TREINAMENTO CORPORATIVO
DELEGAR NÃO É RENEGAR P
ara qualquer CEO ou empreendedor o ato de delegar é um desafio. A maioria das pessoas nessas posições tem vocação para o controle e, ao querer saber tudo o que se passa na empresa, tem dificuldades em delegar. Ao longo da carreira, ou do crescimento de um negócio, percebemos que não conseguimos controlar tudo. E que os efeitos colaterais dessa ambição não são nada saudáveis: estresse, privação do sono, ansiedade, falta de perspectivas. Somado a isso, há um momento em que é preciso ter na equipe colaboradores mais seniores, e pessoas assim querem ter mais espaço e poder de decisão. Então ocorre um tipo de comportamento que observo em muitos dos meus clientes. Os que controlavam tudo passam a delegar tudo. E como isso não funciona e os resultados pioram, eles pegam a rédea de volta com ainda mais força. “Esse negócio de delegar não dá certo, as pessoas não têm
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o mesmo nível de comprometimento e dedicação.” Foi assim, em tom de desabafo, que um empresário recentemente me procurou. Conforme nosso processo avançava, conseguimos chegar a um consenso: controlar tudo e gerenciar os efeitos colaterais disso não traria o crescimento sustentável que ele desejava. A solução seria delegar, mas não da forma como havia feito. Para achar o tom certo, pedi a ele um exercício chato, mas poderoso. Listar por uma semana todas as atividades que controlava. Para sua própria surpresa, apareceram na grande lista desde despesas de viagens dos diretores até detalhes de eventos com os principais clientes. Ficou claro que ele não estava dedicando sua energia e talento naquilo que realmente importava. Propus então que ele classificasse sua lista de atividades em três tópicos: “nem a pau”, “delegar” e “renegar”.
“Nem a pau” eram as atividades que ele não abriria mão e continuaria fazendo. Por exemplo: contato com os grandes clientes. Já no segundo grupo, o chamado “delegar”, estavam apresentações dos resultados aos gerentes e a agenda da convenção de vendas. O importante em delegar é deixar a responsabilidade de execução com outra pessoa, mas se colocar à disposição durante o processo, como no caso das reuniões intermediárias de verificação do andamento do tema. Por fim o “renegar”, que o CEO confundia com delegar, eram as tarefas que ele passaria a responsabilidade e o controle para outra pessoa. Só se envolveria com a atividade em último caso – a função de controle do check-up dos executivos foi entregue ao diretor de RH. Na hora de dividir a lista percebemos que o “nem a pau” tinha poucos itens, o que liberou a agenda do CEO para potencializar suas fortalezas, aprender coisas novas, costurar alianças estratégicas e viabilizar uma aquisição. Usando bem melhor seu tempo e o da sua equipe, meu amigo conseguiu afinal o que todos queriam: maior qualidade no trabalho, mais motivação e engajamento e, lógico, melhores resultados. Se você tem perfil controlador e dificuldades em delegar, quem sabe essa metodologia lhe ajude a extrair o melhor da sua equipe e de si mesmo. Rabisque a sua lista. n Sergio Chaia é coach de CEOs e atletas de alto rendimento e faz mentoria na Endeavor. Ex-CEO da Nextel e da Sodexo, é autor do livro Será que É Possível? (ed. Integrare)
ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; FOTO ARQUIVO PESSOAL
por sergio chaia