Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 18 - Dezembro/2020

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ESCRITORES BRASILEIROS CONTEMPORÂNEOS EDIÇÃO 18

Nº. 18

Dezembro/2020

Revista Literária e Artística

Bate-papo com a Atriz e Apresentadora

S i l v a n a T e i x e ir a


Fechamos 2020 com um presente admirável para os leitores (e nós também!): o bate-papo com a atriz e apresentadora Silvana Teixeira, além de nos contar muitas passagens da sua trajetória artística, também nos enviou dezenas de fotos para ilustrar as páginas da nossa revista. O jornalista Geraldo Nunes nos brinda com a matéria Conheça as Dianas de São Paulo na sua coluna São Paulo de Todos os Tempos. Dedicamos esta edição aos Contadores e Contações de Histórias, para abordar o tema trazemos as colaborações de: Verônica Marcílio, Cris Arantes, Sandra Regina Alves, Regina Brito, Newton Nazareth, Ricardo H. Baba, Glafira Menezes Corti, Lourdes Borelli, Edgar Louzi, Luiz Negrão, da bibliotecária Elisangela Alves da Silva, e Thais Matarazzo. E na seção Direito temos a matéria E o tal “Estupro Culposo”?? da colunista dra. Gisele Lucas. Boa leitura!

Abaixo vemos uma fotografia da dupla Gi & Sil, interpretadas por Gigi Anhelli e Silvana Teixeira, do programa Bambalalão. As meninas cantavam modas de viola, divulgando a música popular brasileira. Silvana também tocava violão. Nesses momentos, sempre se recordava da sua avó d. Madalena, foi ela quem presentou a neta com o instrumento, desejava que Silvana fosse cantora, pois é afinada. Tudo isso e muito mais você poderá conferir nas próximas páginas.

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Revista pertencente à Editora Matarazzo. Email: versejandocomimagens@gmail.com Telefone: (11) 3991-9506. CNPJ: 22.081.489/0001-06. Distribuição: São Paulo - SP. Diretora responsável: Thais Matarazzo MTB 65.363/SP. Depto. Marketing: Ana Jalloul (11) 98025-7850 Depto. Jurídico: Tatiane Matarazzo Cantero. Periodicidade: mensal. Formato: digital. Capa: Silvana Teixeira na peça Teca, Troncos e Encontros. Foto: Dacio Azevedo Rodrigues. Edição 18 - Nº 18 - Ano II - Dez./2020. A opinião e conceitos emitidos em matérias e colunas assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista Escritores brasileiros contemporâneos. Contatos lwww.editoramatarazzo.com.br Facebook: @editoramatarazzosp Instagram: @editoramatarazzo

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EDITORIAL

Escritores brasileiros contemporâneos

EXPEDIENTE

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SUMÁRIO Percepção, 38 Sandra Regina Alves Editorial, 2 Bate-papo com Silvana Teixeira, 5 Entrevista de Janeiro: Anselmo Vasconcellos, 25 São Paulo de Todos os Tempos Conheça as Dianas de São Paulo, 26 Geraldo Nunes Conversas na “sucursal”, 29 Thais Matarazzo Miscelaneos, 33 Alessandra Bononi ► Contação e Contadores de Histórias VerônicaMarcílio,acontadora de histórias, 35 Minha missão, 36 Cris Arantes Hidromassagem, 37 Nina de Lima

O abacateiro, 39 Regina Brito Rato de Biblioteca, 40 Newton Nazareth Contar histórias, 41 Ricardo H. Baba Veredas pra lá e pra cá, 42 Glafira Menezes Corti Lourdes borelli, 43 História de sabedoria, 44 Edgar Louzi O Teatro de Papel Japonês, 45 Luiz Negrão Contar Histórias em bibliotecas públicas: resistência e reinvenção em tempos de pandemia, 47 Elisangela Alves Silva ► Direito E o tal “Estupro Culposo”??, 53 Dra. Gisele Lucas


Programa Reforma Fácil

Brígida e Nefasto no Circo do Agente G

Peça Romão e Julinha, Flávio Garnieri e Silvana Foto: Dacio Azevedo Rodrigues

Bambalalão, Palhaço Pam Pam, Silvana e Gigi Anhelli

Bambalalão: Bamboneca (Helen Helene), Professor Parapopó (Chiquinho Brandão), Gigi Anhelli e Silvana Teixeira.


Na edição de outubro passado, trouxemos a entrevista com a apresentadora Gigi Anhelli, a Gigi do Bambalalão. Foi um sucesso. Recebemos diversos feedbacks dos leitores a nos solicitar uma entrevista com a Silvana Teixeira, também apresentadora do programa infantil da TV Cultura. Pedido feito, pedido atendido! Afinal os artistas sempre estão vivos nas memórias afetivas das pessoas. O encanto que eles nos passam com seus trabalhos são

S ilvana Teixeira como centelhas de alegrias e prazer. Conseguimos conversar com a Silvana que foi super simpática e compartilhará conosco nas páginas a seguir vários momentos da sua carreira artística, também para ilustrar melhor as histórias, ela nos enviou dezenas de fotografias! Sua trajetória é repleta de trabalhos memoráveis na publicidade, televisão, teatro e no circo... Mas vamos deixar que ela mesma nos conte tudinho, tudinho.

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com

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B ate-papo

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Espetáculo Sonetos de Camões, Silvana e Augusto César

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de ingressar na carreira artística? Quando tinha 17 anos estava bastante indecisa em relação a que carreira seguir. Como meu pai era advogado, influenciadas por ele, minha irmã e eu prestamos vestibular para o curso de Direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU, na Liberdade. Estava no terceiro ano e um dia durante o intervalo de uma aula, na porta da FMU, fui abordada por um produtor de uma agência de publicidade. Ele me deu um cartão e disse que se eu me interessasse em fazer um comercial, poderia procurá-lo na agência. Sem pretensão,

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► Como surgiu a oportunidade

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sua infância. Quando menina você já pensava em ser artista? Nasci em São Paulo, em 18 de junho de 1956, morava no bairro de Pinheiros. A casa ainda existe na Rua Padre Carvalho, está toda reformada, eu fico triste quando passo por lá. Virou um escritório. Morava nessa casa com meus pais, Oneida e Sebastião, e minha irmã Oneida. Ela é um ano e nove meses mais velha, apesar da diferença de idade, sempre estudamos juntas na mesma classe no primário, ginásio e ensino médio no Colégio Notre Dame, no Sumaré. Sempre fomos amigas. Também na faculdade estudamos juntas! Essa casa tem tantas histórias, me dá uma grande saudade. Nos meus aniversários minha mãe fazia festa junina temática e as pessoas iam todas fantasiadas. Nosso quintal era comamprido e tudo era decorado, tinha comidas típicas, uma delícia! Tive uma infância gostosa. Desde pequena era louca por livros, amava os clássicos! Trocava qualquer brincadeira que fosse para ficar no meu quarto lendo os contos dos Irmãos Grimm. Nunca sonhei em ser artista, meu sonho era ser veterinária. Mas, tinha fascínio pelas novelas, adorava.

Minha mãe trabalhava no Instituto Adolfo Lutz, então, nós ficávamos com a minha avó Madalena, uma pessoa muito importante na minha vida. O vovô Alfredo era alfaiate e a vovó costureira. Ela me ensinou a costurar e mais uma porção de coisas, cozinhava coisas gostosas que só uma avó sabe fazer. A casa deles era grande e gostosa no Alto de Pinheiros. A vovó queria que eu fosse cantora, era um sonho. Ela me presenteou com um violão, dizia que eu era afinada e cantava muito bem. Infelizmente, ela veio a falecer antes de me ver artista.

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► Conte-nos um pouco sobre a

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Álbum de Família

, SP , Sã o V ic e n te Si lv a n a n a do e st á a o fu n M a d a le n a . d ó v a a su Silvana e sua irmã Oneida, fantasiadas para o Carnaval

Silvana e sua mãe d. Oneida

Silvana e o seu Tico


Silvana, a Garota Bradesco

Você chegou a concluir o curso de Direito? Sim, junto com minha irmã, conforme vontade do papai. Depois demos os diplomas de presente para ele. Nem minha irmã e nem eu exercemos a profissão. Eu gostava das aulas, talvez se não tivesse acontecido a chance da publicidade, teria seguido a profissão de advogada.

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para a Fundação Padre Anchieta? Em 1981 eu li em um jornal, na coluna do jornalista Ferreira Neto, ele escrevia sobre televisão, que a TV Cultura iria fazer testes com novos talentos. Estavam lançando um projeto de telecontos e teleromances. Eram adaptações de clássicos da literatura em formato de novelas curtas. Os telecontos duravam uma semana, os teleromances um mês. Fiz o teste e fui aprovada. O meu primeiro trabalho foi na Menina de Olho no Fundo, fui protagonista e contracenei com o ator Ewerton de Carvalho. Depois fiz outros trabalhos desse projeto: Floradas na Serra, Abdias, Fogo Frio, O Tronco do Ypê , O Homem da Cabeça de Papelão, O Resto é Silêncio, Nem Rebeldes nem Fiéis , Puçanga, e Iaiá Garcia.

