REVISTA PODER | EDIÇÃO 148

Page 1

ISSN 1982-9469

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771982

R$ 19,50

00148

S E TE M BRO 2 02 1 N.14 8

946006

PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA

LIGAÇÃO DIRETA CEO da Vivo,

CHRISTIAN GEBARA

lidera a transformação da maior operadora de telecomunicações do país em uma empresa que vive, pensa e atua digitalmente

SOM E FÚRIA

Os planos nada modestos de LUIS MIRANDA, o deputado federal que jogou Jair Bolsonaro no olho do furacão na CPI

MADEIRA DE LEI

ROBSON PRIVADO, o primeiro negro a comandar um unicórnio no país

BOTÃO DO PÂNICO

O economista

GANGORRA

O gestor BERNARDO PARNES explica por que o capital não gosta do barulho de Brasília

ÚLTIMA FRONTEIRA

Big techs investem no metaverso, ambiente virtual que elas querem transformar no novo espaço de trabalho

RICARDO ABRAMOVAY

e as saídas para o Brasil e para o mundo antes do apocalipse climático

E MAIS

MIRIAN GOLDENBERG e a velhofobia no

mundo corporativo, o hype da skatista KAREN JONZ, a nova governadora de Nova York, KATHY HOCHUL, e as afinidades eletivas de MARTIN CORULLON, o arquiteto que toca a expansão do Masp


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UNIVERSO PARALELO

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Metaverso, a aposta das big techs 42

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EDITORIAL COLUNA DA JOYCE ALMA DIGITAL

Christian Gebara, CEO da Vivo, quer mudar padrões analógicos de comportamento 20

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FOTOS JOÃO LEOCI; PAULO FREITAS; YURI DARIAN/DIVULGAÇÃO

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OPINIÃO

Ana Fontes explica por que devemos incentivar o empreendedorismo feminino

VENTO A FAVOR

OPINIÃO

Bernardo Pascowitch faz um balanço do sobe e desce da bolsa 62

ENSAIO

A skatista Karen Jonz comemora o sucesso como comentarista da Olímpiada 68

UM SUÍÇO NO MODERNISMO BRASILEIRO

O legado que o artista John Graz deixou para o país 71

INSPIRAÇÃO E CIÊNCIA

A biomédica Jaqueline Goes conta o que podemos esperar do “novo normal”

O PRIMEIRO DA FILA

Robson Privado planeja a expansão da MadeiraMadeira para o off-line

RESPIRO ABAIXO A VELHOFOBIA

Governadora de Nova York, Kathy Hochul já é vista como potencial candidata à Casa Branca em 2024

CARREIRA SOLO

O deputado federal Luis Miranda passou de aliado a traidor do governo Bolsonaro 32

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OPINIÃO

Daniela Graicar escreve sobre consciência social nas grandes corporações

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A antropóloga Mirian Goldenberg explica por que idade não é empecilho

REAÇÃO EM DESCOMPASSO

Para o gestor Bernardo Parnes, o Brasil está perdendo oportunidade de capitalizar

MANDA UM ZAP

Kelly Baptista quer levar tecnologia e educação a 1 milhão de jovens carentes

SUMÁRIO 4 6 10

O OUTRO MUNDO POSSÍVEL

O economista Ricardo Abramovay quer menos atividade produtiva

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SOB MEDIDA PODER VIAJA HIGH TECH CULTURA INC. ÚLTIMA PÁGINA

CHRISTIAN GEBARA POR ADRIAN IKEMATSU

AGENDA PODER

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PODER EDITORIAL

U

m efeito colateral da pandemia foi ter acelerado a chegada de empresas brasileiras ao mundo digital. O varejo que procrastinava sua entrada no e-commerce, por exemplo, precisou correr atrás do prejuízo. À frente da Vivo, o paulistano Christian Gebara também lutou contra o relógio. Além de investir pesadamente em aumento de rede para que o país não parasse, colocou seus 33 mil colaboradores (150 mil, com os indiretos) em home office, inclusive os atendentes de call centers. Mais: aproveitou para acelerar a digitalização da própria Vivo, que agora faz muito mais coisas do que apenas prover telefonia. O tempo rugiu e ruge na pandemia, mas também para os gestores públicos diante da ameaça cada vez mais concreta do apocalipse climático. O economista e professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Ricardo Abramovay, entrevistado por PODER, tem algumas sugestões para minorar os efeitos do processo – e elas têm a ver com a entidade algo mítica chamada “mercado”. Parte desse mesmo mercado, o financeiro, está muito incomodado com o barulho interminável que vem de Brasília, como revela o gestor Bernardo Parnes. Barulho que é produzido, principalmente, pelo Palácio do Planalto, às vezes pelo Congresso, nem sempre por más razões. O deputado federal Luis Miranda, por exemplo, ajudou a subir o tom ao jogar Jair Bolsonaro no furacão do caso da vacina Covaxin. De volta à transformação digital, mal nos acostumamos a ela e lá vêm as big techs com o metaverso, um ambiente 100% virtual que pode ser o novo local de trabalho – a gente explica direitinho essa história. De qualquer forma, por trás de Alexa, Inteligência Artificial, Deep Blue tem… gente. E gente muito boa passa por aqui, como Robson Privado, primeiro brasileiro negro cofundador de um unicórnio, a MadeiraMadeira. Tem também Kelly Baptista, do grupo Movile, que quer levar o digital para quem está longe dele – 1 milhão de jovens carentes –, a antropóloga Mirian Goldenberg, que pede atenção para os 60+, Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, que escreve sobre a importância de investir no empreendedorismo feminino, e a skatista Karen Jonz, que emprestou hype e charme à televisão ao comentar a Olimpíada. Charme, hype, transformação digital. Essa viagem por aqui, na PODER, promete.

R E V I S TA PO D ER . C O M . B R



TELEGRAMA

Um dos poucos conselheiros de Bolsonaro fora da bolha que o circunda, MICHEL TEMER tem usado constantemente a linha direta que mantém com o presidente para pedir que ele dialogue com o Judiciário e o Legislativo na tentativa de interromper a atual crise institucional no país. Por outro lado, com o mesmo intuito, Temer também aumentou as conversas com representantes do Supremo Tribunal Federal. Recentemente ele esteve com os ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli.

DUPLA DINÂMICA

A iminente saída de GERALDO ALCKMIN do PSDB e uma possível filiação ao PSB tem feito surgir rumores inusitados sobre o futuro político do ex-governador. Com a proximidade entre o partido de seu antigo vice, Márcio França, e o PT, Alckmin pode ser vice de LULA em uma eventual chapa presidencial PT-PSB em 2022. Sim, uma chapa Lula-Alckmin. Nas duas siglas a ideia é vista com bons olhos pelos dirigentes: o PSB se fortaleceria em São Paulo e, de quebra, aumentaria o leque de opções para propor uma aliança com o líder nas pesquisas; já o PT teria como alternativa um nome que não desagradaria a centro-esquerda. A possibilidade está na mesa. Alckmin ainda avalia o convite de Gilberto Kassab para concorrer pelo PSD - que, por sua vez, também considera uma aliança com o PT.

CRUZ E ESPADA A vontade de é ter um empresário ao seu lado, repetindo a LULA

dobradinha vitoriosa que fez com o ex-vice-presidente José Alencar. Não à toa, tem reforçado as investidas sobre o filho de Alencar, o empresário JOSUÉ GOMES DA SILVA, dono da Coteminas e recém-eleito presidente da Fiesp, que, em um primeiro momento, negou a sondagem, mas, diante da insistência de Lula, estaria menos reticente à ideia – vale lembrar que Josué já foi picado pelo bichinho da política em 2014, quando foi candidato ao Senado por Minas Gerais. Nos bastidores, também se fala em um líder evangélico como vice na chapa. A recomendação tem sido dada por integrantes do centrão, para os quais Lula deveria fazer um aceno a grupos hoje mais próximos a Bolsonaro.

6 PODER JOYCE PASCOWITCH

EU LÍRICO

Há quem diga que a movimentação de GILBERTO KASSAB, no entanto, teria outro viés: cavar a própria vaga como o candidato a vice na chapa petista – desde o início do ano, o presidente do PSD tem se encontrado com diversas lideranças do PT, entre elas o próprio ex-presidente Lula. A ideia seria uma alternativa caso a candidatura de Rodrigo Pacheco, o preferido de Kassab, não decole. O presidente do Senado está no DEM, mas pode se filiar ao PSD para concorrer ao Planalto.


POMBOCORREIO

ALÔ?!

FOTOS ROBERTO SETTON; GETTY IMAGES; CIETE SILVÉRIO/FOTOS PÚBLICAS; MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; RICARDO STUCKERT/INSTITUTO LULA; AGÊNCIA BRASIL; REPRODUÇÃO TWITTER; DIVULGAÇÃO

O ex-presidente FERNANDO HENRIQUE CARDOSO recebeu uma ligação surpresa recentemente felicitando-o pelos seus 90 anos. Do outro lado da linha estava VLADIMIR PUTIN, o presidente russo. Entre uma conversinha aqui e outra ali, Putin quis saber do colega brasileiro por que, afinal, todo mundo tem tanta prevenção e pé atrás em relação à Rússia. Os detalhes do papo foram acertados entre o embaixador da Rússia no Brasil e um assessor direto de FHC.

O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, JAKE SULLIVAN, enviado do presidente Joe Biden ao Brasil no mês passado para um encontro com JAIR BOLSONARO, deixou dois recados importantes: além de defender questões relacionadas ao meio ambiente, o que o presidente chamou de “obsessão” americana, o emissário foi enfático ao expressar a confiança dos EUA no atual processo eleitoral brasileiro.

NOVELO

Dirigentes do “superpartido” de centro que pretende unir algumas das maiores bancadas do Congresso, entre elas PSL e DEM, têm encontrado resistência para chegar a um acordo. Entre os entraves que dificultam a fusão estão os acertos regionais e a divisão do fundo eleitoral. Na mesa dos líderes só há um consenso: o novo partido deverá ter “liberal” no nome. A expectativa é formar a maior bancada da Câmara, com algo entre 90 e 100 deputados.

LISTA DE ESPERA

Aqui vai um bom motivo para planejar uma viagem a Paris. Às margens do rio Sena, em um edifício art déco de 1928 projetado por Henri Sauvage, o Cheval Blanc é uma vitrine para os amantes das artes. Repaginado pelo arquiteto Peter Marino, o hotel, que pertence ao conglomerado de luxo francês LVMH, traz mesas de cabeceira desenhadas por Charlotte Perriand (PODER #144), além de obras do casal Claude e François-Xavier Lalanne (PODER #100), como o love seat com folhas vegetais de cobre que decora a suíte master.

SUJEITO OCULTO

Quem acompanha as “dicas culturais” do ministro LUÍS ROBERTO BARROSO no Twitter já sacou quem é o destinatário do roteiro. Alvo de ataques constantes de Jair Bolsonaro, ele, que é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responde com bom humor toda sextafeira indicando músicas, livros e frases célebres. Com direito a chuva de likes dos seus seguidores. Aqui um best of do ministro: “Não Enche” – Caetano Veloso “Fixação” – Kid Abelha “Cálice” – Chico Buarque “Evidências” – Chitãozinho e Xororó “Sonho Impossível” – Maria Bethânia “Você Não Sabe” – Ana Carolina PODER JOYCE PASCOWITCH 7


Quando as palavras não são tão dignas quanto o silêncio, é melhor calar e esperar EDUARDO GALEANO

SAS

3 PERGUNTAS PARA...

RENATO OCHMAN, OCHMAN, advogado especialista em direito societário, autor do recém-lançado Código da Negociação (ed. Quartier Latin)

Há coisas que são prioritárias. A primeira delas é confiança, depois cumplicidade, objetividade e seriedade profissional, além de autoestima. Um negociador precisa ter esse código de conduta para qualquer negociação. O lado psicológico também é fundamental, porque as emoções desempenham um papel importante. Por isso, antes de ir a qualquer mesa de negociação, o psicológico do negociador, como o da pessoa que ele representa, precisa ser tratado preliminarmente. Outro fator é que quando você estende muito o prazo das negociações, a tendência é que haja estresse. No início do negócio, todo mundo pensa que dá para estabelecer um prazo, mas há inúmeras vezes que, à medida que avança, aparecem entraves. É preciso ser muito rápido e criativo para encontrar soluções para que não aconteça uma discussão entre as partes que pode se tornar

irreversível. Fora que nas negociações há de tudo, provocação, ciúmes, vaidade, e o importante é não entrar no jogo. É preciso ter frieza para enfrentar as provocações. A NEGOCIAÇÃO VIRTUAL ESTÁ SE TORNANDO UMA PRÁTICA CADA VEZ MAIS COMUM. NO QUE ELA DIFERE DE UMA ABORDAGEM PRESENCIAL?

Nas duas formas há questões facilitadoras e outras que prejudicam. Nas relações pessoais, você consegue convencer ou se aproximar de sua contraparte de uma forma mais pessoal. Em compensação, a negociação não se torna objetiva, muitas vezes ela se desfoca e uma palavra mal colocada pode pôr em risco um negócio inteiro. No virtual você tem a vantagem de uma negociação mais rápida e objetiva, mas, por outro lado, não tem o apelo pessoal. Essas são as grandes diferenças e precisamos começar a estudar e nos preparar para enfrentar as negociações nesse mecanismo.

TEMOS FALADO MUITO SOBRE O FUTURO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. ELA JÁ SE SENTOU NA MESA DE NEGOCIAÇÕES?

A Inteligência Artificial, do meu ponto de vista, será um grande assessor para as negociações, mas nunca o elemento principal porque você necessita de condução, discernimento, feeling, uma série de coisas que a IA não poderá superar, embora possa auxiliar. Em uma negociação hoje, você pode analisar a sua contraparte, os casos, o comportamento, e nisso a Inteligência Artificial pode ajudar, se tornando um elemento facilitador. É como pensar em um jogador de futebol de 30 anos atrás e um de hoje. O tipo de treinamento é incomparável, mas você precisa sempre do jogador. Nas negociações, há bastante dispositivos desse tipo, que são usados para pesquisa.

CAMPO DOS SONHOS

Depois de ter comprado uma casa enorme em São Francisco Xavier (SP), a mais impactante do pequeno vilarejo, o novo paraíso dos hipsters paulistas, PEDRO DE GODOY BUENO, herdeiro e presidente da Dasa, maior grupo de medicina diagnóstica do país, deu um passo adiante no quesito vida no campo. Ele agora é dono de uma das maiores propriedades na Fazenda Boa Vista, condomínio de luxo a 100 quilômetros de São Paulo. A casa, projetada pelo escritório Jacobsen Arquitetura, está em construção e terá, entre outras exclusividades, um haras particular.

8 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS GETTY IMAGES; SILVIA COSTANTI/VALOR/FOLHAPRESS; WELLINGTON NEMETH/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

QUAIS AS HABILIDADES NECESSÁRIAS PARA UM BOM NEGOCIADOR?


NOVOS TEMPOS

A máxima “em casa de ferreiro, espeto é de pau” nunca fez tanto sentido em se tratando de GREG M. EPSTEIN, que assumiu o cargo de presidente da Organização dos Capelães da Universidade Harvard. Um pequeno detalhe fez com que a nomeação se tornasse assunto na imprensa dos Estados Unidos e nas redes sociais: Epstein é ateu. Capelão humanista de Harvard desde 2005, é o autor best-seller Good Without God: What a Billion Nonreligious People Do Believe. “Há um grupo crescente de pessoas que não se identificam mais com nenhuma tradição religiosa. Não esperamos respostas de um deus. Somos as respostas uns dos outros”, decreta ele.

EM SETEMBRO A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... VISITAR duas exposições

no Masp: Maria Martins: Desejo Imaginante, com 45 peças da escultora e embaixatriz mineira que chacoalhou os anos 1950; e Erika Verzutti: A Indisciplina da Escultura, a primeira individual da artista realizada em um museu brasileiro

CRIAR uma conta no Idagio, o serviço de streaming pago especializado em música clássica. São mais de 2 milhões de faixas e você também pode assistir a concertos pelo app LER A Vida dos Estoicos

(ed. Intrínseca), de Ryan Holiday e Stephen Hanselman, e conhecer as lições atemporais que os antigos ensinaram ao mundo sobre felicidade, resiliência e virtude

REVIVER o passado da MPB pelos retratos de Thereza Eugênia. Aos 81 anos, a fotógrafa baiana que mora no Rio, uma das grandes testemunhas da música popular brasileira, acaba de lançar Portraits 1970-1980 (ed. Barléu) SEGUIR o perfil @somostodasmarias

e ajudar a impulsionar as empreendedoras do mercado de beleza nas periferias

VER o documentário Marianne & Leonard: Words of Love, que retrata o romance entre o compositor Leonard Cohen e Marianne Ihlen, a sua musa de espírito livre. Na Netflix OUVIR Beach Boys com o lançamento da coletânea Feel Flows – The Sunflower & Surf’s Up Sessions 1969-1971, que celebra os 50 anos dos álbuns clássicos em versões remasterizadas e com músicas inéditas. Nas plataformas digitais e em formato CD e LP ESCUTAR o podcast A República das

Milícias, que visita a história cultural do Rio de Janeiro para tentar explicar as facções criminosas. Apresentado pelo jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP Bruno Paes Manso, é baseado em seu livro homônimo. No Globoplay e no Deezer

PROGRAMAR

uma temporada no recéminaugurado Four Seasons Napa Valley, novo hotel da rede na Califórnia, com produção de vinho própria – o comando é do enólogo Thomas Rivers Brown

ADERIR à campanha Setembro Amarelo com o objetivo de conscientizar a população em relação à prevenção do suicídio. Em tempos pandêmicos, esse tipo de mobilização ganha ainda mais relevância JARDINAR e plantar uma urban jungle

dentro de casa

CONHECER a versão jazz do homem

que manteve o ritmo dos Rolling Stones por seis décadas. Em Charlie Watts Meets the Danish Radio Big Band, o baterista, que morreu no mês passado, se apresenta com uma das maiores bandas de jazz da Europa

ACOMPANHAR a quarta edição da

Laver Cup, torneio de tênis masculino com os principais nomes da atualidade no desafio Europa versus Mundo. Com Federer, Djokovic, Nadal, entre outros

ASSISTIR a 25ª aventura de James Bond com a estreia de 007 – Sem Tempo Para Morrer. O filme é o quinto e último estrelado por Daniel Craig como o icônico personagem. Nos cinemas

com reportagem de carol sganzerla, dado abreu, nina rahe e paulo vieira PODER JOYCE PASCOWITCH 9



REDE

ALMA DIGITAL

Prover conexão para que pessoas e empresas vivam o mundo virtual já não basta para a Vivo, maior operadora de telefonia do Brasil, que revê sua missão e passa a ofertar marketplace, serviços financeiros, de saúde e educação. E como o que vale para os clientes deve valer para os 33 mil funcionários diretos, o CEO Christian Gebara dilui hierarquias, acelera a diversidade e tenta mudar padrões analógicos de pensamento POR PAULO VIEIRA

FOTOS ADRIAN IKEMATSU

T

ransformação digital é uma dessas expressões mandrakes que o mundo corporativo fala com gosto, às vezes sem nem mesmo saber direito do que se trata. Talvez ela só seja menos utilizada hoje do que “jornada do cliente” e “aprender com o erro”. Mas na pandemia houve de fato aceleração para essa vida digital, sob pena de negócios quebrarem, alunos não assistirem a aulas, reuniões deixarem de ser feitas e refeições não serem entregues. Tudo isso seria impossível, claro, sem alguém que fizesse as conexões digitais, ou seja, que espalhasse pelo país cabos e operasse tecnologia para que a comunicação acontecesse. Caso da Vivo, maior companhia do setor do Brasil, líder em telefonia móvel e que, em 2020, reportou receita líquida de R$ 43 bi. O período da pandemia marcou uma inflexão na história da empresa, não apenas em função da Covid-19 e dos grandes investimentos feitos em expansão de fibra ótica, mas pela entrada da Vivo – ou Telefônica Brasil, seu nome oficial –, em novos mercados. No relatório de Administração PODER JOYCE PASCOWITCH 11


de 2020, isso está traduzido pelo slogan “Tem tudo na Vivo”, que expressa a ideia de que há nas lojas virtuais ou físicas da empresa “tudo o que as pessoas precisam”. A esse conceito, tratado como “pilar”, junta-se o velho conhecido pilar da expansão da infraestrutura de conexão, chamado de “Tem Vivo pra tudo” e que, entre junho de 2020 a junho de 2021, colocou fibra ótica de velocidade em 4,3 milhões de domicílios em 77 novas cidades. Hoje são 17,3 milhões de residências em mais de 300 municípios cobertos com essa tecnologia. Ter tudo na Vivo também significa que a companhia já não é mais uma “telecom”, como explica a PODER Christian Gebara, CEO da empresa, no 32º andar de um edifício do Brooklin, na zona sul de São Paulo. Ela está mais para um “ecossistema digital” que se aproveita dos ativos grandiosos da companhia, a começar de sua marca, conhecida por qualquer brasileiro que porte um smartphone ou assista à televisão – a empresa é um dos dez maiores anunciantes do país e deixa sua marca, por exemplo, na Seleção Brasileira de Futebol. Há ainda, claro, os 97 milhões de acessos móveis em um mês, para cerca de 60 milhões de usuários, e uma rede copiosa de lojas físicas, de cerca de 16 mil pontos. Em 2020, foram lançados um marketplace para venda de produtos inteligentes para o lar e um serviço de crédito pessoal, o Vivo Money, que empresta de R$ 1 mil a R$ 30 mil a clientes selecionados, com taxas de juros “competitivas”. Em 2021, a picada se alarga, quando estreiam parcerias ambiciosas nas áreas de saúde e educação. “O que ocorre aqui está em consonância com o que acontece no mundo, não existe mais off-line e on-line, é uma única realidade”, diz Christian, que exemplifica a ideia com empresas que vão mudando seu escopo, como as de delivery que incorporam negócios financeiros. “É um momento único da Vivo, ainda temos pela frente muita infraestrutura para construir, tanto de fibra ótica como de 5G”, revela. Christian, que está há 15 anos na companhia, tendo passado por diversas áreas, do marketing à estratégia, da inovação à operação, tanto em Madri, na Telefónica de Espanha, controladora da Vivo, como aqui, canta as outras cartas que tem na mão: “Um dos maiores portais de e-commerce e apps de interação e um dos maiores big data do Brasil”. Além disso, os investimentos em infraestrutura são contínuos. Só no segundo “tri” de 2021 foram R$ 2,2 bi em reforço e ampliação das redes móvel e fixa. O novo produto de saúde que vem por aí, o “Vida V”, é fruto de uma associação da Vivo com a Teladoc Health,

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empresa americana presente em 175 países, que irá prover atendimento de telemedicina. Ainda no Vida V haverá espaço para laboratórios e redes de farmácias, que podem oferecer descontos, além de programas de prevenção e bem-estar. Na área de educação, a Vivo quer disponibilizar, em uma sociedade com um player ainda a ser revelado, cursos de ciência de dados, tecnologia e empreendedorismo e, mais do que isso, criar espaço nesse mesmo ambiente para que posições de trabalho sejam oferecidas – algumas delas da própria Vivo. Esses dois produtos se somam a vertentes já ativas, como os apps de bem-estar – há, por exemplo, o de meditação (negociado pessoalmente por Christian) e o de treinamento físico; e os serviços diversos, como armazenamento de dados em nuvem (cloud) e o “Guru”, que permite ao usuário consultar uma equipe de nerds para sanar problemas de tecnologia. Já o marketplace da casa inteligente se expandiu, com sessões de live commerce e a entrada de gadgets “tech” para pets. Além disso, em seu pacote de serviços, a Vivo inclui parcerias com companhias de streaming como Netflix, Spotify e Disney – o preço da assinatura desses canais, por conta da escala da operadora, pode ser mais atraente para o consumidor; e a Vivo tem com a Microsoft acordo para oferecer aos clientes um pacote familiar com os principais softwares da empresa e espaço de armazenamento de 1 terabyte (por pessoa, até seis, por família); o custo é integralizado na fatura – outro ativo importante da Vivo, considerando-se que o Brasil ainda tem uma taxa de desbancarização de 21% de sua população.


