Revista Poder | Edição 124

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ESTANTE

A desembargadora Kenarik Boujikian tem uma longa carreira nos tribunais. Entre os casos que julgou está o processo contra o exmédico Roger Abdelmassih a quem condenou a 278 anos de prisão em regime fechado pelo estupro de 39 mulheres. Mas sua trajetória também guarda lembranças delicadas. Como as dos tempos de criança, quando ensinava o português à sua mãe. De origem armênia, nascidas na Síria, Kenarik teve vantagens para aprender o idioma porque veio para o Brasil aos 3 anos. “Minha mãe queria ler e pronunciar melhor. Na época eu estava lendo Pollyanna [de Eleanor H. Porter] e fazíamos leituras juntas. Dávamos boas gargalhadas”, relembra. Para Kenarik, o gosto pela literatura tem diversas origens. Ela também lembra-se do pai superentretido com romances policiais. “Ele parecia que viajava quando lia aquelas histórias.” Ao cursar o magistério, deparou-se com uma pesquisa que dizia que o hábito da leitura era construído na infância. “Por isso, quando trabalhei numa entidade assistencial, fiz questão de facilitar o acesso aos livros”, conta. A exaustiva leitura técnica também é parte inerente de seu trabalho. Algo que ela aprendeu com o professor-doutor Walter Ceneviva, que as decisões assertivas só chegariam com horas de estudo. “Dá mais clareza e sentido às ações em jogo. O juiz tem a obrigação de estar aberto aos novos pensamentos.”

CABECEIRA CRIME E CASTIGO FIÓDOR DOSTOIÉVSKI

Trata das tensões psicológicas nas relações humanas e a carga que cada ser humano carrega. Reli quando comecei a trabalhar na área criminal, como procuradora do Estado, atuando na defesa de réus sem condição de pagar advogado. Foi particularmente importante para melhor compreender a confissão de alguns deles. VIDAS SECAS GRACILIANO RAMOS

A leitura obrigatória no colégio causoume enorme impacto. Conhecer os contrastes do Brasil por meio da família de retirantes, acompanhada da magérrima cadela Baleia. Acho que a crueza em ver que pessoas não têm o mínimo para viver e que isso tudo é fruto de uma sociedade de classes, de governos injustos.

A OLIGARQUIA BRASILEIRA - FÁBIO KONDER COMPARATO

Vivemos um período tão difícil no Brasil e esta obra ajuda a melhor entender o que se passa, remetendo ao nosso passado, nossas origens, com pistas para a necessária superação se queremos construir um país mais igualitário.

POR ALINE VESSONI

TODOS OS CONTOS CLARICE LISPECTOR

A obra reúne mais de uma centena de contos. Gosto desse gênero literário e Clarice é simplesmente fantástica, prazerosa, pra ler sempre. Gosto de ouvir contos em CDs, quando estou dirigindo. É bom demais ouvir histórias narradas por Paulo Autran e Aracy Balabanian.

REUNIÃO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Dez livros de Drummond numa só edição. Poesia faz muito bem para a alma. E ele é para ler sempre, reler, ler em voz alta. Só com os olhos. Abrir a página aleatoriamente. Seria bom se todos os dias pudéssemos começar com uma poesia.

60 PODER JOYCE PASCOWITCH

A parte da consideração da literatura, em seu sentido amplo, é um direito humano. Gosto especialmente como ele mostra que nas sociedades mais estratificadas a literatura também se estratifica e, como em sociedades que buscam ser mais igualitárias, há aumento do hábito da leitura. Ele fala, de algum modo, de políticas públicas e atividades culturais.

FOTOS REPRODUÇÃO; DIVULGAÇÃO

O DIREITO À LITERATURA ANTONIO CANDIDO


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