PARQUE PARTE 1
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo
Arquitetura, Urbanismo, e Paisagismo
Em homenagem ao Toddy, meu irmão e eterno cãopanheiro de passeios, que se foi quatro dias antes do término deste trabalho.
autora: Ana Luísa de Paula Moreira
Por ter certeza que você adoraria passear comigo no “Parque Queixadas” algum dia. Obrigada por tudo.
orientador: Prof. Ivanir Reis
TFG 2022/2
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Gladson e Vanessa, e ao meu irmão Enzo, por todo o suporte, amparo, e cada sacrifício que fizeram nestes 5 anos para que eu ingressasse, permanecesse, e por fim concluísse o meu curso.
Aos meus avós e padrinhos, Maristela e Antônio Carlos, por acreditarem e torcerem fervorosamente por mim em absolutamente toda paixão a qual me dediquei até hoje.
Ao meu professor e orientador, Ivanir Reis, por todo e cada acolhimento de ideia, entusiasmo, e vital condução nesta trajetória. Por me conceder autonomia e confiança para ir além.
Ao meu melhor amigo e amor, Lucas, por ser o companheiro mais próximo e paciente ao longo de todo o meu processo de amadurecimento, e por dividir os momentos de bastidores.
Aos meus professores da vida profissional, Bruna Cagnacci, Marcelo Faisal, e Alecsander Gonçalves por serem exemplos e me ensinarem todos os dias algo novo.
Às minhas amigas de curso e parcerias de vida, Letícia, Giovanna, Lara, e à Beatriz Xerez, também pela sua genialidade em criar e agregar neste trabalho sua arte e concepção de design.
Por último, e mais importante, à Deus, por me iluminar com toda a força e persistência nos momentos mais difíceis até aqui, e por me presentear com a oportunidade de encontrar uma das minhas paixões estudando Arquitetura.
RESUMO ABSTRACT
Este trabalho final de graduação possui como objetivo geral estudar e estrategicamente desenvolver, no subdistrito de Perus, a partir de diagnósticos e subsídios teóricos, um projeto UrbanoPaisagístico, com a finalidade de desenhar um Território Educador e, por consequência, propõe um parque urbano - o Parque Queixadas que abriga a antiga Fábrica de Cimento Portland e a antiga Estrada de Ferro Perus Pirapora, patrimônios tombados pela Conpresp e Condephaat, respectivamente.
O Território, como estratégia urbana, conectará equipamentos educacionais e culturais pré-existentes ao novo Parque Queixadas, que por sua vez, atuará como espaço de lazer coletivo dirigido, aglutinador cultural e social local, e potencializador lúdico-pedagógico – um Parque Urbano Educador.
O projeto buscará, sobretudo, permear as barreiras do bairro, irrigar o tecido urbano onde estará inserido, e valorizar o patrimônio histórico pré existente na área do Parque Queixadas, proporcionando acesso e usufruto público.
Semear, e perpetuar a memória cultural herdada, aos jovens do presente, pelo instrumento do espaço público, da paisagem, e da urbanidade, foi resumidamente o fio condutor deste trabalho.
palavras-chave: cultura, patrimônio, urbanidade, espaço público, paisagem.
This work has as general objective to study and strategically develop for the sub-district of Perus, from diagnostics and theoretical subsidies, an Urban-Landscape project, which will propose the Educator Territory, and will also cover the Queixadas Park, incorporated.
The Territory, as an urban strategy, will connect pre-existing children’s educational equipment to the proposed new Park equipment, which in turn will act as a directed collective leisure space, a local cultural and social agglutinator, and a ludic-pedagogical potentiator - an Urban Children’s Park. .
The project in general will seek, above all, to permeate the barriers of the neighborhood, irrigate the urban fabric where it will be inserted, and value the pre-existing historical heritage in the Park area, providing access and public enjoyment.
Sowing, and perpetuating, the cultural memory inherited to the young people of the present, through the instrument of public space, landscape, and urbanity, was, in short, the guiding thread of this work.
keywords: culture, patrimony, urbanity, public spaces, landscape.
INTRODUÇÃO
O que começou com uma inquietação debruçada sobre os conceitos de Escola-Parque, Parques Infantis, e dos Territórios Educadores, se desdobrou ao longo do desenvolvimento de pesquisas, em um projeto de verdadeira análise, interpretação, e resposta às premências do recorte escolhido, complementadas de bagagem histórica intrínseca ao Distrito de Perus.
A partir do manifesto interesse pelo conceito de Lazer pós 2a Revolução Industrial, e seu papel como reformador social e urbano, esbarrando portanto na abstração de “Parque Público como antídoto dos males da urbanização”, e direcionando a temática para o recorte do Brasil, a pesquisa abordou-se por fim na aplicação pedagógica do lúdico em um programa atento à infância.
Trafegar pelo ideário de nomes como Mário de Andrade e Anísio
Teixeira, levou a uma abundância de possibilidades com relação à possíveis colocações temáticas que vinculassem Espaço Público, Lazer, e Lúdico
Infantil, e por isso o fato resolutivo foi chegar ao recorte do subdistrito do extremo noroeste de São Paulo, Perus.
Inicialmente após uma busca preliminar por um vazio urbano em São
Paulo, que estivesse vinculado à demanda por espaços verdes, e analisando os dados socioeconômicos, a inserção e a (não) relação que o vazio da Antiga
Fábrica de Cimentos Potland Perus tinha com seu entorno, a pesquisa que a princípio era voltada ao meio físico e ao público alvo, se colidiu com um tópico determinante: o patrimônio histório e arquitetônico ali pré-existente.
Após uma leitura do recorte urbano em 3 tempos - passado, presente, e futuro - com a finalidade de alinhar diretrizes urbanísticas e projetuais com intenções conceituais e programáticas, Perus, ao mesmo tempo que se revelou apto de intervenções e carecido de lazer, mostrou-se equivalentemente relevante com o público alvo.
Dessa forma agregou-se mais um eixo temático norteador ao projeto, o do tombamento, que evoluiu a inicial pretensão de simples equipamento de Parque Infantil para um equipamento de maior escala, de públicos plurais, que abrangesse e integrasse setores diferentes, com programas que dialogassem. O ensaio das combinações e interseção dos conceitos de Paisagem, Patrimônio, Museu, Lazer, Lúdico, e Cidade Educadora fez parte do processo de desenvolvimento e elaboração do programa final do Parque Queixadas, de forma que o projeto, em essência, não tenha sido acomodado na sua localização, mas sim interpretado, configurado, e elaborado a partir do seu próprio local e para o próprio local.
conceituação teórica
O espaço público na cidade assume inúmeras formas e tamanhos, compreendendo desde uma calçada até a paisagem vista da janela. Ele também abrange lugares designados ou projetados para o uso cotidiano, cujas formas mais conhecidas são as ruas, as praças, e os parques. A palavra “público” indica que os locais que concretizam esse espaço são abertos e acessíveis, sem exceção, a todas as pessoas. (ALEX, 2008, p.19).
ESPAÇO PÚBLICO E COLETIVO
Os atributos de um espaço público são aqueles que tem relação com a vida pública [...] E, para que esse ‘lugar’ opere uma atividade pública, é necessário que se estabeleça, em primeiro lugar, uma copresença de indivíduos. (GOMES, 2002, p.160).
Um elemento de espaço, no contexto da cidade, que contribui para a organização das dinâmicas coletivas, instituindo acesso livre e possibilidade de convívio social, configura-se como Espaço Público. Uma vez que forem coletivos e dinâmicos, podemos dizer que são adaptáveis, pois sua aderência é consequência da relação direta com a vida pública, como lugar de sociabilidade e convivência.
Se praças, jardins, largos e parques nos remetem à vida pública, é porque no contexto dos centros urbanos, os espaços públicos exercem também papel fundamental no acesso e apropriação cultural, natural, histórica, e social do local onde está inserido.
Visto seu uso coletivo, o espaço público é um ambiente de convivência e de trocas entre os diversos grupos que compõem a heterogênea sociedade urbana. (NEVES, 2019, p.21).
O espaço público se presta bem a abordagens participativas. O acesso e participação no espaço público é um primeiro passo para o empoderamento cívico. A criação, proteção, gestão e desfrute do espaço público são oportunidades ideais para o envolvimento de todos os cidadãos, garantindo que interesses individuais e diferenciados sejam transformados em práticas colaborativas .
(ONU, 2015, p. 6).
Entretanto, por mais que espaço público seja um conceito cotidianamente discutido, ainda é uma definição carregada de significados distintos, afinal, “A ideia de espaço público engloba desde os locais das grandes manifestações das cidades até o cenário do dia a dia da população, em que vizinhos se encontram nas calçadas.” Antecipa Calliari (2016, p.24).
Então quando o conceito de Espaço Público incorpora proporções espaciais, o próprio Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2002) distingue, “bens de uso comum do povo” - aos quais se conformam os espaços públicos de circulação (como a rua, estrada ou praça), de contemplação (como a praia ou um jardim público), espaços de lazer e recreação (como uma praça ou parque), ou de preservação ou conservação (como uma reserva ecológica) -dos “bens de uso espacial” - que são aqueles destinados às práticas administrativas, execução de serviços, instituições, etc.
