LITERATURA BRASILEIRA PARA O MUNDO Florianópolis, SC – Fevereiro/2022 – Número 12 – Edições A ILHA – Ano IV
ENTREVISTAS: LORENA ZAGO E LUIZ C. AMORIM JORGE, O MAIS “AMADO” O AMIGO ESCRITO DE LOBATO ENSINO MÉDIO: MUDANÇAS EM 2022
THIAGO DE MELLO – A POESIA DA SAUDADE A ESCREVIVÊNCIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
SUMÁRIO JORGE, O MAIS “AMADO” ESCRITOR BRASILEIRO.................4 COMPANHIA........................................8 INCERTEZAS E ESPERANÇAS.....9 LISBOA, LISBOA...............................11 MOMENTOS ÚNICOS.................... 12 PARAMORFISMO............................ 13 A POESIA VIROU SAUDADE...... 14 OS ESTATUTOS DO HOMEM...... 15 (ATO INSTITUCIONAL PERMANENTE)................................ 15 DA CALMA E DO SILÊNCIO....... 23 MEU DESTINO.................................. 24 BIOGRAFIA DO ORVALHO......... 25 VOZES-MULHERES....................... 26 AS TRAVESSURAS NA CASA DE VOVÓ MARGHERITE............. 27
AGRADECIMENTOS 2020............ 40 PIEDADE............................................. 43 NOVO ENSINO MÉDIO: AS MUDANÇAS QUE PASSAM A VALER EM 2022............................ 44 PRESENÇA......................................... 48 À ESPERA DO NOVO ANO.......... 49 CANTIGA DE PESCADOR............ 51 UMA VIDA DE LETRAS................ 52 ASAS..................................................... 59 UM POEMA........................................ 60 O AMIGO ESCRITO DE MONTEIRO LOBATO.............. 61 UM NOVO DIA.................................. 66 JARDIM DE POEMAS.................... 67 VIM VER-TE, MELODIA............... 69 SONHO NO FEMUSC..................... 70
PAZ AO UNIVERSO......................... 33
CARTA A MINHA AMIGA............. 72
POEMA AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO......................... 34
MAGIA DE ITAPUÃ........................ 74
AMANHECIMENTO....................... 35 RENASCER........................................ 36 NAS ASAS DE UM PASSARINHO............................ 39
EM DIAS DE VERÃO, A BONDADE HUMANA................ 75 OS “MENINOS” DE DONA JACIRA................................... 78 •2•
EXPEDIENTE Literatura brasileira para o mundo Edição número 12 – Fevereiro/2022 Publicação das Edições A ILHA Grupo Literário A ILHA Florianópolis, SC Editor: Luiz Carlos Amorim Contato: lcaescritor@gmail.com revisaolca@gmail.com Grupo Literário A ILHA na Internet: http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br Todos os textos são de inteira responsabilidade dos autores que os assinam. Contate com a redação pelos endereços: lcaescritor@gmail.com revisaolca@gmail.com Veja a página do GRUPO LITERÁRIO A ILHA – ESCR I TO R ES D O B R AS I L no Facebook, com textos literários, informações literárias e culturais e poemas e a edição on line, em e-book, desta revista.
EDITORAL RESISTINDO, APESAR DA PANDEMIA Estamos de volta com mais uma edição da nossa revista ESCRITORES DO BRASIL, mais um sucesso editorial das Edições A ILHA, do Grupo Literário A ILHA. Até demoramos um pouquinho a voltar, pulamos um trimestre, mas continuamos com as edições normais da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, pois o final de ano sempre é mais agitado, ainda mais com pandemia. Pois pensávamos que o ano de 2021 se encaminhava para o seu final e com ele terminaria também a pandemia, mas não foi isso que aconteceu. Apareceu uma nova variante da covid 19, a ômicron, e as coisas começaram a recomplicar. O contágio era muito maior do que das outras variantes e rapidamente o mundo todo estava contaminado. Os novos casos aumentaram exponencialmente, as mortes também estão aumentando e os hospitais voltam a ficar lotados, com as UTIs esgotadas. Com essa nova cepa, percebemos que o fato de não tomar a vacina é assumir um imenso risco, pois quase noventa por cento das pessoas mortas ou nas UTIs não tomaram a vacina ou só tomaram a primeira dose. Então a pandemia voltou a ficar mais grave, temos que voltar a tomar os cuidados básicos: usar máscaras, usar álcool, evitar aglomeramentos, porque muitas pessoas não tomaram a vacina, não acreditaram na vacina. E agora vemos o resultado. Mas apesar de tudo isso, continuamos escrevendo e precisamos publicar, precisamos continuar a registrar na literatura a evolução (ou involução) deste nosso mundo. Aqui está a produção de nossos escritores, aqui está o que eles estão pensando atualmente, como estamos sobrevivendo com este novo “normal” que não se define. Boa leitura para todos. O editor
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REPORTAGEM
BEATRIZ SERTÓRIO JORGE, O MAIS “AMADO” ESCRITOR BRASILEIRO Areia” ou, para o público infantojuvenil, “O Gato m a l h a do e a a ndor i n h a Si n há”. Foi u m dos autores brasileiros mais traduzidos e também um dos mais acarinhados p elo s l e it o r e s . E m b o r a já nos ten ha deixado há ba st a nte tempo, no a no passado foi publicado, em Por t ugal, um novo livro d e m e m ó r i a s d o a u t o r, intit ulado Navegação de Cabot agem, no qual relat a episódios ca r icatos da sua vida, desde u ma bebedeira com Pablo Ner uda, uma reunião política com Picasso ou uma visita ao terreiro de candomblé com Dor ival Caymmi.
Jorge Amado nasceu em Pirangi, Bahía, em 1912 e faleceu a 6 de agosto de 2001. Viveu uma adolescência agitada, primeiro, na Bahía, no i nício dos seus est udos, depois no R io de Janeiro, onde se formou em Direito e com e ç o u a d e d i c a r- s e a o O DIA EM QUE jornalismo. ‘CAPITÃO DE Nasceu Jorge Leal AmaAREIA” FOI do de Faria, mas foi como Jorge A ma do que f icou LANÇADO ÀS con hecido no Brasil e CHAMAS p or t odo o mu ndo. Autor de obras de sucesso Formado em Direito, apec omo “G a b r iela , Cr avo sar de nunca ter exercido e Canela”, “Capitães de a advocacia, Jorge Amado
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foi, desde sempre, um defensor convicto da justiça e da liberdade. Militante do Par tido Comu nist a Br a si lei ro e nt re 1932 e 1956, foi preso, em 1940, por acusações de tentativa de insurreição contra a ditadura de Getúlio Varga s. A su a oposição ao regime valeu-lhe também a apreensão de Cacau, o seu segundo romance, sobre a luta de classes no hostil mundo dos t rabal hadores do cacau, bem como a incineração de centenas de exempla res de Capitães de areia - o
dor da cultura brasileira. Cont u ndo, ele própr io não se considerava relig io s o, t e nd o a f i r m a d o: “Não sou religioso, mas tenho assist ido a muita mágica. Sou supersticioso e acredito em milagres. A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres”.
DISTANCIAMENTO DA IDEOLOGIA livro de Amado mais vend ido do mu ndo i nt ei ro, que denu ncia a pobreza ext rema em que viviam a s cr ia nça s e os jovens abandonados nas ruas de São Salvador d a Ba h ia. Nest a quei ma de l iv ros em praça pública, de cor rida em novembro de 1937 na Cidade Baixa de Salvador, foram destr uídas mais de 1,8 mil obras literárias, num gesto simbólico de condenação à “propaganda do credo ver melho”. Destas, mais de 90% eram exemplares de Capitães de Areia, publicado meses antes.
