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CRITICAS VERSUS

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CRIMSON MOON

CRIMSON MOON

ALCEST

«Spiritual Instinct»

(Nuclear Blast)

Com uma carreira construída a estilhaçar as fronteiras do black metal, com o shoegaze a ter aqui a função similar à de

um solvente, os Alcest comprovam em «Spiritual Instinct» por que razão são das bandas mais excitantes do selo Nuclear

Blast. Neige, uma vez mais, revela todo o seu talento enquanto compositor em músicas como “Sapphire”, “Protection”

ou “Spiritual instinct”, mas em lugar de oferecer destaque a uma ou outra faixa, há que dizer que este é claramente

um álbum a valer pelo seu todo e que solicita ser escutado de fio a pavio. E já que falamos de Neige, deve valorizar-se igualmente o seu labor

enquanto letrista: “Le miroir”, por exemplo, quiçá na sua parte instrumental a música menos conseguida e interessante deste «Spiritual Instinct»,

é compensada pela sua parte lírica, estando ao nível das melhores letras que se podem encontrar na carreira dos Alcest, fazendo valer a pena

desenferrujar o francês. Não há por aí muitas bandas como esta; mesmo partindo da evidência que a mistura de black metal com post-metal,

shoegaze e afins seja cada vez mais uma trend, os Alcest parecem nitidamente estar na linha da frente dessa tendência (que eles próprios

ajudaram a criar), e «Spiritual Instinct» é mais um atestado dessa liderança, sendo ao mesmo tempo um dos melhores lançamentos do último

trimestre de 2019. Nota final para a prestação dos Alcest no mais recente Under The Doom, onde se comprovou que os novos temas também

funcionam bem ao vivo.

[8.5/10] HELDER MENDES

ANACRUSIS «Manic Impressions» & «Screams and Whispers»

(Metal Blade Records)

Ainda obscuros para muitos metaleiros, os Anacrusis figuram nos anais do Metal como um dos mais curiosos

(e subestimados) fenómenos de criatividade a marcar o início da década de 90. A reedição dos dois últimos

discos da banda norte-americana é pois uma óptima oportunidade para (re)descobrir música que ainda hoje

soa a aventureira, apesar de somar mais de 15 anos de idade. Com origem na cidade de St. Louis, em 1986, o

colectivo encabeçado pelo talentoso Kenn Nardi viria rapidamente a distinguir-se pela sonoridade thrash muito

própria, exibida no seu estado mais apurado no terceiro registo, «Manic Impressions», publicado em 1991. Este

é um disco excêntrico, com um tipo de composição deliberadamente apostada em evitar os clichés do género,

que acabou por resultar, segundo confissão posterior do próprio Nardi, em material desafiante, nada fácil de

reproduzir ao vivo. Com «Manic…» ficam para a posteridade pérolas intemporais do thrash mais técnicista como

“Paint a picture”, “Something real”, “What you became”, ou mesmo a genial cover de “I love the world”, original

dos New Model Army, todas marcadas por um peculiar registo vocal que vai desde o suave e melódico até aos

bramidos mais agudos. Mas o verdadeiro golpe de génio dos Anacrusis viria a acontecer em 1993, na forma do

álbum «Screams and Whispers». Aqui a banda afasta-se dos cânones do thrash, em favor de tendências mais

progressivas e de uma sonoridade rica em teclados. Os riffs não perdem pitada do peso, mas o enfoque agora

é menos na velocidade e mais na melodia e nos fraseados de guitarra. O dramatismo e as atmosferas hipnóticas

protagonizadas pelos teclados e pelas orquestrações são a grande novidade deste disco, tendo surgido, note-se, numa altura em que estes

elementos eram ainda relativamente inexplorados nas vertentes mais duras do Metal. Este quarto álbum é claramente o trabalho mais criativo da

formação, não havendo uma única faixa que se possa considerar inferior. Como se sabe, é também o canto de cisne da banda de Ken Nardi (o

grupo viria a dissolver-se logo a seguir), o que nos deixa uma dúvida no ar: terá sido «Screams...» o clímax criativo absoluto dos Anacrusis? Se

não foi, então isso significa que a perda para o Metal causada pelo seu desaparecimento, foi ainda maior do que imaginávamos.

MANIC IMPRESSIONS [8.5/10], SCREAMS AND WHISPERS [9.5/10] ERNESTO MARTINS

«Obliterate the Weak»

(Listenable Records)

Formados em 2016 os Berzerker Legion não são meros desconhecidos. Aliás, isso está bem longe da realidade dado que

neste supergrupo temos a presença de músicos cujo talento foi já ouvido em bandas como Therion, Asphyx ou Hypocrisy.

Por isso, falta de qualidade não há. «Obliterate the Weak» é um disco que, mesmo sendo Death Metal, se escuta de forma

leviana. Com uma produção que tem tanto de moderno como old school, a banda traz um conjunto de temas que se

escutam bem e onde há alguns momentos interessantes, sem que para isso tentem reinventar o que seja. É certo que poderemos sempre comparar

com o passado, mas será que vale mesmo a pena? O que este disco tem de melhor é a honestidade com que foi feito e a certeza de que a banda

não pretende nada mais do que mostrar que os seus elementos são mais do que mostram nos seus projectos principais. Um disco ameno que é

feito, sobretudo, para fans do género.

[6.5/10] NUNO LOPES

BLIND GUARDIAN

«Twilight Orchestra: Legacy of the Dark Lands»

(Nuclear Blast)

Isto até pode parecer estranho dito desta forma mas, este novo disco dos veteranos Blind Guardian merece um Oscar.

«Twilight Orchestra...» é, efetivamente, um disco que nos permite ter um autêntico filme de fantasia. Para qualquer artista

um dos melhores elogios que se pode dar é o da sua arte mexer com as emoções e este é o caso deste audiofilme que

os Blind Guardian apresentam em 24 temas que nos tranportam para um épico de proporções gigantestas onde há

espaço para o confronto, para o amor, para a vingança, para o ódio. Tudo servido numa narrativa envolvente e que se vai soltando num enredo que pode ser o que se quiser, onde se quiser. É certo que estes guardiões não necessitam de provar nada a ninguém mas, caramba, tinham de fazer

um disco tão completo, tão grandioso que mexe com tudo o que tenha poros! O melhor de tudo é que a banda se desligou dos amplificadores e

consegue, ao fim de tantos anos de carreira, trazer algo de novo (e surpreendente) que apanha seguidores (e não só!) de surpresa! Genial!

