Mesmo a mais pequena deficiência visual pode reduzir a produtividade em 10% e a precisão em 22%. 7. 90% de todas as perdas de visão é evitável ou tratável. A maioria das doenças oculares pode ser tratada ou de progressão lenta se detectadas precocemente. 8. Cerca de 161 milhões de pessoas que teve perda moderada ou severa de visão encontravam-se em idade de trabalhar. Aparelhos digitais no local de trabalho Hoje, com o aumento da tecnologia digital presente nos nossos ambientes laborais, e especialmente como consequência das alterações provocadas pela pandemia de Covid-19, é extremamente importante termos alertas e informações que promovam a prevenção da saúde ocular perante a utilização extremamente excessiva de PCs, telefones, tablets e outros gadgets electrónicos. Conhece a regra dos 20/20/20? Dentro e fora do local de trabalho, do pequeno ecrã digital às televisões, passamos os nossos dias a olhar para ecrãs. O cansaço visual digital (digital eye strain) está a tornarse num problema cada vez maior. Uma pausa de 20 segundos, a cada 20 minutos, olhando para um objecto ou algo a 20 pés (equivalente a 6 metros), pode ajudar a “salvar” os nossos olhos e o nosso corpo de tensão e dor indesejadas.

ESTAMOS A CHAMAR A ATENÇÃO PARA 1,1 MIL MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO QUE NÃO TÊM ACESSO À SAÚDE OCULAR, IMPULSIONANDO MUDANÇAS NOS CONSUMIDORES E NO MERCADO, APELANDO AO SECTOR PARA QUE FAÇA CAMPANHA A UM NOVO NÍVEL E COMBATA OS ESTEREÓTIPOS NEGATIVOS

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Digital eye strain – 6 formas de o reduzir 1. Usar os óculos. Se foi aconselhado a usar óculos graduados para corrigir a sua visão, certifique-se de os usar conforme recomendado. Deve efectuar os seus exames de saúde ocular de rotina e perguntar ao seu profissional de saúde ocular se beneficiaria de algumas adaptações, de forma a reduzir o desconforto e a tensão. 2. Efectuar pausas frequentes. Seguir a regra 20/20/20. 3. Pestanejar frequentemente. Treine-se para pestanejar com mais frequência. Se necessário, use colírios lubrificantes para manter os olhos húmidos e lubrificados. 4. Ajustar o ecrã do computador. A maioria das pessoas beneficiaria se o ecrã do computador estivesse 15 a 20 graus abaixo do nível dos olhos (cerca de 10 a 12 centímetros), bem como a entre 50 a 70 centímetros de distância. 5. Considerar ajustar o brilho, que deve ser como o meio envolvente, contraste, temperatura de cor e tamanho do texto. 6. Usar iluminação adequada e minimizar o brilho. Posicionar o ecrã do computador para evitar o brilho e experimentar o antirreflexo e os filtros nas lentes graduadas, de forma a minimizar ou eliminar o desconforto. Em suma, estamos a chamar a atenção para 1,1 mil milhões de pessoas no mundo que não têm acesso à saúde ocular, impulsionando mudanças nos consumidores e no mercado, apelando ao sector para que faça campanha a um novo nível e combata os estereótipos negativos. Deve-se também apostar na construção de parcerias públicas e privadas e criar o ambiente regulamentar adequado para envolver o público, mobilizar o sector empresarial e capacitar o sector das organizações não governamentais. Isto é especialmente útil para membros mais pequenos, que podem não ter recursos para realizar as suas próprias campanhas.


Visão: Estar entre os principais players do mercado de negócio e ser uma referência nos projectos que desenvolvemos.

Missão: Nos tornamos distintos na criação de valores para o seu negócio.

Valores: • Trabalho em Equipa • Satisfação do Cliente • Excelência • Ética • Responsabilidade Social • Respeito pelo meio Ambiente

Quem somos? A SOERS OBI CORPORATION LDA. é uma instituição que

nasceu com o compromisso genuíno de ajudar a promover, um melhor sistema de saúde em Angola. Armazenamos, distribuímos uma variedade de consumíveis e equipamentos hospitalares, unimos a assistência medicamentosa em várias áreas da saúde nomeadamente: medicina dentária; diagnóstico bem como na área do laboratório para a análises clínicas.

Somos uma equipa jovem, repleta de realizações que nos permite olhar a forma como actuamos no mundo corporativo, nos aproximamos uns dos outros abraçando a sociedade com iniciativas que proporcionam desenvolvimento que disseminam conhecimento e ampliam o acesso ao sistema de saúde.

“A excelência virá da transformação pró-ativa da forma como fazemos negócios”

Os resultados a obter nos permite seguir em frente e trabalhar para a excelência, garantindo a capacidade de investir em pessoas; infraestruturas; tecnologias de ensino e pesquisa. Sempre ancorada em boas práticas ambientais, sociais e de boa governança corporativa.

