Revista Poder | Edição 124

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ISSN 1982-9469

00124

R$ 14,90

FEVEREIRO 2019 N.124

TEMPO DE COLHEITA FÁBIO VENTURELLI, CEO do Grupo São Martinho, líder em açúcar e álcool, faz da lavoura parque de inovação com biotecnologia e conectividade

NA PELE

O atacante DUDU, do Palmeiras, coleciona jogadas geniais no campo e tatuagens pelo corpo

CHOQUE TÉRMICO

Mercado de luxo no Rio sofre com o sumiço da clientela – boa parte dela condenada na Lava Jato

QUADRADO MÁGICO

Como a sofisticação-raiz do hotel Uxua, em Trancoso, está virando um grande negócio

TOQUE DO CLARIM

Escolas militares se modernizam e ministros do Exército adotam tom conciliador no governo

E MAIS

Motor-homes para viagens tamanho família, os melhores equipamentos para ir fundo na água e o novo projeto de Gringo Cardia


poder

ĂŠ



26 SUMÁRIO

22

EDITORIAL COLUNA DA JOYCE PLANTE QUE O FÁBIO GARANTE

40

Presidente do Grupo São Martinho, gigante do agro, Venturelli faz da lavoura parque de inovação

42

O RIO SECOU

46 48

Com os poderosos na mira da Lava Jato, o mercado de luxo carioca entra em recessão 26

32

BRAÇO FORTE, MÃO AMIGA, VOZ SUAVE

As academias se modernizam e ministros do Exército adotam tom conciliador 38

CONSUMO

LUXO INCLUSIVO

Uxua, Trancoso: o hotel que se transformou em usina de criação PODER VIAJA LAR SOBRE RODAS

Tem como viajar sem sair de casa com motor-homes luxuosos e multifuncionais

PEQUENO BRILHANTE

Dudu, atacante do Palmeiras, posa para PODER em seu primeiro ensaio fotográfico

RESPIRO

A temporada baiana e hippie de Mick Jagger

52 54 56 60 61 62 63 64

COZINHA DE PODER HIGH-TECH CULTURA INC. ESTANTE UNIVERSO TREINAMENTO CORPORATIVO CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

FÁBIO VENTURELLI POR JOÃO LEOCI

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder

FOTO PEDRO DIMITROW

4 8 14


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PODER EDITORIAL

A

çúcar! Era assim, dizendo essa palavra como uma espécie de vinheta, que a rainha da salsa, a cubana Celia Cruz, pontuava suas sempre festivas apresentações. Açúcar para essa exilada cubana era a própria Cuba, onde ela jurou não voltar a colocar os pés enquanto os irmãos Castro permanecessem no poder. Caso também estivesse sobre um palco, o CEO Fábio Venturelli, do Grupo São Martinho, capa desta edição, talvez roubasse a palavra de ordem da “reina”. Açúcar, para esse engenheiro formado pela Poli-USP e com carreira executiva forjada na Dow Chemical, é, permitam-me a expressão um pouco datada, ponte para o futuro. À frente das empresas de açúcar e álcool de um dos braços da família Ometto, o executivo olha para os laboratórios de biotecnologia do mundo em busca da redenção do açúcar, quando ele irá se tornar um alimento sem calorias. Para o CEO é mera questão de tempo – pouco tempo – para um produto derivado da fermentação da cana tornar-se viável economicamente. O açúcar “zero cal” atenderia nosso desejo de saciedade, algo que nenhum adoçante ainda provou ser capaz. “As pessoas vão trocar o arroz e o feijão pela musse”, diz Venturelli, um dos rostos do agropop – e tech – do Brasil. Eis uma boa notícia num país em que pautas tão regressivas dominam o noticiário. Não por culpa, é verdade, de um dos polos de sustentação do governo Bolsonaro, os militares. São os representantes das Forças Armadas que têm emitido algumas das declarações mais sensatas e ponderadas do Executivo. Em reportagem especial, mostramos que o Exército vem se modernizando a partir da base, desde suas escolas preparatórias de oficiais. Enquanto isso, na outra ponta, a Lava Jato causou um strike no mercado de luxo carioca: é que a prisão dos muitos políticos envolvidos no escândalo fez refluir o movimento de diversas grifes e lojas AAA, como conta o repórter Chico Felitti. Ainda por aqui estão o tatuado Dudu, o melhor jogador de futebol dos campos do Brasil, o apuro estético do hotel Uxua, que surpreende quem visita Trancoso e está se transformando em um grande negócio, uma seleção de motor-homes para uma viagem inesquecível e a versatilidade do limão taiti, que vai bem em tudo – e não apenas na caipirinha. Por falar nela, imagine quando o açúcar não tiver caloria... Viva! Bem-vindo a PODER de fevereiro.

G L A M U RA M A . C O M


PODER INDICA

LC 500h

NOVA DIMENSÃO

Transformar o comum em extraordinário. Com uma história baseada em tecnologia imaginativa, design elegante, qualidade e desempenho superiores, a LEXUS acelera firme na busca por perfeição e inovação. Depois de introduzir o conceito Experience Amazing, que promove um estilo de vida apoiado em experiências incríveis, a montadora traz novamente seu pioneirismo ao anunciar que, a partir deste ano, seu line-up será 100% híbrido – é a primeira companhia a atingir a marca no país – com uma das tecnologias mais sofisticadas do planeta, proporcionando simultaneamente potência silenciosa com eficiência de combustível, excelente dirigibilidade e emissões limpas. A qualidade superior da Lexus, a marca de luxo da Toyota, carrega consigo uma disciplina milenar. Os engenheiros da montadora, denominados takumis, dedicam anos de vida profissional aperfeiçoando-se para produzirem veículos cada vez melhores, unindo o detalhista acabamento artesanal ao universo super tecnológico da Lexus. A marca traz consigo o conceito japonês do Omo-

tenashi, relacionado à hospitalidade, filosofia expressa na maneira como são antecipadas e atendidas as necessidades e expectativas do motorista – e dos passageiros. No design dos veículos Lexus, por exemplo, o uso de linhas e contornos contínuos possibilita uma experiência única e pessoal de surpresa e intensidade. Além disso, o ideal também é aplicado no atendimento ao cliente porque a marca entende que cada um tem necessidades diferentes e, por isso, tem como objetivo, além de antecipar tais necessidades e desejos, personalizar soluções para superar as expectativas. No Brasil desde 2012, a Lexus vem expandindo sua rede de concessionárias e seus planos de financiamento e serviços aos clientes. Para 2019, a previsão é chegar às 2 mil unidades vendidas. No portfólio comercializado por aqui estão o LS 500h, ES 300h, NX 300h, RX 350L, CT 200h e UX 250h (disponível a partir de abril), verdadeiros carros do futuro. + LEXUS.COM.BR


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PODER INDICA

NA ONDA DO VERÃO Com os termômetros lá fora marcando mais de 35 graus, mesmo em uma cidade como São Paulo, óculos se tornaram item obrigatório. Para compor looks elegantes e chics para o dia a dia, seja para a ida ao clube, ao trabalho ou fins de semana no campo, a Sunglass Hut – que é uma das maiores redes internacionais de óculos de sol – criou uma curadoria especial de modelos para encarar o astro rei, sem medo. E como o verão é a estação mais descontraída do ano, está na hora de aproveitar toda a cor do período e encarar novas tendências. A dica é ousar. Acompanhe a seleção da Sunglass Hut que são os must have da moda eyewear 2019.

FLUORESCENTES OU LENTES COLORIDAS? O neon é moda em 2019. Os modelos variam e vão conseguir agradar desde clientes

mais clássicos aos com lifestyle esportivo. Outra opção para quem gosta de cor são os óculos com lentes coloridas, excelentes para uma caminhada na praia ou até mesmo para curtir a noite.

PEQUENOS OU GRANDES? A novidade para este ano são os minióculos, tendência dos anos 1990, que vem ganhando adeptos entre os fashionistas. Tanto os ovais quanto os retangulares servem para deixar o olhar mais penetrante. Mas como a curadoria da Sunglass Hut é bastante versátil, há ainda a aposta nos óculos máscara que agradam celebridades ao redor do mundo todo. Escolha o seu modelo tendo em mente o nosso mantra: o verão é para os ousados. + SUNGLASSHUT.COM/BR/ | @SUNGLASSHUT


CONTINÊNCIA

EM FAMÍLIA

Não é apenas com o pai, Emílio, que MARCELO ODEBRECHT está rompido. O ex-presidente do Grupo Odebrecht parece não sossegar enquanto não acertar as contas também com o cunhado, Maurício Ferro, antigo vice-presidente jurídico do grupo a quem Marcelo atribui boa parte dos problemas que tem enfrentado. Ferro é casado com Monica, irmã de Marcelo e filha de Emílio Odebrecht, ex-presidente do conselho. Foi ele o coordenador do acordo da empresa com o Ministério Público Federal.

Há uma cisão no governo Bolsonaro com relação ao vice-presidente, HAMILTON MOURÃO. Os filhos do presidente andam contrariados com o general, que, por sua vez, não nutre muita estima pelos herdeiros de Bolsonaro. Quando o presidente foi internado, nos últimos dias de janeiro, havia um consenso, inclusive médico, de que, durante a recuperação da cirurgia para a reconstrução do trânsito intestinal, Bolsonaro deveria se afastar inteiramente do cargo. Porém, Carlos, Flávio e Eduardo bateram o pé. Ficaram desconfiados depois da viagem do pai a Davos, na Suíça, durante o Fórum Econômico, quando Mourão se mostrou proativo e falante. O temor é que o prestígio do general entre os militares ganhe proporções políticas. Vale lembrar que o governo conta com sete ministros militares e mais de 40 membros das Forças Armadas no segundo escalão.

ALTA POTÊNCIA

Num governo em que os ministros não se destacam exatamemte pela discrição, TEREZA CRISTINA, titular da pasta da Agricultura, até que vem se saindo bem – só chegou aos trending topics ao se queixar de Gisele Bündchen. Mas a deputada federal, licenciada do DEM-MS, usa algo do comportamento explosivo dos colegas de outra maneira – falando grosso ao telefone com governadores. Dizem, à boca pequena, que nessas horas ela lembra Dilma Rousseff pensando em Joaquim Levy.

8 PODER JOYCE PASCOWITCH


SALVE, SALVADOR

A cidade de Salvador parece que está novamente em alta no mercado. Um prédio de apartamentos será lançado em breve em frente ao Fera Palace Hotel, um dos mais sofisticados da capital, pelo próprio grupo hoteleiro. O edifício ficará entre a Praça Castro Alves e o Pelourinho. Além disso, comenta-se que o grupo Four Seasons estaria de olho em um hotel para reformar e fincar sua bandeira. O mais cotado é o Salvador Praia Hotel, que tem uma praia particular.

NA ONDA

FOTOS JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; ANTONIO ARAUJO; PAULO FREITAS; BEATRIZ CHICCA; GETTY IMAGES

Antônio Carlos de Almeida Castro, o KAKAY, é o mais novo frequentador assíduo de Trancoso, na Bahia. O advogado acaba de construir lá uma casa na mata, com acesso direto ao rio Trancoso, de onde ele parte em passeios de caiaque. Kakay tem demonstrado ser fera no comando. Outra atividade comum, claro, tem sido curtir a praia – já tem até o seu boteco preferido com pé na areia: o do hotel Uxua.

ALTO LÁ

Quem curtiu o verão em Paraty e resolveu navegar pelas praias da região tomou um susto ao passar pela praia de Santa Rita. É lá, no meio da mata, que fica a mansão de veraneio atribuída a Paula Marinho, filha de João Roberto Marinho, da Rede Globo. A casa, com três andares, batizada de Paraty House, teria sido construída numa área de preservação ambiental e conta com vigilância ostensiva de guarda-costas que fazem cara feia para quem se aproxima do local. Quem quer que seja proprietário do imóvel, o que Paula refuta ser, não admite que a mansão seja sequer clicada. Mantenha distância.

LUXO À LUSITANA

CÂMBIO, DESLIGO

Em meio ao zero a zero da economia brasileira, um segmento não sentiu a crise. Ou melhor, sentiu-a positivamente. Um executivo ligado a uma multinacional que vende produtos para videoconferências contou à coluna que sua empresa faturou como nunca em 2018. O motivo? Em tempos de torneiras fechadas, as grandes companhias diminuíram o número de viagens de seus executivos, trocando-as por conversas em vídeo. O tempo gasto em deslocamentos de trânsito foi apontado como um dos fatores para o crescimento da empresa. Segundo estudo do Gartner Group, dentre as soluções de comunicação, a videoconferência pode movimentar US$ 7,76 bilhões até 2022.

