GNARUS - 61
Artigo
APAGAMENTO E ESTEREĂTIPOS DO REINO VĂNDALO NOS MANUAIS DE HISTĂRIA GERAL DA ĂFRICA DA UNESCO Por Geraldo Rosolen Junior RESUMO: No ano de 429 os vĂąndalos migraram para a Ăfrica Romana, conquistando grande parte do territĂłrio do ImpĂ©rio Romano na Ăfrica Ocidental, e as ilhas mediterrĂąnicas ocidentais, as Baleares, SicĂlia, CĂłrsega e Sardenha, tornando Cartago a capital de seu reino entre 439 e 533. Durante esse perĂodo, o Reino VĂąndalo foi considerado uma grande potĂȘncia polĂtica, militar e econĂŽmica, e ficou amplamente conhecido atravĂ©s das crĂticas fontes eclesiĂĄsticas pela condução polĂtica-religiosa, que impĂŽs o arianismo aos membros da Corte VĂąndala, e pelas perseguiçÔes aos catĂłlicos nos Reinado de Hunerico (477-484) e Thrasamundo (496-523), contudo, o protagonismo assumido pelo Reino VĂąndalo na Primeira Idade MĂ©dia nĂŁo pareceu suficiente para integrar parte fundamental da obra HistĂłria Geral da Ăfrica da UNESCO, e que sugere um apagamento da HistĂłria desse povo. Portanto, nesse artigo iremos examinar de modo geral, como os volumes I e II sĂŁo constituem esse debate, para que possamos apontar as motivaçÔes desse apagamento, avaliando ainda, possĂveis consequĂȘncias desse apagamento, tanto para a proposta da coleção, como para a HistĂłria da Ăfrica em uma dimensĂŁo mais ampla. Palavras Chaves: UNESCO; HistĂłria Geral da Ăfrica; Reino VĂąndalo
Sobre os manuais de HistĂłria Geral da Ăfrica
D
e acordo com MĂŽnica Lima (2012) a obra HistĂłria Geral da Ăfrica havia sido construĂda e elaborada ao longo das dĂ©cadas de 1960 e 1980, sendo desenvolvida a partir de um esforço monumental, reunindo ao todo âtrezentos e cinquenta estudiosos, coordenados por trinta e nove consultoresâ (LIMA, 2012, p.279), sendo publicada pela primeira vez em 1981, em meio as grandes tensĂ”es que o continente africano enfrentava como as guerras civis e de
independĂȘncia, a obra parece ser constituĂda como reflexo desses conflitos. Ao mesmo tempo em que podemos observar eclosĂ”es nacionalistas em face do crescente sentimento anticolonialista, como nos apresenta Fabiana Barbosa Ribeiro (2015) a produção de livros e materiais didĂĄticos, assim como a construção de escolas assumiram um papel fundamental ao enfrentamento do âcolonialismoâ, principalmente por grupos como a FRELIMO que acreditavam no potencial da educação tanto em nĂveis desenvolvimentistas, como
Gnarus Revista de HistĂłria - VOLUME XI - NÂș 11 - OUTUBRO - 2020