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NATUREZA

MIRTILOS OS MIRTILOS TÊM SIDO CONSIDERADOS UM “REMÉDIO” POPULAR PARA A PREVENÇÃO DE INFECÇÕES DO TRACTO URINÁRIO. AGORA, UMA EQUIPA DE INVESTIGADORES, INCLUINDO CIENTISTAS DA UNIVERSIDADE DA GEÓRGIA (UGA), NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, PENSA TER DESCOBERTO PORQUÊ.

O

estudo foi publicado no Journal of Natural Products. Os investigadores da UGA, em colaboração com colegas da Universidade do Mississípi, forneceram informações cruciais na descoberta de uma classe de oligossacarídeos, um tipo de hidrato de carbono complexo, que pode ajudar a explicar a eficácia do mirtilo na prevenção de infecções do tracto urinário. A descoberta destes compostos na urina poderá conduzir a futuras pesquisas sobre os benefícios cardiovasculares e metabólicos para a saúde das fibras alimentares solúveis de muitas plantas. Até agora, não era claro como o consumo de mirtilos impede a adesão de bactérias e, portanto, a infecção no tracto urinário. A teoria predominante há muito credita um tipo de micronutriente chamado proantocianidina, mas as análises realizadas no Centro de Pesquisa de Hidratos de Carbono Complexos da UGA ajudaram a identificar um tipo de fibra alimentar solúvel relacionada à celulose, chamada oligossacarídeo arabinoxiloglucano. A Dra. Christina Coleman, principal autora

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do estudo, passou vários anos a procurar, sem sucesso, proantocianidinas na urina de porcos alimentados com mirtilos. Fez a pesquisa como estudante de doutoramento na Universidade do Mississípi e acabou por isolar um composto que pode determinar como um hidrato de carbono complexo, mas não possuía as ferramentas para o identificar completamente. Assim, pediu ajuda aos investigadores Parastoo Azadi e Ian Black, co-autores do estudo, e em conjunto elucidaram a estrutura do material isolado. “Analisamos hidratos de carbono de uma variedade de fontes - plantas, bactérias, medicamentos - para cientistas, indústria e institutos de pesquisa”, afirma o Dr. Parastoo Azadi. “Neste caso, o investigador isolou um oligossacarídeo de uma amostra de urina, mas tinha quantidades limitadas e precisava de análises especializadas. Fornecemos a estrutura do oligossacarídeo, o que nos permitiu identificá-lo como um arabinoxiloglucano.” Ao examinar material análogo do mirtilo, os investigadores encontraram uma série complexa semelhante de oligossacarídeos arabinoxiloglucanos que exibiram propriedades antiaderentes em testes preliminares, indicando que oligossacarídeos relacionados aos encontrados nos mirtilos podem contribuir para as propriedades antiadesão bacteriana após o seu consumo.


sugeriu que a suplementação de mirtilos ajuda a reduzir o índice de massa corporal e a melhorar os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL), o chamado “bom” colesterol.

“Todos sabemos que a fibra alimentar é benéfica para o intestino, mas a maioria das pessoas acredita que aí permanece e nunca é absorvida pela circulação. Estes oligossacarídeos são um tipo de fibra alimentar, mas muito pequeno, solúvel e especial. Se esses compostos acabam na urina, então, devem ser absorvidos pela circulação e isso significa que podem afectar os sistemas do corpo além do intestino”, indicou a Dra. Cristina Coleman. Benefícios Na verdade, várias pesquisas têm ligado os mirtilos a um menor risco de infecção do tracto urinário, à prevenção de certos tipos de cancro, à melhoria da função imunológica e à diminuição da tensão arterial. Por exemplo, uma revisão de 2016 descobriu que os médicos mais comummente recomendam mirtilos a mulheres com infecções do tracto urinário recorrentes. Outro estudo de 2014 com 516 participantes descobriu que tomar uma cápsula de extracto de mirtilo duas vezes por dia reduz a incidência de infecções do tracto urinário. Por outro lado, um estudo de 2019 descobriu que a combinação de extracto de mirtilo com ácido caprílico derivado do óleo de coco e extracto de óleo essencial de orégão leva à erradicação da bactéria mais comum, a Escherichia coli. Também em 2019 uma revisão sistemática descobriu que a inclusão de mirtilos na dieta pode ajudar uma pessoa a gerir vários factores de risco para doenças cardiovasculares. A revisão também

Valor nutricional Uma meia chávena de mirtilos contém 25 calorias, 0,25 gramas de proteína, 0,07 gramas de gordura 6,6 gramas de hidratos de carbono, incluindo 2,35 gramas de açúcar natural, 2 gramas de fibra, 4,4 miligramas de cálcio, 0,12 miligramas de ferro, 3,3 miligramas de magnésio, 6 miligramas de fósforo, 44 miligramas de potássio, 1,1 miligramas de sódio, 0,05 miligramas de zinco, 7,7 miligramas de vitamina C, entre outros nutrientes. Os mirtilos também contêm um conjunto importante de vitaminas do complexo B, incluindo vitamina B-1 (tiamina), vitamina B-2 (riboflavina), vitamina B-3 (niacina) e vitamina B-6. Os mirtilos são, de facto, ricos em nutrientes e antioxidantes e podem fornecer vários benefícios para a saúde quando ingeridos como parte de uma dieta equilibrada. Mas existem algumas considerações, pelo que a sua inclusão deve ser sempre discutida com o médico assistente. Por exemplo, existem alguns estudos que indicam que os mirtilos podem interagir com a varfarina ou outros diluentes do sangue e causar um aumento dos efeitos anticoagulantes, assim como levar a uma maior excreção de oxalato na urina, o que pode promover a formação de pedras nos rins naqueles que são susceptíveis a cálculos do tipo oxalato de cálcio. As evidências também sugerem que consumir uma grande quantidade de mirtilos ou de produtos que os contêm pode causar dor de estômago e diarreia, sobretudo em crianças pequenas.