Da esq. para dir.: Uma das lojas-conceito da Vivo, ponto de coleta de lixo eletrônico e Christian com André Felício, vítima de injúria racial

FOTOS DIVULGAÇÃO

O LEILÃO VEM AÍ

Depois de sucessivos adiamentos, o leilão da frequência 5G finalmente deve acontecer. Trata-se do maior certame de concessão da área de telefonia do Brasil e, ironicamente, não se circunscreve à grande estrela, o 5G, cuja velocidade de conexão em relação à atual deve ser multiplicada em dez vezes, permitindo que a muito falada Internet das Coisas (IOT) possa vir a se tornar realidade – uma de suas aplicações, por exemplo, é o carro autônomo, que só opera com transmissão em tempo real de uma quantidade formidável de dados. A mesma lógica da transmissão multiplicada de dados permite decisões em tempo real no agronegócio, na indústria e no varejo, o que deverá levar a uma automação cada vez maior – com a consequente e muito provável extinção de vagas menos qualificadas de emprego. Os vencedores do leilão têm de cumprir contrapartidas, como prover acesso 5G em todas as cidades do país com mais de 30 mil habitantes até 2028. Nos municípios menores, a tecnologia ainda presente de 2G vai ser substituída, e isso envolve uma inusitada união entre Vivo e Tim, que vão se utilizar de infraestrutura comum. No Ocidente, a tecnologia de 5G foi objeto de polêmica, por possível rastreamento de dados sensíveis pela chinesa Huawei, uma das fornecedoras de equipamentos para as operadoras. A Conexis Brasil, entidade que representa as “tecs”, posicionou-se ainda no fim de 2020, pela manutenção dos “players” tradicionais no Brasil. Não citou explicitamente a Huawei, mas disse que a saída dos provedores que estão no país desde a implantação do 2G impactaria “nos serviços oferecidos e custos associados, mais uma vez prejudicando os cidadãos brasileiros usuários dessa infraestrutura”.

DESAFIO Não é nada trivial o desafio de gerir toda essa abundância de ativos e atrações, e ainda se preparar para o que vem pela frente com o 5G, cujo leilão de frequências deve acontecer ainda em 2021 e que deve impulsionar especialmente o “B2B”, o negócio corporativo, na medida em que a velocidade de conexão permitirá que empresas enfim se sirvam da Internet das Coisas, com o comércio analisando dados em tempo real de seus pontos de venda e a indústria e o agronegócio, seu maquinário e produção (veja boxe). Mas o paulistano Christian, 48 anos, que das muito tradicionais escolas Miguel de Cervantes e Santo Américo passou para a administração na FGV e daí para o MBA em Stanford, transpira confiança no taco. Ele concorda com o repórter da PODER de que comanda a empresa em um “momento especial” e que, para dar conta disso, precisou rever diversos processos internos. “Temos de ser todos os 33 mil colaboradores digitais, o jurídico, por exemplo, tem de pensar como digitalizar seus processos internos, temos de ser colaborativos entre as áreas. O setor de teles sempre foi muito autocentrado, sempre houve fila para comprar celular. Hoje a penetração de celular entre a população é de 100%, para a gente se diferenciar agora outros skills [habilidades] são requeridos.” Nessa revisão programática, estruturas tradicionais de comando e gerência foram sendo dinamitadas para dar lugar aos já famosos “squads”, equipes multidisciplinares que trabalham sob supervisão de “owners” PODER JOYCE PASCOWITCH 13


Um São Francisco se destaca dentre os objetos que ornam a sala do CEO da Vivo; comendas e prêmios ficam em evidência em outro ambiente

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O que ocorre aqui está em consonância com o que acontece no mundo, não existe mais off-line e on-line, é uma única realidade diferentes; profissionais experimentados trocaram de áreas, como um head de inovação assumindo a chefia de pessoas (“vivês” para RH); por fim, a própria arquitetura dos escritórios no Rio e em São Paulo foi modificada para tornar os espaços mais agradáveis, acolhedores e desfrutáveis. Christian enfatiza que o que “se fala para fora” tem de ser replicado para o microcosmo da Vivo, com seus 33 mil funcionários diretos e, quando possível, para os 150 mil indiretos. Em São Paulo, além das mesas coletivas, do espaço de meditação, do futuro plantão de uma equipe médica com fisioterapeuta, acupunturista, nutricionista e psicólogo, do bicicletário com vestiário, de unidades do Starbucks e do Hirota, a Vivo ainda incentivou seu pessoal a testar um novo código de comportamento, com o intuito de deixar aflorar as individualidades – vale mostrar tatuagens e piercings, colorir cabelos, usar bermudas. O executivo não se ressente de uma experiência maior em outras empresas, uma vez que passou por áreas distintas da Vivo e por quase cinco anos esteve na consultoria McKinsey, em Madri, desenvolvendo projetos para companhias de setores diferentes da “Suécia, de Düsseldorf e de Londres”. Não tem um guru de gestão em que se fiou ou se fia, mas diz ser “muito estudioso”. “AcrePODER JOYCE PASCOWITCH 15


“Do vídeo não saem as ideias que surgem num café, num almoço. Para a inovação, o contato humano é essencial. Buscar o equilíbrio é a grande missão”

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ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA CHARLES WILLY

dito que tenho de aprender constantemente, preciso conhecer o negócio em profundidade. Tenho credibilidade interna, percorri muito essa empresa gigante, sempre me senti muito preparado para assumir as posições que iam sendo oferecidas.” Ele conta que controla 12 verticais e incorporou as funções do COO, quase uma ironia para quem vem da McKinsey, pois, segundo ele, a visão que se tem do executivo oriundo de consultoria é de “alguém muito mais de estratégia”. Um episódio aparentemente banal protagonizado por Christian em julho pode marcar a biografia corporativa do CEO, quando ela for escrita ou contada lá na frente. Sabedor de um episódio de injúria racial de que foi vítima o colaborador André Felício, de uma loja da Vivo no Plaza Shopping, em Niterói, ele aproveitou uma viagem ao Rio de Janeiro para “dar um abraço” em André. Um deslocamento curto, mas um gesto “impecável e grandioso”, na opinião do pensador e ativista do movimento negro José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares. Vicente chegou a escrever sobre o evento: “O “fraterno e solidário abraço (...) do presidente da empresa não tem dinheiro que pague e não haverá borracha que apague. Ficará para sempre tatuado no fundo das duas almas e terá a força e a potência de reenergizar o espírito e encorajar a seguir adiante”. Christian, mais modesto, diz que aproveitou também para dar um abraço na gerente, que teve “atitude exemplar” e que tudo isso seria uma questão interna, mas que o fato acabou extrapolando as fronteiras da Vivo. De qualquer forma, diversidade é pilar, e no caso de raça, estabeleceu-se uma cota de 30% de negros na mais recente seleção do programa de trainees – o resultado foi de 43%. Dentre os estagiários, a cota é de 50% e houve expansão de vagas, de 120 para 750. A ideia é tentar replicar na Vivo a representatividade brasileira, o que ele diz já acontecer na base, mas não nas posições de liderança. Em relação às mulheres, que ocupam 42,6% dos postos de trabalho, são 27,9% líderes e 25% no Conselho de Administração. Há subcomitês e iniciativas também para LGBTQIA+, PCD (pessoas com deficiência) e para os 50+. Os programas de recrutamento passaram a ser mais universalistas, e deixou-se de procurar futuros profissionais nas instituições de elite de melhor desempenho por amor de uma abordagem mais democrática. No front ambiental, a neutralização da pegada de carbono é uma meta para já: 2025. Para a rede de prestadores de serviço e fornecedores, nem tanto: 2040. A Vivo ainda utiliza 100% de energia renovável e abriu suas lojas para receber lixo eletrônico – não é preciso ser cliente para deixar a sucata lá. O inventário dá conta de recepção de 5 milhões de itens, 20% disso telefones

VIVENDO A NOVA VIDA

Foram muitos os desafios que a Vivo precisou enfrentar durante a pandemia e eles não se limitaram a melhorar a infraestrutura de transmissão de dados; a empresa, que fez doações de cerca de R$ 80 milhões, considerado aí o aporte da Fundação Telefônica Vivo a hospitais e população de baixa renda, também precisou criar protocolos de trabalho para os cerca de 180 mil colaboradores diretos e indiretos. Desmobilizar os call centers foi uma tarefa complicada, pois até 70% dos trabalhadores tiveram de ficar em casa no pico da crise, em 2020. E, muito diferentemente de outros profissionais, os de call centers não costumam ter em casa boas condições de trabalho – ou assim se pensava. A Vivo já estimulava o home office de modo geral em dois dias da semana antes mesmo da pandemia, mas com o call center foi preciso “migrar da noite para o dia”. Os técnicos de instalação também não pararam, e mulheres começaram a ocupar essa função – há clientes que as requisitam. Christian ainda não tem completamente definido o protocolo de retorno ao trabalho presencial, mas crê bastante no “contato humano”. “Do vídeo não saem as ideias que surgem num café, num almoço. Para a inovação, o contato humano é essencial”, diz. “Buscar o equilíbrio agora é a grande missão.”

celulares. Segundo dados divulgados em peças publicitárias da companhia, cada brasileiro produz 7 quilos de lixo eletrônico por ano. IMAGINÁRIO BRASILEIRO Sendo uma empresa com tal alcance, tão entranhada até mesmo no imaginário brasileiro, descuidos feitos até por pessoas sem relação direta com a Vivo podem ferir a companhia. Já é proverbial o incômodo de tantos brasileiros que recebem ligações em seus celulares, de noite ou aos fins de semana, e ouvem ofertas de incremento de planos de telefonia. Christian reconhece que isso é um “issue”, capaz de jogar para baixo o desempenho das operadoras em históricos de avaliação no Reclame Aqui, por exemplo, mas que a Vivo oficialmente não faz esse tipo de abordagem, tendo se esforçado junto com empresas do setor para minorar o problema. Ao mesmo tempo, ter a marca a patrocinar a Seleção Brasileira até 2023 não a isenta de fazer cara de paisagem diante dos escândalos de assédios moral e sexual de que é protagonista o presidente afastado da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Rogério Caboclo. A Vivo, junto com os demais patrocinadores, se viram compelidos a se posicionar. A frase de Ciro Gomes sobre a democracia, num debate eleitoral de 2018, vem a calhar aqui. Estar entre os dez maiores grupos empresariais do Brasil em receita bruta, desconsiderados os cinco grandes bancos, é uma delícia, mas tem seus custos. n PODER JOYCE PASCOWITCH 17


Paola de Picciotto, Marcelo Checon e Flávia de Picciotto Terpins, sócios da 100% Eventos

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100% SINTONIA

FOTO CLEIBY TREVISAN /DIVULGAÇÃO

R

eferência no mercado de eventos e capa da última edição da PODER, o empresário Marcelo Checon, CEO da MCHECON, é o mais novo sócio da 100% Eventos, empresa comandada por Paola de Picciotto e Flávia de Picciotto Terpins, que há 18 anos mantém a liderança no segmento de locação de mobiliários exclusivos e de alto padrão para eventos sociais e corporativos. Checon chega para compor o quadro societário da companhia, bem como a 100% Eventos entra para o hub da M&Co., ecossistema recém-criado pelo empresário com companhias de infraestrutura e cenografia que possui na composição todas as soluções essenciais e complementares para eventos. A 100% se integra às outras quatro empresas do grupo – MChecon, Recon Eventos, Checon Locações e Triart – e irá atender as demandas de eventos corporativos e sociais. Inovação continua sendo o foco da marca, que conta com o olhar apurado das sócias, sempre atento às novidades mundiais. “Entendemos a chegada do Checon como uma oportunidade de crescimento. Ele nos inspira a retomar nosso plano de expansão e consolidação em outras cidades fora de Estado de São Paulo”, afirmam as sócias da 100% Eventos Paola e Flávia. “A pandemia foi uma pausa forçada, durante a qual tivemos a oportunidade de analisar onde estávamos em nossa trajetória e desenhar de maneira estratégica aonde queremos chegar, olhando com atenção para outros setores, como o de eventos corporativos, por exemplo, no qual pretendemos investir para aumentar a nossa participação.” A administração da 100% continua com as sócias que, desde 2003, vêm revolucionando o mercado de locação de móveis no Brasil e hoje reúnem um acervo de mais de 70 mil itens, distribuídos em 9 mil m² de galpão. Além disso, oferecem ao mercado um portfólio com peças exclusivas e móveis de design assinado para todos os estilos de eventos, do clássico ao contemporâneo, do moderno ao rústico repaginado chic. “Carregamos em nosso DNA a vocação de celebrar, nós amamos o que fazemos e sempre acreditamos que a tradição de reunir pessoas em torno de um acontecimento deve estar viva e presente entre nós. Essa crença não mudou e nem vai mudar”, diz Flávia. “Acreditamos no poder das nossas parcerias e sabemos que quanto mais sólido e ousado for o mercado de evento, mais empregos podemos gerar e mais temos a contribuir com a economia do país”, reforça Paola sobre a indústria de eventos, uma das que mais movimenta a economia. Sozinha, impacta mais de 50 setores e mobiliza, anualmente, cerca de R$ 930 bilhões no país, o que representa quase 13% do PIB.

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PULSO

REAÇÃO EM DESCOMPASSO

P

Mas ele não minimiza o estrago or uma década presidente Para Bernardo Parnes, sócio feito não só pelos discursos divida Merrill Lynch no Brafundador da Investment One sivos do presidente Jair Bolsonasil, ex-gestor de investiro, como também por seu minismentos da família Safra, criador Partners com três décadas tro da Economia, Paulo Guedes: e ex-CEO da Bradesco Investide experiência à frente de o país paga o preço da falta de mentos e por 30 anos comanqualidade na gestão da crise, com dando as operações do Deutsinstituições financeiras inflação e câmbio acima do que che Bank na América Latina e nacionais e internacionais, deveriam e atraso em reformas no Brasil, Bernardo Parnes saessenciais, como a tributária. Pesbe medir o pulso do mercado o Brasil está perdendo a simista, vê com desconfiança os financeiro. E nota que ele bate oportunidade de capitalizar rumos que essa reforma toma no descompassado pelo ruído políCongresso. Para fazer uma “refortico que parte de Brasília. sobre boas notícias ainda ma meia-boca” agora, talvez seja O Brasil está perdendo a possíveis na economia. O melhor adiar para um momento oportunidade de capitalizar sobre boas notícias ainda posmotivo é o ruído político que político mais adequado, defende. síveis na economia, e de avanparte de Brasília çar em medidas indispensáveis PODER: NO ANO PASSADO VOCÊ JÁ para um crescimento sustentaALERTAVA PARA AÇÕES ERRÁTICAS POR SERGIO LEO FOTOS PAULO FREITAS do, avalia. Preocupado com o DO GOVERNO E DA EQUIPE ECONÔMIacirramento da crise política, CA NO “LADO POLÍTICO-TÉCNICO”, E Parnes vê com ceticismo, poDIZIA QUE TERÍAMOS DE ESPERAR E rém, as notícias de “desembarque” do governo Bol- REZAR. A REZA DEU CERTO? AINDA DÁ PARA ESPERAR? sonaro pelos grandes atores do mercado. BERNARDO PARNES: Quando falei isso, ainda disse: “Es“Se, por uma semana, pararem os discursos radi- pero estar errado”. Não estava. O Brasil foi caminhancais, você vai ver o mercado embarcado de novo”, diz, do para a inserção muito forte de aspectos políticos na com realismo de quem conhece seus pares – e, hoje, economia. Agora, aqui, infelizmente, houve uma parcomo fundador e CEO da Investment One Partners, tidarização muito grande: “Se não sou a seu favor, sou empresa de assessoria financeira, presta aconselha- contra”. O mundo não é assim, é uma negociação dimento em operações como fusões e aquisições, faz a plomática, toma lá, dá cá. Essa radicalização faz com gestão de cerca de R$ 5 bilhões em fortunas de famí- que, se você critica o governo é acusado de ser a favor lias e mantém um fundo de ações com carteiras so- da esquerda. Não sou, mas acho que deveria haver um mando pouco mais de R$ 800 milhões. equilíbrio institucional maior.



misture governo com país”. Hoje, está havendo uma confusão e não dá para dissociar as duas coisas. PODER: ALGUNS DIZEM QUE O PAÍS FUNCIONA, APESAR DOS RUÍDOS NO GOVERNO. ISSO MUDOU? BP: O governo está fazendo muita

coisa, mas o discurso é tão radical que permeia negativamente na percepção do país.

PODER: VOCÊ ACHA POSITIVO O BALANÇO NA PRIVATIZAÇÃO? BP: Obviamente não é positivo, hou-

Bernardo Parnes, em frente à obra de Nelson Leirner, na sede da Investment One Partners em São Paulo PODER: E QUAL A CONSEQUÊNCIA DESSA POLITIZAÇÃO? BP: O Brasil está para zerar o déficit em conta corrente,

as contas internas estão bem; a arrecadação fiscal corrente está muito boa, estamos com grande parte dos ingredientes para ter um reconhecimento. Quando se vê o estrangeiro investindo, o Brasil é mais uma entre várias opções. E está entrando investimento direto estrangeiro, o que é bom, são coisas de longo prazo, acredita-se infraestruturalmente no Brasil. Mas os investimentos financeiros, mais nervosos, espelham a percepção lá fora, que não é boa. Sempre lidei muito com investidor internacional, a quem eu falava: “Não

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ve alguma coisa, mas ficou muito a desejar. Não se consegue em um governo fazer implementações sem passar pelo Congresso. Em outros, talvez nesse também, houve muitas mudanças microeconômicas, que não dependem de consenso geral. PODER: POR EXEMPLO? BP: Os programas de

infraestrutura com a execução de obras têm andado. O Brasil está em um momento muito bom, mas, infelizmente, o barulho político está se sobrepondo à própria capacidade de execução. PODER: O CONGRESSO É UM PROBLEMA? OU É O EXECUTIVO? BP: Não acho que seja o Congresso. O que há é falta de

diálogo. Tivemos uma grande situação excepcional, a pandemia: que traz a questão econômica e a de saúde. E a questão de saúde tem de vir antes, porque morte não se reverte. Mas também tem a questão social da pandemia (que levou ao auxílio emergencial). De re-


pente, esse auxílio monetário tornou-se uma muleta para o populismo. PODER: O QUE PODERIA SER UMA AJUDA NA SUPERAÇÃO DA CRISE ACABA CAPTURADA POR OUTROS INTERESSES? BP: (risos) Nada como resumir em poucas palavras um

pensamento não linear.