Em paralelo a isto, há também o espectro “objetivo-subjetivo do espaço”, abordado pela arquiteta e autora Mayumi Watanabe Lima, em seu livro “A Cidade e a Criança”, que analisou os projetos e obras de espaços públicos para a educação do “segmento mais fraco de todos os dominados”, a Criança, a fim de compreender como elas não enxergam o espaço físico isolado do ambiente, trazendo a ideia de que o espaço, além de público e coletivo, para a criança, poder ainda ser enxergado como “o espaço alegria, o espaço-medo, o espaçoproteção, o espaço-mistério, o espaçodescoberta, enfim, os espaços de liberdade ou da opressão”. (1989, p.30).
Para finalizar, uma vez que o conceito de que o Espaço Público configura locais abertos e acessíveis a todos, sem exceção, no âmbito da cidade, as crianças nunca deveriam ter deixado de serem levadas em consideração, e nem poderiam ficar fora dessa discussão de Coletivo urbano. Tendo em vista que lugares públicos tornaram-se “lugares perigosos”, segundo Mayumi as crianças terão que “[...] encontrar nas novas condições urbanas aqueles espaços permeáveis onde seja possível o jogo e a brincadeira que envolva os companheiros da mesma idade e observar o mundo dos adultos” (1989, p.92).
TERRITÓRIO CULTURAL EM CIDADES EDUCADORAS
O conceito de Território Cultural fundamenta a importância da inserção dos projetos e intervenções no contexto, entorno, e tecido urbano específicos, e da relação qualitativa que se conquista com a Cidade a medida em que se é levado em consideração a premissa “morar não é só da porta para dentro”. Como sintetiza Paula Martins Vicente em sua dissertação de mestrado, “Os princípios da Cidade Educadora visam quebrar a lógica da educação restrita apenas ao ambiente escolar e institucional”, e também urbanisticamente falando, os Territórios Educadores, já abordados também como “Plano Urbano Urbano do Brincar”, semeiam valores e princípios totalmente incorporáveis às práticas projetuais de cidade.
Logo, “O projeto educativo de cidade nasce com a ambição de transformar a educação num dos elementos estratégicos do desenvolvimento do meio urbano.” (MORALES, 2003), e, portanto, o conceito de Cidades Educadoras abrange a escala de território e “dá visibilidade para o caráter educador das cidades, oferecendo elementos para a formação e o desenvolvimento integral de seus habitantes.” (VICENTE, 2012, p.54).
A cidade também pode ser uma Cidade Educadora. A princípio, a cidade como um elemento, por si só já apresenta um caráter educativo, pois é nela que as pessoas aprendem a se localizar, conviver e desenvolver a cidadania. (VICENTE, 2012, p.56).
A fim de buscar uma real integração entre todas as partes da cidade, e de modo a concretizar os processos de educação integral dentro da educação “informal”, essa aquela que acontece nos espaços urbanos, Vicente também ressalta que “Essa educação que ocorre do lado de fora dos muros da escola tem uma importânacia muito grande no desenvolvimento e na formação infantil, daí a relevância em estudar como se dão as relações entre as cidades, as sociedades, e as crianças(...)” (VICENTE, 2018, p.50).
Nessa perspectiva, de buscar maior autonomia e apropriação dos espaços urbanos, a educação e o aprendizado são vistos como constantes ao longo da vida e não estão apenas circunscritos dentro das escolas; podem ocorrer também em todas as experiências vivenciadas na cidade. Dessa forma, destacamos a importância em qualificá-la enquanto lugar de direito das crianças e local que possibilita a sociabilidade, a democracia, a equidade, as manifestações políticas e culturais, as trocas e os encontros com seus pares, com os adultos e com o espaço urbano construído. (VICENTE, 2018, p.52).
E engana-se quem deduz que o conceito de território educador e educação integral não formal é um ideal da década, pois foi Paulo Freire, em 1997 quem já considerava os espaços da educação como uma relação interativa, que transcendia o espaço formal e atingia o informal na cidade que se alongasse como educativa. Freire inspirou a possibilidade de um entrelaçamento entre a prática pedagógica interativa e dinâmica, com uma maneira de se urbanizar e fazer arquitetura, que dialogasse e interagisse, à procura de um projeto participativo dos espaços, vendo o homem como um ser de relação “não apenas do mundo, mas com o mundo”. (FREIRE, P., 1997, p. 43).
Penso que o espaço lúdico deve tornar a criança ativa, através de brincadeira livre e criativa; deve também criar situações-estímulo à expressão lúdica, como possível alternativa ao comportamento consumista e passivo da criança urbana.
(ALMEIDA, 1992, p.6).
Os Parques Infantis foram um projeto moderno e social, oferecido dentro de uma política cidadã de desenvolvimento urbano, com o objetivo de alimentar a “cultura do espírito” (...) Privilegiando interesses lúdicos e culturais fortemente presentes em uma planta arquitetônica de poucas salas (nenhuma de aula) e muitas árvores, areia e brinquedos.
(NIEMEYER, 2002, p.173).
PARQUE INFANTIL E O LÚDICO PEDAGÓGICO
Podemos afirmar que a arte situada nos espaços públicos converte-se em estratégia de aproximação com a realidade e a sociedade, colabora na ativação das dinâmicas locais e busca remediar as dificuldades socais através da sensibilização do indivíduo nas suas relações com a cidade. (NEVES, 2019, p.24).
Mário de Andrade, não somente poeta mas também idealizador e exdiretor do Departamento de Cultura da prefeitura do município de São Paulo
(gestão do prefeito Fábio Prado), criou dentre diversos programas para o operariado, o Parque Infantil (PI) para crianças de 3 a 12 anos, e contribuiu deste momento em diante para as atuais, e inclusive presentes neste trabalho, reflexões voltadas à elaboração de propostas de programação educativa.
O conceito de Parque Infantil traz consigo, por sua definição histórica, um repertório e uma vasta possibilidade de abordagens projetuais, como instrumento pedagógico, e com relação as características programáticas lúdico-culturais.
Sob a visão de Elvira de Almeida, “Através da ação no espaço, a criança irá descobrir-se a si própria e a tudo o que está a sua volta, ganhando uma autonomia com relação ao adulto.” (1992, p.6), a artista e arquiteta buscava incorporar em seus projetos “identidade cultural e o estímulo à fantasia infantil, criando cenários lúdicos coletivos”, pois acreditava que já faltava “nos espaços públicos, o sentido do espetáculo, da festa e da poesia”, nos parques em “espaços híbridos, sem vitalidade”.
Já a partir de uma leitura histórica, como resume Carlos Augusto da Costa Niemeyer, a respeito dos Parques Infantis, surgidos na década de 1930, em São Paulo, pela visão e gestão de Mário de Andrade, a proposta era “estabelecer que a educação deveria estimular aspectos ligados a inteligência e à solidariedade social, e que a recreação viria contribuir eficazmente para essa finalidade.”
(2002, p.31).
PARTE 1 ~ CONCEITUAÇÃO
Indo na contramão das teorias e cidades que priorizam o crescimento precoce das crianças a fim de transformá-las e tratá-las equivocadamente como adultos, o conceito geral deste tópico preza por garantir sobretudo o direito à infância: o direito a brincar e a não trabalhar.
Uma vez que os direitos da criança são previstos tanto em normas internacionais quanto na constituição federal, e ainda regulamentados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promover e resguardar o exercicio de todas as dimensões humanas, sendo elas, lúdicas, artística, e do imaginário infantil, e garantir o acesso à educação de qualidade, cultura, lazer e esporte, fez-se premissa global do presente trabalho.
É de suma importância garantir que a ludicidade esteja presente nas idas e vindas cotidianas do público infantil e também adulto, pois, garantir que o lúdico seja vivenciado pode ser uma alternativa ao contexto massacrante e voraz da contemporaneidade. (VICTORINO, 2020, p.45).
MUSEU PAISAGEM
PARTE 1 ~ CONCEITUAÇÃO
A participação dos jovens e dos moradores em processos de construção do espaço público, também pode ser vista como uma ideia de pertencimento ao local, evitando apropriações individuais e egoístas e discutindo sobre qual a melhor proposta para determinado lugar. Quando essa falta de sentimento de pertencimento deixa de existir, vemos a construção de espaços abandonados, com apropriações indevidas e atos de vandalismo relacionados, resultando nas depredações e degradações de bens públicos.
(DE MARCHI, P.M., In: KON S. e DUARTE F., 2008, p.107).
O conceito de Museu Paisagem embasa um modelo arquitetônico/paisagístico que tem como características triviais: a diluição das fronteiras entre o interior e exterior das “galerias”, a área expositiva tanto em espaços abertos quanto fechados, e a utilização da paisagem como suporte integrador. É uma categoria intitulada por Nuno Grande (2009) para fazer referência e provocação ao tipo artificial de exposição fechada, e sua transposição para o ambiente externo, contextualizada, inserida, e autoral.
Dessa forma, o presente estudo incorporará ao projeto o conceito de Museu-Paisagem, mas expandirá ademais os critérios e características de “arte” para além da escala clássica expositiva, já que atribuirá também ao próprio “museu” o papel de arte, e sugerindo: um museu pode ser um museu de si mesmo?