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REPORTAGEM

JORNADA CIENTÍFICA DA AGOA: IMPACTO DA COVID-19 NA FERTILIDADE EM ALUSÃO AO 14.º ANIVERSÁRIO DA ASSOCIAÇÃO DE GINECOLOGISTAS E OBSTETRAS DE ANGOLA (AGOA), FOI ORGANIZADA UMA JORNADA CIENTÍFICA ALUSIVA AO TEMA “IMPACTO DA COVID-19 NA FERTILIDADE”. A ORGANIZAÇÃO DESTA JORNADA CIENTÍFICA CONTOU COM O APOIO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (MINSA) E DA AGÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INTERNACIONAL (USAID), ATRAVÉS DO PROJECTO SAÚDE PARA TODOS.

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A

s boas-vindas foram dadas pelo Director do Gabinete Provincial de Saúde (GPS) de Luanda, Dr. Manuel Varela, que reconheceu o impacto que a pandemia teve, sobretudo ao nível do funcionamento e resposta dos serviços de saúde reprodutiva. O Dr. Mário Bundo, Presidente da AGOA, também sublinhou este impacto na resposta dos serviços de planeamento familiar, assim como nos serviços de procriação medicamente assistida — reprodução humana — que foram interrompidos. No discurso oficial de abertura da Jornada Científica, o Dr. Ketha Francisco, Chefe de Departamento dos Cuidados Primários de Saúde, em representação da Directora Nacional de Saúde Pública, sublinhou a mais-valia que o apoio técnico da AGOA representa para as iniciativas do MINSA e abordou a necessidade de continuar a nutrir e solidificar esta parceria, para fazer face aos indicadores de saúde reprodutiva em Angola que continuam bastante desafiadores, não obstante alguns progressos. Mais de 100 profissionais da área da saúde reprodutiva marcaram presença no evento ocorrido em Luanda, no passado dia 9 de Outubro; remotamente, através de transmissão via Zoom, foram mais de 60 os profissionais de saúde que testemunharam o evento, com destaque para a presença de todas as supervisoras provinciais e municipais de saúde reprodutiva das províncias do Huambo, Lunda Sul e Malanje. Além do Dr. Manuel Varela, Director do GPS de Luanda, o evento contou ainda com a presença dos directores provinciais de saúde das restantes três províncias que contam com o apoio da USAID na área da Saúde Reprodutiva — Planeamento Familiar: do Huambo o Dr. Lucas Nhamba, da Lunda Sul o Dr. Viegas de Almeida e de Malanje o Dr. Ribeiro Carvalho. Além das várias comunicações apresentadas e discussões levantadas, a abertura do evento foi marcada por um vídeo que relatou os últimos cinco anos de vida da AGOA, contando com várias parcerias de sucesso, com particular destaque para o apoio da USAID e da PrinceFarma no suporte à AGOA/MINSA. “A nossa jornada, ao longo dos anos de 2018 a 2023, tem sido uma história de compromisso e dedicação à saúde sexual e reprodutiva em Angola. Como protagonistas desta narrativa, convidamos todos a viajar connosco por esse período transformador”. Assim foi deixado o convite a todos para acompanharem a narração e as fotografias que documentam uma sequência de iniciativas e actividades.

Iniciativas Em 2018, o destaque foi para o lançamento de novos produtos de contracepção e, mais no final do ano, para a organização da Jornada da AGOA, onde se analisaram os Indicadores de Saúde Materna e onde foi prestada homenagem a alguns dos membros fundadores. Foi ainda salientada a presença na Conferência Internacional de Planeamento Familiar, em Kigali, no Ruanda, incorporando a delegação angolana presidida pela Sra. Ministra da Saúde, Dra. Sílvia Lutucuta, entre outros representantes de várias organizações que actuam em Angola.