A LIBERDADE, COMO O SOL Escreveu Jorge A ma do, em Capitães de Areia, que “a liberdade é como o sol. É o bem maior do
m u n d o .” P o r d e f e n d e r e s t a m á x i m a , e r e s p eitar igualmente os cultos a f r o - b r a s i l e i r o s , a l vo s f requentes de d iscr i m in a çã o e pre conceit o a o longo da História do Brasil, quando, em 1945, foi eleit o de put a do fe de r al pelo Pa r t ido Comu n ist a Brasileiro, foi o principal responsável pela inclusão da emenda constitucional mantid a até hoje, que g a r a nt e a l i b e r d a d e d e crença e culto no Brasil. Foi por volta dos 16 anos, at r avé s do a m igo et nó logo E d i l s o n C a r nei r o, que me rg u l hou n a rel igião afro-brasileira, algo que veio a utilizar como referência recor rente na con st r uçã o de pe r sonagens dos seus romances, fazendo dele não só um romancista, mas também, uma espécie de historia-
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COMUNISTA Devido à perseguição política que viveu durante o regime de Getúlio Vargas, Amado foi forçado a viver em diferentes pontos do mundo até voltar em def initivo para o Brasil. Tendo sido acolhido por países como a Argentina, o Ur u g u a i , ou o Rei no Un ido, aproveit ou t a mbém, em vir t ude da sua i ncli nação ideológ ica , pa r a c on he ce r d ive r sos países comu nistas. Para além da União Soviética, passou pela Checoslováq u i a (a t u a i s R e p ú bl i c a C h e c a e E s l ov á q u i a) , Polónia, Hungria, Roménia, Bulgár ia, Mongólia e China. Contudo, apesar de ter nar rado os seus r el a t o s d e v ia ge m nu m livro chamado O Mundo da Paz, no qual tecia lar-
gos elogios aos regimes destes países, mais tarde, após as denúncias dos crimes de Stalin, proibiu a su a reed ição. Acred it a-se que foi t a mbém o afastamento gradual desta ideologia política que o levou a abandonar um livro inédito, de conteúdo revolucioná r io, cujo manuscrito inacabado faz hoje parte do acervo pessoal do autor.
CARTAS A SARAMAGO Nas suas viagens, Jorge Amado conheceu dezenas de jornalistas e escritores c éle b r e s . Pa r a a lé m d e ser amigo de personalidades brasileiras como o músico Dorival Caymmi, o poeta Vinícius de Moraes, ou o cronista Rubem Braga (com quem par tilhou o mesmo teto por um curto período de tempo), foi companheiro de viage n s d e Pa blo Ne r u d a , e fez am izade com os filósofos escritores franceses Jean-Paul Sar tre e Simone de Beauvoir, entre outros. Mas foi com o Nobel da Literatura portuguesa, José Saramago, que manteve uma correspondência t ão prol íf ica que foi até reunida num livro, intitulado “Com o
mar pelo meio”. Te n d o S a r a m a g o , n a alt u ra, 70 anos, e Jorge Amado mais dez, os dois escritores separados pelo Atlântico desenvolveram uma amizade que se tradu z iu nu m a c or r e s p ondência de cinco anos, na qual falam das suas carreiras, da sua saúde e das suas fr ustrações com os prémios literários, entre out ras coisas. Relat ivamente a esta última, destaca-se o desprezo de ambos por distinções como o P r é m io C a mõ e s ou o Nobel, que nen hu m dos dois acredit ava alg u m dia vir a receber. Afinal, Saramago viria a receber o Prémio Camões no ano de 1995 e o Nobel da Literatura três anos depois. Por sua vez, Jorge Amado embora nunca tenha recebido o Nobel, foi também um dos galardoados com
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o Prémio Camões, em 1994. Sobre a não at r ibuição do Nobel à obra de Amado, escreveu Saramago numa das cartas: “[A Academia Sueca] não tem metro que chegue para medir a estatura de um escritor chamado Jo r ge Am a d o. (...) Ma s aqueles que, como eu, ve e m , e m t i n a d a m a i s nada menos que o Brasil feito literatura, esses indignam-se com a já irremediável falta de sensibilidade e de respeito d o s n órdic o s”. O s dois con heceram-se pessoalmente, pela primeira vez, na década de 1990, num evento literário em Itália.
O SUCESSO DE AMADO O sucesso da obra de Jorge A mado no Brasil foi superlativo. Mas não se
Excerto da primeira página do manuscrito inacabado do escritor baiano, batizado com dois títulos - Agonia da Noite e São Jorge dos Ilhéus.
ficou só pelo Brasil. Send o t a mb é m u m d o s e s critores brasileiros mais t r a d u z ido s no ex t e r ior, os seus livros transportaram as histórias do autor baia no até países como Estados Unidos, Canadá, Argentina, Uruguai, Chile, México, França, Reino Unido, Itália ou Aleman ha, contando já com traduções em mais de 80 países e em 49 idiomas. Para além disso, é tamb é m u m d o s e s c r it o r e s brasileiros mais adaptados para o cinema e a televisão. Os livros Gabriela Cravo e Canela, Terras do Se m- Fim e Tie ta do Agreste (livro que o autor escreveu durante um ano inteiro fechado em casa) foram t ransfor mados em novelas. Por sua vez, Capitães da Areia, Tenda dos Milagres, Dona Flor
e se us Dois Mar idos e, n ova me nte , G a b r ie la C r a v o e C a n e l a fo r a m adaptados para o cinema. Segundo o jor nalista Edoardo Pacelli, ele foi t alvez “o mais ‘A mado’ Jorge dos brasileiros de todos os tempos”, tendo
af irmado acerca da sua o b r a : “A l i t e r a t u r a d e Jorge Amado e, com ela, a lite ra t u ra b ra sile ira , tornou-se universalmente conhecida e reconhecida, desvelando ao mundo a riqueza do património c ult ural do Bra sil e da Bahia, a grandeza de seus escritores, a marav ilh a d o m u n d o e n c a n tado do interior, a luta para a libertação dos oprimidos e dos sofridos; das minorias que são maiorias rejeitadas e ignoradas, afastadas pelo ambiente em que vivem. Mais que crítica social, pode-se chamar, as páginas literárias de Jorge Amado de construção social.”
Jorge Amado e José Saramago (1996).
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POESIA
LUIZ CARLOS AMORIM COMPANHIA A poesia me acompanha Aonde quer que eu vá. Está no rosto das pessoas, Nos lugares por onde passo, A adentrar meu olhar, A encantar os meus olhos, Porta de entrada da alma. Ela está na música, Em todos os sons da vida E nos sons da natureza. Ela está na voz das pessoas, Nas palavras que eu ouço, Nos risos e nos sorrisos. A poesia está em tudo. A poesia mora em mim, Mora em meus amores E em meus amigos também. Por isso estou sempre com ela, Minha eterna companheira.
Po e m a d o l i v r o M E U PÉ DE JACAT I R ÃO, 2 a . e d i ç ã o, d i s p o n í vel em e-book na Amazon.