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► Como aconteceu sua entrada

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mas considerando o convite interessante fui até lá. Acabei contratada para fazer a campanha do Fundo Bradesco 157, me tornei a “Garota Bradesco”. Fiz um comercial com o Juca de Oliveira, muito legal! Minha foto saiu em todo material publicitário do banco e também nos outdoors. Isso foi em maio de 1976. A partir daí fiz vários comerciais e campanhas, fiquei bem conhecida. Tudo na minha vida foi acontecendo por acaso, não busquei nada. Fiquei trabalhando com publicidade até 1981 quando fui para a TV Cultura. Fiz cursos de teatro com o Emílio Fontana, e o casal Berta Zemel e Wolney Zemel.

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Menina de Olho no Fundo (1981), Silvana e Ewerton de Castro

Iaiá Garcia (1982)

Telecontos Teleromances TV Cultura

(1 98 1) O Re st o é Sil ên cio

Ia iá G a r c ia

(1982)

Todas as fotografias pertencem ao acervo pessoal de Silvana Teixeira

▼ O Homem da Cabeça de Papelão (1982)


Como você começou no Bambalalão? Em 1983 fui cobrir as férias da Gigi no Bambalalão. Cheguei um pouco assustada porque o programa era ao vivo e nunca tinha trabalhado com crianças. Fui acolhida de uma maneira tão absoluta e carinhosa por elas, foi lindo! As crianças começaram a escrever cartinhas para o programa pedindo para que eu ficasse, gostaram muito de mim. Assim, acabei permanecendo no programa após a volta da Gigi. Co-

Como surgiu a dupla Bambaleão & Silvana? Eu comecei a fazer o teatro de bonecos no Bambalalão, contracenava com os bonecos e daí surgiu a dupla. As pessoas gostaram tanto que acabamos ganhando um programete só nosso. O leãozinho era manipulado pelo ator Chiquinho Brandão. Era um boneco paquerador que vivia

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mecei fazendo só as historinhas, em seguida e aos poucos, fui dividindo outros quadros como as brincadeiras, eu fiquei com a equipe do Amarelo e a Gigi com a do Vermelho. O palhaço Tic Tac sempre estava com a gente. Com o tempo, o elenco do Bambalalão foi crescendo. No começo gravávamos nos estúdios da TV Cultura, na Água Branca, o estúdio era pequeno e acolhedor, o cenário tinha dois escorregadores e nós entrávamos no programa por eles. Ao final as crianças também escorregavam. Depois o programa passou a ser transmitido do Teatro Franco Zampari, se tornou mais grandioso, um programa de auditório. Era bem legal porque as crianças iam acompanhadas pelos pais e avós. Mas eu gostava mais quando era no estúdio da TV porque era mais intimista e charmoso.

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Os telecontos e teleromances duraram de 1981 a 82, eram superproduções. Tive a oportunidade de trabalhar e conhecer muita gente boa nessa época. Floradas na Serra foi toda gravada em externa em Campos do Jordão. Iaiá Garcia também foi uma linda produção, com várias externas. Em seguida fui escalada para apresentar o A Fábrica do Som com o Tadeu Jungle. Gravávamos no teatro do Sesc Pompeia, com um público imenso, muitos jovens. Nessa época conheci a Gigi Anhelli, eu já era fã do trabalho da Gigi no Bambalalão. Nos encontrávamos na maquiagem e batíamos muito papo. Eu nunca imaginei que em breve trabalharíamos juntas. Nós nos tornamos grandes amigas.

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tentando me conquistar. O Chiquinho falava coisas surpreendentes e as cantadas tinham mais significados para os adultos, era engraçado e charmoso, as crianças não percebiam algumas coisas. Bambaleão & Silvana passava no horário nobre da TV Cultura e fez o maior sucesso. Era muito bem produzido, com uma abertura linda. Os bonecos tinham vida própria e a química da dupla foi certeira. Quando eu contracenava com ele, parecia que falava com um leão de verdade. Era impagável! Também participei de mais dois programas na Cultura, Ligue para um clássico, que eu adorava apresentar ao lado do maestro Diogo Pacheco, formávamos uma boa dupla. Ele apresentava de uma maneira tão leve e divertida que se tornava muito gostoso e passei a gostar de música clássica a partir desse meu trabalho. O outro programa foi o Lanterna Mágica, de vídeo animação, apresentava produções premiadas em festivais de cinemas nacionais e internacionais. Foi uma produção tão importante que eu nunca entendi porque acabou, abriu caminho para a animação nacional. Era muito assistido e curtido pelos telespectadores.

▲ A Fábrica do Som (1983), com Silvana e Tadeu Jungle

▲ Ligue para um clássico, com maestro Diogo Pacheco e Silvana

▲ Programa Lanterna Mágica


tros degraus. Lá no estúdio da Marechal também se fazia testes para atores, mas eles não me deixavam fazer teste nenhum, pois afirmavam que eu era contratada do Jornalismo. Eu não estava satisfeita e saí depois de um ano. Quando o Gérson de Abreu foi para a TV Record fazer o Agente G, me chamou e fui para lá. você participar de peças infantis? Foi quando comecei no Bambalalão me chamaram para fazer espetáculos no teatro. Participei de várias peças durante e depois do Bambalalão: A Praça dos Sonhos; Teca, Troncos e Encontros; Romão e Julinha; Casa de Brinquedos; O Gnomo e a Árvore Encantada; A Bela Adormecida; Sonho de uma Noite de Verão; A Bela e a Fera; Pinóquio; Peter Pan. O primeiro espetáculo infantil foi A Praça dos Sonhos, com Paulo Wolf, Eliná Coronado, Roberto Domingues, Washington Bezerra, Tatyana Dantas e Ulisses Bezerra. O Gnomo e a Árvore Encantada foi uma produção minha e do Fernando Gomes, que também fez os bonecos. O texto é da Rosana Rios e Eliana Martins, com música

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► Como surgiu o convite para

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Quando o Bambalalão acabou em 1990, você passou para a Rede Globo e se tornou Moça do Tempo performática do SP Já. O convite para ir para a TV Globo partiu do jornalista Carlos Nascimento, ele esteve na TV Cultura por pouco tempo. Quando ele foi para a Globo, me convidou para ser a Moça do Tempo no SP Já. Fui uma Moça do Tempo performática que fugia do padrão da Globo. Fiquei um ano no SP Já. A gravação era feita no estúdio da Globo da Praça Marechal Deodoro. Quando a previsão era de chuva, eu usava capa e guarda-chuva, quando a previsão era de um final de semana ensolarado, eu aparecia na piscina. Era muito engraçado. Houve estranhamento e recebi muitas críticas de jornais e revistas. Mas, o público curtia bastante, eu recebia muitas cartas e sentia essa manifestação carinhosa. Acontecia de errar a previsão do tempo, as pessoas mexiam comigo e diziam: “— Olha, Silvana, eu não fui viajar porque você falou que iria chover e acabou por fazer um sol maravilhoso!”. Na verdade, ao entrar na Globo, meu desejo era fazer novelas e trabalhar como atriz. O convite que surgiu foi para Moça do Tempo, pensei que poderia ir galgando ou-

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Bambalalão, Teatro Franco Zampari, Silvana e Gigi Anhelli

Moa com o Beleléu, e Silvana com o Janguinho

Silvana, Bambaleão e Chiquinho Brandão. Foto: Dacio Azevedo Rodrigues João Acaiabe, Silvana e o palhaço Perereca

Gigi Anhelli, Silvana, palhaço Tic Tac, professor Parapopó e o mágico Me Basart

Silvana com um fã na saída do Teatro Franco Zampari


ba leã ▲ Sil va na e Ba m no cu rta In fin ita Tr op icá lia (19 85 )

► Memélia de Carvalho e sua Maria Balinha, Baiapó, Silvana, Bambaleão e o professor Parapopó

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O Gnomo e a Árvore Encantada Romão e Julinha, Flávio Garnieri e Silvana. Foto: Dacio Azevedo Rodrigues

Teca, Troncos e Encontros, Silvana e Eduardinho Silva. Foto: Dacio Azevedo Rodrigues

Silvana e a fã Ana Carolina, 1992

O Castelo de Mulumi

Silvana e o fã Alexandre, 2003


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► Como é o seu relacionamento com os fãs? Nunca imaginei que tivesse tantos fãs. O Bambalalão foi tão querido que até hoje encontro fãs no meu caminho. Na época do programa recebíamos muitas cartas pelos Correios, boa parte vinha do interior. As mães escreviam as cartinhas e as crianças desenhavam os personagens. Não tínhamos noção da real dimensão do número de fãs. Em todos os lugares que eu ia, era reconhecida, cinema, restaurante, shopping, sempre aparecia alguém para bater papo, pedir autógrafos, saber dos outros personagens do programa. Todas as abordagens eram feitas com carinho. Acho que ídolos são importantes na infância, são lembranças que nunca mais esquecemos. Meus ídolos eram os palhaços Arrelia e Pimentinha. Um dia eu estava no programa Mulheres, da TV Gazeta, para divulgar um espetáculo, o Arrelia também estava lá para ser entrevistado. Eu fiquei tão emocionada ao encontrá-lo, o abracei e chorei muito. Foi lindo! Às vezes recebo mensagens carinhosas por e-mail, pelo Whatsaap, e algumas pessoas ligam para

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quando criança era Tuti, aí o personagem ganhou esse nome.

