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Rui Lourido, Coordenador Cultural da UCCLA
locais e regionais, e requalifica‑se a malha industrial nas periferias. Os planos não são inocentes instrumentos de gestão urbana, mas pretendem atingir vários objetivos estratégicos fundamentais para o Estado. Um dos mais importantes é consolidar a sua legitimidade local e internacional ao afirmar‑se como estado moderno que controla a população autóctone. Simultaneamente, pretendem melhorar o escoamento das matérias-primas coloniais para abastecimento local e através dos portos para a metrópole, onde foram fundamentais para o desenvolvimento do tecido industrial. Mas também preparam condições para atrair emigrantes da metrópole. Por outro lado, tentam cativar a elite e a população local, e criam melhores condições para o controle civil e militar do território. Falar de Urbanismo não é só, nem principalmente, falar de casas ou espaços, mas fundamentalmente, das pessoas, da sociedade e das relações que estabelecem entre si as diferentes classes sociais, numa hierarquização do espaço e da respetiva ocupação do solo. Refletir sobre as cidades e o tipo de urbanismo que marginaliza, para as periferias mais empobrecidas, os grupos sociais e as minorias étnicas mais desfavorecidas, leva à necessidade de uma maior intervenção cívica pela requalificação dos espaços, bem como a uma melhor implantação de serviços públicos dignos, impedindo que o espaço urbano seja um fator de exclusão de grupos sociais, étnicos, ou religiosos. As sociedades modernas e inclusivas necessitam de ter como preocupação central a sustentabilidade. A intervenção no espaço urbano deverá, assim, pautar -se pela melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes, no respeito pelo meio ambiente e na consciencialização da gravidade das alterações climáticas. A UCCLA organiza dois tipos de exposições coletivas: as temáticas, que promovem o conjunto dos países de Língua Portuguesa (como a atual e as de artes plásticas contemporâneas desses países, no caso das anteriores: Conexões Afro‑Ibero‑Americanas, com curadoria de Carlos Cabral Nunes, em 2017 e Frente, Verso e Reverso, com curadoria de Adelaide Ginga (curadora do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, em 2018); as exposições organizadas por país, seguindo uma ordem alfabética, que iniciámos com Angola - Artes Mirabilis (com curadoria de Lino Damião, no primeiro trimestre de 2018), seguindo -se o Brasil com a exposição Do que permanece, Arte contemporânea Brasil – Portugal; e a última sobre a China -Macau – O Fio invisível, arte contemporânea Portugal‑Macau/China (curadora Carolina Quintela e coordenação curatorial de Adelaide Ginga, em 2019), que assinalou a feliz coincidência de, em 2019, se comemorarem os 40 anos do estabelecimento das relações oficiais entre Portugal e a República Popular da China. Acresce que, para além dos cinco séculos de vivência da língua portuguesa em Macau, ela foi uma das cidades fundadoras da UCCLA e ocupa a Presidência da UCCLA no presente biénio 2019 -2021.
De sublinhar que, para além do elevado nível artístico dos artistas representados, algumas destas exposições contribuíram igualmente para o aprofundamento do relacionamento entre alguns dos países representados, tendo algumas delas sido inauguradas pelo próprio Presidente da República de Portugal e por alguns ministros de governos lusófonos. Todas as exposições referidas tiveram um assinalável impacto entre comunidades de Língua Portuguesa dos países representados presentes em Portugal. Regressaremos dando continuidade às exposições sobre cada um dos Países de Língua Portuguesa ainda não apresentados, sendo a próxima em 2021, uma exposição sobre a arte contemporânea de Cabo Verde. O programa de exposições da UCCLA é ambicioso no seu duplo objetivo de tentar contribuir para, por um lado, o melhor conhecimento das culturas e do património material e imaterial dos países representados e, por outro lado, para o aprofundar do diálogo intercultural que divulgue novos artistas do presente que já projetam tendências inovadoras para o futuro. Sabemos que sem conhecimento do passado e respeito pela memória será difícil alicerçar um futuro harmonioso e sustentável. Assim, pretendemos envolver não só as comunidades de língua portuguesa residentes em Portugal, como as embaixadas dos países que as representam, e as instituições da sociedade civil como museus e galerias de arte. Neste contexto, estamos a planear visitas guiadas à exposição Urbanismos de Influência Portuguesa que possam incentivar diferentes públicos, nomeadamente os jovens estudantes dos vários níveis de ensino, que promovam o diálogo intergeracional e multicultural. Organizaremos igualmente palestras sobre as relações e as influências dos modelos urbanísticos portugueses e europeus nas diferentes geografias ultramarinas. Com o objetivo de cultivar a Memória e de contribuir para aprofundar a compreensão histórica da evolução das cidades. Nestes tempos de pandemia de Covid19, que afeta profundamente todas as comunidades humanas, em especial as urbanas e desfavorecidas, desejamos que esta exposição contribua para a compreensão dos diferentes graus de evolução e de desenvolvimento das urbes e como reflexão tendente a perspetivar novas planificações que possam adequar‑se às atuais necessidades das populações que as habitam, bem como a problematizar o futuro e a sustentabilidade das cidades. Por fim, uma palavra de profundo agradecimento a todos os parceiros (Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, Arquivo Histórico Militar, Arquivo Histórico Ultramarino, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Oriente/Museu do Oriente, Instituto Superior Técnico, Museu Militar, Sociedade de Geografia de Lisboa), aos Curadores e Arquitetos Professores Doutores Maria Manuela da Fonte e Sérgio Padrão Fernandes, e ainda, na pessoa do Arquiteto Carlos Brito, agradeço a todos os colegas que colaboraram na produção desta exposição e seu catálogo. Rui Lourido Coordenador Cultural da UCCLA
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Panorâmica de Macau (FO/0927) Criador: William Anderson (atribuído a) Data de criação: final do século XVIII Material: Óleo s/tela | Medida com moldura: 60,4 x 99,7 cm Créditos fotográficos: Fundação Oriente, Museu do Oriente/Henrique Ruas
Maquete da Igreja de Santana de Taulaulim Madeira e acrílico pintado Escala 1:50 99 x 142 x 225 cm Projeto e direcção cientifica: Vasco Pinto Realização: Leonel Pinto (Atema, Lda.) Depósito do Museu Militar, Lisboa