A publicitária THAYA MARCONDES, que acaba de deixar a agência PROS, está de mudança para Portugal, levando na bagagem sua expertise em mercado de luxo. Seu evento inicial lá será a LuxuryLab.EURO, que, após sete edições de sucesso na Cidade do México, uma em São Paulo e outra em Miami, prepara sua primeira edição na Europa, em maio, em Cascais. “Desejo levar a expertise que conquistei no Grupo LBN, no qual nos especializamos em criar experiências e relacionamentos das marcas com seus consumidores. Quero mostrar como atender bem os clientes acostumados com o calor humano do brasileiro”, conta Thaya. LuxuryLab é conhecido como o mais importante fórum de inteligência e tendências do mercado de luxo na América Latina.


É permissível a cada um de nós morrer pela sua fé, mas não matar por ela HERMANN HESSE

3 PERGUNTAS PARA...

RODRIGO BERTOCCELLI, presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial (IBDEE) e um dos coordenadores do Manual de Compliance (ed. Forense)

Compliance é estar em conformidade com algo, estar em conformidade com normas e condutas que as organizações entendem como adequadas. No caso da Lava Jato, sim, ela trouxe novos paradigmas se imaginarmos que a Lei Anticorrupção (nº 12.846), de 2013, foi editada antes da revelação da primeira fase da operação. Deste modo, um novo padrão foi o que motivou o pacote de medidas apresentado recentemente pelo ministro [da Justiça] Sérgio Moro e que integra um sistema de combate à corrupção do qual a lei 12.846 faz parte. A diretriz é um instrumento que tipifica o que é um ato de corrupção e aplica multas que podem chegar até 20% do faturamento bruto do exercício anterior. QUANTO O BRASIL AINDA PRECISA EVOLUIR NO TEMA EM RELAÇÃO A OUTROS PAÍSES?

Até mesmo a literatura brasileira é carente sobre compliance. Por isso essa proposta do Manual de

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Compliance, a de elaborar uma coletânea para que profissionais que irão enfrentar esse desafio possam ter uma obra como referência, como bússola. A maturidade dos sistemas de compliance está relacionada à cultura de conformidade. É difícil nos compararmos, por exemplo, com os Estados Unidos, que editaram a FCPA [Foreign Corrupt Practices Act] em 1977 e, portanto, têm mais de 40 anos de experiência. Existem três fases para um programa desses ser adotado. A primeira é a fase formal, aquela em que o empresário busca um código de ética e elabora procedimentos no papel. A segunda, esta em que o Brasil se encontra, é a da efetividade. Nela, as autoridades, os órgãos reguladores e o mercado já estabeleceram parâmetros e procedimentos para aferir a efetividade de compliance. E a terceira é cultural, em que o Brasil ainda não está, mas países desenvolvidos como a Alemanha, sim. Nessa fase as pessoas não corrompem porque entendem que fazer o certo é o mais correto. Porém, se no Brasil ainda não atingimos tal maturidade cultural, o fato de estarmos na segunda etapa em cinco anos da vigência da Lei Anticorrupção é um excelente sinal.

DIVERSOS CASOS DE CORRUPÇÃO DESTRUÍRAM NOS ÚLTIMOS ANOS A REPUTAÇÃO DE GRANDES COMPANHIAS E ENTIDADES COMO PETROBRAS, ODEBRECHT, NISSAN, SIEMENS, FIFA, ENTRE OUTRAS. QUAL CASO LHE CHAMOU A ATENÇÃO NO QUE DIZ RESPEITO AOS SISTEMAS DE COMPLIANCE?

Odebrecht. Porque é o único grupo que foi submetido a dois entes fiscalizadores: o Departamento de Justiça americano e o Ministério Público Federal brasileiro – em razão do acordo de leniência firmado. A exigência e o enforcement dessas autoridades estimularam que o Grupo Odebrecht obrigasse toda sua cadeia produtiva a ter o mesmo rigor que ele está sendo demandado. Claro que não podemos dizer que é um case de sucesso, porque ainda estamos em fase de estruturação, colocando em prática o acordo de leniência. Mas certamente é uma referência para o mercado.

FOTOS DIVULGAÇÃO

A OPERAÇÃO LAVA JATO TROUXE NOVOS PARADIGMAS PARA O COMPLIANCE NO BRASIL?



EM FEVEREIRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO...

LER o novo romance de Haruki Murakami, O Assassinato do Comendador – Vol. 1, em que mais uma vez o ficcionista japonês, eterno candidato ao Prêmio Nobel, constrói habilmente mundos paralelos e cria personagens inesquecíveis

CONHECER o museu dedicado às cadeiras brasileiras, em Belmonte, na Bahia, na casa onde o arquiteto Zanine Caldas cresceu. O local foi projetado por seu filho, Zanini de Zanine, e a curadoria é de Christian Larsen, do The Metropolitan Museum of Art, de Nova York MONTAR uma playlist no Spotify

com os sons que embalaram as férias. Porque música é ótima forma de guardar bons momentos na memória

ESCOLHER um curso de interesse para expandir o conhecimento em 2019

DECIDIR qual nova atividade física praticar – e iniciar sem demora os treinamentos. Não deixe para amanhã o que você pode suar hoje

PLANEJAR uma viagem pela África para 2019. Com desertos, dunas, praias e safáris, a Namíbia é um dos destinos mais bacanas e luxuosos da região. Seu deserto costeiro é o mais antigo do mundo, com cerca de 43 milhões de anos ACOMPANHAR de perto os primeiros atos dos deputados e senadores nas respectivas casas legislativas. Dezenas de aplicativos para celular ajudam a ficar de olho em quem você ajudou a eleger SONHAR com a abertura do resort Aman , em Kyoto, no Japão, e garantir sua reserva INVESTIR em Fundos de

Investimento Imobiliários (FIIs), uma das apostas dos especialistas para 2019. No mercado de ações, setores que devem ter bons resultados no ano são os de infraestrutura, siderurgia, energia, bancos e varejo

CAUSÍDICOS COM CAUSA

RELER O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye), clássico que influenciou uma geração de escritores, em comemoração ao centenário de J. D. Salinger

GARANTIR os ingressos do Cully Jazz Festival, que acontece em abril. Apesar de ser um dos maiores da Suíça, o evento mantém a atmosfera intimista e ocorre numa pequena vila de uma região vitivinícola nas margens do Lago de Genebra. Entre os destaques deste ano estão Stanley Clarke e Rhoda Scott Ladies All Star CONSUMIR de forma mais

consciente. Planejar suas compras, considerar os impactos de consumo e reutilizar produtos e embalagens são práticas a ter em vista

Defender clientes gratuitamente, pró-bono, como se diz, não é incomum no Direito, mas apoiar comunidades carentes, pessoas em situação de vulnerabilidade social e até indígenas do Alto Xingu já não é a coisa melhor compartilhada pelos escritórios de advocacia brasileiros. Com uma equipe majoritariamente feminina, o WZ, de São Paulo, vem inovando na preocupação social e em responsabilidade socioambiental. “Enxergamos esse nosso ofício como um meio efetivo de transformação social”, diz o sócio Alexandre Zanotta, que ainda encontra tempo para atuar como vice-presidente do Palmeiras. com reportagem de dado abreu e fábio dutra

12 PODER JOYCE PASCOWITCH

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

RENOVAR a assinatura para a temporada 2019 da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Ao longo do ano ela faz mais de 100 concertos na Sala São Paulo, sempre com solistas e regentes de destaque


PODER INDICA

RICARDO FLEURY SILVEIRA, EMILIANO BEYRUTHE E IQUINHO FACCHINI

DIGITALMENTE ESPECIAL

O ano de 2019 promete ser promissor para a agência de marketing ao vivo MULTICASE, que completará dez anos em novembro. Motivos para o otimismo vão além do aniversário. Com novos clientes na carteira, como Weber Quartzolit e Azeite Andorinha, além de 100% das antigas parcerias renovadas, a companhia decidiu apostar pesado no digital. “As marcas querem resolver o on-line e o off-line no mesmo lugar, com a mesma agência”, revela Ricardo Fleury Silveira, diretor comercial e sócio da Multicase. Uma nova divisão irá cuidar da comunicação e do planejamento estratégico das marcas, desenvolver projetos de branded content, direcionar investimentos em mídia on-line – com foco em resultados – e cuidar das redes sociais dos clientes gerando maior interação e engajamento com o consumidor. Para isso, cinco novos executivos juntaram-se ao time da Multicase que, no fim do ano passado ainda teve o orgulho de ser premiada com a certificação internacional Great Place to Work, ranking que reconhece e atesta as corporações com os melhores ambientes de trabalho em mais de 50 países ao redor do mundo. AGENCIAMULTICASE.COM.BR / @MULTICASE


14 PODER JOYCE PASCOWITCH


AGROPOP

PLANTE QUE O FÁBIO GARANTE Presidente do Grupo São Martinho, uma das mais destacadas corporações do agronegócio brasileiro, Fábio Venturelli vê conhecimento e boas práticas em muitos setores do campo. Na empresa de açúcar e álcool que lidera, os investimentos em biotecnologia e conectividade ajudaram a fazer da lavoura da cana uma espécie de parque de inovação por paulo vieira fotos joão leoci

O

agro brasileiro é pop, como quer aquela campanha de TV, ou d’antanho? É produtividade, rentabilidade e tecnologia aplicada a uma das atividades ancestrais do homem ou é essa atividade ancestral feita à moda antiga, com trabalho análogo à escravidão e a permanente e aviltante concentração da renda dela derivada? Fábio Venturelli, 53 anos, presidente há dez do Grupo São Martinho (GSM), grande produtor de açúcar e álcool (etanol) do país, com usinas no interior de São Paulo e Goiás e faturamento anual na casa dos R$ 2 bilhões, nem pisca para responder. Para ele, o campo é o “locus” onde biotecnologia, gestão inteligente, georreferenciamento e soluções de logística se encontram. Cinco vezes considerado pelo jornal Valor Econômico PODER JOYCE PASCOWITCH 15


Executivo de Valor do agronegócio, Venturelli não tinha qualquer experiência no setor até entrar no GSM. Engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da USP e com carreira executiva forjada na Dow Chemical, ele vem tendo seu mandato regularmente renovado pelo board do São Martinho, grupo empresarial de capital aberto controlado pelos primos Luiz, Nelson e João Guilherme Ometto, parentes de Rubens Ometto, da Cosan. O açúcar e o álcool são os derivados tradicionais do caldo de cana, que também já serve de substrato para uma pletora de outros produtos de maior valor agregado. Na Califórnia, a empresa de biotecnologia Amyris, parceira comercial do GSM, encontrou na “sugarcane” o princípio ativo para cosméticos e óleos faciais que combatem rugas e promovem a recuperação da elasticidade da pele humana. Sorte dos tubarões, que anteriormente emprestavam suas glândulas para a produção desses óleos. Além disso, segundo Venturelli, um fungo alimentado pelo caldo de cana já vem sendo usado para produção de proteína vegetal. Por fim, espera-se para logo a comercialização em escala comercial de um açúcar de cana “zero cal”, ou seja, sem calorias. A mesma Amyris californiana anunciou em outubro passado um acordo com a empresa de refino de açúcar ASR para colocar esse produto revolucionário no mercado. “Já se conseguiu isolar uma molécula da fermentação do caldo de cana, e o produto gerado disso pode ser interpretado pelo nosso cérebro como

16 PODER JOYCE PASCOWITCH

A “biofábrica” de mudas do GSM, uma colheitadeira em ação, área industrial e a estrela-mor, a cana


FOTOS DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO

açúcar. É um passo para resolver o grande problema dos adoçantes artificiais, que é promover a sensação de saciedade”, disse o executivo a PODER no escritório do GSM, em São Paulo. DEBRET E RUGENDAS Quando se pensa que a mesma cana dos engenhos de Pernambuco do século 17 está para ofertar à população a revolução do açúcar “zero”, é tentador pensar numa narrativa algo fabular que pressupõe inclusive a evolução da vida em sociedade no Brasil. Poucas culturas agrícolas são tão eloquentes em sintetizar nossos 519 anos de história pós-descobrimento quanto a da cana. Das mudas trazidas em 1533 pelo donatário português Martim Afonso de Sousa para São Vicente em obediência à prédica de Pero Vaz de Caminha (veja box) à intensa mecanização do campo nas últimas décadas, a cana serve como metáfora do Brasil que deixa para trás, ainda que não na velocidade esperada, o cenozoico. Até muito recentemente, as condições de trabalho nos canaviais do país eram talvez ainda piores do que o cotidiano dos escravos nos engenhos, ao menos aquele retratado nos traços elegantes das gravuras de Debret e Rugendas. A duríssima realidade dos boias-frias, exposta na greve dos anos 1980 em Guariba, na mesma região onde o GSM tem usinas, é página virada – a foice, pode-se dizer, virou memorabilia, já que a mecanização nas lavouras do grupo é da ordem de 99,8% e a queima da cana, só em 2018 tornada ilegal no Estado de São Paulo, é uma prática há tempos adotada. Na safra 2017/2018 foram moídas nas usinas do grupo 22,2 milhões de toneladas de cana, mais do que o dobro da quantidade de dez anos antes. Tudo isso, de qualquer forma, não configura grande novidade, quando se lembra que o agro brasileiro vem crescendo principalmente em produtividade, embora se expanda também em área agricultável, avançando sobre biomas delicados com0 cerrado e a floresta amazônica. O país é o maior produtor mundial de café, feijão, suco de laranja e, sim, açúcar. E segundo em soja, embora seja seu principal exportador. O GSM tem bom quinhão de responsabilidade nesse cenário, pois está na vanguarda tecnológica do setor, segundo Venturelli. Decisões que hoje parecem triviais, como a escolha da melhor colheitadeira, capaz de dar conta de 950 tone-