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de Moacyr Júnior. No elenco também estavam Fábio Saltini e Luciano Ottani, que também manipulava os bonecos. Foi um mega sucesso! Ficamos em cartaz em São Paulo e depois viajamos pelo interior. Os bonecos eram lindos e encantadores! O gnomo era manipulado pelo Fernando e parecia que era de verdade, o efeito era maravilhoso! Ao final do espetáculo entrava a gnoma procurando o marido - manipulada por Luciano Ottani. As crianças amavam! Criança tem uma coisa interessante, quando gostam de um espetáculo querem voltar para assistir várias vezes. Houve crianças que apareciam todos os finais de semana. Os pais comentavam que queriam levar os filhos para ver outra peça, porém elas não aceitavam, queriam assistir O Gnomo e a Árvore Encantada. Quando terminava, nós íamos atender as crianças para dar autógrafos e tirar fotos. Recebi muitas fotografias com lindas e encantadoras dedicatórias, eu guardo todas elas porque é o significado que temos nas vidas das pessoas, uma lembrança bonita que elas guardam para sempre. Ah, tem outra curiosidade, quando a Rosana Rios estava escrevendo a peça estava procurando um nome para a personagem, comentei com ela que meu apelido

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Silvana, Kátia, Ana Paula e Sílvia

Quais foram os outros programas de TV que você participou? Fui trabalhar no Agente G a convite do Gérson de Abreu, como falei anteriormente. O elenco já se conhecia dos tempos do Bambalalão: Cláudio Chakmati, Fernando Gomes, Álvaro Petersen Jr., Wesley Crespo, e Helen Helene.

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lugar da Gigi. Depois ela percebeu que não era nada disso e acabou se tornando minha fã. Ela é muito inteligente e manja tudo de internet. Ela fez o site do meu hotelzinho. A Sílvia tinha uma filhinha a Monique, hoje uma moça, ela assistia o programa e era tão apaixonada pela dupla Bambaleão & Silvana que tinha uma coleção de leões. Sílvia é uma pessoa sensível, é poeta, serena, equilibrada e sensata. É aquela amiga que quando você passa por uma dificuldade, sempre tem uma palavra boa para te dar. São três meninas muito importantes na minha vida, de fãs passaram a ser minha amigas, são tão importantes que as considero minhas filhas e as trato assim. Depois que o Bambalalão acabou, elas sempre estiveram presentes na minha vida nos momentos alegres e tristes. São dedicadas e amorosas!

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saber do hotelzinho e acabam perguntando: “— Você não trabalhava na TV Cultura?”. Percebo que as pessoas têm essas lembranças muito vivas na memória. Quero destacar três meninas que eram muito fãs do Bambalalão: Kátia, Ana Paula e Sílvia. A Kátia era adolescente e assistia o programa, ela perdeu a mãe muito cedo, então, o Bambalalão era um alento na sua vida. Fazia muito bem a ela. A Kátia até cortou a franja para ficar mais parecida comigo. Todos os dias ela ia ao Teatro Franco Zampari na companhia do irmão para assistir o programa, tinham cadeiras cativas. A Ana Paula no começo não gostava de mim, não. Achava que eu tinha entrado no programa para tirar o

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Os bonecos foram todos feitos pelo Fernando Gomes, um primor! O programa passava na TV Record, mas era uma produção independente da produtora do José Amâncio. Eu fazia duas personagens: a Bárbara, a boazinha, e a Brígida, a má. Era muito legal, pois havia cenas que a Bárbara contracenava com a Brígida, ideia do diretor Arlindo Pereira, ele adorava fazer isso. O Gérson era uma pessoa maravilhosa, altíssimo astral, sempre de bem com a vida e com todo

mundo. Era divertido e brincalhão. O clima de trabalho era ótimo. Além do programa, o Agente G também tinha um circo que ficava armado na Avenida Eliseu de Almeida, atrás do Shopping Butantã. Era muito gostoso, o público que vinha nos assistir era enorme! Depois apresentei junto com o Álvaro Petersen Jr. o Reforma Fácil, um programa de bricolagem, na TV Bandeirantes. Outra produção independente do José Amâncio. Foi um programa útil que dava dicas de eletricidade, pintura, encanamento, tudo que você mesmo pudesse

▼ Elenco Agente G. O programa ficou no ar de 1995 a 1997 na TV Record


Reforma Fácil, Silvana e Álvaro Petersen Jr.

fazer em casa. Eu aprendi muito e coloquei em prática muitas dicas. O Fernando Gomes também fez os bonecos para o Reforma Fácil. Esse foi o último trabalho que fiz na televisão. ► Como surgiu a oportunidade de atuar em peças espíritas? Fui convidada pela atriz e diretora Bárbara Bruno, filha do Paulo Goulart e Nicete Bruno, para fazer o espetáculo O Amor Venceu, um dos maiores sucessos literários de Zíbia Gasparetto, com adaptação de Renato Modesto. Fui ler o livro para compor melhor a personagem, a linda e sublime Solimar, eu me apaixonei pela história e pela doutrina espírita. Li todos os livros da Zíbia e outras obras, como do Chico Xavier. No Teatro Paiol também fiz espetáculos infantis, produzidos pelo querido e saudoso Paulo Peres,

Sonho de Uma Noite de Verão e A Bela Adormecida. Também fiz o grandioso espetáculo Laços Eternos, inspirado em outro livro da Zíbia Gasparetto. O figurino de época era espetacular, do figurinista Fábio Namatame, conquistou um prêmio. Trabalhei muitos anos naquele teatro, tenho lembranças boas daquele espaço. Foi uma época muito feliz da minha vida! Com os espetáculos espíritas viajamos por todo o Brasil, principalmente com O Amor Venceu e Laços Eternos. No Teatro Itália participei dos espetáculos O Nosso Lar e A Vida Continua, produções dos Cristiane Natali. Já Sonetos de Camões era um primor de delicadeza, o figurino era lindo, foi encenado no Teatro Hilton, com adaptação da Valéria Di Pietro e direção da Liz Nunes.

Sonetos de Camões


Elenco da peรงa E a Vida Continua...


Elenco de O Amor Venceu

Elenco de Laรงos Eternos


A menina que queria ser veterinária na infância sempre foi apaixonada por bichos. Teve um poodle, o Tico, que viveu 23 anos em sua companhia. E esse amor pelos animais reservava um trabalho futuro. Depois que terminou o Bambalalão, Silvana mudou-se para um sítio em Embu das Artes, seu sonho era ter muitos cachorros e chegou a adotar onze vira-latas. Continuou a

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Pet da Sil

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Uma Consulta, com Silvana e Pedro Palli

trabalhar na televisão e no teatro. Ainda participou do projeto escola da produtora Vania Bastia, que levava às escolas espetáculos teatrais baseados em livros de autores consagrados, como A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo; Capitães da Areia de Jorge Amado; e O Menino Maluquinho do Ziraldo. Mas viver apenas de teatro é muito difícil. Foi, então, que Silvana teve uma ideia empreendedora: criou um Taxi Pet em Embu das Artes, onde ninguém oferecia esse tipo de trabalho. A propaganda foi no “boca a boca”, a clientela aumentou e aprovou os serviços do táxi para animais. Um sucesso. Credibilidade é tudo! Em seguida, Silvana expandiu o negócio e abriu um hotelzinho para pets no seu sítio. “Deixo aqui a minha gratidão a todos que fizeram parte da minha trajetória. Conheci pessoas maravilhosas e fiz trabalhos incríveis. Ainda gostaria de fazer uma peça espírita, pois é um trabalho que leva mensagens positivas, consolo e esperança para as pessoas. Um beijo para os leitores da revista. Espero que tenham curtido este bate-papo. E a nossa história entrou por uma porta e saiu pela outra, quem souber que conte outra!”, finaliza. Nós é quem agradecemos pelo bate-papo!