Ao propôr espaços expositivos abertos, o modelo arquitetônico viabiliza também um contato com a pré-existência natural e ambiental, tornando o cenário um elemento intrínseco e indissociável da identidade do equipamento, que por sua vez se associará à identidade local.
Seguindo a veia da diluição de barreiras, a aplicação do conceito de Museu Paisagem a um projeto de parque, proporá que sua visitação, exposições, interações, e percursos, aconteçam intercaladas através de um itinerário onde o público transita na paisagem natural e no patrimônio pré-existente -abrigo e acervo de si mesmo - em um roteiro museográfico–paisagístico.
Para sediar interações entre diversos públicos e arte, da forma mais democrática possível, visando a apropriação e a manifestação artística original, de linguagem e temática plural, faz-se necessário a acessibilidade de um espaço
material que integre e use do paisagismo como ferramenta, pois a construção paisagística também abrange questões sociais.
(...)nota-se que o Museu Paisagem se apresenta como uma materialização que tem por objetivo reaver a distância entre as questões da paisagem à produção artística brasileira. Trata-se de resistência. (NEVES, 2019, p. 11)
reconstrução histórica
CRONOLOGIA
Parecido com outros bairros das tantas periferias da grande São Paulo, a história de Perus teve início com a expansão do centro para as bordas que ainda não haviam sido desbravadas. O bairro de Perus inicialmente chamava-se Ajuá, e era uma região de hábitos e escalas rurais que pertencia à divisão de Freguesia de Nossa Senhora do Ò - distrito este (freguesia) mais antigo da capital paulistana. Em 1856 foram registrados cerca de 16 donos de terra nas redondezas. A partir de 1867, e com a alta do café, chegou à Perus a linha férrea São Paulo Railway (SPR), que determinou a constituição do bairro, e hoje ainda em pé, como Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, ou melhor, CPTM linha Rubi. Porém foi a estrada de ferro, a Perus – Pirapora (EFPP), em 1914, que tirou o bairro de seu ostracismo e despertou o interesse de estrangeiros pelo espaço, trazendo a Companhia Brasileira de Cimentos Portland à linha histórica de Perus para sempre.
PARTE
2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
2004 Grupo Pandora de Teatro desenvolve trabalho de pesquisa e criação no território
2005 Comunidade Cultural Quilombaque é criada a partir da iniciativa de jovens moradores de Perus
2008 Café Filosófico - encontros que discutiam a memória do bairro - desenvolve-se preliminarmente um projeto comercial para a fábrica e entorno que não foi realizado (escritório privado)
2013 Movimento pela Reapropriação da Fábrica: grupos locais formam um coletivo em prol da fábrica
2014 Revisão do Plano Diretor Estratégicogrupos locais participam das audiências
2015 TICP Jaraguá-Perus é criado
Inauguração da Estação Perus São Paulo Railway
1867
Término da construção da Estrada de Ferro PerusPirapora
1914
Inauguração da Companhia Brasileira de CImento Porland S.A.
1924
Primeiro ano de produção, em 1927, atingiu 25 mil toneladas de cimento
Gestão Abdalla, em 1951 o Deputado José João Abdalla compra a Cimento Perus
Bairro cresce em população, configurando-se como distrito independente da cidade de São Paulo, com cerca de 3504 habitantes
1934
Início da assessoria sindical - Não violência ativa
1954
1a Greve - Surgem os “Queixadas”
Início da greve dos 7 anosgrevistas pedem a desapropriação da fábrica pelo não cumprimento dos acordos trabalhistas de 1959 a 1960
Fim da greve dos 7
anos: 501 Grevistas
Estáveis ganham na justiça o direito a indenização e de volta ao trabalho, entretanto outros não
Fechamento da Fábrica de Cimento - Franco Montoro tomba a Estrada de Ferro Perus-Pirapora
1958
1962
1969
1987
Tombamento CONPRESP da Fábrica de Cimento e entorno (23 alqueires e 16.770m2 de área construída).
1992
em 1973 o Governo Medici confisca os bens da companhia, e decreta falência
Em 1980 a Fábrica vai a Hasta Pública (leilão), e o Absalla arremata a CBCPP com a única oferta
1993 Paulo Maluf assume a prefeitura de SP e se enfraquece diálogo com o órgão municipal
Em 2004 FAJA Des. Urbano solitica revisão do tombamento, para diminuir a área protegida. Vilas operárias são demolidas
A PERUS PRÉ INDÚSTRIA
Perus é o último distrito a noroeste da capital paulista. No século XVII, existiram em sua área a Fazenda dos Pires, propriedade de Salvador Pires Medeiros, capitão da gente de São Paulo, dedicada à produção vinícola; e a Fazenda Ajuá, pertencente ao paulista Domingos Dias da Silva, tida como uma das maiores fazendas de cereais nas cercanias da Capital no começo do século seguinte. Em l856, o Registro Paroquial de Nossa Senhora do Ó assinalava 16 proprietários de terras no “Bairro do Ajuá”, antigo nome de Perus. Olhando sob o recorte da corrida da extração mineral, a busca de ouro foi tema recorrente durante os primeiros estágios da ocupação portuguesa do Brasil, e assim, o ouro encontrado em 1590 no Pico do Jaraguá e no Córrego Santa Fé - cujas nascentes situam-se na encosta da montanha, atraiu exploradores para a região. Produziram muito durante a primeira metade do século dezessete, e as grandes quantidades de ouro de lá canalizadas para a Europa granjearam para a região o cognome de segundo Peru, em alusão ao país sul americano que foi imensamente explorado pelos colonizadores espanhóis.
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Perus tornou-se um distrito do município de São Paulo, reconhecido pela Câmara Municipal, em 21 de setembro de 1934, desmembrado do então sub-distrito de Nossa Senhora do Ó, ao qual ficou dependente até o ano de 1867. Até porque, boa parte dos bairros da chamada Zona Norte 1, ou Zona Noroeste, eram pertencentes ao distrito de Nossa Senhora do Ó. Em 1948, parte de seu território serviu para a formação do novo distrito do Jaraguá.
O desenvolvimento do bairro de Perus, a partir das instalações da indústria que estava por chegar, dispôs centenas de postos de trabalho, e com isso, Perus estava prestes a se transformar de personagem produtor agrícola, com algumas chácaras, para receber migrantes e imigrantes, estes que adensariam nas futuras vilas operárias, e loteariam as chácaras.
HISTÓRICA
PÓS EFPP E A ERA CBCPP
No ano de 1867, junto com o restante da São Paulo Railway (atual CPTM – linha 7 Rubi), foi inaugurada a Estação de Perus, dando início a um processo de urbanização do Vale cujos grandes marcos foram a Companhia Melhoramentos de São Paulo (1890), o Hospital Psiquiátrico do Juquery e sua Fazenda (1898), a Estrada de Ferro PerusPirapora (EFPP, 1910) e a Fábrica de Pólvora erguida a uns duzentos metros da Estação de Perus, da qual restam alicerces.
A Estação Perus, a princípio, era pra ser apenas um ponto de parada para reabastecer a água das locomotivas que seguiriam viagem para Jundiaí, mas acabou sendo um grande facilitador de acesso para o desenvolvimento próprio do bairro, que além de possuir um “cenário propício”, continha em seu solo uma riqueza de minérios, muita área desocupada e disponível, e boa oferta de recursos naturais.
Em 1887 o Coronel Proost Rodovalho criou a Melhoramento nas terras que iam de Caieiras até o noroeste da estação Perus. Em 1909 um grupo de empresários, dentre eles, Sylvio de Campos (que leva até hoje nome de uma das vias arteriais mais importantes do miolo do bairro Vila Perus), Mario Tibiriça, e Clemente Neidhart solicitam permissão para construir um tronco feroviário ligando a então estação Perus, até a cidade de Pirapora de Bom Jesus, como objetivo alegavam que levariam romeiros até o santuário da cidade.
Após 15km de construção, os trilhos foram desviados para o bairro de Gato Preto em Parnahyba, onde houveram grandes reservas de cal que começaram a ser exploradas em 1914 com a inauguração da Estrada de ferro Perus Pirapora.
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Construção da Fábrica de Cimento
Portland Perus S.A. (1925). Acervo Nelson
Aparecido Bueno Camargo
Foi em 1915 por iniciativa do Dr. Sylvio de Campos, e idealizadção do engenheiro Dr. Walter Charnley, em uma parceria entre brasileiros e canadenses, que começou a se concretizar o empreendimento do ramo do cimento, inaugurado em 1924, a CBCPP, Companhia Brasileira de Cimentos Portland Perus.
O impulso necessário se deu em 1923, sobretudo pelos “senhores” Drysdale e Pease, ambos de Montreal, que solicitaram uma análise especializada e encomendada, para conferir os depósitos de calcário encontrados em São Paulo, Rio de Janeiro, e Minas Gerais. Tal análise concluiu que a matéria prima de Perus era a mais vantajosa e de maior qualidade, ainda em grande quantidade disponível, sem contar o fator localização.
