Opala Negra, de Marília Carreiro

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muito desconfiar, deu trela. Disse que poderia ver com o pai alguma coisa que lhe fosse útil. Ainda no fingimento, Francisco abraçou-o, como num gesto humilde. Pegou a arma e atirou de baixo pra cima, furando desde a barriga até o coração. No ouvido do rapaz, disse somente que a dívida da família custava o seu sangue e que a partir daquela hora, tudo estava acertado. O fazendeiro logo se assustou com o tiro e viu seu filho sendo jogado ao chão. Estava armado e era bom de tiro. Mirou em Francisco, mas na mesma hora em que atirou, o menino virou o corpo e por essa sorte, o tiro pegou de raspão. Justino socorreu o rapaz que, sangrando, subiu na moto e sumiu. A missão ficou pela metade. O tempo do sumiço foi para cuidar do garoto, fazer com que ninguém sequer desconfiasse do que havia acontecido. As fazendas naquela época não eram muito movimentadas e nessa só morava a família. Voltariam para matar o pai. Curado e em casa, Francisco sentia sede de vingança. Queria a qualquer custo, voltar até a fazenda e devolver o tiro que o pai do rapaz tinha lhe dado. Cada dia que se passava, o menino gostava ainda mais do que fazia, talvez até mais do que Justino. Resolveu que, a partir dali, também agiria por conta própria. Mas era um menino ainda. Não contava para ninguém além de mim sobre a vontade que tinha. Ao mesmo tempo, era amável e dedicado à família. Quem o encontrasse pela cidade, nunca desconfiaria do seu trabalho. Para todos, era apenas mais um lavrista que também cuidava de gado. Trabalhava na roça, junto com seu pai. Pedi para que ele não fosse sozinho, sua mãe ainda estava abalada com o tiro de raspão. Pedi também para que me avisasse de tudo o que faria dali pra frente. Queria tempos e prazos, para providenciar algo, se necessário fosse. Ficamos combinados. 64


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