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0020 VISITA AO MANGUEZAL: CONHECER PARA PROTEGER ...................................................... Sandra Gaspar de Sousa Moura
0020 VISITA AO MANGUEZAL: CONHECER PARA PROTEGER1
Sandra Gaspar de Sousa Moura2
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RESUMO
Este trabalho é resultado de curiosidades de alunos do 8° ano da E.E.E.F.M. Dom Bosco no município de Salinópolis – Pará, a partir da leitura do texto “Manguezal” da autora Paula Louredo. Texto pequeno, mas que possibilitou inúmeras curiosidades sobre o manguezal, ecossistema que faz parte do cotidiano de todo salinopolitano. Tivemos como objetivos propor experiências e conhecimentos em relação ao manguezal, vivenciar In loco como o manguezal é berçário de vidas, valorizar e preservar o meio ambiente, observar como o homem é responsável pela transformação da natureza e escrever relatos de experiências. A visitação foi a metodologia utilizada para pôr em prática os objetivos traçados, através do aprendizado e do compartilhamento de informações adquiridas em sala de aula. Consideramos neste trabalho os conceitos e vozes de FREIRE, PCN’S e SCHNEUWLY E DOLZ. No final os alunos escreveram Relatos de experiência sobre a visitação e expuseram no pátio da escola juntamente com os registros fotográficos feitos no dia da aula extra classe.
Palavras-chave: Manguezal . Ensino-aprendizagem . Educação
INTRODUÇÃO
Sabemos que o papel da escola é formar cidadãos ativos, participativos, pensantes, colaborativos e capazes de resolver problemas, dos mais simples aos mais complexos, bem como fazer com que estes sujeitos se apropriem dos mais diversos gêneros textuais que circulam em sociedade. Por entender que o aluno só conseguirá se apropriar dos gêneros textuais orais e escritos se essa for uma prática diária, que não só professores de língua Portuguesa, mas professores, das diversas áreas do conhecimento, fizerem com que os discentes tenham esse contato. Schneuwly e Dolz (2013, p. 65) dizem que trabalhar com gêneros textuais na escola é possibilitar aos educandos terem “instrumentos de comunicação transformados em experiências”. Vimos a partir disso a importância de experimentar para construir, ou seja, partir do concreto para o abstrato, por meio das percepções construírem o conhecimento. Com isso, a relevância da proposta de visitar In loco o manguezal para que os alunos pudessem escrever o gênero textual Relatos de experiências. Acreditamos que o ensino e a aprendizagem são construções de conhecimentos, que funcionam como uma via de mão dupla e que podem ocorrer em qualquer espaço, seja ele den-
1 Relato de prática docente produzido no Curso Práticas de leitura e escrita: letramentos possíveis, realizado pelo Centro de Formação de Profissionais da Educação Básica do Estado do Pará (CEFOR/SAEN/SEDUC), junho/2020 2 Licenciada Plena em Letras pela UFPA. Especialista em Ensino aprendizagem em Língua Portuguesa e Literaturas pela UFPA. Professora de Língua Portuguesa na rede Municipal e Estadual de Salinópolis. E-mail: sgmoura@yahoo.com.br
tro ou fora da escola. Então, possibilitar que o educando tenha contato com visões de mundo diferentes do seu é de fundamental importância para uma aprendizagem significativa. Em 2019, ano em que pudemos ministrar aulas para quatro turmas de 8° anos da E.E.E.F.M. Dom Bosco, os desafios foram muitos, visto que encontramos turmas bastante diferentes umas das outras. Eram turmas desmotivadas, sem interesse pelas aulas (quaisquer que fossem), meninos e meninas desatentos a qualquer proposta dada pelos professores. Eram turmas numerosas, em salas quentes, abafadas e sem estrutura adequada a fim de fomentar a sequência didática, portanto, eram desmotivações para todos os lados, mas não podíamos desistir e as insistências de propostas de produções textuais e de escritas eram quase que diárias, entretanto a minoria correspondia às expectativas. Era desanimador. Passou o primeiro semestre e os resultados não foram satisfatórios. Retornamos ao segundo semestre e continuávamos a realizar estratégias para a aquisição da leitura, interpretação de textos e escrita, sempre com ajuda de temas transversais. Em uma das aulas lançamos mão do tema transversal Meio Ambiente e fizemos a leitura do texto “Manguezal” da autora Paula Louredo. Era um texto pequeno, de fácil compreensão, mas que rendeu curiosidades, imaginações, conhecimentos, informações, descobertas