A primeira produção da fábrica se deu em 1926 apenas, e tão cedo já representava o avanço da indústria no país, por possuir máquinas de alta tecnologia, e produzir com regularidade e larga escala. Sua representatividade e destaque se deu, muito também por conta da necessidade de cimento de qualidade na década de 30.
Por suprir a produção nacional, a CBCPP fornecia quase todo o cimento utilizado nas construções e engenharias de grande porte, e erguidas até hoje, como o Viaduto do Chá, a biblioteca Mário de Andrade, o túnel e viadutos da Av. 9 de Julho, Brasília, etc.
Construção da Fábrica de Cimento
Portland Perus S.A. (1925). Acervo Nelson
Aparecido Bueno Camargo
Com relação aos registros de funcionamento uso e vida da Fábrica, sabe-se que inicialmente trabalhava-se até 12 horas por dia, até a consolidação das leis trabalhistas da década de 1940.
Após o código d e legislação dos trabalhadores, a jornada de trabalho foi alterada, de forma a estabelecer 3 turnos de 8 horas, para que a produção mal fosse interrompida.
O trabalho demandava diversas habilidades específicas, de acordo e a depender da função, como: força bruta para ensacar o cimento e organizar os carregamentos dos trens, qualificação para operar e consertar o maquinário, e atenção vital para operar os fornos.
Ao passe que a indústria instalou-se como construção, trazendo modernidade nos arredores da estação Perus, ela requeria mão de obra especializada, e criou estratégias portanto para atrair e reter força de trabalho qualificada. Provavelmente a mais importante estratégia, foi oferecer um conjunto de auxílios e vantagens aos que ingressassem ao corpo de funcionários operários, sendo a principal delas, moradia com infraestrutura.
Créditos: Acervo Nelson Camargo.
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
“(...) naquele tempo era bom, era como se fosse uma família só, muito unidos, a gente vivia muito bem lá.”
D. Síliva Cruz, (SAO PAULO, 1992, p.110)
As Vilas Operárias possuiam água, esgoto, e energia elétrica - que até então nem havia chegado para o bairro “fora a fábrica” (Perus só recebeu tais infraestruturas urbanas em 1953)e pelo formato de desconte em folha de pagamento. Além da infraestrutura, eram atrativos também a assistência médica, dentista, açougue, farmácia, e restaurante.
Configuraram-se as primeiras vilas operárias, que a poucos metros da fábrica, propunham um formato “confortável” e “prático” de se viver: Vila Triângulo, Vila Portland, VIla Fábrica, e alojamentos,.
Campo Portland Perus.
Fonte: Acervo Nelson Camargo.
Vale lembrar que nas propriedades da fábrica ainda assim não havia nenhum tipo de cerca ou algo que impedisse a população de nela entrar. Pelo contrário, as demarcações da Fábrica eram abertas a toda a comunidade, por muito tempo.
A vida além da fábrica se passava, por vezes, no Clube Esportivo Portland, no Cinema, no Salão da Fábrica, o “Caramanchão”, e por muito tempo se nutriu de momentos de lazer e cultura, propiciando vínculos tanto ao espaço quanto à vizinhança. As atividades de lazer incluíam reuniões, futebol, jogos de baralho, bocha, ping-pong, festas (por vezes abertas ao restante do bairro), e bailes.
Debruçando sobre relatos de ex moradores e vizinhança, depoimentos valiosos do livro “Queixadas”, vislumbra-se Elias, ex comerciante e não-operário: “podia entrar e sair, sem ninguém interpelar. Era livre e aberto, era como que entrar aqui em casa. Aqui ainda tem portão, lá nem tinha isso. Eu sou desse tempo”.
Podemos reconstruir um cenário de que a Fábrica era um mundo mágico, para todos os meninos e meninas peruenses e dos arredores, que, uma vez por dia, enfiavam-se pelos cantos desconhecidos entre máquinas gigantes e sacos de cimento.
Passeata das mulheres queixadas no centro de SP
Piquete formado por mulheres de Cajamar, em maio de 1962.
Assembleia realizada no Sindicato, em agosto de 1962
Saída do cinema.
Fonte: Acervo Nelson Camargo.
Já Arlindo, que morava na Vila Triângulo com sua família, relata no livro que possuía o hábito de nadar no ‘riozinho sujo’, o Ribeirão Perus, que fica logo abaixo da Fábrica de Cimento. O riozinho, conta ele, era na verdade uma grande poça d’água, pois para fazer o cimento da fábrica, o solo era cavado e de lá tirada a terra vermelha utilizada na indústria. Depois das chuva, a água remanescente, junto à argila, e minério que escorriam da fábrica, transformavam aquelas crateras em piscinões.
Mas se por um lado houve harmonia e beleza, quanto às consequências de uma produção ininterrupta, foi em 1972 que Perus se tornou palco também de uma das primeiras campanhas ambientais da história do Brasil, com o lema “o pó de cimento esmaga a vida”. Os resíduos que vinham das chaminés, que não possuíam filtros por negligência de gestão, prejudicaram substancialmente a qualidade do ar, e contaminaram com acúmulo de sedimentação as casas, o solo, as plantações, o ribeirão, e poluíram a ponto de deixar diversas pessoas com problemas respiratórios, tendo tal fato sido noticiado já na época.
Essa campanha ambiental foi um marco no que diz respeito a própria natureza do movimento, e da Era de resistência operária de Perus como um todo, pois a presença feminina como linha de frente dos piquetes e passeatas, do início ao fim, provou como as mulheres foram o esteio fundamental da cooperativa, e atuaram fora da Fábrica pela resistência, pelas suas famílias e pela comunidade.
Falar delas, as mulheres das famílias operárias, e equipará-las aos homens que de fato trabalharam nas fábricas, é primordial para entender o princípio dos movimentos e o desenrolar do futuro da Fábrica, das Vilas, e da Era da CBCPP, afinal a importância, o envolvimento e a participação delas nessa luta social foi tão significativa, que é intrínseca às conquistas e batalhas até hoje.
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Silos e Chaminés.
Créditos: Acervo Nelson Camargo.
Sala de maquinário.
Créditos: Acervo Nelson Camargo.
Perus em 1980. Telhados de casas de Perus cheios de pó de cimento. Foto: Paulo Leite (Agência Estado)
Foi em 1951 que a Companhia mudou de gestão, e o patrão José João Abdalla, político e empresário, que havia comprado a CBCPP e a EFPP, comandou e dirigiu a fábrica para tempos de incerteza, visando a elevação dos lucros sobretudo, tomou medidas que ocasionaram falta de manutenção de máquinas, diminuição de quadro de funcionários, e consequentes acidentes de trabalho, que ameaçaram a qualidade de vida e condições de emprego. Na década de 1960 a produção sofreu baixas e retrocedeu, não só na produção em si. Em 1954 as assessorias sindicais iniciaram para os operários uma orientação, e os anos seguintes contaram com muitas greves e paralisações em virtude do não cumprimento das leis trabalhistas, por parte da gestão e administração.
O expressivo grupo de sindicalistas optou pelo conflito pacifista para conseguir suas reivindicações, e a Não-violência se transformou de tática, na própria ideologia do grupo. Ao adotarem essa linha de trabalho, hoje chamada de Firmeza Permanente, lutaram na justiça, desde a primeira greve em 1958, referente à ajuste salarial, até a posterior e histórica greve de 7 anos.
Sabe-se que “Queixadas” foi a denominação dada aos trabalhadores grevistas, e àqueles que não aderiam, “pelegos”. A greve mais longa que se tem registro aconteceu na Cimento Perus, em 1962, por falta de descumprimento de acordos, e 7 anos depois, em 1969, obteve vitória parcial dos trabalhadores.
Apesar de ter sido uma determinação da justiça do trabalho ganha pelo lado dos funcionários, a greve, no entanto, não foi totalmente ganha. Os queixadas não estáveis não obtiveram direitos do benefício, muito menos de voltar à fábrica.
Em janeiro de 1969, com os resultados positivos nos tribunais, os 50 estáveis ganham o direito à indenização e de voltar ao trabalho. Só 309 voltaram às suas atividades. Muitos haviam morrido e outros escolheram permanecer em seus novos empregos.
Após o fim da greve em 1969, os operários até se empenharam em autogerir a Indústria, prosseguindo com 501 processos que denunciavam corrupção na CBCPP, até que em 1973 a Presidência da República confiscou a fábrica (confisco efetivado em 1974 pelo governo Geisel), e decretou falência. A empresa foi a “hasta pública”, sete anos após o confisco do governo, mas o próprio grupo Abdalla, arrematou em oferta única, tanto a Fábrica quanto as Pedreiras em Cajamar. Com a falência da fábrica, quem pagou os salários foi a União e não o Grupo Abdalla. O Governo depositou, em novembro de 1975, mais de 18 milhões de cruzeiros para pagar os salários dos queixadas.
Houve diversas paralisações no decorrer dos anos, até que em 1986 a Fábrica parou por falta de matéria prima. A Fábrica funcionou até março de 1987, com pouca capacidade. As constantes greves, queda drástica da produção, má gestão e falta de matéria-prima, fizeram com que ela não conseguisse recuperar seus antigos índices de fabricação, culminando em seu fechamento definitivo.
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Linha da Estrada de Ferro Perus
Pirapora em funcionamento, e rente à ensacadora da Fábrica de Cimento.
