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CRIMSON MOON

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BÖLZER

BÖLZER

Eis duas qualidades que definem a arte musical de Crimson Moon, de acordo com Scorpios Androctonus o seu mentor.

Entrevista: CSA

Saudações, Scorpios! Adorei o último álbum de Crimson Moon. Scorpios : Olá e obrigado. Já estamos a ter retorno sobre o álbum e as reações têm sido muito boas. Na realidade, o lançamento só vai acontecer no fim deste mês [agosto de 2019]. Esperamos ansiosamente por esse momento. Até agora, limitamo-nos a enviar cópias promocionais em suporte digital para se fazerem críticas, logo ninguém tem acesso à embalagem do CD digipack e do vinil duplo até as cópias físicas serem distribuídas. Embora eu não tenha dúvida de que a música vale por si só, penso que o artwork e o layout da autoria do Daniele Valeriani dão uma nova dimensão à experiência de ouvir este álbum.

É curioso. Recebi agora mesmo as respostas de Mord’A’Stigmata à entrevista sobre o seu último álbum («Dreams of Quiet Places»), que trata igualmente da Morte. Também vês esta entidade como um “lugar tranquilo”? Eu não vejo a Morte como uma entidade, apenas como um conjunto de formas simbólicas que fazem parte da mitologia. Vejo a Morte como o grande desconhecido. Tudo o resto parecem-me conjeturas e especulação baseadas em crenças que não se apoiam em nenhum conhecimento exato.

Eu diria que este álbum é muito litúrgico. Estou a pensar nos títulos das faixas (que se referem a tópicos de natureza religiosa), mas também na música (que tem uma toada solene que podemos associar a uma espécie de missa). Concordas comigo? Sim, tem uma atmosfera de Funeral [Metal], criada por elementos clássicos que evocam a morte e o luto. Também me parece que os coros em Latim e o uso pontual do órgão de tubos desempenham um papel muito importante na evocação dessa atmosfera.

A segunda faixa – “Altars of Azrael” – até me fez lembrar Batushka, uma banda polaca de Black Metal de que gosto muito. Que pensas disto? É a primeira vez que me deparo com essa comparação. Não tenho grande opinião sobre esse assunto, porque apenas ouvi algumas canções dessa banda (ou bandas?) há algum tempo atrás e apenas me lembro de que não me pareceram muito interessantes.

O vosso som parece-me muito old school. Eu diria que é mais True Black Metal que o som das bandas norueguesas que atualmente adotam esse estilo. Como reages a este comentário? Vou considerar esse comentário como um elogio. As minhas maiores influências, no que toca ao Black Metal, datam dos velhos tempos. Mesmo as bandas e lançamentos mais recentes que me parecem interessantes de alguma forma, acabam por não me dizer nada pessoalmente. Penso que esse

sentimento se deve sobretudo à nostalgia, que resulta de anos de ouvir material de que eu aprendi a gostar. Sempre disse que não estamos a tentar reinventar a roda no que diz respeito ao Black Metal. No entanto, fico contente, quando uma banda traz algo de novo a um estilo que se tem tornado progressivamente mais redundante devido a um enorme fluxo de bandas durante os últimos 25 anos. Também há tendências que se vão manifestando ao longo dos anos e daí resulta muita música com um som muito genérico. Pareceme que um dos maiores desafios inerente à criação de música deste género é ser inovador sem comprometer as bases do género. Trato de escrever material que eu gostaria de ouvir, portanto não dou muita atenção ao que as outras bandas estão a fazer ou ao que é popular junto das massas. Daqui resulta que o nosso trabalho é honesto, na minha opinião.

Convidaste vários músicos excelentes para atuar neste álbum. Por que os escolheste? Todos foram escolhidos pelas suas qualidades musicais e por causa da admiração que eu sinto pelo que eles criaram em termos musicais. - Foste tu que decidiste em que parte do álbum eles entrariam ou foram eles que escolheram? Embora a ideia de recorrer a convidados tenha sido pensada com antecedência, foi só na fase da gravação que surgiram as partes em que eles iriam participar.

- Dirias que a tua escolha de artistas convidados mostra que o Black Metal é realmente uma “grande família” com gente que vem de todas as partes do mundo? Nunca vi as coisas dessa maneira. Tratou-se apenas de convidar alguns músicos com quem já trabalhei ou estive em contacto ao longo de todos estes anos e que me pareceu que poderiam dar um contributo interessante para o álbum.

Adoro a capa do álbum da autoria de Daniele Valeriani. Podes dizernos algo acerca da sua conceção e significado? Sim. O Daniele é, sem dúvida, um dos melhores artistas da actualidade para o Black Metal e uma pessoa com quem é fantástico trabalhar. Ultrapassou todas as previsões no que diz respeito ao layout, que foi extremamente difícil de fazer. Para além do seu talento inegável, o Daniele não trabalha para qualquer artista/banda, dedicando-se exclusivamente àqueles cuja música lhe agrada. Crimson Moon teve sempre a sorte de trabalhar com artistas maravilhosos, que ainda não estão demasiado vistos. Tentei sempre evitar contratar artistas quem fazem muitas encomendas para outras bandas e que trabalham para qualquer que esteja disposto a pagar o preço pedido. De facto, recuando no tempo, verifico que todos os artistas a quem recorremos no passado (Blood Moon Ausar, Kitti Solymosi, Sang Ho Moon) ou já não fazem trabalho encomendado e/ou praticamente desapareceram do domínio público. Mas isso não vai acontecer com o Daniele (haha), porque é fantástico trabalhar com ele, que é excelente numa grande variedade de estilos de artwork. Tenho a impressão de que esta é a primeira vez que tivemos o artwork pronto antes de termos o álbum escrito. Quando fiz o primeiro contacto com o Daniele, ele já tinha produzido esta obra de arte e eu pensava que ela já tinha sido usada e, portanto, não estava disponível, mas gostei tanto dela que a usei como inspiração para compor. Tivemos sorte, porque afinal o artwork ainda não tinha sido usado e todos concorda mos que se adaptava na perfeição ao conceito do álbum.

