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BÖLZER

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CYHRA

CYHRA

Da Suíça com muita originalidade

É o que se nos oferece dizer sobre Bölzer, uma banda que – no mínimo – intriga pela sua originalidade!!!

Saudações, Okoi! Tenho estado à espera da oportunidade de entrevistar Bölzer. Assisti a um concerto vosso no Vagos Metal Fest de 2018. Gostei muito do vosso estilo musical, mas consigo perceber por que razão pode parecer estranho aos olhos de alguns fãs de (Black) Metal. Como criaram esse estilo? Quais são as vossas influências? Okoi – Saudações! É um prazer. Fomos sempre muito bem acolhidos em Portugal e agradeço esta entrevista. Compreendo perfeitamente por que razão há pessoas que não gostam da nossa música, especialmente se forem fãs de Black Metal puristas, muito simplesmente porque não somos uma banda de Black Metal. Haha! Antes de mais, nós não compomos para agradar a ninguém em particular. Tudo o que criamos é porque nos dá prazer. É um processo muito intuitivo para nós, que nos permite exprimir muitas emoções que desaguam na música. Também não gostamos de forçar a criatividade de forma pouco natural. As canções exigem muito tempo para serem consolidadas e amadurecerem, antes de considerarmos que estão “acabadas”. Para abreviar, o nosso “estilo” é simplesmente muito pessoal e honesto. As nossas influências são muito variadas, porque ambos temos gostos musicais muito ecléticos. Não fazemos nada para que essas preferências se manifestem na nossa música, pelo contrário. Estamos especialmente focados em criar algo apaixonado e tão único quanto possível.

O facto de terem nascido num país onde as pessoas falam três línguas diferentes e que tem contactos com pessoas do mundo inteiro influenciou a vossa música? Não me parece que a natureza sociogeográfica do nosso país de origem seja de grande relevância. O facto de a Suíça ser vergonhosamente conhecida por

“Essa “majestade” pode […] ser vista como uma força governante, um obstáculo que se opõe à liberdade e à evolução do Homem.

produzir e promover “artistas” sem qualquer talento ao mesmo tempo que dá origem a talentos geniais de uma natureza menos acessível não a torna diferente de nenhum outro país, a não ser os territórios escandinavos, que parecem disponibilizar o elixir secreto na sua água potável. Pode dar-se o caso de o ambiente capitalista ou a faceta conservadora deste estado e das suas instituições levarem alguns a rebelarem-se e a saírem das suas fronteiras. E o facto de o teu pai ser também um músico apesar de ter nascido noutro país e de representar um estilo musical muito diferente do teu? O meu pai e a sua música tiveram certamente muito mais influência em mim. Tenho a sorte de ser filho de pais que têm um excelente gosto musical e, por conseguinte, tive a oportunidade de apreciar uma grande variedade de estilos desde muito cedo. O facto de eu me ter dedicado a um estilo diferente do dele também é irrelevante. Bem mais importante é o facto de ele me ter mostrado o que significa exprimir-se apaixonadamente através de um género musical usando um mínimo de instrumentos. Desde essa altura reconheci que nos assemelhamos no facto de ambos sermos músicos, apesar das diferenças de estilo.

O Fabien tem uma “história musical” tão rica como a tua? Foi sempre baterista, mas também ele deve muito aos seus pais, que são ambos pessoas muito criativas e desempenham um papel de relevo na sua atual carreira musical e artística.

Ele é um percussionista extraordinário. Onde e como o encontraste? De facto, ele é único no seu género e penso que estávamos destinados a encontrarmo-nos, antes de mais como irmãos e depois como músicos que se entendem maravilhosamente a nível estético. O homem é autodidata e eu sintome abençoado por tê-lo ao meu lado.

Fazem tudo juntos em Bölzer, não é? Depende do que entendes por “fazer tudo”… embora eu componha os riffs, escreva as letras e trate da maior parte da estruturação das canções, cada um de nós contribui de forma igual para o resultado final do que quer que façamos, seja de natureza gráfica ou musical. Logo, somos uma equipa.

Quem é a “majestade” a que este álbum se refere? O título do álbum – «Lese Majesty» – deriva da expressão francesa “lèse majesté” que significa “fazer mal a uma majestade”. O uso que faço desta expressão está aberto a interpretações, embora o seu significado se possa tornar bastante evidente para quem ler as letras, que tratam essencialmente da denúncia de várias chagas sociais relacionadas com a religião e a natureza despótica da elite que nos governa, tanto em contextos históricos como contemporâneos. Essa “majestade” pode, então, ser vista como uma força governante, um obstáculo que se opõe à liberdade e à evolução do Homem.

Que tópicos são abordados em cada canção? Tendo em conta a resposta dada à pergunta anterior, prefiro deixar isso em aberto para que o leitor possa interpretá-las à sua maneira. De uma forma muito sucinta, a mensagem de base é: destrói – cria.

E por que razão as canções são tão desiguais no que diz respeito à sua duração (variando entre 9 e 2 minutos)?

Isso não é relevante. São assim, porque foi assim que foram concebidas.

A tua interpretação vocal neste álbum soa muito dramática aos meus ouvidos. Em «Hero», era mais ou menos monótona (parece-me a mim). Gosto dos dois estilos, porque são ambos muito expressivos. Concordas comigo? Nem por isso… embora concorde que «Lese Majesty» apresenta um maior dinamismo, que resulta sobretudo do facto de que eu sou agora um vocalista mais experiente. No entanto, tenho que dizer que cada um desses lançamentos foi concebido à sua maneira e não vejo grande interesse em me alongar sobre as diferenças que os separam. Se tudo correr bem, a mensagem de cada um refletirse-á nos que quiserem deixar-se influenciar por ela.

A quem encomendaram a capa para «Lese Majesty»? E de que forma se relaciona com o conceito do álbum? Também fomos nós que criámos a capa. Duvido muito que tenhas podido ver a segunda parte dela, mas posso dizer-te que as duas se completam dando origem a uma interpretação abstrata da oposição Homem vs Natureza, que dá o devido valor à futilidade humana.

Li na informação fornecida pela editora que Bölzer vai fazer uma longa digressão pelo Centro, Leste e Norte da Europa. Por que não previram concertos em Portugal ou na Espanha? Não gostam do Sul? Pelo contrário, adoramos visitar os países do Sul e tocar neles, mas é difícil chegarmos lá com um orçamento limitado. De facto, estamos neste preciso momento em negociações para fazer uma curta digressão nessa zona da Europa no próximo ano. Portanto, mantenham-se atentos aos anúncios que formos fazendo!

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