‘‘Quando o açúcar deixar de engordar, a alimentação muda de paradigma. As pessoas vão trocar a alface pelo pudim, o arroz e o feijão pela musse” AGRO DESDE 1500

Em 1500, na famosa carta de “achamento do Brasil”, Pero Vaz de Caminha relata ao rei de Portugal, dom Manuel 1º, suas primeiras impressões in loco do território onde os “tugas” acabavam de aportar. Lá pelas tantas, o escriba dá ciência da grande extensão do lugar e também da fertilidade da terra de que iriam se assenhorar. Escreveu Caminha: “Águas são muitas; infindas. E em tal maneira [esta terra] é graciosa que, querendo aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”. Com a corrupção própria do tempo (e talvez do Brasil), a passagem foi transmutada para a conhecida “em se plantando tudo dá”. O Brasil, com efeito, viria a se tornar uma potência agrícola, e o agrobusiness vem contribuindo para melhorar os números do PIBinho nosso de cada ano. Em outubro de 2018, o setor foi responsável por 38,5% das exportações brasileiras, trazendo divisas de US$ 8,5 bilhões. Em geração de receita, soja, carne, celulose e açúcar, nessa ordem, são os principais produtos do segmento vendidos lá fora. A agricultura, âncora da balança comercial brasileira, como o setor gosta de dizer, produz commodities, produtos de baixo valor agregado. Como comparação, apenas uma empresa, a coreana Samsung, faturou, no terceiro trimestre de 2018, US$ 57,36 bilhões. PODER JOYCE PASCOWITCH 17


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O MILHO VEM PRA CIMA

O etanol brasileiro, feito a partir do processamento da cana-de-açúcar, é mais competitivo do que o etanol de milho americano, seu grande concorrente mundial. Paradoxalmente, o milho pode ser mais doce – e produzir mais álcool – do que a cana, já que tem 4,5 vezes a concentração de sacarose desta última. Mas o mesmo hectare agriculturável produz muito mais cana do que milho, invertendo a vantagem. Apesar de a maior parte da indústria automobilística encarar a eletricidade como a próxima grande fonte energética, os investimentos em etanol não refluem. O Brasil, desde 2011, também já produz etanol de milho, e a tendência é vir a se tornar player também dessa commodity. No principal centro produtor de milho do país, o Mato Grosso do Sul, pululam novas usinas como a da FS Bioenergia, empresa americano-brasileira que estreou em 2018 estimando uma produção anual de 240 milhões de litros, com rápida capacidade de duplicação. Como comparação, o GSM produziu, na safra 2018/2019, 1,09 bilhão de litros de etanol de cana.

de inovar, é preciso estar inserido no ambiente onde a inovação acontece.” MALINHA A chegada de Venturelli ao GSM, em 2008, coincidiu com uma mudança de natureza da corporação. Até então, o grupo atuava como cooperativa, à maneira da gigante Copersucar, sem necessidade de brigar por mercado. “Precisei resgatar minha malinha de vendedor dos tempos da Dow”, diz. A guinada ocorreu logo após a abertura de capital da empresa em bolsa. “Sentava na frente do analista e não tinha o que falar. Imagina o que é não controlar a própria linha de receita.” Depois de centrar fogo na criação e na estruturação de todo um setor comercial, Venturelli voltou-se para a logística, central em sua tática de diferenciar-se da concorrên-

FOTO GETTY IMAGES

ladas de cana por dia – o dobro da capacidade do maquinário da concorrência, segundo o executivo –, araram o terreno para ações de ainda mais impacto, como a implantação de uma rede 4G própria em todas as propriedades. É esse, aliás, o novo front tecnológico da corporação. Ter os 22 mil quilômetros de estradas internas cobertas por rede de transmissão de dados possibilita controle absoluto das movimentações da frota, algo crítico para o grupo. “O canavial é um verdadeiro labirinto. De noite, mesmo com apoio da operação de rádio, se o motorista pegar uma curva errada, pode demorar até um dia para sair de lá. Agora temos nosso ‘Waze’ para otimizar os carregamentos”, explica. A rede rural do grupo é um projeto pioneiro realizado em parceria com o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), o polo tecnológico de Campinas, com conclusão prevista para 2020 e investimento de R$ 40 milhões. Além disso, a análise de dados gerados por máquinas inteligentes (conectadas em sistema IoT, de internet das coisas) permite suporte remoto e prevenção de falhas mecânicas, além de um entendimento melhor das variáveis da lavoura, como a fertilidade do solo, a necessidade maior ou menor do uso de pesticidas etc., numa espécie de “hedge” rural. Venturelli é um adicto em tecnologia, e uma visita a startups do Vale do Silício no primeiro semestre de 2018 o deixou ainda mais em ebulição, pois reforçou sua crença de que o açúcar em breve não fará mais qualquer mal à saúde. “Quando o açúcar deixar de engordar, a alimentação vai mudar de paradigma. As pessoas farão pequenas refeições e se servirão direto no bufê de sobremesa”, diz. “Vão trocar a alface pelo pudim, e o arroz e o feijão pela musse.” A frase tem um quê de boutade, mas é bom adicionar a ela a impressão do repórter, que não ouviu a já desgastada palavra “inovação” sair da boca do executivo de maneira afetada. Mais, Venturelli não faz um discurso convencional pela inovação a qualquer custo, prefere exprimir uma certa visão estratégica sobre o tema. “Acredito que nessa nova fase da indústria mundial a inovação vai acontecer na mesma medida do desejo de adotá-la”, diz. “Se há algo que você ainda não tem hoje, pode ter certeza que isso está sendo desenvolvido neste momento. A questão é saber quem o desenvolve. Hoje não vale apenas investir na própria capacidade


‘‘Hoje não vale apenas investir na própria capacidade de inovar, é preciso estar inserido no ambiente onde a inovação acontece”

PODER JOYCE PASCOWITCH 19


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‘‘Todo mundo, de Madonna à Odebrecht, decidiu investir no etanol. Mas ficou provado que montar uma usina é fácil, o difícil é compatibilizála com a lavoura” cia. A localização estratégica das usinas paulistas, conectadas pela mesma rede ferroviária que transportava no passado o café para o Porto de Santos, foi um ativo particularmente útil quando da greve dos caminhoneiros que tumultuou o país no ano passado. Pelos trilhos usados agora pelo GSM no maior “transporte interno de açúcar do Brasil”, segundo Venturelli, foram embarcados durante os dias da paralisação o etanol e o diesel que vinham da refinaria da Petrobras de Paulínia. O diesel também precisava chegar às máquinas do GSM, muito dependentes desse combustível, uma situação aparentemente pouco confortável – e certamente contraditória – para um produtor relevante de etanol. O cenário, contudo, tende a mudar, já que o grupo investe também na produção de biogás e biometano combustível. A base é o vinhoto, o resíduo mal cheiroso da destilação do caldo fermentado de cana. Álcool e açúcar são os produtos que enchem as burras do GSM, mas é o conhecimento específico da lavoura, segundo ele, a chave que abre porta grande. Para o executivo, “80% do sucesso de uma empresa sucroalcooleira vem da lavoura”. Assim, usar na plantação toda a inteligência disponível e aquela ainda por ser disponibilizada é essencial, muito mais, por exemplo, do que fazer investimentos em usinas. Um dos grandes diferenciais do GSM é justamente esse: o foco na plantação. Um diferencial e tanto, como ficou demonstrado quando “todo mundo, de Madonna e dos fundadores da Google à Odebrecht”, decidiu investir na produção de etanol, ainda no governo Lula. “Queriam trazer uma usina pré-montada da China. Ficou provado que montar usina é fácil, o difícil é compatibilizar com a lavoura. Achavam que os agricultores iam bater à porta com toda a cana de que precisavam. Isso não aconteceu.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 21


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RESSACA

O RIO SECOU

Prisão de poderosos cariocas na Lava Jato ajuda a derrubar mercado de luxo da capital fluminense, que encara um verão de mesas vazias de restaurantes e quartos vagos de hotéis por chico felitti

FOTO GETTY IMAGES

A

praia de Ipanema ainda se recuperava da ressaca de Réveillon no dia 2 de janeiro de 2019. Flores e barquinhos de madeira se amontoavam nas lixeiras, tostando num calor de 37 graus. Mas no Fasano Al Mare, separado da orla por uma parede de vidro, o clima era outro. Temperatura amena, garantida pelo ar-condicionado, e um silêncio absoluto, propiciado pela falta de clientes. No fim de tarde do segundo dia do ano, há só duas mesas ocupadas no restaurante do hotel cinco-estrelas. Quartos com vista para o mar também estavam vazios na primeira semana de janeiro. Um apartamento de frente estava disponível para aquela noite, altíssima temporada, por US$ 700. “Bom sinal não é. Se um hotel no Rio não está ‘bookado’ em dezembro e janeiro, dificilmente vai encher em qualquer mês do ano”, diz o gerente de um hotel concorrente. O começo de ano do Fasano é uma ilustração do mercado de luxo no Rio de Janeiro. É natural que negócios de luxo pastem no período de vacas magras que a crise financeira impõe ao país há alguns anos. Mas o calo parece apertar mais em terras cariocas. PODER visitou os principais restaurantes e lojas da cidade e descobriu que o luxo do Rio espera um verão seco: há lojas fechando e espaço de sobra nas mesas dos melhores restaurantes da cidade. PODER JOYCE PASCOWITCH 23


Há, em uma das calçadas mais caras do Leblon, uma sequência de três lojas disponível para arrendamento. Uma delas é onde funcionava, até meados do ano passado, a Ermenegildo Zegna, uma das principais grifes de alfaiataria do mundo. Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, a razão do fechamento das duas lojas Zegna na cidade é a seguinte: 23 dos 25 principais clientes que compravam na loja caíram na Lava Jato. E foram presos. Um dos 23 era Sérgio Cabral, conforme se vê numa das denúncias apresentadas contra o ex-governador. Na Zegna, ele e sua família não optavam por crédito nem débito: faziam depósitos em conta com dinheiro vivo, sempre em valores menores que R$ 10 mil. Como tornou-se de conhecimento geral neste começo de ano, a circular 3.461/2009, do Banco Central, obriga os bancos a avisarem o Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o mesmo órgão que apontou os 48 depósitos de R$ 2 mil na conta do senador Flávio Bolsonaro – sobre operações que envolvam valores que ultrapassem R$ 10 mil. O total das compras, feitas entre 2012 e 2015, beira R$ 250 mil. Um quarto de milhão de reais gastos em ternos, sapatos, cintos e relógios. A denúncia, assinada pelo procurador Deltan Dallagnol, ainda explica que algumas das notas da Zegna eram emitidas com um apelido, também usado nos registros internos da grife. Sérgio Cabral ora era chamado de

Hoje preso, o ex-governador Sérgio Cabral (entre seu sucessor, Pezão, e a mulher, Adriana Anselmo) animava o mercado de luxo

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“Serg”, e em outras vezes atendia por “Sergi” dentro da butique de luxo. Um funcionário do Ministério Público confidenciou a PODER que, entre os apelidos dos outros clientes preferenciais da Zegna, havia um “Chefe”, sem revelar a identidade desse vip, que também pagava suas compras com dinheiro vivo e agora está preso. Quando as lojas estavam em processo de fechamento, no fim de outubro, Ermenegildo Zegna, 63 anos, neto do fundador que dá nome à marca, veio conferir a situação brasileira com os próprios olhos. Ele, que havia ficado oito anos sem pisar no Brasil, visitou São Paulo e, em entrevista, afirmou: “Decidimos fechar a loja do Rio de Janeiro por causa da crise, mas fortalecer as três de São Paulo, porque é importante se posicionar estrategicamente em todo o mundo e balanceando as perdas das regiões. Se uma vai mal, uma outra compensa”. Não especificou exatamente qual era essa crise que matava as lojas cariocas. “O mercado de luxo do Rio é peculiar. Além de ter uma classe AA menor do que São Paulo, que dispõe de um grupo até numeroso de altos executivos, o Rio perdeu muitas dessas empresas que contratavam profissionais desse nível nos últimos anos”, diz o jornalista Paulo Lira, que está escrevendo um livro sobre o efeito da crise no andar de cima da economia brasileira.