PODER: COM ALTO DESEMPREGO E SEM PERSPECTIVA SÓLIDA DE RETOMADA DE CRESCIMENTO, NÃO HÁ RISCO DE VOLTARMOS A CRESCER SEM DISTRIBUIÇÃO DOS BENEFÍCIOS? BP: A economia está crescendo mais este ano, mas

vem de uma base pequena. A percepção, os ruídos, fazem com que os juros subam demais. A questão fis-

indo bem porque teve esse boom das commodities, e há um apego do setor agro no governo federal. Há uma liquidez grande no setor mundial, tenho receio de que isso não acabe bem. Não é questão de aura ou não aura, esse crescimento de temperatura entre partícipes do governo e do setor privado tira possibilidade de diálogo técnico. PODER: QUE REFORMAS CONSIDERA MAIS IMPORTANTES PARA DAR UM SINAL POSITIVO AO MERCADO? BP: De longe, acredito que a primeira é a reforma tri-

butária. Sou contra uma reforma meia-boca, neste caso prefiro não fazer nada a não fazer direito. Tem de ser feita uma reforma tributária profunda, há um desequilíbrio muito grande.

“O governo tem de ser um amortecedor, não um provocador. O radicalismo está incomodando o Brasil” cal não foi resolvida. Isso faz com que, para o ano que vem, haja uma perspectiva de crescimento mais fraco. Porém, mais importante do que uma recuperação em “V” na economia é que haja estabilidade, e não essa volatilidade que vivemos. Infelizmente, enquanto o Brasil não tiver reformas estruturais não vai conseguir uma velocidade padrão de 4%, 5% de crescimento em longo prazo. PODER: TEMPOS ATRÁS, VOCÊ FALOU QUE O MINISTRO DA ECONOMIA, PAULO GUEDES, MANTINHA UMA “AURA”, E CONTAVA COM AUXILIARES DE PESO COMO SALIM MATTAR, NA PRIVATIZAÇÃO. MATTAR SAIU. E GUEDES? BP: Para ser um governante, em todos os níveis, tem

de ter a postura adequada ao governo. Você é um porta-voz de um povo, um país. Essas colocações nervosas... dia desses recebi uma charge com várias colocações de Paulo Guedes que não são aceitáveis em um contexto de diplomacia, de política. O governo tem de ser um amortecedor, não um provocador. O radicalismo está incomodando o Brasil. O setor privado é às vezes muito individualista. Determinadas áreas estão

PODER: DO PONTO DE VISTA TÉCNICO, FAZ SENTIDO FAZER REFORMA FATIADA, COMO DECIDIU O GOVERNO? BP: Acho que não, falando tecnicamente. Politicamen-

te, creio que tem de se adequar à conjuntura. Mas fazer uma colcha de retalhos, com um monte de remendos como está, acaba piorando. Se fala em fazer a reforma tributária em quatro blocos, nos meses que ainda tem de governo, está perfeito, vamos lá. Mas ir e voltar, atender a interesse daqui, lobby de lá, isso não é saudável.

PODER: SOBRE A REAÇÃO DOS BANCOS PÚBLICOS AMEAÇANDO SAIR DA FEBRABAN PELA ADESÃO DA FEDERAÇÃO A UM MANIFESTO PELA HARMONIA ENTRE OS PODERES, PLANEJADO PELA FIESP. ACHA QUE HOUVE POLITIZAÇÃO DESSES BANCOS? BP: Acho errado, acho que foi isso. Mas se me pergun-

tar se a Febraban estava correta em participar, tenho dúvidas, mesmo que ela não lidere, como alegaram. Talvez o momento que vivemos mereça uma declaração desse tipo, mas não acho que certas entidades devam fazer manifestos desse tipo. Acho pior os banPODER JOYCE PASCOWITCH 23


cos públicos não acompanharem do que a Febraban ter feito uma manifestação. Talvez o momento exija, acomode isso. PODER: O “MERCADO” ESTÁ DESEMBARCANDO DO GOVERNO, OU JÁ DESEMBARCOU DO PROJETO DE PAULO GUEDES? BP: O mercado embarca e desembarca de modo ex-

cessivamente rápido. Não acho que haja desembarque nenhum: se por uma semana pararem os discur-

PODER: EM MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO E OUTRAS ÁREAS SENSÍVEIS NÃO TIVERAM EXATAMENTE BONS MINISTROS... BP: Tinham exceções importantes, mas, como um todo, pelo

currículo, era bom. Mas aí começou a inserção ideológica do governo, que acabou se sobrepondo à necessidade de visão institucional, à visão de longo prazo. O viés “ou você é contra ou é a favor” acabou gerando confrontos absolutamente desnecessários. Esse nível de turbulência foi crescendo. Os juros futuros foram para 8% a 10%. Se tivéssemos tranquilidade não estaria assim.

“Se por uma semana pararem os discursos radicais, você vai ver o mercado embarcado de novo [no [no governo]” governo]” sos radicais, você vai ver o mercado embarcado de novo. O mercado, quem é o mercado? Não é assim. Existe interesse em diálogo com o governo. Assim que o diálogo estiver normalizado de novo, está embarcado. PODER: SOBRE A CRISE HÍDRICA QUE COMEÇA A ENTRAR NOS CENÁRIOS DO MERCADO FINANCEIRO, COMO AVALIA OS RISCOS E CONSEQUÊNCIAS PARA O BRASIL? BP: A matriz de energia no Brasil era essencialmente

hídrica. Tem fontes alternativas, inclusive de energia mais limpa em que o Brasil está atrasado. Tivemos uma crise há cinco, seis anos e muito pouco foi feito. Estamos pagando pela incompetência em agir preventivamente. Vamos ter quebra de 20% a 30% das safras de Mato Grosso do Sul para baixo. Temos uma crise infraestrutural e não agimos antecipadamente, não se deu a devida importância. Se não chover até novembro está contratado um custo de energia altíssimo por, no mínimo, mais 12 meses. PODER: COMO SE DÁ ESSA CONTRADIÇÃO ENTRE O AVANÇO EM INVESTIMENTOS DE INFRAESTRUTURA E A DIFICULDADE DE IMAGINAR O BRASIL CRESCENDO EM LONGO PRAZO? BP: Quando o governo Bolsonaro apresentou o time

de ministros, era muito bom, com algumas exceções.

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PODER: E O CÂMBIO? BP: Também. Em

termos de paridade, não se justifica. O câmbio de equilíbrio estaria na faixa entre R$ 4,50 a R$ 4,80. Mas a inflação está retomando, não só no Brasil. Tem quem ache que é pontual, eu não acredito. Temos uma memória de inflação no brasileiro. Voltamos à era de quando reajustavam o contrato pelos índices predefinidos e, pelas condições do mercado, a lei da oferta e da procura, davam um desconto informal. Olha o que aconteceu agora com os contratos de locação, com o descolamento grande entre IPCA e IGP-M: tinha contrato com desconto de 30%.

PODER: E HÁ AS INCERTEZAS... BP: Esse barulho institucional

do Brasil aumentou demais, a ponto de que, hoje, a influência desse debate acaba maior do que a realidade e as coisas boas que temos, contas externas, déficit quase zerado. Se não tivesse esse bate-boca todo, aí sim concordaria que esses picos de inflação são pontuais. Mas tenho muito medo de retomada estrutural da inflação, ela se tornar endêmica. A inflação poderia estar bem mais baixa, 3%, 4%; o dólar, na faixa de até R$ 4,80. Até aceitaria esse barulho se estivéssemos em agosto de 2022, com a proximidade de eleição, mas estamos 12 meses antes. Acaba ninguém trabalhando. Um exemplo é essa nossa entrevista: em vez de falarmos de potencial de crescimento, tivemos de falar da crise. n


OPINIÃO

ENTRE A CONSCIÊNCIA E O OPORTUNISMO POR DANIEL A GRAICAR

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; FOTO ARQUIVO PESSOAL

E

m 2016, a rede de lojas de artigos esportivos REI foi na contramão da Black Friday e convidou as pessoas para desfrutarem daquela sexta-feira de forma diferente, ao ar livre e longe do consumismo desenfreado. Em 2017, a Ben & Jerry’s protestou contra a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Austrália e parou de vender casquinhas com duas bolas de sabores diferentes. Em 2018, uma menina esculpida em bronze, apelidada de Fearless Girl, foi encomendada pela State Street Global Advisors e instalada em frente ao grande touro para protestar contra a falta de equidade no pagamento salarial entre homens e mulheres nos EUA. Em 2020, O Boticário capacitou 200 influenciadoras 50+, reivindicando maior representatividade nas redes sociais. Essas ações reforçam o papel social das marcas de provocar a reflexão, de pôr luz num problema e impactar positivamente o mundo. Mas, na tentativa de criar uma narrativa bem posicionada que as separe das irrelevantes,

muitas empresas têm caído na vala do purpose washing. E, se tem algo que as pessoas detestam mais que a insensibilidade das marcas, é quando percebem que elas fingem se importar para faturar nas suas costas. Querendo pedir justiça pela morte de Kathlen Romeu, negra de 24 anos que estava grávida e foi baleada pela PM no RJ, em junho, a Farm acabou liderando uma ação totalmente equivocada. A empresa anunciou que a venda feita com o código especial da ex-vendedora Kathlen teria sua comissão revertida em apoio à família. A repercussão foi péssima e a ação deu lugar a um pedido público de desculpas. Outro escorregão foi da marca de beleza sul-coreana Stylenanda, que criou uma campanha para promover seu novo esmalte e colocou duas mãos (uma branca e outra negra) entrelaçadas, mas aplicou Photoshop para escurecer a palma da mão negra. A comunidade ficou furiosa, ensinando à marca que negros não possuem a palma da mão dessa cor. Quantas não são as empresas que acham lindo defender a equidade de gênero no mundo do trabalho, mas não possuem mulheres em sua própria diretoria ou conselho. É aí que as ideias e intenções não param em pé. Segundo pesquisa da First Insights, 73% dos jovens da geração Z es-

tão dispostos a pagar até 10% a mais por produtos sustentáveis, e outro estudo mostra que 36% aceitam pagar mais por produtos de empresas que tenham projetos em apoio ao meio ambiente e à sociedade; mas não, não estão dispostos a “comprar” qualquer discurso. Ao contrário de promoções e patrocínios, as causas têm de ser escolhidas não pela repercussão de determinado tema do momento, mas pela pertinência aos valores e à realidade da empresa. Não basta dizer, tem de ser. E, para reforçar a potência dos escorregões na vala das causas, vale analisar o recente filme do Clube de Criação, retirado do ar em minutos. Na tentativa de colocar um viés otimista na atual crise “político-econômicosocial-sanitária-e-tudo-mais” que estamos vivendo, a agência W+K SP resgatou momentos históricos catastróficos e fez um paralelo com residuais positivos. Exemplo: vivemos a escravidão, mas (oba!), ela permitiu que nascesse o blues. Logo quem? A cúpula da criação do Brasil, escancarando o problema das causas que falham por não terem empatia, estudo de contexto e avaliação das consequências. O velho “falem mal, mas falem de mim” nunca colou para quem valoriza a reputação e sabe o trabalho que dá construir uma positiva. Fica o pensamento de que a consciência social anda de mãos dadas com uma boa escolha de causa e narrativa, porém, bem, bem distante da hipocrisia e das capas de justiceiras que algumas marcas vestem. n Daniela Graicar é fundadora e CEO da agência PROS, especializada em reputação de marcas e criadora do Movimento Aladas, em apoio ao empreendedorismo feminino

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PADRÃO

INTERNACIONAL

FOTOS DIVULGAÇÃO

O couro sustentável está na mira do consumidor que busca produtos que preservem a natureza

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ntes de comprar um sapato, uma jaqueta ou um mobiliário, por exemplo, além da qualidade do design e da matéria-prima, os consumidores valorizam produtos que tenham uma cadeia sustentável. Como aquele couro chegou ali? De onde veio? O ecossistema foi levado em consideração? E os trabalhadores? Essa preocupação passou a ser requisito básico na hora de escolher um produto. Alinhadas com essa nova realidade, algumas companhias saíram na frente. É o caso da JBS Couros, que desenvolve o couro de menor impacto do mercado desde 2019. Baseado no conceito Kind Leather, o material é produzido com 43% menos emissões de CO2, redução de 52% no consumo de água e de 39% na utilização de produtos químicos. O processo completo diminui em 92% a geração de resíduos sólidos e 62% o consumo de energia elétrica. “O Kind Leather chegou ao mercado como uma nova alternativa para a produção de couro no mundo com um conceito de sustentabilidade inovador. Temos nos dedicado a aprimorar a gestão da nossa plataforma de couro sustentável. A próxima etapa será a condução de processos de otimização para que possamos buscar soluções ainda mais eficientes para todo nosso sistema de produção”, explica Guilherme Motta, presidente da JBS Couros. Segundo José Fernando Bello, presidente executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), nosso país é referência em processos sustentáveis: “Somos o país com mais curtumes certificados em programas de sustentabilidade do planeta. Com esse olhar atento sobre as questões ambientais, sociais e econômicas, temos a capacidade de entregar inovações e resultados muito tangíveis, como a gestão responsável de resíduos sólidos e o reaproveitamento de 100% da água utilizada nos processos”. Não por acaso, a JBS Couros pos-

A JBS Couros desenvolve o couro mais sustentável do mercado e sua matéria-prima é usada, por exemplo, no design de móveis (abaixo)

sui todas as suas unidades produtivas no Brasil certificadas pelo Leather Working Group (LWG), mais importante certificadora global de sustentabilidade no processo produtivo do couro. O LWG avalia critérios como o uso da água, tratamento de efluentes e consumo energético. Em adição, sua unidade de Marabá (PA) é o primeiro curtume de wet blue no Brasil com selo Diamante na Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB), que avalia as melhores práticas no tripé da sustentabilidade. E para acompanhar de perto o processo produtivo dessa matéria-prima, a JBS Couros lançou uma plataforma de monitoramento, a JBS 360. Cada peça tem uma identificação que permite rastrear as potenciais fazendas de origem do couro, explorando toda a cadeia de suprimentos com a garantia de que são provenientes de áreas livres de desmatamento (de acordo com o Código Florestal), de invasão de terras indígenas e de unidades de conservação ou embargadas pelo Ibama, de condições de trabalho análogo ao escravo, de violência no campo e conflitos agrários. Conceitos como esses definem o

novo luxo que, acima de tudo, deve ter propósito e espírito de comunidade. É o caso de lojas como a +55design, que produz e vende design brasileiro. “A preocupação com a tecnologia do material, sustentabilidade e conforto dos nossos produtos são fundamentais. Madeiras de manejo de floresta, tecidos naturais e o inovador couro da JBS Couros garantem peças únicas e resistentes”, diz Tatiana Amorim, uma das proprietárias da marca, que destaca o interesse dos consumidores na origem e processos por trás do que estão comprando: “Eles pesquisam e se importam com a comunidade e com o meio ambiente”. Com o objetivo de se tornar o hub do couro legítimo e sustentável do Brasil, a JBS Couros criou um modelo de negócios para atender pequenos e médios fabricantes, como arquitetos, decoradores, artesãos, tapeceiros e até consumidores finais. Por meio da plataforma digital Leather Labs, qualquer pessoa ou empresa poderá adquirir couros para diversas finalidades, com acesso a dados sobre os produtos, sobre sustentabilidade e rastreabilidade, além de apoio técnico de especialistas. Saiba mais no leatherlabs.com. PODER JOYCE PASCOWITCH 27


VACINADO

CARREIRA

SOLO

Um dos protagonistas da CPI da Covid ao apontar suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) passou de aliado a traidor do governo Bolsonaro – o que não lhe causa queixa, mas trouxe aprendizados: a começar por não confiar em ninguém pós colocarem Jair Bolsonaro no olho do furacão com o relato de que teriam alertado o presidente sobre suspeitas na negociação da aquisição da vacina indiana Covaxin, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda, ex-chefe de importação do Ministério da Saúde, mudaram os rumos da CPI da Covid. Se de boas intenções o inferno está cheio, o deputado, então aliado do presidente e eleito na onda bolsonarista em 2018, caiu em descrédito e passou a ser visto como traidor por Bolsonaro e seu séquito – ao menos parte dele. “Eu não traí o presidente, pelo contrário, tentei ajudar. Se Bolsonaro traiu aquilo que defendia, que era o combate à corrupção, quem errou no percurso foi ele, não eu”, disse a PODER. Legislando em seu primeiro mandato, Miranda não precisou da estrutura partidária para conquistar os 65.107 votos que o levaram ao Congresso. Sequer fez campanha no Brasil. Conhecido por um canal que mantinha no YouTube, “Luis Miranda USA”, no qual dava dicas para os seguidores sobre como empreender nos Estados Unidos, o deputado alavancou sua campanha vivendo em Miami, para onde se mudou em 2014 após prever que Dilma Rousseff seria reeleita. Na Câmara, quase sempre alinhado às pautas do governo mantinha boa relação com o Executivo e portas abertas no Planalto. Até que, em 20 de março, acompanhado do irmão Luis Ricardo, adentrou o palácio com uma informação que Bolsonaro não queria ouvir – e que mudaria para sempre a trajetória política de Luis Miranda.

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PODER: A CPI PODE TER VIVIDO SEU GRANDE MOMENTO NA SUA OITIVA, COM SEU IRMÃO. DESDE ENTÃO, A COMISSÃO PARECE TER PERDIDO POPULARIDADE. TEME QUE A MONTANHA ACABE POR PARIR UM RATO? LUIS MIRANDA: Nós fomos à CPI reafirmar a denúncia que

havíamos feito ao próprio presidente. E não só relatar que estivemos com ele, como informar a preocupação acerca da possibilidade de existir fraude no contrato da Covaxin. A fraude hoje está mais do que provada, com a própria Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, afirmando que os documentos apresentados pela Precisa [Medicamentos, intermediadora do negócio] eram falsos. Nosso objetivo foi concluído. Fizemos o nosso papel, protegemos o erário, R$ 1,6 bilhão que estava envolvido em um processo provavelmente fraudulento. Acredito que as investigações não ficarão dependentes da CPI. Hoje existem processos tramitando no Ministério Público Federal, bem como na Polícia Federal, e tudo baseado no nosso depoimento. PODER: MAIS DE DOIS MESES SE PASSARAM DESDE A DENÚNCIA. QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE O DESENROLAR DO CASO? LM: Foi comprovado tudo o que falamos e o próprio

governo cancelou os contratos e demitiu funcionários. Me sinto confortável em saber que teve um desenrolar, e que esse desenrolar saiu da CPI e hoje tramita não só no Ministério Público Federal, mas com envolvimento da PGR, diretamente com o STF, e também com a própria Polícia Federal. Salvamos o Brasil de um grupo criminoso e estancamos uma sangria, mas, infelizmente, se tivéssemos feito antes teríamos salvado vidas. Foi tardio. Nossa ação,

FOTO DIVULGAÇÃO

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POR DADO ABREU



Luis Miranda, em seu depoimento à CPI

PODER: COMO RESPONDE A AMEAÇAS DIGITAIS E REAIS? PRECISOU REFORÇAR A SEGURANÇA? LM: Me senti muito ameaçado por conta da enxurrada

de mensagens que recebi na primeira semana. Fiquei preocupado, pedi para que os servidores do meu gabinete, que são policiais aposentados e possuem porte de arma, ficassem sempre do meu lado. Mas no dia a dia continuei minhas reuniões externas e o que recebi da população foram palavras de incentivo. Alguns, em sua grande maioria que gostam do presidente Bolsonaro, diziam: “Estamos com o presidente e ficamos muito tristes dele estar rodeado de pessoas que não querem o melhor para nosso país. O que você fez foi correto”. E isso ocorreu em uma escala que eu não imaginava. Esse feedback nas ruas me fez me sentir mais tranquilo, e certamente tirar esse peso de que poderia sofrer algum tipo de ato criminoso. Me sinto tranquilo porque fui abraçado pela população.

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PODER: DIANTE DA REAÇÃO DO PRESIDENTE BOLSONARO, AINDA O APOIA? LM: Fiquei decepcionado no momento em que ele permitiu

que o Palácio do Planalto, representado pelo ministro Onyx [Lorenzoni], pelo Élcio [Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde] e os senadores da base governista na CPI, me atacassem por trazer um problema que deveria ser enfrentado. Deveria ter uma medalha de honra para quem combate à corrupção, porque essa era a bandeira do presidente, foi por isso que muitos de nós votamos nele. Fui traído pela ideologia que sempre defendi. Esperava o mesmo do presidente, mas não foi o que aconteceu. Infelizmente Bolsonaro traiu a sua bandeira política e ideológica. Inclusive a própria reeleição, que ele disse que não buscaria. Tudo isso diz muito sobre o caráter do presidente e eu prefiro, obviamente, manter minha linha sobre o que eu quero para o meu país. E não é o mesmo que o presidente Bolsonaro quer. PODER: APOIARIA O IMPEACHMENT DO PRESIDENTE? LM: Jamais votaria em um impeachment simplesmente por

ser oposição. Se porventura ele fosse pautado, analisaria a peça e, encontrando nela elementos que comprovem ilegalidades, crimes cometidos pelo presidente, não teria dificuldade nenhuma de votar “sim” e apoiar. Da mesma forma, se fosse um pedido apenas por questões políticas, midiáticas, que não enxergasse crimes, votaria “não”. Não vou me pautar pelo ódio, pelo populismo.

FOTO ALESSANDRO DANTAS/AGÊNCIA SENADO

quando em março denunciamos ao presidente, se tivessem feito algo naquele momento, cerca de R$ 1,6 bilhão reservado para comprar vacinas que não existiam seria utilizado em outras vacinas que estavam à disposição e teríamos salvado milhares de vidas. Infelizmente não fomos escutados, fomos traídos pelo presidente, essa é a grande verdade. O presidente se sentiu atacado por estarmos denunciando corrupção, mas foi ele quem atacou o parlamentar que nele confiou quando levou uma denúncia tão séria que teria salvado milhares de vidas.


