REVISTA PODER | EDIÇÃO 148

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ENSAIO

Após se tornar destaque dos Jogos Olímpicos como comentarista, a skatista Karen Jonz, tetracampeã mundial na modalidade vertical, comemora o sucesso que ajudará a dar mais visibilidade para as mulheres: “Esse hype não será só uma moda”

A

por nina rahe fotos layla motta styling ana wainer beleza liege wisniewski (groupart mgt)

ntes de o skate se tornar esporte olímpico e virar a sensação do momento, Karen Jonz quase não tinha sossego. Ainda que não tenha participado dos Jogos Olímpicos de Tóquio – sua especialidade, a modalidade vertical, não foi incluída na competição – e tenha se tornado, como comentarista da SporTV, uma das atrações mais comentadas, os desafios que Karen enfrentava anteriormente eram de outra ordem: convencer a quem quer que cruzasse o seu caminho que o esporte era a solução para todos os males. “A sensação que tenho andando de skate é grande demais para ser só minha e sempre quis que outras meninas compartilhassem”, conta a atleta, que é tetracampeã mundial e havia se tornado, segundo a própria, uma espécie de pregadora. “Se via uma amiga emburrada, já pensava que estava assim porque não andava de skate.” Mas se a taxa de conversão, antes da Olímpiada, era baixa, agora a atleta comemora as pistas cheias e o fato de várias pessoas ao seu redor – da sobrinha a vizinhas – já recorreram a ela para pedir dicas do esporte. “A gente está em um momento tão grande para

o skate feminino, a Rayssa [Leal, prata nos Jogos de Tóquio] foi campeã [em agosto, na Liga Mundial de Skate Street], mas isso não começou agora”, explica. “Se não tivesse as gerações anteriores, a Rayssa teria que brigar por tanta coisa que gastaria a metade da energia para conseguir existir.” E quando Karen menciona toda essa energia, sabe exatamente o que diz. Antes de conseguir seu primeiro skate, comprado à custa de muitas vendas de bolo de banana na escola, a atleta havia pedido inúmeras vezes a seus pais para ganhar um de presente. Logo que começou a participar de competições locais não existia a categoria feminina e, quando ganhou o primeiro X Games, ela se preparou sozinha, sem treinador nem patrocínios. Para as mulheres, tampouco havia equivalência nas premiações e somente em 2006, depois de muita luta, o X Games igualou o valor do prêmio para ambos os gêneros. “Vivia arrumando briga para todo lado. Ia a um evento, queria participar, tentava convencer as pessoas”, lembra ela, que chegou a criar o site Garotas no Comando para divulgar as conquistas femininas.


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