e, por fim, a necessidade do desenvolvimento de uma aula de campo. Ensinar e aprender exigem curiosidades e nada melhor do que poder proporcionar isso aos nossos alunos, sujeitos e agentes transformadores da sociedade e que precisam entender o quão importante é estar em interação com o meio, bem como contribuir ativamente para a melhoria do meio ambiente, por assim entendermos, instigamos sobre seus conhecimentos sobre manguezal, se já haviam visitado, se tinham vontade de conhecer, se conheciam ou tinham contato com catadores de caranguejos, por fim, o que sabiam sobre a fauna, a flora. A exemplo algumas perguntas sobre o assunto: O que é manguezal? Vocês sabem o que são mangues? Sabem a diferença de manguezal e mangue? Que animais vivem nos manguezais? Vocês acham que os manguezais são importantes para a sobrevivência humana? Os alunos, com seus conhecimentos limitados, ora mínimos e por vezes não sabiam o que responder, participaram do debate, mesmo que a maioria das respostas tenham sido de falta de conhecimento deste ecossistema. Além das perguntas norteadoras, ainda refletimos sobre a poluição deste ambiente, seus principais problemas, sobre sua preservação, as contribuições humanas para sua permanência e suas belezas, mesmo que passem despercebidas no dia-adia dos alunos. Então, pensamos em levá-los a conhecer o manguezal através de uma visita, para que pudessem se indagar sobre esse ecossistema, sobre seus benefícios, sua importância para os munícipes e para a sociedade em geral, com a finalidade de despertar no alunado a consciência da presença e necessidade desse ambiente para a manutenção da vida, fauna e flora, além de sustento de uma parte considerável da população não somente local, com o referido estímulo, os discentes poderiam propagar o conhecimento e agir de modo o preservar o local.
O manguezal que fomos visitar fica na Praia das Corvinas3, umas das belíssimas praias de Salinópolis4. A princípio a euforia tomou conta da sala, mas não dependia somente deles ou da professora de Língua Portuguesa, precisávamos comunicar a direção da escola e pedir autorização aos pais para que fosse possível uma visita in loco ao manguezal. Pedimos autorização à direção, que no início não foi a favor por acreditar que os pais não iriam aceitar a saída dos filhos do espaço escolar. Conseguimos mostrar à diretora a importância do evento para o processo de ensino e aprendizagem e explicamos que iríamos “criar” um grupo no whatsapp e que nele fossem adicionados os pais e responsáveis para que pudessem autorizar ou não os filhos a irem em busca de conhecimentos, através desta aula de campo. Consentimento dado através do aplicativo de forma oral (mensagens de voz), através de mensagens escritas e alguns pais vieram pessoalmente na escola para dar a devida autorização. Após as autorizações precisávamos garantir parcerias com outros colegas, para que pudessem nos acompanhar. Na ocasião, o professor de história foi convidado (nascido e criado em Salinas, filho de pescadores, dono de canoas de pescaria e um exímio conhecedor dos mangues) para nos acompanhar. A partir disso, começamos a articular como seria nossa ida, o deslocamento dos alunos, nosso roteiro, o que precisávamos providenciar, visto que “cabe a escola e ao professor articular e planejar situações didáticas de aprendizagem” (BRASIL, 1998, p. 39).
Primeiro foi criado um grupo no aplicativo whatsapp, adicionamos os pais e fizemos o convite, explicamos o motivo e os objetivo da visitação, marcamos a data, o horário e o local de saída. Então, no dia 20 de agosto de 2019, a professora de Língua Portuguesa e o professor de história deslocaram duas turmas de 8° anos (801 e 802 - Infelizmente não pudemos levar as quatro turmas por motivo de logística; somente duas que funcionavam no período da manhã). Foi uma aula diferente. Saímos dos muros da escola para irmos em busca de conhecimentos, de aprendizado porque
Outra forma de aprender além dos muros da escola é [...] através de estudos do meio. [...] o ensino linear, com aula expositiva dentro da sala, irá acabar e o estudo do meio como é uma das possibilidades de construção do conhecimento não linear. ‘Na educação e no conhecimento é preciso deixar espaço para a ambiguidade’[...]. Thompson ressaltou também a importância do ‘professor pesquisador’ que, em sua opinião, é o que realmente pode influenciar e mudar a educação. (In.: Revista Educação, 2015).