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H otelzinho

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http://www.petdasil.com.br/ petdasil@petdasil.com.br (11) 4704-3390 (11) 97975-3149


Resumo dos Trabalhos Artísticos realizados por Silvana Teixeira Televisão Telecontos e Teleromances (TV Cultura) 1982 - Iaiá Garcia 1982 - O Tronco do Ipê 1982 - Nem Rebeldes, Nem Fiéis 1982 - A Casa, o Corvo e o Coração 1982 - Fogo Frio 1982 - O Homem da Cabeça de Papelão 1981 - O resto é silêncio 1981 - Floradas na serra 1981 - Puçanga 1981 - Abdias 1981 - Prima Belinha 1981 - Menina de Olho no Fundo Programas Infantil 1995 - Agente G (Record) 1987 - BambaLeão & Silvana (Cultura) 1983 - Bambalalão (Cultura) Programas Adultos 1986 - Ligue para um clássico 1985 - Lanterna Mágica 1982 - A Fábrica do Som 1990 - SP Já (Telejornal - Globo) Outros segmentos 1996 - Reforma Fácil 1992 - Fit Shop Import Teatro Infantil 2007 - O Casamento do Ponto com a Vírgula 2005 - Aladim 2004 - Cinderela 2002 - A Bela Adorecida

2001 - Sonho de Uma Noite de Verão 2001 - Pinóquio 2001 - Peter Pan 1999 - A Bela e a Fera 1995 - Casa de Brinquedos 1992 - O Gnomo e a Árvore Encantada 1991 - O Castelo de Mulumi 1987 - Romão e Julinha 1985 - Teca, Troncos e Encontros 1983 - A Praça dos Sonhos Teatro Adulto 2005 - Sonho de Uma Noite de Verão 2005 - A Moreninha 2003 - Uma Consulta 2002 - O Terrível Capitão do Mato 2002 - Nosso Lar 2001 - A Vida Continua 2000 - Sonetos de Camões 1999 - O Alienista 1997 - Laços Eternos 1995 - O Amor Venceu Cinema 1985 - Infinita Tropicália Outros trabalhos 2008 - BambaShow 2006 - Contação de Histórias - Em Busca da Pedra Azul; Canção para Chamar o Vento; O Segredo da Lagartixa Encantada. Fonte: www.pt.wikipedia.org/wiki/ Silvana_Teixeira


nº.18 Escritores brasileiros contemporâneos

Vamos começar 2021 em alto-astral e com uma entrevista especialíssima com o ator, diretor, roteirista, professor e escritor Anselmo Vasconcellos. Artista consagrado dos palcos, televisão e cinema, é autor das obras: Comédia a Arte da Irreverrência, em parceria com Raquel Villela Alves (Lacre, 2012); e A Volta ao Mundo - uma pista para o futuro (Chiado, 2014), uma coletânea de sentimentos e de episódios vividos e imaginados durante os anos 70 e 80. O ator revelará diversas curiosidades acerca dos seus trabalhos artísticos e dos seus livros. Aguarde!

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Acervo Anselmo Vasconcellos

Entrevista de janeiro: Anselmo Vasconcellos

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São Paulo

de todos os tempos

Geraldo Nunes Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

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Um curso desenvolvido pela professora historiadora, Maria Lúcia Perrone Passos, no início dos anos 2000, ensinou seus alunos a conhecer as estátuas e os monumentos da cidade de São Paulo. A população sempre apressada não se dá conta das belezas dessas obras de arte, ainda vítimas do descaso e da sujeira nas vias públicas. Mesmo assim o estudo se mostrou interessante pela série de curiosidades existentes. Um exemplo é a presença na capital paulista de várias Dianas esculpidas ou pintadas por artistas plásticos de renome. Diana é uma deusa greco-romana que glorifica a luminosidade a lua e favorece a caça. Filha legítima de Júpiter, obteve do pai o direito de não se casar para continuar edificando santuários nos bosques destinados à reprodução dos animais.

Entre os paulistanos há exemplos de várias dessas esculturas, uma delas no tradicional Parque da Luz, onde a deusa pode ser visitada no conjunto formado pelo aquário, a ilha dos amores e o lago.

Jardim da Luz Os gregos a chamavam de Artemis, a deusa que obteve de Zeus, a companhia de 60 ninfas para protegê-la e louvá-la. A partir do domínio da Grécia pelo Império Romano, foi batizada pelo nome Diana. Sua representação mais famosa está no Museu do Louvre, em Paris. A escultura de 1790, é de Jean-Antoine Houdon, onde ela aparece de pé.

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Conheça as Dianas de São Paulo

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Teatro Municipal Uma Diana muito bonita era a da Praça do Correio, mas como o bulevar do Anhangabaú passou por

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Praça do Correio Existem outras três Dianas em tela que fazem parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo MASP, na Avenida Paulista. Uma delas leva o nome: O Banho de Diana, é de François Clouet, de 1572. A outra é de Eugène Delacroix, de 1798 e se chama Diana surpreendida por Acteão. Do famoso artista plástico Ticiano Vecellio, o Masp possui a tela cujo título é, Diana e Callisto, de 1556.

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Museu do Louvre Em São Paulo, a Diana esculpida pelo artista plástico Victor Brecheret, toda em mármore, felizmente está salva. Ela está na parte interna do Teatro Municipal. Na estátua ela aparece sentada, tendo um bicho de estimação ao lado.

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reformas, não sabemos se ainda está lá. Certa vez chegou a ser roubada e depois voltou para lá faltando parte do braço esquerdo. A Diana Caçadora, toda em bronze, foi doada à prefeitura pelo Liceu de Artes e Ofícios.

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O Largo do Arouche já foi um lugar cheio de estátuas, com muitos bustos um ao lado do outro. Ali funciona a Academia Paulista de Letras e os rostos de vários imortais foram homenageados, mas alguns desses bustos foram roubados. Até onde sei, a Diana do Arouche seguia por lá, mas está cada vez mais difícil visitar o centro da cidade sem voltar deprimido. Quem te viu, quem te vê, amado centro ainda repleto de arte e cultura.

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No Largo do Arouche há uma escultura que alguns dizem ser uma Diana, outros não. Ela se chama Depois do Banho, foi toda esculpida em bronze, mas o rosto da estátua é o de uma mulher indígena, então seria uma Diana Tropical.

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▼ Diana depois do banho

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▲ Diana and Callist

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ua Itajaçu, bairro do Pacaembu, São Paulo. Toco a campainha do porteiro eletrônico. Escuto a voz de Tatiana Belinky. “– Pode entrar. Já sabe, na segunda porta à direita”. O portão antigo de baixa estatura se abre. Coração ansioso, mais uma tarde de bate-papo com a grande escritora. Adentro a sua residência toda acarpetada, dobro à direita e logo avisto Tatiana em sua “sucursal”, como nomeou o seu cantinho preferido na parte térrea de sua casa. Está sentada em uma confortável poltrona

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R

Thais Matarazzo

verde e com as pernas apoiadas em uma baqueta. Tem ao colo a sua “escrivaninha portátil” – uma almofada verde amarrada com uma madeira servindo como base –, durante décadas datilografou e tamborilou milhares e milhares de páginas em sua máquina de escrever, mas o tempo “gasta tudo”, conforme dizia, “estou na idade do ‘condor’, com dor nas articulações, nos joelhos, nos braços, nas mãos etc.”, e para continuar sua produção literária, voltou aos velhos tempos do papel e da caneta. Tudo era manuscrito em cadernos ou papeis avulsos, sua letra continuava firme, forte, certeira e bem humorada.

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Foto: Thais Matarazzo, 2009.

Conversas na “Sucursal”

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sempre que alguém pedia para tirar fotos, ela pegava a boneca. Depois, ela revelou o porquê do bemq u e r e r por aquela Emília: quando Tatiana e Júlio Gouveia, seu marido, produziram a série O Sítio do Pica-pau Amarelo para a TV Tupi, nos anos 1950, Júlio lembrou-se de uma foto da esposa pequenininha, segurando um bichinho de pelúcia e usando trancinhas arrebitadas. Então, sugeriu que para composição da personagem Emília, ela deveria ter tranças arrebitadas. “Nas ilustrações dos livros do Lobato, a Emília não tinha tranças. O Júlio cismou que ficaria mais fotogênica e engraçada, e ficou mesmo. A atriz Lúcia Lambertini fazia a Emília, e fez magistralmente! Era a própria Emília!” Ladeando a sua poltrona, havia duas estantes simples de madeira. A da esquerda, mais alta, com muitos livros, pastas, caixas, bruxas, vasinho com flores, a Emília, cartinhas que recebia dos leitores. À direita, estava um móvel mais baixo, com telefone, agenda e um rádio, e muitas revistas, jornais e papeis.

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Na “sucursal”, passava a maior parte do dia – para quem vinha de fora, aquele local parecia mágico. A iluminação natural entrava pela enorme janela estilo anos 1950, quando vinha à noite, para enxergar melhor, usava uma lanterna e duas luminárias com grandes e flexíveis braços. Lá, trançava rimas, produzia crônicas, textos diversos, livros, conversava ao telefone, ouvia rádio, lia jornais, revistas, livros, recebia visitas – sua agenda era repleta (impressionante a sua disposição!) – realmente foi uma pessoa generosa! Tinha uma mesa de rodinhas, com pernas de ferro e tampa de madeira escura, que ficava à sua frente, com todos os acessórios que precisava: canecas com lápis e canetas coloridas, uma garrafa de água, régua, lixas de unha, lupas, relógio, portaguardanapos, uma garrafa de café (sempre quentinho!), livros, revistas, jornais, cadernos, papeis e uma bruxa bem vestida, de nariz enrugado, cabelos grisalhos e segurando uma vassoura – como a Baba Yaga da sua infância (só faltava o pilão voador) – e que dava uma risada estridente e assustadora, aliás, havia bruxas espalhadas por toda a casa, Tatiana as recebia de presente. Ela possuía predileção (e certo “ciúme”) de uma boneca de pano, de vestido branco com bolinhas vermelhas, e de trancinhas arrebitadas... A Emília! Presente de um admirador. A Emília não saía de sua companhia,