Sem o grupo de executivos, sobrou no segmento mais favorecido do Rio de Janeiro aqueles que enriqueceram por herança ou pela política. E o segundo grupo levou um golpe considerável.

FOTOS ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; DIVULGAÇÃO

PRATO VAZIO As peças jurídicas de denúncias contra políticos acusados de corrupção na Operação Lava Jato descrevem a praxe desses clientes cariocas: em sua maioria pagavam com dinheiro vivo contas de milhares de reais, deixavam outras centenas de reais em gorjetas e alguns ainda pediam nota fiscal. O Antiquarius, restaurante português mais famoso do Rio, fechou no segundo semestre de 2018, depois de admitir que seu movimento foi machucado em mais de 20% no último ano. Entre os convivas de carteirinha, estavam Aécio Neves e o próprio Cabral. Após um anúncio de que o fechamento seria temporário, só até o momento em que a casa conseguisse capital suficiente para saldar suas dívidas, o salão nunca mais abriu. O Satyricon, que leva a cozinha mediterrânea a Ipanema, também estava vazio no terceiro dia de 2019. Foi lá que Eduardo Cunha e sua mulher, Cláudia Cruz, jantaram em 22 de junho de 2016, dia em que o então presidente afastado da Câmara dos Deputados se tornava réu no Supremo Tribunal Federal pela segunda vez. O Laguiole Lab, no Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, era a escolha para conversas rápidas entre deslocamentos. O lugar, que fica a cinco minutos de táxi do aeroporto Santos Dumont, também oferece um menu de almoço por um preço singelo para os parâmetros dos acusados: por menos de R$ 100 por cabeça come-se à vontade. UMA BARRA E não é só a zona sul que sofre com o misto de crise política e econômica. A Barra da Tijuca, atual epicentro do poder, também levou um chacoalhão. O VillageMall foi inaugurado em 2012 para ser o epíteto do luxo da Barra. Nos primeiros meses, houve até excursão de bairros da zona norte para conhecer o shopping, que parecia um pedaço de Miami nos trópicos, com lojas como Gucci, Burberry e Tiffany & Co. Mas a cena nos primeiros dias de 2019 é outra: os corredores de granito e pedras nobres estão vazios numa tarde de janeiro. A crise se manifesta na comunicação das lojas, por mais que, como tudo no mundo do luxo, os indícios sejam sus-

O ex-deputado Eduardo Cunha, figurinha fácil dos restaurantes estrelados do Rio, e o VillageMall, que sente a falta dos “ricos”

surrados: a Emporio Armani anunciou no Instagram do shopping: “produtos selecionados on sale da grife!”. Para o mercado do luxo, que teve crescimento de quase 8% em todo o Brasil em 2018, segundo dados da consultoria Euromonitor Internacional, é um sinal de alerta. E quem passeia pelo centro de compras percebe ainda mais indícios. Uma edição limitada da Studio Bag, da grife italiana Salvatore Ferragamo, com apenas 95 exemplares pelo mundo, aportou no Rio de Janeiro em dezembro. Cada bolsa, prateada ou em combinação de cores fortes apelidada pelo mercado de moda de “color block”, vem com um número de série marcado no couro. Os exemplares de luxo sobreviveram ao Natal e Réveillon e na primeira semana de janeiro estavam lá, à venda, por perto de R$ 15 mil cada um. O shopping foi procurado para falar sobre a crise, mas preferiu não se manifestar. Uma vendedora loira e com a altura de uma modelo aceitou um emprego temporário no shopping de luxo para o fim de 2018. Diz que está arrependida. No ano anterior, tinha trabalhado durante dezembro numa loja de artigos esportivos. “Tirei R$ 8.500. Este ano, não chegou a R$ 3 mil”, ela lamenta. “Ainda bem que em loja de rico eles nem esperam que a gente sorria. Ia ser difícil sorrir sem vender nada.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 25


ENSAIO

PEQUENO BRILHANTE

Melhor jogador do futebol brasileiro de 2018, o atacante do Palmeiras Dudu dribla a timidez e faz para a PODER seu primeiro ensaio fotográfico. Com contrato renovado até 2023 após recusar convite milionário do futebol chinês, ele só pensa em mais títulos pelo Verdão e se firmar na seleção por dado abreu fotos pedro dimitrow styling cuca ellias (od mgt)

O

melhor jogador em atividade no futebol brasileiro está acostumado ao traje de gala. Eleito o craque do Campeonato Brasileiro, presente na seleção da Conmebol Libertadores e vencedor da tradicional Bola de Prata (criada em 1970 pela revista Placar e desde 2016 organizado pela ESPN), Dudu cansou de subir ao palco para receber prêmios no ano passado. Em todas as ocasiões, vestiu-se impecavelmente de terno como manda a etiqueta da boleiragem. “Jogador de futebol não tem tempo, nem oportunidade de usar roupa social”, brinca o craque durante o Ensaio de PODER. “Só mesmo quando acontecem esses eventos.” O estafe do atacante palmeirense, com o objetivo de impulsionar sua imagem, bem que tentou mudar tal rotina. Contratou uma... “É estilista que fala?”, pergunta, acanhado, Dudu. Não deu certo. A jovem, “personal stylist, Dudu”, perdeu o emprego em poucas semanas. “Ela queria que eu fosse de social para o treino. Se eu fizesse isso ia ser zoado pra sempre e perderia o respeito dos meus companheiros. Decidi que é melhor eu mesmo escolher minha roupa”, diverte-se. Nascido em Goiânia, Eduardo Pereira Rodrigues, 27 anos, começou a carreira no Cruzeiro em 2009. Sem espaço no clube, foi emprestado ao Coritiba por uma temporada onde conquistou o primeiro título nacional


Colete e calรงa Ricardo Almeida, gravata Hugo Boss, relรณgio Hugo Boss para Movado


Look total Ricardo Almeida, relógio IWC e sapato Sapataria Cometa

“Jogador de futebol não tem tempo, nem oportunidade de usar roupa social. E se usar na hora errada ainda vai ser zoado”


Camisa Colcci, relรณgio IWC


Camisa e gravata Ricardo Almeida, calça Hugo Boss, tênis Prada

– Série B 2010. De volta à Toca da Raposa, faturou o Estadual no ano seguinte e acabou negociado com o Dínamo de Kiev, da Ucrânia, numa transação de 5 milhões de euros. Encarou o frio e uma rotina entediante entre 2011 e 2014. “Não tinha muita coisa para fazer por lá então eu comecei a tatuar”, lembra Dudu, hoje quase sem espaço no corpo para um ideograma miúdo. Além do tédio, uma “pomada milagrosa”, receita soviética, teria sido outro incentivo para o vício em rabiscar a pele. Em 2014 o atacante foi repatriado pelo Grêmio e logo despertou o interesse do trio de ferro da capital paulista. Para a tristeza de corintianos e são-paulinos, Dudu fechou com o Palmeiras em uma decisão que não poderia ser mais acertada. O craque é ídolo da torcida e sua camisa 7 lidera o ranking de vendas do clube. Em quase quatro anos fez mais de 230 jogos e 55 gols, números que tendem a aumentar já que, após ser seduzido pelas cifras do futebol chinês, renovou por mais quatro anos com o Palmeiras – se cumprir o contrato até 2023 deverá entrar para a lista dos dez atletas que mais atuaram pelo Verdão, superando várias lendas do clube. “Quero marcar definitivamente meu nome na história do Palmeiras com mais dois ou três títulos importantes. Depois, quando estiver com 30 anos, procuro um mercado bom e quem sabe volte a jogar fora. Por enquanto escolhi ficar, o carinho pelo clube e a torcida falou mais alto e, além disso, fizemos um ótimo acordo”, explica Dudu, que teria recusado um salário na casa dos R$ 3 milhões na China para exclamar o “fico” para felicidade geral na nação... alviverde. Com tanta grana em jogo, PODER perguntou ao craque como ele investe seu suado dinheiro. E do mesmo modo ao falar de estilo, Dudu demonstra cautela. “Tenho uma equipe de especialistas que me orienta bastante e costumo diversificar. Depende do momento, das oportunidades, mas sempre tento escolher os investimentos com o menor risco possível. Sou mais conservador.” Conservador em todos os campos, com exceção dos de futebol. n


Beleza: Alê Fagundes (Capa MGT) Arte: David Nefussi Produção executiva: Ana Elisa Meyer Produção de moda: Jaqueline Cimadon Assistentes de fotografia: Adrian Ikematsu e Thaísa Nogueira


FOTO ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS

BRAÇO FORTE, MÃO

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CONTINÊNCIA

AMIGA, VOZ SUAVE

Setor ponderado do governo, militares mostram capacidade argumentativa e despreocupação com o marxismo cultural, o mal favorito do clã Bolsonaro. Modernização das academias que formam oficiais do Exército é uma das razões do novo momento por paulo vieira PODER JOYCE PASCOWITCH 33


34 PODER JOYCE PASCOWITCH

“Dá para dizer que o Exército se soltou da visão de salvador da pátria, de estar sempre pronto a intervir” Marco Aurélio Nogueira, sociólogo e professor da Unesp

se de “alto nível”. “Acho que membros do Exército têm hoje um discurso menos ideológico e mais ponderado do que muitos civis, que mergulharam na polarização dos últimos anos”, disse. “E a experiência internacional dos militares supera a de muitos civis”, assinala.“O [Hamilton] Mourão fala fluentemente inglês e espanhol, o que não é comum entre nossos políticos”, diz. Para ele, “a abertura comercial maior e a própria classe média fazendo viagens ao exterior com mais frequência, esse movimento da sociedade brasileira também se reflete no Exército”.

FOTOS ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS; VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL; ROMERIO CUNHA/VPR

N

o catadão ministerial do presidente Jair Bolsonaro, que inclui o “posto Ipiranga”, tementes a Deus, ideólogos antiglobalistas, amigos do agronegócio e militares, estes últimos têm se revelado a voz ponderada do governo. Pode-se argumentar que diante das diatribes da Damares, dos arroubos telúrico-nacionalistas dos ministros Ernesto Araújo e Ricardo Vélez e da própria obliteração discursiva do presidente, mostrar-se mais sensato do que os colegas é menos proeza que obrigação. Mas cumpre reconhecer que diversos militares de instâncias e estamentos diferentes, do vice-presidente e general da reserva do Exército Hamilton Mourão ao tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, apresentado ao Brasil com a tragédia de Brumadinho, vêm se destacando não só pelos discursos bem articulados como pela inesperada intimidade com câmeras e microfones. Assim, quem apostou que a ocupação castrense dos primeiros escalões do governo Bolsonaro traria de volta os cenhos franzidos e os “nadas a declarar” da ditadura parece ter perdido dinheiro. Ainda que media training não faça parte do currículo escolar das escolas de formação de oficiais do Exército, como a septuagenária Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), de Resende, no Rio, onde se graduaram, entre outros, Bolsonaro, Mourão, o ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz e Edson Leal Pujol, atual comandante do Exército, analistas ouvidos pela PODER são unânimes em afirmar que a instituição se modernizou nas últimas décadas, tendo a geração de oficiais hoje no comando se beneficiado de missões militares como as do Haiti, que durou 13 anos e trouxe certa internacionalização à arma; no front interno também contou pontos a progressiva abertura da Aman a cadetes estrangeiros e, nos últimos anos, às mulheres. O sistema disciplinar rígido e a estrutura de internato da escola, contudo, não mudou. “O Exército segue sendo uma instituição total, fechada, que cultua valores e rituais próprios”, disse a PODER o professor Eduardo Raposo, do departamento de ciências sociais da PUC-RJ. “Mas o mundo globalizado, em que todo cadete tem um smartphone, traz abertura.” Outro sociólogo, Maurício Santoro, professor de relações internacionais (RI) da Uerj, é ele próprio um signo dessa abertura, já que no começo da década ajudou a implantar na Aman sua disciplina. Para ele, o curso dado lá é “muito semelhante” ao de uma faculdade comum, sem qualquer ingerência superior na bibliografia estudada e com debates em clas-


Alunos da Aman, Jair Bolsonaro com o ortodoxo ministro Ernesto Araújo (dir.) e Hamilton Mourão, o vicepresidente que causa comoção no governo

