18/UBC : PELO PAÍS
NA MÚSICA SERTANEJA DE MATO GROSSO DO SUL, NINGUÉM 'PASSA RÉGUA' COM RAÍZES PARAGUAIAS, ARGENTINAS, GAÚCHAS, PAULISTAS, MINEIRAS (E DE TANTOS OUTROS CANTOS), A PRODUÇÃO DO ESTADO É DIFÍCIL DE LIMITAR – ASSIM COMO O PANTANAL DO GRANDE POETA DA TERRA, MANOEL DE BARROS
1990-2000
Délio e Delinha, Amambai e Amambay, Zé Corrêa e Beth e Betinha
Grupos Tradição, Mensageiros D'Oeste, Alma Serrana, Canto da Terra, Zingaro e Dona Helena Meirelles
Maciel Corrêa e família Espíndola (Geraldo, Tetê, Alzira, Celito, Jerry)
1970-80 Dona Helena Meirelles
Por Rogério Alexandre Zanetti, de Campo Grande
Beth e Betinha
Manoel de Barros, nascido em Cuiabá, criado em Corumbá (MS) e morto nos últimos dias de 2014 em Campo Grande, era um inventor de palavras certeiro e poético. Ao falar sobre a impossibilidade de pôr limites (à beleza, à extensão, à variedade natural) da região de alagadiços onde passou sua vida, definiu: “no Pantanal ninguém pode passar régua”. Da mesma forma, a música produzida num dos mais jovens estados da Federação é tão variada, plural, multirreferenciada, que fronteira alguma pode abarcar. A ocupação do antigo Sul de Mato Grosso começou a acontecer, efetivamente, somente após o término da Guerra do Paraguai, no final do século 19. A emancipação político-administrativa é ainda mais recente, veio em 1979. Hoje, o território enorme de apenas 2 milhões e meio de pessoas faz brotar artistas a cada novo dia, que, independentemente do ritmo e do estilo que escolhem, orgulham-se de suas raízes culturais. A interessante mistura de ritmos e culturas que “contaminou” o sertanejo local teve seu epicentro numa jovem Campo Grande, já na primeira metade do século XX. Paraguaios, libaneses, japoneses, portugueses se misturaram a mineiros, mato-grossenses, paulistas, paranaenses, esquentando um caldeirão efervescente. Nos anos 1950, Campo Grande já era celeiro de música caipira com sotaques variados. Rodrigo Teixeira, músico e pesquisador, diz que “a posição geográfica de Mato Grosso do Sul tornou inevitável que a herança fronteiriça, particularmente do Paraguai e da Argentina, já estivesse delineada nas canções de nossos primeiros compositores. Essa arte interiorana pulsou forte na capital do estado, refletindo-se nas rádios locais e, logo, tomando contato com a produção dos grandes centros, como São Paulo.” Dessa primeira geração se destacam Délio e Delinha, então conhecidos como “casal onça de Mato Grosso”, Amambai
e Amambay, Zé Corrêa e Beth e Betinha. O magistral Zé Corrêa tocava seu acordeão de forma tal que dava ao ouvinte a impressão de que havia mais de um instrumentista na execução. A geração a partir da segunda metade dos anos 1950 moldou a moderna música sertaneja sul-mato-grossense, que, ao longo dos anos – e até hoje -, não parou de incorporar influências. A produção local só crescia quando, nos anos 1970, surgiram no mapa nomes como Maciel Corrêa. Aqui já se pode falar num aumento da influência da música gaúcha, resultado direto do crescimento do fluxo migratório. “Naquela época, tudo que gravávamos vendia. As gravadoras disputavam os artistas de Campo Grande, e tínhamos as portas das rádios sempre abertas. Acredito que isso acontecia porque conseguíamos juntar composições originais, que falavam de amor e da nossa terra. Foi a época de ouro de nossa música”, lembra com nostalgia a cantora Delinha.
Foto: Ru Mendes
1950-60