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cotidiano, quer dizer, eu mais escutava do que falava. Entretanto, eu adorava mesmo quando Tatiana narrava suas próprias memórias, tinham o sabor e o aroma dos seus livros de crônicas, mas “ao vivo e em cores” era muito melhor! Escutar uma mulher sábia, equilibrada, com senso de humor e “boa de prosa”, transmissora de conhecimentos através da tradição oral, é fantástico! Poderia destacar aqui várias passagens interessantes que escutei dos diversos bate-papos que tivemos, mas vou destacar duas histórias. Lembro-me, certa vez, de Tatiana contar sobre os tempos pioneiros da TV Tupi, dos programas que escrevia, traduzia ou adaptava, como o Sítio do Pica-pau Amarelo, ela disse às gargalhadas:“Naquela época, não havia programas para crianças na TV, o que existia eram programas de auditório com público infantil. Sabe quem era a “Xuxa” daquele tempo? A Virgínia Lane, estrela do teatro de rebolado, animava e apresentava um programa na Tupi. Ela fazia o trabalho dela muito bem, sabia como lidar com o público do auditório, a criançada gritava e pulava. Usava um maiô, com orelhas de coelhinho e rabinho, e mostrava suas bonitas pernas. Nada muito sexy. Nunca ninguém reclamou, depois, quando apareceu a Xuxa, houve polêmicas porque ela usava roupa curta e coisa e tal, e a Virgínia Lane já

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O destaque especial da estante era um porta-retrato, que ficava na altura dos seus olhos, com uma fotografia de imensa afeição para Tatiana: ela bem pequenininha, com o seu amado e adorado pai, Aron Belinky, um homem fino e sensível, poeta, contador de histórias, performático ao declamar poemas. “Uma pessoa muito especial. Eu falo com ele todos os dias, sonho com ele. Era tão delicado que quando eu tinha 3 anos não entrava no meu quarto sem bater na porta e pedir licença. Meu papai é maravilhoso!”, contava. Sobre sua mãe, Rosa Belinky, dizia:“Minha mãe era uma rosa cheia de perfumes e espinhos, um metro e meio de dinamite. Totalmente diferente do meu pai. Mamãe era telúrica, dessas pessoas de pés no chão e mãos no bisturi de dentista, ela se formou cirurgiã dentista em 1914. Era dentista e comunista. Corajosa e forçuda. Cantava horrores, dona de uma voz quente, de mezzo-soprano, não era só cantora, era intérprete, cantava desde canções revolucionárias até dor de cotovelo”. A escritora também fazia muitas referências amorosas ao seu marido e parceiro de vida e arte, Júlio Gouveia, e seus dois filhos, Ricardo e André (este falecido aos 26 anos). Conversávamos sobre muitos assuntos, literatura, poesia, jornalismo, televisão, teatro, artes em geral, animais, pessoas, coisas do

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presenteou. “É daquela história que estava concluindo o dia que você veio me visitar, lembra?” Fiquei emocionada, nem preciso dizer que guardo esse livro como um amuleto. Sempre antes de ir embora, Tatiana mandava servir um cafezinho e me dava deliciosos bombons!“Para você comer no caminho”. Pegava a agenda e começava a folhear e perguntava: “Quando você pretende voltar?”, às vezes ficava sem graça de responder, ela então agendava para o outro mês, no final da tarde e sempre durante a semana. E na data marcada, lá ia eu toda Feliz (com “F” maiúsculo, mas eu precisava era dar “nó em pingo d’água” para sair do trabalho mais cedo. Minha sorte é que trabalhava nas Perdizes, bairro vizinho ao Pacaembu, pegava um táxi e em menos de 10 minutos estava na casa da escritora). Tatiana partiu em 2014, aos 93 anos. Foi então que me dei conta da boa influência que ela teve em minha vida. Seus conselhos, transmissão de sabedores, acolhida e ternura que ficarão para sempre gravados no meu coração. Só posso ter gratidão. Por isso, sempre falarei da Tatiana, dos seus livros e da minha pequena vivência ao seu lado nessas visitas à Rua Itajaçu. Tatiana Belinky é uma referência na minha carreira literária, uma estrela que iluminou minha vida e ampliou meus horizontes.

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fazia isso muito antes. Mas o nosso trabalho na televisão foi completamente diferente, o nosso era teatro infantil”. Numa outra visita, em 2009, eu cheguei à sua casa e Tatiana estava terminando de escrever uma narrativa intitulada História Molhada, inspirada em A Pequena Sereia, de Andersen. Pediu para esperar uns minutinhos. Fiquei ali sentada num banquinho observando-a e totalmente encantada. Que sensacional! Rapidamente, ela terminou. Comentou que se recordou que o seu pai narrava essa história quando ela tinha 4 aninhos, de uma maneira toda especial, por isso, resolveu criar uma historinha com as personagens Lenita e seu papai. Quando o livro foi publicado, ela guardou um exemplar e me

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Miscelaneos

Poemas de Alessandra Bononi

Ilustrações de Vitória Oliva Perricci

Lançamento! ►

Para adquirir a obra entre em contato com a poeta e historiadora através dos seguintes canais:

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@livromiscelaneos ► E-mail: ale.historianaveia@gmail.com

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► Instagram:

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Veronica Marcílio,

Contação do livro “Bárbara, a astronauta”, Flipa 2019. Fotos: Gilberto Cantero

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Desde 2012, Veronica fez da Contação de Histórias e do Trabalho Social a sua Missão de Vida. Atua em escolas públicas, nas periferias e em comunidades. “Eu sempre levo livros e distribuo para as crianças e adolescentes. Assim, deposito um pouco de esperança nesses corações. Eu acredito na força do livro como um instrumento de regeneração, de salvação, de potência. Devolvo ao Mundo tudo de bom que recebi na minha Vida!”, nos conta.

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a contadora de histórias

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Maria Cristina Arantes Pedagoga, poeta, cantora, musicista, artista popular. Possui um CD gravado com treze poemas autorais, participou de doze antologias, publica seus poemas em revistas físicas e digitais. Posta poemas em áudios e vídeos nas redes sociais. Apresenta-se em Saraus Literários e Musicais. Distribui seus poemas no seu “Varal de Poemas”. Membro da Academia de Letras, cadeira 12, patronesse Florbela Espanca.

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Um dia recebi uma missão. Fui fazer aula de violão, disse ao professor que não tinha pressa no aprendizado, porque não tinha o objetivo de ser artista. Durante uma aula o meu namorado perguntou ao professor se eu estava indo bem. A resposta foi que se eu me esforçasse poderia estar melhor, fiquei nervosa e respondi, não tenho objetivo. Nisso abriu uma visão que tomou conta da sala de aula. Nela estou no centro de senhorinhas de cabecinhas brancas, tocando violão. Disse a eles agora tenho objetivo; missão de levar música para os idosos. Entendi qual era o meu propósito naquele momento, uma forma de realização como pessoa. Passei a vida trabalhando com crianças e agora uma mudança completa: aceitei de bom grado e decidi me preparar para esse trabalho voluntário, pesquisando músicas antigas, exercitando a voz, comprando materiais: instrumentos de percussão, microfones, pedestais, caixa de som. Passou-se um ano sem que eu percebesse e nada de começar as apresentações, até que um dia, uma caixinha de música em forma de violino, que ganhei de presente, começou a tocar sozinha todos os dias. Não ouvi quem ouviu foi a moça que trabalhava em casa, a Cenira, só ouvi no final de semana, achei estranho, mas entendi o recado. Com dificuldade comecei junto com a minha amiga Chris, que aceitou meu

convite para integrar o grupo, que ora se formava, com convidados também. Feliz por ter uma parceira na missão que era minha, formamos o Grupo Recordando. Assim como Deus me atendeu enviando-a para me ajudar, depois de três anos me enviou mais uma abençoada, a Ana Lúcia. Faz oito anos que vou com o Grupo Recordando, em Casas de Repouso cantar e alegrá-los. Uma das maneiras que encontrei de estimular os idosos a participar, foi de cantar sucessos que fizeram parte da juventude deles. Divulgo meu trabalho voluntário para estimular outras pessoas a fazê-lo, de acordo com a suas habilidades. Voluntariar só veio enriquecer a minha alma e meu coração.

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missão

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Minha

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Hidromassagem

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Tépido vapor envolve o Box Displicente dispo roupas suadas e empoeiradas e as atiro no cesto. Com elas também me dispo dos problemas, do cansaço. É tão suave o aroma que se eleva da água aromada pelos óleos e pelos sais perfumados que não resisto ao convite e mergulho com prazer. A espuma forma bolhas diáfanas e coloridas que eu sopro levemente. E sorrio qual criança, a criança que já fui que ainda reside em mim e às vezes, por vergonha, impeço de aflorar. Lentamente, minhas mãos mornas e ensaboadas vão percorrendo meu corpo e os fortes jatos de água me transmitem energia. Sinto-me então renovada sem medos, sem incertezas. Somente a cabeça emerge da espuma relaxante. Leve, eu semi-adormeço e os pensamentos libertos não encontrando barreiras, voejam qual borboletas, livres e sem limites. Perdida a noção de tempo e a temperatura da água, um leve tremor no corpo indica o fim do relax. Aqui estou eu, sozinha. Eu e somente eu. Bendigo estes instantes de solidão benfazeja e reencontro comigo. O morno encontro da água com as marcas de meu corpo, sinais do tempo passado e muitos anos vividos, eu com ninguém divido. São meus e de mais ninguém.