PODER: O SENHOR ERA ALINHANDO ÀS PAUTAS BOLSONARISTAS, MAS HOJE É VISTO COMO TRAIDOR PELOS APOIADORES DO PRESIDENTE. QUEM MUDOU DE LADO? LM: Eu não traí o presidente, pelo contrário, tentei ajudar.

Se ele traiu aquilo que defendia, que era principalmente o combate à corrupção, quem errou no percurso foi ele, não eu. Continuo na mesma linha, as minhas pautas se mantêm, não vou mudar, não vou virar oposição radical contra o presidente. Quem vem perdendo a identidade daquilo que defendia é o Bolsonaro. Ele segue em campanha e campanha não governa um país. Se tivesse se dedicando a fazer aquilo que nós defendíamos enquanto direita, o Brasil certamente seria outro. Enquanto estamos discutindo pautas ideológicas, a população vem padecendo. Bolsonaro está traindo as pautas que nós acreditávamos que ele iria defender e, automaticamente, traindo aqueles que acreditaram nele.

EMBARQUE NA REELEIÇÃO, CONSIDERA DEIXAR A SIGLA? LM: O Democratas está bem distante da pauta bolsonarista

como partido. Mas se resolver embarcar numa possível reeleição, eu certamente me sentiria muito desconfortável em permanecer no partido. Confio que essa decisão não pode ser só do presidente ACM Neto. A independência do Democratas, sem vincular sua imagem a um governo que vai contra as ideologias do nosso partido, é o melhor caminho a ser seguido.

PODER: QUAIS SEUS PLANOS PARA 2022? LM: Acredito na possibilidade de reeleição. Trabalhei muito

e tenho números satisfatórios. Mantive a defesa das minhas bandeiras sem me preocupar com críticas. Aprovei o maior número de relatórios dos 513 deputados da Câmara, fui relator de vários projetos, aprovei pautas de direita de economia aberta, acreditando no equilíbrio, na pacificação,

“Bolsonaro traiu sua bandeira política e ideológica. Inclusive sobre a própria reeleição, que ele disse que não buscaria. Tudo isso diz muito sobre o caráter do presidente” PODER: APESAR DO “TRATOR” LIRA, VOZES DISSONANTES PARECEM TER OCUPADO A CÂMARA, COMO A DO VICE-LÍDER MARCELO RAMOS. A CÂMARA CONSEGUE MANTER CERTA INDEPENDÊNCIA DO EXECUTIVO OU ESTÁ COMPLETAMENTE SUBORDINADA AOS INTERESSES DO PLANALTO? LM: Acredito ser muito difícil uma Câmara independente

quando o presidente da Casa tem alinhamento com o presidente da República. Porque quem toma as decisões sobre pautas, projetos, e quem tem poder – e muito forte de distribuir as emendas parlamentares – é o presidente da Câmara. Isso faz com que ele tenha um poder absoluto sobre as decisões e, alinhado com o PR, é como se fosse realmente uma extensão do Executivo dentro da Câmara dos Deputados. Mas o próprio presidente Arthur Lira vem se demonstrando insatisfeito com algumas atitudes do Bolsonaro, e a convivência que eu tive com Rodrigo Maia [expresidente da Câmara] demonstra que isso tem sempre um limite. Acredito que cedo ou tarde o Lira terá que começar a escutar a voz da Câmara dos Deputados e não a voz do Executivo. Se ele tem suas próprias pretensões políticas, vai ter que mudar o caminho que vem seguindo. PODER: O PRESIDENTE DO DEM, ACM NETO, JÁ DISSE QUE NÃO DESCARTA UM EVENTUAL APOIO A BOLSONARO EM 2022 – EMBORA A POSSIBILIDADE PAREÇA DISTANTE. CASO O PARTIDO

sem atacar a esquerda e a extrema direita e esse resultado acredito que será reconhecido. Talvez mais quatro anos de mandato me consolide não só como um cara popular, mas principalmente um profissional. Aí, em 2026, haverá possibilidade de ir ao Senado e, na sequência, um cargo do Executivo. É o que eu almejo. Um governo, ou quem sabe, a Presidência da República. PODER: QUE LIÇÕES O SENHOR TIRA DO EPISÓDIO? LM: Quando tomei a decisão de proteger o meu

irmão eu aprendi muito sobre o que é ser funcionário público, e a dificuldade que ele tem em fazer o certo enquanto o poder político e econômico pressionam. Por ser de direita, que defende menos Estado, mais liberdade, esse episódio me mostrou algo que eu nunca teria enxergado por ser uma pauta mais de esquerda a de defender o funcionário público. Eu estava do lado errado. Defender o funcionalismo público é defender o empresário, o setor produtivo, a geração de empregos, o crescimento econômico, o combate à corrupção, a democracia, é defender um futuro digno para a população brasileira. Aprendi uma lição grande de que não devemos confiar em ninguém, nem mesmo no presidente da República. E aprendi algo muito maior: não existe só um lado, uma só versão, existem outros lados e talvez o seu não seja o correto. n PODER JOYCE PASCOWITCH 31


PIONEIRISMO

O PRIMEIRO físicas, mas a falta de alinhamenuando o curitibano Robson À frente da to com os outros três sócios acaPrivado era adolescente, bou levando a iniciativa ao fim – startup era uma palavra que ainda MadeiraMadeira, o dois deles saíram logo de início não existia no vocabulário. Àquela empresário curitibano e o terceiro não estava disposto época, por mais que tivesse em casa o exemplo de dois empreendeRobson Privado planeja a a investir tanto quanto Robson. Foi depois de um MBA na Fundores, os pais de origem nordestiexpansão da companhia dação Getulio Vargas e uma exna que se mudaram para Curitiba no fim da década de 1970 e acapara o off-line enquanto periência de três anos na Leroy Merlin, onde chegou como traibaram fundando uma faculdade na qual atuaram por mais de 30 trabalha para que o rótulo nee e saiu como gerente comercial, que o destino de Robson se anos, o que Robson queria mesmo de “primeiro brasileiro à MadeiraMadeira. Nessa era ser jogador de basquete, mas negro cofundador de um juntou mesma época, a empresa fundaa vontade não prosperou por dois fatores que ele agora enxerga co- unicórnio” funcione como da pelos irmãos Daniel e Marcelo Scandian com capital próprio mo claros: a altura – 1,79 metro – e a falta de habilidade. O gosto pelo exemplo para incluir outros passava por sua primeira rodada de investimentos. Ele chegou a esporte, presente até hoje na práempreendedores ser entrevistado para uma vaga tica de surfe, inclusive, chegou a na companhia, que buscava allevá-lo a cursar educação física na POR NINA RAHE guém com mais experiência paUniversidade Federal do Paraná. ra integrar o time. Não satisfeito Graças às orientações de seu pai, no entanto, ele resolveu tocar, ao mesmo tempo, o cur- com a conversa, Robson resolveu ir conhecer a sede so de administração no negócio da família, a Faculdade e os fundadores do negócio. “Era 2012, ninguém falava em startup em Curitiba. Eu sempre fui antenado e de Ciências Sociais e Aplicadas do Paraná (Facet). Se quando era mais novo Robson não almejava as para mim isso era algo que estava muito lá em frente”, startups, tampouco sonhava em se tornar cofundador explica o empresário de 37 anos que, no encontro com de um unicórnio, quando soube de uma oportunidade a dupla de sócios, lembra ter enfatizado inúmeras vena MadeiraMadeira – hoje maior loja de e-commerce zes que não estava em busca de um emprego. “Ganhade produtos para casa no Brasil, ultrapassando a mar- va muito mais na época, meu salário cairia lá embaixo, ca de US$ 1 bilhão em valor de mercado – chegou lo- mas havia a oportunidade de me tornar sócio”, explica. Assim, a partir do convite para liderar o portfólio de go dizendo que não queria um emprego, mas um projeto. “Cresci em um ambiente de empreendedorismo produtos, nos últimos nove anos, com exceção da área e isso teve bastante impacto na minha vida. Ver meus financeira, Robson já se envolveu em todas os setores pais trabalhando ajudou na construção dos meus prin- da companhia, de marketplace a novos negócios, torcípios e valores”, explica o empresário, que percebeu nando-se COO, diretor de operações, há cerca de um já na faculdade que o seu “negócio era o negócio”: ain- ano. “Era uma área que eu já operava, mas sem a logísda no início de sua trajetória profissional, trabalhan- tica, que agora entra no meu escopo. Hoje estou com do em uma academia, ele criou sua primeira empresa, logística, vendas, novos negócios, lojas físicas... esse é desenvolvendo um serviço terceirizado de avaliações um pouco do resumo”, diz.

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FOTO VICTOR NUNES/DIVULGAÇÃO MADEIRAMADEIRA

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DA FILA


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“Queremos manter a liderança no online e conquistá-la no off-line. Nosso grande objetivo é ser o destino quando se pensa em casa no Brasil” Na última década, Robson acompanhou de perto todo o crescimento da MadeiraMadeira, empresa que começou no e-commerce por meio do chamado dropshipping – a intermediação de compra e venda de produtos sem necessidade de estoque próprio – e agora contabiliza mais de 80 lojas físicas em estados como São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. Boa parte do aporte financeiro de US$ 190 milhões captado no início deste ano (valor que tornou a companhia unicórnio), inclusive, foi para essa expansão. “A gente percebeu que o mercado é majoritariamente off-line e sabíamos que o cliente preferia a experiência nas lojas físicas, mas ainda não havíamos achado o melhor modelo”, explica o empresário. O modelo, nesse caso, teve inspiração em um e-commerce indiano que possuía uma guide shop, ou seja, uma loja física com mostruário que permitia ao cliente conhecer o produto

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antes de finalizar o pedido de forma on-line. “Há uma parte da população que não se sente confiante em comprar on-line”, justifica Robson, que comemora também a inauguração de dois centros de distribuição – além do recém-inaugurado em São Paulo, haverá pontos em Recife e no Espírito Santo – que possibilitarão afinar ainda mais a logística e reduzir o tempo de entrega dos produtos mais vendidos. “Queremos manter a liderança no on-line e, no off-line, conquistá-la ainda mais. Nosso grande objetivo é ser o destino quando se pensa em casa no Brasil”, conta. Em meio a esses desafios, Robson também vem se deparando com o rótulo de “primeiro brasileiro negro cofundador de um unicórnio”, algo que, de acordo com ele, nunca havia parado para pensar. “Meu pai foi um empresário negro em Curitiba na década de 1980 e eu cresci em lugares, colégios, clubes, onde, infelizmente, sempre fui o único negro. Assim como tive um exemplo, acho importante que existam referências e vejo que tenho uma responsabilidade grande”, explica o empresário, que, até pouco tempo, atuava também como uma espécie de mentor informal, procurado constantemente por pessoas que queriam conselhos para prosperar. “Sempre penso na escala e queria poder impactar mais”, revela. A solução foi não só começar um programa de inclusão e diversidade dentro da própria MadeiraMadeira (ainda em fase de estruturação), mas procurar iniciativas como Black Founders Fund e BlackRocks (aceleradoras focadas em impulsionar o sucesso de empreendedores negros), além de se tornar recentemente um conselheiro Endeavor (organização global de apoio a empreendedores). “Acredito que posso somar na questão de empreendedorismo, que é o que eu entendo, que é menos capital financeiro do que capital social, ajudando os empreendedores negros nessa formação”, explica. “Sou o primeiro, mas não serei o único.” n

FOTOS ALISON MACHADO/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

A loja física da MadeiraMadeira e Robson com os fundadores da marca, os irmãos Marcelo e Daniel Scandian


OPINIÃO

EMPREENDER NÃO É IGUAL PARA TODOS POR ANA FONTES

ILUSTRAÇÃO FREEPIK; FOTO DIVULGAÇÃO

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uando decidi começar meu próprio negócio, depois de quase duas décadas no ambiente corporativo, percebi que as dificuldades e os obstáculos no empreendedorismo eram diferentes para homens e mulheres. E, entre as próprias mulheres, as condições não eram as mesmas se elas fosses negras, nordestinas e de origem simples, como era meu caso. Em primeiro lugar, devemos entender que as mulheres foram e são as mais marginalizadas no ambiente de trabalho e profissional. É uma corrida desigual, na qual partimos sempre em desvantagem e precisamos provar nossa competência a cada volta. Nesta pandemia, que já se estende por mais de um ano e meio, o cenário de desigualdade talvez tenha alcançado o ápice. Além da alta taxa de desemprego geral, a participação da mulher no mercado de trabalho no país caiu ao menor índice nos últimos 30 anos.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no primeiro trimestre deste ano, as mulheres representavam menos de 40% da força ativa de trabalho. Antes da pandemia, a média superava os 50%. Boa parte dessas mulheres desempregadas viu no empreendedorismo uma saída para amenizar essa realidade. Contudo, a Covid-19 também afetou os pequenos negócios, obrigando muitos deles a fechar as portas. Embora a crise tenha prejudicado diversos setores produtivos, os segmentos mais castigados foram os de serviços, como hotelaria, alimentação, beleza e domésticos, postos ocupados em sua maioria por mulheres. Daí o impacto tão forte no desemprego delas e no próprio empreendedorismo feminino. Além disso, é importante levar em conta outras desigualdades, como a dupla jornada de trabalho, a falta de crédito bancário, o preconceito estrutural e a violência doméstica. Dados do Ministério Público de São Paulo registraram um crescimento de mais de 40% de violência dentro de casa e de feminicídio nos últimos 12 meses do ano. Nesse cenário, deparamo-nos com iniciativas de algumas instituições privadas e de organizações não

governamentais que entenderam as necessidades dessas mulheres e ajudam a diminuir os números dessa vulnerabilidade social. Eu, diretamente envolvida em diversas dessas ações, posso dizer que o empreendedorismo é uma das principais portas para a geração de renda e para a independência financeira da mulher. Mas precisamos enxergar esse empreendedorismo de forma justa, entendendo as diferenças e as dificuldades pontuais, criando assim condições para que mulheres realmente tenham formas de decidir sobre seus próprios negócios e sobre sua vida. Quando investimos no empreendedorismo feminino, investimos também na própria sociedade. Quando uma mulher gera receitas, ela compartilha seus ganhos para o bem-estar de sua família e do seu entorno, promovendo educação e desenvolvimento social. E tem sido elas também as que melhor adequaram os negócios às novas exigências destes tempos desafiadores, buscando aprender sobre digitalização, relacionamento com clientes e formas de inovar mesmo no seu pequeno negócio. E criam um círculo virtuoso, quando têm vagas de trabalho contratam outras mulheres. Sei que temos um longo percurso pela frente. Mas, quando olho para trás, tenho a certeza de que a luta é fundamental e a causa necessária para inclusão e justiça social. n Ana Fontes é empreendedora social, fundadora da Rede Mulher Empreendedora e do Instituto RME, Delegada Líder BR W20/G20 e LinkedIn Top Voices 2020

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UMA FILOSOFIA

DE VIDA POR CAROL SGANZERL A

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mpreender nunca esteve nos planos de Fábio Ennor Fernandes. Quem olha seu currículo pode pensar que abrir um negócio era um sonho desse paulistano criado em Ribeirão Preto. Nascido em uma família de classe média, filho de uma dona de casa e de um corretor de imóveis, antes mesmo de definir seus objetivos profissionais, projetou sua vida ideal. Aos 22 anos, quando trabalhava em uma empresa americana de logística em Barueri, próximo a São Paulo, o turno que ocupava o obrigava a levantar às três da manhã. “Aquilo me incomodava demais”, relembra ele. Decidiu, ali, que traçaria um plano para que, em curto prazo, não dependesse de ninguém e conseguisse pagar todas as suas despesas. “Naquele momento, comecei a ver quanto custava a vida que eu desejava levar e como poderia colocar esse plano em prática. Sucesso, para mim, é acordar a hora que eu quero”, diz. Entre outras histórias, essa é contada por Fábio nas palestras que faz para empreendedores ávidos por conselhos de quem construiu uma trajetória pontuada por conquistas. “Não nasci com um propósito de vida, mas tenho um objetivo claro que é estar bem todos os dias e aproveitar o tempo com leveza. Para isso, precisei montar um plano. Meus pais eram mais velhos, cresci sabendo que a vida passa rápido.” Entendendo que a área de vendas seria a ideal para seguir e ter o retorno que esperava, entrou de cabeça. “Ninguém mexe na pessoa que vende e traz negócio. Comecei vendendo uma

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FOTO FERNANDO TORRES

cachaça, depois polpa de fruta, vegetais congelados, molho de tomate… tinha que ter um escopo”, conta. Essas representações acabaram, com o tempo, virando uma distribuidora de alimentos, a Rottus, que Fábio Fernandes administra há 15 anos junto a dois sócios, além da Motiva Duo, assessoria de comércio e internacionalização de empresas com sede em Madri, na Espanha. Nessa mesma época, chamado para fazer uma palestra em Ribeirão Preto, o sucesso de sua história o levou a ministrar falas para potenciais empreendedores em outras cidades até que a Fundação Getulio Vargas o convidou para coordenar o Centro de Empreendedorismo e Novos Ne-

das Unidades Lide, que visa difundir o grupo para outros países – atualmente está presente em 12 deles, entre Suíça e Inglaterra. “O Lide me abriu inúmeras portas e potencializa muitos relacionamentos.” Seis meses antes de entrar para o grupo empresarial, Fábio criou um encontro em Catanduva, cidade onde mora desde 2009, no qual convidou 99 formadores de opinião, pessoas influentes da cidade, “só gente boa”, como costuma dizer, para falar sobre criatividade, inovação e tecnologia. Dessa reunião, fundou a Walking Together, uma plataforma de relacionamento que conecta e estimula líderes a provocar mudanças positivas nas cidades com menos de 377 mil

“Estamos criando uma grande rede para iluminar as pequenas cidades, ajudar as pessoas a terem causas nobres e a gerarem negócios” gócios, onde entrou em contato com os maiores nomes do mercado. “Em 2012, convidei alguns membros do Lide [Grupo de Líderes Empresariais] e o João Doria [o fundador] me chamou para uma reunião. Ele disse: ‘Você não quer ajudar o grupo a entrar no interior de São Paulo?’. Foi assim que me tornei responsável pela expansão do grupo”, diz Fábio, hoje presidente do Lide Ribeirão Preto e Head Global

habitantes. “Nosso papel é iluminar as pequenas cidades, fazer as pessoas terem orgulho. Estamos criando uma grande rede para ajudá-las a terem causas nobres, o que os formadores de opinião podem resolver, e a gerarem negócios”, explica Fábio sobre o movimento presente em 70 cidades brasileiras. O networking construído nesses anos todos lhe rendeu, em 2020,


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um convite para ocupar uma cadeira no conselho da Solstic Advisors, empresa de M&A (do inglês, fusões e aquisições). Mais sobre sua trajetória e estilo de vida descomplicado pode ser visto em seu livro Quanto Vale o Seu Tempo? – Uma Estratégia para Ressignificar o Trabalho e a Felicidade a Partir de sua Equação Mais Valiosa: Tempo + Liberdade (ed. Gente). “É um

O empresário Fábio lugar para refletir: está Ennor Fernandes valendo a pena, é isso e seu primeiro livro, mesmo que eu queria? lançado em setembro Percebo que as pessoas encaixar a vida. Por mais que tetentam seguir um padrão. Eu descobri o estilo de vida nha dado certo financeiramente, que queria ter, e isso incluía tem- deu errado, porque não era a vipo para fazer coisas legais, e fui da que ela queria ter. As pessover como pagaria as contas. Vejo as acham que lá na frente é que muita gente encontrar uma forma vai ficar bom. Mas, não, a jornada de ganhar dinheiro para, depois, tem que ser legal”, finaliza.

