Revista UBC #24

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12/UBC : CAPA

ELES SÃO OS CRIADORES DE UMA PARTE FUNDAMENTAL, INDISSOCIÁVEL, DA NOSSA MÚSICA. UM PAPO COM GRANDES LETRISTAS, QUE FALAM SOBRE SEU PROCESSO CRIATIVO E A IMPORTÂNCIA VITAL DOS DIREITOS AUTORAIS

Por Bruno Calixto, do Rio *Ilustrações de Reinaldo Lee O ato criador de Carlos Rennó sempre começa literalmente no escuro - cenário perfeito para a buscada “iluminação”. Paulo Sérgio Valle vive um (ou muitos) personagens e coloca a melodia do parceiro na cabeça, remoendo-a até a letra tomar forma. Para Fausto Nilo, é imprescindível observar o que o criador dos acordes quer antes de “ajudar de modo sonoramente harmonizado” com palavras e frases. Uma imagem, uma cena, uma pessoa bonita disparam a torrente criativa de Antonio Cicero. Thiago Amud mistura um pouco de cada jeito anterior e forja, “da maneira mais conturbada possível”, seu método de compor. O hábito de se sentar quase que diariamente em frente a uma folha de papel em branco – ou, vá lá, a um computador – levou esses artistas a comporem palavras para serem cantadas. Eles são alguns entre os incontáveis letristas que fazem da nossa canção uma das mais ricas do planeta. E conhecem, como ninguém, a importância dos direitos autorais, principalmente porque, em sua maioria, não sobem ao palco e, portanto, só contam com a própria obra como ganha-pão. “Hoje em dia, como a vendagem de discos caiu muito, compor é a principal fonte de renda dos letristas que não cantam”, resume Cicero, mais de cem composições no currículo, a maior

parte gravada pela irmã, Marina Lima. “É principalmente o letrista quem vive dos direitos autorais, sem dúvida a defesa deles nos é muito cara.” Carlos Rennó crê que a consciência dessa dependência levou os letristas a um patamar diferente de envolvimento com a questão ao longo dos anos. Se, antes, muitos criadores deliberadamente evitavam pensar em “questões mundanas”, como a arrecadação, hoje eles participam ativamente do fortalecimento do sistema. “O empenho dos letristas tem sido importante na defesa dos direitos autorais”, analisa. “Dada a natureza do nosso trabalho, e a dependência de tais direitos, somos possivelmente os artistas em melhor condição de avaliar a qualidade da arrecadação e da distribuição. E posso atestar que ela evoluiu demais, graças também ao trabalho de associações como a UBC.” Fausto Nilo descreve o nível de entrega necessário para que um autor que não atua também como intérprete viva da própria arte: “É, de fato, muito árduo o trabalho de construir um repertório que venha a produzir uma renda tal que possibilite um nível de vida compatível com as exigências de controle e tranquilidade para trabalhar com essa especialidade”. Nada que os assuste ou demova. Dotados de talento natural e beneficiados pela variedade quase ilimitada da música brasileira, esses autores se atiram no abismo de diferentes formas.


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