7 minute read

LUNAR SHADOW

Next Article
NERO DIMARTE

NERO DIMARTE

Entre as trevas e a luz

«The Smokeless Fires», o segundo álbum dos alemães Lunar Shadow debate-se entre estes dois opostos e não espera encontrar resposta. Afinal a morte é o grande mistério que todos os seres vivos têm de enfrentar.

Entrevista: CSA & Eduardo Ramalhadeiro

CSA e Eduardo – Olá, Max! Esperamos que os teus maus momentos estejam ultrapassados há muito tempo e aproveitamos para vos dar os parabéns – a ti e à banda – por mais um álbum magnífico! É fantástico ver jovens como vocês a fazerem trabalho tão bom.

CSA – Mudaram de vocalista entre o lançamento do primeiro álbum e o deste. O que aconteceu? De que forma essa mudança afetou a banda? Que tipo de esforço tiveram de fazer para adaptar o teu estilo de composição à voz do Robert? [O resultado é verdadeiramente sensacional.] Max – Não quero entrar em detalhes, no que diz respeito a esse aspeto, mas tenho de dizer que havia problemas entre o Alex Vornam e o resto da banda. Por conseguinte, decidi que Lunar Shadow precisava de um novo vocalista. A mudança de vocalista é sempre complicada, sobretudo porque é difícil encontrar bons cantores. Felizmente, conseguimos trazer o Robert para a nossa banda. É amigo dos outros membros, que o conhecem da sua outra banda: Orbiter. Portanto, o Robert nunca foi um “membro novo” e todos nos habituámos uns aos outros muito rapidamente. Tivermos de aprender a trabalhar juntos no estúdio, mas correu tudo bem, apesar de o Robert nunca ter gravado linhas de voz profissionalmente e de eu não saber como é que ele gostava de trabalhar. Não mudei nada no meu estilo de composição. Perguntei ao Robert se preferia uma determinada afinação, mas ele disse que não. Portanto, eu diria que não houve realmente problemas e que é bom trabalhar com o Robert.

Eduardo – Parece-me que «The Smokeless Fires» é mais melódico que o seu antecessor. Como viveste alguns momentos difíceis entretanto, porque escolheste esta abordagem em vez de uma mais tenebrosa e pesada? Esse comentário é curioso, porque, na minha opinião, «The Smokeless Fires» é mais rápido e mais pesado que «Far From Light». Neste novo álbum notam-se mais as influências de Black Metal e até surgem alguns blastbeats. Penso que a minha música é sempre melodiosa, que a guitarra é a imagem de marca da nossa banda, logo não vejo grande diferença entre os dois. No entanto, é preciso ver que eu ouço a nossa música de uma maneira diferente da dos outros elementos da banda, porque eu sou o único compositor. Do ponto de vista lírico, penso que há mais luz neste álbum, mais esperança.

Eduardo – Parece-me óbvio que este álbum é muito pessoal e introspetivo. Esperas que as pessoas se revejam na tua música ou «The Smokeless Fires» é apenas o teu bode expiatório? À primeira vista, eu escrevo música para mim, como uma espécie de terapia. Mas isso não significa que outros não se possam rever nela. De facto, essa ideia agradame muito, porque isso também me acontece em relação a outros artistas. Nunca consigo saber ao certo o que levou um artista a escrever uma determinada canção, mas, se começo a sentir algo especial quando a ouço, faço-a minha, ligando-a às minhas experiências, ao meu passado, aos meus pensamentos.

CSA – Devemos encarar «The Smokeless Fires» como um testemunho de resiliência? De certa forma, é isso, sim. Porque eu queria saber o que nos mantém vivos e por que razões isso acontece. Não ouvimos todos os dias dizer que milhões de pessoas se suicidaram? Então, o que nos faz continuar a viver, porque persistimos nesse caminho? A vida é dura, logo tem de haver algo aí e eu decidi escrever sobre essas ideias.

CSA – Qual era o teu tema central neste álbum? A paixão. Cada uma das canções trata desse tema, de uma forma diferente. A paixão não tem sempre o mesmo aspeto, pode assumir muitas formas. “Catch Fire”, por exemplo, é muito simples, verdadeiramente primordial, fala de sexo e mais nada. Outras tratam da resiliência que temos de mostrar para enfrentarmos a luta da vida diária. Falam de perda e amor (“Roses”), do esforço para lutar e vencer (“Hawk of the Hills”) ou enfrentar os nossos demónios íntimos (“Pretend”). Duas das canções (“Conajohara No More” e “Red Nails”) foram influenciadas por histórias de Robert E. Howard, e uma outra (“Laurelindórenan”) pelos escritos de Tolkien.

