Revista Poder | Edição 113

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ISSN 1982-9469

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R$ 14,90

FEVEREIRO 2018 N.113

OSSO

O escritor inglês GREG MCKEOWN explica por que aprender a dizer não faz bem para os negócios

MANTRA

GRÃO

amarílio macêdo costurou um pacto entre os meios empresarial e político que fez o Ceará crescer e melhorar. Agora, está focado em colocar mais fermento no Grupo J.Macêdo, que vende farinha de trigo, macarrão, biscoito e massa para bolos E MAIS

O palco democrático de FLÁVIO IMPÉRIO; JULIANO SEABRA, da Endeavor, e o novo momento do empreendedorismo brasileiro; o luxo sem afetação do resort mexicano Las Ventanas al Paraiso; motorhomes que dão vontade de cair na estrada; e gadgets para tirar a preguiça da área

Só a ética – e uma visão desapaixonada do mundo – salvam, segundo o filósofo RENATO JANINE RIBEIRO

OUTDOOR MILTON NEVES

mistura jornalismo e merchandising sem medo de ser feliz


poder

ĂŠ


Quanto melhor a pergunta, melhor a resposta. E melhor se torna o mundo de negรณcios.


FOTOS DIVULGAÇÃO; PEDRO DIMITROW

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SUMÁRIO 5 6 10

18

EDITORIAL COLUNA DA JOYCE FARINHA DE OUTRO SACO

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Amarílio Macêdo aproximou o mundo corporativo e político no Ceará, e agora só quer saber de fazer o Grupo J.Macêdo crescer

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FILÓSOFO PAZ & AMOR

50

Renato Janine Ribeiro faz uma leitura imparcial do momento conturbado que o país enfrenta 24

FOGO NO CIIRCO

Milton Neves: inovação na comunicação esportiva e merchandising explícito 30

SEXO FORTE O trabalho de Marly Parra, da

EY, para aumentar a presença feminina na selva empresarial 32

ESTADO MÍNIMO

O que é essencial para o autor inglês Greg McKeown 38

ALMOÇO DE PODER

Juliano Seabra, da Endeavor, fala sobre a evolução do empreendedorismo brasileiro

A NOVA ALMA DO NEGÓCIO

Ética e direitos humanos invadiram as aulas DISCUTINDO A RELAÇÃO

Um Caminho para Dois: viagem pelo sul da França e crise no casamento ¿QUE TAL?

O luxo sem afetação do resort mexicano Las Ventanas al Paraiso 54 56

PODER VIAJA O PALCO NUNCA MAIS FOI O MESMO

A revolução de Flávio Império na cenografia teatral 60 62

É DE PODER CAR SWEET HOME

Motorhomes para cair na estrada muito bem acompanhado 66 70 72 76 77 78 79 80

COZINHA DE PODER HIGH-TECH CULTURA INC. UNIVERSO PARTICULAR ESTANTE POLE POSITION CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

AMARÍLIO MACÊDO POR ROBERTO SETTON

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder


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PODER JOYCE PASCOWITCH 3


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PODER EDITORIAL

ue as coisas iam ferver no ringue político em 2018 ninguém duvidava. Mas as notícias que andam ocupando o noticiário ultimamente mostram que a temperatura pode ficar muitos graus acima das previsões de especialistas e videntes. É por isso que nessas horas é sempre bom ser capaz de pensar sem o fígado. Felizmente, ainda existe gente assim – e esta edição tem vários exemplos. Um deles é Amarílio Macêdo, presidente do conselho de administração do Grupo J.Macêdo. O empresário cearense, que está em nossa capa, contou ao editor contribuinte Paulo Vieira que segurou a vontade de se tornar governador do estado mesmo depois de conseguir uma ponte inédita entre o empresariado e o governo que mudou a política do estado para sempre. Outro, o filósofo Renato Janine Ribeiro, rifado do Ministério da Educação do governo Dilma Rousseff, é incapaz de fazer uma análise visceral da política (e da antiga chefe) – e, vamos combinar, ser ministro durante menos de seis meses não é exatamente bacana para o currículo de um acadêmico notável como ele. Já o escritor inglês Greg McKeown criou para o mundo corporativo um sistema, que ele chama de essencialismo, em que fazer uma pausa para discernir o que realmente importa tem mais valor do que sair reagindo ao que parece urgente. E é para ficar antenado com esses novos velhos temas – ética e direitos humanos, por exemplo – que universidades como Yale, Harvard, Stanford e a paulistana Fundação Getulio Vargas estão encaixando esses temas em seus cursos. Mas, como tudo tem dois lados, quando as coisas ficam certinhas demais pode ser meio chato. Pois temos o antídoto para isso também: Milton Neves, que topou fazer fotos todo cheio de estilo, dá uma cor especial ao jornalismo esportivo, campo que anda ficando perigosamente sem sal. Na entrevista ao repórter Fábio Dutra chutou o media training e falou sem censura. Saravá, que tem mais cor por aqui: no Pacífico mexicano, o luxo despretensioso do resort Las Ventanas al Paraiso; na cenografia revolucionária de Flávio Império e nos motorhomes para viagens tamanho família. E a viagem está só começando…

G L A M UR AMA .CO M


ELDORADO

Virou ponto turístico em Salvador o endereço onde GEDDEL VIEIRA LIMA escondia as famosas malas lotadas de dinheiro. Até PODER passou por lá para conhecer o agora mítico prédio José da Silva Azi, na rua Barão de Lorêto, no bairro da Graça. Virou o must dos motoristas de táxi que circulam por ali.

Enquanto a cidade de São Paulo comemorava o aniversário de sua fundação, em 25 de janeiro, na Bahia a comemoração era outra: Emilio Odebrecht festejou seus 73 anos na casa que tem na praia de Busca Vida, litoral norte de Salvador. Discretamente, em família.

ESCALA 1

Depois que o Supremo Tribunal Federal decidiu que não é preciso autorização das assembleias legislativas para processar governadores, o itinerário eleitoral ganhou uma nova estação depois do Tribunal Superior Eleitoral: o Superior Tribunal de Justiça.

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ESCALA 2

Cerca de 15 governadores – alvos de inquéritos ou de ações – terão sua sorte decidida pelo STJ. O espaço para a tão decantada candidatura alardeada como “de centro” (leia-se GERALDO ALCKMIN) pode ser definido ali. O governador de São Paulo, que já responde a um inquérito por conta da delação da Odebrecht, logo enfrentará outra encrenca: a acusação da Camargo Corrêa sobre a formação de cartel para as obras do metrô. A concorrência, não das empresas, mas da disputa eleitoral, acompanha o assunto com muito interesse – e diz-se nas alcovas que a tropa do presidente Michel Temer tem esse assunto na ordem do dia.

FOTOS PAULO FREITAS; ISTOCKPHOTO.COM; AGÊNCIA BRASIL; REPRODUÇÃO ; DIVULGAÇÃO

FOLIA DE REIS


PAPAGAIO DE PIRATA

A grande maioria dos poderosos que esteve presa em Curitiba por conta da Operação Lava Jato só tem elogios a NEWTON ISHII, o famoso Japonês da Federal. E não só eles: as respectivas famílias ficaram particularmente satisfeitas com o tratamento dispensado por ele aos fora da lei.

A CIDADE E AS SERRAS

A primeira-dama da Bahia, Aline Peixoto, que é do interior e adora a vida no campo, povoou os jardins do Palácio do Governo, no alto de Ondina, com cabras, bezerros, galinhas e outros animais. O governador, Rui Costa, aprovou – e quem visita o local também.

Hamster

JOÃO SANTANA, o outrora todo-pode-

Wally

Pouca gente notou um detalhe curioso na história de TAIANA CAMARGO, a amante do doleiro Alberto Youssef que posou nua para uma revista masculina nos primeiros tempos de Lava Jato, e que está agora casada com outro investigado da mesma operação, Alexandre Margotto, delator e ex-sócio do explosivo Lúcio Funaro. O advogado de Margotto é Jorge Delmanto Bouchabki, o Jorginho da rua Cuba, envolvido num crime que marcou a sociedade paulistana em 1998 [Bouchabki foi acusado de matar os pais e o caso até hoje não foi solucionado por falta de provas].

roso marqueteiro do PT, tem enfrentado obstáculos, digamos assim, para se exercitar no dia a dia. Em prisão domiciliar em sua casa de veraneio na praia de Interlagos, ao norte de Salvador, ele teve que demarcar o limite de movimentação permitido pelo monitoramento da tornozeleira eletrônica que é obrigado a usar. Resultado: caminha para a direita e depois para a esquerda para não exceder os limites de sua restrita liberdade.

APOSTANDO ALTO 1

JORGE PAULO LEMANN está aumentando cada vez

mais sua participação na Canadian Natural Resources Ltd. No mercado, o comentário é que ele estaria agindo discretamente para assumir o controle da empresa. A questão é: por quê? O segmento é diferente dos outros nos quais atua – e ele também anda comprando ações da ExxonMobil, da British Petroleum e da Shell. Só não da Petrobras... Lemann já tem cerca de 1,5 milhão de ações da empresa canadense, ou cerca de 70 milhões de dólares canadenses em papéis. PODER JOYCE PASCOWITCH 7


LIFTING

Tem chamado a atenção do mercado o trabalho de German Carmona à frente da estratégia de comunicação da Gol Linhas Aéreas. Trazido da Air France em março de 2017, Carmona não completou nem um ano no cargo, mas já revolucionou a imagem da marca – agora muito mais “sexy”, para o usar o jargão publicitário quando uma marca gera desejo de consumo.

O que eu espero, senhores, é que, depois de um razoável período de discussão, todo mundo concorde comigo SIR WINSTON CHURCHILL

3 PERGUNTAS PARA...

QUAL A DIFERENÇA ENTRE EDGE E FOG COMPUTING?

Fog significa névoa, o que, no caso do processamento de dados, significa deixar uma parte das informações no computador e enviar a outra, a mais complexa, a do cruzamento de dados, para a nuvem. O edge computing foca só o lado do que é retirado da nuvem; já o fog tem, digamos, um olhar mais integrado, ou seja, você processa alguns dados localmente para evitar o envio de muitos dados para a nuvem, o que representa alto consumo de banda larga, sem falar nos custos, que também não ficam atrás. EDGE COMPUTING E FOG COMPUTING VIERAM PARA SUBSTITUIR A NUVEM?

Na verdade, as tecnologias são cíclicas, uma não substitui a outra. São ondas que vão e voltam de acordo com a evolução dos softwares e hardwares. No começo, havia os mainframes para armazenar as informações, e os computadores eram burros, já que eram constituídos apenas por uma tela e um teclado. Pode-se dizer que o mainframe tinha funcionamento semelhante ao da nuvem por centralizar as informa-

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ções. No PC, ou personal computer, a maior parte do processamento de dados passou a ser realizada na própria máquina para evitar sobrecarga na nuvem – no caso, a ideia era mandar parte das informações para as “bordas” da nuvem, o conceito de edge computing. Ou seja, falamos de um aliado que ajuda a utilizar a nuvem de maneira mais eficiente. Processar e armazenar informações têm custo baixo, o que encarece de verdade o processo é a banda e o uso da rede. Então, quando você faz o processamento local e manda para a nuvem só os dados consolidados, acaba economizando dinheiro. COMO AS EMPRESAS PODEM LIDAR DE MANEIRA MAIS VANTAJOSA QUANDO SE TRATA DE PROCESSAR DADOS?

No caso de processamentos complexos não vale a pena usar a máquina, o servidor ou comprar um pacote grande de equipamentos para tentar realizar o processamento localmente. Se o processo for repetido muitas vezes, talvez valha a pena em termos de custo. Mas se for um projeto eventual, o melhor é terceirizar essa parte –

uma tendência em cloud computing, aliás. Para ter sucesso em um projeto de cloud, é preciso pensar também no que vai ser alocado na nuvem – até por questões de segurança, já que você está entregando dados para um terceiro que pode utilizá-los de forma indevida. Não existe garantia. Por isso, há setores altamente regulamentados, caso dos bancos, por exemplo, que não podem armazenar dados na nuvem porque isso significaria a possibilidade de deixar informações dos clientes desprotegidas. Por isso, um bom projeto considera o que você vai deixar alocado nas máquinas (edge computing) e o que irá ser processado na nuvem.

FOTOS ISTOCKPHOTO.COM; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

MARCOS SIMPLICIO JUNIOR, professor e pesquisador do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP)


EM FEVEREIRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...

• Programar-se para tirar férias rápidas a fim de acompanhar o sétimo Música em Trancoso, festival de música clássica, que acontece de 3 a 10 de março no vilarejo baiano, no Teatro L’Occitane. A programação já foi definida e os ingressos estão à venda pela internet

• Conferir a exposição Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil, a primeira inteiramente dedicada à artista brasileira nos Estados Unidos, que abre dia 11 de fevereiro no MoMA, em Nova York

• Visitar a Tate Modern, em Londres, para conferir a imperdível exposição de Amedeo Modigliani, que fica até o início de abril por lá • Alternar treinos de alta intensidade com pilates e ioga para enfrentar melhor seus desafios durante o ano • Escolher uma ONG ou um trabalho voluntário para se dedicar • Aproveitar os fins de tarde de verão e tentar curtir mais o pôr do sol

• Incluir Patagônia, na Argentina, e Atacama, no Chile, entre suas viagens deste ano

• Pesquisar os melhores restaurantes de São Paulo – são muitos! – e tentar ticar a lista dos top até o fim do ano

MINHA CASA, MINHA VIDA

O item nem é exatamente tão valioso. Mas é icônico! os herdeiros do todo-poderoso Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, ainda não decidiram quem vai ficar com o apartamento que o político deixou no conhecido Edifício Oceania, na Barra, em Salvador. Nem é tanto pelo valor financeiro, pequeno perto da fortuna que ACM amealhou em vida, mas por se tratar de um dos mais desejados endereços da cidade, um marco arquitetônico.

com reportagem de fábio dutra e aline vessoni PODER JOYCE PASCOWITCH 9


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FARNEL

FARINHA DE

OUTRO SACO

Amarílio Macêdo, presidente do conselho de administração do Grupo J.Macêdo, fez da difícil e desejada articulação entre os mundos empresarial e político seu cartão de visitas, sustando assim a vaidade e a vontade de ser governador do Ceará. Tucano de primeira hora, hoje lidera a expansão da empresa da família, detentora das marcas Sol e Dona Benta, que investe pesadamente pelo Brasil por paulo vieira fotos roberto setton

N

ão tivessem os muitos políticos brasileiros a habilidade para sobreviver que têm, é possível que a sociedade já se sentisse representada nas decisões tomadas na praça dos Três Poderes. A voz forte de entidades que surgiram após as manifestações de 2013, ganharam corpo no impeachment e ainda fazem muito barulho, especialmente nas redes sociais, não ecoou no Executivo, Legislativo e em enormes porções do Judiciário, cujos integrantes, para ainda não se começar aqui a falar de política (e corrupção), aferram-se a quinquênios, auxílios-moradia, gatilhos, pedágios e outras extravagâncias de caráter público-privado. Faz sentido que, assim, volte-se a idealizar figuras de fora do ambiente político tradicional, como a de Luciano Huck ou Joaquim Barbosa. Há certo messianismo nesses nomes, mas cumpre notar que há refletida aí uma demanda da sociedade que é sistematicamente reprimida pelos partidos políticos.Com tudo isso, chega a ser chocante saber que um dia governantes e sociedade civil ensaiaram uma proveitosa e longeva parceria, não só na teoria como na prática. Sim, isso já existiu. Corta para o Ceará, começo dos anos 1990. O empresário Amarílio Macêdo, executivo e herdeiro do grupo PODER JOYCE PASCOWITCH 11


empresarial J.Macêdo, das farinhas de trigo Sol e Dona Benta, liderava então um acordo, o Pacto de Cooperação, entre o empresariado cearense e o governo estadual que, entre outros resultados, fortaleceu setores do agronegócio apenas com inteligência tributária e lançou bases para o extraordinário salto na educação do Ceará. Nas palavras do executivo Edson Vaz Musa, ex-presidente da Rhodia, um potentado daqueles tempos, tratava-se de uma “revolução de gestão para promover um verdadeiro salto qualitativo” no estado. VOTO GUARDADO Há empresários que abraçaram – ou tentaram abraçar – a política, ingressando e saindo rapidamente dela após campanhas eleitorais frustradas, como o industrial paulistano Antônio Ermírio de Moraes (19282014) e o apresentador Silvio Santos. E há quem, como Amarílio, está sempre a bordejar a política, sem, no entanto, partir para as vias de fato. Não que não tenha desejado. Fundador do PSDB do Ceará, Amarílio esperava, em 1997, ser aclamado candidato pelo partido ao governo do Ceará para a sucessão do hoje senador Tasso Jereissati. Mas o estatuto da reeleição acabava de ser aprovado e Tasso ganhara enorme capital político em seu primeiro mandato, o que fez o empresário abortar a pretensão – e Tasso fazer cara de paisagem e esquecer a promessa de largar o osso. “Tem gente que me encontra e diz ‘seu voto está guardado’. Minha resposta clássica é ‘já sarei’”, disse Amarílio a PODER, em sua sala na sede do J.Macêdo, em São Paulo. “Tenho 72 anos. Agora, se houver um chamamento, só de Deus.” Foi exatamente na gestação do Pacto de Cooperação que Tasso e Amarílio encetaram um caminho político comum. Jovens representantes de famílias industriais do estado, estavam sedentos pela renovação dos costumes políticos do Ceará, então useiro e vezeiro do voto de cabresto e das práticas clientelistas. Mais tarde, em 1987, Amarílio se afastaria do dia a dia do J.Macêdo por seis meses para se tornar coordenador da campanha que levaria Tasso à primeira vitória para o Palácio da Abolição, sede do Executivo cearense. Seu homólogo na empreitada foi Sérgio Machado, que se tornaria deputado federal e senador e hoje cumpre prisão domiciliar, consequência de sua gestão na Transpetro e do famoso acordo de delação que implicou os senadores Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.

