SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA POLICIAL: QUAIS CORPOS SÃO ALVOS?
Cadernos Temáticos CRP SP
38
tese de que ela decorreria da questão da desigualdade social, então a gente enfrenta a desigualdade social. Mas, assim, é simplificar um pouco, porque a segurança pública ela tem nuances que... é claro, tem uma incidência importante da condição massacrante de desigualdade que a gente vive, mas que não dá pra esperar a desigualdade acabar pra que magicamente a segurança pública passe a funcionar, porque ela opera por mecanismos muito próprios e, inclusive, contribui pra que a desigualdade atinja uma não preservação da vida, da integridade, das nossas liberdades. Então tem muito campo pela frente, pra que a sociedade civil possa entrar de forma robusta na discussão sobre segurança pública, mas sem precipitar algumas discussões que foram feitas pra aqueles que têm uma visão distinta de como essa segurança pública deve operar e que já tão aí há bastante tempo, né? Então não adianta chegar lá no meio de uma discussão como essa e falar assim: “Não, a segurança tem que funcionar assim, assim, assado”. Sem o mínimo de conhecimento do que se passa. Porque você não vai ser ouvido e, enfim, a gente vai continuar meio na mesma, né? Então acho que é... a gente ainda tem muito pra caminhar aí, pra se unir, pra se organizar, pra construir um ideal de segurança pública com o qual os policiais da base possam se identificar, é pra além de compreender, possam se identificar, que a gente consiga estabelecer um ideal de segurança pública distinto desse que a gente tem aí. Porque só assim a gente vai conseguir trazer os polícias da base e isso possa fazer algum sentido pra eles, porque hoje não faz, tá no modelo mais tradicional, é o que faz mais sentido pro policial da base, pra aquele que tem expectativa de seguir
carreira policial, pra aquele se encanta com os ideias da corporação, ele tem em mente essa forma de fazer segurança pública que traz todos esses efeitos aí que a gente discutir nessa roda. Com relação à hipermasculinidade e com relação ao ethos guerreiro, a questão da masculinidade tóxica, eu só queria acrescentar que a polícia vai ser, eu entendo, sempre o último ali Bastião dessa masculinidade tóxica na sociedade, né? Então assim, no... muito pouco provável que a gente comece pela polícia esse debate, porque a questão da masculinidade nas polícias ela é presente mesmo em polícias muito melhor treinadas e em melhores condições que a gente tem no Brasil, é como Adilson coloca, esse tema ele é bastante internacionalizado, ele acontece com polícias que não matam, com polícias que não são truculentas, com polícias que são extremamente técnicas, que protegem o Estado. Então eu entendo que essa questão da masculinidade tóxica, no campo da polícia, não é... acaba não sendo muito... a gente não tem muito como penetrar, né? Acho que a gente tem como prosperar mais na discussão sobre a masculinidade fora do campo da polícia. O que eu vejo, só como link, é que, como disse pra vocês, pra além da masculinidade enquanto cultura, o que eu tenho no Brasil é uma... um uso político e uma profundidade psíquica desse tema, os policiais, que é singular, né? Então quando eu coloco aqui uma atenção pra que os policiais da base estejam menos em risco, se exponham menos a risco, de maneira geral, pra que as duas coisas possam ser estancadas, não é que eles saiam desse processo outras masculinidades, não, vão continuar tendo como valor, os valores viris ainda provavelmente serão hegemônicos dentro da