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CRÔNICA
LUIZ CARLOS AMORIM INCERTEZAS E ESPERANÇAS Por Luiz Carlos Amo rim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Acade mia S ulbra sileira d e L e t r a s . Fu n d a d o r e presidente do Grupo Li t e r á r i o A I L H A , q u e c o m p l e t a 41 a n o s e m 2021. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br O ano de 2022 chegou: o ano da esperança, o ano que queremos que seja o ano do abraço, da saúde, d e u m n ovo n o r m a l n o qual possamos viver sem medo. Mas há mu it as perg u nt as que precisam ser feit as a este sen hor que acaba de chega r. A pandemia acabará, neste n ovo a n o , s e r á a p e n a s mais uma doença com a qual teremos que conviver, para a qual teremos que toma r vaci na todos os a nos? Fica r á mais branda, as vacinas conseguirão combatê-la, mesmo as var iantes que ainda poderão vi r? Mel hor que não viessem, que conseguíssemos con-
t rolá-la para que não se mo d i f ica s se m a is , pa r a que pessoas parassem de ir para a UTI e parassem de mor rer pelo mu ndo todo. Porque precisamos que a pandemia abrande, para que a economia do planeta se recupere, para q u e h aja t r a b a l h o p a r a todos, para que não haja mais fome, para que não haja mais m isér ia , pa ra que não existam mais pessoas e mais famílias pelas r uas sem perspectivas de f ut u ro, a pedi r um pouquinho de misericórdia, um pouquinho do pouco que possamos ter. C o m e ç a m o s o a n o, i n felizmente, com uma var iante alt amente con-
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t agiosa, a ômicron, que já au mentou a ssu st a do r a me nt e os nú me ros de novos casos no Brasil e no mu ndo. O s nú me ros de mor tes também estão aumentando, os hospitais est ão lot a ndo, os leitos de UTI estão se esgotando. Janeiro está se revela ndo t e me roso, ap e s a r de constatarem que a nova var iante não é tão mor tal quanto as outras. M a s e s t ã o a pl i c a n d o a vacina em crianças a pa r t i r de 3 anos em alg uns lugares do mundo, já. No Brasil, a par tir de 6 anos. A tercei ra dose está avançando. E isso é muito impor tante, é cr ucial, pois os doentes pela
Ômicron toma conta do mundo
covid que estão lotando os hospitais e UTIs, neste mês de janei ro, são quase noventa por cento de pessoas não tomaram a vacina ou que tomaram apenas a pr imeira dose. Então esperemos que todos se conscientizem de que a vacina é impor tante para que os casos de covid não evoluam para inter nações e mor tes, pois as vacinas, segundo estudos feitos, cobrem as variantes até agora. Este é o 2022 que está aí. E não é bom, nada bom. Ent ã o e u p e rg u nt o: ele poderá vir a ser melhor,
ainda, já que estamos a p e n a s n o s e u i n í c i o? A pa ndem ia abra nd a rá? As guer ras acabarão, as pessoas continuarão tend o q u e a b a nd o n a r s e u s países por não poderem m a i s s o b r e v i ve r n e l e s , cor roídos pela d it a du r a e p el a c o r r u p ç ã o, p el a c r u eld a d e e p el a d e s u manidade? O ser humano continuará a cuidar mal d o s e u m e io a m bie n t e , fa z e ndo c om q ue a n a t u rez a se reb ele c ont r a quem a destrói, com fenômenos trágicos a acontecer em vá r ios países? Te mp e st a de s, f u r a cõe s,
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ter remotos, v u lcões em atividade, ventos ext rem o s , f r io e c a l o r c a d a vez maiores, etc., etc.? Sei que a culpa não é sua, meu querido senhor ainda criança, meu esperançoso ano de 2022, sei que nós é que provocamos tudo isso, mas tenho que perguntar, tenho que ter a esperança e a fé de que conseg uiremos mu d a r, p elo m e n o s u m pouco, e melhorar nossa m a n e i r a d e s e r, d e e s t ar no mu ndo, para que possa mos fa zer u m a no melhor. Então, na verdade, é preciso fa zer a s perg u nt a s a nós mesmos: somos capa ze s de mud a r? So mos capazes de fazer um e sfo r ç o e c u i d a r m a i s , cuidar de nós, do nosso planeta e do nosso lugar, para que possamos ter u m a no mel hor? P r e cisamos ser. O tempo está acabando.
POESIA
PIERRE ADERNE LISBOA, LISBOA Eu fico andando nas ruas em qualquer lugar Lisboa, Lisboa, pouso tranquilo pro amor chegar. O Tejo feito veia, Jorra sangue do coração. As luzes de Alfama me tiram os pés do chão. O fogo do fado, incêndio pros meus ouvidos A luz nos telhados recupera sonhos perdidos. Pendurei minhas asas. Fechei o aeroporto. Minh´alma sente falta do teu corpo. Ancorei o meu navio na Ribeira do teu porto. Ressuscitei o mar que estava morto. Lisboa, Lisboa, Lisboa De noite na rua, Meus olhos procuram São Jorge na lua.
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CRÔNICA
CÉLIA BISCAIA VEIGA MOMENTOS ÚNICOS Um dia desses, meu net o de 7 a nos veio no meu quar to de manhã, ai nd a de pijam i n ha e p e r g u nt o u s e e u já e s tava acordada. Acho que acordei com a por t a abr i ndo. Ent ão respondi que já tin ha a c ord a do. - Ent ã o ve n h a ve r u m a c ois a! – d is se ele e st e nde ndo -me a m ã oz i n h a . Na fração de tempo de acompan ha-lo pelo c or r e dor at é seu q u a r t o m i l c ois a s me pa s s a r a m p ela cab e ça . Achei q ue t i n h a q ueb r a do a lg u m a c ois a , a lg u m a c ois a t i-
ve s se ca ído no ch ã o ou que ele quisesse algo q ue e st ava e m ci m a do g u a rd a-roupa . Ma s ele me d i r ig iu at é a ja nel a a b e r t a p or ele logo q ue a c ordou e d is se pa ra eu ol ha r pa ra ci m a: - Ol ha que li ndo, vó. Um pica- pau . Eu nu nca t i n h a v i s t o u m d e ve rdade. Só que ele está bic a n d o o v id r o d a ja n el a d o v i z i n ho, n ã o a m a dei r a ... Ol hei e v i q ue r e a l me n te o pica-pau fazia o tec-tec-tec característ ic o no v id ro d a ja nela
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d a c oz i n h a . At é p e n sei, s or t e d o s v i z i n ho s q ue n ã o e r a no q u a r t o, p o dia levar um susto ao ouvir o bar ulhin ho na ja nela do sobr a do... Aí ele falou para eu e s p e r a r u m p ouc o e foi acordar min ha f ilha, a tia dele, para most rar para ela também. Depois acordou a mãe e pa i t a mb é m . To d o s d e s f r u t a m o s d o m o m e n t o d e a d m i r a rmos o pa s s a r i n ho e ve r os olhinhos do meu n e t o b r i l h a n d o, e n c a n t a do c om a ex p e r iê ncia de ver u m ser específ ico d a nat u reza, pela pr i mei r a vez . É m a r a v i l h o s o p o d e rmos redescobrirmos o mu ndo at ravés dos ol h o s d e u m a c r i a n ç a . Se soubermos aprove i t a r e s s e s m o m e n t o s únicos, nem precisamos fotografá-los, p ois a s le nt e s do nos so coração os guardam para sempre em nossa me mór ia .
POESIA
JÚLIO DE QUEIROZ PARAMORFISMO Ainda menino, O céu lhe aparecia como as gravuras De seu livro de estórias. Jovem ardoroso, o éden, achava ele, Forçosamente estaria cheio De movimento e de paixões. Afanado em seus trabalhos maduros, Se lhe afigurava que o paraíso seria Uma casa calma com música suave. Depois, sábio e envelhecido, tinha certeza Que a bem-aventurança só poderia ser, Mais ou menos assim, Como a Livraria do Chain.
Livraria do Chain, em Curitiba
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DESTAQUE
THIAGO DE MELLO A POESIA VIROU SAUDADE O poeta Amazonense, Thiago de Mello, nos dei xou e m 14 de ja neiro de 2022, um ícone d a p o e si a a m a z o n e n s e , grande nome da literatura brasileira. Thiago tem obras tradu-
zidas para mais de trinta id io m a s . Foi p r e s o d u rante a dit adu ra milit ar (1964-1985), exilou-se no Chile, onde encontrou em Pablo Ner uda um amigo e c ol a b o r a d o r. No e x ílio, morou na Argentina,
"Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar. Vem ver comigo, companheiro, a cor do mundo mudar. Vale a pena não dormir para esperar a cor do mundo mudar. Já é madrugada,
Ch ile, Por t ugal, Fr a nça e Alemanha. Com o f im do regime militar, voltou à sua cidade natal, Barreirinha, onde viveu até hoje, nos deixando aos 95 anos de muitas histórias e lutas.
vem o sol, quero alegria, que é para esquecer o que eu sofria. Quem sofre fica acordado defendendo o coração. Vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria, amanhã é um novo dia".