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“Fazemos um alimento que é essencial para a humanidade desde os egípcios, não consigo ver a substituição de seu consumo” Mesmo com uma carrada de razões para ter se decepcionado com o casamento de Tasso com a franga, é exatamente Tasso o recipiente dos elogios de Amarílio. “Existem políticos que não estão envolvidos em nenhum tipo de desvio. Dos que acompanho mais proximamente, Tasso é um que está na política por espírito público, não por interesse pessoal”, diz. Curiosamente, não foi ele, mas seu sucessor no governo do Ceará, Ciro Gomes, que fez o elogio público mais eloquente ao empresário. “A economia do estado e a reflexão sobre a nossa estratégia mudaram de qualidade quando um jovem empresário cearense me apresentou a ideia de organizar as lideranças empresariais num lugar específico que permitisse uma instantânea interação, da instância pública com o setor privado. Refiro-me a Amarílio Macêdo, a quem o Ceará muito deve.” Se hoje está distante da política, Amarílio ainda quer ver concretizado um velho ideal, quase uma utopia no Brasil, o da sociedade menos desigual. “O plural deve vir antes do individual. A facilidade que há de dividir o país entre apartados e beneficiados não leva a nada.”


Amarílio em sua sala em São Paulo, decorada com imagens do pai, José Dias de Macêdo. Na charge, o fundador do J.Macêdo conduz suas muitas marcas num Jeep, que ele revendeu no Brasil

Amarílio está agora dedicado à vida empresarial e já acumula oito anos como presidente do conselho de administração do J.Macêdo, que se consolida como líder nacional não só do setor de farinha de trigo, com suas marcas tradicionais, como também de mistura para bolos; a empresa ainda é player importante em massas – a famosa marca Petybon, fabricada em São José dos Campos (SP), é mais uma do portfólio dos cearenses. Embora não seja responsável pelas operações no dia a dia, o empresário passa a semana toda em São Paulo, onde fica a sede do grupo, voltando a Fortaleza e à família apenas nos fins de semana. Mas talvez seja ele, mais do que o presidente Luiz Henrique Lissoni, a fi-

gura mais proeminente do grupo. Amarílio esteve em setembro na inauguração do novo farol do Mucuripe, em Fortaleza, sexto maior do mundo com seus 71,1 metros – altura equivalente a de um prédio de 23 andares –, que foi bancado inteiramente pelo J.Macêdo para a Marinha. Ele substitui o equipamento anterior, de 1958, com 22 metros de altura e, dessa forma, permite a ampliação do gabarito das construções da orla, antes limitadas ao alcance do facho luminoso do antigo farol. Importante, isso permitiu a ampliação das instalações fabris do J.Macêdo na cidade, que vai ganhar quatro novos silos de 75 metros de altura, com 23 mil toneladas de capacidade de armazenamento, num investimento divulgado de R$ 57,4 milhões – dez vezes o valor empenhado no farol. O J.Macêdo também reservou R$ 350 milhões para seus negócios na Bahia – segundo estado em importância para o grupo. A parte do leão, R$ 220 milhões, vai para o aumento da capacidade de produção da indústria de massas e biscoitos de Simões Filho, na Grande Salvador, enquanto outros R$ 103 milhões se destinam à automatização dos processos de produção do moinho de Salvador. FinalPODER JOYCE PASCOWITCH 13


“O plural deve vir antes do individual. A facilidade que há de dividir o país entre apartados e beneficiados não leva a nada” mente, R$ 27,5 milhões foram empenhados na modernização do terminal de grãos do porto de Salvador, que teve dobrada sua capacidade de descarregamento mecânico. O plano de expansão da empresa totaliza investimentos de R$ 550 milhões em cinco anos, um valor considerável para um grupo que teve, em 2016, receita líquida de R$ 1,6 bilhão. Face a esses números, o velho postulado de que o setor de alimentos sobrevive melhor que os demais às crises parece fazer bastante sentido. Mas como santo de casa não faz milagre (nem na Bahia), o faturamento de 2017, ainda não divulgado, não deve manter o ritmo de 2016. Para fazer frente aos novos tempos, o J.Macêdo entrou em outro setor, o de bebidas, com o refresco em pó Sol – nome de uma de suas marcas clássicas. Se Amarílio acabou por jamais submeter seu nome às urnas, seu pai, José Dias de Macêdo, que em 1939 fundou a representação comercial que daria origem ao grupo, foi deputado federal pelo Ceará por três mandatos consecutivos, de 1959 a 1971, o último deles pela Arena, o partido governista a que se filiou

DONA BENTA FOR FREE

Quanto custa colocar o nome Dona Benta num pacote de farinha? Para o J.Macêdo, muito pouco. Por um golpe de sorte – ou de competência – a empresa conseguiu, em 1979, usar o nome de uma das mais famosas personagens do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, em seu principal produto, sem desembolsar nada além do registro convencional. Não havia por parte de quem detinha os direitos de licenciamento, que segundo Amarílio era a editora Globo, a extensão da proteção para produtos alimentícios. Amarílio conta que chegou a receber em sua fazenda herdeiros de Monteiro Lobato e que teve conversas para a utilização dos nomes de todos os personagens do Sítio, mas o acordo não prosperou pois não havia uma linha de produtos grande o suficiente para dar a “velocidade” exigida pelo licenciante. O empresário diz que não chegou a pensar que produtos poderiam levar a marca “Saci”, digamos, mas o Dona Benta foi definitivamente estratégico: com esse nome o J.Macêdo unificou todas as farinhas de trigo do portfólio, que antes chamavam Jangada, Fama etc. por conta das origens distintas.

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com o advento do bipartidarismo imposto pela ditadura. Hoje com 98 anos e retirado, ainda é chamado por funcionários do grupo por “deputado” – alguns o tratam por “senador”, já que também chegou a ser suplente na câmara alta. Foi apenas em 1954, 15 anos após a fundação do J.Macêdo, portanto, que a empresa entrou no negócio da farinha, importando os equipamentos necessários para a construção de seu primeiro moinho, em Fortaleza. Curiosamente, seu principal concorrente, o grupo M. Dias Branco, também do Ceará, foi por bastante tempo cliente da farinha de trigo dos Macêdo. Trata-se de um concorrente forte e inquieto – em janeiro, aliás, adquiriu a tradicional marca Piraquê por R$ 1,55 bilhão. A expansão do J.Macêdo se deveu bastante às compras de moinhos pelo Brasil, como o Fama, de Santos, o Atlântico, de Niterói, e o Salvador, da capital baiana. Esse modelo de crescimento via aquisições é comum no setor de alimentos – algo similar ocorreu com a 3 Corações, player no beneficiamento e comercialização de café, dona de várias marcas diferentes pelo Brasil. BOLA DE CRISTAL Num exercício de futurologia, quando se imaginam os cenários para daqui a 20 ou 50 anos, é difícil conceber que uma empresa que fabrica farinha de trigo, biscoitos e massas vai manter certa proeminência. Mas Amarílio discorda. “Fazemos um alimento que é essencial para a humanidade desde os egípcios, não consigo ver a substituição de seu consumo.” A saída dos Macêdo desse negócio também não está em pauta. “O desejo do meu pai é que a empresa não só seja perenizada como mantida com a família.” O que não significa, de todo modo, não “ir a mercado”, como diz o empresário, quando precisar “acelerar o desenvolvimento e crescimento” da companhia. Um cenário de internacionalização também não é provável na opinião de Amarílio. “A farinha é um produto de baixo valor agregado, não muito diferente daquele que os egípcios comiam. Para um estrangeiro sair de onde está ele precisa enxergar rentabilidade, e isso normalmente se dá com produtos de valor agregado.”


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A NOVA GERAÇÃO

O ex-goleiro Rogério Ceni não está no negócio de farinha, mas sua jovem carreira de técnico de futebol se cruzou de alguma forma com o J.Macêdo. Depois de receber ano passado o bilhete azul do clube que lhe deu projeção, o São Paulo, Ceni desembarcou no Fortaleza, segunda principal força futebolística do Ceará. Um dos homens que apostam no sucesso do treinador é Omar Macêdo, um dos dois filhos de Amarílio, diretor administrativo do Fortaleza. O outro filho do empresário, Ravi, desde 2017 é analista sênior de desenvolvimento de negócios da EY em São Paulo. Embora fossem oito irmãos, apenas Amarílio e Roberto foram preparados pelo pai para assumir postos de comando no J.Macêdo. Passaram por diversas áreas de negócios – antes de se concentrar no ramo alimentício, o J.Macêdo teve revendas Jeep, uma fábrica de pneus na Bahia e um jornal em Fortaleza, entre outras empresas. A meritocracia, segundo Amarílio, era uma ideia presente no grupo desde os primórdios, e é isso que deve nortear o processo sucessório para a terceira geração. E é bom que seja assim: o chamado “consórcio de primos” é numeroso. Só Roberto tem quatro filhos. Nenhum deles, contudo, trabalha no grupo.

Se o trigo ainda é o mesmo dos tempos antediluvianos, certas pressões da sociedade mudaram. O estabelecimento das causas da doença celíaca é algo contemporâneo, mas temer sem mais aquela o glúten, a proteína presente no trigo causadora desse mal autoimune, não é pertinente para Amarílio. “É preciso respeitar a preocupação de quem tem a doença celíaca, mas fora disso é bom lembrar que as populações ao longo da história que usaram o trigo na alimentação tiveram desenvolvimento intelectual e físico maior.” Mesmo com toda a ancestralidade de sua principal matéria-prima – e, para usar um trocadilho, seu ganha-pão –, o J.Macêdo não dá sinais de querer dormir em manjedoura esplêndida. Anunciou recentemente que pretende, até 2025, utilizar apenas ovos de galinhas criadas fora do confinamento, o que terá impacto significativo no custo de seus produtos – custo que Amarílio é incapaz de calcular hoje, pois para cumprir esse compromisso de bem-estar animal ele depende de um súbito aumento da oferta de ovos gerados nessas condições. Amarílio também gostaria de saber um pouco mais sobre a utilização de agrotóxicos no trigo produzido no Brasil – 60% do que utiliza é plantado aqui –, mas no mercado de commodities, segundo ele, é bem complicado rastrear a origem do produto, pois enormes volumes de trigo são comprados de pouquíssimos intermediários, que fazem o “blend” dos grãos de diversos fornecedores. “No Brasil ainda estamos bastante atrasados nisso.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 17


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CUCA FRESCA

FILÓSOFO PAZ & AMOR

Ministro da Educação de Dilma Rousseff durante quase seis meses, Renato Janine Ribeiro não pensa com o fígado. Tanto que não guarda ressentimentos da ex-presidente e faz uma análise imparcial daquele período e do cenário político atual

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por fábio dutra fotos letícia moreira

ntelectual público pelo menos desde os anos 1990 – e ele não acredita que haja outra forma de se dedicar ao pensamento –, quando se tornou professor titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), a notória FFLCH (lê-se fefeléxi, em bom paulistanês), Renato Janine Ribeiro deu vários passos em direção ao centro do ringue desde então, tendo se tornado um dos mais celebrados – e às vezes contestado – professores do país. Não por acaso foi aclamado pelos defensores da ideia de que Dilma Rousseff deveria formar um ministério de notáveis para enfrentar os ataques perpetrados pelo deputado Eduardo Cunha e sua trupe já na aurora de seu segundo mandato como presidente, em janeiro de 2015. Nomeado ministro da Educação em 6 de abril daquele ano em um momento particularmente tenso – seu antecessor, Cid Gomes, havia sido exonerado por Dilma após, dedo em riste, chamar Cunha, recém-empossado presidente da Câmara dos Deputados, de achacador –, Janine Ribeiro não decepcionou: não houve vivalma, da extrema esquerda à extrema direita, que tenha questionado a sério a sua envergadura moral ou intelectual para o cargo. Entretanto, a alegria dos defensores do mandato de Dilma Rousseff durou pouco: a Lava Jato apertou, a oposição dominou o Congresso e, pressionada, a presidente acabou por ceder aos que acreditavam que o fisiologismo poderia salvar seu gabinete. Bye, bye, notáveis: Renato Janine Ribeiro foi rifado para que em seu lugar fosse empossado Aloizio Mercadante, já que sua presença na Casa Civil desagradava aos parlamentares do PMDB e era necessário achar um novo espaço para alocá-lo. A estratégia dessa receita ministerial do fim de setembro de 2015 – sim, Janine Ribeiro não ficou nem seis meses no cargo – deu com os burros n’água e o governo caiu mesmo assim. “Eu assumi quando o impeachment era possível e saí quando era provável”, relembra. Mas se engana quem pensa que ele tenha saído pessoalmente magoado com a presidente, de quem fala com absoluto respeito. Não perde nunca o cacoete de observador autônomo, sendo capaz de analisar os motivos de sua exoneração e da queda do PODER JOYCE PASCOWITCH 19


governo sem ressentimentos – e sem se abster de apontar os erros de Dilma Rousseff e do PT durante o processo nem mesmo os da direita, mormente o PSDB, que teria ido com muita sede ao pote do “terceiro turno” e acabou ficando um pouco perdido no caminho, dando a faca e o queijo ao PMDB, que aboletou-se com tudo no poder. UM SEMESTRE NO PLANALTO Ainda para este primeiro semestre, o professor prepara um livro sobre seus meses como ministro e os grandes desafios de tentar implementar o Plano Nacional de Educação num momento de ajuste fiscal – que o obrigou a fazer cortes duros em programas do governo como o Prouni (bolsas de estudo em universidades privadas), o Fies (empréstimos para o custeio de cursos de graduação em instituições particulares que começam a ser cobrados após a formatura, com juros subsidiados) e o Ciência Sem Fronteiras (bolsas de estudo no exterior). Por conta dessas medidas, Janine

o convidaria ao ministério (“Como o PT perdeu a imagem ética”). Sempre doce no dizer e professoral no conteúdo prenhe de referências, o livro é daqueles de leitura fluida e rica para quem quer entender o caos político em que o Brasil se encontra, tal qual a aula de um bom professor. Aos 68 anos, pai de dois jovens adultos (um universitário e um aluno do último ano do ensino médio), Renato Janine Ribeiro parece não estar nem perto de desacelerar. Apesar do jeito calmo e da erudição, que poderiam dar a impressão de mais idade, o vigor físico e a disposição para falar com frescor de garoto do nada alentador cenário político nacional levam a crer que ele mal tenha passado dos 50 para quem o conhece pessoalmente. As duas horas em que conversou com PODER em sua casa, no pacato bairro da Aclimação, na zona sul de São Paulo, só não se tornaram cinco ou seis porque ele viajaria para Portugal ainda naquela tarde do fim de 2017. A seguir, os principais pontos da conversa.