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Nina de Lima

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P ercepção - V ida

e o

T empo

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nas lembranças do passado despreza o presente enxerga-se no futuro Mesmo que duvidoso Pede um tempo, O Tempo não atende, e segue... não para pra pensar Ou ater-se às dificuldades, ou necessidade de cada ser Não distingue. Sinto a grandeza do Tempo É um Senhor! A certeza de um todo que se reverbera Ele passa no ritmo de cada um Viver é desafiador As consequências dos nossos atos resultam, mais cedo ou mais tarde.

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No meu silêncio incito a percepção dos sentidos Ao fechar os olhos observo o tempo passando a vida se movimentando, e se equilibrando na corda bamba da rabeira do tempo. A indesejada presença de um certo cansaço sobrecarrega o ar como um andaço causando um mal estar e um certo descompasso. A vida segue assim carregando o tal peso emanando sinais do tal sentimento que o corpo carrega seja, de alegrias ou tristezas dores e incertezas. Muitas vezes se perde

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S andra R egina A lves

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O A bacateiro C onto

de

R egina B rito

Regina Brito: Professora de Literatura (formação: UFRJ, UERJ, FAHUPE e Universidad Menéndez Pelayo – Espanha), contista, escritora, poeta e atriz. Natural da cidade do Rio de Janeiro.

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COMO? Do nada nascera um pé de abacate! Logo EU que gosto da fruta!!! Quem teria plantado tamanha formosura ou jogado caroço naquele local? MISTÉRIOOOO!!!! Veio a dúvida. Retiro a árvore ou doo para o parque ou planto na rua? O coração falou mais alto: VIBREI, OREI, AGRADECI... Não tive a coragem de desfazer do lindo pezinho, porque parecia relutar para viver e me alegrar. E conseguiu! Conseguiu sim!!! Parecia um menina de quinze anos, uma DEBUTANTE!!! Suas folhas brilhavam de felicidade! Quanta euforia!!! Pensei, pensei e tomei uma sábia decisão, a melhor que poderia tomar...

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Cultivo no meu jardim muitas plantas: onze-horas coloridas, lavanda, alecrim, manjericão, rosa, tomate, pipoca, samambaia, mate, carambola, babosa, comigo-ninguém-pode, espadas de São Jorge, Santa Bárbara, lírio, orquídea e jasmim. Que miscelânea! Mas canteiro que se preze tem que resguardar o dono da casa. Caminhando, em uma manhã de sol, vi o manacá e me lembrei de uma canção: “LÁ DETRÁS DAQUELE MORRO / TEM UM PÉ DE MANACÁ. / NÓS VAMO CASÁ / E VAMO PRA LÁ. / CÊ QUER?” (Bis). Queria alegrá-lo, pois estava tristinho, deu certo. Renasceu! Nesse troca-troca confidencial com a flora avistei algo diferente no meio das folhagens, fui verificar: SURPRESAAAAA!!! Juro, mas juro, de verdade, que não havia nenhuma planta ali: FALO SÉRIO! É PARA REFLETIR MESMO!

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C oletivo C ultural B orboletas V oadoras

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“Cheguei! Não foi fácil, mas consegui subir na estante. Agora é só ficar ao lado desses livros e esperar, de olhos bem abertos! Ouvi dizer que os humanos mais sensíveis e inteligentes vêm neste lugar em busca de conhecimento. E quando um deles levantar seus olhos em minha direção eu abro bem os meus, para que ele os leia! Tenho tanta coisa a dizer! São tantos os irmãos que represento: Uns, presos e torturados em laboratórios; outros, injus-

N ewton N azareth tamente confinados no esgoto das cidades. Muitos acham que nós, ratos, gostamos de imundície! Mas tudo vai mudar quando os humanos bons e justos me conhecerem nesta biblioteca. A porta se abriu. Passos. Meu coração pula! Uma mulher uniformizada; tem uma identificação, deve ser alguém importante. Meus olhos brilham. Ela me viu também! Gritou!? E por que ela está pegando aquela vassoura?

Newton Nazareth Arquiteto de formação e músico profissional, o artista carioca enfrenta o confinamento armado com a pena do escritor e, enquanto prepara o lançamento de seu livro, nos conta esta história de inspiração veg.

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de

B iblioteca

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C onto

de

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R ato

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C ontar

histórias

Ricardo Hidemi Baba

Nunca foi tão necessário contar histórias! Panteras negras, professor Xavier, mulher maravilha nos encantam!

Precisamos viajar, sonhar, nos identificar Crer que vencer os males é possível A vida é feita de fantasia, por isso histórias, precisamos contar Pois precisamos acreditar no impossível!

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São heróis que nos representam!

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suas glórias!

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Inspirado em um guerreiro, Zumbizinho mostra

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Por desvio de percurso acadêmico me especializei em educação infantil, na época com um mercado pequeno e de difícil acesso pela grande concorrência e poucas ofertas. Era necessário ter um diferencial para conseguir uma vaga, uma sala, numa das poucas escolas infantis que ofereciam guarda aos pequenos, cujos pais precisavam manter seus empregos fora do lar e buscavam nas escolas infantis um compartilhar seguro, eficiente e parceiro no desenvolvimento de seus pequenos. Iniciei, depois de longa e detalhada entrevista, minhas atividades como professora nas turmas menores da escola, na época chamada de ciclo maternal, a turminha de 02 a 03 anos. Época de revisitar, fazer adaptações necessárias às teorias educacionais estudas e colocá-las em prática; o que elas não deixaram registrado é como, no dia a dia, aplicá-las num grupo tão heterogêneo. Desafio lançado comecei a planejar ações que pudessem auxiliar os pequenos no desenvolvimento de suas capacidades afetiva- cognitiva-motora. A contação de história permeou vários momentos da inter-relação com esse o grupo. Foi a importante ferramenta que facilitou alcançar os meus objetivos com as crianças, assim como uma forte agente propulsora dos meus aprendizados na prática do dia a dia em sala de aula. Experiência exigente, a cada história

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pra lá e pra cá Glafira Menezes C orti

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Veredas

um novo arsenal de objetos com materiais diferentes, novas cores, formas, texturas e odores. Ficava animada quando conseguia prender a atenção da gurizada por alguns instantes; feito facilitado pela música. Comecei a aprender violão e a construir “coisas barulhentas” com material reciclado, apetrechos que denominei de instrumentos musicais palhacêuticos. Uma coisa puxa a outra; fiz um curso de teatro e descobri que a potencialidade do afeto contagia e renova as energias de quem leva e de quem recebe. Tornei-me a palhaça Pitanga. Voltei para a sala de aula, como aprendiz das diversas possibilidades de fazer um trabalho voluntário com crianças, idosos e em hospitais. Retomei as pesquisas teóricas, a literatura sobre o riso e suas nuances emocionais. Como toda teoria, precisava identificar-se na prática, as explicações teóricas se justificavam. Foi então que fiz a experimentação com os que me tornaram avó. A contação de histórias nesse universo sócio-afetivo-emocional dos netos tomava outro rumo; acrescido das premissas anteriores da palhaça Pitanga de como lidar com os sentimentos, atrair atenção, auxiliar no desenvolvimento emocional, duelar com as contrariedades, tratar as diferentes habilidades, a linguagem e as identidades exclusivas, ludicamente; a preocupação de como não perder os atributos de avó querençosa e facilitadora de seus protagonismos. Hoje, após caminhar pelas veredas pra lá e pra cá, me contagio e me deixo contagiar, com o afeto da alegria, em todos os meus trabalhos voluntários.

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crescimento das crianças, engrandece no conhecimento da vida delas. Há quem diga que é curativa para alguns problemas! Eu não sei, porém, não duvido! Mas, tenho certeza, que os que ouvem Contos e Fábulas desde muito cedo, serão futuros homens de bem! Creio que serão uns seres humanos bem melhores!!! Isso é só o meu pensamento e que na minha infância fez tanta falta!!!

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Sou a Lourdes Borelli, Poetisa e Contadora de Histórias. Tenho orgulho em poder participar desta edição da revista Escritores Brasileiros Contemporâneos, e poder falar de um assunto que me preenche muito! Conto Histórias nas escolas, creches, asilos, etc. Sou voluntária há quatro anos em uma creche no Centro de São Paulo, aonde vou mensalmente. Vejo o valor de contar Histórias, principalmente, nas creches de crianças na primeira idade. A satisfação das crianças, que ouvem atentamente, é imensurável! É um trabalho incansável com os pequenos, eles entram nos Contos e, no fim, calculam sozinhos a moral da história. Entendo que os Contos de Fadas e o Imaginário fazem a diferença no

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H istória

de

S abedoria

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quando o caboclo traz a destreza dos dois lados, essa parada só acontece de vez em quando. E nesse espaço de tempo pode ser utilizado para amolar a enxada. O que de mais importante pode-se observar em seu Zeca, é que ele tinha também conhecimento sobre a capação de porcos. Seja leitão ou leitoa, ele tinha aprendido essa arte quando ainda solteiro. Era tão competente nessa arte veterinária, que após castrar os leitões e leitoas para a engorda, dentro de três dias os animais já estavam muito bem. Ele, com esses conhecimentos de veterinária, era convidado de longe para esse tal serviço. E sabe quanto cobrava para fazer isso? Nenhum vintém, fazia por gosto em servir. Hoje fico matutando comigo, como pode alguém analfabeto aprender essa ciência? Por isso hoje me vem na lembrança o quanto ele era uma pessoa capaz e muito inteligente. Se sem estudo era tão competente, imagina se fosse uma pessoa estudada. Fica aqui um pouco do conhecimento sertanejo da história de Seu Zeca que sem dúvida conseguiu extrair das observações da vida, as lições do funcionamento do comportamento humano.