[10/10] NUNO LOPES

BLOOD INCANTATION

«Hidden History of the Human Race»

(Century Media)

Formados em 2011, cedo os Blood Incantation se impuseram como uma força a ter em conta no cenário Death Metal,

facto que não passou alheio à influente Century Media que rapidamente aos adicionou ao seu roster. Ora pois bem, este

conjunto de quatro faixas é qualquer coisa de abismal, seja pela tormenta sonora, seja pela qualidade e versatilidade das

mesmas. Os Blood Incantation conseguem, de forma genial, combinar os elementos do oldschool Death Metal com um

qualquer espectro progressivo que assenta que nem uma luva na vertente scy fi que a banda incute aos seus temas e onde prospera o que vai

alem da realidade mística. Se existem duvidas sobre a possibilidade do Metal ter tanto de extremo como de progressivo, estes norte americanos

provam essa mesma possibilidade. Este é um segredo que deve ser desvendado.

[9/10] NUNO LOPES

BÖLZER

«Lese Majesty»

(Lightning & Sons)

Não é fácil explicar o fascínio visceral, quase mórbido, que a música dos Bölzer tem o dom de exercer. Fundindo

elementos reconheciveis de black e death metal num cocktail singular com algo de progressivo, a banda suíça tem vindo

a desenvolver, desde 2008, um estilo de extremidade muito próprio, que proporciona, acima de tudo, uma experiência

imersiva, orgânica e aterradoramente espiritual. E o que é mais incrível é que toda a sonoridade é produzida, quase só

(mesmo ao vivo), por dois instrumentos: a guitarra de dez cordas de KzR (Okoi Therry Jones) e a atroadora bateria de HzR (Fabian Wyrsch), dois

músicos com uma visão comum a funcionar na mais perfeita das simbioses. O resultado é uma amálgama sónica devastadora de composições

torcidas e longamente elaboradas, que passam de turbilhões furiosos de blast-beats a saturados e repetitivos riffs doomy acompanhados de

percussões ritualistas e mesmo passagens ambientais. Pelo meio a voz de KzR vai revelando um inferno interior, por entre rugidos ásperos de

tom ameaçador, ou através dum registo melódico, limpo, que por vezes soa como uma invocação shamanica. Com quatro temas e meia hora de

duração, «Lese Majesty» retém muitos elementos já presentes em «Hero», o único álbum que a formação de Zurique publicou até agora (em 2016),

ao mesmo tempo que faz a ponte com algum do material mais antigo registado nos EPs «Aura» e «Soma». Falta-lhe um pouco da veia inventiva e

do dinamismo encontrado em «Hero», mas o essencial do sangue Bölzer continua lá com todo o fervor. Um disco só para quem procura desafios

mais arriscados do que a média.

[7.5/10] ERNESTO MARTINS

BURDEN OF LIFE «The Makeshift Conqueror»

(Noizegate Records)

Desde «In Cycles» que vou seguindo a carreira dos Burden of Life. E foi com grande curiosidade que recebi «The

Makeshift Conqueror» na caixa do correio. «In Cycles» é um bom álbum de Death Metal melódico ali a meio caminho

entre os In Flames e os Dark Tranquility. Portanto, quando foi altura de carregar no play a surpresa instalou-se. Grande

evolução, principalmente no que diz respeito à variedade e versatilidade da banda. A parte melódica manteve-se mas

o Death Metal tornou-se mais progressivo, harmonias instrumentais, mais vozes limpas – já que em «In Cycles» as vocalizações são sempre

agressivas – intercalados com secções acústicas. De repente as músicas mais directas transformaram-se em temas mais trabalhados e mais

longos – a música mais curta tem quatro minutos - uma balada ao piano – mas as restantes sempre acima dos cinco minutos, terminando com

«The Makeshift Conqueror», o tema mais longo de onze minutos. Face a isto, a estrutura dos temas é diferente, mais complexa e progressiva, com

secções acústicas e semi-acústicas, sem nunca nos fazer “perder o norte” e mantendo sempre a fluidez dos temas. Só para citar um exemplo

interessante, de toda esta variedade e versatilidade, destaco o interlúdio de samba no tema “Anthem Of The Unbeloved”. Samba, perguntam vocês.

Sim, uns largos segundos de samba perfeitamente enquadrados no tema. Esta variedade de diferentes tempos e “texturas” musicais é feito de uma

forma absurdamente coerente e tendo em conta os dois álbuns anteriores, «The Makeshift Conqueror» é uma tremenda evolução musical.

[8.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

EARTH DRIVE

«Helix Nebula»

(Raging Planet)

Helix Nebula é um título que consegue descrever bem o som que nos envolve, quando ouvimos este novo trabalho dos

portugueses Earth Drive. Porquê? Pode ser em parte respondido pela faixa de abertura do álbum: “Cosmic eye”, onde os

sons me fazem cair num filme de Terrence Malick numa daquelas cenas onde o espaço está lentamente em movimento,

sentindo-se a força inerte nos movimentos lentos que demoram milhões de anos. Este é o meu primeiro contacto com os

Earth Drive, por isso apenas poderei falar deste trabalho, sem comparação com trabalhos passados. Se bem que sabemos este ser o seu segundo

longa-duração. Trata-se de uma sonoridade que me conquistou logo nas primeiras notas, as guitarras são duras, o baixo é fortíssimo, os ritmos são

pilares a erguerem-se e dar azo a um templo que alberga a voz feminina que navega por entre os momentos instrumentais de forma intoxicante,

romântica, venenosa até. O trabalho tem alguns temas completamente instrumentais, de mais curta duração (exceptuando “Amazon”, que com os

sons de slides de guitarra acústica dá um toque “rústico” que encaixa incrivelmente no conjunto) – acentuam a característica atmosférica deste

trabalho, dá-lhe um toque mais pessoal, a meu ver, que nos faz aproximar mais deste ambiente criado por um conjunto de faixas que constituem

este «Helix Nebula». Um trabalho que soa muito profissional, muito cuidado, o que é de admirar num mundo cada vez mais apologista do fast.

[9/10] ADRIANO GODINHO

EMPTY V

«Mus-Pri»

(Raging Planet)

Enquanto o Homem procura alternativas a este planeta tóxico nos confins da Galáxia, não se apercebe que já fomos

encontrados por três seres de outro Mundo que nos trazem o vírus porco e imundo de um Planeta Amarelo. Mero sci-fy, ou

talvez nem tanto. O que é certo é que este trio faz da música instrumental a sua força, e esse será talvez o maior elogio,

dado que, por estas terras, não abundam este tipo de sonoridades. Aliando a tudo isso uma imagem e uma estética

cuidada e pensada, os Empty V apresentam neste «Mus-Pri» algo de refrescante a uma cena que tantas vezes carece de imaginação. É certo que

este não é um disco para todos os que pisam a Terra, mas os que se encontrarem com ele vão ficar surpreendidos com este vírus para o qual ainda

não foi encontrada uma cura, mas que interessa isso. Este é um verdadeiro exemplo de que quem cala nem sempre consente. Produzido por Wilson

Silve (More Than a Thousand), «Mus-Pri» é um disco que vale por um todo e revela três seres alienígenas na pele de homens. Um bom disco vindo

de uma galáxia perdida no espaço temporal.