“Eu assumi o Ministério da Educação quando o impeachment de Dilma Rousseff era possível e saí quando era provável” Ribeiro sofreu intensos ataques, principalmente de seus pares da academia. “Dialogamos ao máximo, mas houve imaturidade desses grupos, muito comum nas faculdades públicas, aliás: não havia dinheiro, estávamos de mãos atadas”, esclarece. No fim de 2016, enquanto amadurecia as memórias dos tempos palacianos, Janine Ribeiro compilou os melhores artigos que publicou durante os três anos em que foi colunista do jornal Valor Econômico, o que gerou um livro publicado no fim do ano passado pela Companhia das Letras sob o título A Boa Política – Ensaios sobre a Democracia na Era da Internet. Ali fica claro o pendor do pensador para algum tipo de independência – pode-se ver até alguma busca pela impossível neutralidade – em artigos em que critica os dois lados do espectro político por terem se “perdido” durante as mudanças bruscas das últimas décadas do século passado (“A direita tem os meios, a esquerda os fins”) ou mesmo questiona os rumos do partido que posteriormente

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DILMA “A Dilma de fato teve problemas para dialogar com os políticos, ela não era experimentada e a própria personalidade dela fazia com que fosse ainda pior a comunicação com parlamentares da base aliada, muitas vezes com demandas que nada tinham a ver com temas relevantes do país. Eu mesmo fui recebido em audiência por ela apenas três vezes, era difícil o acesso. Tudo isso gerou mágoas de gente que se sentia diminuído, ela sofreu muita vingança pessoal, teve até ministro que se licenciou para retomar o mandato de deputado e votar no impeachment contra a presidente (caso de Mauro Lopes, do PMDB de Minas Gerais, ministro da Secretaria da Aviação Civil à época). Mas é preciso dizer que, além de comprometida com o país, houve muita injustiça e perseguição com a Dilma, como em relação a ela ter problemas de formação por alguns tropeços ao falar em público. Posso dizer que a presidente é cultíssima, profunda conhecedora de literatura e vários outros temas.



“Ao acreditar que poderia ser sócio do PMDB em um novo governo, o PSDB acabou passado para trás” PSDB “O processo de derrubada do governo fez com que o partido se perdesse um pouco. O PSDB tem projeto de país, é o preferido do mercado, mas tem gente preocupada com o social, que sabe governar. Ao acreditar que poderia ser sócio do PMDB em um novo governo, foi ingênuo e acabou passado pra trás. Como também o foi o chamado mercado, que acreditava no comprometimento de Michel Temer com o ajuste fiscal e com as reformas, e ele não está entregando. O tipo de política que aquela ala do PMDB sabe fazer não tem o perfil de desagradar e enxugar. E tem o dilema Aécio Neves, que agora está em apuros com as diversas acusações, mas que durante o processo eleitoral já havia mostrado pouca capacidade de liderança, deixando-se levar por emoções das massas mais do que apontando o caminho. O Alckmin tem se posicionado bem, é ponderado e tem história, não é um aventureiro. Caso consiga ser candidato, leva o debate para um ponto mais sereno. Claro que ele tem problemas, fez pouco em várias questões sociais em São Paulo e definitivamente não controla a própria polícia, mas é uma opção mais sensata para o partido do que nomes inexperientes como João Doria. Doria, que chegou com extrema popularidade, parece fora do páreo, preocupou-se muito com a comunicação, mas pecou ao achar que poderia se gabaritar para uma disputa nacional traindo Alckmin, seu padrinho, logo de partida. Ele atentou pouco à própria administração, que apresentou poucas realizações até agora, e se meteu em polêmicas desnecessárias.

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PT O partido no poder diminuiu sua força nas ruas e perdeu grande parte do discurso, o que é natural, já que o pragmatismo de um governo muitas vezes contradiz discursos mais populares. E os escândalos levaram o PT a perder o monopólio da ética que teve durante os tempos de oposição, o que também enfraqueceu sua popularidade. Agora fora do poder tenta aglutinar a esquerda em volta de si e da candidatura de Lula, mas isso não tem sido tarefa fácil. O fato de seguir fazendo política, com alianças e composições, mesmo depois da ruptura do impeachment também enfraquece nas ruas a tese de golpe de Estado que o partido defende. E tem a batalha jurídica para viabilizar a candidatura, sendo que há forças que realmente querem que ele se torne inelegível. Isso é preocupante. Temos uma eleição pela frente em que claramente as forças se unem ao redor de Lula ou contra ele, e impedi-lo de participar mancha a disputa como um todo e prorroga a crise política. Impedir uma candidatura tão popular assim no tapetão nos colocaria no patamar de nações de democracia muito frágil e recente. EDUCAÇÃO Há agora a falta de recursos, o que impede que uma série de projetos seja levada adiante. Mas o foco deve ser na educação básica. Há problemas profundos. Na educação superior evoluiu-se muito nos últimos anos. No governo Lula, particularmente, houve um foco muito grande tanto na criação de vagas em instituições públicas quanto no auxílio ao ingresso de jovens em escolas privadas. Talvez até em excesso, com pouca preocupação com a qualidade em alguns casos, o que gerou problemas de faculdades sendo fechadas pelo MEC e o governo tendo que resolver a situação de milhares de alunos. A Dilma deu atenção ao Pronatec, algo salutar, já que boa formação não é apenas educação superior. O Brasil tinha o ensino médio dividido em normal (segundo grau geral que habilitava os graduados a lecionar para crianças até a atual quarta série), clássico (foco em humanas) e científico (foco em ciências e matemática) até a reforma de 1967 feita pelos militares, por exemplo. É uma questão de escolhas. A atual mudança do ensino médio sem diálogo, com uma canetada, pelo ministro da Educação, José Mendonça Filho, até poderia ser feita, mas não dessa maneira. E claramente o foco foi tirar filosofia, sociologia etc. do currículo, o que tem viés político e não muda muito do ponto de vista dos recursos. Mas o grande problema ainda está na educação básica, onde avançamos muito pouco. n


PODER INDICA

O MELHOR DE PORTUGAL

Há 20 anos, o André Jordan Group criou um dos mais conceituados empreendimentos imobiliários de Portugal, o Belas Clube de Campo. A localização é, sem dúvida, um dos pontos altos do condomínio que fica no coração do Parque Municipal da Serra da Carregueira, em Lisboa. Um lugar perfeito para quem ama a vida no campo e, ao mesmo tempo, não gosta de abrir mão dos confortos urbanos. Com acesso fácil a vias expressas, os moradores do condomínio não levam mais do que 15 minutos para chegar ao centro. Dali também é simples chegar à vila histórica de Sintra, às praias de Estoril-Cascais e ao aeroporto da capital portuguesa. E é justamente por reunir tantas qualidades que o projeto continua em expansão – mesmo duas décadas depois de seu lançamento. Nessa segunda fase, o Lisbon Green Valley também está sendo estruturado, sempre com a garantia de excelência que é marca registrada do André Jordan Group. “Esse é um espaço com uma envolvente única e difícil de encontrar em uma capital europeia. Não por acaso o Belas Clube de Campo é considerado pelas famílias que moram lá o melhor local para viver e partilhar momentos inesqueciveis’’, afirma Gilberto Jordan, CEO do André Jordan Group. Tanto que os apartamentos, townhouses e lotes estão atraindo um público diverso, o que está transformando o espaço em “uma verdadeira comunidade global”, para usar as palavras de Gilberto Jordan. Segundo ele, 750 famílias de 26 nacionalidades diferentes residem no Belas Clube de Campo. + ANDREJORDANGROUP.PT | + BELASCLUBEDECAMPO.PT


Costume Hugo Boss, camisa Ricardo Almeida, gravata Ermenegildo Zegna


ENSAIO

FOGO NO CIRCO Milton Neves inovou a comunicação esportiva ao pegar no pé de certas torcidas – basicamente duas – e tirar o merchandising do closet. Hoje se diz dono de “latifúndios” em Nova York e critica a Globo pelo modelo de remuneração baseado mais na fama que no dinheiro

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por fábio dutra fotos pedro dimitrow styling cuca ellias (odmgt)

oucas pessoas fazem tanto jus ao clichê “de algum lugar pequeno para o mundo” quanto Milton Neves. O Mirtim, como era conhecido no interior de Minas Gerais, onde numa quermesse teve sua voz notada pela primeira vez, foi para São Paulo tentar a vida no rádio aos 17 anos e nunca mais voltou. Dominada a plataforma, foi a vez de conquistar o eldorado da televisão. Inovou e virou um dos maiores nomes da comunicação esportiva nacional, tanto por ser o único a prezar pela memória do esporte quanto por recusar por completo a pasteurização das opiniões, praxe no ramo, e apostar nas provocações às torcidas dos maiores times do país, excetuando-se os seus, claro: Santos e Atlético Mineiro. Além disso, Mirtim abraçou a propaganda, rasgando outro dogma da ortodoxia jornalística, o que levou os detratores (como eram chamados os haters quando ainda falávamos português por aqui) a apelidá-lo de Merchaneves. Assim, atingiu um patamar de remuneração raro no meio e acumulou um patrimônio relevante, entre fazendas, empresas e imóveis no Brasil e no exterior. Na mesma semana deste ensaio fotográfico ele embarcaria de férias para Nova York, onde tem dois apartamentos – “os dois com mais de 200 metros quadrados, verdadeiro latifúndio por lá!” –, mas disse que


não levaria seu fiel escudeiro na televisão, o ex-jogador Denílson, consigo: “A alfândega dos EUA é rigorosa, ele não conseguiria passar”, diverte-se. Tudo isso sem esquecer as origens, já que nunca deixa de citar a cidade natal quando está no ar e sempre que posta fotos na Big Apple faz alguma menção ao interior mineiro. De Muzambinho para o mundo, portanto, não parece tão forçado assim quando o assunto é Milton Neves. Agitadíssimo desde o começo da conversa, logo percebeu-se que não é fácil trabalhar com ele. Não destrata ninguém, mas deixa transparecer certa irritação quando a equipe não está sincronizada a sua velocidade. A equipe do Terceiro Tempo, que se reveza para cuidar da agenda do apresentador, gerir sites e redes sociais e produzir os programas Terceiro Tempo, Gol, O Grande Momento e Que Fim Levou? – os dois últimos destinados a resgatar grandes momentos e personagens da história do esporte nacional – admite que o ritmo é sempre esse. À exceção das férias, Milton Neves é focado sete dias por semana e chega até a dormir no escritório em dias de jogos para não voltar à distante Alphaville, onde mora, de madrugada, já que as

transmissões vão até tarde. Mesmo muito rico, a paixão pelo esporte e pela comunicação não arrefeceu: “Claro que sou multimilionário se eu pensar na minha origem ou se eu comparar meu patrimônio com a média dos profissionais do setor, mas o que me move mesmo são momentos como aquele em que um ex-jogador do Palmeiras dos anos 1960 me contou no ar que era a primeira vez que aparecia na TV e também que eu ajudava os ex-jogadores a seguirem vivos”, se emociona. Aliás, a trajetória da própria família ou a de ex-jogadores que o agradecem pelo seu trabalho são os únicos assuntos que fazem Milton Neves, chorão assumido, descer do personagem. Milton Neves não é só amor: tem muita gente que não quer vê-lo pela frente e só compraria um sapato Rafarillo se fosse para arremessá-lo em sua cabeça. Entre algumas ruidosas desavenças com colegas de profissão, como Jorge Kajuru e Roberto Avallone, a briga com o folclórico narrador Silvio Luiz merece destaque. Durante a gravação do Programa Raul Gil, Luiz foi perguntado se tiraria o chapéu para Milton Neves, mas disse que nem o conhecia. Neves estava nos estúdios da Record, assistiu à cena ao vivo e es-


“Dou resultado a um preço muito mais módico do que novela da Globo”

Costume e gravata Ermenegildo Zegna, camisa Aramis, sapato Sapataria Cometa


Costume e gravata Ermenegildo Zegna, camisa Aramis, relรณgio acervo pessoal Assistente de fotografia: Adrian Ikematsu


“Claro que sou milionário se eu pensar na minha origem ou se eu comparar meu patrimônio com a média”

perou o fim da gravação para desferir um pontapé nas nádegas de Silvio Luiz, papelão do qual se arrepende: “Nesses quadros é o entrevistado que escolhe de quem quer falar e ele me indicou para depois menosprezar-me ao vivo. É chato porque o Johnny Saad o manteve na Band a meu pedido, ele não reconhece isso. Ele é um cara que não sabe conviver com o sucesso das novas gerações, fica amargurado com a perda de espaço”, desabafa, mas nega que ainda sejam desafetos. Algumas torcidas também nutrem verdadeira ojeriza por ele, como as do Corinthians e do Cruzeiro. Aquela credita a Neves o famoso jargão “apito amigo”, sempre lembrado pelos inúmeros casos de favorecimento ao Timão, enquanto os mineiros o detestam por endossar as piadas dos atleticanos – “o Galo mais lindo do mundo”, como diz – e falar que “quando o Cruzeiro joga, o Mineirão não treme, rebola” . Mas a grande polêmica é quanto à publicidade: e aí,

jornalista pode ou não pode? Para ele, isso é uma hipocrisia e agora, em sua opinião, o mercado já admite isso, com jornais e revistas fazendo conteúdos publicitários ou mesmo jornalistas globais mudando o contrato para poder atuar como garotos-propaganda: “Vai me dizer que o Tiago Leifert deixou de ser um grande jornalista, referência, só porque mudou o tipo de acordo dele para ‘entretenimento’?”. Ele garante que fazer propaganda não afeta os jornalistas sérios e que é preciso permitir que os profissionais ganhem dinheiro e ofereçam bons serviços para os parceiros – como a já citada sapataria Rafarillo. “Quando eles começaram comigo faziam 300 sapatos por semana, hoje são 7 mil por dia. Dou resultado a um preço muito mais módico do que novela da Globo.” Não gostaria então de trabalhar na Globo? “Claro! É a maior emissora de televisão do planeta, excelente em tudo”, levanta, para em seguida cortar: “Mas o modelo de remuneração deles, 90% em fama e 10% em dinheiro, não me apetece muito...”. Sabedoria do interior de Minas. Viva Muzambinho! n