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POESIA
THIAGO DE MELLO OS ESTATUTOS DO HOMEM (ATO INSTITUCIONAL PERMANENTE) Artigo I Fica decretado que agora vale a verdade. agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira. Artigo II Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo. Artigo III Fic a de c re ta d o qu e , a p a r t ir de ste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança. Artigo IV Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo único: O homem, confiará no homem como um menino conf ia em outro menino. Artigo V Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa. Artigo VI Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. Artigo VII Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa
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para sempre desfraldada na alma do povo. Artigo VIII Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.
Artigo XIII Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se t ransfor mará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Artigo IX Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura. Artigo X Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco. Artigo XI Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã. Artigo XII Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Artigo Final Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.
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ENTREVISTA
A ESCREVIVÊNCIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
Conceição Evaristo é um grande expoente da literatura contemporânea, romancista, poeta e contista, homenageada como Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti 2019 e vencedora do Prêmio Jabuti 2015. Além disso, Conceição Evaristo também é pesquisadora na área de literatura comparada e trabalhou como professora na rede pública fluminense. Suas obras, cuja matériaprima literária é a vivência das mulheres negras – suas principais protagonistas – são repletas de reflexões acerca das profundas desigualdades raciais brasileiras. Misturando realidade e ficção, seus textos são valorosos retratos do
cotidiano, instrumentos de denúncia das opressões raciais e de gênero, mas também se voltam para a recuperação da ancestralidade da negritude brasileira, propositalmente apagada pelos portugueses durante os séculos em que perdurou o tráfico escravista. Maria da Conceição Evaristo de Brito nasceu em 29 de novembro de 1946, em Belo Horizonte (MG). Foi a segunda de nove irmãos. Teve a infância e a adolescência marcadas pela miséria, na extinta favela do Pindura Saia na região centro-sul da capital mineira. Trabalhou como babá e faxineira enquanto cursava os estudos secundários, aspirando à
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carreira de professora, mas quando concluiu o curso normal, não conseguiu emprego em Belo Horizonte. Não havia, na época, concursos para professores em Minas Gerais: aulas, só para quem fosse indicado. Assim, Conceição mudouse, em 1973, para o Rio de Janeiro, onde se graduou em Letras pela UFRJ e seguiu carreira no magistério, lecionando na rede pública fluminense até aposentar-se no ano de 2006. Sua estreia na literatura aconteceu no ano de 1990, quando seis de seus poemas foram incluídos no volume 13 da coletânea Cadernos Negros, publicação literária periódica que teve início em 1978, com o intuito de veicular a cultura e a produção escrita afro-brasileira, seja na
forma da prosa, seja na forma da poesia. Conciliando os trabalhos na docência, na literatura e na produção de estudos teóricos, Conceição Evaristo titulou-se como mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, em 1996, com a dissertação Literatura Negra: Uma Poética de Nossa Afrobrasilidade e depois como doutora em Literatura Comparada na UFF, defendendo, em 2011, a tese Poemas malungos, cânticos irmãos, em que analisou a poesia dos afrobrasileiros Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira e a do angolano Agostinho Neto. Saiba mais da escritora, na entrevista que segue. Pergunta – Você sempre diz não ter crescido cercada de livros, mas cercada de palavras. Qual é o lugar da
oralidade na sua formação? E a relação entre oralidade e escrita na sua obra? Conceição Evaristo – Essa relação se dá muito até por causa das práticas familiares. Primeiro pela minha origem mineira, e mineiro já é conhecido como contador de caso. Lá em casa, s e m p r e f a l a m o s mu it o. Hoje fico vendo que aquele t alvez fosse o momento de expurgarmos as nossas necessidades. Minha mãe é uma pessoa que frequentou pouco a escola, muito pouco, ela era da roça, da área rural. Então eu trago muitas histórias que ela contava, que o meu tio velhinho contava; isso está presente no livro Histórias de leves enganos e parecenças. Recentemente li esse livro para minha mãe, ela escutou uma história e falou: “Ah, não, mas essa história não acaba assim. Não era assim”. Eu modifiquei! Ela se reconhece muito nessas histórias. Para mim, essa diferença é signif icativa porque quebramos também com o imaginário que o escritor tem que vir das classes privilegiadas. Então gosto de dizer muito que não nasci rodeada de livros, nasci rodeada de palavras. Tive acesso, realmente, ao acervo de uma biblioteca quando minha tia foi ser
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servente na biblioteca pública da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. Ela trabalhava na casa da senhora Etelvina Vianna, que instit uiu o curso de biblioteconomia na Universidade Federal de Minas Gerais [UFMG] e era diretora dessa biblioteca. No período da manhã, minha t ia c u mpr ia a s f u nç õ e s domésticas na casa dela, e à tarde ia trabalhar nessa biblioteca. Comecei a ter livre acesso a esses livros. Eu os pegava e ficava o dia todo na Praça da Liberdade lendo, acho que nem fome eu tinha. Voltava, entregava o livro, levava outro para casa, lia também numa avidez muito grande, para no outro dia estar na biblioteca de novo. Tinha meus 13, talvez 15 anos, e foi nesse momento que tive a experiência maciça do livro mesmo, do objeto. Pergunta – Pode nos falar de Becos da Memória? Conceição Evaristo – Eu ten ho u m encant amento muito grande por palavras. Assim, a sonância de determinada palavra pode me provocar uma escrita. A história de Becos da Memória, que está na terceira edição, foi assim. Convers a ndo c om m i n h a m ã e, ela diz: “Ah, mas vó Rita dormia embolada com ela”.
Mais que o significado da expressão, há o tom de voz da minha mãe em “vó Rita” que eu não consigo repetir. Eu fiquei dias com a melodia da voz da minha mãe, essa frase despertou toda uma memória. São ficções da memória, algumas das cenas que vivi na infância, eu escrevi em 1988, depois de quarenta anos. Por isso que digo “nada é verdade, nada é mentira, nada se passou do jeito que está, mas tudo que eu escrevo se passou”. E o meu grande desejo é justamente produzir uma literatura em que o texto fique confundido com essa oralidade. Tem uma expressão aqui [apontando para o livro Becos da Memória], que é uma empregada limpando a casa, e eu digo: “Não tinha uma gota de poeira no ar”. Minha revisora diz: “Conceição, não tem gota de poeira”. Eu falei: “Tem. Aqui tem gota de poeira”. Porque é possível dentro da linguagem popular. Você cria metáforas que muitas vezes estão fora de uma gramática ou da forma culta da língua, que eu chamo de “forma oculta da língua”, porque só alguns têm essa opor t unidade de se apropriar. E eu quero trazer essa linguagem. Trabalho muito com palavras bantu.
Na formação de Minas Gerais, chegaram muitos africanos oriundos das culturas bantu. As palavras africanas são muito tonais, então t e m u m a s on â ncia b e m interessante. Eu também trago algumas palavras do
português arcaico, que algumas pessoas mais velhas usam, produzem um efeito bom no texto e fica bonito. Pergunta – Nessa linha de trabalhar com as palavras você usa o termo “escre-
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vivência” que parece uma síntese poética da relação entre vida e obra. Como surgiu esse termo e o que é essa “escrevivência” para você? Conceição Evar isto – Desde 1995, eu vinha experimentando o termo na minha própria dissertação de mestrado, porque o que eu falo e escrevo – poemas, contos, romances e o meu objeto de pesquisa – é extremamente marcado pela minha condição de mulher negra na sociedade brasileira. Não são escolhas inocentes. Quando eu escolhi na dissertação do mestrado trabalhar com uma autoria negra e num sistema que nós estamos chamando de l ite r at u r a af ro -br a sileira, escolhi porque é um assu nto que me toca de muito perto. No doutorado, quando trabalho com texto de escritores africanos de língua portuguesa e com textos de autores nacionais, como Nei Lopes e Edimilson de Almeida Pereira, também há uma empatia muito grande. Essa empatia é constr uída pela minha condição de mulher negra, de sujeito negro, de negra, cont a m i nad a por textos que me falam particularmente pela função de eu ser descendente de povos africanos.