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FOTOS GETTY IMAGES; FREEPIK; UNSPLASH

METAVERSO

UNIVERSO PARALELO


Você já ouviu falar de metaverso? A nova aposta das big techs coloca o mundo virtual de cabeça para baixo e cria um ambiente totalmente imersivo que vai mudar a forma como nos divertimos – e fazemos negócio POR GUILHERME SOMMADOSSI ILUSTRAÇÃO DAVID NEFUSSI

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magine um lugar onde tudo é possível. Você pode ser quem quiser, como quiser e na hora que quiser. Nesse local existem regras, mas nenhum limite ou dependência das leis da física e do espaço-tempo. Agora, pense que essa utopia pode ser acessada a qualquer instante, seja da sua cama ou em uma cafeteria, basta uma conexão com a internet. Esse é o conceito do metaverso, um ambiente virtual para todos, dos fãs de videogames às grandes corporações. O termo veio emprestado das obras de ficção científica, mas o precursor de tudo não foi nenhum grande filme do cinema, mas um livro: Neuromancer. A obra é parte da trilogia do romancista William Gibson, que mostra um mundo muito avançado no qual a tecnologia está presente nos corpos das pessoas, seja como próteses para voar ou um chip que acessa os servidores globais. O protagonista da saga é Case, um hacker e mercenário que perdeu sua memória, mas sofre as consequências de um passado que ele não se lembra. Ao longo da trama, o personagem principal usa uma tecnologia que o transporta para outro mundo, onde seu frágil corpo físico é capaz de tudo. Mais tarde, essa ideia foi mais popularizada com os filmes Matrix, criados e dirigidos pelas irmãs Wachowski, em que Neo (Keanu Reeves) descobre que vive em uma grande simulação e que o mundo de verdade está colapsado. Assim como muitos outros avanços tecnológicos – como as chamadas de vídeo, impressão 3D, assistentes virtuais etc. –, as primeiras “aparições” foram em obras sci-fi. Com isso, a famosa frase “a vida imita a arte” esbarra no campo da inovação, nos fazendo avançar no futuro. PODER JOYCE PASCOWITCH 39


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FOTOS GETTY IMAGES; REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

universo próprio e em constante crescimento. Ainda que cada um deles possua suas especificações, hoje em dia eles praticamente se retroalimentam. Mesmo que gratuitos, as compras de roupas, itens especiais, danças e outras ativações como shows de celebridades dentro dos jogos sempre elevam os núEm sentido horário: Mark Zuckerberg, e seu avatar, para quem o futuro do Facebook está no meros de jogadores e de gastos na metaverso; Matthew Ball, investidor que levou o novo ambiente virtual para a bolsa; e David plataforma. Baszucki, CEO da Roblox, o game pioneiro que utiliza recursos com a tecnologia Em março, a Roblox entrou na Bolsa de Valores de Nova York com ativos a US$ 64,50. A estreia já foi explosiva, gerando uma valorização da marca em US$ 38,2 bilhões. No ano passado, o game disponível para celulares, computadores e consoles cresceu 82%, chegando a US$ 923,9 milhões. Desse montante, US$ 253,3 milhões foram distribuídos entre 1,2 mil pessoas que criam e vendem mapas dentro do jogo, como já é uma prática da companhia americana. Em entrevista à rede CNBC dos Estados Unidos, o CEO DaE o futuro chegou ao mundo dos negócios. Em junho, o vid Baszucki disse que os 15 anos de crescimento do game investidor de risco Matthew Ball ajudou a lançar um fundo são “impulsionados por nossa comunidade, pelo conteúdo na bolsa para que as pessoas possam investir no espaço do incrível, por nossos criadores e por nossa capacidade de as metaverso, incluindo empresas como a fabricante de chips pessoas fazerem coisas juntas”. Resumidamente, o Roblox é um jogo de criação livre, gráficos Nvidia e a plataforma de games Roblox. Pesquisador da área, Ball define o metaverso como algo constante, no qual os usuários personalizam suas roupas e podem síncrono e ao vivo, com número ilimitado de usuários. Um criar mapas inspirados em filmes, séries, desenhos ou ambiente que possui uma economia funcional; que abran- apenas para uma diversão despreocupada. Com esse ge o mundo físico e digital simultaneamente; com acesso a apelo comunitário, ali há um universo próprio, cujo únidados e arquivos; e composto de conteúdos e experiências co limite é a tela do monitor. Já o Fornite, o jogo de combate em que o último jogador criados pelos próprios colaboradores. “O metaverso irá se tornar a porta de entrada para a maior parte das experiên- vence, é praticamente um parque. O game já teve um show cias digitais, a chave para todas as [experiências] físicas, e a do rapper Travis Scott (e muitos outros cantores e DJs, em outros momentos), em abril de 2020, com a web presenpróxima grande plataforma de trabalho”, crava. ça de 14 milhões de jogadores no mundo. Em agosto, em parceria com a revista Time, o game homenageou Martin GAMES COMO CONTROLE 1 No mundo dos jogos eletrônicos isso é praticamente Luther King Jr. e seu histórico discurso “I Have a Dream” uma realidade. Jogos como Second Life (2003, desenvolvi- (“Eu Tenho um Sonho”), de 1963, em Washington, nos Esdo pela Linden Lab), Roblox (2004, Roblox Corporation), tados Unidos. Bastava entrar no game para ver uma espéFortnite (2011, Epic Games), Animal Crossing: New Hori- cie de museu do ativista, onde diversos momentos histórizons (2020, Nintendo) e muitos outros contam com um cos puderam ser acompanhados.


GUIA PRÁTICO Esses dois movimentos são apenas alguns de um processo antigo da desenvolvedora. O CEO da Epic Games, Tim Sweeney, cerca de 20 anos atrás quando a empresa fazia parte da Microsoft, foi incisivo para que Bill Gates investisse mais no mercado de games. A semente prosperou e, em 2017, ele conseguiu colher os frutos disso e tornar a Epic um dos trunfos do metaverso. Para o site de tecnologia VentureBeat, o líder da empresa de games indicou que quando o conceito estiver prestes a se tornar algo real, não será preciso que alguma empresa o controle integralmente. “Só assim você pode obter uma economia livre, justa e realmente duradoura, que é construída sobre os mesmos princípios fundamentais que nosso país [EUA].” Uma tecnologia muito próxima ao metaverso é a realidade virtual. As telas-óculos, por exemplo, permitem uma outra experiência com a tecnologia. O PlayStation VR, da Sony, o Reverb, da HP, e o Index, da Valve Corporation, são alguns dos principais dispositivos do mercado. Ainda que eles sejam primariamente usados para jogos, muitos desenvolvedores e artistas usam as plataformas para criar exposições de arte, reproduzir momentos históricos globais e muito mais.

MAIS GENTE QUER BRINCAR

Com tanto poder social e criativo, as big techs e outras grandes empresas de diversos setores também estão com os olhos e bolsos direcionados para o universo virtual. Uma delas, e a mais avançada, é o Facebook. Mark Zuckerberg, o CEO do grupo responsável também pelo Instagram e WhatsApp, anunciou em junho seus novos planos para entrar no metaverso. “Nosso objetivo geral em todas essas iniciativas é ajudar a dar vida ao metaverso”, afirmou o ambicioso líder em uma grande apresentação empresarial. Em um cenário hipotético, o metaverso do Facebook seria uma conexão instantânea de todas as suas redes, ao mesmo tempo e sem a limitação física de um acesso pelo smartphone ou computador. Zuckerberg disse ainda que os objetivos são criar um espaço que misture sociabilização, trabalho e entretenimento. Sua ideia é de que pessoas geograficamente distantes possam se encontrar “presencialmente”, seja para se divertir ou aprender. Um pequeno passo nessa direção já existe. A empresa é responsável pelo Oculus, a fabricante do aparelho de realidade virtual Quest (que já conta com duas versões). Por enquanto, o hardware é dedicado a jogos de computador e experiências em RV.

Com tantos termos e personagens atuais, entender o conceito de metaverso não é uma tarefa fácil. Para ajudá-lo a ficar mais familiarizado, conheça algumas produções que usam o tema como centro da trama: JOGADOR N°1 (Livro de Ernest Cline, 2011 | Filme de Steven Spielberg, 2018)

TRON (Filme de Steven Lisberger, 1982) SWORD ART ONLINE (Mangá de Reki Kawahara, 2009 | Anime da A-1 Pictures, 2012)

MATRIX (Trilogia cinematográfica composta por Matrix, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, de Lana e Lilly Wachowski, 1999-2003)

SPRAWL (Trilogia literária de William Gibson composta por Neuromancer, Count Zero e Mona Lisa Overdrive, 1984-1988)

Em entrevista ao The Verge, o CEO afirmou que o metaverso “é um ambiente persistente e síncrono onde podemos estar juntos, que provavelmente vai se assemelhar a algum tipo de híbrido entre as plataformas sociais que vemos hoje, mas um ambiente onde você está incorporado nele”. Outro grande passo do Facebook na área é o espaço Horizon, no qual os donos do Oculus Quest podem interagir. Ainda em fase de testes com alguns jogadores, o local virtual permite que as pessoas se encontrem, usando seus avatares e se divirtam juntas. Com essas poderosas armas e o faturamento de US$ 29 bilhões até junho, o aglomerado das principais redes sociais do Brasil e do mundo pode estar a poucos pixels de se tornar um local tangível e visitável. Combinando conceitos com as transações financeiras baseadas em blockchain e mais avanços na área, é possível chegar até mesmo a situações de compra e venda de terrenos virtuais. Por isso, vale apostar no metaverso enquanto é tudo mato. n PODER JOYCE PASCOWITCH 41


EQUILÍBRIO

O OUTRO MUNDO POSSÍVEL As ideias do economista Ricardo Abramovay já pareceram estar um tanto fora de lugar, mas um modelo econômico de menor atividade produtiva, que leva em conta os recursos naturais, considera o reúso de produtos e gera mais bem-estar coletivo, talvez seja uma saída mais do que razoável diante da iminente catástrofe climática. O problema é que nem isso pode fazer sentido se seguirmos desmatando a Amazônia, região que ele observa com lupas POR PAULO VIEIRA FOTOS JOÃO LEOCI

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er economista e propor um modelo econômico que prevê redução da atividade produtiva soa bastante provocativo – ou soava, antes do advento da catástrofe climática. Professor da USP, o economista Ricardo Abramovay defendeu no livro Muito Além da Economia Verde, de 2012, um caminho via cooperação social para preservar os recursos naturais do planeta e gerar certo bem-estar coletivo. Bem-estar que implicaria necessariamente distribuição de renda bem melhor. Tudo isso dentro das “quatro linhas” do capitalismo, bem entendido. Mas isso demandaria muito mais planejamento do poder público e desprendimento dos agentes privados. E, como diria o pacifista Mahatma Gandhi, citado por Abramovay em seu blog, “há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem, mas não para sua ambição”. Agora, apesar da iminência do “tipping point” no aquecimento global, Abramovay não advoga exatamente por uma redução do crescimento. O mais importante para ele é saber para onde crescer – e para quê. O economista, por exemplo, acompanha de perto o que acontece na Amazônia, cuja destruição acelerada nos últimos anos pode fazer com que os esforços de Estados Unidos, China, Índia, Japão e países europeus em mudar sua matriz energética tornem-se ociosos. A seguir, os principais pontos da entrevista, feita por teleconferência.

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CRESCER OU NÃO CRESCER?

“Mais importante do que responder a essa pergunta é saber para onde crescer, para quê e para quem. Um país como o Brasil precisa de muito investimento em saúde e educação, mas certamente não em automóveis ou imóveis de luxo. Precisamos de investimentos que permitam a reocupação dos centros urbanos pelas populações periféricas de nossas cidades. Essa noção de planejamento numa sociedade em que o mercado é respeitado, é cada vez mais importante e responde à oposição binária entre crescer ou não crescer. Ter uma direção para a atividade econômica: essa é a ideia mais heterodoxa para um economista, já que, por definição, quem estuda economia parte da premissa de que as decisões são descentralizadas, respondendo a incentivos de mercado. Se o empresário tem o feeling de produzir tal coisa, desde que seja na legalidade, pode produzir. Mas hoje em dia não dá mais para ser assim, precisamos ter uma orientação – e essa necessidade é cada vez mais reconhecida nas organizações multilaterais. Por exemplo, o mundo vai ter de investir até 2030 US$ 94 trilhões para preencher suas necessidades de saneamento, eletrificação, transporte, construção de hospitais etc. E isso vai ser feito com atividades que destroem a biodiversidade.”

SOCIEDADE X MERCADO

“Os últimos 40 anos foram dominados pela ideia de que os mercados têm uma inteligência descentralizada e, por-

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tanto, muito superior a qualquer ente centralizado. Essa ideia morreu em 2008 [com a crise do subprime] e pode ser sepultada agora com a vitória de Joe Biden e com a resposta da União Europeia às mudanças climáticas. É importante que a gente tenha um horizonte em que a sociedade possa atingir objetivos estabelecidos por consenso democrático. Um dos problemas nessa direção é a completa dissociação entre a sociedade e os parlamentos [que não a refletem]. Então criou-se uma dinâmica interessante, como a da assembleia de cidadãos, a Convenção Cidadã pelo Clima, na França e também na Grã-Bretanha. Esse tipo de movimento está crescendo bastante.”

MUDANÇA DE MATRIZ

“A Agência Internacional de Energia mostra que os atuais investimentos em petróleo são maiores do que o necessário para a transição de matriz energética. E isso acontece porque as empresas sabem que em algum momento vão ter de parar de furar o chão para explorar petróleo. A lógica é: “Daqui dez anos não vai dar mais, então deixa eu tirar o que tem e tentar vender”. Houve avanços espetaculares na área das energias eólica e solar, tanto na quantidade quanto na questão do equilíbrio de preço, mas falta avançar na armazenagem. E como essas energias são intermitentes, os caminhos da transição para a matriz limpa ainda não estão totalmente definidos. Essa conversa de que só falta vontade políti-


ca – não é bem assim. Ainda há conquistas tecnológicas a serem feitas, e por isso o governo Biden criou uma espécie de Darpa [agência governamental lançada pelo americano Dwight Eisenhower para avançar a pesquisa tecnológica em defesa aeroespacial dos Estados Unidos]. É preciso muita pesquisa para conseguir segurança nessa transição da matriz energética. Por outro lado, a Índia e a China disseram, em 2009, que seguiriam usando carvão e hoje têm empresas de solar e eólica que são players globais.”

BRASIL CONTRA RAPA

“A Amazônia destruída corresponde a dez anos das emissões globais. Pode esquecer o combate às mudanças climáticas. Acabou”

“De um lado você tem Europa, China, Estados Unidos e, de certa forma, Índia, Japão e Canadá mudando o perfil da sua indústria, promovendo uma transformação profunda na matriz energética e de transporte. Você vai ter que mudar todo o sistema de aquecimento e de refrigeração domiciliar. São transformações profundas na vida da economia e das pessoas. Mas se a Amazônia for destruída, isso corresponde a dez anos das emissões globais ligadas ao efeito estufa. Ou seja, pode esquecer o combate às mudanças climáticas. Acabou.”

PENÚRIA ÉTICA

“Dizem que é muito difícil fazer algo “muito rápido” pela Amazônia. Mas difícil mesmo é mudar matriz energética, sistemas de aquecimento e de alimentação, gestão de resíduos. Tudo isso envolve comportamentos cotidianos de milhões de pessoas. Para acabar com o desmatamento é preciso apenas combater a criminalidade. Então, não é eticamente admissível que isso não seja feito rapidamente, e ainda mais com o conhecimento do que significam as mudanças climáticas. Propor acabar com o desmatamento em 2030 [e atingir a neutralidade de emissões em 2050, como Bolsonaro prometeu na Cúpula de Líderes, em abril], é dizer que só se vai combater o crime anos depois [de deixar a Presidência]. Está claro que a destruição da Amazônia responde a uma sinalização direta vinda de Brasília de que invadir terras públicas e atentar contra os territórios indígenas compensa. Antes, a expectativa

de legalização dessas terras invadidas era baixa. Executivo e Parlamento juntos agora fizeram com que essa expectativa aumentasse a proporções absurdas.”

AMAZÔNIA MAIOR QUE O BRASIL

“A Amazônia acabou se tornando maior que o Brasil. Maior na questão internacional, pelos potenciais construtivos e destrutivos, e pela dimensão política. Quando, em agosto de 2019, o céu de São Paulo escureceu, viu-se que aquilo era ocasionado pelas queimadas na Amazônia. Ao mesmo tempo, a BlackRock [maior gestora de fundos de investimento do mundo] e outros fundos começaram a sinalizar que iriam deixar de investir no Brasil porque a destruição da Amazônia estava pondo a perder todo o esforço global de combate à crise climática. Esse chamado teve repercussão interna que se traduziu numa frente com empresários, ativistas, comunidades tradicionais e cientistas. Essa concertação, no Brasil, só tem na Amazônia.”

MICROFÍSICA POLÍTICA NACIONAL

“Dentre os governadores do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal há bolsonaristas da pior espécie. Em Rondônia, o governador [Marcos Rocha], com o apoio da Assembleia Legislativa, está desfazendo áreas protegidas que são fundamentais. No Acre, a Serra do Divisor, ao pé dos Andes, está sendo ameaçada, e o argumento é que [aquela] é uma área que tem muita pedra, e falta pedra para a construção civil. Há uma conjunção entre o fanatismo fundamentalista do Planalto e elites locais que não veem outra forma de utilização do solo que não seja por extração da madeira, pecuária e soja. A junção dessas coisas dá lugar a um processo destrutivo fortíssimo. Então [são bem-vindos] o Plano de Recuperação Verde, implantado pelo governador do Maranhão, Flávio Dino, à frente do consórcio, e a mobilização que levou ao Science Panel for the Amazon, reunindo 200 cientistas [e cujo relatório preliminar foi divulgado em julho].” n PODER JOYCE PASCOWITCH 45


DIREITO FUNDAMENTAL pandemia expôs as falhas do serviço de saneamento básico no Brasil, um direito garantido pela Constituição. A recomendação de lavar as mãos, como uma das formas mais importantes de prevenção à Covid-19, não é possível para grande parcela da população. Dados do Instituto Trata Brasil dão conta que, em 2019, cerca de 35 milhões de brasileiros não tinham acesso ao abastecimento de água – isso significa dizer que mais de 16% da população não dispõe de um dos recursos fundamentais para a existência humana. E mais... aproximadamente 100 milhões de habitantes não contam com acesso à coleta de esgoto e, por dia, 7,5 mil piscinas olímpicas são despejadas sem tratamento na natureza. Para mudar esse cenário, há um ano foi aprovado o Marco Legal do Saneamento Básico, cujo principal objetivo é universalizar e qualificar a prestação dos serviços no setor. A meta do governo federal, ousada, é que, até 2033, cerca de 99% da população brasileira tenha acesso à água potável e 90% ao tratamento e à coleta de esgoto. Segundo estimativas do Instituto Trata Brasil, além do benefício social, a universalização carrega potencial econômico de R$ 1 trilhão. Por isso, a mobilização e a colaboração de diversas cadeias produtivas, como as de materiais de construção, engenharia, arquitetura e químicos, é

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essencial. Na indústria química, por exemplo, para atender a demanda de cloro, fundamental para a manutenção da saúde e prevenção de doenças, além de tornar a água potável, é necessário aumentar em 700 mil toneladas por ano a produção no Brasil, volume 40% maior do que o atual – o setor estima que tem condições de atender a demanda devido à capacidade ociosa. Já no mercado de PVC, a rede de tubulações que, em 2012, era de 542,5 mil quilômetros, precisa ser elevada para 613,4 mil km em 2033, além da também necessária realização de manutenção de 381 mil km, que hoje geram vazamentos e perdas de água no processo de transporte, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

CEO da Unipar, empresa líder na produção de cloro, soda e PVC na América do Sul, Mauricio Russomanno acredita que o Marco do Saneamento é uma grande oportunidade não só para melhorar a parte social, ambiental e econômica, como também pode ser um dos grandes vetores no momento pós-crise. “A companhia e toda a indústria química e petroquímica poderão explorar o aumento na demanda e contribuir com a ampliação da infraestrutura nacional, no nosso caso por meio do PVC para a construção de redes de água e esgoto, e fornecimento de cloro para tratamento de água, um insumo essencial para a vida”, avalia. Segundo o executivo, para que

FOTO DIVULGAÇÃO

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a companhia esteja cada vez mais preparada para atender a demanda, a Unipar tem acelerado projetos que possam ampliar a sustentabilidade, garantir o acesso a insumos estratégicos, melhorar a competitividade e gerar impacto econômico positivo. “Nós poderemos contribuir para o aumento da qualidade de vida e inclusão das pessoas. Os efeitos [do Marco] vão muito além da ampliação do aces-

Mauricio Russomanno, CEO da Unipar: “Nós poderemos contribuir para o aumento da qualidade de vida e inclusão das pessoas”

35 milhões

de brasileiros não têm acesso à água tratada

48% da população não FOTOS PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO; IVAN BANDURA/UNSPLASH; FREEPIK; DIVULGAÇÃO

possui coleta de esgoto

7,5 mil piscinas olímpicas

de água potável são perdidas todos os dias

59% das escolas do ensino fundamental

não possuem rede de esgoto so à água tratada”, completa. A expectativa é que a universalização dos serviços de água e esgoto reduza em até R$ 1,45 bilhão os custos anuais com saúde, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além disso, a cada R$ 1 investido em saneamento, deverá ser gerada economia de R$ 4 com a prevenção de doenças causadas pela falta do serviço, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).


ESPELHO

MANDA UM ZAP Coordenadora-geral da fundação 1Bi, instituição social do grupo Movile, Kelly Silva Baptista trabalha por um sonho: levar tecnologia e educação a 1 milhão de jovens carentes. Entre suas armas, o WhatsApp

e olho no presente – e no futuro –, Kelly Silva Baptista tomou para si uma meta audaciosa, como ela mesma faz questão de pontuar: levar tecnologia, como ferramenta de inclusão e educação, a 1 milhão de jovens em todo o país. E a curto prazo! Aos 37 anos, ela é a coordenadora-geral da fundação 1Bi, instituição social do grupo Movile – conglomerado que tem entre suas empresas iFood e Sympla – criada há dois anos com o objetivo de usar a inovação para impactar e melhorar a vida das pessoas. “Estou à frente da fundação há um ano. Em 2019, a 1Bi havia criado um chatbot (aplicativo de inteligência artificial que consegue simular uma conversa real por meio de texto ou áudio em apps de mobile), que opera no WhatsApp, para levar soft skills para jovens. Veio a pandemia e fomos desafiados a transformar esse chatbot em uma ferramenta de estudo para esses alunos. Criamos o AprendiZAP”, lembra Kelly, que, sendo mulher preta e periférica, sabe muito bem como funciona a comunicação nas comunidades carentes: “As pessoas usam WhatsApp para tudo. Você vai lá, coloca R$ 10 de crédito, e consegue se comunicar durante um mês. Esse nosso chatbot se transformou em um conteúdo de ensino. Hoje são mais de 1.400 aulas, do quinto ao nono ano, e já atendemos mais de 250 mil jovens e professores do Brasil todo”. Um parêntese: graças aos incansáveis professores de escolas públicas, milhares de crianças e adolescentes dos quatro cantos do Brasil conseguiram manter o aprendizado minimamente em dia durante a pandemia. “Em zonas rurais, sei de casos em que eles imprimem o conteúdo que disponibilizamos e levam nas casas dos alunos. Se não fossem os professores divulgando para as turmas, conversando com as prefeituras e com os pais, não teríamos um alcance tão grande. Alguns têm mais de 1 mil alunos. Hoje atendemos mais de 30 mil professores da rede pública por meio do AprendiZAP”, orgulha-se Kelly, que, apesar de ter nascido em uma família muito pobre, conseguiu se formar na universidade, fazer mestrado e agora inspira outras mulheres negras a não desistirem de seus sonhos. “Moro em Ferraz de Vasconcelos (SP) desde que nasci. Sou filha de Luis e Cida, que trabalham no Bom Prato.