ESPELHO

A diretora de brand, marketing e comunicação da EY, MARLY PARRA, vem de uma família de sete irmãos. Nesse contexto, ela teve que começar a se virar bem cedo – tanto que, aos 12 anos, já sabia cozinhar. Aos 17, ela começou a trabalhar na H.Stern e, em paralelo, cursava publicidade e propaganda, na ESPM, em São Paulo. Sua carreira foi construída dentro de grandes empresas brasileiras e multinacionais. O currículo é extenso. E, em muitas ocasiões, ela liderou equipes formadas, em sua maioria, por homens. “Na Gatorade, por exemplo, eu era diretora de trade marketing e tinha um time de mil vendedores abaixo de mim, a maioria homens e alguns mais velhos do que eu. Foi um desafio muito grande”, conta. À medida que galgava cargos mais altos, Marly muitas vezes era a única mulher nas salas de reunião. Isso porque, embora as mulheres cheguem a representar cerca de 45% da mão de obra no mercado de trabalho, sua presença vai rareando nas posições de chefia. “Temos muitas mulheres trabalhando, mas, quando analisamos posições gerenciais, os números diminuem drasticamente, continuam caindo nos cargos de diretoria e, quando se trata da cadeira de CEO, despencam de vez. A situação nos conselhos é ainda mais complicada, já que elas não ocupam nem 12% das vagas”, explica a executiva. De acordo com o Global Gender Gap Report divulgado pelo Fórum Econômico Mundial de 2014, o mundo chegaria à paridade de gêneros no mercado de trabalho em 2095, mas o prognóstico piorou em 2017, e esse gap só vai desaparecer daqui a 217 anos. “Por ser mulher, diretora de marketing de uma multinacional e, principalmente, mãe e avó, poderia dizer que essa é a pior notícia a dar para minha neta, Aurora, que nasce mês que vem, e ainda verá desigualdades inadmissíveis nos ambientes de trabalho que frequentar

no futuro. No entanto, prefiro destacar os avanços que todas nós, mulheres e líderes, vivenciamos nos últimos anos – com a adoção de políticas mais justas nas empresas, flexibilidade e a compreensão de que as mulheres são uma força vital para o crescimento e a inovação de qualquer empresa”, afirma Marly, fazendo referência aos dados do estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial. A presença feminina em cargos de liderança e estudos como o Global Gender Gap Report têm movimentado o mercado de forma positiva e, segundo Marly, de uns seis anos para cá, isso fez com que as empresas começassem a se preocupar com o assunto, tornando realidade jornadas de trabalho flexíveis, ocasiões de home office e até a criação de creches e de salas de amamentação. “Sem dúvida, o casamento e a maternidade são os maiores desafios que as mulheres encontram no mercado de trabalho.” Os altos cargos, de gerência e de diretoria pelos quais Marly passou, exigiam longas jornadas e viagens mundo afora. Graças sobretudo à ajuda materna, ela conseguiu ascender na carreira. E, mesmo ainda estando em plena atividade, se faz presente como avó e passa para buscar a neta na escola cerca de três vezes por semana. “O que minha mãe fez por mim, estou tentando fazer pelo meu filho e minha nora, para que eles possam se dedicar a suas carreiras tranquilamente”, diz. A EY, por sua vez, busca fomentar o empreendedorismo feminino por meio do Entrepreneurial Winning Women Brasil – programa do qual Marly faz parte como idealizadora, coordenadora e conselheira – que tem como objetivo conectar empreendedoras com um time de conselheiros de alta performance – formado, em sua maioria, por mulheres. “Da mesma forma que as mulheres não estão nos cargos de liderança, elas tampouco são a maior parte no comando de grandes empresas’’.

por aline vessoni

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FOTO ANDRÉ LIGEIRO

SEXO FORTE


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FILTRO

ESTADO MÍNIMO Autor inglês Greg McKeown defende em seu livro, Essencialismo, uma nova cultura corporativa. Cai a hiperatividade, entra o foco naquilo que é vital por paulo vieira

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N

O livro, que saiu aqui pela Sextante

FOTO DIVULGAÇÃO

ão é exatamente isso, mas Mahatma Gandhi já tem sua contrapartida corporativa. Se o asceta indiano pregava a não violência, o escritor, jornalista e palestrante inglês Greg Mckeown, autor do livro Essencialismo (editora Sextante), prega a não ação, pelo menos aquela que não seja “vital”. Mckeown divide o mundo entre pessoas essencialistas e não essencialistas. O primeiro grupo acredita que “poucas coisas realmente importam” e seus integrantes “dizem não a tudo, menos ao essencial”, escolhendo “com cuidado para fazer um excelente trabalho”; o segundo grupo acredita que “tudo é importante”, “diz sim sem pensar direito”, “aceita tarefas demais e o trabalho deixa a desejar”. A partir dessa teleologia, ele constrói um sistema muito simples, totalmente baseado em princípios retirados do senso comum, pouco mais que meras platitudes, mas que vão na contramão de uma certa cultura corporativa que valoriza a hiperatividade – é exatamente aí que está a originalidade do seu método. Pode-se dizer que o autor é um defensor intransigente do estado mínimo, mas não exatamente esse de pouca regulação, zero intervenção e juros subsidiados acolhido com tanto esmero pelos liberais brasileiros. O que ele propõe é concentração total no que importa, definindo muito bem as prioridades para assim colher melhores resultados. É a aplicação do centenário princípio de Pareto, que reza que “20% do nosso esforço produz 80% dos resultados”.

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NÃO ESSENCIALISTA

ESSENCIALISTA

PENSA

Tenho que fazer

Tudo é importante Como dar conta?

Escolho fazer Apenas poucas coisas realmente importam Do que abrir mão?

Greg McKeown e sua simpatia essencialista FAZ

Mckeown mobiliza gente de responsa para alavancar seu corpo teórico. Como o bilionário Warren Buffett, um essencialista avant la lettre, pode-se dizer. O parágrafo pinçado pelo jornalista do livro O Tao de Warren Buffett, escrito pela dupla Mary Buffett e David Clark, não poderia vir mais a calhar: “Warren percebeu no início da carreira que seria impossível tomar centenas de decisões de investimento corretas, de modo que resolveu investir somente nas empresas sobre as quais tivesse segurança absoluta e depois apostou pesado nelas. Ele deve 90% da riqueza que possui a apenas dez empresas. Às vezes, o que você não faz é tão importante quanto o que você faz”. Já nas primeiras páginas de Essencialismo, Mckeown exibe as armas. Ali está a parábola de um executivo do Vale do Silício que decide mostrar serviço quando a empresa em que trabalhava é comprada por outra bem maior. Mas depois de constatar a inutilidade

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Reage ao que é mais urgente

Faz uma pausa para discernir o que importa

Diz sim sem pensar direito

Diz não a tudo, menos ao essencial

Tenta forçar a execução na última hora

Remove obstáculos para tornar a execução fácil

OBTÉM

Aceita tarefas demais e o trabalho deixa a desejar

Escolhe com cuidado para fazer um excelente trabalho

Sente-se sem controle

Sente-se no controle

Não sabe se as coisas certas foram feitas

Faz as coisas certas

Sente-se exausto e sobrecarregado

Sente alegria na jornada


Os essencialistas fazem a pergunta mais difícil mas em último caso mais libertadora: “Que problema

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eu quero?”

de passar “o dia todo indo de uma reunião para outra, tentando atender a todos e cumprir todas as tarefas” ele muda radicalmente a dinâmica e, seguindo o conselho de um coach, passa a atuar quase como um consultor. A cada pedido que ouve, ele faz a si próprio uma pergunta eminentemente essencialista: “Essa é a coisa mais importante que eu deveria fazer com meu tempo e meus recursos neste momento?”. Como quase nada era relevante, passa a negar grande parte das demandas – e, curiosamente, ganha respeito de seus colegas. Embora a obra se dirija prioritariamente a executivos, líderes, gestores et caterva, as lições do autor não se circunscrevem à vida profissional. É preciso atentar para o mundo à paisana – e aí, assim como é conveniente dormir mais, por exemplo, é fundamental estar menos disponível. Jeff Weiner, presidente executivo do LinkedIn, e Bill Gates, são os exemplos aqui. Weiner, segundo o autor, arrumou até duas horas diárias em sua agenda para “pensar” no que acontecia a seu redor; Gates instituiu a Think Week, uma semana inteira em que deixava seus principais afazeres para “pensar”. Para surpresa geral, a Think Week não começou quando Gates voltava-se para a filantropia, mas quando tinha sangue demais nos olhos nos anos 1980, quando a Microsoft ainda não havia conquistado todo o mundo. O surrado lema “menos é mais” não aparece explicitamente no livro, embora esteja presente em todos os seus 20 capítulos. Mckeown conta outra historinha, quando ajudou como consultor um grupo de executivos em dificuldades para priorizar cinco projetos de informática a ser logo implantados. “Uma gerente insistia em qualificar 18 projetos como prioridade máxima. Pedi que escolhesse só cinco, então ela levou a lista de volta à equipe e, duas semanas depois, tinha apenas um projeto a menos”, diz ele. Moral da história: “Os essencialistas fazem a pergunta mais difícil, mas em último caso mais libertadora: ‘Que problema eu quero?’”. Ele poderia amarrar a passagem com uma música de Joss Stone, que lamenta que seu ficante ou coisa que o valha lhe envia três dúzias de rosas em vez de uma única flor, correndo enormes riscos pelo excesso, mas optou por citar a solução do guru administrativo Jim Collins, de Empresas Feitas para Vencer, que, seguindo à risca o aforismo de Peter Drucker, o guru dos gurus do setor de administração de empresas, preferiu desenvolver grandes ideias a uma grande empresa. Segundo Drucker é impossível fazer as duas coisas. n

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PODER INDICA

Corrupção na mira das empresas brasileiras

A

repercussão da Lava Jato e de outras operações de combate à fraude e à corrução e a promulgação da Lei Anticorrupção, em 2013, são um sinal de que o país se encaminha para construir outra realidade. E isso vale não só no âmbito político, mas também no empresarial – afinal, estamos falando de cenários interdependentes. Enquete inédita realizada pela EY (Ernst & Young) mostrou que 91% dos profissionais ouvidos percebem mudanças concretas quando o assunto é o combate à corrupção. “Esse índice é bastante visível em movimentos no mercado. Percebemos claramente, por exemplo, maior atenção e rigor nas diligências anticorrupção em transações de aquisição e de venda, no monitoramento de risco oferecido por fornecedores e terceiros e nos esforços de apuração de denúncias que chegam à administração das empresas”, diz Guilherme Meister, sócio da área de Investigação de Fraudes da EY, que atende a uma demanda crescente por serviços de apoio às organizações nesses temas. O questionário foi aplicado em tempo real durante o evento Alerta Digital – Como as Fraudes e a Falta de Compliance Estão Prejudicando as

Empresas e o que Fazer para Combatê-las, organizado pela EY em parceria com o Instituto Millenium. Se por um lado existe a percepção de que as empresas estão mais atentas a questões relacionadas a compliance, ética e transparência, a mesma pesquisa mostrou que ainda faltam infraestrutura e mecanismos efetivos para fazer a gestão preventiva e reativa dos riscos de fraude, corrupção e não conformidade. Pelo menos essa é a opinião de 42% das pessoas que responderam ao questionário, profissionais do C-level de algumas das maiores companhias do país. Meister considera o fato interessante já que, segundo ele, as organizações estão de fato investindo na melhoria de suas estruturas de prevenção. “Embora ainda haja espaço para evolução, esses mecanismos estão mais visíveis a todo o público das organizações. As investigações internas, muito mais comuns hoje, são um bom exemplo.” No entanto, Meister pontua que treinamentos e estratégias de comunicação acabam ficando em segundo plano – quando, na verdade, são essenciais para a consolidação e o sucesso dos programas de compliance. SAIBA MAIS: EY.COM.BR

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Pesquisa inédita da EY (Ernst & Young) mostra que algumas das maiores companhias do país já estão se estruturando não só para combater, mas também para reagir em questões relacionadas à falta de ética


“Embora ainda haja espaço para evolução, as empresas estão investindo na melhoria de suas estruturas de prevenção às fraudes e à corrupção, e isso está mais visível para todo o público da organização” (Guilherme Meister, área de Investigação de Fraudes da EY)


SEM GRAVATA

JULIANO SEABRA Após cinco anos à frente da maior fomentadora do empreendedorismo no país, a Endeavor Brasil, Juliano Seabra faz um balanço dos avanços de sua gestão, diz que não pretende empreender por si só e garante que seu sonho é fazer uma grande festa de encerramento das atividades da ONG por aqui por fábio dutra

fotos miguel lebre

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ilho de um sociólogo e de uma procuradora aposentada do município de São Paulo, estudante de relações internacionais, a trajetória de Juliano Seabra parecia que seguiria rumo à academia ou ao serviço público. ONU, quem sabe? Nada disso. Ao ingressar como trainee no Senac, ele se deparou com um convite inusitado: capitanear os projetos de empreendedorismo, neologismo que ele mal sabia do que se tratava de fato, uma das metas da instituição para a primeira década do novo milênio. Seabra topou, fez o dever de casa e foi estudar o assunto, ainda incipiente no Brasil. Por conta da fun-

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ção, a partir de 2002 se aproximou dos poucos personagens, ONGs e faculdades que se dedicavam ao tema até que foi convidado para um evento de uma tal de Endeavor, organização mundial trazida ao país por Jorge Paulo Lemann dedicada exclusivamente a fomentar um ambiente de empreendedorismo. “Foram ótimos painéis, teve show do Gilberto Gil, e eu pude ver toda a efervescência de uma tribo que começava a se formar”, lembra, ainda hoje encantado. Encerrou seu ciclo no sistema S em 2008 e começou a empreender com dois sócios numa empresa que se dedicava a fazer a interface entre negócios e políticas públicas, mas apenas poucos meses


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capaz de tirar meninos da garagem da casa dos pais diretamente para a lista da revista Forbes tem forte raiz em planejamento e investimentos estatais. Desde o local, parte de um projeto do governo dos EUA para levar um polo de desenvolvimento econômico para o oeste do país – no caso o Vale do Silício, na Califórnia, na região da megalópole San-San, união de San Diego, Los Angeles e San Francisco –, até o acesso a tecnologias de última geração sem barreiras de patente, a maioria desenvolvida em agências estatais. Mas ressalta a importância do liberalismo e do ecossistema denso de empreendedorismo que existe lá desde pelo menos os anos 1930, quando dois estudantes da Universidade de Stanford, Bill Hewlett e David Packard, fundaram uma empresa de tecnologia razoavelmente famosa até hoje, a HP. “É claro que o touchscreen dos celulares é uma

tecnologia militar, mas sem um agente que pegue essa tecnologia e junte com outra e mais outra até chegar no produto final, não existiria iPhone. É importante, assim, o investimento estatal, mas é um ambiente forte de empreendedorismo e uma boa e fácil interface entre negócios e universidade, como há na Califórnia, que geram os avanços”, resume. Sendo assim, vê com bons olhos as linhas de crédito criadas pelo BNDES do atual governo desde a gestão de Maria

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depois veio um convite para chefiar o setor de educação que a Endeavor pretendia criar e abortou a missão. “Aos 31 anos eu vi ali uma oportunidade de vida e acabei abandonando a sociedade”, diz ele, que preside a entidade desde 2013, tendo antes ainda passado um período como head de pesquisa, o que explica a quantidade de dados sobre o ambiente nacional de start-ups que tem na ponta da língua. No momento em que almoça com PODER no agradabilíssimo e ensolarado A Figueira Rubaiyat, nos Jardins, em São Paulo, Juliano Seabra prepara-se para deixar a presidência da Endeavor Brasil. Após cinco anos, ele faz o balanço de que foi positivo seu tempo à frente da principal igreja dos empreendedores nacionais. O ecossistema, para ficar no jargão do meio, está mais denso, tem mais capital disponível, o BNDES dá sinais de criação de mais produtos financeiros para quem tem uma ideia na cabeça, mas falta o dinheiro para a câmera, e os empresários estão mais preparados. De fato, no último biênio é que surgiram os dois primeiros unicórnios (como são chamadas as start-ups que ultrapassam a casa do bilhão em valor de mercado) brasileiros: a XP Investimentos (negócio mais tradicional, apesar de dedicado a fintech, e por isso contestado quanto ao fato de ser unicórnio puro-sangue) e a recente venda do 99Taxis, aplicativo de transporte fundado por Paulo Veras e outros dois sócios avaliado em mais de US$ 1 bilhão que acaba de ser adquirido pelo grupo chinês Didi Chuxing (o valor oficial da transação não foi divulgado). Seabra tem ciência de que o empreendedorismo norte-americano