[7.5/10] NUNO LOPES

END OF MANKIND

«Faciem Diaboli»

(Malleus Records)

Combinando letras em inglês e em francês, embora estas em menor quantidade, os gauleses End of Mankind são mais

uma banda apostada em associar o “pós” ao black metal, sendo «Faciem Diaboli» um longa-duração de estreia bem

conseguido. “Vision” ainda abre o disco de forma mais ou menos convencional, remetendo-nos para a segunda vaga do

black metal (aquele feito à maneira escandinava), mas é a partir da segunda faixa “Howlings and lurid figures” que as

coisas começam a tomar um rumo mais interessante. Como curiosidade, faça-se notar que esta mesma “Howlings and lurid figures” termina com

um sample de “Fado Menor”, um dos fados mais reconhecíveis, em particular na interpretação de Amália Rodrigues. À terceira faixa, “Drowning in

menos interessante: a reclusão feminina, mormente por motivos religiosos, é o tema escolhido pelos End of Mankind para este trabalho, e pecará

certamente por defeito dizer que se trata de uma temática muito pouco abordada no âmbito das sonoridades mais metalizadas. Finalize-se

afirmando que End of Mankind é um bom nome para uma banda que circula em torno do black metal, convidando a despertar a misantropia que há

em cada um de nós, acostumados a viver neste mundo “humano, demasiado humano”.

[8/10] HELDER MENDES

EXHUMED

«Horror»

(Relapse Records)

Os apreciadores de bom death/gore/grind já sabem que os Exhumed dispensam apresentações, pois são dos maiores

nomes dentro desse nicho pútrido e sangrento que os britânicos Carcass ajudaram a criar e infectar. Esses mesmos

apreciadores saberão, igualmente, que pouco valerá a pena recomendar o mais recente «Horror»: a carreira dos Exhumed

já é em si mesma recomendação suficiente e garantia da qualidade daquilo que aqui se pode escutar. Em 26 minutos, os

Exhumed mostram como se faz; afinal já andam nestas coisas há mais de duas décadas e isso nota-se na maturidade (se é que se pode falar em

maturidade quando temos letras como “Re-animated cannibals/Rise again to eat their fill/Flesh to rend and blood to spill/Return to life to fucking kill”

em “Ravenous Cadavers”) que jorra destas canções, se assim lhes podemos chamar, como sangue de uma veia acabadinha de cortar. Ou seja, as

letras, a estética, os riffs… tudo o que se encontra em «Horror» é exactamente aquilo que se espera – nem mais, nem menos – quando se coloca

um CD de death/grind para rodar na aparelhagem. E os Exhumed voltam a cumprir com a mesma eficácia de uma picadora de carne no talho – e

claro que tinha de haver referências a picar carne (em “Dead Meat”, por exemplo) num disco como «Horror»: “Corpse-grinding madness/Makes a

meal out of you/Canned, sold, and devoured/Your remains now pet food”. Bom disco e garantia de tempo bem passado (no pun intended).

[8/10] HELDER MENDES

FEN

«The Dead Light»

(Prophecy Productions)

Black metal atmosférico com influências post-rock e shoegaze, do tipo que remete para autoridades reconhecidas na

matéria como os extintos Agalloch, Alcest ou mesmo Lantlôs, já não é propriamente um conceito novo. Por isso, este

novo álbum dos ingleses Fen pode até não surpreender pela inovação, mas garanto-vos que é, com toda a certeza,

um trabalho muito acima da média no enquadramento do sub-género referido. Estamos a falar de vastas composições,

plenas de musicalidade, que fluem graciosamente através dum espectro variado de intensidades e moods, desde os momentos mais atmosféricos

e nostálgicos até aos segmentos mais desenfreados e frios, sempre com base em melodias de qualidade quase transcendente. “Witness”, o

sonhador tema de abertura, é o exemplo acabado de como o genial se obtém da maior das simplicidades. “The dead light (Part 1)” acusa as

influências ainda presentes de Enslaved, enquanto que a (Part 2) inclui alguns dos melhores riffs em tremolo. “Nebula” e “Exsanguination” são os

números mais brilhantes. No primeiro a voz de The Watcher remete por momentos para o universo dos italianos Novembre; no segundo, os tempos

e as sonoridades têm algo de Opethiano. “Rendered in Onyx” inclui coros contagiosos e alterna magistralmente entre partes prog e o melhor black

melódico. Depois de um disco exigente como foi «Winter»(2017), os Fen regressam aqui mais focados e dinâmicos, com um trabalho mais apelativo

sem nunca ser imediatista. Uma abordagem diferente de tudo o que ouvimos do trio Londrino até agora, e talvez o registo do seu melhor momento.

[8.5/10] ERNESTO MARTINS

FOOL’S GHOST

«Dark Woven Light»

(Prosthetic Records)

Ouvi bastantes vezes este álbum durante os meus períodos mais ocupados. Agora com o COVID-19 ainda mais tempo

tenho para poder estar a trabalhar com a música a tocar. Devo dizer que várias vezes a música despertou-me a atenção e

acabo por ou perder a concentração ou ser invadido por um sentimento de bem-estar. Os sons deste álbum são bastante

acessíveis e dóceis, tornando-se num álbum muito fácil de ouvir. A voz apaziguadora da vocalista Amber Thieneman torna

este trabalho muito fácil de apreciar, com o acompanhamento instrumental de Nick Thieneman os sons criados são transcendentais, levam-nos de

viagem para longe e perto ao mesmo tempo. A banda é constituída por apenas estes dois elementos e a música é, diria, minimalista e intimista. São

dez temas de reflexão, todos com um certo feeling de perda, de sofrimento. Ouvir este trabalho repõe em causa os nossos pensamentos, faz-nos

pensar sobre as nossas coisas e a nossa mente viajar, muito facilmente. Muito bem-vindo neste momento em que não podemos sair de casa. Esta

dupla americana, do Kentucky, liberta aqui uma bomba, não das que explodem mas das que nos afectam lá dentro. Os instrumentos usados são

muito simples e intimistas, órgãos, pianos, guitarras limpas,... tudo para realçar a voz cristalina e forte de Amber. Trabalho recomendado para fãs de

música calma e inspiradora. Não para os fracos de coração.