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Fiz escola pública e tive a sorte de encontrar pessoas que me apadrinharam. Vim de uma família de extrema pobreza, minha avó era escrava. Mas resolvi que queria fazer faculdade. Fiz nutrição no Centro Paula Souza e acabei entrando na Fatec (Faculdade de Tecnologia). Me formei em logística de transportes. Lá encontrei o diretor e dois professores negros que me seguraram no curso, porque eu não tinha dinheiro nem para comer. E eles sempre me ajudaram e incentivaram a seguir em frente”, lembra ela, que também se formou em gestão pública pela Unifesp e seguiu a carreira no terceiro setor. Antes de ser convidada para coordenar o 1Bi, Kelly atuou durante 11 anos no Instituto Consulado da Mulher, depois foi gerente-geral de qualificação na Gerando Falcões e head de negócios de impacto no Instituto Plano de Menina. Mãe de dois meninos, um de 6 e outro de 3 anos, a professora e gestora endossa o coro de que “ser mãe preta não é fácil”. “Mãe preta e de meninos... meu maior medo é com a violência. Meus filhos são superprotegidos e me preocupo com isso. Eles estudam em escola particular, o que pode parecer um contrassenso. Luto pela educação pública, mas não quero que eles cheguem no lugar em que cheguei com quase 40 anos como eu. Quero que cheguem antes. Minha meta é que um dia o Brasil tenha ensino gratuito de qualidade.” Com essa missão pela frente, Kelly sonha alto. “A tecnologia é o futuro. O Brasil ainda é um país atrasado tecnologicamente e educacionalmente. Por isso na fundação desenvolvemos projetos para que ONGs e empresas possam atender a comunidade. Não formamos jovens, mas fazemos o meio de campo para que os projetos se concretizem. Com o AprendiZAP e a parceria com a secretaria de educação do Estado de SP, a estimativa é atendermos 342 mil alunos em pouco tempo”, diz Kelly, e finaliza: “Só saio daqui quando o AprendiZAP virar política pública de tecnologia e metodologia de estudo. Até o ensino voltar ao normal ainda deve levar um bom tempo. A tecnologia vai mudar o planeta e quero ter meninos e meninas pretas e periféricas nesse lugar”. + WWW.FUNDACAO1BI.COM.BR/

FOTO YURI DARIAN/DIVULGAÇÃO

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POR CARLA JULIEN STAGNI


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RESPIRO

FOTO JEAN ADDA/GETTY IMAGES

VIDA BREVE, ALMA LIVRE Se JACQUES BREL tivesse seguido o desejo da família, teria acabado em uma fábrica de cartões, propriedade do pai, onde trabalhou por curto período. Contra a expectativa, no entanto, Brel foi longe: tornou-se cantor, compositor, poeta e diretor de cinema. Se na empresa ele se dizia “encartonado”, nas artes encontrou razão desde cedo. Aos 15 anos, colaborou para a criação de um grupo de teatro, atuou em peças e interpretou ao piano improvisos para poemas de sua autoria. Uma década mais tarde, Brel já se apresentava no célebre cabaré parisiense Les Trois Baudets, lançava o álbum Jacques Brel et Ses Chansons e via sua canção “Le Diable” sendo interpretada por Juliette Gréco. Vítima de câncer de pulmão, morreu aos 49 anos. Deixou como legado, em contrapartida, uma obra vasta e de vida longa: as tantas versões de “Ne Me Quitte Pas”, sua mais famosa composição, são a maior prova.


SAPIÊNCIA

ABAIXO A

VELHOFOBIA Apesar de ainda ser alvo de preconceito, a turma 60+ está mais ativa do que nunca, provando que idade não é empecilho no universo corporativo – e na vida

esmo com o número crescente de empresas que investem em diversidade e inclusão, o etarismo ainda é uma questão urgente no Brasil. Em um país em que o medo de envelhecer é cultural, ultrapassar a barreira dos 60 anos deixa qualquer um, no mínimo, preocupado. Fato é que os tempos mudaram. As pessoas estão vivendo mais e melhor, e o envelhecimento está em ascensão em todo o planeta. Mas a sociedade tem pressa e a tecnologia avança a passos largos, fazendo com que as gerações mais antigas sejam, muitas vezes, rotuladas como incapazes de acompanhar essa evolução. Ledo engano. Derrubando rótulos e preconceitos, foi cunhado recentemente um novo termo, “perennials”, ou, “aqueles que não têm idade”, que são perenes. Essa palavra se encaixa bem no que se vê por aí: pessoas de 50, 60, 70 anos, com muito pique e combustível para queimar. Esses indivíduos atemporais têm um estilo de vida que une gostos e hábitos de diversas faixas etárias e, para lidar consigo mesmo, com os outros e com o ambiente, não se baseiam em aspectos geracionais, e sim na forma como percebem a si próprios, isto é, de acordo com sua identidade social. São pessoas curiosas, abertas ao aprendizado, à mudança de carreira, ao desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos, e entendem que cada um tem suas próprias experiências, propósitos e objetivos. Para os perennials, a idade não importa. Então, para que rotular uma pessoa de acordo com o ano de nascimento? Com esse tema em pauta, convocamos Mi-

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rian Goldenberg, uma das maiores conhecedoras do assunto. Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora do livro A Bela Velhice (ed. Record), há mais de 20 anos atua na área da gerontologia, estudando o envelhecimento e o que ela chama de “velhofobia”. PODER: VOCÊ PREFERE CHAMAR DE “VELHOFOBIA” O QUE TEM SIDO DISCUTIDO AMPLAMENTE COMO ETARISMO OU AGEÍSMO. POR QUÊ? MIRIAN GOLDENBERG: Outros autores usam termos

como ageísmo, etarismo... Gosto de chamar de velhofobia, porque assim todo mundo entende do que estou falando, que é a violência física, verbal e psicológica contra os mais velhos, tudo o que estamos vendo, mais do que nunca agora na pandemia, mas que sempre existiu por aqui. Esse preconceito é muito forte no país porque vivemos em uma cultura que sempre se considerou jovem, que até pouquíssimo tempo era realmente uma pirâmide que tinha muitos jovens em sua base e poucos velhos no topo. Só que já não é mais assim, e muita gente não se deu conta disso. Não temos mais essa pirâmide. Pelo contrário. Em poucos anos teremos uma inversão, porque os brasileiros estão vivendo mais. A média da expectativa de vida quase dobrou dos anos 1960 para os dias de hoje. E, enquanto naquela época nascia 6,3 crianças em média por casal, atualmente esse número caiu para menos de 2. Só que os valores não acompanham a nova realidade. Continuamos achando que

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

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POR CARL A JULIEN STAGNI


vivemos em um país jovem, em que só existe beleza e produtividade na juventude, e essa visão de que os mais velhos são um peso, são inúteis, que podem morrer a qualquer momento é o que chamo de discurso velhofóbico. Os brasileiros não conseguem enxergar que envelhecer não é algo negativo. Pelo contrário, é uma conquista da sociedade, da ciência. Podemos viver mais e melhor. Esses discursos devem ser combatidos diariamente, dentro de casa, nas empresas.

PODER: DE ONDE VEIO ESSE MEDO QUE OS BRASILEIROS TÊM DE ENVELHECER? MG: Acabei de lançar o livro A Invenção de uma

Bela Velhice (ed. Record), com uma pesquisa com 5 mil homens e mulheres de diferentes faixas etárias, mostrando que todos, especialmente as mulheres, têm pânico de envelhecer. Justamente porque vivemos em uma sociedade em que a juventude é hipervalorizada, associada à beleza, produtividade, sensualidade. Só que os medos são diferentes. Enquanto os homens expressam o medo da aposentadoria, da dependência física, da impotência, as mulheres falam mais de invisibilidade social e perda da aparência física. Homens costumam sofrer calados e não é à toa que, quando se aposentam, bebem mais, têm mais problemas de saúde e morrem mais cedo. É um baque muito grande.

PODER: COMO A VELHOFOBIA ATUA EM AMBIENTES COMPETITIVOS COMO OS CORPORATIVOS? MG: Falo que existem diferentes velhofobias.

Tem a geral, essa representação de que o velho é feio, doente, inútil, que não vai fazer falta, absurdos que ouvimos diariamente, inclusive em discursos de autoridades políticas, e tem a velhofobia no mercado de trabalho. As empresas não aproveitam bem os profissionais seniores, não contratam pessoas mais velhas, não valorizam a experiência e até a disponibilidade que elas têm de trabalhar. Uma coisa interessante que descobri escrevendo o livro é como as pessoas mais velhas querem continuar sendo úteis, ter um propósito de vida. Muitas voltam a estudar para empreender e buscar colocações em novas áreas. Alguns já são aposentados, têm renda para viver bem, mas querem seguir ativos, porque o trabalho se torna um propósito de vida. A PODER JOYCE PASCOWITCH 53


“É um mito essa ideia de que só os jovens dominam a tecnologia. Os 60+ estão totalmente conectados e atualizados”

PODER: A BUSCA POR PROFISSIONAIS CADA VEZ MAIS JOVENS TEM A VER COM O SURGIMENTO DAS EMPRESAS DIGITAIS NA ÚLTIMA DÉCADA? MG: É um mito essa ideia de que só os jovens dominam

a tecnologia. Pesquiso homens e mulheres de mais de 60 anos há três décadas e a grande maioria está totalmente conectada, informada e atualizada. Aí não é uma questão de idade, e sim de oportunidade, de conhecimento, de escolaridade e até de classe social. Pessoas mais pobres de todas as idades têm menos acesso às novas tecnologias.

PODER: COMO AS EMPRESAS PODEM COMBATER A VELHOFOBIA? MG: A velhofobia deve ser combatida no dia a

dia. Em casa, nas empresas, na universidade e dentro de nós. Muitas pessoas, que estão em sua plenitude funcional e física, acreditam que estão velhas demais para estudar, para procurar emprego, para namorar, para fazer sexo... temos que entender que

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hoje a velhice é a fase mais longa da vida. Somos crianças durante dez anos, adolescentes por uma década e adultos por 30 anos. A partir dos 60, somos considerados velhos e podemos viver bem até quase os 100. São 40 anos de atividade, paixão, propósito. Os velhofóbicos deveriam sempre lembrar que daqui a muito pouco tempo eles também serão velhos. Esse é o melhor exercício a ser feito. Quando as empresas e os brasileiros tiverem consciência disso e incorporarem a ideia de que também são velhos, hoje ou amanhã, muitas mudanças poderão vir. E o tratamento e comportamento em relação à velhice dos outros e à própria velhice vão sofrer transformações positivas. PODER: QUAIS OS PRÓS E CONTRAS DE UMA EQUIPE FORMADA POR PROFISSIONAIS JOVENS E SENIORES? MG: Nenhum contra. Só vejo vantagens. O aprendizado

é constante, porque a troca é muito maior entre pessoas que não têm a mesma experiência de vida. Como um jovem que está começando na profissão enxerga seu futuro? E uma pessoa mais velha, como pode aprender coisas novas com os colegas mais jovens? Essa troca é um ganha ganha para todos. Só sai perdendo quem exclui, quem não respeita, quem não aprende com pessoas que têm muito a ensinar. n

FOTO ARQUIVO PESSOAL

dedicação e a paixão são maiores até mesmo que a dos jovens. As empresas não costumam enxergar isso, mas acredito que, em breve, irão valorizar esses profissionais, porque esses veteranos têm tesão e comprometimento no que fazem.


PAPO DE ESPECIALISTA PODER INDICA

Dra. Carla Vidal, dermatologista (esq.), e a diretora da LBT Lasers Odete Manor

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s imperfeições de pele relacionadas à idade, incluindo rugas, linhas finas, danos relacionados à exposição ao sol, manchas e flacidez podem ser significativamente melhoradas com a evolução dos tratamentos estéticos. Nesse sentido a LBT LASERS, uma das mais conceituadas distribuidoras de equipamentos médico-estéticos do país, tem provocado uma verdadeira revolução no mercado com aparelhos de alta tecnologia. A novidade é o Harmony XL Pro Special Edition, uma multiplataforma completa e versátil com mais de 70 aplicações diversas aprovadas pelo FDA para tratamentos na pele facial e corporal – cuja tecnologia ClearLift [Elektra no Brasil] foi eleita recentemente, pela premiação MyFaceMyBody Awards na Europa, a melhor do mundo para tratamentos antienvelhecimento. Batemos um papo com a doutora Carla Vidal, dermatologista em São Paulo, para saber mais sobre o equipamento favorito nas clínicas do país.

QUAIS AS VANTAGENS DE TER UM HARMONY NA SUA CLÍNICA?

É uma máquina completa, com várias tecnologias, capaz de trabalhar em todos os tipos de pele. Desde a pele branca até a pele negra, há tecnologia para todas as tonalidades e múltiplas necessidades estéticas.

Além de oferecer total segurança – o que é o mais importante. Digo para os meus colegas que é uma máquina que traz excelentes resultados não apenas para alguns pacientes, mas para todos. Sou apaixonada pelo equipamento, desde que abri a minha clínica trabalho com o Harmony. Nesse sentido, a LBT Lasers foi fundamental como parceira, oferecendo sempre um excelente suporte pós-venda, seja na área técnica, seja na manutenção. Eu jamais tive interrupção nos atendimentos de pacientes por qualquer problema com o equipamento. PODERIA CITAR ALGUM CASO DE SUCESSO QUE TEVE COM O USO DO HARMONY?

Tenho vários casos marcantes. Certa vez, uma paciente disse que eu era culpada por um episódio que tinha acontecido com ela. É que ela foi parada na alfândega porque o policial responsável na ocasião não acreditava que a pessoa da foto no passaporte era a mesma que estava desembarcando. Ela já tinha mudado bastante desde a foto do documento e então ficou um tempo detida. Nós rimos disso juntas depois, apesar da grande dor de cabeça que ela teve. +LBTLASERS.COM.BR +CLINICACARLAVIDAL.COM.BR


MUNDO AFORA R

“Neste momento de retomada, em que o mercado está mais aquecido, nossa participação na feira é ainda mais importante” Esther Schattan, sóciadiretora da Ornare

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ealizada desde a década de 1960, o Salone del Mobile, maior feira de design de móveis do mundo, voltou a acontecer este mês em Milão, na Itália, após o hiato causado pela pandemia, e atraindo profissionais referência em seus países. E, como de costume, com presença brasileira de excelência. ORNARE, uma das mais sofisticadas marcas internacionais de mobiliário sob medida de alto padrão, apresentou a sua linha Little Luxuries, tida como “objeto de desejo” por sua elegância e versatilidade. No evento, em seu estande, Ornare levou a versão Beauty, focada em penteadeiras. A linha é inspirada no tradicional sistema de armários Ikigai da marca, mas com um olhar para os modelos menores. Desenvolvida pelo designer Ricardo Bello Dias, a Beauty tem independência e versatilidade, podendo ser usada para compor o closet ou ser montada de forma individual, totalmente personalizada. Além disso, os móveis possuem luz integrada nas prateleiras e portas


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Ornare apresentou a linha Little Luxuries no Salone del Mobile 2021, em Milão

Negócio em família: Murillo, Esther, Stefan e Pitter Schattan

equipadas para exibir com destaque os objetos mais preciosos. “Ficamos muito felizes com a autorização do governo italiano para a realização desse evento que é um dos mais importantes do mundo. Nossa marca sempre esteve presente e neste momento de retomada em que o mercado de

arquitetura e decoração está mais aquecido, nossa participação é ainda mais importante. Escolhemos a Little Luxuries para compor o espaço de 2,5 m2 com bastante elegância”, afirma Esther Schattan, sócia-diretora da Ornare, que já tem presença confirmada para a edição especial de 60 anos do Salone del Mobile, que será em abril do ano que vem. Em julho, a Ornare comemorou seus 35 anos de história com o lançamento da coleção Square Round em um evento no showroom da alameda Gabriel Monteiro da Silva, em São Paulo. Criada em parceria com as arquitetas Patricia Martinez e Vivian Coser, o diretor de arte da marca Ricardo Bello Dias, e sob coordenação do CEO Murillo Schattan, a coleção remete à perfeita harmonia entre homem e natureza e nasceu de um processo de produção minimalista, com pesquisa de desenvolvimento e estudo profundo de referências que misturam formas geométricas como quadrados e círculos. O resultado deslumbrante e cheio de estilo de 35 anos de sucesso. +ORNARE.COM.BR


CHEFE

VENTO

Primeira mulher a governar Nova York, Kathy Hochul já é vista como potencial candidata à Casa Branca em 2024. Democrata assume o cargo após a renúncia de Andrew Cuomo, acusado de assediar sexualmente 11 mulheres POR ANDERSON ANTUNES

“A

lguns são capazes de mudar seus partidos pelo bem de seus princípios, enquanto outros mudam de princípios apenas para salvar seus partidos.” A frase, atribuída ao histórico primeiro-ministro britânico Winston Churchill, serve para definir o atual momento político vivido por Kathy Hochul, a nova governadora de Nova York e primeira mulher a comandar o terceiro estado mais rico dos Estados Unidos em termos de PIB, atrás apenas do Texas e da campeã Califórnia. Se tornar a primeira em qualquer área já é um grande feito. Kathy tem nas mãos não somente um estado que gerou riquezas de mais de US$ 1,7 trilhão em 2020 – quase o mesmo gerado pelo Canadá, o vizinho nem um pouco incômodo dos EUA – como também, de certa forma, o próprio futuro do partido pelo qual se elegeu, o Democrata. Entre outras palavras, errar daqui para frente poderá ser fatal em termos políticos. Em baixa desde a onda conservadora que culminou com a eleição de Donald Trump, em 2016, a sigla chegou ao fundo do poço quando tentou fazer de Hillary Clinton a primeira presidente dos EUA, mas ironicamente pode voltar a reinar como o guardião da maior democracia do planeta, tal como já foi visto no passado recente, graças a Kathy, que tem no currículo uma passagem pelo Capitólio, como deputada, e era vice-governadora desde 2015. Kathy Hochul iniciou a carreira política após se formar em Direito pela Universidade Católica, em 1984, e é uma ad-

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vogada com longo histórico de defesa das mulheres, além de defender direitos de minorias como a população LGBTQIA+. Entre suas frentes, Kathy fundou, em 2006, ao lado da mãe, a Kathleen Mary House, um lar que acolhe mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e, tempos atrás, liderou a campanha “Enough Is Enough”, que tinha como objetivo combater agressões sexuais nas universidades – justamente o motivo que a levou ao poder. Até o fim de 2022, como governadora, os problemas que terá que resolver não são poucos. Sede da Big Apple, maior cidade do mundo, Nova York é uma espécie de raio X de uma América que já não existe mais: aquela do sucesso fácil, na qual seus novos moradores são todos fortes candidatos a conquistarem o “sonho americano”. Com um sistema de saúde pública ineficiente, problemas de criminalidade em alta e até falta de investimentos em infraestrutura básica, o estado está longe de ser a Times Square cheia de luzes que sua maior metrópole passa como imagem para o resto do mundo. E há algo ainda maior acontecendo nos bastidores do governo, cujos políticos estão entre os mais machistas dos Estados Unidos. A própria Kathy, de certa forma, chegou ao poder porque seu colega e ex-governador Andrew Cuomo renunciou em razão de uma investigação que concluiu que ele assediou sexualmente 11 mulheres. E nunca é demais lembrar que é do partido do ex-presidente Bill Clinton, outro político envolvido em assédio, que estamos falando. “Poderá uma mulher salvar os democratas de seus pepinos criados basicamente por seus membros homens?”, questionou Luis-Ferré Sadurní, jornalista político do The New York Times, sobre o futuro de Kathy. Por enquanto, ninguém sabe dizer se tal desfecho está no destino da nova estrela do poder de 63 anos, mas muitos acreditam e, torcem, para que seja esse o caso. À exceção, talvez, de Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-presidente dos EUA na chapa encabeçada por Joe Biden, e provável candidata à Presidência em 2024, uma vez que o ocupante do Salão Oval no momento sempre deixou claro que não quer se reeleger. Se as duas eventualmente chegarem ao ponto de disputar a indicação à Presidência por seu partido no próximo pleito nacional americano, não seria surpresa vê-las firmando um

FOTOS GETTY IMAGES

A FAVOR


acordo para uma chapa 100% feminina, com Kamala na dianteira e Kathy na esperança de assumir seu lugar como “VP”. Inovar dessa forma, em outras épocas, foi o que salvou os democratas do ostracismo. “Me considero como uma grande mudança em relação ao governo tóxico e sem ética exercido por meu antecessor [Cuomo]”, Kathy disse, em entrevista para a rede de televisão CNBC, depois de ser empossada, no fim de agosto. “Não sei até onde ela vai conseguir chegar, mas seu passado a coloca como uma democrata mais moderada, o que nesse momento pode ser muito útil”, disse o deputado nova-iorquino Ken Blankenbush. Kathy realmente tem grandes feitos para provar que não pretende fazer de sua passagem pela Mansão Executiva Estadual, a sede do governo de NY, mais um voo de galinha como foi o último mal-sucedido plano de Hillary Clinton de conquistar a Casa Branca há cinco anos. Politicamente ativa desde os tempos de faculdade, na prestigiada Syracuse University, a governadora chegou a organizar um boicote contra a livraria da instituição, no fim dos anos 1970, contra os preços abusivos que, segundo ela, estava praticando. O resultado?