“Investimento estatal é importante, mas é uma boa interface entre negócios e universidade, como há nos EUA, que gera os avanços” Silvia Bastos Marques no banco, bem como iniciativas de diversas universidades Brasil afora para fomentar o sugimento de novos atores nesse métier. “Um dos nossos conselheiros sempre diz que está cansado de jantar com os mesmos caras. O problema que a Endeavor tem que resolver é simples: são poucas histórias, muita burocracia

e pouco capital disponível”, pontua. “O maior fracasso para nós é um empreendedor que vai morar fora, não conta sua experiência, não dispõe de tempo para ser mentor dos iniciantes e, tendo dinheiro, não investe em novos negócios”, completa. E o dia que acabar a burocracia, tiver capital de sobra a juros negativos e surgirem dez

empreendedores no país a cada pedra que se tropece na rua? “Aí nós vamos dar uma senhora festa de encerramento das atividades da Endeavor Brasil”, ri, reafirmando a máxima de que o intuito de toda ONG é fechar a porta quando não mais existir o problema que se propôs a solucionar. Não é fácil, contudo, ser um empreendedor Endeavor. O foco não são pequenos negócios ou boas ideias, tal qual faz o Sebrae, mas negócios de alto impacto, que operam com crescimento rápido, seja pelo produto diferenciado, seja pelo modelo de negócio que permite fazer alguma coisa melhor e mais rápido do que os concorrentes. São as chamadas scales-ups (mais um entre centenas de anglicismos da tribo), o segundo passo da start-up. “Resolvemos para esPODER JOYCE PASCOWITCH 41


“Fracassamos quando um empreendedor vai morar fora, não conta sua experiência e, tendo dinheiro, não investe em novos negócios” ses caras o problema da solidão – ele passa a ter com quem trocar figurinhas e materiais a que recorrer quando tem um dilema, tal qual uma grande empresa com capacidade para contratar consultorias de peso ou com um conselho robusto. E nos diversos eventos e fóruns eles têm contato com figuras mais experientes, ao passo em que também expõem suas ações para os mais jovens, retroalimentando e fazendo crescer o ambiente de negócios que queremos”, explica. Nem tudo são flores, no entanto. Apesar de ter crescido o número de fundos de venture capital, ainda há pouco dinheiro no país. Isso faz com que o investidor peça muito equity (porcentagem do negócio) em relação ao volume de dólares que injeta e também fique com olhos vigilantes no negócio para evitar o cash burn (queima de dinheiro, na tradução literal). Assim, ao contrário de gigantes como Uber ou Amazon no exterior, que amargaram grandes prejuízos anos a fio antes de fazer decolar a linha final, a do lucro, o brasileiro tem que achar uma equação para crescer rápido controlando o custo e pegando o mínimo de dinheiro possível na praça para fugir dos juros altos ou da cessão enorme de parcelas do seu negócio. “É uma arte, de fato, mas estamos aqui para ajudá-los”, garante. Aos 39 anos, pai de dois filhos, amigo de nove entre dez empresários bem-sucedidos no país, afinal chegou a hora de Juliano Seabra

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pôr a mão no leme e navegar como capitão abrindo o próprio negócio. “Pretendo trabalhar com empreendedores – depois de descansar, mas

não empreender exatamente. Acho que performo melhor auxiliando”, conta. “E o Paulo Veras subiu muito o sarrafo!”, gargalha. n


PODER INDICA

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Luxo sem limites Para quem é fã de sofisticação e de viagens em alto-mar, as opções da Crystal Cruises são sempre imbatíveis. A empresa não cansa de se superar, buscando sempre novas inspirações para garantir cruzeiros ao redor do planeta cada vez mais glamourosos e surpreendentes. Prova disso é que, nos últimos anos, investiu US$ 120 milhões para elevar o padrão dos serviços e das instalações oferecidas a bordo. O Crystal Symphony, por exemplo, um dos navios da companhia, que é um dos mais luxuosos e premiados do mundo, acabou de passar por uma repaginação total, a maior de sua história. A embarcação volta para o mar com espaços redesenhados e novas comodidades – entre elas, penthouses mais amplas, com varanda e serviço de mordomo, e o conceito open seating, ou seja, não é mais preciso fazer reservas para o jantar. A instalação de tecnologias de última geração aperfeiçoou a conectividade e o acesso às opções de entretenimento e de conteúdo on demand oferecidos no navio

– sem falar no uso da internet, que é ilimitado. Para Tom Wolber, presidente e CEO da Crystal Cruises, as melhorias realizadas no Crystal Symphony focam não só o conforto, mas também garantem mais diversão e flexibilidade aos passageiros durante o cruzeiro, seja por permitir que eles decidam o melhor horário para fazer suas refeições ou por oferecer conexão de qualidade com a família e os amigos. “A empresa inovou e foi na contramão do mercado: em vez de aumentar a capacidade de passageiros, apostou na filosofia do ‘menos é mais’, ampliando as suítes e incluindo novos serviços e opções a bordo”, comenta Thiago Vasconcelos diretor executivo da Pier 1 Cruise Experts, representante oficial da Crystal Cruises no Brasil e referência em cruzeiros de luxo no país. MAIS INFORMAÇÕES, ENTRE EM CONTATO COM SEU AGENTE DE VIAGEM OU COM A PIER 1 CRUISE EXPERTS +PIER1.COM.BR +CRYSTALCRUISES.COM | TEL. (11) 3078-2474


TELHADO DE VIDRO

A nova alma do negócio

Escolas de administração e de economia de primeira linha incluem aulas de ética e de direitos humanos em seus cursos de graduação e pós-graduação. Por aqui, as instituições estão começando a rezar pela mesma cartilha por chico felitti ilustrações marina leme

U

ma sala de aula em uma faculdade de negócios. A balbúrdia dos alunos cessa na hora quando o professor dispara: “Quais foram os erros que destruíram Harvey Weinstein [conhecido produtor de cinema norte-americano que, no fim do ano passado, viu sua carreira ruir depois que várias atrizes vieram a público acusando-o de assédio sexual] em Hollywood e podem levar a empresa dele à falência?”. Um aluno levanta a mão antes de dizer: “Ele não conseguiu fazer todas as mulheres que o acusavam assinarem um acordo de sigilo”. Uma aluna retruca, sem pedir licença: “O erro dele foi abusar de dezenas de mulheres durante duas décadas”.

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A cena é ilustrativa, mas aconteceu, com algumas variações, nas salas de aula das melhores escolas de negócios do mundo. Tudo porque em cursos específicos para empresários e executivos, os professores passaram a gastar mais tempo (e saliva) discutindo temas como ética, assédio sexual e paridade salarial, só para citar alguns.“Esses profissionais não lidam apenas com crises financeiras. Também têm de responder por problemas éticos ou morais, que são tão importantes quanto qualquer outra questão corporativa”, diz Amy Wrzesniewski, professora de liderança em Yale, nos Estados Unidos. Amy conta que, à medida em que começaram a ganhar espaço na mídia e passaram a determinar o destino das corporações, esses assuntos se infiltraram mais



GERAÇÃO DE VALOR

A ONU fez uma pesquisa sobre responsabilidade social com 1.699 alunos de escolas de negócios ao redor do mundo. Aqui, alguns números do levantamento que mostram como as pessoas andam mais ligadas a essa nova realidade.

Qual é a importância de tomar decisões éticas para uma organização? 5,8% Nada importante 12,6% Minimamente importante 26,9% Medianamente importante 39,1% Muito importante 15,6% Extremamente importante

e mais nas aulas. “A gente fazia análise de casos uma vez por mês – agora, tem uma crise por dia”, contou Lynne Andersson, professora de RH da escola de negócios Temple, em uma entrevista ao jornal The Financial Times. A universidade, que fica na Filadélfia, passou a exigir que todos os alunos façam pelo menos uma matéria relacionada à ética durante a formação. Até então, a determinação valia apenas para os que buscavam especialização em recursos humanos. Com isso, questões antes relegadas a um punhado de matérias eletivas – caso de sustentabilidade e de responsabilidade social, só para citar duas, passaram a fazer parte da grade curricular. Para se ter uma ideia, no fim do ano passado, o New York Times publicou uma reportagem mostrando o aumento do número de alunos interessados em trabalhar com “compliance”, área que assegura que os negócios são feitos em conformidade com a lei, com a ética e com a transparência. O termo, ouvido à exaustão em delações premiadas e em acordos de operações como a Lava Jato, já anda rondando as escolas brasileiras. “Na administração, se estuda o fenômeno que acontece na vida real para gerar teorias. O movimento existe, logo, gerar conhecimento a partir dele é muito importante e as empresas, claro, têm interesse nisso”, diz Angela Yojo, da Universidade de São Paulo (USP). É preciso incutir novos valores na cabeça das pessoas que começaram a pensar o mundo dos negócios décadas atrás. A Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, por exemplo, tratou de criar um workshop

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Qual é a importância de uma empresa implementar ações para garantir a igualdade de gênero e combater a discriminação? 11% Nada importante 17,1% Minimamente importante 28,6% Medianamente importante 29,7% Muito importante 13,6% Extremamente importante Qual é a importância de adotar medidas de combate à corrupção? 18,1% Nada importante 22,7% Minimamente importante 24,2% Medianamente importante 22,6% Muito importante 12,3% Extremamente importante

sobre diversidade para seus professores e funcionários. “Muitos pertencem a outras gerações e sentem dificuldade em lidar com essa nova dinâmica”, explica Luiz Artur Ledur Brito, diretor da FGV-SP. Grupos de alunos ativistas estão reivindicando que essas aulas sejam estendidas aos graduandos. Em Harvard, os programas passaram a abraçar também outra causa: o sexismo. No segundo semestre do ano passado, casos de assédio sexual foram debatidos em Stanford. São dois cientistas políticos que ministram as aulas de ética na prestigiada universidade norte-americana, aliás. Ano que vem, Fern Mandelbaum, que foi executiva na Hewlett-Packard antes de se tornar uma das consultoras de CEOs mais conhecidas do mundo, vai estrear como professora em Stanford ministrando um curso com o sugestivo nome de O Design da Igualdade, Como Construir uma Organização Diversa e Inclusiva. Já a escola de administração da Universidade Vanderbilt, no Texas, propôs a Uber como tema de estudo na graduação. A empresa, dona do aplicativo de carona, passou “de heroína do Vale do Silício à vilã da era Donald Trump” por ter acobertado casos de assédio e de ter uma cultura corporativa predatória, na avaliação do cientista político brasileiro Mathias Alencastro, de Oxford, autor de um texto sobre o assunto publicado em janeiro.

POR DENTRO E POR FORA

Os novos tempos invadiram não apenas o conteúdo dos cursos, mas também o formato do ensino. Sediada


AULAS DE NATUREZA

A grama do outro lado do mundo é mais verde – pelo menos para a chef Morena Leite, do restaurante Capim Santo, em São Paulo. Desde julho do ano passado, ela está em Bali, na Indonésia, acompanhando sua Manuela, de 8 anos, que está matriculada na Green School. A Green, como o nome entrega, foi criada para ser a escola mais ecologicamente preparada do planeta, a começar pelas salas e pavilhões de bambu no meio da floresta. A luz é natural e, como não há paredes, a brisa faz as vezes de ar-condicionado. No currículo, aulas de línguas, lógica, matemática e de “matérias”inusitadas como luta na lama, por exemplo. O ensino se sustenta em três pilares: respeito à individualidade, sustentabilidade e senso de comunidade. A instituição nasceu depois que John Hardy, até então um joalheiro conhecido na Ásia, assistiu ao documentário Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore [ex vice-presidente norte-americano que se tornou ativista da causa ambiental após deixar a Casa Branca]. Hardy e sua mulher, Cynthia, ficaram tão impactados com o filme, lançado em 2006, que decidiram fazer sua parte. A Green School foi fundada em 2008 e, uma década depois, filhos de uma penca de celebridades já passaram pelos bancos de madeira certificada da instituição. A modelo australiana Lindy Klim matriculou lá seus três filhos – Goldie, que nasceu no fim do ano passado, deve seguir o caminho dos irmãos. Segundo os Hardy, há outros alunos do Brasil, mas, por uma questão de ética, não citam nomes. A maioria vem de famílias milionárias, não que isso seja fundamental, já que sai mais em conta estudar em Bali do que em muitas instituições de renome mundo afora. Para se ter uma ideia, a anuidade da inglesa Willcocks Nursery School, onde o príncipe William e Kate Middleton matricularam a princesa Charlotte, de 2 anos, pode ultrapassar os R$ 50 mil. Na Green, o ano letivo para uma criança de 3 anos custa R$ 25 mil e dobra em caso de alunos adolescentes. Morena, que vivia em Paris, foi para Bali visitar o irmão. “Ele mora no Green Village, condomínio que também é dos Hardy. Nos convidaram para conhecer a escola, nos apaixonamos e em dois dias matriculei a Manu”, conta a chef a PODER. Foi no Sudeste Asiático que Morena se reencontrou com os valores que recebeu dos pais, que, 40 anos atrás, se mudaram para Trancoso quando o vilarejo no sul da Bahia tinha meia dúzia de casas perdidas no meio do mato. A paulistana Morena cresceu na pousada da família em contato com hóspedes de vários países. “É um supercontraste com nossa vida em Paris”, compara. Morena e Manu ficam em Bali até junho, quando a filha concluir um ano na Green. Para a chef, a escola é fundamental para formar gente feliz e bem resolvida. “Acredito que nossos filhos são a melhor semente que podemos plantar neste mundo. Mas também acho que não existe regra quando o assunto é educação.”

em São Paulo, a escola de negócios Saint Paul está prestes a lançar um serviço de assinatura, nos moldes da Netflix, com microaulas de cinco ou dez minutos que garantem certificações importantes para atualizar o currículo. A assinatura mensal do serviço, previsto para começar a funcionar mês que vem, custa R$ 99. Até então, o curso mais barato da escola tinha mensalidades na casa dos R$ 3 mil. “O que a gente propõe hoje em dia é que as pessoas aprendam constantemente, que estejam ‘always on’”, explica José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul. “A nova formação funciona como se fosse um Lego. Cada microcertificação vai ser ligada a outras para formar uma maior”, completa. E as gerações atuais andam se importando cada vez mais com esse mundo, digamos, diferente. Em 2016, a ONU realizou uma pesquisa sobre responsabilidade social corporativa com 1.699 alunos de escolas de negócio ao redor do globo. Metade dos entrevistados afirmou que abriria mão de 20% do salário para trabalhar em uma empresa preocupada com o bem-estar de seus colaboradores. Um em cada cinco afirmou que toparia deixar de receber 40% da renda mensal para fazer parte do quadro de funcionários de organizações focadas em responsabilidade social. Há três anos, a Universidade de Columbia, em Nova York, instituiu um curso obrigatório sobre sexo e consentimento para graduandos e pós-graduandos não só dos cursos de negócios, mas também para estudantes de outras áreas. Os próprios alunos estão se mobilizando. Futuros homens de negócios de Columbia, Dartmouth e Harvard se juntaram para formar os Manbassadors, fusão das palavras “man” (homem) e “ambassador” (embaixador), grupos de homens que se comprometem a apoiar as mulheres na luta pela igualdade de gênero no mundo corporativo, que se reúnem para discutir maneiras de fazer isso. “Gerenciar a desigualdade faz parte do nosso trabalho”, diz Michael Richardson, aluno do quinto semestre de Columbia. O estudante de 20 anos, que sonha ser CEO de uma companhia da área esportiva, diz sem pensar duas vezes: “Mesmo que a gente seja beneficiado por essa desigualdade, devemos lutar para que ela chegue ao fim”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 47


TERAPIA

DISCUTINDO A RELAÇÃO Em Um Caminho Para Dois, Audrey Hepburn e Albert Finney viajam de carro pelo iluminado sul da França e, em vez da aproveitar a paisagem, resolvem discutir a relação, que não anda muito bem por aline vessoni

A comédia dramática francobritânica Two for the Road, traduzida aqui como Um Caminho Para Dois, de 1967,coloca os Audrey Hepburn e Albert Finney e em um cenário estonteante: o sul da França. Seus personagens, Joanna e Mark Wallace, não estão, contudo, curtindo a paisagem, mas analisando o casamento de doze anos. O diretor Stanley Donen construiu uma narrativa não linear, em que cenas do início da relação se intercalam com outras posteriores, o que leva o espectador a desvendar o fio condutor da história. No começo da carreira, o agora bem-sucedido, rico e esnobe arquiteto Mark era um pobre diabo, e Joanna, uma estudante a rodar a Europa com o coral feminino da faculdade. Nas idas e vindas da trama, os altos e baixos da união aparecem. O longa, escrito por Frederic Raphael, foi indicado ao Oscar de melhor roteiro, e a eterna bonequinha de luxo Audrey Hepburn, ao Globo de Ouro. n

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FOTO DIVULGAÇÃO

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VIAGEM

¿QUE TAL? Visual incrível, luxo e privacidade com direito a ficar o tempo inteiro de pernas para o ar graças a um staff eficiente e discretíssimo que aparece do nada para atender qualquer desejo seu. É exatamente assim que você vai se sentir no Las Ventanas al Paraiso, resort que fica em Los Cabos, no México

FOTOS BRUNO DIEGUEZ/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

por márcia rocha

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OÁSIS A arquitet ura completam do Las Ventanas fo i pensada p ente à paisa mesma lin ar ha e também gem local. A decora a se integrar ção segue rem que es n ão d ei xa os hósp a tão no Méx edes se es ico quece-

NO CAPRICHO ar: do lado de ual está em todo lug O cuidado com o vis a. A areia é “penteada” várias vefor dentro e do lado de onês lhor estilo jardim jap zes por dia – no me

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chamar de seu, que, entre outros mimos, deixa o closet com cara de loja, tamanho o capricho na hora de desfazer as malas – sem falar do kit de costura sob medida para as cores das roupas. O Las Ventanas conta também com um departamento de romance para produzir festa de sonhos. Leia-se: fogos de artifício, jantar à luz de velas na praia, mensagens escritas na areia e por aí afora. n

DOS D Dúvid EUSES a ou faz cruel: pas s e Las Ve ndo uma m ar o dia na vil ntana s? Dec assagem d la, na piscin os de ida se a. no m us for ca paz es no spa d ar os CASA DE PRAIA

Ok, a Ty Warner Mansion até pode ser a villa hours concours do Las Ventanas, mas as outras também não deixam a desejar. Com vários ambientes, piscina, jacuzzi, hospedar-se em uma delas vai fazer você pensar que está em sua casa de praia. Se você pedir ao mordomo para preparar seu café da manhã na cozinha da villa, então...

