SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA POLICIAL: QUAIS CORPOS SÃO ALVOS?
Cadernos Temáticos CRP SP
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tema da letalidade policial por meio da entrevista com policiais condenados por homicídio. E algumas histórias que foram trazidas no relatório da Ouvidoria das Polícias de São Paulo, numa parceria que foi feita, inclusive, com o CRP, com o CFP, sobre o suicídio policial, né, algumas histórias que foram colhidas a partir também de entrevistas com colegas ou familiares de vítimas de suicídio. Pois bem. Adriano ex-policial militar, ele nos fala: “Sabia que era errado, tinha convicção disso, mas também sabia que ia prender e depois ia ser solto. Quando você trabalha na cidade grande é difícil encontrar de novo, mas interior você sabe tudo sobre aquela pessoa. Na minha visão eu tava fazendo o certo, eliminando o inimigo e protegendo as pessoas de bem. População quer que você faça isso, mas te crucifica quando você faz”. Ah, só uma parte aqui, eu também li o livro do professor Adilson e ele também entrevistou policiais nessa circunstância, pode contribuir depois na hora da roda com algumas reflexões. O Sérgio, ex-policial militar: “Policial vai pegar o mal, leis são falhas, policial se sente como se ele fosse roubado, ele vê como problema pessoal e quer resolver. É difícil você chegar em um traficante e ver que o cara é a desgraça do perímetro. Policial que é idealista, que abraçou toda aquela balela, se ofende quando a viatura passa e bandido cospe na rua. Se eu pudesse, fazia mal com aquele cara”. Agora um relato de uma história de uma... de um policial que cometeu suicídio. Jorge, branco, gênero masculino, 34 anos, ensino médio completo, católico, na ativa por 11 anos, trabalhava em escala e horários alternados como cabo na PM, seu suicídio foi consumado em 2018 com arma de fogo... com arma de fogo, próximo à Igreja da cidade, com vista para a unidade policial
em que servia, ao lado do seu corpo estavam todas as suas certificações e medalhas; em entrevistas realizadas com colega de trabalho, policial militar foi reconhecido como tranquilo, alegre, amigável e bastante comprometido às atividades profissionais, com preferência àquelas relacionadas ao policialmente ostensivo e de intervenção em ocorrências em sua região; policial vocacionado, investia sua atenção às normas e procedimentos necessários a seu reconhecimento na carreira; após solicitação de transferência de unidade, a qual foi negada por seus superiores, foi submetido a mudanças injustificadas e frequentes em seu turno de trabalho, além de afastamento das atividades que exercia e designação para trabalhos administrativos. Diante desse cenário, e por aproximadamente um ano, o policial passou a demonstrar pessimismo, tristeza, com falas de desesperança, comportamento introspectivo e de isolamento social; também foram relatadas alterações no apetite, aparente depressão e verbalização do desejo de morrer; ele buscou acompanhamento psiquiátrico nos dois meses anteriores ao suicídio, fazia uso de remédios controlados, mas sem diagnóstico conhecido. No mesmo período, outros policiais pediram transferência e desistiram da mudança após a troca do comando. Aureliano, pardo, gênero masculino, 25 anos, ensino médio completo, budista, era aluno aspirante da academia de Polícia Militar no Barro Branco, seu suicídio aconteceu com arma de fogo no alojamento que dividia com outros alunos da academia; em entrevistas realizadas com familiar e colega de trabalho, o policial militar foi descrito como alegre, brincalhão, espiritualizado e determinado; ele iniciou sua carreira como soldado na PM e, determinado a seguir na insti-