[8/10] ADRIANO GODINHO

«Coldest of Cold»

(Indie Recordings)

Se só agora tomaram contacto com este trio australiano, não se preocupem apesar de terem perdido um grande disco

de estreia que foi «Reclaim the Darkness». Mas aqui o que importa é este segundo registo, novamente com selo Indie

Recordings, e que surge dois anos depois do disco de estreia. «Coldest of Cold» é um disco intenso e que surpreende

pela qualidade de um trio que, apesar de australiano, deve muito mais a bandas como Immortal ou Satyricon. Talvez mais

melódico que o seu antecessor, «Coldest of Cold» prima pela estética apresentada e, ao mesmo tempo, pela diversidade. Há por aqui momentos

como “King” ou a faixa titulo que prometem muito headbanging, sendo igualmente impossível resistir à forma quente como a banda apresenta os

seus temas gélidos. Os King conseguem, assim, trazer ao de cima tudo o que o Black Metal tem de bom e com isso fazem com que, ao segundo

disco, se comecem a tornar um caso sério no género. Este disco é um passo em frente e a prova que falta para se ter a certeza que este trio

nasceu, efectivamente, no hemisfério errado. Façamos vénia a estes reis.

[8/10] NUNO LOPES

LORD MANTIS

«Universal Death Church»

(Profound Lore Records)

Depois dos tumultos internos ocorridos em 2014 e do suicídio de um elemento fundador que precipitou, em 2016, a

desintegração da banda, poucos esperavam que os Lord Mantis se voltassem a reerguer. Mas os infortúnios sofridos em

grupo têm o poder de inspirar união, tendo sido talvez isso que levou Charlie Fell (voz/baixo) e Andrew Markuszewski

(guit.) a enterrarem o machado de guerra e reactivarem a formação (que inclui o guitarrista Ken Sorceron dos Abigail

Williams) que gravou o álbum «Death Mask»(2014). O novo registo que resultou desse reagrupamento – este «Universal Death Church» – conta

com o novo baterista Bryce Butler (Contrarian, ex-The Faceless), que veio ocupar o lugar do malogrado Bill Bumgardner, e não foge certamente ao

cocktail único, sujo e depravado, de black metal caustico e post-doom que tem sido a imagem de marca do colectivo de Chicago. Mas traz também

algo de novo: desta vez a misantropia lírica cuspida pela voz torturada de Fell é estendida a texturas sónicas mais aditivas e a temas um pouco

mais fáceis de digerir. Isto é evidente a seguir à bujarda de abertura “Santa Murte”, assim que o disco entra no mid-paced triturador de “God’s

animal” que conta com uma magnífica prestação do guitarrista Dallas Thomas dos Pelican. “Qliphotic alpha” é outro caso: começa maquinal mas

depois muda, inesperadamente, para um registo melódico quasi prog. “Consciousness.exe” também fica no ouvido à primeira por causa do riff de

contornos industriais, o que contrasta com o épico “Hole” pontuado pelas linhas sombrias de saxofone de Bruce Lamont dos Yakuza, tema que

fecha da melhor maneira esta inesperada, mas muito bem-vinda lição em niilismo dos Lord Mantis.

[8/10] ERNESTO MARTINS

NIGHTWISH («HUMAN. :||: NATURE.»)

(Nuclear Blast)

Os Nightwish deverão ser daquelas bandas cujos lançamentos são sempre escalpelizados até ao mais ínfimo pormenor.

«HUMAN. :||: NATURE.» não será excepção e por alguns comentários entretanto lidos não irá ser consensual. Portanto, já devem desconfiar que há mudanças… Sendo assim, como é que eu vejo a direcção tomada por Tuomas Holopainen? Eu

diria que os Nightwish deixaram de focar-se tanto no individual, isto é, deixaram de fazer as músicas mais direccionadas

para a “actriz” principal - Floor Jansen – e em vez disso, começaram a surgir os outros “actores”. A prova disso são os temas “Harvest” cantado

por Troy e “Endlessness” por Marko. As orquestrações estão cada mais elaboradas e integradas nos temas e se havia dúvidas relativamente à

genialidade musical de Tuomas, «HUMAN. :||: NATURE.» é um perfeito exemplo. Ainda temos o contributo cada vez maior dos Uilleann Pipes, transformando a música cada vez mais numa música universal e cultural, ou se quiserem, numa mistura fantástica de Rock, Metal, Folk e

neoclássico. Vejam estes Nightwish como um filme… um filme que conta uma história, sem protagonistas de primeira ou segunda, onde a mais

valia e o trunfo é “o todo”. Não esperava que os Nightwish fizessem sempre “Oceanborn’s” ou “Once’s”, lucidamente temos de pensar que seria

uma “senhora” seca. No entanto, dado o experimentalismo custou-me um pouco a entrar neste “argumento”, perceber que Floor, sendo a excelente

vocalista que é, “perdeu” um pouco de protagonismo mas que isto não poderia ser de outra forma. Mas a cada audição que passa cada vez

mais tudo parece fazer sentido. Os mais puritanos, aqueles que procuram os ritmos desenfreados, mais potentes, mais cavalgantes poderão ficar

ligeiramente decepcionados mas «HUMAN. :||: NATURE.» faz todo o sentido. Esqueci-me… há ainda o segundo CD – mais uma vez… a genialidade de Tuomas…. um tema dividido em oito partes, totalmente orquestrado. Não sei se os Metalheads em geral irão gostar mas os fãs de Nightwish

terão aqui uma bela surpresa.

[9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

«Daemon»

(Century Media)

São discos como estes que nos fazem sentir que, de facto, as lendas existem. É claro que, por muito que façam, os

Mayhem nunca se vão desligar do passado sangrento e polémico, ainda que a banda também (por vezes) utilize isso a

seu favor, e fá-lo muito bem. Mas, por outro lado, ao longo destes 35 anos de carreira estes senhores conseguem sempre

suplantar o que já fizeram e com isso reinventam o seu som, o que permite aos seus seguidores serem surpreendidos.

«Daemon» segue isso mesmo. Este disco é um autêntico manjar Black Metal que muitas vezes deixa de o ser. Podemos mesmo dizer que

«Daemon» é uma ópera Black Metal servida por uma banda cada vez mais maléfica, atingindo o patamar de excelência em momentos dilacerantes

e sombrios. «Daemon» é um disco que remete para o clássico «De Mysteriis Dom Sathanas» na sua genialidade, podendo mesmo ser um digno

sucessor, tal a magnitude apresentada. Os Mayhem estão bem e recomendam-se, ensinando assim como se faz um enorme disco de Black Metal.