Créditos: Acervo Nelson Camargo.
Mesmo ângulo da foto anterior, em foto registrada na Jornada do Patrimônio de 2022. Autor: Ana Luisa.
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
PATRIMÔNIO QUEIXADA, ESQUE(CIMENTO)?
Em janeiro de 1987, o Governado de São Paulo da época, André Franco Montoro, tombou como patrimônio histórico do Estado, a Estrada de Ferro Perus-Pirapora pelo CONDEPHAAT. A linha férrea é umas poucas com bitola estreita do Brasil, ou seja, que tem 60 cm de comprimento entre os trilhos.
Então os operários juntaram-se em favor da preservação também do Conjunto Fabril, suas dependências, as vilas operárias, e o eucaliptal, com cerca de 23 alqueires e 16.770m2 de área construída.
Foi só em outubro de 1992, pela CONPRESP, que o Tombamento da Fábrica de Cimento em si e de todo o conjunto construído, que deu início ao bairro, se tornou realidade.
Pela importância histórica, o tombamento da Fábrica significou tanto para Perus quanto para o imaginário Queixada, o reconhecimento de uma série de fatores, entre os quais, destacam-se: o pioneirismo industrial, a importância no desenvolvimento da evolução urbana local, e o bem intangível, ou seja, a memória coletiva desde sua fundação, até o seu fechamento.
Planta da situação da Fábrica e Vilas Operárias. Fonte: Conpresp.
Em reconhecimento à tamanha contribuição e influência que a organização dos trabalhadores da fábrica teve na produção do Espaço e na construção da história dos habitantes de Perus, as edificações eleitas a serem preservadas foram: as Residências Operárias da Vila Triângulo, as Residências Operárias da VIla Portland, as Residências Operárias da Vila Fábrica, e as Casas de administração e assistência médica.
Mas o que deveria ter sido a decisão final, em 2004, houve uma revisão do processo, e o perímetro do tombamento foi reduzido, de forma que somente as edificações da CBCPP (complexo fabril), a Vila Triângulo, a Capela, e o Sindicato mantiveram status de proteção, e que as outras vilas anteriormente resguardadas, foram desprotegidas e demolidas.
O que resta da Fábrica hoje, ainda pode ser considerada símbolo da união operária do Brasil, pela repercussão e pelo modo pacífico pelo qual uma comunidade inteira buscou os seus direitos, pela forma ‘firmeza permanente’ que consistiu na não-violência, e transformandose até hoje, em uma referência. Um patrimônio material e imaterial.
FIRMEZA PERMANENTE: O CMQ E OS MOVIMENTOS
Após o tombamento da fábrica, se criou uma Comissão Pró-Centro de Cultura Operária de Perus, composta inicialmente pelos ex-funcionários da fábrica. Hoje, esse movimento em defesa da Fábrica de Cimento reúne diversos movimentos locais, atuantes historicamente na luta pela destinação pública da Fábrica.
Ao Movimento pela Reapropriação da Fábrica somaramse instituições científicas e outras organizações civis, resultando uma composição diversificada, com o mesmo objetivo, ou seja, fortalecer a pauta de lutas pela preservação e transformação da Fábrica e a finalidade de dar um papel social adequado ao seu valor simbólico e material como testemunho da construção fabril e como conjunto urbanístico e ambiental para a cidade, contribuindo para o desenvolvimento local sustentável, alicerçado na produção de conhecimento, nos valores humanistas, na cultura e na memória operárias.
O Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento, este nascido em 2013, propõe e reivindica melhores maneiras de preservar o patrimônio, garantindo acessibilidade, preservação, e perpetuação do mesmo na memória coletiva. O ideal é claro: criar um complexo cultural e recreativo, nas edificações e entorno da fábrica, para o usufruto digno da população, com suporte de atividades diversas ao bairro.
Ressaltam a vocação turística resultante da junção: CBCPP, Estrada de Ferro Perus Pirapora, e o Parque vizinho Anhanguera, de forma que a proximidade e equivalência atrativa destes personagens, para a cidade, caso fosse viabilizado, funcionariam como um polo cultural e histórico.
Algumas das reivindicações pontuais do Movimento Pela Reapropriação da Fábrica de Cimento, que há décadas luta pela desapropriação e destinação da Fábrica para uso público e social, são:
Instalação do Centro de Lazer, Cultura, e Memória do Trabalhador, segundo aspiração já antiga do movimento Queixada; Instalação de uma Universidade Livre e Colaborativa; Estabelecimento de um processo dialogado e participativo de diagnóstico com projeto voltado ao restauro da Fábrica; Constituir um espaço comunitário e cultural de gestão partilhada e autogerida;
Frizam que a gestão dos equipamentos deve ser democrática e pública, envolvendo horizontalmente a participação de todos os agentes a eles associados: moradores, trabalhadores, gestores, educadores.
Acervo da sede do CMQ, na Biblioteca Padre José de Anchieta. Foto: Ana Luisa
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Outro agente importante a qual se deve essa causa urbana e cultural, e também ao desenvolvimento deste trabalho em questão, o CMQ, Centro de Memória aos Queixadas, é atualmente encabeçado por mulheres, filhas e netas dos primeiros Queixadas.
Elas trazem a ideia da construção de um centro de preservação da memória e cultura surgido já em 1974. O CMQ sedia hoje na Biblioteca Padre José de Anchieta, e é o principal atual responsável pelo resguardo de um acervo extenso de documentos, registros, e obras da história de Perus, bem como intenciona que a comunidade compreenda o conceito do próprio patrimônio Queixada, e que se torne guardiã de suas memórias.
Para os Queixadas, já em 1974, o movimento em defesa da Fábrica, além de buscar o sonho de sua transformação em prol dos trabalhadores, deveria também considerar como tarefa importante transmitir todos os meios que acreditavam legítimos, de conquistas e vitórias, aos seus filhos ou às gerações vindouras.
Percebe-se então, que desde àquele momento, entendia-se a importância da articulação entre história, memória e escolas do bairro de Perus, como um processo de educação.
Pela ótica da gestão de governo, foi em 2003, que o vereador José Laurindo criou a Lei nº 13.549/03, autorizando ao Poder Executivo Municipal, a implantação do Centro Cultural da Fábrica de Cimento Portland Perus e do Centro Temático da Estrada de Ferro Perus-Pirapora integrados ao Anhanguera (maior parque em área verde da metrópole paulista). Ademais, esse projeto não
foi executado devido à falta de verbas públicas ou privadas, que viabilizassem os projetos de interesse da população local.
Acervo da sede do CMQ, na Biblioteca Padre José de Anchieta. Foto: Ana Luisa
Entretanto, o Movimento pela Reapropriação da Fábrica, bem como todos os que se envolvem direta ou indiretamente nessa tarefa de preservar a história e memória locais, vem efetivamente participando, desenhando e encontrando soluções, mesmo assim, por meio da ação solidária, para a construção da história dos oprimidos dentro das possibilidades e realidades existentes.
Pensa-se que utilizar os acontecimentos e a cultura locais junto aos conteúdos escolares pode-se produzir grande envolvimento de estudantes e professores das escolas de Perus. Entende-se que ações pedagógicas em torno da história e memória contribuem na constituição de uma identidade entre os moradores do bairro, mesmo que muitos jovens estudantes de hoje não tenham tido alguma relação com as pessoas que viveram o auge de funcionamento da Fábrica. Ademais, alguns passos importantes nessa direção vêm sendo dados, entre eles:
PARTE 2 ~ RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA
Relação escolas e Movimento: cada vez mais a relação entre escolas, currículo, processo de ensino-aprendizagem da história e memórias da comunidade se encaixam como aliadas e alinhadas na formação do sujeito como futuro atuante na sociedade, capaz de construir e aspirar outro modelo de sociedade;
A conquista por lei, do parque “A Luta dos Queixadas”, incorporado no PDE, 2014, que mesmo que ainda não executado, vem garantindo a preservação ambiental da área próxima à Fábrica de Cimento, e daria continuidade ao Parque Linear Ribeirão Perus (projeto de 2006 também ainda não executado);
Instauração do Território de Interesse da Cultura e da Paisagem (TICP) Jaraguá-Perus: aprovado no dia 30 de junho de 2014 e sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (Lei 16.050/2014), foi uma conquista importante pela criação de um novo instrumento urbano capaz de pensar a cidade de modo diferente, mais humano, e inserido no Plano Diretor de São Paulo 2014;
Frequentes produções artístico-culturais internas à comunidade: exposição de fotos, instalações, caminhadas, rodas de conversa, Café Filosófico, Atos Artísticos, oficinas, debates, trilhas de aprendizado, teatros, intervenções urbanas, grafites, jornada do patrimônio, audiências públicas, projetos sociais como “Cultura e Conceito”, em espaços como a Biblioteca Municipal Padre José de Anchieta, Cieja Perus, CEU Perus, Sindicato “de Cimento”, Comunidade Cultural Quilombaque, Atelier Dinas Miguel, escolas etc;
Disposição para diálogos, com o proprietário da Fábrica, a Câmara Municipal e órgãos responsáveis pelo patrimônio, na esperança de salvaguardar o bem tombado e desenhar um plano de massa, que restaure e atribua um uso público e social para a Fábrica de Cimento.