Eduardo – Entre estes dois álbuns, interrogas-te sobre a tua própria mortalidade. De que forma isso se reflete na música e nas letras? «Far From Light» é um álbum muito sombrio e sinistro, porque o seu conceito de base é a morte. Muitas coisas mudaram na minha vida depois desse álbum e essas mudanças fazem-se ouvir em «The Smokeless Fires». Este álbum tem uma abordagem muito mais humanista, mostrando que os problemas podem ser resolvidos, os inimigos vencidos, as montanhas abaladas. Essa é a grande diferença: a vontade de lutar, de perseverar.

Eduardo – No fim, conseguiste obter respostas para as tuas perguntas? Perguntas sobre a mortalidade ficam sempre sem resposta. A morte é certa, a vida não. Contudo, há coisas pelas quais podes lutar, foi isso que eu aprendi.,

Eduardo – A produção e – por que não o dizer – toda a atmosfera e ambiente do álbum vão contra as tendências modernas: compressão excessiva e música demasiado produzida. O que pensas destas tendências atuais? Para «Far From Light», escolhi uma produção muito minimalista,

Penso que a minha música é sempre melodiosa, que a guitarra é a imagem de marca da nossa banda, logo não vejo grande diferença entre os dois [álbuns].

porque queria opor-me de forma visível ao tipo de som que se ouvia por todo o lado nessa altura. Com «The Smokeless Fires», foi diferente: esse modelo não ia funcionar bem neste álbum. Queria algo mais pesado, mais quente e natural. Muitos álbuns atuais de Heavy Metal são impossíveis de ouvir para mim: aquelas guitarras com ganho excessivo e “milhares” de compressores, e um bombo de bateria que soa a ClickClackClickClack”. Fico louco ao fim de 20 segundos.

Eduardo – Quem produziu «The Smokeless Fires»? O álbum foi produzido pelo Max Herrmann, um amigo meu daqui de Leipzig. É engenheiro de som e começou agora mesmo a promover o seu pequeno estúdio. Era a escolha ideal, visto ser um indivíduo de bom gosto e ouvir com atenção as minhas ideias. Passámos os dois muito tempo à procura do equipamento certo, dos microfones adequados, tentámos muitas combinações antes de ficarmos satisfeitos e começarmos a gravar.

CSA – Quem toca piano de uma forma tão bela em algumas das canções? [Adoro as partes em que esse instrumento e a guitarra entram numa espécie de dueto.] Zehner, o nosso baterista, é construtor de pianos e tivemos a sorte de poder gravar as partes de piano no seu local de trabalho, num piano de concerto que custa 65.000 euros. Infelizmente, nenhum de nós sabe tocar piano como deve ser, pelo que tivemos de recorrer ao Daniel Delgado, um colega do Zehner.

CSA – A capa do álbum não é surpreendente e é surpreendente ao mesmo tempo. - Consegues compreender a minha reação a ela? É importante dize que eu não queria uma capa de Heavy Metal “clássica”. Nada de dragões, de espadas, de crânios, de motas. Queria algo que impedisse os ouvintes de adivinhar a que género pertencia a música só por olhar para o artwork. Sabia que ia acabar com algo fora do habitual, mas isso não me parece mal. Eu vejo Lunar Shadow como uma banda de Heavy Metal clássica e, portanto, queria um artwork que desafiasse essa conceção. - O fundo vermelho tem algum significado especial ou é só para sublinhar o aspeto sombrio das figuras humanas? Não, não tem nenhum significado especial, mas era importante para mim que a imagem tivesse o mínimo de cor possível. Apenas algumas figuras negras e cinzentas e um fogo vermelho brilhante: a paixão que circunda o par de amantes.

CSA – Onde vão tocar para promover este belo álbum, tão triste e ao mesmo tempo tão cheio de luz? Vamos fazer dois concertos em 2020 e penso que será tudo. Não me sinto com vontade de continuar a tocar ao vivo. Na realidade, para mim Lunar Shadow não é uma banda que tenha essa vocação.

Facebook Youtube

This article is from: