GNARUS - 24
Artigo
DA TROPICÁLIA PARA AS ANTROPOFOGIAS: Jomard Muniz de Britto e a “Ideologia da Cultura Brasileira” Por Francisco Adriano Leal Macêdo
RESUMO: Buscamos aqui fazer uma cartografia de fragmentos existenciais e estético-perfomáticos do ativista cultural pernambucano Jomard Muniz de Brito. Tomando a produção literária de Jomard como fontes para esse texto, perspectivamos perceber as possíveis relações, invenções discursivas e devires que envolvem esse multifacetado sujeito. Algumas inquietações que movem esse trabalho: Como e em que medida teria se constituído um personagem que inventava bifurcações, pensando alternativas diversas aos certos regimes de verdade no âmbito cultural? Quais aspectos poderiam ser pensados enquanto um rizomomorfo – fruto de multiplicidades e máquinas desejantes? Para pensar essas questões, utilizamos autores de diferentes campos do saber, tais como Gilles Deleuze, Felix Guattari, Jorge Larrosa, Fábio Leonardo Castelo Branco Brito, Durval Muniz de Albuquerque Júnior e Homi K. Bhabha. Palavras Chaves: História, Jomard Muniz de Britto. Cultura Brasileira.
[...] o cinismo é a ironia com poder, ou a ironia no poder, e como a ironia é província do intelectual, um intelectual no poder tem o mesmo privilégio do tirano mais bem articulado de Shakespeare, que podia ser Ricardo III e ao mesmo tempo se observar sendo Ricardo III e dizendo que o que é não é e o que não existe, existe. E se maravilhando com ele mesmo. (Luís Fernando Veríssimo, Banquete com os deuses, p. 125-126).
Introdução: um dissidente na invenção do Brasil
O
Brasil enquanto nação foi – e ainda o é – inventado discursivamente.1 Um país que não foi descoberto, mas estava para ser inventado; Não estava
1 Recentemente algumas obras em torno dessa invenção discursiva de espaços foram produzidas no Brasil. Uma das mais famosas é a Invenção do Nordeste que trata sobre invenção discursiva-imagética de um nordeste a partir da literatura, música, relações políticas entre outras dimensões. A invenção de uma Brasil “pensava a nação por meio de uma conceituação que a via como homogênea e que buscava a construção de uma identidade, para o Brasil e para os brasileiros, que suprimisse as diferenças, que homogeneizasse estas realidades. [...]” Ver: ALBUQUERQUE Jr., Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez. 2011. p. 61.
Gnarus Revista de História - VOLUME XI - Nº 11 - OUTUBRO - 2020