[10/10] NUNO LOPES

RUPHUS « Let Your Light Shine»

(Karisma Records)

Este é especialmente dirigido aos apaixonados pelos clássicos dos anos 70. A banda em apreço – os noruegueses

Ruphus – é nada mais que o porta-estandarte histórico do rock progressivo daquele país nórdico e está a ter toda a

discografia reeditada. Estiveram activos entre 1970 e 1981, tendo publicado um total de seis álbuns, o primeiro dos quais

«Newborn Day»(1973), rico em referências a Uriah Heep e King Crimson, e logo a seguir «Ranshart»(1974), fortemente

inspirado nos Yes. Este «Let Your Light Shine» saiu no início de 1976 e foi o primeiro disco da banda de Oslo a enveredar por um estilo de jazz rock.

Reza a lenda que foi Hakon Graf, o teclista, quem bebeu essas influências dos Moose Loose, grupo de jazz onde tocou também. Verdade ou não,

o certo é que este terceiro registo marcou um ponto de viragem definitivo para o grupo, abrindo-lhes as portas da Europa, especialmente as da

Alemanha, onde se tornariam ainda mais populares do que na sua própria terra natal. Remasterizado por Jacob Holm-Lupo (dos White Willow), «Let

Your Light Shine» traz-nos 40 minutos do melhor progressivo vintage que se possa desejar. “Sha bah wah” e “Brain boogie”, onde a vocalista Gudny

Aspaas brilha no estilo scat, são as mais jazzy. A secção rítmica arrasa a todo o momento. Os instrumentais “Corner” e “Second corner” têm ambos

aquele feeling naíve característico dos Camel e os solos de guitarra e de teclados são todos tão geniais que não ficam a dever nada aos Latimers e

aos Bardens dos anos 70. Claramente, os Ruphus nunca alcançaram a popularidade das congéneres anglo-saxónicas, mas não foi certamente por

falta de talento.

[9/10] ERNESTO MARTINS

SCHAMMASCH

«Hearts of No Light»

(Prosthetic Records)

Já não ouvia Black Metal vanguardista com esta classe deste os tempos áureos dos Secrets of the Moon. A banda em

causa, os Schammasch (que impressionou no Vagos Metal Fest 2018), já tinha dado mostras de grande potencial neste

nicho estético, em 2016, através do mastodôntico triplo CD «Triangle», mas, mesmo assim, acaba agora por surpreender

com este quarto longa duração, tal é o salto qualitativo conseguido. «Hearts of No Light» adiciona mais atmosfera e

musicalidade, sem nada comprometer a ambiência ritualista e a sonoridade imponente que conhecemos da banda suíça. “Ego sum omega”,

“Qadmon‘s heir” e “Katabasis” são os temas que se desenvolvem segundo parâmetros mais próximos do que ouvimos em «Triangle», embora

com mais dinâmica e um trabalho de guitarras incomparavelmente mais inspirado. As faixas restantes já incluem elementos mais diversos e até se

aventuram por paletas estilísticas inéditas. Casos flagrantes são o vagamente gótico e experimental “Paradigm of beauty” e o delirante “I burn within

you”, que se destaca pela sofisticada malha percussiva e pela performance vocal esquizofrénica do convidado Aldrahn (Thorns, ex-Dødheimsgard).

Os instrumentais “Winds that pierce the silence” e “A bridge ablaze”, onde o piano, executado pela pianista clássica Lillian Liu, é o elemento

central, cabem também nesta última categoria, sendo essenciais no processo de construção da aura de carvão que atravessa todo o disco. E até

os sinistros 15 minutos ambientais de “Innermost, lowermost abyss” funcionam bem como terminus deste que é o melhor momento, até agora, dos

Schammasch.

[9.5/10] ERNESTO MARTINS

SPITEFUEL

«Flame to the Night»

(MDD Records)

Depois da surpreendente saída de Stefan Zörner os germânicos não perderam tempo encontraram em Philip Stahl um

digno sucessor de Zörner. É claro que nunca é fácil quando se altera um membro como o vocalista mas, neste caso, a

resposta do quinteto revela-se tremendamente eficaz, mostrando que a banda manteve inalterada a sua génese mas, ao

aqui uma maior diversidade de harmonias e, talvez, os riffs mais inspirados da dupla Eurich/Pfluger. «Flame to the Night» mostra é que este conjunto

alemão sabe bem o que quer e não se deixa atemorizar pelas adversidades. Ao terceiro disco os Spitefuel revelam-se.

[8/10] NUNO LOPES

SEPULTURA «Quadra»

(Nuclear Blast)

Enquanto muitos continuam (e persistem!) o debate Cavalera vs Sepultura vs Cavalera, que surge a cada lançamento

de qualquer coisa vinda das partes envolvidas, e que, a bem ver, também é alimentada pelos mesmos (pelo menos por

uma das partes, não é Glória?!), há que olhar para o que são os Sepultura actualmente e tentar comparar com o passado glorioso de que tantos falam. É uma tarefa que só aos mais acéfalos podem almejar, por isso vou escrever sobre este

«Quadra» e deixar isso para quem parou no tempo. «Quadra» é um disco que traz uns Sepultura revigorados e ambiciosos, sem esquecer a sua

identidade construída a ferro e fogo. Para qualquer apreciador da banda, este será um disco que rodará e rodará e rodará, e onde são por demais

os momentos em que nos sentimos amedrontados por Derrick Green ou pela guitarra de Andreas. Até mesmo a prestação de Eloy Casagrande

nos faz pensar que, talvez, Igor Cavalera até estivesse, de facto a mais. Aqui há Sepultura para todos os gostos, num disco que encarna todas

as faces da banda (sim, há tribalismo, sim à Punk, sim à Thrash) e que traz novos ingredientes e um experimentalismo digno dos predestinados.

«Quadra» é uma grande «pomada» e é já um dos discos do ano. Estamos a falar de uma banda que passa das palavras aos actos, uma banda

que não se esconde (nem vive) do passado ou em função dele. Este é um disco para novos e velhos mas, também para todos os que continuam,

teimosamente, a olhar para os Sepultura de há 20 ou 30 anos, como se eles não tivessem mudado. Estamos no séc. XXI e os Sepultura também.