No ano seguinte, 2019, juntamente com a Ordem dos Farmacêuticos de Angola, foi organizada uma sessão de formação sobre contracepção oral e contracepção de emergência, que contou com a presença de mais de 150 participantes. E, assinalando o 10º aniversário da AGOA, realizou-se uma Jornada Científica, desta vez focada nos Direitos Reprodutivos em Angola, onde foram homenageados alguns ilustres membros da AGOA pelo seu contributo para a Ginecologia e Obstetrícia em Angola. O ano de 2020 trouxe desafios com a pandemia de COVID-19, mas a AGOA procurou manter os seus membros ligados. Foi organizado um ciclo de webinars subordinado aos “Desafios Presentes na Saúde Reprodutiva”, que atraiu mais de 390 profissionais de saúde ao longo de quatro sessões interactivas. O sucesso deste evento inspirou a realizar um segundo ciclo, com o tema “Saúde da Mulher em Foco”, com mais de 370 inscritos. Em 2021, a história da AGOA ganhou um novo capítulo quando entrou no mundo digital do Entre Nós, em parceria com o MINSA e a USAID. No espaço do Entre Nós nas redes sociais, já marcaram presença vários médicos da AGOA, abordando uma variedade de tópicos relacionados à saúde sexual e reprodutiva, alcançando mais de três

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milhões de mulheres em idade reprodutiva em Angola. A saúde do adolescente também conta com o papel da AGOA através da sua participação no projecto Dicas Kuyuyu, que alcançou cerca de três milhões de adolescentes angolanos através das redes sociais, levando-lhes informação de qualidade sobre o seu corpo e a sua saúde reprodutiva. Esta é uma campanha do MINSA com o apoio da USAID.

Kassai Actualmente, a plataforma Kassai oferece 17 cursos, distribuídos nas áreas da Malária, Saúde Sexual e Reprodutiva, Saúde Materno-Infantil e COVID-19. Estão prestes a ser lançados cursos na área de Semiologia Médica, com apoio da ExxonMobil, e também na área da Nutrição, com apoio da Nutriset e da UNITEL. 8.573 profissionais de saúde estavam inscritos no Kassai, no início de Outubro. No total, contabilizam-se 42.275 inscrições distribuídas pelos 17 cursos disponíveis. 26.414 foram os cursos já concluídos pelos formandos inscritos, gerando 17.756 certificados de conclusão, o que significa que as avaliações obtidas no teste final foram superiores a 80%. Em média, 62% dos cursos concluídos obtém uma avaliação superior a 80%. O desenvolvimento desta plataforma foi possível com o financiamento da Agência dos Estados Unidos da América www.kassai.ao para o Desenvolvimento Internacional (USAID)/ Iniciativa Presidencial Contra a Malária (PMI) e com a execução da PSI Angola, em parceria com a Appy People.

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Também em parceria com o MINSA e com o apoio da USAID, a AGOA participou, em 2021, no lançamento da plataforma Kassai. Juntamente como MINSA, a AGOA faz a validação de todos os conteúdos dos cursos de saúde reprodutiva. A plataforma Kassai oferece, no total, 17 cursos em diversas áreas de saúde, oito dos quais na área da saúde reprodutiva; 3.061 profissionais de saúde estão inscritos nos cursos de saúde sexual e reprodutiva. Continuando o percurso da AGOA, foi referido o apoio ao MINSA e à USAID para incentivar a adesão das mulheres à vacinação contra a COVID-19, desmistificando mitos relacionados à saúde reprodutiva. Nesta campanha, o presidente da AGOA deu o seu testemunho num vídeo que circulou na televisão pública de Angola e nas redes sociais. A proporção de mulheres na população vacinada aumentou significativamente, de 36% para 44%, após a campanha, entre Setembro e Dezembro de 2021. A formação de farmacêuticos em contracepção e saúde reprodutiva chegou ao Huambo com o apoio da Prince Farma. Ainda em 2021, a AGOA juntou-se ao MINSA e à USAID na iniciativa de fortalecer o conhecimento dos professores das escolas técnicas de saúde nas províncias do Huambo, Malanje e Lunda Sul. Em 2022, a AGOA marcou presença na Conferência Internacional de Planeamento Familiar na Tailândia. E é também desde 2022 que apoia o MINSA na revisão e actualização do Manual de Formação de Formadores em Planeamento Familiar, que foi concluído e seguiu com formações em 2023 em Luanda, Malanje e Lunda Sul, estando agendada a mesma formação na província do Huambo. É nesta senda que, em 2023, a Jornada Científica se subordinou ao tema do ”Impacto da COVID-19 na Fertilidade”, continuando a imperar o lema da AGOA — Saúde da Mulher: Prioridade Máxima.


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REPORTAGEM

CRL-OFA REALIZA PRIMEIRO CICLO DE MESAS REDONDAS

O CONSELHO REGIONAL DE LUANDA DA ORDEM DOS FARMACÊUTICOS DE ANGOLA, COM ORGANIZAÇÃO DA TECNOSAÚDE, REALIZOU NO PASSADO DIA 26 DE SETEMBRO O SEU PRIMEIRO CICLO DE MESAS REDONDAS, NAS INSTALAÇÕES DO MEMORIAL DR. ANTÓNIO AGOSTINHO NETO, EM LUANDA. O EVENTO ASSINALOU O DIA MUNDIAL DO FARMACÊUTICO, COM O TEMA CENTRAL “O FUTURO DA ÁREA FARMACÊUTICA EM ANGOLA: O QUE PRETENDEMOS ALCANÇAR E QUAIS OS DESAFIOS”, E CONTOU COM A PRESENÇA DE 100 PARTICIPANTES DO SECTOR FARMACÊUTICO.

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D

ebater os problemas actuais do sector, bem como apontar linhas mestras para ultrapassar os desafios existentes e indicar metas para o desenvolvimento do sector em Luanda foram os objectivos principais deste evento, cuja cerimónia de abertura foi realizada pela Dra. Violeta Chimuco Issenguele, presidente do Conselho Regional de Luanda da Ordem dos Farmacêuticos de Angola. Na sua intervenção, realçou a importância da classe farmacêutica e a relevância de actividades como esta para o desenvolvimento da mesma. A primeira sessão plenária contou com três convidados das altas entidades de saúde de Angola, a Dra. Katiza Mangueira, directora geral da Agência Reguladora de Medicamentos e Tecnologias de Saúde (ARMED), o Dr. Baptista João Monteiro, representando o Ministério da Saúde de Angola, e Dr. Wilson Aníbal, em representação da Ordem dos Farmacêuticos de Angola. Com moderação da Dra. Austelina Inglês, foi debatido o tema “Política e Gestão da Carreira Farmacêutica”, com a participação activa do público e interesse em actualizar-se do que está a ser levado a cabo pelas entidades regulamentares do país para o desenvolvimento do sector farmacêutico. A segunda sessão plenária, com o tema “Sustentabilidade no sector: Distribuição num contexto de crise económica e social”, contou com a participação da Dra. Ana Leónida Teixeira, proprietária da Farmácia Kiluba, da Dra. Selda Faria, presidente da Associação das Farmácias Comunitárias de Angola, e do Dr. Edson Faria, vice-presidente da AICMA, com moderação da Dra. Mauete Vendas e, mais uma vez, a participação activa dos participantes presentes em sala. Neste painel,

foram debatidas as preocupações de cada sector, farmácia comunitária e distribuidores, num contexto de crise económica e social, assim como de que forma as associações criadas em cada um deles poderão contribuir para ultrapassar os desafios actuais do sector farmacêutico. No final, o Dr. António Quintas, a Dra. Ana Leónida Teixeira e a Dra. Genoveva Coelho foram homenageados pelo contributo para a classe farmacêutica em Angola. Cada um nas suas áreas de trabalho tem vindo, ao longo dos anos, a deixar a sua marca na área farmacêutica, sendo reconhecido o seu trabalho e dedicação. O evento contou com o patrocínio de várias empresas do sector farmacêutico, como a Australpharma, a Basi, a Bial, a Bluepharma, a Jaba Recordati, a Laborex Angola e a Novartis, que apoiaram a actividade e se fizeram presentes no evento.

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RUBRICA FARMACÊUTICA

IMPORTÂNCIA DA CLASSE FARMACÊUTIC O CONSELHO REGIONAL DE LUANDA DA ORDEM DOS FARMACÊUTICOS DE ANGOLA (CRL-OFA) É UM ÓRGÃO DA OFA (ORDEM DOS FARMACÊUTICOS DE ANGOLA) CRIADO À LUZ DOS ESTATUTOS DA ORDEM, PUBLICADO EM DIÁRIO DA REPÚBLICA N.º 13/2019 DE 14 DE AGOSTO, III SÉRIE. NESTE CONSELHO, ESTÃO INSCRITOS 988 MEMBROS, ENGLOBANDO MAIS DE 80% DOS INSCRITOS NA OFA (1.212). NO SEU ARTIGO 89.º 1.º PONTO, DEFINE O FARMACÊUTICO COMO O PROFISSIONAL COM LICENCIATURA EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS OU LICENCIATURA EM FARMÁCIA.

Dra. Violeta Issenguele Presidente do Conselho Regional de Luanda da Ordem dos Farmacêuticos de Angola

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CA

QUEREMOS POLÍTICAS FARMACÊUTICAS COESAS E CONCISAS, EM QUE TODOS OS INTERVENIENTES SE REVEJAM, COM METAS E ESTRATÉGIAS QUE INTERESSEM À PROFISSÃO E POSSAM CONTRIBUIR PARA O DESENVOLVIMENTO FARMACÊUTICO EM ANGOLA

O

farmacêutico é o profissional de saúde conhecedor da essência do medicamento, pois está envolvido em todo o circuito. Desde a pesquisa de novas moléculas, produção, selecção, aquisição, distribuição, análises clínicas, regulamentação e ensino. A maior parte dos farmacêuticos em Luanda encontram-se inseridos no MINSA (Ministério da Saúde), unidades hospitalares, clínicas privadas e farmácias comunitárias. Nas unidades hospitalares, por cada 100 leitos, deve haver um farmacêutico e, se tiver especialidades, mais um por cada especialidade. Deve ser o farmacêutico o responsável dos serviços farmacêuticos, o zelador por todos os actos farmacêuticos realizados na sua unidade. Este profissional integra as equipas multidisciplinares onde está inserido. Em relação à farmácia comunitária, tem de existir um farmacêutico/director técnico que assegure a existência de procedimentos de serviços de qualidade. Compete ao farmacêutico zelar por todos os actos relacionados com o exercício da actividade farmacêutica, praticados por si ou por outros profissionais sob a sua direcção, particularizando as direcções técnicas, que devem ser assumidas com responsabilidade, profissionalismo e por profissionais experientes. O Decreto 191/2010 de 1 de Setembro fala da multa aplicada ao profissional por não cumprimento da legislação vigente. Há necessidade da capacitação permanente e contínua. Formação pós-graduada e especializações para os farmacêuticos. Durante a pandemia de Covid-19, os estabelecimentos farmacêuticos foram dos poucos autorizados a prestar os seus serviços. Para nós, foi um prazer, um misto de angústia e desespero, mas estivemos presentes. Uma colega comentou “já imaginaram se, um dia, as farmácias fecharem?”. Naturalmente instalarse-ia o caos. Entretanto, é necessário que se dê a devida importância e valorização aos farmacêuticos.