FIXAÇÃO A fixação pelo que se convencionou chamar de “marxismo cultural” talvez seja uma das principais linhas divisórias a separar “paisanos” e militares do governo. Se os últimos são pouco ou nada impressionáveis, os primeiros, escorados no pensamento do ideólogo-mor da direita Olavo de Carvalho, levam a conversa a um nível próximo da histeria. Em seu discurso de posse, Bolsonaro optou pelo dramático verbo “libertar” ao dizer querer “libertar o país do ‘socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamen-

te correto’”. Marxismo cultural na veia, a julgar por um texto ensaístico de Ernesto Araújo, documento que certamente o ajudou a pavimentar seu caminho para o Ministério das Relações Exteriores – além da indicação de Olavo. “O marxismo cultural busca enfraquecer o ser humano, torná-lo uma paçoca maleável incapaz de resistir ao poder do estado, criar pessoas inseguras, desconectadas, incapazes de assumir um papel social próprio ou de ter ideias que não sejam os chavões politicamente corretos veiculados na mídia”, escreveu. Mas combater os tais marxistas, ou “vermelhos”, como PODER JOYCE PASCOWITCH 35


diria Bolsonaro, já não é mais a grande preocupação “verde-oliva”. Piero Leirner, antropólogo e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), autor do livro Meia-Volta, Volver: Um Estudo Antropológico sobre a Hierarquia Militar, não acredita que o marxismo cultural seja estudado na Aman. “Tenho a impressão que diretamente não vão colocar essa literatura e essas ideias na ‘ordem do dia’. Agora, se algum professor resolver dar Olavo de Carvalho, aí é com ele. O comando veta? Não sei. O que sei é que jamais vetou Bolsonaro fazendo campanha política dentro das academias desde 2014, pelo menos.” Em contrapartida, Leirner vê digitais militares claras na campanha eleitoral, em táticas de contrainformação que ele acredita terem sido empregadas, por

MORDE E ASSOPRA

Se o clã Bolsonaro faz questão de mostrar os caninos para a imprensa – exceto aquela invariavelmente servil --, os militares do primeiro escalão têm cortejado jornalistas, a ponto de sublinhar a importância desses profissionais, como fez em seu discurso de posse o ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva. Mas é o vice-presidente, Hamilton Mourão, que mais causa comoção ao ir contra o pensamento reinante no círculo governamental. Mourão lançou uma bomba ao manifestar ao jornal O Globo uma visão bastante liberal sobre o aborto, tema particularmente caro aos bolsonaristas ortodoxos. Para o antropólogo Piero Leirner, não dá para refutar de antemão a hipótese de que as “dissonâncias” entre os setores do governo não sejam “fabricadas”. “Seria como uma extensão da campanha, que se pautou pela contradição”, diz. Mas o acadêmico abre a porta oposta. ‘‘Pode também ser consequência da junção de coisas que não combinam muito.”

36 PODER JOYCE PASCOWITCH

exemplo, nos vários discursos contraditórios emitidos por Bolsonaro e Mourão. E essas estratégias, segundo ele, já podem aparecer nas salas de aula da Eceme, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. “Há muita expertise que vem pronta, de fora. Os manuais de “OPSi” [operações psicológicas] aproveitam farta bibliografia estrangeira, como os “field manuals” americanos. Isso é assim em qualquer Força Armada, diga-se de passagem.” Com a ressalva de jamais ter estudado a caserna em profundidade, o sociólogo Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é mais um a ver certo descompasso no discurso entre civis e militares. “Dá para dizer que nas últimas décadas o Exército evoluiu política e tecnicamente, e se soltou da visão de salvador da pátria, de estar sempre pronto a intervir quando os civis perdem a condição de governar”, disse. “Se é assim, o tema do anticomunismo, agora do antimarxismo, tão caro a este governo, não entra com tanta facilidade nas Forças Armadas.” Para quem se interessa pelo tema, um livro que deve sair ainda este semestre pela editora da PUC-Rio trará algo da ideologia militar. A partir de entrevistas feitas com quase 3 mil oficiais, grande parte deles da ativa, os cientistas sociais Eduardo Raposo e Maria Alice Rezende de Carvalho, da PUC, e Sarita Schaffel mapearam o pensamento dos quartéis. Entre as revelações, o fato de a corrupção não ser o principal mal do país para os entrevistados – fica atrás do baixo nível educacional dos brasileiros; além disso, 93,4% da população, segundo os militares, não sabe votar. Os questionários foram respondidos, é importante que se diga, antes de Jair Bolsonaro viabilizar-se como candidato presidencial. n

FOTOS ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS; TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL

Cadetes mulheres, uma novidade na Aman, a escola preparatória de oficiais por onde passaram Bolsonaro, Mourão e outras figuras de proa do governo



CONSUMO POR ANA ELISA MEYER

ALI MACGRAW E STEVE MCQUEEN

Estrela do drama Love Story, de 1970, e naturalmente bela, a americana Ali MacGraw, hoje com 79 anos, encantou não só toda uma geração de espectadores como também o rei do “cool” Steve McQueen. Os atores se conheceram durante as filmagens do longa Os Implacáveis, em 1972, e a atração foi mútua e eletrizante. O romance foi um escândalo: a atriz era casada na época com o famoso produtor Robert Evans, de quem se divorciou para se casar com McQueen. Mas a relação não durou muito. O casal se separou em 1978, dois anos antes de McQueen perder a luta para o câncer de pulmão, que o matou aos 50 anos.

CLUTCH Bottega Veneta preço sob consulta bottegaveneta.com

SOFÁ Breton preço sob consulta breton.com.br

CLOSET

Hora de avaliar o que as principais marcas do mundo criaram para a temporada de frio e que foram apresentadas durante as semanas de moda masculina em janeiro em Londres, Milão e Paris. Os homens podem se jogar na cor, e os trench coats vêm com tudo, em tons diferentes de preto e cinza. Ainda na onda dos casacos, as bomber jackets prometem sair do armário em versões compridas e bem fofinhas. Para terminar, os mais modernos ainda terão a opção de calças sociais com as barras bem trabalhadas, sejam elas com zíper ou divididas ao meio. Pode apostar!

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LUSTRE Loja Teo R$ 8.500 lojateo.com.br

TERNO Ermenegildo Zegna preço sob consulta zegna.com

* PREÇOS PESQUISADOS EM JANEIRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

GRAVATA Ricardo Almeida R$ 179 ricardoalmeida.com.br

MANUFATURA

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A IWC Schaffhausen acaba de lançar a linha de relógios Spitfire, dentro da coleção Pilot’s Watches, que traz apenas calibres fabricados pela IWC e celebra a engenharia exclusiva dos aviões de combate britânicos. O Spitfire, projetado por Reginald J. Mitchell, está disponível nas versões Pilot’s Watch Automatic Spitfire, Pilot’s Watch Chronograph Spitfire, Pilot’s Watch UTC Spitfire Edition “MJ271”, Pilot’s Watch Timezoner Spitfire Edition “The Longest Flight” e Big Pilot’s Watch Perpetual Calendar Spitfire, todas em edições limitadas que não ultrapassam as 300 unidades. IWC.COM PODER JOYCE PASCOWITCH 39


FOTO ADGER COWANS/GETTY IMAGES


RESPIRO

SIMPATIA PELA BAHIA Mick Jagger, sua então namorada, Marianne Faithfull, e o pequenino filho dela, Nicholas, receberam todo o axé que podiam – e algo mais – no verão de 1968, quando chegaram a Arembepe, na época um vilarejo perdido em meio às dunas e o Atlântico a alguns anos-luz de Salvador. Os tambores de candomblé que Jagger não parou de ouvir – e tocar – acabaram de alguma forma ecoando em Sympathy for the Devil, uma das faixas do álbum Beggars Banquet, que os Rolling Stones lançariam naquele mesmo ano e que marcaria a volta ao bom e velho rock'n'roll após o curto namoro da banda com o psicodelismo. A Bahia, Jagger já sabia, tem força na encruzilhada.


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DESIGN

LUXO INCLUSIVO Ex-executivo da Diesel, o holandês Wilbert Das reinventou sua carreira ao fundar o Uxua, de Trancoso, inicialmente um hotel, hoje uma usina de criação estética POR ALINE VESSONI

FOTOS DIVULGAÇÃO

O

holandês Wilbert Das estava no auge de sua carreira como diretor criativo da grife italiana Diesel, mas ser um sobrenome do mundo da moda para ele não dizia muito. “Tinha 20 anos na Diesel e sabia que queria diminuir meu ritmo de trabalho, aquela velocidade já não fazia muito sentido para mim.” Logo depois de renovar seu contrato com a maison, deu-se férias e veio parar em Trancoso, na Bahia. Ele já tinha visitado o Brasil, conhecia Brasília, Manaus, Foz e o litoral cearense, mas não exatamente o axé. E o Quadrado estava cheio de axé. “Pensei em montar um estúdio de design e me dividir entre Trancoso e a Itália.” Veio o estúdio, depois um hotel-butique, o Uxua, e uma usina de ideias estéticas que se traduzem por uma produção de mobiliário e de acessórios como óculos e bolsas. Para tocar as empresas, Das trouxe da Diesel seu braço direito, Bob Shevlin. O Uxua ocupa 11 casas, todas elas com cozinha, suítes e jardim privativo. O “plus” é justamente o serviço de hotel, uma ideia inovadora para

Bob Shevlin e Wilbert Das, criadores dos lindos espaços do Uxua, de Trancoso, conjunto de casas com serviço de hotel de luxo

Trancoso quando de seu lançamento, que acabou “virando trend”, segundo o holandês. Celebridades mundiais, como Anderson Cooper, âncora da CNN, hoje também proprietário de uma casa na vila pensada por Das, ajudaram no boca a boca. Estrangeiros, aliás, têm feito fila: um grupo de

belgas encomendou projetos para Das que já ganharam destaque na revista do jornal The New York Times. Em Trancoso, Das e Shevlin tiveram de aprender os segredos da hospitalidade de luxo. Das já havia participado da construção de um hotel em Miami, mas dePODER JOYCE PASCOWITCH 43


AULAS DE INGLÊS Um dos nortes do Uxua é a sustentabilidade. Ambiental, econômica e sobretudo social. Em uma comunidade bastante desassistida como Trancoso, o Uxua cuida diligentemente de seus funcionários. Oferece aulas de inglês para todos que quiserem e banca 50% do curso superior para nove deles. Uma das metas para 2020, segundo Das, é ter 20 colaboradores na universidade. “Primeiro ponto é cuidar de nossas pessoas”, diz. Mas

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também é mandatório no Uxua preservar o verde, até para gerar conforto térmico. Das e sua equipe também se utilizam, sempre que possível, de materiais e móveis antigos, que restauram. Além disso, o hotel conta com aquecimento solar e o consumo

de plástico foi praticamente abolido. A hospitalidade ganhou, mas Das e Shevlin não abandonaram completamente as raízes, já que o estúdio de design, aquele do começo de tudo, segue a todo vapor, criando acessórios de muito apuro estético. n

FOTOS DIVULGAÇÃO

butava nesse métier. “Decidi me jogar completamente nessa nova aventura.” É o mesmo espírito do Uxua que a dupla está levando para Jalisco, no México, num projeto hoteleiro que tem a participação do ator Richard Gere. O mote é que hóspedes e locais convivam da maneira mais harmoniosa possível. “A ideia é ser inclusivo. Quase tudo no mercado de luxo é o que chamam de ‘exclusivo’, mas a coisa mais incrível que se leva de uma viagem é a experiência.” Claro está o que Das entende por experiência: o encontro harmonioso entre forasteiros e moradores. “É o conceito que nos levou a construir o hotel bem no Quadrado de Trancoso: ter a chance de falar com os vizinhos, ver as coisas que eles veem. É o que queremos no México.”