[10/10] NUNO LOPES

STRIGOI

«Abandon All Faith»

(Nuclear Blast)

Finados os Vallenfyre, Gregor Mackintosh volta à carga com outro projecto paralelo, tão ou mais old school do que o

anterior. Death metal é o que nos propõem estes Strigoi em «Abandon All Faith», chutando aqui e ali à baliza do crust

(“Seven Crowns”, “Plague Nation”, etc.) – o que não é de estranhar quando no baixo temos Chris Casket, ex-Extreme

Noise Terror –, outras vezes passando a bola ao doom (“Carved Into The Skin” e “Abandon All Faith” podiam pertencer

à discografia dos Paradise Lost). Sendo guitarrista, vocalista, compositor e, aqui, também produtor (função que também já havia desempenhado

em «The Fragile King», o álbum de estreia dos Vallenfyre), é óbvio que os Strigoi são a resposta a um apelo interior de natureza mais agressiva do

que aquela veiculada pelo colectivo a que Greg mais deve a sua fama e, assim sendo, podem muito bem ser entendidos mais como continuação

dos Vallenfyre do que dos Paradise Lost, pesem as já referidas “Carved Into The Skin” e a faixa-título, que encerra o álbum em alta apresentando,

paradoxalmente, os seus momentos mais “down” e depressivos. A questão que se coloca, então, é de natureza comparativa: são os Strigoi pelo

menos tão bons quanto os Vallenfyre?! Pondo de lado a injustiça que é comparar um disco recém-lançado com uma discografia completa (sim,

só 3 álbuns e 1 EP, mas e daí?!), para já os Strigoi estão uns furinhos abaixo, mas potencial não falta e são sem dúvida um projecto a seguir, em

particular pelos admiradores do talento do senhor Gregor Mackintosh.

[7.5/10] HELDER MENDES

TERMINUS

«A Single Point of Light»

(Cruz del Sur Music)

Primeiro disco desta dupla oriunda da Irlanda do Norte para a independente Cruz del Sur Music. Sendo, na sua essência,

uma banda de estúdio, estando inclusivamente em período sabático no que diz respeito aos palcos, David Gillespie

e James Beattie dispõem assim de todo o tempo em estúdio para fazer de cada lançamento o melhor possível. Neste

segundo LP a banda apresenta um conceito em que ciência e humanidade se fundem numa história (quase) romântica

com guitarras que devem tudo ao Heavy Metal tradicional e cujas melodias nos remetem para a Folk mais próxima do que estamos habituados a

ouvir daquela região do globo. Em suma, este é um registo interessante do ponto de vista visual e, em parte pelo «síndroma» da imortalidade num

filme (sempre) com olhos no futuro. No sentido conceptual e instrumental este é um disco interessante. Quanto ao género não traz nada de novo.

[7/10] NUNO LOPES

«Stare Into Death And Be Still»

(Debemur Morti Productions)

As bandas apostadas em fazer death metal técnico e ultra complexo caiem por vezes no erro de exagerar e produzir

discos impenetráveis e quase impossíveis de digerir. Foi o que aconteceu com os Ulcerate no álbum de 2011,

«The Destroyers of All». De lá para cá a banda neozelandesa não só aprendeu a disciplinar-se como cresceu muito

artisticamente, apresentando neste sexto registo de originais uma interpretação muito própria de post-death emocional

que desafia toda a ortodoxia do género. A música mantém o cunho desafiante a que o colectivo sempre nos habituou e as passagens densas

e esmagadoras continuam a ser intervaladas por segmentos vagarosos e desolados. As composições servem-se muito de atmosferas negras

e claustrofóbicas e da dissonância omnipresente no black metal de última geração de bandas como Blut Aus Nord. Aqui há, no entanto, uma

exploração inédita da melodia – uma melodia atípica e muito subtil que emerge dos riffs, com um feeling que se inclina por vezes para a melancolia

do doom. A par dos riffs cativantes e de ocasionais padrões rítmicos recorrentes, este é um elemento que torna a audição particularmente cativante.

Outro aspecto apelativo é a exibição alucinante do baterista Jamie Saint Merat, só comparável a um verdadeiro festival de fogo de artifício em

termos de poder, colorido, textura e brilho – uma performance de cortar a respiração. Muito longe de ser um álbum de temas memoráveis e fáceis

de ouvir, «Stare Into Death And Be Still» é, no entanto, um trabalho com um poder de atracção quase transcendente – tenho-o na minha playlist há

semanas!

[8/10] ERNESTO MARTINS

TESTAMENT «Titans Of Creation»

(Nuclear Blast)

Titans of creation, ou traduzindo, Titãs da Criação. Nunca um título de um CD descreveu tão bem uma banda de Metal.

Décimo terceiro álbum destes veteranos Titãs que, mais uma vez, descarregam uma furiosa e imparável energia. Apesar

de «Titans Of Creation» representar uma clara evolução, a banda manteve-se leal às suas raízes do Thrash Metal

tradicional, com o habitual brilhantismo e ainda, adicionando novas características… digamos… mais progressivas. Dos

músicos será sacrilégio destacar quem quer que seja, pois, será esta a melhor formação dos Testament. Destacar o trabalho de DiGeorgio e da

dupla Peterson/Skolnick? Mas… Devo mesmo dizer que grande parte desta evolução se deve ao trabalho desta dupla de guitarristas… solos,

grandes solos e no fim, temos Gene Hoglan a suportar toda este técnica, peso e rapidez. Categoria! Ah… e Chuck Billy tem 57 anos… mas foda

se, que brutalidade é esta? “Night of the Witch” com a ajuda demoníaca de Peterson – e já estão mesmo a ver este tema a puxar às raízes Black

Metalianas e “Curse of Osiris” um tema assim muito ao género de “Legions of the Dead”? E o riff de “False Profect”? «Titans of Creation» vai buscar

muito, de facto, aos primórdios dos Testament mas com a sonoridade, não renovada mas moderna, coesa e brilhante em todos os aspectos

técnicos e musicais. «The Gathering», em 1999, marcou o fim de uma Era, talvez… mas só talvez… com dois álbuns menos consensuais pelo meio:

«Low» e «Demonic». «Titans of Creation» é, quanto a mim, superior aos dois antecessores; marca um novo início e como foi possível estes gajos, já

veteranos, sacarem esta bujarda de álbum?