“Apesar dos planos não terem sido concretizados, o desejo de ver o conjunto fabril ltransformado em Centro Cultural ainda e vivo e mesmo passados trinta anos do fechamento da CBCPP existem ainda hoje, grupos que se articulam e apoiam a realização do projeto, alguns
deles: Comunidade Cultural Quilombaque, principal ponto de cultura local, grupo Pandora de Teatro e Movimento Pela Reapropriação da Fábrica de Cimento, composto por moradores do bairro e família dos operários. Toda essa história foi sendo transmitida ao longo dos anos por iniciativa dos atores locais (coletivos, educadores). Atualmente a Fábrica encontra-se em situação de abandono e deterioração, decorrência de intempéries e atos de vandalismo.”
Trecho do livreto “Patrimônio que te quero, viva! Exposição Cimento
Perus”, Governo do Eestado de São Paulo, e Secretaria da Cultura, Abril - Julho/2017.
PARTE 3 bairro Arruá, distrito Perus
Figura: Ruínas das dependências da Fábrica de Cimentos Portland, e chaminés. Fonte: Acervo pessoal.INSERÇÃO
Perus é um dos 2 distritos da Subprefeitura de Perus, situada na zona noroeste do município de São Paulo. O distrito possui área de 23,9km2, e 180.002 habitantes (2018). Faz divisa com os municípios de: Caieiras, Cajamar, Osasco, e Barueri.
A subprefeitura está inserida no que é, hoje, o principal eixo de desenvolvimento econômico do país, constituído pelas rodovias Anhanguera e dos Bandeirantes, conectando as cidades de São Paulo, Campinas e Ribeirão Preto ao Triângulo Mineiro.
A subprefeitura de Perus totaliza 57,20km2, e engloba seus 2 distritos: Anhanguera (33,30km2), e Perus (23,9km2). (Fonte: Infocidade).
Ampliação do Distrito de Perus
Ortofoto (2017) do extremo norte do distrito de Perus com marcação de diâmetro de 2km.
Fonte: Geosampa.
a gleba demarcada, de aprox.500.000m2 que está inserida no recorte de estudo é constituída por 3 lotes, todos com restrição de tombamento, porém não considerados como patrimônio ambiental, nem como área de proteção ambiental, e não contaminados. (Fonte: consulta SLC).
o recorte está entre uma mancha urbana adensada e consolidada, e um remanescente de corredor da mata atlância norte, este que deveria estar abrangendo e protegendo a aréa de preservação permanente, de mata ciliar, do corpo d’agua (ribeirão) que ali existe, mas não está.
esta quadra incorpora todo o complexo fabril tombado pela CONPRESP, bem como sua área envoltória, e a antiga e desativada EFPP também.
esta quadra abriga a maior escola estadual de São Paulo, a E.E. Gavião Peixoto, com 3400 alunos de Ensino Fundamental e Ensino Médio.
A antiga Av. Dr. Sylvio de Campos tem conexão futura planejada com o “Parque Anhanguera Ciclovia de Perus” (PA-PR-ID 131)
as vias coletoras e locais do raio de quadras próximas à Estação CPTM estão inclusas no Plano Emergencial de Calçadas e Território CEU.
a Estação Perus, linha Rubi da CPTM, é um patrimônio de Perus também tombado pelo CONDEPHAAT, e está a 400m (5 minutos/pedestre) da entrada existente para acessar a propriedade privada que loteia a fábrica.
Percurso de chegada em Perus, via CPTM, estação Perus (1867), antiga Estrada de Ferro SantosJundiaí. As estruturas dela são o único exemplar remanescente das estações pioneiras da primeira fase da companhia.
Observou-se, que além da estação da CPTM, há poucas transposições para pedestres e ciclistas, e que o córrego Ribeirão Perus, já exposto sem parte da sua APP, se encontra pressionado, pois a chegada de um projeto habitacional – um loteamento chamado Nova Perus Dois, proposto pela família Abdalla, proprietária da fábrica – nos arredores da antiga indústria, alerta para um olhar de proteção ao cenário e entorno delicado ali existente.
O Distrito de Perus possui grande potencial de intervenção urbana e paisagística, uma vez que demanda de incentivos ao engajamento da escolaridade infantil, oferta de espaços públicos em áreas verdes, equipamentos culturais que fomentem o envolvimento da numerosa população jovem, e por fim, que valorize-se a conservação do patrimônio ambiental e histórico ali existente.
Entre os anos 1980 e 2010, Perus multiplicou sua população 3,5 vezes, e o último recenseamento população foi de 180.000 habitantes (2018). Constata-se também que o IDH da subprefeitura é um dos mais baixos da cidade (0,73) e grande parte da população encontra-se nos grupos 5 e 6 de maior vulnerabilidade, segundo IPVS - Índice Paulista de Vulnerabilidade Social, 2010.
Apesar de ter os principais eixos de mobilidade como o Rodoanel Mário Covas e a Linha 7 Rubi da CPTM, que conecta o distrito aos outros municípios da RMSP, as vias locais são estreiras e sobre topografia acidentada, ocasionando acesso precário.
Percurso via pedestre para a entrada existente da Fábrica Perus, atualmente com acesso permitido eventualmente, com autorização e agendamento.
À direita Viaduto Doná Mora Guimarães (saindo)*, e à esquerda Viaduto Dep. Ulysses Guimarães (entrando*). *Sentido área de estudo.
“Desde 2000, o rápido aumento de publicações sobre o tema do desenvolvimento na primeira infância ultrapassou a tendência geral das publicações sobre ciências da saúde. (...) O número de países com políticas multissetoriais nacionais sobre o desenvolvimento na primeira infância aumentou de sete, em 2000, para 68, em 2014.”
Apoiando o Desenvolvimento na Primeira Infância: da ciência à difusão em grande escala.
Sumário Executivo da Lancet, pág. 3, disponível em <http://www.who.int/maternal_child_
adolescent/documents/ecd-lancet-execsummary-pr.pdf> (consulta em 18/10/2018).
Apoiado em evidências científicas que demonstram a importância do desenvolvimento integral na primeira infância para toda a vida – e, portanto, para toda a sociedade, a longo prazo – o propósito do projeto baseia-se na consolidação recente do conhecimento de que é nessa etapa da vida que se deve intervir para assegurar oportunidades iguais a todas e todos e, com isso, aumentar as possibilidades de ruptura do ciclo de pobreza das famílias em situação de vulnerabilidade.
Então, para criar vínculos locais de sociabilidade, e uma maior integração da escola com o desenvolvimento urbano da área, o projeto a se propôr incorporará a escala de um Parque Urbano, que oferecerá recursos lúdicos estimulantes, tanto para o público local de 1 a 12 anos, como também à população familiar, a fim de despertar a curiosidade pelo patrimônio histórico pré-existente e a cultura regional, com temáticas paralelas do gênero ambiental e artístico.
O programa do Parque incluirá programação especial para a comunidade de todas as idades, atuará como elemento aglutinador e potencializador das diversas instituições de ensino existentes em Perus (CEIs, EMEIs, EEs, EJAs, etc), e buscará protagonizar como parque educador na transformação do espaço público.
O Parque Anhanguera, vizinho localizado no outro distrito da subprefeitura de Perus, distrito Anhanguera, é o principal equipamento de lazer existente na região. Ele, em conjunto com os equipamentos de lazer dos 2 CEUs, atendem às demandas de cerca de metade da população da região, porém 41,1% reside a mais de 1 km de um equipamento municipal de esportes e lazer e 50,2% de um equipamento de cultura. Os principais equipamentos de interesse natural, cultural e historico da região são: O complexo da Fabrica de Cimento de Perus, que compreende a Fabrica, a Ferrovia Perus-Pirapora, a Vila Triângulo, o Sindicato Queixada e o Casarão Fazendinha, ambos atualmente desativados, tombados ou em processo de tombamento.
A relação do proposto projeto com o entorno surgiu da importante questão ambiental pela preservação, que contrasta com o elevado crescimento populacional constatado na última década, e que vêm se configurando em territórios de grande vulnerabilidade social, decorrendo, principalmente, de loteamentos irregulares, com infraestrutura precária, e ocupando as várzeas alagáveis do Ribeirão Perus, com risco geológico.
O tecido urbano do entorno do terreno da fábrica e da EE. Gavião Peixoto não está adequado às condições geomorfológicas e ao pedestre, o acesso viário não oferece passeios públicos qualificados, especialmente nas centralidades locais. Ao mesmo tempo que não existe uma conexão eficiente e proveitosa dos equipamentos educacionais, existem vazios urbanos intransponíveis, com valor e potencial culturais intrínsecos ao sítio pré-existente.
O distrito caracteriza-se como região remanescente de cobertura vegetal e conservação da biodiversidade sob forte pressão da ocupação urbana desordenada ou precária. A quantidade de áreas verdes (61,8 m²/hab) e de vegetação (266 m²/hab) é alta, se comparada às médias municipais, mas sua distribuição não é homogênea no território, com 78,7% da população residindo a mais de 1 km de parques, em especial pela localização e tamanho do Parque Anhanguera. Devido a ocupação das margens do ribeirão Perus, o distrito tem ocorrência de enchentes.