Freire (2002, p. 16) diz “que não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”, por isso a importância de observar o mundo ao redor além dos muros da escola e cabe ao professor e à escola criarem possibilidades e estratégias que provoquem curiosidades aos alunos.
3 Praia rústica, quase sem infraestrutura para o turismo, mas para quem procura calmaria é ideal. O acesso se dá pela Orla do Maçarico e para chegar até ela é necessário passar por uma ponte que fica em cima do manguezal. Fonte: tripadvisor.com.br. 4 Cidade de Salinópolis, localizada na zona fisiográfica do Salgado e com uma população no último censo de 37.421. (Disponível em<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/salinopolis/panorama. Data de acesso: 18 de outubro de 2020, às 22h19.)
A visitação provocou novos conhecimentos, novos olhares, novas vivências, socialização, abriu possibilidades de ações entre eles mesmos, porque o aluno é o sujeito da ação de aprender, aquele que age com e sobre o objeto de conhecimento” ( BRASIL, 1998, p. 22). É o ensino-aprendizagem se fazendo fora do âmbito escolar. Motivá-los a (re) conhecer um espaço que é deles, mas que nunca haviam sido “provocados” a enxergar é “uma boa situação de aprendizagem – na qual – apresenta conteúdos novos ou possibilidades de aprofundamento de conteúdos já tematizados” (BRASIL, 1998, p. 48).
DISCUSSÃO TEÓRICA
Para início de conversa, como devemos tratar: manguezal ou mangues? Segundo Brasil (2018, p. 05), “os manguezais são um dos ecossistemas mais produtivos do planeta, e sua importância para a manutenção de bens e serviços é enorme. Eles são importantes sequestradores e estocadores de carbono na biomassa e no solo.”. Entendemos, então, que os manguezais são os locais onde crescem os mangues, são importantes colaboradores para a desaceleração do aquecimento global, além de ser o ecossistema que abriga e reproduz grande parte de crustáceos, pequenos, mamíferos e aves de regiões costeiras. Já o termo mangue é empregado para “designar um grupo floristicamente diverso de árvores tropicais que, embora pertençam a famílias botânicas sem qualquer relação taxonômica entre si, compartilham características fisiológicas similares”. (BRASIL, 2018, p. 18). É importante sabermos que termo usar, já que o manguezal faz parte do cotidiano de todo salinopolitano e é de grande importância para o bem-estar da comunidade local, visto que é fonte de renda e de alimentos para muitas famílias salinopolitanas. É comum vermos ou passarmos por manguezais, ter pessoas conhecidas que exploram este local por meio do manejo do caranguejo, de sururus, sarnambis, garantindo recursos para a sobrevivência. No momento da aula prática, alguns alunos relataram que “nunca” haviam “parado” para observar, analisar, admirar, contemplar, “explorar” e a questionar aquele rico terreno, embora saibamos que a prática ambiental é necessária para o aprendizado e compartilhamento das informações adquiridas em sala de aula. Foram duas horas e meia de ensinamento, de aprendizado para a vida, de escuta dos alunos, como diz Freire (2002, p. 12) “[...] não há docência sem discência”. Entramos no meio do mangue e o professor de história mostrou o tipo de mangue existente em nossa região, o mangue vermelho (existem três tipos de mangue: preto, branco e vermelho), falamos sobre a fauna (caranguejos, guarás, garças, outros pássaros). O professor mostrou no local a formação de novos mangues, a decadência de outros e relatamos sobre a poluição deixada pelo homem, a exploração e destruição indevidas. Nós saímos dali enriquecidos, inebriados de conhecimentos vividos na prática e não somente daquele pequeno texto lido em sala de aula e cada vez mais convictos que “[...] ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua construção”. (FREIRE, 2002, p. 25].