Nos projetos do Uxua, a natureza se integra perfeitamente às casas; chuveiro e óculos também são assinados pela dupla de designers Das e Shevlin; abaixo, a loja onde comercializam suas peças


PODER INDICA

FOTO BRUNA GUERRA

MÚLTIPLA EXCELÊNCIA

Na sala de conferência da LOGITECH, em São Paulo, um banner com a imagem de um dos craques do e-sports divide o espaço com caixas de som bluetooth, headsets, teclados, mouses e dezenas de itens tecnológicos. Nos próximos dias o local deverá ganhar o retrato de outro pro player: Igor Fraga, campeão no mês passado do McLaren Shadow Project e contratado pelo time de e-sports da escuderia de Fórmula 1 para testar, em simuladores, as inovações que Carlos Sainz Jr. e Lando Norris acelerarão nas pistas. Fraga está entre os jogadores apoiadas pela Logitech, patrocinadora de 40 equipes de e-sports, entre elas a INTZ, a mais vencedora do Brasil, e a TSM, o Real Madrid dos games. “Somos uma companhia multibrands”, explica Jairo Rozenblit, presidente da Logitech no Brasil. “A empresa nasceu na Suíça, em 1981, focada em acessórios de informática. Contudo, após a explosão dos tablets, surgiu uma dúvida: o que seria de uma empresa que vive em função de periféricos? Era preciso se reinventar, e foi o que fizemos rapidamente.” Presente em mais de 100 países, a Logitech tem sob o seu guarda-chuva divisões que abrangem uma grande diversidade de periféricos pessoais (com ou sem fio), com ênfase especial em produtos para navegação virtual, jogos, comunicações pela internet, controles de música digital e entretenimento doméstico. Entre elas estão a Astro, gigante dos games, a Ultimate Ears, marca de equipamentos de som criada pelos irmãos Van Halen, e a Jaybird, responsável pelos melhores fones de ouvido sem fio do planeta. E vem mais por aí. A companhia acaba de comprar a Blue, empresa de microfones, numa operação de mais de US$ 100 milhões. “Ano passado os concorrentes deixaram de investir e nós fizemos o contrário. Na crise enxergamos oportunidade, lançamos novas linhas e ganhamos mercado”, conta Rozenblit, antes de destacar o crescimento no mercado de ações. “Há sete anos, quando fizemos a startup no Brasil, as ações da companhia valiam US$ 7 na Nasdaq. Hoje beiramos US$ 36 e, em 2018, chegamos a bater US$ 48.” Resultado, segundo o executivo, de transformação, modernização e, acima de tudo, excelência de qualidade. LOGITECH.COM


PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN

BOM RETIRO

Era uma vez uma fazenda portuguesa do século 19 habitada por freiras que, mais tarde, deu lugar a uma cooperativa de azeite de oliva. Até que dois parisienses, um diretor da Hermès e um galerista, descobriram o achado quando procuravam uma casa de férias no Alentejo. O resultado é o Dá Licença, pequenino hotel artsy em Estremoz que merece a visita. Entre figueiras e oliveiras, a propriedade reúne um casarão principal com três quartos, mais cinco suítes espalhadas pelo jardim, piscinas e, em breve, um restaurante com especialidades locais. Tudo decorado com obras e móveis do acervo da dupla. +DALICENCA.PT

SAUNA ARTSY

Na Noruega, como os noruegueses. Uma tradição local é a sauna. E esta, a Soria Moria, fica em Dalen, cidadezinha pitoresca a 160 quilômetros da capital Oslo. A sauna é uma das estrelas de um projeto do canal Telemark que põe em relevo a arquitetura, a arte e a iluminação. A instituição pretende valorizar a beleza e as tradições locais – daí o nome do conjunto, inspirado em uma lenda da região. Localizada no hotel Dalen, a sauna é aberta também a não hóspedes. +DALENHOTEL.NO

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ESTREIA

Boa notícia para os hotel maníacos: o Mandarin Oriental de Dubai, primeira propriedade do grupo – um dos favoritos entre os viajantes – no Oriente Médio, inaugura este mês. De frente para a praia banhada pelo Golfo Pérsico, o resort terá luxos que fazem jus ao lado excêntrico do destino, caso do spa de dois mil metros quadrados com tratamentos holísticos e de rejuvenescimento e academia suntuosa. Entre os seis restaurantes, destaque para o português comandado por José Avillez – duas estrelas Michelin por seu Belcanto, em Lisboa. +MANDARINORIENTAL.COM

JÚLIA DE MEDEIROS PINTO

GERENTE DE MARKETING E COMUNICAÇÃO DA AIR FRANCE-KLM

“Me apaixonei por Amsterdã logo na minha primeira visita, ainda adolescente. Fiquei encantada em poder conhecer tudo a pé ou de bicicleta. Hoje, trabalhando em uma empresa franco-holandesa, viajo bastante para lá. Assim que chego, aproveito que o aeroporto Schiphol é praticamen te um shopping e já dou uma volta. Procuro me hospedar perto do Vondelpark, um lugar lindo em todas as estações do ano, ideal para fazer atividade física ou simplesmente curtir a natureza. Gosto de caminhar pelo De Pijp, um bairro bem jovem e cheio de vida, com vários restaurantes e barzinhos. O que não pode faltar é uma visita ao A’dam Lookout, que fica no norte da cidade, e tem um visual deslumbrante.”

ESTICA E PUXA

FOTOS GETTY IMAGES;DIVULGAÇÃO

LÁ E CÁ

Um hotel tipo nômade que vai para qualquer lugar do mundo: é essa a nova proposta da rede Accor, batizada de Flying Nest. Com design de Ora-ïto, a empreitada reúne contêineres totalmente sustentáveis com terraço e janelões de vidro para que os hóspedes estejam completamente imersos na paisagem. O projeto, que começou como experimento, foi testado em eventos como um festival de fotografia na cidade francesa de Arles, com DJ, bares e food trucks. No último inverno francês, ele foi aberto pela primeira vez ao público como ski resort em Avoriaz, numa montanha a 1.800 metros de altitude. Agora é rodar o mundo. +ACCORHOTELS.COM

Mais um bom motivo para se hospedar no Four Seasons. O personal trainer Harley Pasternak, treinador de diversas celebridades e autor de best-sellers como 5 Fatores da Boa Forma, é o novo consultor de fitness da rede. Conhecido por sua abordagem holística, Pasternak irá avaliar as instalações do grupo, criar treinos exclusivos e vídeos customizados. +FOURSEASONS.COM

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MOTOR

LAR

SOBRE RODAS

Lindos, robustos e multifuncionais, os motor-homes são perfeitos para quem está o tempo todo on the road. E eles estão cada vez mais tecnológicos

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por aline vessoni

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VARIOMOBIL – ALKOVEN

No jargão automobilístico de luxo, alcova é o espaço acima da cabine de direção, que bem pode ser preenchido por um dormitório adicional – e quem sabe quais segredos de alcova vão ser revelados aqui. O veículo tem espaço para abrigar confortavelmente de quatro a oito pessoas, mas tudo vai depender do que tem em mente o proprietário, já que o projeto interior é 100% customizável . Além do interior espaçoso, o motor-home conta com uma garagem que pode ser maior ou menor de acordo com as necessidades do dono. A partir de US$ 894 mil VARIO-MOBIL.COM

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NEWMAR – KING AIRE

O King Aire é daquele tipo de projeto que vai além da expectativa. Pode-se dizer que não é apenas um lar a acompanhar o viajante: está mais para um palácio móvel. Na decoração do interior, a presença da grife Ralph Lauren propõe uma paleta de cores ultrarrefinada. Não importa se o design tem chaises ou poltronas reclináveis; nos dois casos serão revestidas com tecidos inteligentes Ultraleather. Mas para o condutor não se sentir em desvantagem, seu assento tem regulação térmica, podendo esquentar ou esfriar. Há ainda massageador. A partir de US$ 935.766 NEWMARCORP.COM

O veículo alemão tem como base um chassi da Volvo, garantia de condução segura. Com um dos melhores sistemas de assistência de direção, o Perfection inclui ações como aviso de colisão e assistente de frenagem de emergência. Além disso, o motor traseiro de 350 cavalos garante dirigibilidade confortável e segura para os 10,8 metros de comprimento do grandão. Se é capaz de comportar carros pequenos como um Mini Cooper ou um Fiat 500 no “dock”, pense em conforto para os passageiros. A partir de US$ 890 mil VOLKNER-MOBIL.COM

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VOLKNER MOBIL – PERFORMANCE PERFECTION


FEATHERLITE COACHES – VANTARÉ INTIMIDATOR A Featherlite Coaches quer provar que a casa de quem viaja nunca está longe. Isso para os sortudos a bordo de um Intimidator, que voltou para o mercado em 2018 para relembrar os tempos das viagens gloriosas. O projeto que ostenta inovação e segurança também conta com um espaço confortável. A cabine interior comporta dois quartos extensíveis, sendo um deles a suíte máster com cama king size. Para os mais fissurados pelas telinhas, é possível instalar um televisor à prova d’água junto da ducha.

A partir de US$ 1,4 milhão FEATHERLITECOACHES.COM

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MARCHI MOBILE – ELEMMENT PALLAZZO SUPERIOR

O motor-home da Marchi Mobile foi consagrado em centenas de países como o mais luxuoso de sua categoria. Um design que fala por si e combina as tecnologias mais avançadas dos esportes a motor, da aviação e da navegação. O projeto muito aconchegante do interior foi pensado para que os viajantes – acostumados que são com o altíssimo padrão – se sintam em casa, mesmo estando a milhas de distância. Dá para ficar melhor? Dá sim, subir ao Sky Lounge, com sua incrível vista panorâmica. A partir de US$ 1, 5 milhão MARCHI-MOBILE.COM


COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO

MEU LIMÃO, MEU LIMOEIRO Usado para temperar, marinar, dar a acidez imprescindível para uma boa receita – seja doce ou salgada – ou até mesmo para ajudar a eliminar os quilos extras. Dê as boas-vindas ao limão taiti, a versatilidade em forma de fruta “O limão é um elemento fundamental na gastronomia.” A afirmação é de Neka Menna Barreto, banqueteira que conquistou um público fiel por sua cozinha natural, criativa e saborosa. E é por esse motivo que o escolhemos o limão para reinar nas páginas da PODER. Nas receitas deste mês, o protagonista é do tipo taiti, o mais consumido no nosso país. Cultivado desde o século passado na Califórnia, chegou ao Brasil a partir da importação de sementes da fonte, a ilha polinésia. Do tempero, passando pelos doces e salgados e até para ajudar a emagrecer, curar gripe e outras doenças, além de acabar com o mau cheiro em objetos, os benefícios e possibilidades de uso do limão são inúmeros. No verão, com as temperaturas lá em cima, o fruto ganha ainda mais destaque (e não é exatamente por conta da caipirinha). Cheio de vitaminas, antioxidantes e de sabor inconfundível, o limão não tem senão. Neka Menna Barreto ainda sugere uma salada nada básica em que entram beterraba, queijo de cabra, raspas de limão e morangos. Sucesso garantido. n

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PENNE LIMÃO

MARIA HELENA GUIMARÃES, CHEF DO SPOT INGREDIENTES: • 1 xícara de creme de leite fresco • 2 colheres (chá) de suco de limão • 1 colher (chá) de raspas de limão • 1 pitada de sal • 100 g de macarrão tipo penne • 1 colher (chá) de manteiga • queijo parmesão para servir MODO DE PREPARO: Coloque 3 litros de água para esquentar. Quando ferver, adicione uma colher de sopa de sal. Mexa, ponha a massa e cozinhe mexendo de vez em quando até ficar ao dente. Enquanto a massa cozinha, prepare o molho. Numa frigideira, derreta a manteiga e junte o creme de leite. Deixe ferver e reduzir. Ponha o suco e as raspas de limão e tempere com sal. Escorra a massa e junte ao molho na frigideira mexendo bem para incorporar. Prove o sal e corrija se necessário. Sirva com queijo parmesão ralado.

BOLO DE LIMÃO COM BAUNILHA E CHIA

CAROLE CREMA, CHEF CONFEITEIRA

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

INGREDIENTES: • 150 g de açúcar refinado • 100 g de açúcar mascavo • 150 g de farinha • 200 ml de óleo • 200 g de iogurte natural • 4 ovos • 1 colher (sopa) de fermento • 1/2 colher(sopa) de essência de baunilha • Raspas de 1 limão • Suco de 1 limão • 50 g de chia MODO DE PREPARO: Misture os líquidos: iogurte natural, óleo, essência de baunilha e ovos. Em outro recipiente, os secos: farinha, açúcar, fermento, chia e raspas. Junte os dois aos poucos, mexendo bem a mistura líquida de ovos com a mistura seca até que a massa fique homogênea. Adicione o limão e leve para assar por 50 minutos a 170 graus em forma de pão de forma untada e enfarinhada. PODER JOYCE PASCOWITCH 53


HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

SUBAQUÁTICOS E SUPERMODERNOS Para ir fundo: uma seleção de gadgets para fazer ótimas imagens, ouvir boa música e até controlar um drone embaixo d’água

D-MASK

Projetada pelo designer chinês ZJ-DDG, esta máscara pode transformar toda a experiência de mergulho. Transparente, cobre o rosto do mergulhador, fazendo com que ele tenha um campo de visão de 180 graus. O dispositivo pode ser usado para mergulho livre ou autônomo, com aparelhos de respiração subaquática. Você pode definir as coordenadas da atividade antes de cair na água e contar com a orientação do equipamento quando precisar voltar ao ponto inicial. Para completar, a máscara tem função de iluminação, que ajuda a enxergar e pode ser útil para chamar socorro, e ainda oferece os modos “câmera”, para registrar o passeio, e “música”, para tocar sua playlist preferida debaixo d’água. BEHANCE.NET PREÇO: NÃO DIVULGADO

GARMIN VIRB XE

A câmera VIRB XE, que tira fotos em alta definição com 12 megapixels em até 30 quadros por segundo, é capaz de chegar a 50 metros de profundidade, com captura de áudio limpo e nítido, mesmo debaixo da água. É o que garante o fabricante. Equipado com o GPS da Garmin, o aparelho tem sensores que rastreiam seus movimentos em tempo real e exibem tudo em gráficos. GARMIN.COM PREÇO: R$ 1.599

YAMAHA SEASCOOTER RDS200

E o que você acha de uma scooter para explorar o fundo do mar? Este veículo é ideal para mergulhadores não profissionais e entusiastas de snorkeling. O Seascooter RDS200 alcança profundidade de até 65 pés (20 m) e velocidade de 2.0 mph (3,5 km/h). É projetado para água salgada, pesa 6 quilos e a bateria suporta até uma hora de uso.