FOTOS BRUNO DIEGUEZ/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

L

as Ventanas al Paraiso. O nome não poderia ser mais adequado. O resort do multimilionário Ty Warner, administrado pela rede norte-americana Rosewood Hotels & Resorts, conhecida pela sofisticação (entre eles, o icônico Carlyle de Nova York e o Rosewood São Paulo, o primeiro da bandeira no Brasil), não é deste mundo. De frente para o Mar de Cortez, o Las Ventanas tem 83 “habitaciones” – entre elas 12 villas, seis pé na areia e a outra metade com vista para o mar. O staff possui tem cerca de 500 funcionários, o que significa três por hóspede. Quem fica nas villas tem um mordomo para


CASTELO NA AREIA

Cenas da Ty Warner Mansion, a villa mais top do Las Ventanas (sentido horário): hall de entrada, rooftop, um dos banheiros e o impotente portão de entrada com lago e jardim vertical. São 2.600 m2 de área com duas suítes, três piscinas, elevador privativo e diária acima de US$ 40 mil

*A jornalista viajou a convite da Xmart e do resort Las Ventanas al Paraiso

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

ENCONTRO

O clima é dos anos 1920, com um que de Great Gatsby – com sofás de veludo, candelabros, lareira e toques de ouro por toda parte. Vale dizer também que o Delilah, bar supercool em Los Angeles, é da mesma turma que está por trás do The Nice Guy, outro hotspot local, conhecido por redefinir a cena de festa da cidade. Inspirado na era de ouro de Hollywood, o local mistura jantar, drinques e uma pista intimista. Entre os drinques do mixologista Matt Seigel, aposte no the pink pPussycat, mix de rum, chardonnay, mel, rosas e chá de hibisco. DELILAHLA.COM

EM CAMPO

Mais do que conhecer restaurantes que priorizam ingredientes e produtores locais, tradição nos países nórdicos, uma turma da Noruega resolveu ir além. Estamos falando do Food Studio, espaço de gastronomia que organiza workshops nos campos do país – com detalhes como fogueira e vista para o pôr do sol – que exploram, in loco, a culinária da região e incentivam a sustentabilidade. Batizadas de Get Away, as experiências colocam os viajantes para participar, inclusive, da colheita dos ingredientes. A próxima acontece em fevereiro, em Oslo – uma semana antes, os participantes recebem orientações sobre o que levar na bagagem. FOODSTUDIO.NO

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ALINIO AZEVEDO

CEO DE HOSPITALIDADE DA ASPEN SKIING COMPANY

VIVEIRO

Um dos lugares mais legais de Londres, o Petersham Nurseries, tem novidades. O misto de antiquário, restaurante, casa de chá e loja de jardinagem acaba de inaugurar uma unidade em Covent Garden. O endereço tem feito a alegria dos fãs da casa que nem sempre encontravam tempo de se deslocar até Richmond. Por enquanto, o espaço instalado em uma townhouse cercada por verde e luz natural já abriu as portas de sua deli, adega com rótulos raros da Itália, floricultura e loja recheada de achados de jardinagem e de decoração. Este ano, o dois restaurantes entram em cena: o La Goccia, com aperitivos italianos feitos para compartilhar, e o The Petersham, mix das cozinhas inglesa e italiana e com proposta mais formal. PETERSHAMNURSERIES.COM

FOTOS DIVULGAÇÃO; EMILY CHAPLIN/DIVULGAÇÃO

BRASÃO

Depois de Milão, Bali e Londres, chegou a vez de Pequim ganhar um hotel com a assinatura da Bulgari. A começar pela localização, a novidade promete: fica no luxuoso bairro de Embassy District, às margens do rio Liangma e cercada por jardins de esculturas. E o melhor: trata-se do mesmo complexo do Genesis Art Foundation, museu com projeto de Tadao Ando previsto para abrir em 2018. São 119 suítes e restaurante italiano comandado pelo chef com estrela no Guia Michelin Niko Romito. Espalhado em dois andares do prédio, o spa é outro destaque com suas 11 salas de tratamentos focados em técnicas chinesas, piscina aquecida de 25 metros, sauna e academia. BULGARIHOTELS.COM

Um novo hotel Limelight; montanha-russa de 180 metros que passa no meio das árvores e parede de escalada. Essas são algumas novidades de Snowmass, da estação de ski Aspen/Snowmass, que completa cinco décadas este ano. Algumas dicas para quem vai estar por lá durante a temporada de inverno: ANTES DE ESQUIAR • Ajax Tavern - pelas famosas truffle fries e a variedade de cocktails. •Home Team BBQ, na base de Buttermilk - pela música ao vivo, transmissão de esportes na TV, fogueira ao ar livre e um premiado barbecue. •LimelightLounge - pelas pizzas, drinques especiais e música ao vivo. MELHORES PISTAS • The Highland Bowl, Aspen Highlands a caminhada de 30 minutos para o topo recompensa esquiadores com 2.500 vertical foot de descidas íngremes. •Silver Queen, em Aspen Mountain - inclui Elevator Shaft, a trilha mais íngreme de toda a Aspen Mountain com ângulo de inclinação de 42 graus, que desemboca na pista em frente ao hotel The Little Nell com vista para a cidade. •Long Shot, em Snowmass - pode ser acessada por uma rápida caminhada a partir do topo do teleférico Elk Camp, que recompensa os esquiadores com mais de cinco milhas de terreno entre árvores e pistas abertas. TOP RESTAURANTES •Cloud Nine, em Aspen Highlands - refeições alpinas com vista para o icônico Maroon Bells, um deque e uma festa dançante como nenhuma outra •Bonnie’s, Aspen Mountain - panquecas divinas para o café da manhã e os melhores assados, além de sopas e de produtos grelhados. •Gwyn’s High Alpine,em Snowmass - agora conta com bar, fogão a lenha e TVs de tela grande, bem como uma estação de café no piso inferior. PODER JOYCE PASCOWITCH 55


CORTINA

O PALCO NUNCA MAIS FOI O MESMO O arquiteto e professor Flávio Império elevou a cenografia teatral a um novo patamar ao ampliar a funcionalidade de objetos simples de cena nos engajados anos 1960 por ana elisa meyer 56 PODER JOYCE PASCOWITCH


O artista no quintal de sua casa, em São Paulo, nos anos 1980. Na outra página, cena de Arena Conta Tiradentes, de 1967

FOTOS REPRODUÇÃO

É

impossível falar da história da cenografia do teatro brasileiro sem mencionar Flávio Império (1935-1985). Nascido em São Paulo, o arquiteto, cenógrafo, figurinista, diretor, professor e artista plástico, foi um profissional multifacetado que transitou por todas essas áreas com desenvoltura e muita originalidade. Responsável por inovar a cenografia nacional, Império ingressou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) aos 21 anos. Ao mesmo tempo que seguia o curso, iniciou seu trabalho cenográfico no grupo de teatro amador da Comunidade Cristo Operário, na periferia de São Paulo, onde entrou em contato pela primeira vez com a dramaturgia engajada do alemão Bertolt Brecht

(1898-1956) e experimentou o desafio de criar com poucos recursos. Dois anos depois, em 1958, deu início à parceria artística com o dramaturgo Augusto Boal ao integrar o Teatro de Arena. De cara teve de pensar a cenografia de maneira distinta do que estava acostumado. No Arena, o palco não era italiano, de perspectiva frontal, mas circular, totalmente cercado pelos espectadores, uma maneira de tornar mais democrática a fruição da peça pelo público. A partir dessa nova necessidade, o artista optou por objetos ao mesmo tempo simbólicos e funcionais, como os praticáveis, que iam ganhando funções diversas ao longo do espetáculo. Com isso, Império imprimiu um novo significado à cenografia, que passou a ser dotada de uma postura reflexiva e crítica. PODER JOYCE PASCOWITCH 57


Cenas de Morte e Vida Severina, de 1960, com Walmor Chagas, em que Império cuidou dos figurinos e cenografia

O rompimento com as estruturas tradicionais fez nascer um teatro provocativo e ousado, no qual a escassez de recursos converteu-se em possibilidade criativa. O cenógrafo alcançou uma potente síntese ética e estética ao conceber, em 1960, os cenários e figurinos de Morte e Vida Severina para o Teatro Experimental Cacilda Becker. Na peça, Império utilizou materiais simples e baratos, como tecidos tingidos artesanalmente, papel e cola. A partir disso e da projeção de uma série de imagens, ele recriou a realidade miserável do nordeste brasileiro – um tanto pior em meados do século 20 do que hoje. Em 1962, o cenógrafo iniciou sua colaboração com José Celso Martinez Corrêa no Teatro Oficina. Lá assinou importantes trabalhos, como Os Inimigos (1966), no qual juntou as técnicas cenográficas artesanais e rusticas à ideologia do tropicalismo. Paralelamente, continuou a realizar importantes

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obras para o Arena, como Arena Conta Zumbi (1965) e Arena Conta Tiradentes (1967). Mas foi a partir do espetáculo Roda Viva, de Chico Buarque, em 1968, ao lado do diretor Zé Celso, quando incorporou o colorido, os elementos da cultura popular e a assemblage – técnica de colagem ou agrupamento de figuras, objetos e elementos visuais, criando efeitos pelo acúmulo ou da simples disposição espacial – que definiu as características que marcaram seus trabalhos ao longo das décadas seguintes. Depois trabalhando também como diretor, buscou acentuar o rompimento entre palco e público. Naquele mesmo tumultuado ano de 1968, em Os Fuzis de Dona Tereza, adaptação da obra de Brecht, a plateia é invadida por um coro de atores utilizando matracas no lugar de vozes, mudando o foco do individual para o coletivo, com o intuito de representar o povo brasileiro e o drama

Acima, imagens do útimo trabalho do artista, o show 20 Anos de Paixão, da cantora e amiga Maria Bethânia, em 1985

político que o Brasil vivia naquele momento. Mas se Império usou Brecht para engajar politicamente os espectadores, também usou de sua formação como arquiteto para discutir a nova perspectiva da caixa cênica e


“O teatro me ensinou a vida; a arquitetura o espaço; o ensino a sinceridade; a pintura a solidão” FLÁVIO IMPÉRIO

FOTOS REPRODUÇÃO

O histórico Teatro Oficina, em 1968, em que Império militou

as relações espaciais entre palco, plateia, ambientação e percepção. Ao mesmo tempo em que revolucionava a cena teatral, associou-se aos arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre (1938-1984) criando

o Grupo Arquitetura Nova, que era uma alternativa à modernização técnica e estética defendida pelo arquiteto e mestre de todos eles Vilanova Artigas (1915-1985). Por sete anos, realizaram uma série de projetos em que adotaram o mesmo princípio espacial de integração e valorização dos espaços coletivos e a utilização de técnicas elementares e materiais comuns de baixo custo. Império também atuou como um professor inovador na FAU entre 1962 e 1977, ano em que se demitiu em solidariedade aos professores cassados pela ditadura. Acabou sendo readmitido em 1985. Além da FAU, foi docente no curso de cenografia da Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD), no curso para formação de professores de desenho da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e na faculdade de arquitetura da Belas Artes. Como artista plástico, Império buscava por meio do desenho, da pintura e da litografia organizar suas ideias. As cores, para ele eram elementos sensoriais, evidenciando o aprendizado e a adesão do artista à linguagem modernista. Mas o espa-

ço tridimensional era seu território preferencial. Na metade da década de 1970 deu início à parceria com Fauzi Arap (1938-2013) em espetáculos teatrais e musicais. Juntamente com o diretor e dramaturgo paulista, realizou as elogiadas peças Pano de Boca (1975) e Um Ponto de Luz (1977), de autoria de Arap. Essa nova parceria o levou a trabalhar com grandes nomes da música popular brasileira, tais como Maria Bethânia e Doces Bárbaros, incorporando todo o seu conhecimento de organização do espaço e o uso de matérias alternativos, transformando as apresentações musicais em verdadeiros espetáculos visuais. Nos seus últimos anos de vida, criou cenários e figurinos cheios de brasilidade para as peças Chiquinha Gonzaga (1983) e O Rei do Riso (1985) e realizou a cenografia do show 20 Anos de Paixão de sua mais fiel parceira no meio musical, Maria Bethânia. Por certa ironia do destino, Flávio Império morreu no Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro, em 1985 – prestes a completar 50 anos – mas seu rico legado seguirá presente na nossa cultura. n PODER JOYCE PASCOWITCH 59


É DE PODER POR ANA ELISA MEYER

ANNA KARINA E JEAN-PAUL BELMONDO

Quando estrelaram O Demônio das Onze Horas (Pierrot le Fou), de 1965, do francês Jean-Luc Godard, Anna Karina e Jean-Paul Belmondo já eram atores consagrados e nomões da nouvelle vague. Dinamarquesa nascida em Solbjerg, Anna, hoje com 77 anos, iniciou sua carreira em Paris e foi casada com Godard por quatro anos. Belmondo, agora com 84 anos, começou a atuar aos 17. O duo já havia contracenado em Uma Mulher É uma Mulher (Une Femme Est une Femme), de 1961, também de Godard, e a química do casal já havia dado sinais de que deixaria marcas profundas no melhor cinema europeu daquela década.