Internacionalmente, a FIP (Federação Internacional de Farmacêuticos) implementou o dia 25 de Setembro como o Dia Internacional do Farmacêutico, para sensibilização e elucidação mundial sobre a importância destes profissionais nas sociedades. O farmacêutico é também um promotor de saúde. Nós auguramos ter um dia nacional e temos como data o dia 25 de Outubro, tendo sido neste dia, em 2013, a proclamação da OFA. Estamos a trabalhar com os farmacêuticos no sentido de melhoria quer da assistência, como da saúde da população, e gostaríamos de recordar que somos parceiros da tutela. Precisamos que os decretos, despachos, as políticas do exercício da actividade permitam tal vínculo e o seu fortalecimento. Parafraseando Augusto Cury, em “O Futuro da Humanidade”, “a acção da não reacção é uma acção em si… porque contribui para acção de outros”. Precisamos de acções! Não somos mais uns profissionais, somos os farmacêuticos. Queremos políticas farmacêuticas coesas e concisas, em que todos os intervenientes se revejam, com metas e estratégias que interessem à profissão e possam contribuir para o desenvolvimento farmacêutico em Angola. Parabéns a todos os Farmacêuticos!

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RUBRICA REGULAMENTAR

PRESCRIÇÃO NÃO RACIONAL ASSINALOU-SE, NO DIA 25 DE SETEMBRO, O DIA INTERNACIONAL DO FARMACÊUTICO E ANGOLA NÃO FICOU DE FORA. COM MUITO ORGULHO, TIVEMOS VÁRIAS INTERVENÇÕES DO CN, O EVENTO CIMEIRO DO CRL-OFA, QUE CADA VEZ MAIS SE TEM TORNANDO IMPRESCINDÍVEL, E EVENTOS PARA A NOSSA CLASSE JUNTO DA CLÍNICA GIRASSOL E NO MEMORIAL DR. AGOSTINHO NETO, COM A PARTICIPAÇÃO DE GRANDES NOMES DA PRAÇA. FARMACÊUTICOS QUE APRESENTARAM E TRANSMITIRAM, EM DOIS DIAS INTENSOS, TEMAS PERTINENTES, ONDE FORAM HOMENAGEADOS COM SABEDORIA E AFINCO ALGUNS DOS FUNDADORES DA NOSSA ORDEM DOS FARMACÊUTICOS. UM BEM-HAJA AOS PROFISSIONAIS DA CLASSE.

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Dra. Zola Mayamputo João Técnica Média de Farmácia pelo IMS de Luanda. Licenciada pela Universidade Jean Piaget de Angola/Ciências Farmacêuticas. Agente de Segurança Higiene e Saúde no Trabalho. Directora Técnica da Australpharma.


Q

uem pensa que o profissional de farmácia actua apenas no atendimento ao público está enganado, o mercado de trabalho é bastante diverso. Logo, muita gente pergunta-se o que faz um farmacêutico no seu dia-a-dia. É na pesquisa, manipulação e análise, laboratório, produção, distribuição, atendimento, aconselhamento e acompanhamento humano e repleto de empatia que encontramos força e esperança para seguir com o tratamento, pois ser farmacêutico tem como efeito colateral a alegria. Vamos falar um pouco da prescrição não racional. O uso racional de medicamentos depende de componentes da gestão, conservação e distribuição dos próprios medicamentos, da qualidade da prescrição e do cumprimento da terapêutica. A palavra racional é um adjetivo oriundo do termo latim rationalis e é usada para descrever alguém que é dotado e faz uso da razão, que está conforme à razão, que age segundo a razão. A prescrição não racional ainda é um tema actual que ocorre no nosso dia-a-dia e isso acontece quando o prescritor ignora as interacções medicamentosas ou esquece que factores genéticos e ambientais, ou a própria doença, podem alterar a resposta do paciente ao medicamento. Também ocorre quando se