Recebemos alguns questionamentos sobre o porquê de visitar um manguezal e como isso faria sentido para os alunos e principalmente para as aulas de Língua Portuguesa. O que precisamos entender é que nós, professores, não somos os sabedores de tudo, a escola tem que encorajar os alunos a realizarem produções e técnicas novas, tanto no que diz respeito ao ensino quanto à aprendizagem, para que possamos ter uma aprendizagem significativa, transformadora e plural. Nesse sentido, Brasil (1997, p.42) reforça: “os alunos sabem claramente o que e por que estão fazendo, aprendendo também a formular questões e a transformar os conhecimentos em instrumentos de ação”, por isso, é de fundamental importância mostrar e possibilitar aos discentes o papel da disciplina Língua Portuguesa, que a apreciem e a tenham como facilitadora para o aprendizado, reconhecimento e a prática de gêneros textuais (orais ou escritos); promotora de leitura (silenciosa ou em voz alta) como atividade permanente e o “uso da linguagem escrita [...] como apoio para registro, documentação e análise” (BRASIl, 1998, p. 49). Trabalhar e levantar questões ambientais na escola é ter em mente que estamos contribuindo para a “formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada um e da sociedade local e global” ( BRASIL, 1997, p.187). A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em sua competência geral número 10, versa a importância das atitudes que contribuem para a preservação do meio ambiente:
Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.( BNCC, 2017).
Preparar nossos alunos para agir com responsabilidade, com olhar inovador e atitudes frente ao meio que vivem é uma missão de todos que fazem parte do contexto escolar. É importante salientar que [...] “toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina” (FREIRE, 2002, p. 36) e mais ainda, fazer com saibam “o que aprender, para que aprender, como ensinar, como promover redes de aprendizagem colaborativa e como avaliar o aprendizado” (BNCC, 2017). Não é uma tarefa fácil, mas procuramos mostrar, através da teoria e da prática o quanto é necessário ser agente transformador. Neste contexto Freire (2002, p. 193) afirma “para que os alunos construam a visão da globalidade das questões ambientais é necessário que cada profissional de ensino, mesmo especialista em determinada área do conhecimento, seja um dos agentes da interdisciplinaridade que o tema exige”. Estamos em tempos de praticar técnicas inovadoras de ensino, de praticar a multidisciplinaridade, de pluralizar o saber.
PERCURSO METODOLÓGICO
Inicialmente não havia projeto para este trabalho. Era apenas uma aula com leitura de um texto sobre Manguezal para estimular a leitura silenciosa e em voz alta, mas, a partir da leitura inicial, percebemos que os alunos não tinham conhecimentos sobre o tema em questão, as-
sim, foi necessário explorar um pouco mais o texto e tentar fazer com que enxergassem o manguezal apenas de uma maneira descritiva, tarefa mediada pela professora, contudo não foi suficiente. Seus conhecimentos eram mínimos sobre esse ecossistema rico e diverso, com isso, houve a necessidade de fazer a visitação In loco. Era um dia de aula comum: apresentação do tema da aula, leitura silenciosa e em voz alta ao texto proposto “Manguezal” da autora Paula Loredo - e em seguida a exploração e indagações sobre o entendimento do texto, seus conhecimentos prévios, suas impressões, mas como já falado no início deste texto, as respostas não foram tão favoráveis assim, visto que pouco ou nada sabiam sobre a temática em questão. Diante de muitas dúvidas é que foi pensado em visitar o manguezal, que por sorte temos de sobra em nosso município. Neste contexto a BNCC (2017) propõe
selecionar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização e etc.
