IRACI JOSÉ MARIN é professor aposentado (RS) e advogado em Caxias do Sul. Publicou contos em diversas Revistas e obras de ficção, bem como artigos e obras de pesquisa sobre a etnia polonesa. Acaba de lançar HISTÓRIAS DE ONTEM, com textos curtos para o mundo infantil e juvenil.
APRENDIZ Seu João era ferreiro. A ferraria ficava ao lado da casa onde morava e ambas eram de madeira, sem pintura. Era uma das poucas casas de um vilarejo perdido entre morros, na beira de um riacho. O ferreiro era uma pessoa valorizada entre os habitantes do lugar porque fazia instrumentos para o trabalho na lavoura: facões, enxadas, arados, foices e até ferradura para cavalos. Mais tarde, descobri que sua importância ia além disso. Inúmeras vezes eu observava o trabalho dele. Às vezes, ajudava. Quando percebia o vento saindo do fole que puxava, fazendo o carvão ficar brasa, eu sentia uma espécie de triunfo e vibrava. Seu João colocava o ferro no braseiro e esperava avermelhar, depois batia com força nele, em cima da bigorna, dando-lhe forma. Dali saía um facão, uma enxada, uma foice. Às vezes, ele ia bem cedo até um pequeno bosque próximo ao riacho para fazer carvão. Certa manhã eu fui ver como ele fazia. Abria um buraco na terra, comprido e pouco fundo, e enchia de galhos de árvores e tronco de arbustos. Depois, cobria tudo com a mesma terra do buraco. Colocava fogo nos gravetos 41