[9/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

VREDEHAMMER

«Viperious»

(Indie Recordings)

Quem conhece minimamente os Vredehammer não ficará decerto surpreendido com a torrente trituradora de rifalhada

semp’ábrir que é, do início ao fim, este novo petardo da formação norueguesa. Os teclados que aparecem pela primeira

vez e de forma tão saliente num disco da banda (Per Valla, o líder da banda, descreve-os como “80’s horror keyboards”)

é que poderão apanhar alguns desprevenidos, mas na verdade não comprometem o essencial da sonoridade e até

funcionam bem (quase sempre) como contraponto atmosférico no seio de toda a extremidade. Em termos de estilo, «Viperious» não é tão

focado no death metal que o multi-instrumentista Valla explorou em «Violator», o álbum anterior, apostando desta vez numa mescla black/death

que remete vagamente para «Vinteroffer» (o disco de estreia que chegou a ser nomeado para um Grammy norueguês em 2014), embora com

referências distintas. “Winds of dysphoria”, por exemplo, denuncia trejeitos inequívocos de inspiração Immortal (bebidos da origem, talvez, durante

o período em que Valla fez parte do line-up ao vivo de Abbath), ao passo que “From a spark to a withering flame” parece ter sido criada segundo

os pergaminhos dos Satyricon. Pelo meio há passagens de natureza bastante mecânica, quase industrial, que podem soar algo repetitivas. Mas o

que melhor caracteriza este terceiro álbum é a forma como as construções brutais e hiper-rápidas saídas da pena de Per Valla soam muitas vezes

cativantes, ao ponto de tornar fácil a audição dum disco sónicamente monstruoso como este. A produção do mago Jacob Hansen também ajuda.

[7/10] ERNESTO MARTINS

CURTAS

ABYSMAL DAWN

«Phylogenesis»

(Season of Mist)

Estão de volta os Abysmal Dawn com o seu quinto álbum, seis longos anos após o antecessor – «Obsolescence». Este

álbum inclui oito temas agressivos e intensos de Death Metal a roçar o Brutal, sob o ritmo fugaz e consistente da bateria

frenética do James Coppolino, complementado com os riffs vertiginosos e rasgados das guitarras de Charles Elliott e Vito

Petroni. Traduzindo o nome do álbum, «Phylogenesis», para português significa filogenia. Filogenia é o estudo da relação

evolutiva entre conjuntos de organismos, espécies ou populações. Essa reflexão está subjacente em cada tema deste álbum, numa perspectiva de

evolução da humanidade que caminha para a sua autodestruição. Os solos de guitarra surgem de forma quase imprevisível e subtil, uma espécie

de tentativa de salvação e de fuga do inevitável. Não é um álbum repetitivo, cada música tem uma dinâmica e uma estrutura distinta. Faço votos de

que não tenhamos de esperar mais seis anos pelo próximo álbum… [7.5/10] ~ JOAO PAULO MADALENO

ATARKA

«Sleeping Giant»

(Independente)

Por acaso, quando recebo música, quer seja em formato físico ou digital, de bandas amadoras que lançam o seu álbum

de estreia de forma independente e com a qualidade que os Atarka têm, dá-me um prazer enorme escrever algumas

palavras. «Sleeping Giant» é o álbum de estreia deste quinteto de metal de Birmingham. Os Atarka apresentam-se ao

mundo com um groove bem rasgado, mesclado e enegrecido com Death Metal, ora brutal ora melódico, influenciados por

bandas como In Flames, Amon Amarth ou Gojira. «Sleeping Giant» apoia-se, também, num conceito sonoro sombrio e desesperado da história, da

dependência humana e mitologia. «Tollund» abre com um riff calmo… groove simples, discreto para depois, em crescendo, se transformar numa

jarda bem potente, brutal e melódica. Grande malha! Apesar de alguma crueza – que me agrada, «Sleeping Giant» é suficientemente maduro para

percebermos que os Atarka serão uma grande banda no futuro.

[7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

BLACK MOOD

«Toxik Hippies II»

(MDD Records)

Podemos aqui deixar-nos de rodeios: os Pantera foram uma banda gigante que veio mudar o panorama Metal para

sempre. O que é que isto tem a ver com a dupla germanica? Bom, comecemos com o facto da banda ser formada

também por dois irmãos, havendo também o aspecto da sonoridade e atitude. Esta malta tem power, e mesmo com

todas as semelhanças com a banda dos (saudosos) manos Dime e Vinnie, conseguem trazer a frescura que, em muitos

momentos, faltou aos Pantera. É verdade que a dupla não traz nada de novo, mas o groove de malhas como “Personal addiction” ou “A great

deceit” ficam a ecoar e a querer magoar o nosso “inimigo imaginário”. Também é verdade que este EP sabe a pouco. Não são os Pantera, mas

quase… e são dois!

[7/10] NUNO LOPES

DEEZ NUTS

«You Got Me Fucked Up»

(Century Media)

Nome grande da cena hardcore australiana, os Deez Nuts estão de regresso com um disco mais arrojado e mais vasto,

e onde, porventura, a banda se aproxima mais de um certo hip hop musculado, que tanto nos faz querer dar porrada no

nosso amigo imaginário como fazer um headbang cheio de groove. Isto não quer dizer que sejam tudo sorrisos, porque JJ

está chateado. Por isso esperem disparos para todo o lado. Os Deez Nuts não reinventam a roda, mas trazem ao de cima

todo o talento e mestria com que encaram o género.

[7.5/10] NUNO LOPES

EL MISTI

El Misti

(Independente)

Nós aqui na Versus assumimos um compromisso de honra: tentamos sempre escrever umas palavras de todos os CD’s

físicos que nos chegam. Quando peguei no CD dos El Misti, vindo de uma habitual promotora, pensei em algo brutal…

no fundo, que é o habitual. No entanto, fiquei algo surpreendido com esta banda Inglesa. Folk Acústico? Rock? Blues?

horas a ouvir música pesada e, de repente, “cai-vos no colo” uma musiquinha calma, semi-acústica, intimista, bem acessível e a cabeça como que

desliga e descansa, nem que seja só pelo tempo que demora o CD a “rolar”. Os El Misti são da responsabilidade do duo Paddy Bleakley e Kieran

Gilchrist que espero, sejam dois nomes a reter na senda músical. Este álbum, de grande qualidade e independente, não será ao gosto de todos

mas foi ao meu. Muito bom!

[8/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

HUBRIS

«Metempsychosis»

(Art as Catharsis Records)

Os Hubris são uma banda de post-rock Suíça, formada em 2014 mas que agora acaba de lançar o seu terceiro álbum

«Metempsychosis». Bandas deste género, acima de tudo instrumentais, avalio pela capacidade em me deixar absorver e

cativar pela música. Com algumas comparações a Sigur Ros ou aos inevitáveis Long Distance Calling, «Metempsychosis» consegue, em parte, cativar sobretudo pela sonoridade e introspeção que a música confere. É também, suficientemente

variado para não cair na monotonia. O que achei interessante foi mesmo o conceito subjacente às músicas. Sim, há um conceito neste álbum

(quase) totalmente instrumental. «Metempsychosis» explora o ciclo da vida e da morte, da reencarnação e do renascimento de algumas

personagens da mitologia grega. Sejam bem-vindos a esta viagem.