Verifiquei que a dada altura abandonaste os EUA para ires viver na Alemanha. Isso aconteceu porque te pareceu que a Europa é melhor para músicos de Black Metal? Sim, essa foi uma das muitas razões que me levaram a tomar essa decisão. Saí dos EUA em 1998, porque nessa altura, na minha opinião, não havia lá nada de particularmente interessante para um músico de Black Metal. Tenho a impressão de que a primeira banda de Black Metal que tocou onde eu vivia foi Dissection, que esteve em Corona, na Califórnia, lá por 1996. Vieram abrir para Morbid Angel na sua digressão para apresentar o álbum «Domination». Mas – para veres como as coisas eram nessa altura – os Dissection tocaram quatro músicas e vieram dizer-lhes que tinham de ficar por ali por uma razão desconhecida relacionada com o local ou o promotor. Provavelmente, estavam atrasados. Tenho a impressão de que ainda tenho esse concerto gravado em VHS. Nessa gravação, vê-se o Jon, com um ar muito surpreendido, a pedir desculpa ao público porque têm de ir embora e a banda a abandonar o palco.

Crimson Moon começou em 1994. É muito tempo. - Podes dizer-nos quais foram os momentos mais importantes nessa longa jornada? Penso que estão relacionados com a constituição da atual formação da banda. Foi um trabalho árduo para mim encontrar os músicos certos para esta banda, o que é fácil de perceber, se tivermos em conta o facto de que demorei duas décadas a fazê-lo. - «Mors Vincit Omnia» é o vosso quarto álbum. Por que não tiveram oportunidade de lançar

“[…] Vejo a Morte como o grande desconhecido. Tudo o resto parecem-me conjeturas e especulação baseadas em crenças que não se apoiam em nenhum conhecimento exato.

mais álbuns durante todos esses anos? Foi uma opção da banda ou uma fatalidade? A certa altura, cansei-me de trabalhar com outros, de procurar uma editora que realmente quisesse apoiar a banda e decidi que iria fazer as coisas apenas para mim, quando e como eu quisesse. Dediquei-me muito a tocar com outras bandas e só comecei a escrever «Oneironaut» (2016), sozinho, quando me senti verdadeiramente inspirado para o fazer. Foi durante a gravação desse álbum que tudo começou a caminhar para a constituição da atual formação da banda e que eu tomei a decisão de fazer de Crimson Moon o principal foco da minha atividade. Portanto, abandonei Melechesh, que estava a consumir muito do meu tempo, energia e sanidade, e dediquei-me a algo bem melhor. Perdia mais dinheiro do que o que ganhava com essa música (se tivermos em conta o tempo, os sacrifícios, o equipamento, etc. que tinha de dedicar a este projeto). Quando algo que fazes começa a tornarse um fardo para ti, acabas por perder a motivação. Agora está tudo no seu devido lugar, pelo que posso dizer – com segurança – que Crimson Moon vai prosseguir a sua carreira e ser uma banda muito mais ativa do que até ao momento.

Na Metallum, está anunciado que a banda se está a preparar para tocar ao vivo. - É a primeira vez ou um renascimento? Esse anúncio data dos fins de 2016. Não consigo compreender por que razão esse website não permite às bandas editarem as suas próprias páginas. Isto significa que nem tudo o que se lê na Metal Archives é um facto. Essa informação corresponde a um anúncio que foi feito há 3 anos e que se tem mantido na descrição da nossa banda. As nossas primeiras atuações ao vivo correspondem a mini digressões feitas na América do Norte em 2006 e também em 2007. Voltamos a tocar 10 anos depois e a nossa primeira atuação ao vivo fora da América do Norte ocorreu no Speyer War Mass Festival, na Alemanha. Desde essa altura, temos continuado a tocar, sobretudo em festivais. Vamos dar um novo concerto a 17 de agosto [de 2019] no Barther Open Air Festival.

- O que podes dizer aos nossos leitores que os faça sentir que ouvir Crimson Moon tocar ao vivo é uma experiência que não podem perder? Trabalhamos muito para os nossos concertos e levamo-los muito a sério. Não estamos interessados em fazer centenas de concertos por ano ou grandes digressões. Portanto, quando tocamos ao vivo, é sempre uma ocasião especial. Nos últimos anos, as coisas mudaram muito no que diz respeito aos festivais e às digressões. São quase sempre as mesmas bandas a tocar, o que faz com que os ache aborrecidos. Tocar ao vivo não é a nossa maior prioridade, logo somos bastante selectivos relativamente aos lugares e às datas em que o fazemos. Nada é definitivo, pelo que tudo é possível… incluindo fazermos uma paragem com duração indeterminada no que diz respeito a tocarmos ao vivo. Essa decisão ainda não está tomada de momento, mas, como já disse, tudo é possível. Posto isto, penso que quem quer que seja que nos tenha visto tocar ao vivo não deve pensar que isso vai durar para sempre!

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