Eu já tinha experimentado esse “escreviver” na tese que depois se transformou em “escrevivência”. Mas quando comecei a trabalhar com esses termos, eu não tinha intenção nenhuma de criar um conceito. O primeiro professor-pesquisador, que me colocou numa saia justa foi o Eduardo de Assis Duarte, da UFMG, porque ele falou: “Ah, você criou um conceito”. E aí as pessoas começaram a me perguntar: “Que conceito é esse?”. Na verdade, se eu realmente criei um conceito, eu ainda fico até “metidinha”, me sentindo como criadora de conceito. Mas esse termo, ou essa op çã o por de nom i na r o meu texto por uma “escrevivência”, não é só minha, nós podemos pensa r no texto de outras mulheres, e até de out ros autores, cada um traça a sua “escrevivência”. Mas no meu caso, par ticular mente, a imagem na qual essa palavra está fundamentada traz um processo histórico, ela nasce propositalmente querendo borrar a imagem das africanas escravizadas e suas descendentes que tinham de contar história para os da casa g rande. Eu poderia pensar numa autor ia neg ra que bor ra essa imagem, porque essas
mulheres tinham de contar história justamente para adormecer os nenês da casa grande, elas nunca podiam contar sua própria história. Elas não podiam falar para o bebê: “Ah, seu pai me escraviza, e eu estou aqui por ser obrigada a contar essa história pra você”. Ela tinha que inventar outras histórias para apaziguar os bebês e colaborar com a paz da casa grande. Então, essa imagem da “mãe pret a” me incomoda muito, e foi uma imagem que foi muito cultivada. Na literatura brasileira, no Romantismo e no Modernismo, você vai encontrar principalmente poetas relembrando as mães pretas deles e de u ma saudade das mães pretas contando histórias. Em “Mãe Maria”, um conto de Olavo Bilac1 ele relembra até a tonalidade da voz da mãe preta, e fala da saudade que ele tem dessa mãe preta e que era uma mulher que apaziguava os filhos da casa grande e não podia nem ter conhecimento dos seus filhos. A nossa “escrevivência” não é para ador mecer os da casa grande, pelo contrário, é para incomodá-los em seus sonos injustos. É uma ficção que o que me inspira é realmente a vida, os acontecimentos, os per-
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sonagens do cotidiano. Esses dias eu encontrei uma maneira de explicar como a escolha de personagens também ilustra essa “escrevivência”. Quando vamos cr ia r a i magem de u ma empregada como a Ditinha que aparece em Becos da Memória, o lugar social que escrevemos é como se estivéssemos lá dentro do quarto dela olhando para a patroa cá fora. Essa “escrevivência” é profundamente marcada pelo lugar social que nós escolhemos para compor. Enquanto, para outra escritora – que não tem nada a ver com a história de vida da empregada, nem com a história da coletividade dela – é como se, para compor, ela parasse na porta do quarto da empregada, olhasse lá dentro e fizesse o texto sobre ela. Pergunta – Quais são as influências literárias que te
formaram como escritora? Conceição Evaristo – A primeira influência literária que tenho é a literatura oral, quando passo para literatura escrita, eu tenho as histórias, por exemplo, daquele livro que está aqui na exposição, o Histórias b on it a s. I s s o é do me u primário, texto que me deu um prêmio de literatura. Há também o Contos pátrios para crianças. Foram leituras que eu fiz na infância e com cer teza, nem que seja no nível do inconsciente, marcaram a minha formação literária. Eu li mu it o Pol lya n n a Mo ça , com seu jogo do contente; Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe, Cartas do Pequeno Príncipe, que eram leit uras muito da época. Li t ambém O diário de Anne Frank, que me marcou muito. E todas essas leituras não traziam personagens negras, eram leit u ras a par ti r do que chegava da Europa, aqui. Chegou o momento que lia também autores brasileiros e, como boa mineira, Otto Lara Resende, Otto Maria Car peau x, muito Carlos Dr um mond de Andrade. Depois li a fase comunista de Jorge Amado, conheci toda a obra dele e lia com muita avidez: Cacau, Suor, O país do carnaval, Capi-
tães de Areia. Com ele eu con heci, na l iter at u r a br a silei r a , os pr imeiros personagens negros, mas nem por isso eu o inocento de ter folclorizado as culturas afro-brasileiras. Jorge Amado vem na esteira também de Gilberto Freyre, que coloca a escravização de africanos no Brasil como se t udo tivesse sido do consenso. Como se as africanas ao
se deitarem, ao se misturarem com a casa grande, fosse por liv re escol ha. Elas não eram donas dos seus próprios corpos, não tinham nada de escolha. Elas não eram convidadas, elas eram intimadas, para usar um termo mais suave. Ao entrar na faculdade de letras, conheci também a literatura de autores negros: Machado de Assis, que é tratado pela crítica
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brasileira como escr itor branco; Lima Barreto, que é um pouco mais difícil de ser tratado como um branco, por que a condição dele de negro é mais explícita em seus textos, principalmente em Recordações do escrivão Isaías Caminha; Cruz e Sousa, que não tem como embranquecer aquele homem, pelo menos em tom de pele, ele é bastante negro. Mas aí embranquece quando a crítica literária trabalha com os textos dele, que ele usa muita metáfora da cor branca. Alguns críticos literários o leem como um sujeito desejante de ser branco, mas eles não trabalharam com Emparedado, que ali ele coloca muito bem a condição negra dele; nem com Núbia, que é um poema que ele faz para uma noiva negra; nem com outros textos em que ele fala das mulheres negras. A escrita negra vai me chamar mais a atenção dentro do movimento social negro, porque na academia, no curso de letras, na graduação, essa escrita negra não chega para ser pensada por uma perspectiva negra, é sempre por uma perspectiva de críticos brancos. É dentro do próprio movimento negro que vou descobrir, por exemplo, Maria Firmina dos Reis, autora do
primeiro romance negro; vou pensar com mais afinco a obra de Lima Barreto; começo a querer descobrir um Machado de Assis negro. Pergunta – Qual sua história com Cadernos Negros? E qual a importância dessa publicação para a divulgação da literatura afro-brasileira? Conceição Evaristo – Cadernos Negros, pelo menos para mim, é uma espécie de ritual. Muitos escritores, por exemplo, Geni Guimarães, Éle Semog, Miriam Alves, Lia Vieira, todos nós passamos por Cadernos Negros que é o primeiro lugar de publicação para o autor negro. Por quê? Primeiro porque é uma publicação coordenada por escritores afro-brasileiros; segundo porque esse grupo se chama “Quilombhoje”2, que também é um nome muito sintomático. São formas organizativas que têm como paradigma o quilombo, que
são lugares de organização nossa, e organização, nesse ca so, liter á r ia. A publicação é anual e autogerenciada, os responsáveis pelo Quilombhoje fazem um levantamento dos custos e dividem: cada autor, que quer participar, paga a sua cota. Sempre digo que o dia em que a história da literatura for reescrita, tem que se prestar atenção em Cadernos Negros, porque dentro da história brasileira é a única publicação ininterrupta em quarenta anos. Um a n o C a d e r n o s t r a z poema; outro, é publicação de prosa. Ele sobrevive por conta própria, não tem uma editora específica, a maioria das vezes nem tem editora, mas o Cader nos Negros está aí. Pergunta – Você poderia comentar sobre a importância do trabalho com autoras e autores negros dentro da escola e da sala de aula? Conceição Evaristo – O
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meu trabalho foi sempre ligado à literatura. A importância de levar essa autoria negra para dentro de escola é justamente essa possibilidade de conhecer uma literatura produzida sobre out ra perspectiva. Você pode trabalhar com o autor, com foto do autor, com entrevista, principalmente em escolas públicas e em escolas de periferia, para quebrar com esse imaginário que o autor tem de vir das classes privilegiadas. Então, levar esses autores para dentro da escola quebra com esse imaginário também. Não é que todo aluno tem que se tor nar escritor, que toda aluna tem que se tornar escritora, eu acho que você trabalhar com a literatura e com a possibilidade de escr it a é também despertar essa consciência que a literatura e o texto escrito têm de ser um direito de todos. Assim como nós temos direito à alimentação, ao trabalho, entende? Apropriar-se dos bens culturais, de tudo que as classes pr ivilegiad as fazem com certa leveza, as classes populares também têm de lutar por isso, é um direito que não pode ser sonegado. E a literatura, eu considero também como um dos direitos fundamentais.