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Seu Zeca, assim ele se chamava, homem simples, analfabeto, porém trazia consigo a sabedoria de um mestre. Eu conheci esse senhor. Era um trabalhador rural muito humilde, como em tudo em sua vida. Cuidava de seus filhos com o suor de seu trabalho dia a dia. Pensem numa pessoa que não reclamava de nada, assim era ele. Tinha deficiência auditiva, era preciso falar bem alto para ele escutar um pouco e falava alto porque também achava que os demais eram surdos como ele. Tinha também deficiência de um olho, enxergava muito pouco. Se era noite, as dificuldades eram ainda maiores. Assim era seu Zeca. No trabalho na lavoura era um ás, animado, divertido, assoviava, cantarolava, era como se o mundo todo estivesse rindo para ele. Certa vez, precisando de camaradas para trabalhar consigo, na capinagem na roça, ele perguntava: - Você sabe manejar a enxada dos dois lados? Se o caboclo não sabia já era motivo para não contratá-lo. Ele dizia que trabalhar de um lado só, a produtividade era escassa. Veja quanta sabedoria. Trabalhador de um lado só, quando cansa, fica lerdo parecendo mula empacada, segundo ele. Porém

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Edgar Louzi

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O Teatro de Papel Japonês

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(NHK). Posteriormente, vieram os mangás. O contador (gaito kamishibaiya) monta o teatrinho (butai) em uma estrutura fixa, que pode ser tripé, bicicleta apoiada. Depois, bate dois pedaços de madeira (hyoshigui) chamando pessoas para ver, vender doces e passa a contar a história. Com roteiro (storyboard), histórias são contadas à medida em que são trocadas as cenas mostradas em papel até o final, em interação constante entre o contador e o público. No mundo há obras em diversos países e idiomas. Em japonês, o “Kamishibai”, de Mutsuki Arata, “Omoide Kamishibai”, de Yoshii Fumito e “The Kamishibai”, de Tadashi Sugiura, apresentam o teatro

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Ainda permanece na Cultura Japonesa, além das lendas (densetsu) e contos de fadas (hanashi banashi) e outras formas de contação de histórias, o teatro de papel (do japonês “kami”, papel; e “shibai”, teatro). Conhecido como Kamishibai, é ainda mantido no Brasil e em outros países com bastante variedade (até para os negócios, como “storyboard”). Tem origem no século XII com os monges budistas, que passavam oralmente seus ensinamentos nos rolos de papel (emakimono). No final da década de 1920 surgiram os gaito kamishibaiya e o auge foi após a Segunda Guerra Mundial até 1953, quando surgiu a primeira emissora de televisão japonesa

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Luiz Negrão

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S olidariedade F orçada

Pessoa*

Atrás de um guichê de caixa, Com montes de papeis na mesa Ao telefone ou no computador, Desafios eram superados Com simpatia, cordialidade E muita paciência. Carmen também ensinou Contabilidade, Amor, carinho e dedicação. Com sua aguerrida morte Legou a cura de quem não conheceu.

*

Homenagem à Carmen Cazuko Yamamoto Ide (1953-2010).

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em

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Generosidade

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de papel. O “Kamishibai Man”, de Allen Say, mostra em conto infantil esta forma de contação de histórias. Também em inglês, o “Miichan and the Kamishibai Man”, de Reiko Matsumoto com ilustrações de Kazumi Nichols, e o “Manga Kamishibai”, de Eric P. Nash, também seguem esta abordagem. Em alemão, o “Bauanleitung Kamishibai”, e-book de Christina Jonke, mostra como as crianças podem montar um em casa. No Brasil além de nikkeis, a educadora Marlene Szpigel, Flávia Maria Wolffowiz (a Kamishibai Obasan ou Tia do Teatro de Papel, do “Mar de Histórias”), a Cia Ópera da Mala e os escritores Fábio Sombra (“O velhinho do kamishibai, o poeta de cordel e o menino-pêssego. Um conto japonês e brasileiro”, Giramundo Editora, 2013), com o encontro do Kamishibai e das lendas japonesas com o cordel, e Ross Messias, com “Kamishibai: Lendas Japonesas”.

O ar que aspiro, puxo e ainda sinto Pode ser o que não tenho como separar E não ter mais como respirar. Isolar-se e usar bem a máscara é instinto.

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Homenagem ao artista João Acaiabe no teatro da Hans

Contação de Histórias no Teatro de Arena da Biblioteca Hans Christian Andersen


A arte de contar histórias e encantar pessoas sempre esteve presente na história da humanidade, mas é em momentos de crise, seja por uma tristeza, preocupação, ou ainda com a angústia causada pela pandemia, que o bem-estar proporcionado pelas palavras mostra a sua potência e muitos acreditam no poder curativo das histórias. Eu acredito e vivencio isso na minha vida pessoal e profissional! Não é à toa que os círculos de biblioterapia (encontros terapêuticos de leituras) têm se popularizado, assim como os clubes de leitura, podcasts literários e saraus, ainda que aconteçam no meio virtual, mas são as contações de histórias que constituem o pilar das programações culturais em bibliotecas e acontecem com freqüência também em hospitais, para além os ambientes que já estamos acostumados. De fato, há uma trama histórica e complexa por trás do ideal do contador profissional e sua atuação nas bibliotecas: trata-se de um movimento histórico que envolve desde a urbanização das cidades, a migração artística de profissionais do teatro que, por falta

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Elisangela Alves S ilva

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reinvenção em tempos de pandemia

de investimentos em suas áreas principais de atuação, direcionam os estudos e a carreira para a arte de contar histórias. Por outro lado, os equipamentos culturais nos anos 1990, também sofreram o impacto da migração de público, quando muitos deixaram de copiar os conteúdos dos livros e enciclopédias para usarem alguns poucos comandos e terem pesquisas completas oriundas da Internet. Nesse momento, como forma de atrair o público e promover os acervos, os contadores de histórias passaram a estar cada vez mais presentes nas bibliotecas, entre outros equipamentos culturais. Também houve uma mudança na concepção de bibliotecas, antes reservada ao silêncio e estudos, havia uma visão elitizada e de público erudito, para tornarem-se grandes pólos culturais e desenvolverem conexões: entre livros e leitores, entre artistas e seu público, antes passivos, hoje protagonistas de sua história. Atualmente proliferam cursos, formações e pós graduação para ensinar técnicas de contação de histórias. Aliás, como afirma Giuliano Tierno, ator e professor da arte narrativa, a própria palavra “arte” vinculada à contação, tem sua origem na década de 1940 reforçando o “fazer bem feito” e, como a contação de histórias tem se multiplicado em diferentes esferas, Giuliano também lembra que “tudo pode, só não pode qualquer coisa”. A “historinha” tem uma potência que contrasta ao diminutivo comumente usado.

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C ontar histórias em B ibliotecas P úblicas : resistência e

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tecnologias, ao sopro do capitalismo, não param de evoluir e nos surpreender, mas o livro físico e a narração coexistem, se reinventam e ainda encantam pessoas de todas as idades. Sim, porque contar histórias não é uma arte voltada apenas ao público infantil, como muitos pensam. Embora, como alertam os estudiosos da área, é fundamental contar histórias e a leitura para crianças ainda bebês, ou até mesmo na barriga, a fim de ampliar o leque de sons, palavras e memórias. Assim, à medida que desenvolve o vocabulário, as crianças pequenas cessam as mordidas, ou seja, as palavras já mostram o seu poder desde cedo e a falta dela também. Contudo, apesar do foco de atenção ser sempre a história a ser contada, cada vez mais a oralidade é artística, há um trabalho de profissionalização performático que pode acrescentar dança, canto, música e requer muito do corpo, da voz, além de horas de estudos, ensaios e reflexões. Não é impossível, mas uma missão delicada às equipes das bibliotecas cada vez mais enxutas e com atribuições que só se multiplicam à proporção da paixão pela promoção do livro, da leitura e das diferentes expressões de artes. Já realizei contações na biblioteca, muitas vezes no improviso devido às visitas surpresas de grupos, ou para dar tempo do contador chegar como uma espécie de “aquecimento” nas visitas monitoradas. Em casa, com