YAMAHASEASCOOTERS.COM PREÇO: R$ 1.761,45

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ROBOSEA BIKI

O drone para mergulhar com você. Pequeno e simpático, este aparelhinho pode ser controlado de duas formas. Quando estiver na superfície, pelo smartphone, por meio de um app com imagens em tempo real. Quando estiver mergulhando, por controle remoto de comunicação acústica que permite dar as direções, acelerar, fazer fotos e vídeos. O aparelho tem sensor para evitar obstáculos e GPS embutido, que o faz retornar para base automaticamente quando há perda de contato. A câmera HD faz fotos de até 16 megapixels e vídeos 4K, com lentes de 150 graus. O Biki tem memória interna de 32 GB, menos de 25 cm de comprimento e pesa pouco mais de 1 quilo. ROBOSEA.ORG PREÇO: R$ 2.980

SUNSCREENR VOXELIGHT

Se você gosta de mergulhar, mas não se dá bem com o sol antes de entrar na água, este pode ser um bom companheiro. O Sunscreenr é uma minicâmera à prova de água que parece um chaveiro colorido, mas é capaz de captar imagens com filtros de luz ultravioleta para confirmar se o protetor solar foi bem aplicado. Quer mais? Ele pode gravar pequenos vídeos de até 30 segundos e tem entrada USB. A bateria dura até 48 horas. SUNSCREENR.COM PREÇO: R$ 336

SUUNTO D4I NOVO

Além de leve e estiloso, este relógio de mergulho tem algoritmo de descompressão contínua total, quatro modos de mergulho (air, nitrox, free e off), timer de apneia e planejador de mergulho. Os registros gráficos são detalhados e os dados de mergulho podem ser compartilhados com PC ou Mac utilizando o software Suunto DM5. Pesa 92 gramas. A pulseira de silicone é oferecida em 11 cores. SUUNTO.COM PREÇO: R$ 2.084

JOÃO CIACO, head of brand marketing

* PREÇOS PESQUISADOS EM JANEIRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES FOTOS BRUNA GUERRA; DIVULGAÇÃO

communication do Grupo FCA Latam “No cargo que ocupo é comum passar boa parte do tempo viajando. Por isso, preciso me cercar de aplicativos que ajudem a resolver a vida no celular como, por exemplo, os apps de bancos, de compras, como Amazon, de locomoção, de passagens aéreas, dentre outros relacionados à vida do viajante. A tecnologia é meu curinga, não só para o trabalho, mas também para o entretenimento. Durante as viagens Netflix, Spotify e apps das companhias aéreas são meus aliados. Outro item que está sempre comigo é o Kindle, para atualizar a leitura. A minha mais recente descoberta foi o Muse, aplicativo que vem me ajudando no hábito da meditação diária.”

LOW-TECH

TALHERES O2

Assinados pelo renomado arquiteto português José Manuel Carvalho Araújo, os talheres O2 representam o ponto de convergência entre as culturas ocidental e oriental, a materialização da diversidade e do ato social e cultural que a gastronomia propicia. Sua dupla função – tanto como hashi quanto como talher ocidental – traz versatilidade, fundindo em um objeto duas culturas, duas histórias, duas almas. Fabricados em aço pela empresa luso-brasileira ALMA Design d’Auteur, estão disponíveis em caixas com um ou seis pares e inauguram a seção Passaporte dpot objeto, que traz um olhar apurado dos curadores da marca também para a produção de design internacional. INSTAGRAM - @DPOTOBJETO

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CULTURA INC. POR LUÍS COSTA

CIRCO MÁGICO

Cenógrafo de OVO, único espetáculo brasileiro do Cirque du Soleil, Gringo Cardia fala sobre a montagem que estreia em março

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FOTOS DIVULGAÇÃO

ós brasileiros somos muito barrocos”, afirma o arquiteto e cenógrafo Gringo Cardia, responsável pela direção de arte do espetáculo OVO, que a companhia Cirque du Soleil traz ao Brasil nove anos depois de sua primeira mon- tagem no Canadá. Assinada por Gringo, pela coreógrafa Deborah Colker e pelo músico Berna Ceppas, a peça é a única montagem brasileira da trupe. “Foi fácil porque o Cirque du Soleil também é barroco. Ele é um barroco mais medieval, um medieval modernizado. O casamento foi perfeito.” OVO – cujas letras em maiúsculas representam graficamente um inseto visto de frente – põe no palco um ecossistema vivo e colorido de bichos enormes. “Tudo é gigante”, diz Gringo. “Nesse mundo macro, você olha o gafanhoto e ele é quase um alienígena”, afirma o cenógrafo, que conta ter se inspirado nas memórias de infância,

Gringo Cardia, para quem o Cirque du Soleil manteve a magia do circo de lona

quando brincava com insetos e via ali um mundo particular. A história do espetáculo, que estreia em março e passa por Belo Horizonte, Rio, Brasília e São Paulo, começa quando a vida de uma comunidade é balançada pelo aparecimento de um ovo misterioso. A estranha aparição desperta a curiosidade dos habitantes locais e desencadeia o reconhecimento do outro – e, consequentente, o encontro com o diferente. “O enigma ovo é o enigma da vida”, diz Gringo. “É o começo que todo mundo quer explicar, mas não há nunca uma explicação completa´.” O cenógrafo compara o ovo do Cirque ao monolito usado pelo diretor Stanley Kubrick na famosa sequência inicial do clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço, de 1968. No compasso da música brasileira, com xote, baião e samba, o espetáculo tem como grande atração uma parede formigueiro gigante, que se converte em palco para a dança dos gafanhotos acrobatas. O número é inspirado nas célebres performances musculares criadas por Deborah Colker ao fazer de paredes verticais tablado de dança. “O pessoal do Cirque viu em Londres e se apaixonou por ela. Eles queriam de qualquer maneira que a gente fizesse um espetáculo usando aquela técnica”, conta Gringo. Para o cenógrafo, o Cirque du Soleil, mesmo com a característica grandiosidade de suas produções, manteve a magia primitiva do circo de lona. Ele conta que a companhia mantém olheiros em pequenas cidades do interior de países como Rússia e China à procura de velhos números circenses, alguns em desuso, prontos para virarem matéria de memória. “O Cirque du Soleil tirou o circo da possibilidade de desaparecer”, diz Gringo. n PODER JOYCE PASCOWITCH 57


CINEMA

O MÊS DE BETHÂNIA

Em Fevereiros, documentarista Marcio Debellian mostra uma humana, demasiadamente humana Maria Bethânia em sua Santo Amaro natal e no Carnaval da Mangueira, que fez dela seu enredo em 2016

E

m fevereiro, Maria Bethânia é Carnaval. Nas ruas de sua Santo Amaro da Purificação natal, a baiana filha de Dona Canô não abandona o ritual de cerimônias religiosas, folguedos e samba. Em 2016, quando a Estação Primeira de Mangueira escolheu a cantora como enredo do seu desfile, o documentarista Marcio Debellian acompanhou a rotina de Bethânia entre Rio e Bahia no mais carnavalesco dos meses. O resultado é Fevereiros, documentário que já rodou 29 festivais de cinema pelo mundo e chega agora às telas brasileiras. Bethânia já tinha sido protagonista de outro filme de Debellian (O Vento Lá Fora, de 2014), que se debruça sobre a poesia de Fernando Pessoa. Mas a história de encanto pela intérprete baiana é mais antiga: co-

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meçou em 1996, quando a cantora fazia o show Imitação da Vida, no Rio. “É muito vivo para mim o dia em que eu entrei no Canecão. Fiquei acachapado”, lembra. “Foi um momento extraordinário, de mudança na vida. Quando você entra no universo da Bethânia, você entra num clarão. A magia foi feita ali”, reverencia o diretor. A ideia de um documentário sobre a cantora veio com o anúncio de que a Mangueira faria o Carnaval da “Menina dos Olhos de Oyá”, ou Iansã, divindade das águas na

mitologia iorubá e uma das orixás de Bethânia. “Pensei: ‘Isso vai ser grande’”, conta Debellian. A expectativa se justificava: era o ano do centenário da primeira gravação de um samba no país e a Mangueira, mais popular agremiação carnavalesca do Brasil, homenagearia a cultura baiana da qual o samba carioca bebeu na fonte. “Achava que tinha um arco histórico nisso”, diz o documentarista. Fevereiros faz uma ponte contínua entre Bahia e Rio, o casario, ruas e igrejas de Santo Amaro e a quadra e o barracão da Mangueira e o Sambódromo carioca. No Recôncavo Baiano, Bethânia mantém intocada a antiga tradição dos festejos sincréticos do catolicismo e do candomblé, às vésperas do Carnaval. No Rio, ela sobe o morro da Mangueira e desfila na avenida com a escola que seria a campeã daquele ano. No universo de Santo Amaro, que inspirou o enredo vencedor, Debellian diz ter conhecido de perto uma Bethânia completamente despojada do brilho dos palcos. “Ela é uma mulher generosa, que ama sua terra, sua família, sua cidade”, diz o diretor. “Santo Amaro é onde está a menina dos olhos de Oyá, onde eu vi a Bethânia mais com semblante de menina: descalça, andando pela rua, conversando com os amigos, relaxada, feliz.”


PODER É 1

FOTOS DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO; FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL

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1 - DEU NO NYT Histórias Afro-atlânticas, exposição organizada pelo Masp e o Instituto Tomie Ohtake no segundo semestre do ano passado, foi eleita a melhor no mundo em 2018 pelo crítico Holland Cotter, do jornal The New York Times. A mostra reuniu 450 trabalhos de 214 artistas, do século 16 ao 21, que refletiam as consequências da escravidão e da diáspora africana. 2 - LOBATO LIVRE Com a entrada em domínio público da obra de Monteiro Lobato (1882-1948), uma

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série de relançamentos e adaptações deve chegar ao mercado nos próximos meses. Como a adaptação para o século 21 das histórias infantis do criador de Narizinho e Emília, pelo escritor Pedro Bandeira, e a filmagem do longametragem Sítio do Picapau Amarelo, pela Clube Filmes. 3 - O SOM DA CAPITAL Quais músicas eram cantadas na São Paulo do século 19? Com essa pergunta em mente, a musicóloga Anna Maria Kieffer traçou um painel das canções ouvidas na velha cidade no disco

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São Paulo: Paisagens Sonoras (1830-1880), lançado pelo Sesc/SP. A pesquisadora mapeou e desenhou um panorama sonoro da capital paulista no momento em que o velho vilarejo perdido no planalto começa a se transformar em potência industrial, urbanística e cultural. Acompanhado de um opúsculo, o disco colige cantigas de rua, pregões, cantos de trabalhos, além de músicas escritas e cantadas pelos estudantes do antigo Curso Jurídico, hoje Faculdade de Direito da USP.

4 - MÁQUINAS DO TEMPO Com câmeras e gravadores lendários, antigos projetores e moviolas, a exposição Galáxia(s) do Cinema, em cartaz no Museu de Arte Moderna do Rio, conta a história da arte cinematográfica a partir do desenvolvimento da técnica. A mostra apresenta peças raras e pouco vistas no Brasil, como um daguerreótipo e câmeras usadas em clássicos do cinema brasileiro, como a que Adhemar Gonzaga comprou para os estúdios da Cinédia no fim dos anos 1920. Até 10 de março.