POESIA
CONCEIÇÃO EVARISTO DA CALMA E DO SILÊNCIO Quando eu morder
a menor sombra,
a palavra,
do ínfimo movimento.
por favor,
Quando meus pés
não me apressem,
abrandarem na marcha,
quero mascar,
por favor,
rasgar entre os dentes,
não me forcem.
a pele, os ossos, o tutano
Caminhar para quê?
do verbo,
Deixem-me quedar,
para assim versejar
deixem-me quieta,
o âmago das coisas.
na aparente inércia.
Quando meu olhar
Nem todo viandante
se perder no nada,
anda estradas,
por favor,
há mundos submersos,
não me despertem,
que só o silêncio
quero reter,
da poesia penetra.
no adentro da íris,
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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS
CORA CORALINA MEU DESTINO Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida. Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino. Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos Passavas com o fardo da vida… Corri ao teu encontro. Sorri. Falamos. Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe. E, desde então, caminhamos juntos pela vida…
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GRANDES POETAS BRASILEIROS
MANOEL DE BARROS BIOGRAFIA DO ORVALHO A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas.
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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS
CONCEIÇÃO EVARISTO VOZES-MULHERES A voz de minha bisavó ecoou criança nos porões do navio. ecoou lamentos de uma infância perdida. A voz de minha avó ecoou obediência aos brancos - donos de tudo. A voz de minha mãe ecoou baixinho revolta no fundo das cozinhas alheias debaixo das trouxas roupagens sujas dos brancos pelo caminho empoeirado rumo à favela. A minha voz ainda
ecoa versos perplexos com rimas de sangue e fome. A voz de minha filha recolhe todas as nossas vozes recolhe em si as vozes mudas caladas engasgadas nas gargantas. A voz de minha filha recolhe em si a fala e o ato. O ontem – o hoje – o agora. Na voz de minha filha se fará ouvir a ressonância o eco da vida-liberdade.
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ENTREVISTA
LORENA ZAGO AS TRAVESSURAS NA CASA DE VOVÓ MARGHERITE em Philosof ia Humaníst ica Inter nacional/Ph.I. outorgada pela Dra. Dinalva Carabajal e o P r o fe s s o r D r. M á r i o C a r a b a ja l – P r e s i d e n te Nacional da ALB. Consagrada a Ordem do Mérito de Haia no Grau de Of icial, por s u a c o n t r ib u i ç ã o c o m o E d u c a d o r a e E s c r it o r a e m p r ol d a C u lt u r a d a Pa z – p e l a A L B/ S u í ç a . Membro Cor re spondente da A LBS C Imbit uba , Parapsicóloga pelo Instituto de Parapsicologia e Ciências Mentais de Joinville, Professora, E s c r i t o r a e Te r a p e u t a . Embai xadora da Paz, o utorgada pelo Profe ss o r D r. Ig u a c i Lu i z d e Gouveia Junior – Presidente da OMDDH. Margarida Lorena Zago é pre side nte da Aca de mia de Letras do Brasil d e P r e s i d e n t e G e t ú li o, Membro do Conselho Estadual da ALBSC,
Membro do Conselho S u p e r i o r B r a sile i r o d a Aca de mia de Le t ra s do Bra sil, Imor tal Cor re spondente da A LB/ Rio Grande do Sul, Doutora
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Obr a s de L ore n a Z ago: Po e m a s , C o n t o s e E n ca ntos I, A Borbolet a Encantada no Jardim Secreto, A Canoa de C o q u e i r o , To m y e a
P r i nc e s a do Ma r, Um Natal de Esplendor, Um S e g r e d o M u i t o Si g i l o so, O Aca mpa me nt o, A Lenda da Cabra D’Água, A Casa de Vovó Margher it e, Po e m a s , C o nt o s e Encantos II em três idiomas, além de par ticipar de inú meras Colet âneas e Antologias, tais como: I MORTA IS, I MORTA IS II, IMORTAIS II, IMORTA I S I V, L i t e r a t u r a – Sentimentos & Razões II, Literat u ra – Sentimentos & Razões III, IV, V, M U L H E R D E S T A QUE I, M ULHER DESTAQU E II, PA LAV R AS EM TAÇAS, TELHADO DE F LOR ES, SON HOS
DE L I BE R DA DE – O s Direitos das Cr ianças e d o s Ad ol e s c e n t e s n o Olhar dos Escr itores, Joias Getulienses I, Joias Get ulienses II, Joias Get ulienses III, Suplemento Literá r io A ILHA, ESCR ITOR ES DO BR ASIL, Mãos Que M a r c a r a m No s s a Vid a , Noites de I nver no, Mulheres Brilhantes Escrevem Poesias, Colet â nea Movimento Nacional Elos Literá r ios, Cole t â n e a A m pl a V i s ã o I I , P e r f i s d e Ve n c e d o r e s Vol. 7, Colet ânea A nit a G a r ibald i, H ist ór ia s do Isolamento, Nat al Ent re Nós...
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Lorena é casada, com t rês f il has e quat ro netos. “ To d o s v o l t a d o s p a r a retomada de valores, incutir limites de forma lúdica, respeito, o amor f rater no, o re sgate da s brincadeiras infantis em meio a natureza, da impor tância da convivê n cia e nt re a vó s e ne tos, amizade ent re cr iança s e cuidados com os animais.” Conheça mais desta poeta dedicada e talentosa, que escreve também para crianças: Pergunta – O que a mot ivou a e s c r eve r t ex t o s para crianças? Lorena Zago – Há muit o sou obse r va dor a d a s ações e condutas infantis. O mundo infantil me fascina. A pureza, a fantasia infantil, a criatividade, a for ma como interagem com os cenários em meio à natureza, suas falas e compreensões de mundo, são encantadoras e p o de m e n si n a r mu it o aos adultos, quando lhes é dada a devida atenção e inter pretação. Não ter íamos necessidade de t e r a pia s i n f a nt ojuve n i s se no início de suas vid a s e c ompr e e n sõ e s de mu ndo, fossem entendidas e satisfeitas as suas
m a n i fe st a ç õ e s e ne ce s sidades. Pergunta – O que a inspirou a escrever “Na C a s a d e Vovó M a r g he rite”? Lorena Zago – O que m e l e vo u a e s c r e ve r o Conto “Na Casa de Vovó M a r g h e r it e ” foi o b s e rvar como todos nós e em especial as crianças, t e m o s d i f ic u ld a d e s e m lid ar com as perd as em qualquer área, época ou id ade. Pensei muito em como abordar este tema tão dif ícil e complexo na vida das pessoas. E como não é comu m encont ra r bibliog r af ia que ver sa sobre esta problemática, dispus-me a elaborar um livro que discor re sobre esta dif ícil tarefa. Per g u nt a – Po de apre sentar-nos a sua obra? Lorena Zago – Na Casa de Vovó Margherite é um conto que fala sobre as p e r d a s , d e s d e a mor t e, s e p a r a ç õ e s e c omo e n f rent á-las, compreendê -
-las e continuar vivendo, vislu mbra ndo ca m i n hos que emprest am forças para superações. Nas fé r i a s e s c ol a r e s o s n e tos de vovó Ma rg her ite visitam-na e passam mom e nt o s g lo r io s o s b r i n cando e cur tindo o imenso e s pa ç o que del i m it a o contexto de sua casa.