erra no diagnóstico, ou quando se escolhe o medicamento errado para o caso, ou ainda quando a receita é preparada de modo impróprio. Sim, ainda ocorre quando há prescrição de medicamentos sem razão científica, sem diagnóstico estabelecido, com medicamentos caros, em quantidade exagerada, com dosagem inadequada, para uma duração insuficiente do tratamento e muito mais. Entre os erros frequentemente relacionados com a prescrição não racional encontramos alguns como: • prescrição desnecessária: um medicamento menos caro teria o mesmo efeito e eficácia • tratamento sintomático em condições que não precisam de nenhum medicamento • prescrição incorrecta: o medicamento é prescrito com base num diagnóstico incorrecto ou não confirmado, ou ainda o medicamento prescrito não tem indicação para tratar a doença específica diagnosticada • aviamento incorrecto: dois ou mais medicamentos são prescritos quando um teria o mesmo efeito • sobreprescrição ou subprescrição: a dosagem prescrita e/ou a duração do tratamento são inadequadas. As razões da prescrição não racional são múltiplas e complexas. Muitas vezes, estão relacionadas com a falta de supervisão e de capacitação no trabalho e também com o desejo de prestígio do prescritor e a pressão exercida por alguns doentes. Sendo que é necessário para uma prescrição racional considerar um diagnóstico correcto, o medicamento correcto na dose adequada, quantidade exacta para a dose e duração completa do tratamento, assim como fornecer informações suficientes sobre o medicamento para tomá-lo correctamente. É importante e imprescindível que se confirme que o doente entendeu as informações transmitidas. Sabe porquê? Porque a diferença entre o remédio e o veneno está apenas na dose. Em primeiro lugar, o farmacêutico presta cuidados da mais variada natureza: clínica, analítica, tecnológica ou regulatória, por isso, o seu desempenho deve ser de elevada qualidade. Bem-haja à nossa classe.

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RUBRICA ENTREVISTA AMBIENTAL

DOIS TERÇOS DOS OBJECTIVOS GLOBAIS PARA OS DIREITOS E BEM-ESTAR DAS CRIANÇAS ESTÃO ATRASADOS PARA ALCANÇAR A META DE 2030

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A MEIO CAMINHO DOS OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) DE 2030, DOIS TERÇOS DOS INDICADORES RELACIONADOS COM CRIANÇAS ESTÃO ATRASADOS PARA ALCANÇAR AS SUAS METAS, DE ACORDO COM A UNICEF. O RELATÓRIO “PROGRESSOS NO BEMESTAR DAS CRIANÇAS: CENTRAR OS DIREITOS DA CRIANÇA NA AGENDA 2030” ALERTA QUE, ATÉ À DATA, APENAS 6% DA POPULAÇÃO INFANTIL (OU SEJA, 150 MILHÕES DE CRIANÇAS, QUE VIVEM EM APENAS 11 PAÍSES) ALCANÇOU 50% DAS METAS RELACIONADAS, O NÍVEL MAIS ALTO DE REALIZAÇÃO A NÍVEL GLOBAL.

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e os progressos previstos se mantiverem, apenas 60 países, que abrigam somente 25% da população infantil, terão alcançado as suas metas até 2030, deixando para trás cerca de 1,9 mil milhões de crianças em 140 países. “Há sete anos, o mundo comprometeu-se em erradicar a pobreza, a fome e a desigualdade e em garantir que todos – especialmente as crianças – tenham acesso a serviços básicos de qualidade”, afirma a directora executiva da UNICEF, Dra. Catherine Russell. “Mas, a meio caminho da Agenda 2030, estamos a ficar sem tempo para transformar a promessa dos ODS em realidade. As consequências do não cumprimento dos objectivos serão medidas na vida das crianças e na sustentabilidade do nosso planeta. Temos de voltar ao caminho certo e isso começa por colocar as crianças no centro da acção acelerada para alcançar os ODS.” O relatório fornece uma visão geral do progresso até à data sobre os indicadores específicos para crianças nos ODS, que foram adoptados pelos Estados-membro da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, com o objectivo de acabar com a pobreza, reduzir a desigualdade e construir sociedades mais pacíficas e prósperas até 2030.

A análise reúne mais de 20 anos de dados relativos a mais de 190 países, comparando a situação actual com o que se pretende alcançar nos próximos sete anos, identificando os desafios e oportunidades para uma acção acelerada. Os resultados mostram um cenário variado de progressos e retrocessos face aos objectivos globais. Desenvolvimento acelerado De acordo com o relatório, o desenvolvimento acelerado é possível com um forte compromisso nacional, políticas eficazes e financiamento adequado, com alguns países de baixo e médio rendimento a registarem a taxa de progresso mais rápida. Por exemplo, com base nos dados disponíveis até 2021, países como o Camboja, a Índia, Marrocos, o Ruanda e o Uganda, entre outros, apresentaram um desempenho consistente em vários ODS relacionados com crianças, principalmente quando os esforços foram investidos em áreas que produziram resultados em vários indicadores. No entanto, mesmo