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Como bibliotecária e por ter a felicidade de trabalhar na Biblioteca Pública Hans Christian Andersen (temática em contos de fadas), na zona leste de São Paulo, que oferece, por meio da Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas e da área de Programas e Projetos, há mais de uma década, o curso para formação básica para contadores de histórias (nos últimos 3 anos também a formação avançada) planejada com muito carinho, bem como oficinas com estudiosos apaixonados pelos contos que nos contam, é comum confundirem ou automaticamente receber o rótulo de contadora de histórias. De fato, como afirmam os professores da área, somos todos contadores de histórias e um bom contador de histórias é, antes de tudo, um bom ouvinte! Porém, mesmo aqueles que são contadores natos, afirmam que sempre é possível aperfeiçoar, aprender mais e ampliar repertórios. Além disso, a cada momento a história, ainda que seja a mesma, reverbera de modo diferente no público e em quem conta. Na verdade, tenho profunda admiração pela arte narrativa, pela entrega e dedicação que vejo em quem conta histórias por ser, sobretudo, um ato de resistência já que dispomos de diversas formas de divulgação dos livros, causos e contos populares, desde os disquinhos dos anos 1980, grupos de whatsapp, aos canais de YouTube. As

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de acesso ao livro digital, uma delicada questão, tal qual a fragilidade da cadeia de livros em nosso país. As “lives” deram vida às programações culturais das bibliotecas e, assim, entre outras ações, as contações de histórias estiveram presentes nos equipamentos culturais numa difícil concorrência com tantas atividades acontecendo simultaneamente nas redes sociais. A interação do público, antes observada pelos artistas pelo olhar, gestos espontâneos e, por fim, abraços ou pedidos de fotos, agora acontece por comentários e a inserção de imagens sem saber ao certo se quem assiste é a população que frequentava a biblioteca fisicamente ou um admirador distante, como já houve programação com pessoas da Espanha, Irlanda ou de outros lugares do país nas lives das bibliotecas que acompanho. Assim, embora haja muitos bibliotecários que são excelentes mediadores de leitura e contadores de histórias, somos ou desejamos ser, sobretudo, a ponte entre a comunidade, os acervos de livros impressos e os livros vivos que todos somos. Aproveito para registrar um agradecimento às equipes com quem trabalho e a todos que me antecederam nesta jornada, na qual sou só um pontinho em meio a uma potente constelação, sendo impossível não destacar o nome de Alice Bandini por todo o seu trabalho em prol da arte de contar histórias e que se aposentou

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dois filhos pequenos, as histórias são alimentos e afetos diários pela leitura e pela oralidade de “cor” (de coração, em latim). Apesar do cansaço ao final do dia, a energia trocada é muito significativa. No ambiente de trabalho, prefiro ainda mediar os encontros entre profissionais que ganham a vida e se dedicam a este ofício e grupos ansiosos pela escuta, no qual me incluo. Para muitos, as histórias alimentam a alma e também a mesa, literalmente. Na biblioteca pública em que atuo, já recebemos contadores de histórias que, sozinhos, encantaram um auditório com mais de 150 crianças e adultos. Algo que foge à ideia da narração intimista, do olho no olho, que hoje, até por conta da pandemia, as redes sociais mudam aflitivamente tal perspectiva para o olho na tela, individualmente, mas se por um lado estamos em distanciamento social, não estamos isolados, já que a tela permite múltiplos encontros, alguns que, pelo deslocamento, seriam impossíveis de acontecer no meio presencial. Por conta da pandemia, subitamente, a vida passou a ser online! Com as bibliotecas não foi diferente, o atendimento às pesquisas agora acontece principalmente no meio virtual e por telefone, pois só algumas bibliotecas retornaram presencialmente e sem acesso do público às estantes com acervos (saiba mais em www.bibliotecas.sp.gov.br). Proliferam os pedidos

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É bibliotecária, mestre em Ciência da Informação pela ECA/USP. É Coordenadora da Biblioteca Pública Hans Christian Andersen (temática em contos de fadas), São Paulo/SP, e desde fevereiro/2020 trabalha também como bibliotecária na Biblioteca Pública Paulo Duarte (temática em cultura afro-brasileira), São Paulo/ SP. Foi Supervisora de Atendimento da Biblioteca Mário de Andrade, onde também foi Supervisora de Acervo até abril de 2014. Trabalhou no CEDOC da Fundação Abrinq e em diferentes instituições na área de documentação. Também foi bolsista do Programa IFLA/OCLC em 2007 e do 76. IFLA World Library and Information Congress em 2010.

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Elis, Elisangela Alves Silva

▼ Curso Avançado de Contação de Histórias

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do Sistema Municipal de Bibliotecas, mas continua atuante para as histórias e pelas histórias. Para saber mais sobre os cursos e oficinas gratuitas oferecidas pelas Bibliotecas Públicas da Coordenadoria do Sistema Municipal de São Paulo acesse: http://www.bibliotecas.sp.gov. br/ Para saber mais sobre o histórico e reflexões sobre a formação de contadores de histórias, veja a publicação: SÃO PAULO. Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas. Teias de experiências: reflexões sobre a formação de contadores de histórias. Ana Luísa de Mattos Masset Lacombe (Org). São Paulo: CSMB, 2013. 83 p. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/Teia%20 de%20experiencias_1382928283.pdf Acesso em: 26, Nov. 2020.

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Elis no auditório da Biblioteca Hans Chirstian Andersen, no Tatuapé

1a. aula virtual do Curso de Contação de Histórias Avançado


Acompanhamos recentemente a ampla divulgação nas redes sociais que um Juiz teria reconhecido o Estupro Culposo, proferindo sentença absolutória. As cenas postadas nas redes sociais mostraram fragmentos da audiência, onde a vítima fora humilhada pelo advogado de defesa, sua intimidade exposta, e, sem qualquer intervenção do Juiz ou demais membros presentes, ficando em total desamparo ou acolhimento. As cenas causaram clamor e irresignação de toda a sociedade. O caso envolveu André Camargo Aranha e Mariana Borges Ferreira. A vítima afirmou que foi estuprada pelo réu em momento de privação de seus sentidos, pois não podia oferecer resistência ao ato de seu agressor

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Dra. Gisele Luccas

em razão de embriaguez ou substância diversa, que lhe tiraram totalmente as condições físicas e psicológicas de defesa, estando vulnerável. O réu foi preso e denunciado nos termos do artigo 127 A parágrafo 1°, última parte do Código Penal que dispõe sobre o “ Estupro de Vulnerável “. Vulnerável é toda pessoa que não possui discernimento necessário para a prática de um ato e, em razão dessa falta de discernimento encontra-se impedida de oferecer resistência. Importante frisar que essa “ vulnerabilidade”, essa incapacidade de resistir seja de conhecimento do agressor. Por esse motivo é um crime punido somente na forma DOLOSA, quando o agente atua com sua vontade livre e consciente para consumar o crime e sabendo que sua vítima está incapaz de resistir à ação criminosa. Portanto é um Crime Doloso, não admitindo a forma culposa. Se ausente o dolo do agente, sua vontade direcionada ao crime, impõe-se a absolvição.

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“E stupro C ulposo”??

o tal

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E

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É Advogada, Especialista em Direito Médico, Pós Graduanda em Perícia Criminal e Ciências Forenses, com Capacitação em Psicopatologia Forense, Mediadora Judicial e Privada cadastrada no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Palestrante, Colunista, Mestranda em Psicologia Criminal - Especialização em Psicologia Forense (Universidad Europeia Del Atlântico- Espanha).

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Dra. Gisele Luccas

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audiência. O desrespeito foi exacerbado tanto por quem se excedeu, quanto por quem se calou. A verdade será sempre verdade. A mentira será sempre mentira, mas o RESPEITO deve prevalecer sempre, quer seja na verdade ou na mentira!!!

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No caso em tela, todos os exames periciais realizados apresentaram resultado “ negativo”! Tanto o laudo que detecta consumo de bebida alcoólica, quanto o laudo toxicológico, pesquisadas todas as substâncias entorpecentes cadastradas. As testemunhas ouvidas no curso da instrução criminal, tanto da defesa quanto da acusação, apresentaram versões controvertidas, deixando a versão da vítima isolada das demais provas produzidas. O Magistrado ao proferir sua sentença de 51 laudas, entendeu que André Camargo Aranha só poderia ser condenado por “Estupro de Vulnerável” se comprovado que Mariana não tinha discernimento para a prática do ato sexual em razão de sua vulnerabilidade, ou seja, estaria impossibilitada de oferecer resistência. A controvérsia entre as versões e o resultado negativo dos laudos periciais foram os pilares de sustentação da decisão. No entender do Julgador não foi possível auferir quem faltou com a verdade. Segundo o Princípio do Livre Convencimento e da Livre Apreciação das Provas, o Juiz entendeu que inexistia provas suficientes para ensejar um decreto condenatório e absolveu o réu com fundamento no artigo 386 III do Código de Processo Penal. Como já esclarecido, o crime em questão só é punido quando provado o dolo. Como o “Estupro de Vulnerável” não admite punição na forma culposa, se ausente a prova de dolo, absolve-se! Logo, não existe ESTUPRO CULPOSO!!! Em que pese a decisão absolutória, absolutamente NADA justifica a maneira como a vítima foi tratada em

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