PÚBLICO ALVO
Objetivando a participação e vínculo de pertencimento ao espaço público, a oferta de opções de lazer que agreguem ao desenvolvimento integral da 1ª à 3ª Infância, e a promoção do bem-estar através do brincar ao ar livre, o público alvo principal do projeto urbano proposto é a população infanto-juvenil do subdistrito de Perus, abrangendo também, os seus familiares e comunidade na qual estão inseridos. Perus identifica-se como um distrito oportuno para abrigar múltiplas propostas de lazer e incorporar atividades lúdicas que estimulem aprendizagens e memória de pertencimento, abrigando horizontes de cidade brincante e oferecendo entornos urbanos lúdicos, para garantir uma experiência educativa ao ar livre, ou seja, sob uma diluição das fronteiras entre o interior/exterior.
NÚMERO DE CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS OUTROS NÚMEROS
3.591
matrículas em creche na rede municipal (acima da média de 3200/distrito)
No distrito de Perus habitam mais de 10.000 crianças, segundo a estimativa de 2018 da Fundação e Sistema SEADE de Projeções Populacionais.
COEFICIENTE DE MORTALIDADE INFANTIL
O coeficiente de mortalidade infantil é mais uma marca da desigualdade na cidade de São Paulo, que apresenta taxas distritais variando de 0 a 21,3 óbitos por mil nascidos vivos.
Perus registra o altíssimo coeficiente de 19.0, o segundo maior número dos distritos de São Paulo, ficando só depois de Artur Alvim.
2.275
matrículas em pré-escola na rede municipal (próximo à média de 2311/distrito)
45-50%
das crianças 0-5 anos não vai à escola
19-27%
das crianças vivem em casa com nenhum familiar com enfino fundamental completo +21 unidades educacionais (berçário a EJA) num raio de 1km da EE. Gavião Peixoto
Fontes: Caderno do Plano Municipal pela
Primeira Infância, e Atlas da Vulnerabilidade Social - IPEA -IVS.
Como já tratado ao longo de todo o desenvolvimento do trabalho até aqui, no que diz respeito à caracterização da comunidade de Perus, sabe-se que já existem movimentações internas à população, levantados pela preocupação e insatisfação, referente ao destino e uso ainda imaginário, mesmo com inúmeras requisições, do espaço da Fabrica de Cimento do bairro de Perus: “A Fábrica, para nós, é um potencial para artes, cultura, conhecimento, lazer e desenvolvimento sustentável da região; por isso, nosso apelo para participar do debate sobre esse ou qualquer outro projeto habitacional ou não, que resulte em impactos para o bem tombado, para seu entorno e, sobretudo, para o bairro, cuja vida já não é nada fácil para quem nele vive”, aponta o Movimento pela Fábrica de Cimento em Perus.
Analisa também o professor Euler Sandeville, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), sobre levar em considerações as questões ambientais e culturais da região, com estudos de impacto paisagístico e ambiental, e viabilidade: “Não é sobre ser contra o projeto do empreendedor, mas respeitar o interesse público que tem que ser muito maior que o ganho dele. Temos que considerar a luta dos Queixadas, a necessidade de se preservar a vegetação ciliar, os rios da região. É possível pensar em usos mistos, mas é essencial consolidar a ideia do parque”
PARTE 4
Figura: Vista de dentro do lote da Fábrica de Cimentos com Linha Rubi CPTM abaixo e ao centro Fonte: Acervo pessoal.CURVAS DE NÍVEL+ HIDROGRAFIA
Corpos D’água: ribeirão, nascente, córregos. Curvas de nível Mestras (5 metros de disnível)
COBERTURA VEGETAL
Maciços florestais heterogêneos e bosques urbanos de altura média 12m
Baixa cobertura arbórea, arbóreo arbustiva, ou arborescente
Maciços florestais homogêneos
Mista altura média 2,5m
Floresta e Vegetação de várzea ou de brejo
A paisagem desse território é caracterizada pelos mares de morros que se sucedem, com muitos rios que desaguam no rio Juqueri, como o ribeirão Perus com os córregos Ajuá e Andando e o Santa Fé e algumas áreas mais elevadas como o Jaraguá e a Cantareira. O distrito caracteriza-se como região remanescente de cobertura vegetal e conservação da biodiversidade sob forte pressão da ocupação urbana desordenada ou precária.
A quantidade de áreas verdes (61,8 m²/hab) e de vegetação (266 m²/hab) é alta, se comparada às médias municipais, mas sua distribuição não é homogênea no território, com 78,7% da população residindo a mais de 1 km de parques, em especial pela localização e tamanho do Parque Anhanguera.
REMANESCENTES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA CORREDORES ECOLÓGICOS
Corredor da Mata Atlântica Norte Campos Gerais Mata Ombrófila Densa
O recorte encontra-se na Bacia do Rio Juqueri, e majoritariamente na microbacia do Ribeirão dos Perus. Devido a ocupação das margens do ribeirão Perus, o distrito tem ocorrência de enchentes. Percebe-se também que a área de preservação permanente, que deveria existir com 30 metros (no mínimo) de resguardo com mata ciliar para proteger o corpo d’água ali presente (córrego com corpo de 10m de projeção horizontal em largura, escoamento primário), não está sendo respeitada e já encontra-se prejudicada.
PARTE 4 ~ LEITURA URBANA
CORTES TRANSVERSAIS NO TERRENO EXISTENTE
Escola Estadual Gavião Peixoto Complexo da Fábrica Rua Padre Manoel Campello Vila Triângulo Ribeirão Perus
CORTE BB
Rua Mogeiro Complexo da Fábrica Ribeirão Perus
CORTE CC
CORTE DD
Rua Mogeiro Capela São José Vila Triângulo Ribeirão Perus
CORTE EE
Rua Mogeiro Complexo da Fábrica
Ribeirão Perus
Escola Estadual Gavião Peixoto
TERRITÓRIOS E RUAS RELEVANTES
RUA ANTÔNIO MAIA
RUA PADRE MANOEL CAMPELLO
RUA MOGEIRO
AV. DR. SYLVIO DE CAMPOS
BERÇÁRIOS, CRECHES E ENSINO INFANTIL
1 CEI CORRE COTIA
2 CEI JACOB SALVADOR
3 CEI GABRIELA MISTRAL
4 VILA PERUS CRECHE MUNICIPAL
5 CEI PEQUENO PRÍNCIPE
6 CEI GRANDE PRINCIPE
7 CEI RECANTO DOS HUMILDES
8 CEU EMEI JORGE AMADO
9 EE MANUEL BANDEIRA
BIBLIOTECAS
ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
10E.E. GAVIAO PEIXOTO (EF, EM, EJA)
11 GLOBAL SAO PAULO INST. EDUCAÇÃO (EF, EM)
12 EMEF FERNANDO GRACIOSO (EF)
13 COLÉGIO DA PAZ (CRECHE E EF)
14 TEREZA GIL DE MOURA INST. EDUC. (CRECHE, EF, E EM)
15 EMEI OLIVEIRA LIMA
16 CEU PERUS EMEF
17 ANNA TAVARES (CRECHE, EF, E EM)
18 EMEF CÂNDIDO PORTINARI (EF, EJA)
19 EE SUZANA DE CAMPOS
BIBLIOTECA PADRE
JOSÉ DE ANCHIETA
PRAÇAS CEU/CEL OUTROS NÚMEROS
COMUNIDADE QUILOMBAQUE GRUPO CMQ
GRUPO PANDORA DE TEATRO
RODOVIAS E VIAS PRINCIPAIS
POLOS CULTURAIS TRANSPORTE PÚBLICO
RODOVIA BANDEIRANTES
AV. DR. SYLVIO DE CAMPOS (conexão futura planejada com o “Parque Anhanguera Ciclovia de Perus” (PA-PR-ID 131);
RUA MOGEIRO
RUA ANTÔNIO MAIA (inclusa no Plano Emergencial de Calçadas e Território CEU.)
PRAÇA DO SAMBA
PRAÇA INÁCIA DIAS CEU Perus
CEL Centro de Esporte e Lazer Perus (fora raio 1km estudo)
ESTAÇÃO CPTM
LINHA RUBI PERUS
ciclovias, ciclorrotas, bicicletários ou paraciclos
PLANO REGIONAL DA SUBPREFEITURA
O recorte de estudo encontra-se no P.A. ID 138 “Centralidade Estruturadora de Perus”, e no ID 360 “Território de Interesse da Cultura e Paisagem” Perus-Jaraguá.
PERÍMETRO DE AÇÃO ID-138 “CENTRALIDADE ESTRUTURADORA DE PERUS”
A área envoltória do recorte prevê: 3 Parques, Caminho CEU (SMDU), Plano Emergencial de Calçadas (PEC 2008), Ciclovia de Perus, conexão terminais Perus e Anhanguera, corredor ônibus, e qualificação do entorno CPTM Perus, dos acessos principais, das vias, e do fluxo peatonal.