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O DESENVOLVIMENTO ACELERADO É POSSÍVEL COM UM FORTE COMPROMISSO NACIONAL, POLÍTICAS EFICAZES E FINANCIAMENTO ADEQUADO, COM ALGUNS PAÍSES DE BAIXO E MÉDIO RENDIMENTO A REGISTAREM A TAXA DE PROGRESSO MAIS RÁPIDA

estes países ainda têm muito caminho a percorrer para alcançar as metas e devem manter o seu ritmo ou acelerar ainda mais. O mundo ainda está a lidar com os efeitos de várias crises – Covid-19, alterações climáticas, conflitos e crises económicas – que interromperam ou reverteram anos de progresso. Notavelmente, nos últimos anos, a pandemia contribuiu directamente para uma quebra histórica nos serviços de imunização e a pobreza na aprendizagem aumentou um terço nos países de baixo e médio rendimento. Os objectivos relacionados com a protecção contra danos, aprendizagem e uma vida sem pobreza são os que estão mais distantes das suas metas. Para alcançar as metas de 2030, os países que actualmente estão atrasados terão de acelerar o progresso para níveis historicamente sem precedentes. Os dados mostram que investir nos direitos da criança impulsiona e sustenta resultados para todas as sociedades, pessoas e planeta, uma vez que as intervenções nos primeiros anos de vida são as que mais contribuem para erradicar a fome, pobreza, falta de saúde e desigualdade. A UNICEF apela, assim, aos países para que coloquem os direitos da criança no centro das suas agendas e tomem medidas históricas para acelerar o progresso, nomeadamente:

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• Criar um compromisso político a nível nacional. Os Governos devem aumentar significativamente e salvaguardar as despesas sociais em áreas como a saúde, a educação e a protecção social. • Definir metas ambiciosas e realistas e tomar medidas. Adaptar as metas globais aos contextos locais, considerando as capacidades técnicas, políticas, de governação e financeiras, para ajudar a garantir acções exequíveis e mudar o arco da trajectória no sentido de uma maior aceleração em direcção aos ODS. • Dar prioridade ao conhecimento e às evidências para as crianças. Promover parcerias sólidas e a colaboração entre os “stakeholders” para facilitar a recolha, a partilha e a utilização de dados, a fim de determinar as acções concretas necessárias para alcançar as metas dos ODS. • Reforçar o compromisso na construção de um planeta habitável para todas as crianças. Os Governos e a comunidade internacional devem aumentar os investimentos para desenvolver e implementar estratégias de mitigação e adaptação às alterações climáticas. • Garantir que os sistemas de financiamento funcionam para acelerar o progresso. Explorar opções inovadoras de financiamento nacional e internacional que dêem prioridade aos resultados, realcem a equidade e a eficácia e orientem o investimento para áreas transversais. “Muito pode acontecer em sete anos”, acrescenta a Dra. Catherine Russell. “Podemos renovar e redireccionar os nossos esforços e tornar o mundo um lugar mais justo e saudável para todos. Mas, para o conseguir, os líderes mundiais têm de se tornar defensores das crianças e colocar os direitos da criança no centro das suas agendas políticas e orçamentais nacionais.”


NOTÍCIA

OMS PUBLICA NOVA LISTA DE TESTES DE DIAGNÓSTICO ESSENCIAIS Há um grande número de casos não notificados de infecção por este vírus, mas a adição destes testes de diagnóstico ajudará os Governos a gerir os surtos.

A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) PUBLICOU A SUA LISTA DE TESTES DE DIAGNÓSTICO ESSENCIAIS 2023, QUE CONSISTE NUM REGISTRO BASEADO EM EVIDÊNCIAS DE PRODUTOS DE DIAGNÓSTICO IN VITRO, QUE AJUDAM OS PAÍSES A TOMAR DECISÕES INTERNAS SOBRE TESTES DE DIAGNÓSTICO.

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lista deste ano inclui duas novas adições: a inclusão de três testes do vírus da hepatite E, incluindo um teste rápido, para ajudar no diagnóstico e vigilância da infecção que causa e a recomendação de adicionar o uso pessoal de dispositivos de glicose no sangue às directrizes médicas existentes para diabetes.

Diabetes A diabetes é uma doença crónica que causou 1,5 milhões de mortes em 2019, com a maior incidência e impacto nos países de rendimento médio-baixo. É possível evitar ou retardar as suas consequências, através de uma nutrição adequada, medicação, actividade física e medição regular da glicemia. A inclusão de dispositivos de teste de glicose na Lista de Testes de Diagnóstico Essenciais poderia levar a uma melhor gestão da doença e à redução dos desfechos negativos. Embora a lista não seja prescritiva, pretende-se que os Governos possam utilizar a lista para melhorar os serviços de testes de diagnóstico in vitro nos seus países, o que resultará num maior acesso aos testes de diagnóstico e em melhores resultados para os doentes. “O rápido desenvolvimento e a implantação global de testes de diagnóstico no início da pandemia de Covid-19 foram vitais para controlar a propagação do vírus, detectar, isolar e tratar pessoas infectadas e proteger aqueles em risco”, nota o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director geral da OMS. “A Lista de Testes de Diagnóstico Essenciais é uma ferramenta crítica que fornece aos países recomendações baseadas em evidências para orientar a tomada de decisões e garantir que os testes de diagnóstico mais importantes e confiáveis estejam disponíveis para profissionais de saúde e pacientes”.

Hepatite E Os casos de hepatite E ocorrem em todo o mundo sob a forma de surtos ou esporadicamente. Embora a maioria das pessoas faça uma recuperação completa, uma pequena percentagem (4%) desenvolve insuficiência renal aguda. Esta proporção é mais elevada para as mulheres grávidas (taxa de letalidade que varia entre 19,3% e 63,6%).

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