Kathy Hochul em um de seus primeiros discursos como governadora de Nova York; ao lado, Andrew Cuomo, que estava no cargo desde 2011

Uma “sale” de livros didáticos de longa duração que a tornou a estudante mais amada entre seus colegas. Até a eleição de 2024 ainda há muito para acontecer, e a personagem do momento na cena política nova-iorquina tem um longo caminho a percorrer antes de pensar em voltar, por exemplo, a Washington, dessa vez para despachar no número 1600 da Pennsylvania Avenue. Mas, como lembraria Barack Obama, ícone da esquerda e de muitos progressistas que tem a capacidade de sair discretamente de cena quando o vento não sopra a seu favor, “a mudança nunca vem de Washington, geralmente ela ‘marcha’ até Washington”. n PODER JOYCE PASCOWITCH 59


OPINIÃO

FESTA NA BOLSA:

ATÉ

QUANDO? POR BERNARDO PASCOWITCH

S

e o avanço da vacinação serve como sopro de esperança com relação à pandemia, não há bons motivos para comemorar quando o assunto é investimento e crescimento de patrimônio. Pelo contrário. Apesar de alguns momentos de valorização das ações brasileiras no começo deste ano, o percorrer de 2021 trouxe sérias preocupações para os investidores. Em síntese: (i) aumento da inflação brasileira e, consequentemente, da taxa básica de juros da economia, a taxa Selic; (ii) crescente instabilidade política e choque entre poderes; (iii) corrida eleitoral; (iv) aceleração da inflação nos Estados Unidos e possível aumento dos juros americanos; (v) perda de força da agenda de reformas do governo federal; (vi) agravamento da crise hídrica e potencial crise energética; e (vii) queda do PIB e da produção industrial brasileira no segundo trimestre. Quando avaliamos os investimentos e os mercados globais, a situação é delicada e pode ser resumida em três letras: Fed. Esta é a sigla em inglês para Federal Reserve, ou o banco central da maior economia do mundo, os Estados Unidos. Desde o início dos impactos negativos trazidos pela

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pandemia, com destaque para o forte aumento da taxa de desemprego e a queda generalizada da atividade econômica, o Fed manteve os juros americanos artificialmente baixos (entre 0% e 0,25% ao ano) e injetou uma quantidade inédita de dinheiro na economia (mais de US$ 3 trilhões). A mesma política monetária foi seguida pelos bancos centrais mais importantes do mundo, incluindo os da Europa, da Inglaterra, da China, do Japão e do Brasil. A ordem era clara: imprimir dinheiro para socorrer financeiramente aqueles que estavam em situações vulneráveis, com destaque para desempregados, pequenas e médias empresas que corriam o risco de falirem, e setores da economia que

praticamente viram seus clientes desaparecerem. A estratégia era necessária, mas talvez os bancos centrais não esperassem que esse movimento fosse trazer tanta euforia para os mercados de ativos de risco. Em outras palavras, muito dinheiro novo entrou nas economias e com a maior parte dos estabelecimentos comerciais fechados, fronteiras restritas e populações trabalhando de casa, em muitos países observou-se um excedente de capital que foi destinado para os investimentos (especialmente em países desenvolvidos que possuem uma cultura forte de poupar e investir recorrentemente). Além disso, criou-se um otimismo exacerbado de que a reabertura econômica (mesmo não se sa-


FOTOS GETTY IMAGES; ARQUIVO PESSOAL

bendo quando chegará) faria com que tivéssemos a tão desejada recuperação em “V”, analogia que remete à recuperação econômica na mesma velocidade e intensidade da queda que a precedeu. O resultado foi uma valorização explosiva das ações globais e uma sequência de recordes históricos quase que semanais nos principais índices americanos desde julho de 2020. Se tudo está tão bem, por que a preocupação com os investimentos neste momento? Digamos que nem tudo vai bem e a euforia dos mercados globais de investimentos pode ter sido exagerada e excessivamente descolada da realidade. Isso porque a economia não se recuperou como se esperava ao redor do mundo e começamos a ver

sinais de exaustão: nos Estados Unidos, o mercado de trabalho frustrou fortemente as expectativas no último relatório mensal de emprego do início de setembro; ao mesmo tempo, a inflação continua em alta e já atinge patamares não vistos nos últimos 20 anos. Na China, indicadores de atividade econômica apontam para possível contração, o que tem causado desvalorizações de commodities pelo mundo – justamente as commodities que trouxeram valorização para muitas ações brasileiras –; some-se a isso o fato de os reguladores chineses iniciaram uma campanha de grande escrutínio e controle sobre aplicativos digitais e startups das mais diversas naturezas, o que fez com que os preços de ações das gigantes de tecnologia do país caíssem fortemente. No Brasil, tivemos frustradas as expectativas de crescimento do PIB no último trimestre e a crise hídrica se coloca agora como maior ameaça à nossa economia em 2021; além dos embates cada vez mais frequentes na área política, o que naturalmente pode afastar investidores brasileiros e estrangeiros da bolsa. Veja que temos, então, um grande descolamento entre o preço dos ativos de risco (principalmente as ações globais) e os fundamentos das economias nas quais estão baseados esses ativos de risco. Colocado de outra forma, o preço esticou muito e a economia não acompanhou. No jargão do mercado, ou o preço encontra os fundamentos ou os fundamentos encontram o preço. Ao que tudo indica, estamos mais para o preço encontrar os fundamentos, o que significa termos alguma temporada de fortes desvalorizações de ativos. A grande pergunta de US$ 1 bilhão (porque a “pergunta de um milhão de dólares” é muito mo-

desta perto da extravagância dos mercados globais atualmente) é quando teremos o fim da festa das bolsas de valores internacionais. A resposta tem as mesmas três letras mencionadas anteriormente: Fed. É praticamente consensual a percepção de que as ações terão grandes desvalorizações quando o banco central americano iniciar o movimento de subida dos juros da maior economia do planeta. Por conta disso, os maiores investidores globais têm acompanhado qualquer sussurro do Fed com bastante cautela. As bolsas continuam batendo recordes históricos nos Estados Unidos, mas com uma força cada vez menor. A percepção de risco e exaustão começa a ser generalizada. De acordo com o próprio Fed, os juros americanos devem ser elevados somente entre o fim de 2022 e o começo de 2023. Daí a percepção, por parte dos investidores, de que ainda há bastante tempo para que as ações continuem em alta. Entretanto, investidores mais cautelosos já começam a montar suas posições de proteção. Afinal, estamos em um momento de repensar o nosso portfólio, olhar para as valorizações e sermos mais conservadores. Isso não significa vender todas as ações e posições em renda variável. Mas talvez tirar o pé do acelerador, começar a aumentar a reserva de oportunidade (dinheiro disponível para aportes) e reduzir a exposição ao risco. Pelo menos até termos mais visibilidade sobre os rumos das economias brasileira e americana. n Bernardo Pascowitch é empreendedor, fundador do buscador de investimentos Yubb e faz um balanço diário da movimentação da bolsa na PODER Online e no seu canal no YouTube

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ENSAIO

Após se tornar destaque dos Jogos Olímpicos como comentarista, a skatista Karen Jonz, tetracampeã mundial na modalidade vertical, comemora o sucesso que ajudará a dar mais visibilidade para as mulheres: “Esse hype não será só uma moda”

A

por nina rahe fotos layla motta styling ana wainer beleza liege wisniewski (groupart mgt)

ntes de o skate se tornar esporte olímpico e virar a sensação do momento, Karen Jonz quase não tinha sossego. Ainda que não tenha participado dos Jogos Olímpicos de Tóquio – sua especialidade, a modalidade vertical, não foi incluída na competição – e tenha se tornado, como comentarista da SporTV, uma das atrações mais comentadas, os desafios que Karen enfrentava anteriormente eram de outra ordem: convencer a quem quer que cruzasse o seu caminho que o esporte era a solução para todos os males. “A sensação que tenho andando de skate é grande demais para ser só minha e sempre quis que outras meninas compartilhassem”, conta a atleta, que é tetracampeã mundial e havia se tornado, segundo a própria, uma espécie de pregadora. “Se via uma amiga emburrada, já pensava que estava assim porque não andava de skate.” Mas se a taxa de conversão, antes da Olímpiada, era baixa, agora a atleta comemora as pistas cheias e o fato de várias pessoas ao seu redor – da sobrinha a vizinhas – já recorreram a ela para pedir dicas do esporte. “A gente está em um momento tão grande para

o skate feminino, a Rayssa [Leal, prata nos Jogos de Tóquio] foi campeã [em agosto, na Liga Mundial de Skate Street], mas isso não começou agora”, explica. “Se não tivesse as gerações anteriores, a Rayssa teria que brigar por tanta coisa que gastaria a metade da energia para conseguir existir.” E quando Karen menciona toda essa energia, sabe exatamente o que diz. Antes de conseguir seu primeiro skate, comprado à custa de muitas vendas de bolo de banana na escola, a atleta havia pedido inúmeras vezes a seus pais para ganhar um de presente. Logo que começou a participar de competições locais não existia a categoria feminina e, quando ganhou o primeiro X Games, ela se preparou sozinha, sem treinador nem patrocínios. Para as mulheres, tampouco havia equivalência nas premiações e somente em 2006, depois de muita luta, o X Games igualou o valor do prêmio para ambos os gêneros. “Vivia arrumando briga para todo lado. Ia a um evento, queria participar, tentava convencer as pessoas”, lembra ela, que chegou a criar o site Garotas no Comando para divulgar as conquistas femininas.


Casaco e sandália Louis Vuitton, camiseta Gucci, calça Normando


Karen desistiu de tentar uma vaga na Olimpíada em uma modalidade que não era a sua – a park –, mas, durante dois anos, enfrentou as dificuldades de se preparar sozinha, arcando com os custos das viagens para participar de campeonatos. Além disso, tentava se adaptar aos desafios para conciliar a rotina de treinos com a da filha – Sky, 5 anos, do seu relacionamento com o músico Lucas Silveira. “Eu literalmente bati cabeça até ter certeza absoluta que não era pra ser”, conta. O que mais ela quer agora, em contrapartida, é retomar o sentimento de andar de skate por pura diversão. “Comecei a andar para me divertir, tinha uma coisa de liberdade, e depois me peguei entrando em uma que eu tinha que ser a melhor”, explica.

Esse novo equilíbrio, no entanto, está longe de significar descanso. O sucesso como comentarista na Olímpiada, com expressões que se tornaram virais como “xerecou”, lotou a agenda da skatista de tal modo que há compromissos marcados com pelo menos um mês de antecedência. “Achei que esse hype fosse acabar junto com a Olímpiada, mas parece que não será só uma moda e sim um caminho mais lento e estruturado”, analisa. E essa visibilidade Karen quer utilizar para concretizar projetos. Além do lançamento de um disco autoral, planeja viabilizar um documentário sobre o skate feminino que, segundo ela, ainda é subestimado. “Se você procura material, quase não encontra. E essas histórias têm que ser contadas.” n Camiseta acervo pessoal, saia e tênis Dior


Colete Modem, camisa Pace, calça DOD Alfaiataria, tênis Dior

“Comecei a andar para me divertir, tinha uma coisa de liberdade, e depois me peguei entrando em uma que eu tinha que ser a melhor”



Blazer e camiseta acervo pessoal Arte: Jeff Leal Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Carolline Azevedo Assistente de fotografia: Victoria Manzoli Assistente de beleza: Letícia Waechter


VANGUARDA

UM SUÍÇO NO

MODERNISMO BRASILEIRO

Com uma formação europeia, o artista plástico, designer e arquiteto John Graz realizou sua trajetória profissional na transição do estilo art déco para o modernismo no Brasil POR ANA ELISA MEYER

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FOTOS REPRODUÇÃO

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ascido em Genebra, em 1891, desde muito jovem John Graz demonstrou aptidão para as artes plásticas. Aos 20 anos, concluiu sua formação em arquitetura, decoração e desenho na Academia de Belas Artes. Foi aluno do ilustrador Carl Moos, que o orientou nas técnicas de desenho publicitário e litografia, entre 1911 e 1913, quando estudou em Munique, na Alemanha. De volta à cidade natal, Graz dedicou-se aos estudos mais especializados de ornamentação e figuração e foi nesse período que conheceu os artistas brasileiros e irmãos, Antônio Gomide (1895-1967) e Regina Gomide (18971973), com quem iniciou um relacionamento que seria decisivo na vida pessoal e artística. Na chegada ao Brasil, em 1920, Graz desembarcou no Rio de Janeiro, onde reencontrou Regina, com quem se casou. Logo, eles se mudaram para São Paulo, no momento em que a cidade vivia a efervescência que precedeu a Semana de Arte Moderna de 1922. Também professora, Regina criou um pioneiro ateliê de artes têxteis modernas, local onde o casal Gomide-Graz realizou obras de composições geométricas abstratas, ainda fazendo a transição do estilo art déco para a arte moderna. Por intermédio de Oswald de Andrade, os dois se juntaram ao grupo pioneiro do modernismo da cidade. E, por causa do seu cunhado, o já celebrado artista Antônio Gomide, Graz passou a

conviver com a nata do movimento modernista paulista, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret, dentre muitos outros, e, de forma mais intensa, com o escritor Mário de Andrade. Essa integração ao meio artístico e cultural levou Graz a ser um dos protagonistas da importantíssima Semana de Arte Moderna, em 1922. O evento se tornou um marco da cultura nacional reunindo no Teatro Municipal os mais representativos nomes da vanguarda intelectual e artística do Brasil. Naquele mesmo ano, ele teve uma obra publicada na seletíssima revista Klaxon, primeiro periódico de divulgação do pensamento modernista no país.

INTERIORES DAS RESIDÊNCIAS

Por ser inviável se manter somente com suas produções artísticas, Graz iniciou, a partir de 1923, uma bem-sucedida carreira nas artes aplicadas, executando projetos de interiores para residências da elite paulistana. Criativo e inovador na organização dos ambientes domésticos, desenhou para as mansões de seus clientes peças únicas e originais. Como não

No alto, mobiliário de sala de estar dos anos 1930 da coleção Fulvia e Adolpho Leirner, acervo do MAC-SP; e poltrona John Graz na Dpot. À dir., John Graz em retrato dos anos 1930. À esq., mesa John Graz da Dpot. Na pág. anterior, sala de estar da residência de Mario Cunha Bueno na década de 1930

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Tela Baianas Baianas,, 1930. Abaixo, desenho original de 1960 da cadeira 3 Apoios, que foi interpretainterpretada pela designer e diretora de criação da Dpot Baba Vacaro e produzida pela priprimeira vez em escala com exclusividade pela loja

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cal. Graz se dedicou por quase 40 anos a esse segmento profissional, no qual se utilizou de grandes e belos painéis artísticos como destaque nessa produção que uniu arte e decoração.

MILITÂNCIA E PRODUÇÃO VISUAL

Entre os anos de 1932 e 1934, o artista foi um dos fundadores da Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam), grupo liderado por Lasar Segall que tinha o objetivo de consolidar as ideias estéticas e sociais vindas da Semana de 22. No mesmo período, integrou o grupo do Clube dos Artistas Modernos (CAM), que levou à frente outro nome emblemático do modernismo brasileiro: Flávio de Carvalho. Após o fim dos dois agrupamentos militantes, Graz intensificou sua produção de desenhos e pinturas. Temas como a fauna e a flora nativas, o Brasil rural e indígena, elementos que já apareciam esporadicamente em seus trabalhos como projetista de interiores, ganham força em suas obras. Um traço marcante nesse período é a sua relação com o movimento. Os personagens de seus desenhos e pinturas estão sempre em ação: os indígenas caçam, os cavalos galopam, as mulheres remexem os quadris, os homens guerreiam, navegam ou simplesmente agem. Em 1973, depois da morte de Regina Gomide, ele se casou com Annie Brisac, responsável pelo legado do artista até hoje. John Graz morreu em 1980, aos 89 anos, deixando um acervo com desenhos, pinturas, estudos e projetos já executados de mobiliário, afrescos, jardins, plantas baixas e cadernos com anotações de viagens pelo Brasil e pelo mundo. n

FOTOS REPRODUÇÃO

havia como produzi-las em grande escala naquela época, contou com competentes artesãos para realizar projetos de móveis tubulares, integrando canos metálicos e laminados de madeira com formas geometrizadas, portas, luminárias, afrescos, vitrais, tapetes e maçanetas, já imaginando a sua distribuição e integração aos ambientes projetados. Ecos da Bauhaus, escola alemã vanguardista que revolucionou o design, e de sua formação em Munique ficavam evidentes. O domínio da estética art déco, assim como a fauna e a flora brasileiras e os povos indígenas, são facilmente identificados em seus projetos, que trazem uma diversidade de técnicas e temas relacionados à sua interpretação modernista de um país tropi-


LIVE

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INSPIRAÇÃO E CIÊNCIA

FOTO DIVULGAÇÃO; ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES

o início da pandemia, a biomédica Jaqueline Goes de Jesus foi uma das responsáveis pelo sequenciamento genético do coronavírus (SARS-CoV-2) em tempo recorde na América Latina: 48 horas. Um feito e tanto que lhe rendeu... uma boneca. No caso, um prêmio da fabricante de brinquedos Mattel que criou uma Barbie em sua homenagem – outras cinco cientistas pelo mundo também foram escolhidas por suas conquistas, entre elas a britânica Sarah Gilbert, que liderou a criação da vacina Oxford-AstraZeneca. Natural de Salvador, filha de uma pedagoga e auxiliar de enfermagem, e de um engenheiro civil, Jaqueline também fez história quando ganhou o Prêmio Capes de Tese pelo Programa de Pós-Graduação em patologia da Universidade Federal da Bahia. A partir da sua pesquisa que envolveu o sequenciamento do vírus Zika, ajudou a compreender a origem e a identificação de cepas do Zika, chikungunya e febre amarela com maior potencial epidemico. Hoje, com apenas 31 anos, além de pesquisadora no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, na USP, ela segue trilhando sua trajetória de sucesso na biomedicina no Reino Unido, onde desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes. Em conversa com Joyce Pascowitch, a pesquisadora falou sobre o projeto em Londres e disse o que podemos esperar do “novo normal”. ADAPTAÇÃO “Fui aprovada para trabalhar no Reino Unido no grupo da doutora Ester Sabino com arboviroses, ou seja, zika, chikungunya, febre amarela e dengue. A proposta era anterior à Covid-19. Eu já fazia a parte de análise epidemiológica, com coleta, processamento da amostra e sequenciamento em si, mas, para entender o processo completo, a geração dos genomas e a análise desses genomas, precisava vir para cá. A ideia é aprender toda a parte analítica, voltar para o Brasil e passar esse conhecimento para minha equipe, de modo que todo mundo saiba o processo do início ao fim.”