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ÓCULOS Ray-Ban para Óticas Carol R$ 772 oticascarol.com.br

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BRINCO Vivara R$ 200 vivara.com.br


PROTEÇÃO

Anita Sturnham, renomada dermatologista de Londres, é o nome por trás da Nuriss, linha de cosméticos que o spa do cinco-estrelas La Sivolière, em Courchevel, oferece a seus clientes nesta temporada. Com matérias-primas nobres e tecnologia de ponta, os produtos são indicados para todos os tipos de pele e garantem proteção extra depois de um dia esquiando pelos Alpes franceses. HOTEL-LA-SIVOLIERE.COM

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BLAZER Ricardo Almeida R$ 1.901 ricardoalmeida.com.br

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MODA ARQUITETADA

A Prada inovou na coleção masculina outono/inverno 2018, apresentada em Milão este ano. A maison convocou uma turma de peso da arquitetura e do design mundial para criar peças a partir do náilon, o material ícone da marca. Entre os convidados do projeto, chamado Prada Invites, estão os franceses do escritório Ronan & Erwan Bouroullec, o alemão Konstantin Grcic, o escritório suíço Herzog & de Meuron, além do consagrado arquiteto holandês Rem Koolhaas. Eles assinam roupas e acessórios masculinos que reúnem elegância e praticidade com pegada fortemente urbana. PRADA.COM PODER JOYCE PASCOWITCH 61


MOTOR

Quer cair na estrada e levar a casa – ou parte dela – junto? Confortáveis campervans e uma nova geração de veículos pouco maiores que os SUVs possibilitam, com alguns arranjos internos, dormir, cozinhar e, dependendo do caso, até tomar banho neles por aline vessoni

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CAR SWEET HOME


MARCO POLO HORIZON MERCEDES-BENZ

Esta campervan da Mercedes é ideal para quem gosta de turismo de aventura sem abrir mão de luxos próprios da vida urbana (quem nunca?). Com a cama que pode ser formada com os bancos e a notável elevação do teto do veículo, o Horizon acomoda até cinco pessoas – deitadas – em seu interior. A partir de R$ 210 mil PODER JOYCE PASCOWITCH 63


Espaço interno não é problema nos motorhomes produzidos pela brasileira Santo Inácio. Montado sobre o chassi Iveco, o modelo 7.5 SI equilibra espaço com dirigibilidade. Aqui, cabe a família toda: cinco passageiros mais um motorista, totalizando seis leitos para dormir. Banheiro e cozinha completos possibilitam encarar um trajeto mais longo com muito mais autonomia. A partir de R$ 410 mil.

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SANTO INÁCIO 7.5 SI | IVECO


CALIFORNIA | VOLKSWAGEN

Um veículo polivalente, que reúne engenharia eficiente, acessórios de alta qualidade e modernos sistemas de informação e entretenimento. O California também permite a elevação do teto, aumentando o espaço aéreo do carro. A pequena cozinha do “pavimento inferior” está habilitada para motorista e passageiros prepararem e degustarem uma refeição deliciosa durante o passeio ou viagem. A partir de R$ 220 mil.

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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

PRATO PRA

M A NG A Suco, sobremesa, salada ou até mesmo acompanhando uma receita salgada com mais ingredientes. Quando o assunto é comer bem, não tem essa de amarelar: a manga encara todas, mesmo quando está verde

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FOTO ISTOCKPHOTO.COM

M

anga tem cara e sabor de verão. Originária da Índia, da família botânica Anacardiaceae, suas 100 variedades deixam todo mundo com água na boca. Rica em vitamina C e betacaroteno – substância que garante a coloração amarelada da polpa e o efeito antioxidadente geral da fruta –, a manga, além de deliciosa, atua portanto contra o envelhecimento precoce, não só no que diz respeito à estética, mas também à saúde. Não para aí: a fruta também é pródiga em vitamina A, fibras e tem muita água. “Aliadas do bom funcionamento intestinal, as fibras trazem a sensação de saciedade. Por conta disso, minha sugestão é sempre trocar o doce pela fruta, que também tem sabor açucarado e 50 calorias, em média, a cada 100 gramas. Isso sem falar de carboidratos, potássio, fósforo e cálcio e da ação diurética”, afirma a nutricionista Roseli Ueno, formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mas é importante alertar: quem quer perder peso ou é diabético não deve enfiar, digamos, o pé na manga. E, por favor, não repasse aquela história de que manga com leite mata. “Mito da época da escravatura. Era um jeito de evitar que os escravos consumissem o leite comercializado por seus senhores”, explica a nutricionista. n


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SALADA DE PUPUNHA, MANGA VERDE, CHUCHU, TOMATE-CEREJA E CROCANTE DE QUEIJO COALHO

ANA LUIZA TRAJANO, CHEF DO INSTITUTO BRASIL A GOSTO 3 PORÇÕES INGREDIENTES • 600 g de palmito pupunha • 120 g de manga verde • 600 g de chuchu • 100 g de tomate cereja • 60 g de pesto de cheiro verde • 60 g de vinagrete de limão

• 150 g de queijo coalho • sal e pimenta a gosto MODO DE PREPARO Passar o pupunha no mandolim (cortador) com a lâmina de corte em julienne. Fazer o mesmo com o chuchu descascado. Colocar o palmito em uma panela com caldo de legumes e cozinhar por aproximadamente dez minutos em fogo baixo. Enquanto isso, deixe o chuchu de molho em um bowl com água. Na hora de servir, misture o palmito cozido, a manga cortada em meia lua (fatias finas) e o chuchu, tempere com o vinagrete de limão, o pesto, além de sal e pimenta. Para finalizar, decore com os tomates-cereja e o crocante de queijo coalho.

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CHURRASQUEIRA A GÁS TGP 1050 Tramontina R$ 2 mil tramontina.com.br

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MUSSE VIVO DE MANGA

ARLETE ZBONIK, CHEF DA LAPINHA SPA 23 PORÇÕES (20 G CADA)

• 1/2 colher (sopa) de linhaça • 1/2 colher (sopa) de chia (10 g) MODO DE PREPARO Hidrate a linhaça e a chia com água por duas horas. Enquanto isso, bata o damasco, o leite de coco, a manga e o suco de limão no liquidificador durante cerca de cinco minutos. Em seguida, bata a clara em neve e misture com o creme que você acabou de preparar, acrescente as passas, a chia e a linhaça. Antes de servir, mantenha na geladeira até firmar o ponto.

* PREÇOS PESQUISADOS EM JANEIRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES. FOTOS PATRICIA CECATTI/DIVULGAÇÃO; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

INGREDIENTES • 2 xícaras (chá) de manga • 1 clara de ovo • 1 colher (sopa) de uva-passa • 7 unidades de damasco seco • 1/2 xícara (chá) de leite de coco • 1 colher (chá) de suco de limão

BALDE DE GELO Lelis Blanc Casa SOB CONSULTA lelisblanc.com.br

FAQUEIRO PÉROLA DOURADO (130 PEÇAS) St. James R$ 7.500 luxe4home.com.br PODER JOYCE PASCOWITCH 69


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

S.O.S. PÉ NA JACA...

Ok, a força de vontade e o primeiro passo são com você, mas estes gadgets e aplicativos vão ajudar a sair da inércia e a eliminar os excessos do fim do ano e do verão que ainda está na área

GARMIN FORERUNNER 735XT

SLEEP AS ANDROID

Smartwatch multiesportivo perfeito até para triatletas. E mesmo que (ainda) não seja o seu caso, você pode aproveitar as funcionalidades – que não são poucas – para contar passos, calorias e períodos de descanso. Ele mede a frequência cardíaca diretamente no pulso, oferece dinâmica avançada para ciclismo, natação e corrida para registrar o equilíbrio de tempo de contato com o solo, o comprimento da passada e proporção vertical. E tem mais: o recurso poliesportivo automático permite que você altere entre os esportes com apenas um toque no botão.

Se você quer emagrecer, precisa dormir bem. E se suas noites andam complicadas, este app pode ser um bom companheiro, monitorando a qualidade de seu sono (roncos, inclusive) e fazendo soar alarmes inteligentes, que ajudam a acordar com mais pique e disposição. Disponível para Android.

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WERNER SCHAAL

QARDIOBASE SMART SCALE

Parece uma balança? Ela engana bem, mas é muito mais que isso. Além de informar seu peso, mede a porcentagem de gordura corporal, de água e de massa óssea. E vem com bluetooth e wi-fi e pode ser configurada para não exibir números. A vantagem? Você não fica sofrendo a cada grama que ganha e pode gravar estatísticas para rastrear ao quando quiser no aplicativo. R$ 450 GETQARDIO.COM

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Diretor de vendas da Porsche Brasil “Como a vida atual anda muito agitada, quando sobra tempo gosto de reunir a família para assistir a uma série ou ver filmes na Netflix. Aí, a gente aproveita e pede algo para comer pelo aplicativo iFood. No dia a dia, no trajeto casa/trabalho, uso bastante o Waze e o Spotify com a minha playlist favorita.”


GOOGLE FIT

Você dá o primeiro passo e o Google Fit acompanha, calculando a quantidade diária de passadas, permitindo que você defina metas e veja como anda seu histórico. Caso você tenha um monitor cardíaco, ele também computa a frequência. Para completar, gera relatórios com comparações diárias ou semanais. Disponível para Android. GRÁTIS

PODER INDICA

LOW-TECH

VERSATILIDADE

Ana Vaz é designer têxtil e Tatiana Queiroz de joias. As duas se reuniram e fazem uma mistura improvável, e com resultados incríveis, juntando materiais tecnológicos e naturais para produzir esculturas e objetos que fazem parte do acervo do Estúdio NáNí. De processos artesanais – como crochê e tricô – e combinações de fios de algodão e de cobre, a dupla cria peças versáteis e alegres que servem tanto para decorar quanto para guardar uma variedade de objetos. Ah! Elas podem ser usadas como vasos para plantas. INSTAGRAM @DPOTOBJETO

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SAMSUNG GEAR ICONX

Uma boa música pode ser um belo empurrão naqueles dias em que você está querendo “pular” a academia. Se você usar um fone de ouvido sem fio, então. Este modelo permite baixar músicas e criar listas de reprodução ou ouvir no modo streaming, via bluetooth, mesmo que seu smartphone não esteja por perto. Para completar, ainda oferece monitoramento diário de exercícios com mensuração automática de velocidade, tempo, calorias e distância. R$ 1.499 SAMSUNG.COM/BR

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O propósito deste gadget é ajudar na recuperação muscular de atletas profissionais e amadores por meio de LEDs vermelhos e infravermelhos. Além disso, segundo o fabricante, o aparelho contribui para eliminar gordura localizada. Para conseguir esse efeito, é preciso fazer duas aplicações seguidas, de 20 minutos no total, duas vezes por dia. R$ 890 COSMEDICAL.COM.BR

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

O sertão é todo lugar Depois de oito anos longe do teatro, Bia Lessa ganha prêmio por sua adaptação, ou transposição, como ela prefere dizer, da obra-prima de Guimarães Rosa

“P

ara mim, teatro é muito sagrado. Pode ser até que eu monte três peças em um ano, mas tem que ser uma coisa que eu precise muito dizer.” A dona dessa fala é a diretora de cinema e de teatro Bia Lessa. Talvez isso explique a ausência de oito anos dos palcos, período em que não fez nenhum tipo de trabalho nessa linha. Ano passado, o “assunto” reapareceu com

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a peça-instalação Grande Sertão: Veredas. Os paulistanos puderam ver a montagem primeiro (a peça ficou em cartaz em setembro e outubro no Sesc Consolação). Agora, quem quiser assistir ao espetáculo tem até o dia 29 de março para ir ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. A montagem rendeu a Bia o prêmio de melhor direção teatral do ano da Associação Paulista de Críticos de Arte


FOTOS PAULO FREITAS; ROBERTO PONTES/DIVULGAÇÃO

(APCA). A relação com a obra de Guimarães Rosa não é de agora. Em 2006, Bia foi convidada para montar uma sala na inauguração do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A história narrada pelo jagunço Riobaldo foi seu alicerce. “Quando li, me deparei com a dificuldade de colocar imagens na exposição. O lindo de Grande Sertão é que ele diz que o sertão está em toda a parte, está dentro da gente. O sertão não é o sertão de Minas ou do interior da Bahia. É Paris, é Tóquio, é Londres. O sertão é o vazio, o metafísico, a questão humana”, diz ela. Feita a exposição, Bia entendeu que tinha terminado de “traduzir” o grande escritor mineiro. Acontece que a obraprima do gênio de Cordisburgo não a deixava sossegada. “Era um livro que ficava me atormentando, até pela dificuldade de montá-lo no teatro”, lembra. A diretora – que já havia adaptado grandes obras literárias, caso de Virginia Woolf e de Graciliano Ramos – voltou a ler Grande Sertão e resolveu que era hora de transformá-lo em cena. “Fui muito mais mobili-

zada pelo processo e pelo desafio do que pela certeza de conseguir fazer essa transposição.” Bia é da geração teatral que, nos anos 1980, fez incursões na arte visual da montagem. No desenho conceitual da nova peça, ela se viu diante de um “problema gigante”: afinal, como representar em cena um sertão que não é visual, mas metafísico? “Teatro é imagem pura. Ao mesmo tempo, o teatro é algo tão generoso, tão metafórico, que optei por não criar imagens, mas evocá-las.” No espetáculo, não há cenário nem figurino sertanejo. Não há sotaque nem representação gráfica da geografia da seca. No palco, atores experientes – como Caio Blat, que faz Riobaldo – dividem a cena com estreantes, estratégia para multiplicar interpretações e sentidos. O espectador é provocado a decifrar seu próprio sertão. Com fones de ouvido, ouve-se a trilha sonora de Egberto Gismonti enquanto se desenrola o enredo visceral de violência e de paixão. “Meu desejo era criar uma encenação que permitisse ao espectador ter várias leituras”, conta Bia. n PODER JOYCE PASCOWITCH 73


ARTE VALE A PENA VER DE NOVO

Beatriz Milhazes, que está entre os artistas vivos mais caros do mundo, fala do livro da Taschen sobre seu trabalho e conta como se reinventa depois de três décadas de carreira Lançado no fim do ano passado, e com edição limitada, o livro da alemã Taschen percorre as diferentes fases do trabalho de Beatriz Milhazes. São mais de 280 peças criadas entre 1981 e 2016 com técnicas como pintura, colagem sobre papel, além de instalações, esculturas e obras para espaços públicos com a profusão de cores, ritmos e formas exuberantes que são marcas registradas de Beatriz. Uma mostra panorâmica da artista no Brasil está em projeto para 2019/2020. Até lá, ela prepara uma exposição com peças inéditas na White Cube, em Londres, com abertura prevista para abril, e ainda assina dois murais para o novo prédio do Hospital Presbiteriano de Nova York, que deve abrir este ano. Em entrevista a PODER, Beatriz fala sobre a carreira, o prestígio dos artistas brasileiros lá fora e os recentes episódios de censura às artes por aqui [ano passado, um vídeo que viralizou na internet gerou polêmica ao mostrar uma criança tocando os pés de um artista nu durante performance no Museu de Arte Moderna, MAM, em São Paulo]. PODER: Como foi o processo de preparação do livro? BEATRIZ MILHAZES: Tudo começou em 2007, quando

Hans Werner Holzwarth, editor contratado pela Taschen, iniciou uma pesquisa no arquivo do meu ateliê. Em paralelo, fez uma ampla leitura de textos, de artigos e de críticas. Foi preciso fotografar novamente várias obras, o que exigiu descobrir peças desaparecidas e uma logística que envolveu colecionadores, galerias e marchands em diversos países no mundo. Foi um trabalho muito interessante de revisão de minha obra e carreira, um repensar sobre todo esse processo e a evolução de 1981 a 2016. Foi um aprendizado. PODER: Depois de mais de três décadas de carreira, o que você faz para se reinventar? BM: Meu processo é sempre evolutivo. Digo que trabalho meio como cientista: a cada período introduzo novas questões para a pintura, que iniciam uma reação em cadeia, ideias que, depois, provocam uma mudança no resultado plástico. A descoberta da possibilidade de desenvolver obras importantes em outros meios como colagem sobre papel, serigrafia, instalações, cenografia, obras para espaços públicos e, mais recentemente, esculturas, me deram a chance de pensar e de dialogar com a minha linguagem em arte. PODER: Você acha que, atualmente, o cenário internacional está mais favorável para os artistas brasileiros?

