REVISTA PODER | EDIÇÃO 148

Page 30

VACINADO

CARREIRA

SOLO

Um dos protagonistas da CPI da Covid ao apontar suspeitas de irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) passou de aliado a traidor do governo Bolsonaro – o que não lhe causa queixa, mas trouxe aprendizados: a começar por não confiar em ninguém pós colocarem Jair Bolsonaro no olho do furacão com o relato de que teriam alertado o presidente sobre suspeitas na negociação da aquisição da vacina indiana Covaxin, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda, ex-chefe de importação do Ministério da Saúde, mudaram os rumos da CPI da Covid. Se de boas intenções o inferno está cheio, o deputado, então aliado do presidente e eleito na onda bolsonarista em 2018, caiu em descrédito e passou a ser visto como traidor por Bolsonaro e seu séquito – ao menos parte dele. “Eu não traí o presidente, pelo contrário, tentei ajudar. Se Bolsonaro traiu aquilo que defendia, que era o combate à corrupção, quem errou no percurso foi ele, não eu”, disse a PODER. Legislando em seu primeiro mandato, Miranda não precisou da estrutura partidária para conquistar os 65.107 votos que o levaram ao Congresso. Sequer fez campanha no Brasil. Conhecido por um canal que mantinha no YouTube, “Luis Miranda USA”, no qual dava dicas para os seguidores sobre como empreender nos Estados Unidos, o deputado alavancou sua campanha vivendo em Miami, para onde se mudou em 2014 após prever que Dilma Rousseff seria reeleita. Na Câmara, quase sempre alinhado às pautas do governo mantinha boa relação com o Executivo e portas abertas no Planalto. Até que, em 20 de março, acompanhado do irmão Luis Ricardo, adentrou o palácio com uma informação que Bolsonaro não queria ouvir – e que mudaria para sempre a trajetória política de Luis Miranda.

28 PODER JOYCE PASCOWITCH

PODER: A CPI PODE TER VIVIDO SEU GRANDE MOMENTO NA SUA OITIVA, COM SEU IRMÃO. DESDE ENTÃO, A COMISSÃO PARECE TER PERDIDO POPULARIDADE. TEME QUE A MONTANHA ACABE POR PARIR UM RATO? LUIS MIRANDA: Nós fomos à CPI reafirmar a denúncia que

havíamos feito ao próprio presidente. E não só relatar que estivemos com ele, como informar a preocupação acerca da possibilidade de existir fraude no contrato da Covaxin. A fraude hoje está mais do que provada, com a própria Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, afirmando que os documentos apresentados pela Precisa [Medicamentos, intermediadora do negócio] eram falsos. Nosso objetivo foi concluído. Fizemos o nosso papel, protegemos o erário, R$ 1,6 bilhão que estava envolvido em um processo provavelmente fraudulento. Acredito que as investigações não ficarão dependentes da CPI. Hoje existem processos tramitando no Ministério Público Federal, bem como na Polícia Federal, e tudo baseado no nosso depoimento. PODER: MAIS DE DOIS MESES SE PASSARAM DESDE A DENÚNCIA. QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE O DESENROLAR DO CASO? LM: Foi comprovado tudo o que falamos e o próprio

governo cancelou os contratos e demitiu funcionários. Me sinto confortável em saber que teve um desenrolar, e que esse desenrolar saiu da CPI e hoje tramita não só no Ministério Público Federal, mas com envolvimento da PGR, diretamente com o STF, e também com a própria Polícia Federal. Salvamos o Brasil de um grupo criminoso e estancamos uma sangria, mas, infelizmente, se tivéssemos feito antes teríamos salvado vidas. Foi tardio. Nossa ação,

FOTO DIVULGAÇÃO

A

POR DADO ABREU


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.