Opala Negra, de Marília Carreiro

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quem o toma, quem o limpa. A padaria funciona maquinalmente. E todo mundo compra o pão, e gosta. Justino ainda era desconhecido. Todos na vila que passavam por nós, observavam-no. Logo mais saberiam quem era ele e o que fazia. Combinamos de apresentá-lo como meu funcionário, mas tínhamos certeza que essa identidade não duraria tanto tempo. Ele não ligou para a repercussão. Voltamos para a fazenda.

A cidade começava a crescer devido à evolução financeira. O aparecimento de algumas pedras maiores nas minhas terras e nas dos lavristas vizinhos movimentava o centro comercial. A economia girava em torno da agropecuária e das pedras preciosas. Começamos a ter uma vida um pouco melhor, se assim posso dizer. Construímos, depois de curto tempo, a casa do pistoleiro. Dona Ana disse que precisávamos fazer compras, já que algumas coisas da cozinha tinham acabado. Na segunda-feira de manhã, Antônio, Justino e eu descemos a serra em direção ao mercado, para comprar o necessário. Chegando ao centro, decidimos mudar o trajeto e fomos primeiro ao bar. Lá, entre uma dose e outra, conversávamos com os colegas de Antônio, que era mais conhecido do que Justino e eu juntos. Um desses colegas, disse à surdina para Antônio que nos viu na padaria, conversando algo bem suspeito. E perguntou quem éramos. Ele, discreto, disse que eu tinha herdado as terras. O rapaz ainda insistiu, afirmando que ouviu falar na padaria que quem estava conosco era um pistoleiro de renome, que circulava pelas bandas do norte. Justino ouviu e resolveu perguntar para Antônio sobre o que se tratava a conversa. Ele respondeu que não 38


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