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Cer to dia porém, encont r a m o gat o M i m i, q ue é o amigo predileto das crianças, mor to, debaixo de sua ár vore preferida. Desabam num choro i nc on s ol ável. E s t e fat o levou vovó Margherite a reunir os netos e contar-lhes uma longa história sobre a vida e a mor te. E assim, passam-se longas horas, todos sentados e m volt a d e u m fog ã o, ouvindo a complexa real id a d e a q u a l n i n g u é m deseja vivenciar, mas tão necessár ia compreender e assimilar. Per g u nt a – Q u a l me n sagem deseja t ransmitir
ao leitor por meio da sua obra? Lorena Zago – At ravés d a h istór ia cont ad a por vovó Ma rg he r it e, sobre os ciclos da vida, desde o nascimento até a viage m e t e r n a , c omp r e e n deu-se de que tudo nesta vida tem inicio, meio e f i m. E se a s fa m ília s d ia log a s s e m s ob r e e st e t e m a de for m a n at u r al, seria menos doloroso lidar com as perdas. Pois o e nt e nd i me nt o d e q u e todos, um dia, passarão por estes momentos, d e i x a cl a r o d e q u e d e vemos est a r prepa rados pa r a e n f r e nt á-los e s up e r á -lo s , v i slu mb r a nd o novos camin hos, encont rados em apoios, coragem, buscando out ros jeit o s p a r a e n c ont r a r a
felicidade novamente. A vida é uma eter na aprendizagem. A cada dia com novas mensagens e i n f i n itos jeitos e ca m inhadas para evoluir mos, buscando em nosso inter ior, força s pa r a seg u i r
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adiante. Pergunta – Além de “Na C a s a d e Vovó M a r g he r ite” você tem out ras ob r a s i n f a nt i s pu bl ic a das. Quais são elas? Lorena Zago – Sim, além do livro infant i l “ N a C a s a d e Vo v ó Margher ite” ten ho mais sete liv ros infantis, e dois adultos. Todos volt ados pa ra retomad a de valore s , i ncut i r l i m it e s de for ma lúdica, respeito, o amor f rater no, o resgate das brincadeiras i n fa nt is e m meio a n atureza, a impor tância da c o nv ivê n cia e nt r e avó s e n e t o s , a m i z a d e e nt r e crianças e cuidados com os animais. São eles: A Bor bolet a Enca nt a d a no Jardim Secreto, A Ca-
noa de Coquei ro, Tomy e a Princesa do Mar, Um Natal de Esplendor, Um S e g r e d o M u i t o Si g i l o so, O Aca mpa me nt o, A Lenda da Cabra D’Água, Poemas Contos e Encantos I, Poema s Contos e Encantos II em três idiom a s , Pa r t ic i p o d e i n ú m e r a s c ole t â n e a s , c o m poesias, contos, crônicas e romances. Perg unt a – O nde po demos a dqu i r i r os seu s liv ros, em especial “ Na C a s a d a Vovó M a rg he rite”? Lorena Zago – Os meus livros podem ser adquiridos nas Livrarias Catar inenses, em Blumenau, Flor ianópolis, Itajai,
pelo Messenger do Facebook.ou pelo W hatsApp (47) – 99169-5976 - (47) 99221 -7184 Pergunta – Você é muito a t iva n a á r e a l it e r á r i a . Quais são os pr i ncipais projetos literá r ios dos quais faz par te? Lorena Zago – Sim, como presidente da Aca dem ia de L et r a s do Brasil Santa Catarina d e P r e s i d e n t e G e t ú l io , temos elaborado com os acadêmicos vários projetos, entre os quais, Formação de Escritores com adolescentes de 12 a 17 anos, Escr itores Aprendizes com crianças de 9 a 12 anos, Comunicação – Múltiplos Olhares com
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adolescentes de 12 a 17 anos e já contamos com a el a b or a ç ã o d e out r o s p r oj e t o s c o m o , L i t e r a tura nos Bair ros, que visam atender crianças e jovens em seus Bair ros. Já implantado o Projeto Leitura na Praça para todas as idades, e o Dia do Escritor Getuliense. Perg unt a – Q u ais os seu s próx i mos projet os literários pessoais? Lorena Zago – Quanto aos meus projetos l it e r á r io s p a r t ic u l a r e s , pretendo para o próximo a no ter m i na r alg u ns livros já iniciados, dentre os quais um pedagógico, e d a r c ont i nu id a d e a o s Contos que já escrevi até agora, transfor mando-os em romances completos. Te r m i n a r, t a mb é m , u m liv ro que versa sobre experiência quase mor te e sua superação. Para o
ano 2022 os meus projetos serão mesclados com a música. Pretendo voltar a inser ir-me no universo musical. Dar vida vibracional aos meus poemas, aprendendo a d e c l a m á - l o s . Ta m b é m est ud a r e aprender dois idiomas. Pergunta – O que a e s c r it a r e p r e s e nt a p a r a você? Como vem se des e nvolve nd o a s u a c a rreira literária? Lorena Zago – A escrita t e m i m p or t â n cia í m p a r p a r a m i m . El a t o r n o u - se ne c e s s á r ia a m i n h a vida. Per mite que libere os conteúdos inter nos, opor t uniza o diálogo com pessoas de todo u n ive r s o. A e s c r it a me fascina. Escrever é uma A r t e! A r t e q ue ap r ox ima , apai xona , aler t a , conecta, faz viajar além mar e fronteiras, adentra a cada lar, aos corações, ampliando hor izontes e c om p r e e n s õ e s. Q ue m e s c r e ve b r i n c a c o m a s let ras, com as palav ras, desnudando-se, transpondo a sua alma, a sua e s s ê n c i a e m c o mu n h ã o com outras essências, sent i mentos e emoções. Ta nto a esc r it a , qu a nto a leit u ra, aproxi mam amigos, permitem a compreensão de mundo,
com outro olhar, sob diferentes prismas e a cada dia, faz-me perceber que t udo muda com muita r apidez. E quem deseja acompan har o processo, deve apr imorar-se, busca ndo nova s compreensões, novos conheciment o s , q ue p o s sibi l it e m a superação de velhos par a d ig ma s, est i mu la ndo -nos à evolução. O livro é meu f iel companheiro e a escrita o meu sensível terapeuta. Pergunta – É muito bom conhecer melhor a escrit or a L or e n a Z a go. Q ue mensagem você dei xa para nossos leitores?
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L or e n a Z a go – Q u e r idos leitores, inteirem-se do t e or de bon s l iv ros, leiam, viagem, ref litam, dialoguem com excelentes escritores. Estendam bons livros aos seus f ilhos, estimulando o hábito da leitura, da interpret a çã o e d a ref lexã o. D e s t a fo r m a , q u e r i d o s leitores, tereis sábios cidadãos, preparados para a inter pretação e compreensão de mundo. Deixem-se conduzir por leituras fascinantes, tor nando seus momentos liter á r ios, i n st iga ntes e prazerosos. A vida agradecerá!!
POESIA
LORENA ZAGO PAZ AO UNIVERSO A este cenário complexo e conturbado Estendamos um pouco de paz. Acolhamos o nosso irmão Tão necessitado de um pouco de pão E carente de compreensão. Sejamos pontes, Esvaia-se a guerra, a ganância, a inveja, Instaure-se um olhar humanitário Aos humanos e ao planeta. Conduzamos ações mediadoras De compreensões e harmonia. Permitamos que a luz da consciência Do bem e do sentir igualitário Se processe nos humanos corações. Haja coragem, perseverança e persistência Para ao mundo estender o entendimento De que os seres necessitam apenas o necessário. Faça-se possível o acolhimento E a reflexão traduza aos olhares A importância do exercício solidário.
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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS
HILDA HILST POEMA AOS HOMENS DO NOSSO TEMPO Enquanto faço o verso, tu decerto vives. Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue. Dirás que sangue é o não teres teu ouro E o poeta te diz: compra o teu tempo. Contempla o teu viver que corre, escuta O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo. Enquanto faço o verso, tu que não me lês Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala. O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas: “Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”. Irmão do meu momento: quando eu morrer Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo: MORRE O AMOR DE UM POETA. E isso é tanto, que o teu ouro não compra, E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto Não cabe no meu canto.
