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NERO DIMARTE

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DENIEL OF GOD

DENIEL OF GOD

Inércia evolutiva

«Immoto», o novo álbum dos Nero di Marte, remete para a inércia, pelo seu título, ideia que é completamente desmentida pelo dinamismo da música.

Entrevista: CSA

Penso que o ano está a começar muito bem para a banda, porque têm um novo álbum a apresentar aos fãs depois de um jejum de seis anos. - O que vos impediu de lançar este álbum mais cedo? Sean – Saudações, Versus Magazine. Obrigado pela entrevista. Sempre nos preocupámos em gastar o tempo de que precisássemos para lançar algo que seja significativo para nós em termos de material acumulado, de experimentação e de gestação. Mas aconteceu que, durante estes seis anos, a nossa formação se alterou, entrou um novo baterista e mudámos de editora, passando para a Season of Mist. Tudo isso contribuiu para o “atraso”. - E o que fez pensar que janeiro de 2020 era uma boa altura para lançar o álbum? Não posso referir nada em particular. Tenho de agradecer à Season of Mist ter-se encarregado da produção do álbum, mas também posso dizer que o nosso novo baterista – o Giulio [Galati] – nos ajudou imenso a focarmonos na composição das canções e insistiu muito para que a banda lançasse algo novo depois da sua integração. - Como estão a imprensa e os fãs a reagir a este longa duração? Muitíssimo bem, penso eu, as opiniões são essencialmente positivas. Reconheço que o álbum não é para gente com pouca capacidade de concentração e falta de paciência (que são atributos da maior porção da humanidade, haha). É música que exige tempo e múltiplas audições para se revelar. Mas é a isso que este álbum convida criando um espaço de inércia dentro de ti mesmo. Como era isso que pretendíamos, sentimos que alcançámos os nossos objetivos.

Este «Immoto» é muito diferente do seu predecessor? Penso que é mais dinâmico, abstrato, íntimo, extremo. Cada um dos nossos álbuns tem testemunhado uma evolução, uma expansão da nossa paleta sonora e parece-me que podes aperceberte disso facilmente se consultares o nosso catálogo. Na verdade, é apenas uma consequência de tocarmos juntos, com os membros da banda a interagirem e a desenvolver sensibilidades. Nunca pararemos de nos reinventar. Estou muito agradecido às pessoas que nos têm acompanhado nesta jornada.

Como descreves a música neste álbum? [A mim parece-me bastante violenta – embora não seja particularmente ruidosa –, um tanto obsessiva, mas extremamente apelativa.] De certa forma, é violenta, mas também é muito delicada, atmosférica e meditativa. Tem qualidades dramáticas, sem dúvida, tanto pela forma como canto como pela narrativa que a voz conta, que te vai guiando através de uma música muito linear que nunca se repete. As composições são complexas e técnicas, mas felizmente os ouvintes não se sentem muito tentados a analisálas por esse prisma. Pessoalmente, pretendo relacionar-me com a música de um modo mais visceral e espero que o ouvinte sinta o mesmo com este álbum.

A propósito, o que significa o título do álbum e como o relacionam com as faixas que ele contém? “Immoto” significa “parado” em italiano, O título pretende ser um convite para criar, interagir e ouvir de forma atenta e meditativa. Isto também pode descrever o trabalho que temos feito nestes anos com esta música e as letras que a acompanham. Escolhemos essa palavra para exprimir o facto de nos focarmos na reflexão e também pelas suas qualidades fonéticas. A nossa única preocupação foi se íamos usar “Immotto” como título para uma canção e também para o álbum em si. Acabámos por o fazer, visto considerarmos essa faixa como uma espécie de chave que liga tudo do ponto de vista musical e lírico.

Quem escreveu as canções e as letras para elas? Eu escrevi todas as letras, exceto as de “L’Arca” e “La Casa Del Diavolo”, que surgiram de uma parceria com o Francesco (o guitarrista). As canções resultaram todas mais ou menos de um esforço colaborativo, visto não haver um membro da banda que assuma sozinho essa responsabilidade. Cada um de nós contribui com as suas ideias e escreve as suas partes. Às vezes, alguém aparece com a estrutura completa de uma canção, outras vezes é só um riff ou uma ideia para uma atmosfera. A partir daí o trabalho é feito em colaboração.

A voz é muito surpreendente. - Concordas comigo? Espero que tenha sido uma surpresa positiva! Penso que trabalhei muito as partes vocais deste álbum. Mas continuo com a impressão de que ainda há muito para melhorar. - Que efeito querias produzir? Como já referi, a voz muitas vezes funciona como uma narração ou um guia para o ouvinte, algo que me parece pouco comum dentro deste género. Pretendo que as partes vocais se caracterizem pelo máximo possível de dinamismo e variação, que a música e a voz se fundam formando uma unidade. Penso que podemos transcender ainda mais esta barreira e já comecei a trabalhar em novas composições em que quero experimentar esta ideia.

Quem fez a capa do álbum? Podes comentá-la para nós? O layout foi feito pelo Alex Eckman-Lawn, um ilustrador de Fildélfia que tem trabalhado com bandas como Yakuza, Hacride, Yob e muitas outras. Tem feito todo o artwork para nós até agora. Para «Immoto», foi mais uma colaboração. A base da capa é uma pintura feita pelo Francesco (o guitarrista) e inclui também alguns elementos fotográficos. Eu fiz fotos que também foram usadas no álbum. Queríamos exprimir algo absoluto

“[…] o álbum não é para gente com pouca capacidade de concentração e falta de paciência […] exige tempo e múltiplas audições para se revelar.

e transformativo de uma forma muito abstrata.

A vossa editora menciona digressões com Gorguts (que entrevistei em 2016 sobre o seu quinto álbum) e Psycroptic. Vão para a estrada com eles novamente? É claro que adoraríamos fazê-lo! Mas não tenho a certeza de que o Luc dos Gorguts esteja já pronto para ir para a estrada com música nova. Temos prevista a participação em vários festivais para este ano e espero que possamos fazer uma grande digressão na Europa até ao fim de 2020.

É engraçado haver uma cor que se chama “Negro de Marte”, um planeta que as pessoas geralmente relacionam com o vermelho. Por que escolheram esse nome para a vossa banda? Essa dissonância cognitiva poderia ter-nos levado a escolher o nome. Mas a verdadeira razão para essa escolha tem a ver com o poder fonético do nome e as suas propriedades químicas do composto. Trata-se de um pigmento negro e opaco usado na pintura, que transforma muito as outras cores quando entra em contacto com elas. Não reflete a luz e é de muito longa duração. Tudo isto e outras interpretações subconscientes fizeram com que este nome nos seduzisse. Facebook Youtube

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