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ESTANTE

A desembargadora Kenarik Boujikian tem uma longa carreira nos tribunais. Entre os casos que julgou está o processo contra o exmédico Roger Abdelmassih a quem condenou a 278 anos de prisão em regime fechado pelo estupro de 39 mulheres. Mas sua trajetória também guarda lembranças delicadas. Como as dos tempos de criança, quando ensinava o português à sua mãe. De origem armênia, nascidas na Síria, Kenarik teve vantagens para aprender o idioma porque veio para o Brasil aos 3 anos. “Minha mãe queria ler e pronunciar melhor. Na época eu estava lendo Pollyanna [de Eleanor H. Porter] e fazíamos leituras juntas. Dávamos boas gargalhadas”, relembra. Para Kenarik, o gosto pela literatura tem diversas origens. Ela também lembra-se do pai superentretido com romances policiais. “Ele parecia que viajava quando lia aquelas histórias.” Ao cursar o magistério, deparou-se com uma pesquisa que dizia que o hábito da leitura era construído na infância. “Por isso, quando trabalhei numa entidade assistencial, fiz questão de facilitar o acesso aos livros”, conta. A exaustiva leitura técnica também é parte inerente de seu trabalho. Algo que ela aprendeu com o professor-doutor Walter Ceneviva, que as decisões assertivas só chegariam com horas de estudo. “Dá mais clareza e sentido às ações em jogo. O juiz tem a obrigação de estar aberto aos novos pensamentos.”

CABECEIRA CRIME E CASTIGO FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

Trata das tensões psicológicas nas relações humanas e a carga que cada ser humano carrega. Reli quando comecei a trabalhar na área criminal, como procuradora do Estado, atuando na defesa de réus sem condição de pagar advogado. Foi particularmente importante para melhor compreender a confissão de alguns deles. VIDAS SECAS GRACILIANO RAMOS

A leitura obrigatória no colégio causoume enorme impacto. Conhecer os contrastes do Brasil por meio da família de retirantes, acompanhada da magérrima cadela Baleia. Acho que a crueza em ver que pessoas não têm o mínimo para viver e que isso tudo é fruto de uma sociedade de classes, de governos injustos.

A OLIGARQUIA BRASILEIRA - FÁBIO KONDER COMPARATO

Vivemos um período tão difícil no Brasil e esta obra ajuda a melhor entender o que se passa, remetendo ao nosso passado, nossas origens, com pistas para a necessária superação se queremos construir um país mais igualitário.

POR ALINE VESSONI

TODOS OS CONTOS CLARICE LISPECTOR

A obra reúne mais de uma centena de contos. Gosto desse gênero literário e Clarice é simplesmente fantástica, prazerosa, pra ler sempre. Gosto de ouvir contos em CDs, quando estou dirigindo. É bom demais ouvir histórias narradas por Paulo Autran e Aracy Balabanian.

REUNIÃO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Dez livros de Drummond numa só edição. Poesia faz muito bem para a alma. E ele é para ler sempre, reler, ler em voz alta. Só com os olhos. Abrir a página aleatoriamente. Seria bom se todos os dias pudéssemos começar com uma poesia.

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A parte da consideração da literatura, em seu sentido amplo, é um direito humano. Gosto especialmente como ele mostra que nas sociedades mais estratificadas a literatura também se estratifica e, como em sociedades que buscam ser mais igualitárias, há aumento do hábito da leitura. Ele fala, de algum modo, de políticas públicas e atividades culturais.

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

O DIREITO À LITERATURA ANTONIO CANDIDO


UNIVERSO PARTICUL AR POR ALINE VESSONI

FOTOS LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO; ESTEVAM AVELLAR/TV GLOBO; DIVULGAÇÃO

O cineasta, diretor e roteirista Luiz Fernando Carvalho ficou conhecido pela longa trajetória na TV, mas também por sua paixão pela literatura e a competência em adaptar – ou nas palavras dele, transfigurar – inúmeros romances para as telas com intuito de formar “consciência de quem somos”

Enquanto muita gente sonhava com férias em Nova York, Taiti ou Paris, Luiz Fernando Carvalho contava os dias para se embrenhar pelo sertão pernambucano e conhecer os mestres do Cavalo-Marinho para absorver toda a dramaturgia existente na cultura popular. Transferiu com maestria a genialidade do povo para a televisão, vide Hoje É Dia de Maria, minissérie derivada de contos tradicionais e repetidos por indígenas, negros, ibéricos, “as raças fundadoras da nossa cultura”. “Trata-se de algo que não cessa. Agora, com a vinda de refugiados, chegam histórias que vão se misturar às nossas. Um movimento rico e belíssimo de dramaturgia.” Quase sempre na contramão, esquivando-se das narrativas óbvias, Carvalho construiu uma trajetória na TV brasileira marcada por rupturas e sempre sentiu-se tentado a voltar por acreditar em um pro-

pósito educacional para sua arte. “No meu modo de sentir, sempre acreditei que as TVs abertas como concessões públicas deveriam pegar para si uma missão maior, de formar cidadãos, por isso todos os meus projetos tinham um forte substrato ligando educação à estética.” Uma ópera em um meio popular: unir a baixa à alta cultura é sua forma de mostrar um cabedal artístico ao homem comum e simples, que nunca saiu do Brasil ou foi a um grande museu, “atra-

vés dos sentidos de uma narrativa que lhe está sendo proposta como um modo diferente de olhar as coisas”. Para Luiz Fernando Carvalho, propor isso em canal aberto “é sinônimo de resistência, quase revolucionário se partirmos do pressuposto de que o mercado só reverencia consagrações imediatas”. Ele confessa que, embora não veja muita diferença em seu processo criativo, seja na TV ou como cineasta, estava sentindo saudades de si mesmo. n

UM ESCRITOR: Fiódor Dostoiévski

UM(A) AMIGO(A): Juliana Carneiro da Cunha

UM CONTO: “Amor”, de Clarice Lispector

UM “MESTRE”: Ariano Suassuna UMA MÚSICA: “Adagietto”, da 5ª Sinfonia

QUEM VOCÊ GOSTARIA DE “TRANSFIGURAR”?:

Transfigurar é se deixar atravessar! Guimarães Rosa? Faulkner? Cortázar? Graciliano? Kafka? Borges? Pessoa? Camus? Drummond? Woolf? Gide? Roth?… Impossível responder UMA TRANSFIGURAÇÃO: Adélia Prado UM FILME: Viver a Vida, do Godard

de Gustav Mahler UMA BANDA: Fanfare Ciocarlia UM LUGAR: Palmira, deserto da Síria UMA PALAVRA: Salve!

UMA LEMBRANÇA: o

Vivian Maier

primeiro take a gente nunca esquece

UM ARTISTA:

SUA MELHOR COMPANHIA:

Dimitris

sempre o amor

UM FOTÓGRAFO:

Papaioannou UM DIRETOR: Jean-Pierre e Luc Dardenne UMA ATRIZ: Liv Ullmann

O QUE NÃO PODE FALTAR NO SEU SET? o acaso UM ATOR: Irandhir Santos

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TREINAMENTO CORPORATIVO

DELEGAR NÃO É RENEGAR P

ara qualquer CEO ou empreendedor o ato de delegar é um desafio. A maioria das pessoas nessas posições tem vocação para o controle e, ao querer saber tudo o que se passa na empresa, tem dificuldades em delegar. Ao longo da carreira, ou do crescimento de um negócio, percebemos que não conseguimos controlar tudo. E que os efeitos colaterais dessa ambição não são nada saudáveis: estresse, privação do sono, ansiedade, falta de perspectivas. Somado a isso, há um momento em que é preciso ter na equipe colaboradores mais seniores, e pessoas assim querem ter mais espaço e poder de decisão. Então ocorre um tipo de comportamento que observo em muitos dos meus clientes. Os que controlavam tudo passam a delegar tudo. E como isso não funciona e os resultados pioram, eles pegam a rédea de volta com ainda mais força. “Esse negócio de delegar não dá certo, as pessoas não têm

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o mesmo nível de comprometimento e dedicação.” Foi assim, em tom de desabafo, que um empresário recentemente me procurou. Conforme nosso processo avançava, conseguimos chegar a um consenso: controlar tudo e gerenciar os efeitos colaterais disso não traria o crescimento sustentável que ele desejava. A solução seria delegar, mas não da forma como havia feito. Para achar o tom certo, pedi a ele um exercício chato, mas poderoso. Listar por uma semana todas as atividades que controlava. Para sua própria surpresa, apareceram na grande lista desde despesas de viagens dos diretores até detalhes de eventos com os principais clientes. Ficou claro que ele não estava dedicando sua energia e talento naquilo que realmente importava. Propus então que ele classificasse sua lista de atividades em três tópicos: “nem a pau”, “delegar” e “renegar”.

“Nem a pau” eram as atividades que ele não abriria mão e continuaria fazendo. Por exemplo: contato com os grandes clientes. Já no segundo grupo, o chamado “delegar”, estavam apresentações dos resultados aos gerentes e a agenda da convenção de vendas. O importante em delegar é deixar a responsabilidade de execução com outra pessoa, mas se colocar à disposição durante o processo, como no caso das reuniões intermediárias de verificação do andamento do tema. Por fim o “renegar”, que o CEO confundia com delegar, eram as tarefas que ele passaria a responsabilidade e o controle para outra pessoa. Só se envolveria com a atividade em último caso – a função de controle do check-up dos executivos foi entregue ao diretor de RH. Na hora de dividir a lista percebemos que o “nem a pau” tinha poucos itens, o que liberou a agenda do CEO para potencializar suas fortalezas, aprender coisas novas, costurar alianças estratégicas e viabilizar uma aquisição. Usando bem melhor seu tempo e o da sua equipe, meu amigo conseguiu afinal o que todos queriam: maior qualidade no trabalho, mais motivação e engajamento e, lógico, melhores resultados. Se você tem perfil controlador e dificuldades em delegar, quem sabe essa metodologia lhe ajude a extrair o melhor da sua equipe e de si mesmo. Rabisque a sua lista. n Sergio Chaia é coach de CEOs e atletas de alto rendimento e faz mentoria na Endeavor. Ex-CEO da Nextel e da Sodexo, é autor do livro Será que É Possível? (ed. Integrare)

ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; FOTO ARQUIVO PESSOAL

por sergio chaia


CARTAS cartas@glamurama.com

ENSAIO

Ótimas fotos! Sou fã do Calloni (PODER 123). @cristianesilva4300, via Instagram O ensaio ficou sensacional. @betofeitosa, via Instagram

FOTO MAURICIO NAHAS

ALMOÇO DE PODER

Muito interessante a entrevista com André de Almeida (PODER 123) e os delírios da esquerda brasileira. É fato que a Petrobras tem que pagar pelo prejuízo que causou. José Pedro, São Paulo (SP), via e-mail

/poder.joycepascowitch

NOVO JEITO DE COMPRAR

redes sociais são um perigo, como discordar? É sensato discorrer sobre o assunto nos dias de hoje, com as relações pessoais tão atrapalhadas na era digital. Silvya Renner, Santos (SP), via e-mail

TERAPIA DO OFF

AGENDA PODER

A reportagem é ótima para quem trabalha com varejo e loja física (PODER 123). E boa para quem estava pensando em apostar todas as fichas nas lojas virtuais também. Renata Machado, Rio de Janeiro (RJ), via e-mail

Depois de ler a reportagem (PODER 123), me sinto na obrigação de comprar o livro desse Jaron Lanier. Afinal, se um dos pioneiros do Vale do Silício está convencido de que as

@revistapoder

COLCCI + colcci.com.br HUGO BOSS + hugoboss.com IWC + iwc.com MOVADO + movado.com.br RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br SAPATARIA COMETA + sapatariacometa.com.br

@revistapoder

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Palavras raramente traduzem com a potência e o rigor necessários a indignação, o estupor, a perplexidade, a tristeza e a revolta geradas com tragédias bem brasileiras como a deste verão – a tragédia da Vale 2 – episódio Brumadinho. Sobre as vidas perdidas e sobre o ambiente desoladamente contaminado por meses ou anos à frente paira a frase, ao mesmo tempo precisa e patética, do presidente da mineradora, Fabio Schvartsman: “Como vou dizer que a gente aprendeu [com Mariana]?”. É paradoxal constatar que em tempos de inteligência artificial e quarta revolução industrial, o Brasil ainda é dependente de uma atividade extrativista de baixo valor agregado que é feita com enorme risco para as populações locais e para o meio ambiente. E que, em nome de uma geração de receita finita, insustentável, fadada a manter o país num patamar de pária global, protocolos mínimos de segurança e governança – não apenas corporativa, mas política – são empurrados para baixo do tapete. Ou, melhor dizendo, para cima da barragem.

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FOTO BOMBEIROS MG

DOR


É com muito orgulho que o Grupo Glamurama apresenta seu caçulinha, o berinjela.com, onde selecionamos produtos de várias marcas pra lá de especiais – e, viva!, para comprar na hora. Com esmero, tentamos separar o joio do trigo, e elegemos o que cremos ser a cara de nossas leitoras. E vamos além do estilo: aqui só entra o que é feito de forma ética e sustentável. Clique e fique à vontade!


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