E assim foi feito, mas para se chegar a esta etapa, tínhamos que passar por outras mais delicadas, que seriam a autorização dos pais/responsáveis e da direção da escola. Processo de conversa, de persuasão e de confiança entre todos os envolvidos. Após os pais autorizarem os filhos (de forma oral e escrita) à visitação, era hora de preparar os alunos para irem munidos de caderninhos de anotações, água (pois íamos nos expor por muito tempo ao sol), lanche e muita curiosidade, ansiedade e expectativas para esse encontro com o manguezal. Chegou o esperado dia. A Professora de Língua Portuguesa e o professor de História a postos para receber os alunos no local de encontro (Orla do Maçarico). Alunos chegando devidamente uniformizados, pais/responsáveis trazendo os filhos e um misto de alegria, curiosidade, ansiedade, expectativas, imaginação, possibilidades. Isso era visível. Reunimo-nos em um círculo e explicamos que deveriam observar e explorar todo o ambiente, fazer anotações, perguntas quando tivessem dúvidas, registros fotográficos, entre outros. E, assim, adentramos em um universo desconhecido para eles. Freire (2002, p. 36) salienta que:
somos os únicos em que aprender é uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e à aventura do espírito.
Os registros escritos e as observações eram necessárias porque a partir deles os alunos teriam como missão final, produzir o gênero textual “Relatos de Experiências”. Para isso, Schneuwly e Dolz (2013. p.66) dizem que a
escola é tomada como autêntico lugar de comunicação, e as situações escolares, como ocasiões de produção/recepção de textos. Os alunos encontram-se, assim, em múltiplas situações, em que a escrita se torna possível, em que ela é mesmo necessária.
Trata-se, então, de valorizar e estimular a língua escrita e o gênero Relato de Experiência foi uma excelente sugestão para o trabalho e para apropriação da escrita. Após a visitação, os alunos foram orientados a voltarem para suas casas e que na aula seguinte levassem suas anotações para iniciarem a produção dos relatos de experiências. Foram dias cansativos, desde a apresentação do gênero até o produto final. Schneuwly e Dolz (2013, p. 14) dizem que é necessário “planejar o ensino do gênero” e que “gênero é instrumento [...] o instrumento é um meio de conhecimento” (BAKHTIN apud SCHNEUWLY E DOLZ, 2013.p. 25).
Quando os alunos começaram a escrever, constatamos mais ainda as dificuldades de por no papel o vivenciado, elas iam desde os problemas de norma gramatical, desvios ortográficos e de concordância, até a coerência das ideias e a progressão textual. Escreviam poucos, mas sempre tinham o feedback para poderem escrever novamente. Foram dias cansativos para nós.
Diante das dificuldades que tivemos Schneuwly e Dolz (2013, p. 69) nos fizeram compreender que
Toda introdução de um gênero na escola é o resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem, que são sempre de dois tipos: trata-se de aprender a dominar o gênero, primeiramente, para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, para melhor saber compreendê-lo, para melhor produzi-lo na escola e fora dela; e, em segundo lugar, de desenvolver capacidades que ultrapassam o gênero e que são transferíveis para outros gêneros próximos ou distantes.
Trabalhar com gêneros textuais é uma tarefa desafiadora, porém deve ser diária. Os gêneros, sejam eles orais ou escritos estão no nosso dia-a-dia e se não soubermos reconhecê-los e saber suas finalidades, nosso papel de professor demonstra uma falha, uma lacuna a ser preenchida.
Foram dias de planejamento, elaboração, construção e refacção dos textos. Brasil (1998, p. 28) contribui a este respeito
entende-se mais do que o ajuste do texto aos padrões normativos, os movimentos dos sujeitos para reelaborar o próprio texto: apagando, acrescentando, excluindo, redigindo outra vez determinadas passagens do texto original, para ajustá-lo à sua finalidade.
Eram oitenta textos, uns grandes, outros medianos, outros pequenos. Uns tinham disposição e lembranças para colocar tudo o que viram e outros quase sem ideias, mas conseguimos. Demos oportunidades aos alunos de colocarem no papel (prática) o que aprenderam. Depois dos trabalhos feitos, refeitos, corrigidos e pontuados pudemos expor na área da escola.Os objetivos propostos foram alcançados. Alunos de outras turmas admirando, lendo, conhecendo e (re) conhecendo quão importante é falar, pesquisar, visitar, explorar, expor o que é nosso.
A experiência deu certo. Pudemos perceber a curiosidade e atenção no momento da visitação até à produção dos relatos e exposição na escola. A “experiência foi única”, como disseram uns alunos, que “foi cheia de aventura”, outros relataram.