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BM: O fato mais recente e que considero um grande avanço é o interesse pela história da arte brasileira. Retrospectivas de artistas como Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica e, em 2018, Tarsila do Amaral no MoMA, em Nova York. Isso é fantástico! Quando iniciei minha carreira no exterior, nos anos 1990, era muito difícil falar sobre o nosso modernismo, especialmente de Tarsila do Amaral, uma referência importante para a minha obra, e perceber o desconhecimento sobre a nossa história da arte. PODER:Qual é sua avaliação dos recentes episódios de censura às artes no país? BM: A liberdade de expressão na arte é fundamental e esses episódios não são novos. Márcia X [Márcia Pinheiro de Oliveira], artista de minha geração, sempre teve manifestações agressivas como resposta as suas exposições. Em 2005, uma obra sua foi retirada de uma mostra no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, por “agredir a moral e a Igreja Católica” [a obra mostrava o contorno de dois pênis feito com terços]. Nelson Leirner foi processado por pedofilia em uma mostra de 1998, no Rio [o artista fez um grafite com conotações sexuais sobre uma foto de Anne Geddes, australiana conhecida por seus retratos de bebês]. Esses episódios tiveram ampla cobertura da imprensa, mas não estávamos na era das redes sociais. Hoje, é preciso ter cuidado com possíveis manipulações políticas por trás dos fatos, tanto da chamada “direita” quanto da chamada “esquerda”. A arte sempre incomoda, a liberdade de pensamento não é controlável e o artista é um ativista em si.


INDEX

MÚSICA

Arte Degenerada. Esse foi o nome que o governo alemão escolheu para uma mostra de arte moderna de 1937, em Munique. Foram exibidas cerca de 650 obras confiscadas dos principais museus públicos do país para servir de exemplo de arte condenada pelo regime nazista. Lasar Segall estava entre os 112 artistas “degenerados”. Oito décadas depois, o museu paulistano que leva o nome do pintor, gravurista e escultor lituano que se mudou para o Brasil em 1923 , traz a mostra Arte Degenerada de Lasar Segall. Até 30 de abril, é possível ver 35 obras de Segall que fizeram parte do evento de Munique.

BODA DIVIDIDA

Uma das mais celebradas cantoras líricas contemporâneas, a soprano alemã Diana Damrau é a Condessa de Almaviva na ópera As Bodas de Fígaro, de Mozart. Gravada no lendário La Scala de Milão e considerada uma das obras-primas de Mozart, a ópera-bufa está disponível em DVD e Blu-ray na Amazon.

CINEMA MINISTRO HISTÓRICO

Gary Oldman faz uma extraordinária interpretação do primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill em O Destino de uma Nação. O filme retrata o momento em que o líder britânico toma posse no cargo em plena Segunda Guerra. Oldman, uma “força da natureza”, para usar a expressão publicada em reportagem na Variety, revista semanal norte-americana de entretenimento, é um dos indicados ao Oscar de melhor ator este ano.

LITERATURA

FOTOS DIVULGAÇÃO

DE COLECIONADOR

Páginas retiradas do diário do poeta Carlos Drummond de Andrade, recolhidas por sua filha Maria Julieta [que faleceu antes do pai], compõem Uma Forma de Saudade (Companhia das Letras). No livro, Drummond escreve sobre familiares e amigos, como o também poeta Manuel Bandeira. A edição também traz fotos do arquivo da família e reproduções de anotações do poeta. PODER JOYCE PASCOWITCH 75


UNIVERSO PARTICUL AR POR MÁRCIA ROCHA

Formado em medicina pela Universidade de São Paulo (USP), o psiquiatra Leopold Nosek atua como psicanalista há mais de quatro décadas. Conta que lhe deu prazer escrever seu último livro, A Disposição para o Assombro, que saiu no fim do ano passado pela editora Perspectiva, por ter se permitido tomar certas liberdades, digamos, estilísticas no texto. Foi isso que o fez, por exemplo, usar a palavra assombro para o que a psicanálise conhece como trauma. “O assombro é o novo, aquilo com o que não sei lidar - e isso algumas vezes machuca”, explica o médico de 70 anos, que nasceu em Bialystok, na Polônia, e veio para o Brasil quando ainda era criança.

ONDE MAIS GOSTA DE FICAR:

na praia, embaixo de um flamboyant PSIQUIATRA QUE É UMA REFERÊNCIA:

o suíço Ludwig Binswanger FILME QUE NÃO CANSA DE VER:

a trilogia O Poderoso Chefão SE NÃO FOSSE PSICANALISTA: seria músico, ou Karl ou Groucho Marx COMO É QUE VOCÊ ESFRIA A CABEÇA:

falando merda ou tocando piano SEU MELHOR OUVINTE:

Chucky (meu cachorro) LIVRO DE CABECEIRA: Doktor Faustus, de Thomas Mann MELHOR ANTIDEPRESSIVO:

chocolate O QUE TIRA VOCÊ DO SÉRIO: burrice

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Por conta disso, segundo ele, é preciso ter coragem para se deixar surpreender. “A tendência é a pessoa se fixar na tradição, no que já sabe, e utilizar fórmulas antigas para lidar com situações desconhecidas”, pontua. E completa “se você quer aprender algo precisa se assombrar. E o ser humano é um assombro, é infinito por definição. Cada sessão que eu tenho com um paciente é nova. Cada intervenção, cada frase, cada diálogo são novos. Nunca vi aquilo. Preciso estar aberto para isso, que eu considero essencial na prática psicanalítica”. O livro traz uma coletânea de artigos escritos ente 2009 e 2016 – “todos a partir de uma demanda externa ou de um convite”, escreveu ele no prefácio. n

PAÍS QUE NÃO SAI DO SEU MAPA:

Itália PACIENTES PSIQUÁTRICOS NOTÁVEIS: Van

Gogh, Ernest Hemingway, John Nash, Edgar Allan Poe... eu mesmo MANIA: de querer tudo para ontem O QUE TEM MAIS PODER: DINHEIRO OU SEXO?: qual é a diferença?

Poder para quê? SOBRE A DOUTORA NISE DA SILVEIRA: aquela que esqueceu os

curadores que a ajudaram a escolher os artistas do ateliê de pintura e modelagem do Engenho de Dentro [Seção de Terapêutica Ocupacional do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro, atual Museu de Imagens do Inconsciente]. Um deles é o pintor e artista gráfico Almir da Silva Mavignier [que, entre 1941 e 1946, criou o ateliê com a psiquiatra Nise da Silveira].

FOTOS BOB WOLFENSON/ARQUIVO PESSOAL; ISTOCKPHOTO.COM; DIVULGAÇÃO

Em seu último livro, A Disposição para o Assombro, o psiquiatra e psicanalista Leopold Nosek diz que é preciso ter coragem para se deixar surpreender e compara a prática psicanalítica a uma aventura, a abrir a porta para o estrangeiro


CABECEIRA

ESTANTE

O ator Renato Borghi está prestes a completar 80 anos, 60 deles em cima dos palcos. Sua paixão pela literatura, no entanto, começou muito antes de escolher sua profissão. “Meu pai lia muito e, por influência dele, comecei a ler bem cedo”, diz. Ao optar pela dramaturgia, percebeu que seu hábito era indispensável para criar novas possibilidades de interpretação. “O ator precisa ler para trabalhar a imaginação” – e haja imaginação para movimentar uma carreira de seis décadas non-stop e papéis inesquecíveis, como o de Abelardo I, em O Rei da Vela. Aliás, a montagem de 1967, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, começou com uma leitura despretensiosa daquilo que ele achava ser apenas “um livrinho velho” de Oswald de Andrade. Borghi acabou por descobrir no texto uma ótima metáfora para criticar a situação política do Brasil nos tempos da ditadura e foi um sucesso estrondoso, tanto em 1967 quanto em 2017, quando ele e Zé Celso repetiram a parceria. Com um gosto literário refinado, é do tipo que lê várias

CRIME E CASTIGO – FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

FOTOS DIVULGAÇÃO

“Impressionante da primeira à última linha, porque a força de Dostoiévski na criação do personagem é uma coisa muito difícil de se encontrar na literatura.”

coisas ao mesmo tempo. Depois de um 2017 tumultuado com o remake de O Rei da Vela – que lhe rendeu o prêmio de melhor ator de teatro – entrou em cartaz com a peça Romeu e Julieta 80, ao lado de Miriam Mehler, no Sesc Ipiranga. Depois desse trabalho, começa os ensaios para outra peça e se prepara para atuar em um seriado da Globo. “Quando a vida fica muito corrida, não consigo ler com tanta frequência”, conta ele, que, mesmo assim, contabiliza leituras concomitantes de Queer, de William Burroughs, A Humilhação, de Philip Roth, e Nossas Noites, de Kent Haruf. “Ah! E terminei a autobiografia de Rita Lee, porque eu gosto dela”, finaliza.

por aline vessoni

O RETRATO DE DORIAN GRAY – OSCAR WILDE

QUINCAS BORBA – MACHADO DE ASSIS

“O que me impactou nessa história foi esse desejo da eternidade, da beleza eterna, a coisa de vender a alma; que é algo que vai me impressionar bastante também em Fausto, de Goethe, que li posteriormente.”

“Foi o primeiro livro de Machado que li. A técnica que ele utilizou de sair da ficção e de conversar com o leitor – como se ele estivesse na sua frente – foi uma coisa totalmente nova para mim. Eu li toda a obra de Machado, aliás.”

PERSONAS SEXUAIS – CAMILLE PAGLIA

“É um livro com o qual às vezes você está de acordo, outras não. Ele faz uma análise das obras de arte da pintura, da literatura a partir de uma ótica muito especial que põe abaixo muita coisa referente ao feminismo tradicional. A partir dessa leitura, eu escrevi a peça Cadela de Vison.”

A LESTE DO ÉDEN – JOHN STEINBECK

“É a história do conflito entre um pai e seus dois filhos. Eu me identifiquei muito com a divisão daquele pai entre os filhos.”

O REI DA VELA/A MORTA/O HOMEM E O CAVALO – OSWALD DE ANDRADE

“Foi uma revolução na minha vida, na minha carreira. Peguei um livrinho velho, li, enlouqueci, levei para o grupo. O Zé Celso [José Celso Martinez Corrêa] a princípio foi relutante, mas depois também se apaixonou e nós descobrimos Oswald . Foi a primeira obra dele que li. Depois entrei de cabeça na obra dele.”

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POLE POSITION por josé rubens d’elia

FOCO: A BASE DA

Na lista dos requisitos indispensáveis para sucesso e alta performance, certamente o foco é um forte concorrente ao pódio. Curioso é que, mesmo que a maioria saiba disso, pouca gente desenvolve essa habilidade. Que atire a primeira pedra quem consegue ficar sem checar e-mail, Face e WhatsApp mesmo quando está fazendo alguma coisa que exige total concentração. Com toda a complexidade e a quantidade de informações que circula atualmente, o mundo moderno é um convite permanente para interrupções. Em O Foco Triplo, uma Nova Abordagem para a Educação, livro que o psicólogo e pesquisador de Harvard Daniel Goleman escreveu em parceria com Peter Senge, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma vida bem vivida exige o domínio de três tipos de foco: o interno, o no outro e o externo. O interno conecta nossa intuição, valores e decisões; o foco no outro tem a ver com empatia e garante um bom relacionamento com as pessoas; e o ex-

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terno nos permite entender o mundo que nos cerca. Os estudiosos afirmam que os três são determinantes para conquistar equilíbrio, felicidade e sucesso. Por mais que pareça difícil e complicado, o negócio é não jogar a toalha. Os neurocientistas ensinam que o foco, que também chamamos de atenção, é uma espécie de músculo vital da mente. Se for utilizado da maneira correta, melhora e se amplia. Outro dado importante: nossa atenção está sempre em batalha contra distrações internas e externas. Consultores especializados no treinamento de líderes corporativos dizem que manter o foco é um dos maiores problemas desse público. Fazendo um recorte para o esporte, o cenário é mais ou menos o mesmo. O psicólogo sueco K. Anders Ericsson realizou vários estudos associando a atenção a uma forma inteligente de treinar. Para ele, o “segredo da vitória” é o treino intencional em que o especialista elabora exercícios que devem ser realizados pelo atleta com dedica-

ção e concentração total. O feedback sobre o que pode ser aperfeiçoado também é importante – praticar sem receber feedback impede a evolução. Quando o treinamento é realizado com o foco em outro lugar, o cérebro não reprograma o circuito relevante para a atividade em questão. Treinar vendo televisão, por exemplo, não melhora o desempenho. Quem atinge o estado de alta performance nunca para de evoluir – a menos que resolva abandonar o treino inteligente. Ericsson dá outra importante contribuição para quem deseja atingir o estágio de alto desempenho: é necessário descansar para recuperar a energia física e mental. O treino pesado deve corresponder a quatro horas diárias. Quando o cansaço extrapola o limite físico, o foco despenca. Retomando a ideia da atenção como músculo mental, é possível fortalecê-la por meio de exercícios. Um jeito é manter o foco em algo ou na própria respiração, por exemplo. Essa é a essência da meditação, aliás: quando a mente divaga, é importante trazê-la de volta. Portanto, fixar a concentração em um ponto é fundamental para atingir a atenção plena. n José Rubens D’Elia é fisiologista e treinador psicofísico de pilotos, atletas profissionais, empresários e executivos. Diretor da Pilotech – Clínica de Performance de Pilotos, em São Paulo

ILUSTRAÇÃO ISTOCKPHOTO.COM; FOTO ARQUIVO PESSOAL

ALTA PERFORMANCE


CARTAS cartas@glamurama.com

COLUNA DA JOYCE

FOTO CORINNA SAGESSER

Fui surpreendido pela notícia de que eu estaria deixando a propaganda e o cargo de chairman da TBWA (CHOCOLATE, PODER 112). Gostaria, então, de esclarecer que, como sócio e chairman, continuo à frente do Grupo TBWA aqui no Brasil, coordenando as atividades das agências – Lew’Lara\TBWA, ID\ TBWA e GMR –, envolvido na estratégia de nossos clientes e feliz com meus três sócios – Felipe Luchi, Sheila Wakswaser e Camila Costa – e com nossos 280 colaboradores. Luiz Lara, de São Paulo (SP), via e-mail

NO MEIO DE TUDO, NO MEIO DE NADA

A reportagem sobre a Namíbia está sensacional. Deu para ver um pouco de (quase) tudo, mas sempre fica um gostinho de quero mais. Quem sabe nas próximas férias? Renato Lopes, do Rio de Janeiro( RJ), via e-mail

VERDURA PURA

Nossa, que coisa deliciosa essa seção com a melhor das verduras que existe: a rúcula (PODER 112). Amei as receitas. Carla Soares, de São Paulo (SP), via e-mail

FOTÓGRAFO BRASILIS

Achei merecida essa matéria sobre o trabalho do fotógrafo brasileiro Araquém Alcântara (PODER 112). Fazia tempo que não lia nada sobre ele e acho bom, nestes tempos políticos obscuros, relembrar o que temos de bom no Brasil. Maria Flores, de Florianópolis (SC), via e-mail /poder.joycepascowitch

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PODER JOYCE PASCOWITCH 79


REI POSTO

FOTO MIGUEL RUIZ/FCB/DIVULGAÇÃO

Nem mesmo um rei do futebol é capaz de lidar com o crepúsculo da carreira. Aos 37 anos, sem contrato desde que deixou o Fluminense há mais de dois anos, Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, incumbiu seu irmão, agente e faz-tudo, Assis, de anunciar sua aposentadoria do pitch em janeiro. Os “obituários” foram sucintos e não refletiram o tamanho de sua arte. Duas vezes eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, Ronaldinho ganhou tudo o que foi relevante por onde jogou, da Champions pelo Barcelona à Libertadores pelo Galo, passando pelo penta da seleção, em 2002. Ele fez mais de 300 gols, deu incontáveis assistências e foi reverenciado por Messi, que herdou seu cetro no Barça. “Aprendi muito ao seu lado. Sempre estarei agradecido pelo quão fácil tornou tudo para mim quando cheguei ao vestiário. Ainda que decida ir, o futebol jamais se esquecerá do seu sorriso”, escreveu o argentino.

80 PODER JOYCE PASCOWITCH


FOTOS JAIRO MALTA; PAULO FREITAS; DANIEL KLAJMIC

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FEVEREIRO

TAÍS ARAÚJO NOSSA GAROTA DOURADA ESTÁ NO TOPO E MAIS: as sarradas de MC KEVINHO; um passeio pela casa de BIA LESSA; o cirurgião

plástico que está fazendo de BLUMENAU o novo polo de mudança de sexo; e as misses que quebraram tabus na década de 1960.

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EDIÇÃO 137


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