ESPELHO
A diretora de brand, marketing e comunicação da EY, MARLY PARRA, vem de uma família de sete irmãos. Nesse contexto, ela teve que começar a se virar bem cedo – tanto que, aos 12 anos, já sabia cozinhar. Aos 17, ela começou a trabalhar na H.Stern e, em paralelo, cursava publicidade e propaganda, na ESPM, em São Paulo. Sua carreira foi construída dentro de grandes empresas brasileiras e multinacionais. O currículo é extenso. E, em muitas ocasiões, ela liderou equipes formadas, em sua maioria, por homens. “Na Gatorade, por exemplo, eu era diretora de trade marketing e tinha um time de mil vendedores abaixo de mim, a maioria homens e alguns mais velhos do que eu. Foi um desafio muito grande”, conta. À medida que galgava cargos mais altos, Marly muitas vezes era a única mulher nas salas de reunião. Isso porque, embora as mulheres cheguem a representar cerca de 45% da mão de obra no mercado de trabalho, sua presença vai rareando nas posições de chefia. “Temos muitas mulheres trabalhando, mas, quando analisamos posições gerenciais, os números diminuem drasticamente, continuam caindo nos cargos de diretoria e, quando se trata da cadeira de CEO, despencam de vez. A situação nos conselhos é ainda mais complicada, já que elas não ocupam nem 12% das vagas”, explica a executiva. De acordo com o Global Gender Gap Report divulgado pelo Fórum Econômico Mundial de 2014, o mundo chegaria à paridade de gêneros no mercado de trabalho em 2095, mas o prognóstico piorou em 2017, e esse gap só vai desaparecer daqui a 217 anos. “Por ser mulher, diretora de marketing de uma multinacional e, principalmente, mãe e avó, poderia dizer que essa é a pior notícia a dar para minha neta, Aurora, que nasce mês que vem, e ainda verá desigualdades inadmissíveis nos ambientes de trabalho que frequentar
no futuro. No entanto, prefiro destacar os avanços que todas nós, mulheres e líderes, vivenciamos nos últimos anos – com a adoção de políticas mais justas nas empresas, flexibilidade e a compreensão de que as mulheres são uma força vital para o crescimento e a inovação de qualquer empresa”, afirma Marly, fazendo referência aos dados do estudo realizado pelo Fórum Econômico Mundial. A presença feminina em cargos de liderança e estudos como o Global Gender Gap Report têm movimentado o mercado de forma positiva e, segundo Marly, de uns seis anos para cá, isso fez com que as empresas começassem a se preocupar com o assunto, tornando realidade jornadas de trabalho flexíveis, ocasiões de home office e até a criação de creches e de salas de amamentação. “Sem dúvida, o casamento e a maternidade são os maiores desafios que as mulheres encontram no mercado de trabalho.” Os altos cargos, de gerência e de diretoria pelos quais Marly passou, exigiam longas jornadas e viagens mundo afora. Graças sobretudo à ajuda materna, ela conseguiu ascender na carreira. E, mesmo ainda estando em plena atividade, se faz presente como avó e passa para buscar a neta na escola cerca de três vezes por semana. “O que minha mãe fez por mim, estou tentando fazer pelo meu filho e minha nora, para que eles possam se dedicar a suas carreiras tranquilamente”, diz. A EY, por sua vez, busca fomentar o empreendedorismo feminino por meio do Entrepreneurial Winning Women Brasil – programa do qual Marly faz parte como idealizadora, coordenadora e conselheira – que tem como objetivo conectar empreendedoras com um time de conselheiros de alta performance – formado, em sua maioria, por mulheres. “Da mesma forma que as mulheres não estão nos cargos de liderança, elas tampouco são a maior parte no comando de grandes empresas’’.
por aline vessoni
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