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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS
ELISA LUCINDA AMANHECIMENTO De tanta noite que dormi contigo no sono acordado dos amores de tudo que desembocamos em amanhecimento a aurora acabou por virar processo. Mesmo agora quando nossos poentes se acumulam quando nossos destinos se torturam no acaso ocaso das escolhas as ternas folhas roçam a dura parede. nossa sede se esconde atrás do tronco da árvore e geme muda de modo a só nós ouvirmos. Vai assim seguindo o desfile das tentativas de nãos o pio de todas as asneiras todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha para um dia partirem em revoada. Ainda que nos anoiteça tem manhã nessa invernada Violões, canções, invenções de alvorada... Ninguém repara, nossa noite está acostumada.
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CONTO
LUIZ CARLOS AMORIM RENASCER
Dia lindo de sol, apropriado para sair e ver a natureza, encontrar pessoas, festejar a vida. Rose, no auge da sua juventude, cheia de sonhos e com uma vida inteira pela frente, tomou o café da manhã e saiu para a faculdade. Estava no início do curso de História, pensava em se especializar em arqueologia. Uma garota bem educada e bem integrada à família, que gostava de estudar e usufruía de tudo o que a idade podia lhe oferecer,
sem exageros. Como toda menina de sua idade, tinha um namorado, Felipe, e os dois se davam muito bem. Ti n ha m qu ase a mesma idade, eram jovens e se curtiam muito. - Vamos à praia no final de semana? – perguntou Felipe na sexta, depois do trabalho, ao se encontrarem na faculdade. - Claro que sim. Vamos aproveitar este tempo bom. E no sábado, quase cedo – que, afinal de contas, era
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sábado! – lá foram os dois a caminho da praia. O trajeto já estava concorrido, pois outras tantas pessoas também queriam aproveitar o sol do quase verão. Divertiram-se muito e, de volta em casa, ao tomar banho para tirar o sal da pele, Rose percebeu alguma coisa diferente em um dos seios. Parecia um pequeno c a r o ç o. Te nt ou a p a lp a r mais para ver se, de repente, aquilo não se desvanecia, mas a pequena massa continuava ali. Não disse nada a ninguém, mas decidiu que ia procurar um médico para saber o que era. O desconhecido a assustava, mas prometeu a si mesma manter a calma e ver o que o médico lhe diria. Na segunda-feira, marcou consulta com seu médico, pois ele saberia o que fazer, que exames fazer para ter um diagnóstico. Conseguiu uma data próxima, iria encontrá-lo na quarta. A família e o namorado acharam que havia alguma coisa diferente nela.
- Est á t udo bem, f il ha? Pa r e c e p r e o c u p a d a… disse-lhe a mãe, depois do almoço. - Não é nada, não, mãe. Muita coisa pra fazer, talvez. Trabalho da faculdade pa ra ter m i na r, deve ser isso. O namorado também notara. - Está um pouquinho triste, meu bem? - Não, só um pouquinho cansada, talvez. E tentou agir como a Rose de sempre, alegre e falante. Chegada a quarta-feira, foi finalmente ao médico. Ele a examinou, mas não deu nenhum diagnóstico. - Vamos fazer alguns exames, para que possamos saber exatamente o que está acontecendo, est á bem? Primeiro vamos fazer a mamografia. E encaminhou-a a uma clínica. Rose fez a mamografia e voltou ao médico, esperando muito que não houvesse nada grave naquele exame. - Realmente, há uma lesão suspeita que precisamos investigar. É preciso fazer uma biópsia. – disse-lhe o médico. Ela fez a biópsia e o resultado não foi o que esperava: era câncer, infelizmente. - É necessário que façamos uma ressonância magnética para sabermos se há algum
outro nódulo menor, além deste que encont r a mos, antes de decidirmos sobre a abordagem terapêutica mais adequada. – o médico alertou Rose. Marcaram a ressonância e os exames laboratoriais e agendaram um retorno, para com esses resu lt a dos, decid i rem a conduta a seguir. El a f ic ou d e s e s p e r a d a , como qualquer ser humano que recebe uma notícia parecida. Teria que contar à família e ao namorado e seria como uma bomba caindo sobre todos. Precisaria da ajuda da família, claro. Eles tinham que saber. E foi para casa. Não quis dirigir, pois sabia que não estava em condições. Pegou u m ca r ro de aplicat ivo, pediria para o namorado pegar seu carro mais tarde. Ao chegar em casa, todos notaram a tristeza de Rose. - O que aconteceu, filha?
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Por q ue e s t á a s si m t ã o abatida? – Sua mãe, dona Lúcia, foi abraçá-la. Ela começou a chorar. - Ah, mãe, tenho que contar uma coisa a vocês e não é boa. Dona Lúcia franziu o cenho, assustada. - O que é, filha? – e a mãe abraçou-a de novo. - Est ou com câ nce r em uma das mamas. Senti um caroço e fui consultar meu médico, fiz os exames e ele comprovou, com a biopsia, que era maligno. Mas há tratamento, se estiver no início. Todos compar tilharam a tristeza de Rose, chocados, mas tentaram animá-la. - Se há tratamento, vamos a ele, filha. - Cla ro, muit as pessoas ficam completamente curadas, meu amor. – Felipe a amparou, carinhoso. - Eu sei, mas vou ter que
fazer cirurgia, há o risco de tirar parte do seio. Vou ficar mutilada, pode ser que ten ha que fazer quimio, nunca pensei em passar por uma coisa assim… - O importante é sacar fora a doença, Rose. – disse-lhe o pai. – E não sabemos ainda o que vai ser retirado, pode ser só o nódulo. E então não precisará de plástica, nem de quimioterapia, minha filha. Mas ela estava com medo. Sua vida sofria um baque muito violento e ela tinha receio de que tudo mudasse dali em diante. Apesar do carinho da família e de Felipe, que sempre que podia estava por perto para dar-lhe força, ela foi entrando em depressão. Com o acompanhamento da família e do namorado, fez a ressonância, voltou ao médico e constataram que
havia apenas um nódulo. Com este bom prognóstico, optaram pela cirurgia conservadora, o que não modificou, infelizmente, o medo de Rose em relação à doença. Até chegar a data da cirurgia para retirada do tumor, Rose ficou muito abatida. Não fosse o apoio de todos a sua volta, não se sabe o que poderia ter acontecido. Já não se impor tava de morrer, como se tudo tivesse acabado para ela. Chegou mesmo a desejar a morte. Felizmente o dia da cirurgia chegou e o nódulo foi extirpado. Tudo correu bem e o médico ficou muito satisfeito com o resultado. - Seu seio está limpo, agora é se restabelecer para tocar a vida. Como não f icou nada, nenhum resquício da doença, não precisará nem
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de químio. Mas faremos uma nova ressonância, depois que você se recuperar, para ter certeza de que não há mesmo necessidade. - Obrigado, doutor, é como se eu estivesse renascendo para a vida. Nã o houve ne ce ssid a de de mais nada. Rose estava curada. E a vontade de viver voltou, o sorriso foi voltando, devagarinho e Rose viu que a normalidade estava sendo restaurada. A vida, agora, tinha muito mais valor. A força da família e do namorado fora primordial para mostrar-lhe que não estar sozinha significa cem por cento de esperança e fé no futuro. Um novo verão chegou e numa nova manhã de sol e de luz, Felipe perguntou a Rose: - Que tal uma praia, para aproveitar esse dia lindo?
POESIA
SELMA REIS SOUZA NAS ASAS DE UM PASSARINHO (para Mario Quintana)
Mas o que fez de importante esse artífice das Letras? Ah... nasceu! Respirou... Filtrou o ar... Abriu, escancarou uma janela. Impar, valoroso momento na Literatura Brasileira. Oh, e o que mais fez esse ser insatisfeito? