MERCADO : UBC/19
DOS DJS DAS RÁDIOS ÀS PLAYLISTS DOS SITES DE STREAMING, UM UNIVERSO DE CURADORES ENTENDA COMO MECANISMOS DA ERA DIGITAL SE SOMARAM AOS MÉTODOS TRADICIONAIS NA HORA DE AJUDAR O PÚBLICO A DESCOBRIR NOVAS MÚSICAS
Por Michele Miranda, de São Paulo Da era dos disc-jockeys das rádios, todo-poderosos personagens que por décadas ditaram quase sozinhos o que nós ouvíamos, às listas mais populares de sites de streaming como Spotify e Deezer, passando por canais de música das TVs por assinatura e rádios on-line, muita coisa mudou na maneira como uma música se populariza. Exceto, felizmente, o amor das pessoas pela música. Novos curadores se somaram ao jogo e ajudam a catapultar – ou sepultar – um novo trabalho em questão de semanas, dias, até horas... A cadeia é acelerada, conta com a fundamental participação das redes sociais, mas continua obedecendo à lógica da divulgação certeira. Especialistas e representantes do mercado explicam as chaves para o sucesso nesse mundo em que as velhas rádios podem até ter aprendido a dividir espaço, mas, não se engane: estão longe de um papel secundário. “Hoje não tem mais a ditadura de um só veículo. É uma multiplicidade de influências: blogs, jornais, sites, YouTube, TV”, resume Yasmin Muller, curadora musical do Deezer. “Ninguém, sozinho, é dono do que vai virar hit. Juntos, ajudamos a encontrar.” Se o pop internacional ainda domina a programação das rádios e os sets dos DJs em grande parte das festas no Brasil, as plataformas de streaming por aqui querem mesmo é revelar novos nomes da música nacional. Segundo Bruno Montagner, curador Spotify, a playlist (lugar de divulgação privilegiado hoje em dia) mais popular da ferramenta é justamente uma
homenagem a um gênero muito amado no país e se chama “Esquenta sertanejo”, com mais de 710 mil seguidores. “A música internacional consegue se popularizar sozinha. Quando surgimos no Brasil, somente 14% do conteúdo eram de bandas brasileiras. Um ano depois, mais que dobrou para 30%. Queremos chegar aos 50%, priorizando novos artistas. Muitas bandas nos agradecem por conseguir fechar mais shows depois de entrar em alguma playlist”, conta Montagner, que dá dicas para usuários que querem ter seus minutos de fama. “Tem artista que lança disco e fica esperando o sucesso cair do céu. É preciso fazer um bom trabalho nas redes sociais. Também garimpamos muito, vamos a shows, observamos o line-up de festivais independentes”, enumera. Tanto no Spotify como no Deezer, sertanejo brilha na frente, com a medalha de ouro (representada no momento pela dupla Jorge & Mateus), o pop internacional vem em segundo lugar, e funk e pagode surgem logo atrás disputando o terceiro posto acorde a acorde. “O sertanejo é um mercado atípico, de tão bem-sucedido que é, e com fãs tão fieis e antenados. O funk, quando chega ao noticiário, já está velho, já tem outro hit bombando na comunidade. Esses gêneros têm vida própria, além de qualquer curadoria”, analisa Yasmin. “Com a internet, existe mais espaço para artistas. Tem menos artista gigante no Brasil, como era nos anos 80, mas tem muita gente vivendo de música. E isso tende a melhorar com a profissionalização da indústria.”