DESOBEDIÊNCIA “Pensar em quando poderemos respirar mais tranquilos no Brasil é difícil porque depende do comportamento populacional e temos uma cultura da desobediência. Em qualquer situação, o brasileiro tende a quebrar regras. Nos outros países, Reino Unido principalmente, as regras são rígidas e isso faz com que as pessoas respeitem. Além disso, no Brasil, há o fator governamental. Não há um discurso unificado para promover a cultura de que é preciso ficar em casa para, daqui a três meses, voltar e ter nossa vida normal.” PACTO “Para quem não quer se vacinar porque tem medo, ou quer engravidar: a vacinação não é uma decisão individual, mas um pacto coletivo, e no momento que decido não me vacinar, estou impactando outras pessoas porque a probabilidade de me infectar e transmitir a doença é muito maior. Além disso, quando você pensa no medo que as pessoas têm de possíveis riscos, o risco de pegar Covid-19 e ter complicações é incomparável. Então qual é a balança?” EXPECTATIVA “Se a gente conseguir conter a dispersão do vírus, imagino que em 2023 poderíamos estar mais tranquilos com a vacinação avançando. O grande desafio é parar a dispersão do vírus para que não tenhamos novas variantes surgindo. E as medidas governamentais devem ser investir cada vez mais na compra de vacinas, embora [tenham divulgado que] o orçamento para compra delas será reduzido em quase 70% em 2022, o que é um absurdo. A gente precisa entender o que está acontecendo para que a gente não sofra mais no futuro.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 71


SOB MEDIDA POR CAROL SGANZERLA

MARTIN CORULLON

O arquiteto argentino radicado em São Paulo tem seu nome ligado a projetos do universo da arte, como a Casa Triângulo e a Galeria Leme, em São Paulo, esta concebida com Paulo Mendes da Rocha, assim como o complexo cultural Cais das Artes, em Vitória (ES). Fundador do Metro Arquitetos Associados, Martin é o autor do projeto de expansão do Masp, junto ao sócio Gustavo Cedroni. Atualmente, está envolvido com a restauração da Oficina Brennand, em Recife, que ganhará novas instalações e infraestrutura para visitação. Aires, com meu pai, aos 7 anos. Era inverno, nunca tinha ido para lá, só conhecia São Paulo e Rosário, onde nasci. Foi uma visão fantástica. UM PRÉDIO EM SÃO PAULO: O MuBE, Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia. Ele sintetiza um modo de pensar a arquitetura e a cidade. É um projeto muito potente. O MELHOR DA ARQUITETURA BRASILEIRA: A originalidade. É uma arquitetura muito própria, como [Vilanova] Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Oscar Niemeyer. ARQUITETO QUE TODOS DEVERIAM CONHECER: O suíço Sigurd Lewerentz. A materialidade e a atmosfera das obras dele são muito fortes. MAIOR DESAFIO DA SUA PROFISSÃO: Realizar, fazer acontecer. Conceber um projeto é fácil, mas a realização é muito complexa. EM QUE MOMENTO SURGEM SUAS MELHORES IDEIAS: Quando estou sozinho. ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ: Quando penso em novos projetos, seja de arquitetura ou de vida. É o que mais me anima e me move. SEU ESTADO MENTAL NESSE MOMENTO: Um híbrido de apreensão com otimismo. MELHOR HORA DO DIA: Gosto da noite, quando tudo fica quieto. MOMENTO DE MAU HUMOR: Reuniões intermináveis no Zoom. COMO SOBREVIVER À PANDEMIA: Não descobri ainda, estou tentando. VÍCIO: Não sou uma pessoa de vícios, não tenho essa característica. SONHO DE INFÂNCIA: Voar. QUALIDADE: Transparência. Não consigo fingir nada. DEFEITO: Impaciência. MEDO: De ser triste. A ÚLTIMA COISA QUE COMPREI FOI: Dez maquininhas de relógio de parede no Mercado Livre. De uns tempos para cá faço umas invencionices na oficina do escritório. O QUE FARIA SE FICASSE INVISÍVEL POR ALGUNS MINUTOS: Roubaria um banco. COM O QUE SE PREOCUPA: Com a sobrevivência do planeta. COMO DEFINE O BRASIL ATUAL: Um pesadelo. UMA DESCOBERTA RECENTE: O centro de São Paulo. Estou morando na Praça da República e conhecendo, é uma descoberta. SER BEM-SUCEDIDO É: Ser livre. Poder fazer o que quer, realizar, viver do modo que deseja. Seria maravilhoso que todo mundo tivesse essa liberdade, seja na esfera individual ou coletiva.

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FOTOS ILANA BESSLER/ARQUIVO PESSOAL; GETTY IMAGES; ANA OTTONI/DIVULGAÇÃO; METRO ARQUITETOS ASSOCIADOS; DIVULGAÇÃO

MEMÓRIA MARCANTE DA INFÂNCIA: A chegada de trem em Buenos


O GRANDE PROJETO DA SUA VIDA: O Cais das Artes [teatro e O QUE NUNCA FALTA NA SUA CASA? Bagunça.

Sempre tem uma bagunça para arrumar.

museu, em Vitória], que fiz com Paulo Mendes da Rocha. Eu tinha 32 anos, ele foi supergeneroso de me dar a oportunidade de coordenar o projeto. NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ: Pão.

QUEM VOCÊ GOSTARIA DE SER POR UM DIA: Um monge

em um monastério isolado no Tibete.

LUGAR INESQUECÍVEL NO MUNDO:

Veneza. Já fui várias vezes. É uma cidade fantástica, fora do tempo. As experiências que tive lá foram incríveis.

TALENTO QUE NINGUÉM CONHECE:

Jardinagem. Mudei há um ano para um apartamento que tem um jardim grande, estou adorando cuidar dele.

UM LIVRO: O Jogo da Amarelinha, de [Julio] Cortázar. É O Pequeno Príncipe da minha geração.

PECADO GASTRONÔMICO:

Ser supercarnívoro, gosto de todo tipo de carne e já experimentei vários.

UMA INSPIRAÇÃO:

Paulo Mendes da Rocha.

UMA CONSTRUÇÃO NO MUNDO: As

pirâmides do Egito.

MÚSICA: “Ele Me Deu um Beijo na Boca”,

do Caetano Veloso, por causa de uma relação afetiva na minha história.

OBJETO DO DIA A DIA: Instrumentos musicais. Tenho o OBRA QUE GOSTARIA DE TER FEITO:

O Copan, em São Paulo.

hábito de tocar piano, bateria, guitarra, violão em casa diariamente, com as minhas filhas [Antonia, 8 anos; Violeta, 15; e Malu, 24]. É um momento de prazer.

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PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

BEM LONGE DAQUI O Canadá está aberto para os brasileiros e oferece uma série de experiências únicas na natureza. Na nossa lista de desejos está uma temporada no Clayoquot Wilderness, lodge cercado por uma floresta de coníferas e acessível apenas de hidroavião, barco ou helicóptero. Pioneiro no conceito de glamping, o local acaba de ser repaginado: suas cabanas ganharam terraços privativos com direito a banho ao ar livre. Uma vez lá, espere por passeios em busca de baleias e ursos, cavalgadas, trilhas e até sessões de mindfulness. +CLAYOQUOTWILDERNESSLODGE.COM

temporada de imersão na natureza e em clima de privacidade total, vale prestar atenção nas novidades do Toriba. O hotel de Campos do Jordão acaba de inaugurar dois chalés de vidro suspensos entre as árvores de um canto especial da propriedade, o Bosque das Bromélias. A 10 metros do solo, os refúgios batizados de Ninho Sabiá e Ninho Beija-Flor ganharam estrutura de aço e janelões de vidro para que o desejo seja um só: esquecer da vida lá fora. +@HOTELTORIBA

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FOTOS DIVULGAÇÃO

CASA NA ÁRVORE Para quem segue sonhando com uma


VILAREJO Inspiração para uma roadtrip sem pressa pela

Califórnia, o Palihouse é um hotel pequenino e intimista em Santa Barbara, com aquele clima de casa para os viajantes que não abrem mão do estilo slow travel. Localizado na região conhecida como Presidio Neighborhood, tem apenas 24 quartos, piscina com cabanas deliciosas, café cercado por um jardim e bar. Precisa de mais? Amigável, o staff providencia bicicletas by Linus e uma curadoria afiada com as melhores dicas das redondezas. +PALISOCIETY.COM

ERA UMA VEZ O Domaine de Primard parece – e poderia mesmo ser – cenário de um filme de época, mas tratase do novo hotel do grupo Les Domaines de Fontenille, na Normandia. Pudera: por mais de 30 anos, a propriedade do século 18 e às margens do rio Eure serviu como casa de campo para Catherine Deneuve. Depois de uma restauração, o local ganhou aquele je ne sais quoi que faz toda a diferença. A gastronomia farm-to-table é comandada pelo estrelado chef Éric Fréchon e o spa utiliza produtos orgânicos de Susanne Kaufmann. Com inúmeras rosas e árvores centenárias, o jardim é outro destaque. Foi criado pelo belga Jacques Wirtz há 35 anos e até hoje é mantido por Gerard, jardineiro de Deneuve por longas décadas. +LESDOMAINESDEFONTENILLE.COM

EXPERIÊNCIA REAL Símbolo de luxo e glamour, MÔNACO não

é apenas um destino, mas uma experiência completa. O que falta em tamanho ao país é compensado em história, cultura e entretenimento. A novidade é a abertura de um complexo turístico à beira-mar projetado pelo arquiteto italiano Renzo Piano. Inaugurado em julho pelo príncipe Albert 2º, a área de 15 mil m² no entorno da praia de Le Larvotto foi totalmente revitalizada para receber residentes e visitantes interessados em vivenciar uma autêntica experiência monegasca. A praia ficou mais larga, ganhou calçadão amplo, ciclovia, equipamentos de ginástica, playground, uma escola de mergulho e inúmeras lojas e restaurantes que proporcionam vistas privilegiadas para o Mediterrâneo. De quebra, uma nova experiência turística: a observação de baleias e golfinhos no passeio Whale Watching Monaco em que parte do valor da excursão é revertido para a proteção do santuário de Pelagos – área de proteção ambiental na costa da Riviera Francesa. Visite Mônaco com a PRIMETOUR .

+ VISITMONACO.COM @VISITMONACO @VISITEMONACO @GVABRASIL @PRIMETOURVIAGENS #FORYOUATLAST

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HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

MODO DESCOMPLICADO

De telescópio digital conectado ao smartphone a dispositivo para interagir a distância com os animais: esses gadgets vão quebrar o tédio e facilitar a vida adicionando diversão

TELESCÓPIO CONECTADO

Apresentado como o mais moderno telescópio digital, o eVscope eQuinox permite que você observe o espaço mesmo que não tenha qualquer treinamento para isso e esteja em uma cidade poluída e superiluminada. Ele é 100 vezes mais potente que um telescópio normal, capaz de revelar em segundos galáxias, nebulosas e cometas com detalhes nítidos e coloridos e, o que é melhor: bem simples de usar – possui um sistema que reconhece instantaneamente os objetos em seu campo de visão, comparando-os com um banco de dados de coordenadas de dezenas de milhões de estrelas. O aparelho também tem um software que atenua o impacto da poluição luminosa e permite que corpos celestes distantes sejam observados em detalhes nítidos, mesmo de ambientes brilhantes das grandes cidades. As imagens podem ser visualizadas diretamente do tablet ou celular. E, para completar, como parte da rede Unistellar, os usuários do eQuinox podem trocar informações com astrônomos profissionais e aficionados do espaço. UNISTELLAROPTICS.COM PREÇO: R$ 19 MIL

TERAPIA DO SONO

Com o apoio de mais de dez anos de pesquisa e desenvolvimento científico, o SleepHub usa tecnologia de neurociência para reeducar o cérebro para dormir melhor. Você deixa o aparelho ao lado da cama e os alto-falantes reproduzem ondas sonoras que imitam a atividade cerebral durante ciclos de sono saudável. Esses sons ajudam a adormecer e alcançar padrões naturais que melhoram a qualidade do sono e corrigem maus hábitos. O uso prolongado do SleepHub pode também ajudar a adormecer mais rápido, despertar com menos frequência durante a noite, ter menos estresse e se sentir mais descansado durante o dia, o que melhora seu desempenho mental, cognitivo e físico. E o humor! Dormir bem é o melhor remédio. SLEEPHUB.COM PREÇO: R$ 3.500

TECH PARA PET

Brincar com o pet à distância já não basta. Agora, além de interagir e monitorar o que acontece com ele a qualquer momento, você pode arremessar petiscos para parabenizá-lo por bom comportamento – ou até para animá-lo enquanto estiver ausente. O Petcube Bites 2 permite assistir seu pet em vídeo HD, com visão noturna, zoom digital e cobertura do ambiente com 160 graus de visão, e o recurso de áudio composto por quatro microfones e uma barra de altofalantes também possibilita ouvir o ambiente e falar com ele como se estivesse em uma chamada de vídeo. Outro recurso interessante é a notificação, em tempo real, sobre eventos potencialmente perigosos, com reconhecimento de áudio de latidos e miados, e inteligência para diferenciar os sons dos pets do de humanos. PETCUBE.COM PREÇO: R$ 3 MIL

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REMO COM VISTA

Este é para quem tem pique à noite e gosta de se exercitar ao fim do dia. Esqueça tudo o que você pensa sobre stand up paddle e imagine o que seria praticar esse esporte de noite ou com vista da água sob a prancha. É isso o que o Loeva Le StandUp proporciona – e de forma segura. Feito principalmente de materiais transparentes, ele cria uma espécie de janela para observar o mar enquanto rema. Com 3,25 metros de comprimento por 78 centímetros de largura, tem estrutura de carbono branco de grau aeroespacial e de Altuglas ShieldUp, um tipo especial de vidro acrílico resistente a choques e riscos. Ele ainda tem duas fileiras de LED para iluminar a água e pesa cerca de 20 quilos. LOEVA.ME PREÇO: NÃO INFORMADO

* PREÇOS PESQUISADOS EM AGOSTO, SUJEITOS A ALTERAÇÕES; FOTOS DIVULGAÇÃO

REUNIÃO 360º

Para quem não aguenta mais passar horas sentado em frente ao computador durante intermináveis reuniões virtuais, o Meeting Owl Pro é uma boa saída. Equipado com uma câmera de 360 graus, oito microfones e um alto-falante, ele permite que você participe da reunião em qualquer lugar do ambiente. Com um raio de captação de áudio de 18 pés e um zoom automático que responde a quem está falando no momento, é um kit sofisticado que se integra com Zoom, Slack, Google Hangouts e muito mais. OWLLABS.COM PREÇO: R$ 6.500

JARDIM AUTOMÁTICO

A primavera está aí e ninguém precisa de jardim para ter uma casa mais verde. Com a tecnologia tudo pode ser resolvido. Até cultivar plantas em uma moldura de quadro – mesmo nos cantos com menos luz natural do ambiente. O Smart Growframe cuida delas como se estivessem expostas ao sol diariamente. O funcionamento é muito simples: basta tirar da caixa, montar, adicionar o que pretende cultivar e conectar-se ao Modern Sprout App via wi-fi. Pronto. A luz é acionada diariamente para manter suas plantinhas saudáveis e alegrar a casa. MODSPROUT.COM PREÇO: R$ 1 MIL

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

as pesquisas resultou numa obra plena, que reúne rigor e emoção”, afirmam. Quando volta à pesquisa cromática, Sacilotto realiza estudos detalhados, cria as próprias tintas, usa pigmentos minuciosamente catalogados, o que lhe permite reproduzir com exatidão cada cor. Na exposição estão obras dos anos 1980 e 1990, e há também uma pequena reprodução de sua estante de pigmentos, pincéis

ESTUDOS Mostra na Almeida & Dale e livro homenageiam o mestre concretista Luiz Sacilotto

C

om uma panorâmica de mais de três décadas de trabalho do artista plástico Luiz Sacilotto, a Galeria Almeida & Dale apresenta, até 23 de outubro, a mostra Sacilotto – A Vibração da Cor, com curadoria de Denise Mattar e Gabriel Pérez-Barreiro. Um dos signatários do Manifesto Ruptura em 1952, Sacilotto foi uma das figuras centrais do concretismo no

PODER É

Brasil. Se manteve fiel aos princípios ordenadores do movimento e foi considerado por Waldemar Cordeiro como a “viga mestra da arte concreta”. É a primeira grande exposição de Sacilotto desde a aquisição de seu espólio pela Almeida & Dale, em 2020. Os curadores explicam que o foco da exposição está na contraposição entre a pesquisa cinética do artista, dos anos 1970, cheia de vibração, mas basicamente monocromática, e a introdução da cor, que ocorre na década de 1980, quando Sacilotto retoma, em outra chave, as cores intensas de sua produção expressionista anterior. “Na continuidade do trabalho, a união dessas du-

Luiz Sacilotto (1924-2003)

e escalas cromáticas. A galeria ainda se prepara para lançar em outubro, na SP-Arte, uma publicação com 250 obras do artista, que integram acervos de instituições internacionais, como MoMA, e nacionais, como MAM-SP e MAC-USP, além de coleções particulares. Com edição da Cosac Naify, serão incluídos desenhos, pinturas, esculturas e trabalhos públicos, fazendo o percurso de toda a carreira do artista.

BOLAÑO POETA Publicado postumamente, A Universidade Desconhecida (Companhia das Letras, R$ 99,90) reúne poemas do chileno Roberto Bolaño (1953-2003) escritos entre 1978 e 1998. A obra percorre o itinerário do autor – considerado um dos mais importantes de sua geração na América Latina – entre Chile, México e Espanha. É a primeira vez que um livro de poemas de Bolaño, celebrado por seus escritos em prosa, é publicado no país.

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LIVRO

GENTE DO BRASIL Em novo livro, historiadora Mary del Priore revisita biografias de homens e mulheres negros e

FOTOS COLEÇÃO PARTICULAR LUIZ SACILOTTO; REPRODUÇÃO; EDUARDO ORTEGA/COMODATO MASP; DIVULGAÇÃO

mestiços que, em posições de destaque, ajudaram a definir o Brasil Um menino pobre do interior fluminense que chegou à Presidência da República. Uma professora que lançou o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil. Um militar cujo projeto de engenharia solucionou o crônico problema de abastecimento de água na capital do Império. O que tinham em comum? Eram personalidades negras ou mestiças que, no século 19, ajudaram a mudar a história do país. São personagens como os três – Nilo Peçanha, Maria Firmina do Reis e André Rebouças – que a historiadora Mary del Priore foi buscar em À Procura Deles: Quem São os Negros e Mestiços que Ultrapassaram a Barreira do Preconceito e Marcaram a História do Brasil (Benvirá, R$ 49,90). Estudiosa do Brasil do século 19, Mary conta que, nas pesquisas anteriores, percebeu que negros e mestiços ocupavam altos postos no Império, alcançando inclusive cargos mais próximos ao imperador. Muitos outros, alforriados ou nascidos livres, já estavam socialmente inseridos no Estado, no clero, no magistério. “A minha pergunta era: será que os estudos de escravidão não deixaram de lado o estudo desses negros e

mestiços? Onde estão essas pessoas? por um projeto: eu queria que mais brasileiros lessem história”, afirma. Quem são?”, diz a historiadora. Entre elas estava Francisco Gomes À época, o fato de abandonar um Brandão (1794-1870), abolicionista, posto de prestígio para escrever fundador e primeiro presidente do livros de divulgação de história foi Instituto dos Advogados Brasileiros visto como um “ato de insanidade”, (precursor da OAB), e o médico diz a escritora. De lá para cá, ela já baiano Juliano Moreira (1873-1933), escreveu sobre a história do amor, da sexualidade e sobre pessoas comuns, que reformulou a psiquiatria no país. Como o título do livro sugere, são como na recente série de quatro personagens que ficaram muitas volumes Histórias da Gente Brasileira. “Estou há anos construindo vezes escondidos, com suas histórias guardadas nos arquivos, ocultadas por possibilidades de fazer com que políticas de Estado que desprezaram a meus conterrâneos se interessem contribuição africana e afro-brasileira pelos temas mais variados. A história à formação do país ou, ainda, segundo é um romance que aconteceu. Para a autora, por estudos universitários onde você se voltar, há personagens e que privilegiaram apenas a temática situações que permitem uma viagem da escravidão. À espera de mais como em um tapete mágico”, revela. estudos sobre essas personalidades, Mary considera o livro como uma abertura de novas janelas. “É uma garrafa com uma mensagem lançada ao oceano”, compara. Com uma vasta produção, indo a temas e tempos diversos, Mary del Priore diz que procura se afastar da “torre de marfim” que estudiosos eruditos por vezes ocupam. “Saí Mary del Priore da USP há 15 anos motivada

FOTOGRAFIA MODERNA O Masp apresenta 62 fotografias da fotógrafa alemã radicada no Brasil Gertrudes Altschul (1904-1962), integrante do celebrado Foto Cine Clube Bandeirante, marco da fotografia moderna no país. Nascida em Berlim em uma família judaica, ela migrou para o Brasil em 1939, fugindo da perseguição nazista. Seus trabalhos tiveram como interesses principais botânica, arquitetura e natureza morta. Até 30 de janeiro de 2022.

DEPOIS DE 22 O CCBB Rio celebra a Semana de Arte Moderna de 1922 a partir da obra de 51 artistas influenciados pelo movimento precursor. Com curadoria de Tereza de Arruda, a exposição Brasilidade - Pós Modernismo aborda temas como liberdade, natureza e identidade. Até 22 de novembro. PODER JOYCE PASCOWITCH 79


Executar o mesmo trabalho durante quase 60 anos não é, de modo geral, uma proposta muito sedutora, mas talvez ela possa ser levada mais em conta quando esse trabalho é ser baterista dos Rolling Stones. O que Mick Jagger e Keith Richards, CEOs da banda, não falaram para o elegante CHARLIE WATTS, que morreu em agosto, aos 80 anos, é que em meio a sexo, drogas e rock’n’roll – coisas que Watts trocaria sem hesitar por monogamia, cavalos de raça e jazz –, ele também atuaria como uma espécie de mediador, de fio terra, alguém da banda com quem os Glimmer Twins – pseudônimo do duo JaggerRichards – pudessem conversar, dado que o diálogo entre os principais compositores dos Stones nunca foi, digamos, harmônico. Em um mundo em que são imperiosos a grandiloquência e um comportamento destoante que alguém pode chamar de atitude, Watts com sua finesse e seu estilo sincopado foi um gigante. Ou, pelo contrário: seu set de bateria era digno de um músico de João Gilberto – “Não trato o instrumento como se fosse uma máquina”, dizia. Fará falta.

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FOTO GETTY IMAGES

CORTESIA


O MELHOR DAS LIVES

FOTOS MAURÍCIO NAHAS; ROBERTO SETTON; GUSTAVO MANSUR/DIVULGAÇÃO; PABLO SABORIDO/DIVULGAÇÃO; GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

Acompanhe as entrevistas de Joyce Pascowitch com os personagens mais relevantes do país no Instagram @revistapoder

Saiba o que de mais importante acontece no Brasil e no mundo pelo site:

João Doria, governador de SP

Eduardo Leite, governador do RS

Tabata Amaral, deputada federal

Michel Temer, ex-presidente da República

Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde

Fernando Collor de Mello, senador e ex-presidente da República

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