TICP - PERUS JARAGUÁ ID-360
O Território de Interesse da Cultura e da Paisagem Perus- Jaraguá engloba os distritos de Perus, Anhanguera, Jaraguá e se estende parcialmente no distrito de Pirituba. Caractetiza-se pela presença dos patrimônios tombados (14), pontos de interesse ambiental (20), cultural (30), remanescentes de MA, equipamentos educacionais (27), e por compôr uma área de diversidade cultural social e ambiental. Os Territórios de Interesse da Cultura e da Paisagem (TICP) são um novo instrumento para a gestão urbana, aprovado mediante iniciativa popular, no Plano Diretor de São PauloLei 16050/2014. Abrange diversos equipamentos culturais, ambientais e educacionais existentes.
Caracteriza-se pela presença de equipamentos culturais, patrimônios tombados e a atuação de movimentos e coletivos, juntamente a característica ambiental, representada por parques, remanescentes de vegetação da Mata Atlantica e áreas verdes, que formam um cinturão verde e compõem o perimetro como um ponto de diversidade cultural, social e ambiental.
Tem como objetivos: Atender a demanda por equipamentos e serviços públicos sociais, especialmente de cultura, qualificar os espaços livres públicos, e os parques existentes, resolvendo especialmente as questões de atendimento às demandas da população, implantar os parques planejados, promover a conservação das paisagens e do patrimônio material e imaterial da região, promover a recuperação e conservação ambiental dos cursos d´água e das áreas verdes, e amenizar os problemas de saneamento ambiental como manejo de águas pluviais (drenagem).
(Lei 16.402/2016)
As importantes questões ambientais e de preservação de Perus contrastam com o elevado crescimento populacional constatado na última década, o que configurou territórios de grande vulnerabilidade social. Essas áreas apresentam densidade demográfica maior ou igual a 400 habitantes por hectare, decorrendo, principalmente, da expansão de loteamentos irregulares, com infraestrutura precária, ocupando as várzeas alagáveis do Ribeirão Perus e áreas de risco geológico, concentradas, majoritariamente, no Morro Doce. Grande parte dessas ocupações irregulares foram demarcadas como ZEIS no Plano Diretor Estratégico
- PDE (Lei 16.050/14) e Zoneamento (Lei 16.402/2016), entretanto, necessitam de projetos de reurbanização, regularização fundiária e instalação de equipamentos e serviços públicos para melhoria da qualidade de vida da população.
Área Envoltória CONPRESP R.A.E Conjunto Ferroviário de Perus, RES. 14/2015;
Bem Tombado - Vila
Triângulo e Antiga Fábrica de Cimento Portland, Tipologia: Vila/Conjunto, nível ZEPEC-141, ano tombamento 1992.
1 Conjunto da Estação de Ferro PerusPirapora. RES.
14/2015 CONPRESP, e 08/11/2011
CONDEPHAAT.
2 Sede do Sindicato dos Trabalhadores da antiga Insdústria de Cimento
3 No ano de 2004 o processo passou por revisão e o perímetro de tombamento foi reduzido, portanto algumas vilas operárias foram demolidas assim que desprotegidas.
Traçado da Antiga Estrada de Ferro Perus Pirapora
O centro de Perus interliga-se ao Distrito Anhanguera pela Avenida Sylvio de Campos e Estrada de Perus, cortando o Parque Anhanguera e conectandose à rodovia de mesmo nome. Entre a Rodovia dos Bandeirantes e a ferrovia, encontra-se uma área de grande vulnerabilidade social, localizada próxima ao Aterro Bandeirantes. Ao Norte, pela Rua Mogeiro que cruza a Avenida Sylvio de Campos, tem-se acesso a uma extensa área vazia onde localizou-se a primeira fábrica de cimento do Brasil, Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus, e duas vilas operárias onde residiam funcionários da empresa, Vila Triângulo e Inácio, e instalações da antiga Estrada de Ferro Perus-Pirapora, incluindo a edificação conhecida como Casarão da Ferrovia (ou do “M”) e a Casa de Tráfego, todas objetos das Resoluções de Tombamento do CONPRESP 27/92, 36/92 e 19/2004. Adjacente à gleba da fábrica, está em fase de licenciamento um conjunto habitacional denominado Uno Nova Perus, onde se pretende abrigar
5.000 famílias, e prevista a implantação do Parque Linear Luta dos Queixadas, em homenagem aos movimentos sindicais e lutas populares que marcaram a região pela presença característica de bairro operário desde os primórdios de sua ocupação.
Portaria (NP2)
EDIFICAÇÕES DA CBCPP MANTIDAS NO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO REDUZIDO
Casas Vila Fábrica (desprotegidas)
Silos de Cimento (NP2)
Escritório (NP2) Ensacadora (NP2) Forno Resfriador (NP2)
Britador (NP2) Subestação (NP2)
Silos de Matéria Prima (NP2)
Edificação do Britador (NP2) Oficina Mecânica (NP2) Chaminés (NP2)
Casa de Tráfego (NP2) Tripper (NP2)
Capela São José (NP2)
Vila Triângulo (NP2)
Casarão do M
Dep. Pedrasde(NP2)
*Nível de preservação 1 (NP1) preservação integral de edifícios Laboratório de Engenharia (NP2)
Refeitório (NP2)
Dep. Peçasde(NP2)
Instalações protegidas da CBCPP dentro do perímetro atual e vigente de tombamento 3
Dep. de Clinquer (NP2)
4 6 8 9
11 12 13 14 15 16 17
19
7 5 2 10 18 20 21
Casas da Assistência Médica (desprotegidas)
Vila Portland (já demolida)
Casas da Administração (já demolidas)
Durante o trajeto a pé pelo percurso existente no terreno da antiga CBCPP, é notável e comovente o estado de deterioração avançada da maioria de seus equipamentos e edificações remanescentes, ao mesmo tempo que impressiona a permanência, por exemplo, dos maquinários, ou da matéria prima no antigo depósito de pedras (imagem 14), como se o complexo da fábrica tivesse sido abandonado em operação há pouco tempo e às pressas
Devido ao seu estado atual de péssima conservação, apenas alguns poucos edifícios do complexo apresentam potencial de reforma com preservação das características arquitetônicas internas e/ou externas, de forma a reativar o uso/função do equipamento, que não de apenas ruínamonumento. Seriam eles, o Refeitório/Restaurante, o
Casarão do M, o Laboratório de Engenharia, a Capela São José, a Vila Triângulo, o Depósito, a Ensacadora, e parte da Subestação.
Foram analisadas as seguintes problemáticas durante a etapa de estudo da leitura urbana de Perus:
Ocorrência de enchentes, com distribuição de áreas verdes não homogênea, e 78,7% da população residindo a mais de 1 km de parques; percursos entre os diversos equipamentos educacionais infantis encontram-se precários e muitas vezes perigosos;
41,1% da população residindo a mais de 1 km de algum equipamento de esportes e lazer e 50,2% de um equipamento de cultura;
O principal equipamento de interesse natural, cultural e histórico da região está tombado mas desativado e inacessível, sem uso ou manutenção: O complexo da Fabrica de Cimento de Perus;
As carências indicam que é necessário ampliar a oferta de equipamentos para o público infantil, o atendimento social para crianças, adolescentes, jovens e idosos;
Portanto, elegeram-se as seguintes potencialidades:
Requalificar o tecido urbano da região, adequando a urbanização às condições geomorfológicas e à escala do pedestre, atentando para dimensões de quadras e frentes de lotes; promoção da melhoria da circulação de pedestres e a requalificação paisagística;
Melhorar passeios públicos, criar ciclovias, espaços livres qualificados e áreas de lazer, especialmente nas centralidades locais e conexões entre bairros distantes;
Recuperar e preservar áreas com vegetação remanescente da Mata Atlântica, conforme PMMA;
Garantir a permanência e preservação dos patrimônios naturais e culturais, principalmente o complexo Portland, que tem potencial turístico e de diferencial histórico para o Parque, em escala estadual.
Implantar o Território de Interesse da Cultura e Paisagem – Perus-Jaraguá, com o Parque Queixadas como protagonista e agente principal de ação.
O Distrito de Perus possui grande potencial de intervenção urbana e paisagística, uma vez que demanda de incentivos ao engajamento da escolaridade infantil, oferta de espaços públicos em áreas verdes, equipamentos culturais que fomentem o envolvimento da numerosa população jovem, e por fim, que valorize-se a conservação do patrimônio ambiental e histórico ali existente.
O projeto de Parque a se propôr a seguir neste trabalho surgiu da importante e necessária visão pela questão ambiental da preservação, que contrasta com o elevado crescimento populacional constatado na última década no distrito, e que vêm se configurando em territórios de grande vulnerabilidade social, decorrendo, principalmente, de loteamentos irregulares, com infraestrutura precária, e ocupando as várzeas alagáveis do Ribeirão Perus, com risco geológico, e que não melhoram a qualidade de vida.
A fim de criar vínculos locais de sociabilidade, e uma maior integração das escolas com o desenvolvimento urbano da área, o projeto incorporará a escala de um Parque Urbano, regional em dias de semana, e municipal/metropolitano em fins de semana, que oferecerá recursos lúdicos estimulantes, a fim de despertar a curiosidade pelo patrimônio histórico pré-existente e a cultura regional, com temáticas paralelas do gênero ambiental e artístico.