Do regresso à escola – sobre o peso e a leveza dos tempos e modos [“Bem aventuradas sejam as colegas mais novas com paciência para ensinar as mais... experientes.”]
Conceição Pimenta
Sobre o voltar para casa_o previsível inesperado Habituada à máscara e a distinguir os alunos pela voz e pela constituição física, sem lhes conhecer o rosto, espantada pela descoberta do quanto são capazes os olhos e acostumada a neles reconhecer sorrisos, volto para casa como um condenado cheio de privilégios. O primeiro dia do segundo confinamento teve o sabor do despertar na solitária de uma prisão para crimes de colarinho branco. Não é mau, mas também não é bom. Se da primeira vez não estava preparada, desta vez ainda não estava pronta. Sobre a noção de tempo_da negação à aceitação Viver numa era de pressas cada vez mais dominada por avanços tecnológicos tão céleres, faz-me sentir que estou sempre atrasada em relação a qualquer coisa. Mas se a idade não ajuda, a vontade de não ficar para trás tem-me contemplado com uns valentes safanões. Confesso que estou cansada de ser obrigada a aprender a lidar com tanta mudança. São tantas as vezes em que tenho de recomeçar, sem antes ter cicatrizado as feridas provocadas pelas aprendizagens de novos recursos digitais, que começo a duvidar se serei capaz. Pelo sim, pelo não, o melhor é não contrariar a natureza e assumir que não passo de um espírito inquieto. (Google Forms, oh God!) Reclamar primeiro, sempre. Dizer que não, que nem pensar, que já não tenho que me esforçar mais, que já estou perto da idade dourada e que começo a sonhar com a aposentação. (Google Forms? Era o que faltava! Não faço! Escrevo tudo em Word e envio aos alunos em PDF.)
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