Valeu a pena os pais terem confiado seus filhos aos nossos cuidados, os reclames da direção e o cansaço daquelas aulas.
ANÁLISE DOS RESULTADOS ALCANÇADOS
Com a produção dos Relatos de Experiências, os alunos mostraram que adquiriram conhecimentos significativos, mesmo estando em fase de preparação e domínio da língua escrita, que apenas precisam de mais incentivos por parte dos professores das outras áreas do conhecimento para que possam melhorar suas capacidades de escritas e leituras, por isso, a reescrita faz papel de fundamental importância neste processo Buscar novas metodologias, novas práticas, novos conceitos devem fazer parte de nossa incansável e inesgotável busca por melhorias dentro do processo ensino-aprendizagem, bem como fazer uso da reflexão sobre o que o aluno aprendeu ou não. Brasil (1998, p. 93) ressalta que “[...] a apropriação de novos conceitos e procedimentos permite que o aluno possa realizar as atividades propostas com maior eficiência e autonomia”. Nesse sentido, o projeto contribuiu com a comunidade escolar, por entender que todos fazem parte do processo educacional, do processo de preservação do meio ambiente, da valorização dos saberes trazidos, construídos e moldados na escola. Quando Freire (2002, p. 25) afirma que “saber ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção”, faz-nos ter mais convicção que estamos no caminho certo e isso nos impulsiona a querer sempre mais, a não desistir, insistir e acreditar que a educação ainda é a porta de entrada para um futuro melhor, mais digno, criativo e reflexivo.
CONCLUSÃO
Realizar este trabalho foi cansativo, mas muito prazeroso. Conseguimos mostrar à comunidade escolar o quão importante é trazer temas interdisciplinares para a sala de aula, trazer questões locais e atuais para discussões, reflexões e análises. Mostrar aos alunos a vivência, o ambiente de sobrevivência de alguns moradores de Salinópolis, mostrar as áreas descuidadas por parte de nós mesmos e do poder público, a poluição, mas sobretudo a importância da preservação do nosso ecossistema, na ocasião foi feita uma abordagem acerca desta questão. Falamos sobre o quão importante é preservar as áreas de mangues, sobre os benefícios de reflorestamento e manutenção e proteção desse ecossistema tão rico e cheio de vida. Acreditamos que o trabalho teve bastante relevância para aqueles meninos e meninas, alheios no princípio dos semestres, cremos que a visitação no manguezal e a produção dos relatos de experiências trouxeram resultados positivos, pois cada um colocou no papel as suas conclusões a respeito do que aprenderam naquele 20 de agosto de 2019. Dia diferente para cada um.
Diante do que foi vivenciado e construído esperamos ter contribuído de forma significativa no processo ensino e aprendizagem para a escola e toda comunidade escolar e que estas
parcerias estejam sempre no mesmo caminhar, no intuito de dar continuidade a aprendizagem fora da escola.
REFERÊNCIAS
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Educação é a Base. Brasília, MEC/CONSED/ UNDIME, 2017.. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Data de acesso: 20 de outubro de 2020, às 11h02.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Atlas dos Manguezais do Brasil. Brasília, 2018. Disponível em: < file:///C:/Users/Sandra/Downloads/atlas_dos_manguezais_do_brasil.pdf> data de acesso: 22 de outubro de 2020, às 15h.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Língua Portuguesa/Mec/SEF. Brasília, 1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Apresentação dos temas transversais./Mec/SEF. Brasília, 1997.
DOLZ, J., NOVERRAZ, M. & SCHNEUWLY, B.Gêneros Orais e Escritos na escola./ tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales. – Campinas, SP: Mercado das Letras,. 3ª edição, 2013.
FREIRE, PAULO.Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra. 25ª edição, 2002.
Revista Educação. Gestores educacionais debatem a educação além dos muros da escola: Disponível em: <https://revistaeducacao.com.br/2015/02/24/gestores-educacionais-debatem-aeducacao-alem-dos-muros-da-escola/> Data de acesso: 23 de outubro de 2020, às 20h15.
Salinópolis. Disponível em<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/salinopolis/panorama> . Data de acesso: 18 de outubro de 2020, às 22h19.