[7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

IN SANITY

«Welcome to the Show»

(MDD Records)

Para quem, como este vosso escriba, não esteja familiarizado com este grupo germânico vai apanhar uma valente

surpresa. «Welcome to the Show» é um registo que marca, igualmente, a estreia da banda pela (também) germânica MDD

Records, e é, sobretudo, um disco sobre a condição humana, onde tempo e espaço se misturam com a (sempre dúbia)

sanidade, ou falta dela. Condimentado com doses q.b de músculo e groove e outras tantas de melodia, trazendo assim

um equilíbrio perfeito, num limbo circense que penetra nos ouvidos sem nunca soar em modo «repeat». Como tal, este disco acaba por ser um bom

disco, e há por aqui uma espécie de «bafo» a Mudvayne. Bela Pomada.

[8/10] NUNO LOPES

IRONSWORD

«Servents of Steel»

(MDD Records)

Cinco anos após «None but the Brave» os Ironsword lançaram «Servents of Steel». E… é um álbum do aço! Puro Heavy

Metal clássico! Nas palavras de Tann, vocalista/guitarrista, este é o álbum mais desafiante da banda que conta, ainda,

com a contribuição de Bryan “Hellroadie” Patrick dos Manilla Road em dois temas. Desde a épica abertura de “Hyborian

Scrolls” até “Servents of Steel” somos levados pelos temas directos, sem grandes merdas, tal como o corte da espada de

Conan, o Bárbaro a decepar cabeças! Obviamente que isto tenderá a ser um óbice, já que se poderá tornar algo… previsível. No entanto, isso até

nem interessa para nada, pois não deixa de ser um álbum que em toda a sua concepção respira uma extraordinária competência. O único senão

são as vocalizações um pouco “escondidas” pelo instrumental, qual Tann a rezar ao deus Crom escondido numa caverna. Gostaria de as ver um

pouco mais destacadas. Em resumo, este é um álbum do caraças e o culto dos Ironsword mantém-se bem vivo.

[8.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

MOANAA

«Torches – EP»

(Independente)

Os Moanaa chegam-nos directamente da Polónia e «Torches» é um EP com somente três temas, sendo um deles a versão

“Without You I’m Nothing” dos Placebo. Será relativamente complicado tentar falar de somente duas músicas e, por isso,

resta-me só transmitir-vos a minha opinião de uma forma geral. Antes de mais, esta banda polaca apoia-se num post

rock/metal salpicado com algumas passagens atmosféricas e imersivas, com a voz a gritar de desespero. O tema que

encerra o EP – “Red” – quase 13 minutos que nos me faz lembras algumas bandas como Paradise Lost ou Woods of Ypres. A versão dos Placebo é

questionável mas os Moanna transformaram e transportaram o tema para a sua filosofia musical. Não está mau… diferente. De qualquer das formas,

dois temas quase nem dá para lhe “ganhar o gosto”. Esperemos pelo próximo longa duração.

[6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

«Oxygen»

(Art Gates Records)

Ah!!!! Tão bom quando recebemos CD’s deste calibre! Que put@ de jarda! «Oxygen» é o novo álbum dos Açorianos e

veteranos Morbid Death. A banda já por cá anda há 30 anos e «Oxygen» é uma forma brutal de festejar tão redondinho

número. Bem… é também uma forma brutal de rebentar com um bom par de colunas e o juízo aos vizinhos… se é que

me entendem. A banda sofreu alterações ao nível da formação e, se assim lhe quisermos chamar, trouxeram uma nova

identidade à banda, ao Death Metal foram adicionados elementos mais direccionados para o Prog Thrash. Esta mescla do antigo e do novo, fazem

com que a sonoridade geral seja bastante diversificada e versátil mas… talvez, perdendo alguma coerência, não havendo um estilo bem vincado

ou intrincado, prometendo “agradar a gregos e troianos”. Não deixa, de qualquer das formas, de ser um álbum com uma sonoridade brutal. “Away”

e “Oxygen” são os temas que mais sobressaem mas como diz o outro: “As opiniões são como as vaginas...”

[7/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

ONLY SONS

«Lions and Unicorns»

(Independente)

Interessante a quantidade de bandas Independentes que nos chegam da Polónia, de géneros e estilos tão díspares como

o dia e a noite e com uma qualidade bem acima da média. Os Only Sons lançaram no fim de 2019 o seu álbum de estreia,

«Lions and Unicorns», que é quase uma viagem no tempo até à década de 90, onde predominava o Grunge, Hard-Rock

(… e stoner). Uma sonoridade (quase) nua e crua com uns riffs e groove bem rasgadinhos. No entanto, há algo na música

que faz pedir mais… me parece que lhes falta qualquer coisa, uma identidade mais vincada e decidida, uma decisão… isto ganha-se, com o

tempo, experiência, concertos, álbuns… Em diferentes temas os Only Sons fazem-me lembrar Foo Fighters, Audioslave ou Soundgarden mas numa

versão bem menos amadurecida e ainda com muito a aprender.

[6.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

SECTILE

«Falls Apart»

(Silver Moon Records Ltd.)

Mais um álbum de estreia que nos chegou às mãos. Os Sectile são Irlandeses e fizeram-me querer, no e-mail que

recebemos que «Falls Apart» se destinaria a fãs de Karnivool, Porcupine Tree, Leprous e Orphaned Land. As expectativas

estavam, portanto, altas. No entanto, a sonoridade da banda nada tem a ver com as acima mencionadas, a não ser com

Karnivool e, saltou-me logo ao ouvido algumas semelhanças com Leprous. Os Sectile de alguma forma supreenderam

me, pela técnica e sonoridade. Muita dinâmica, energéticos, músicos bem acima da média com riffs complexos e temas muito bem estruturados.

Definem-se como uma banda progressiva e definem-se bem. «Falls Apart» é um excelente álbum de estreia e tomem como exemplo o magnífico

tema que encerra o álbum: “Dying Of The Lights: Purpose / Silence / Aethernity”, treze minutos que resumem o que foi dito e demonstra bem o

talento deste quinteto de Dublin. As expectativas não saíram totalmente defraudadas e os Sectile são uma banda a ter em conta.

[7.5/10] EDUARDO RAMALHADEIRO

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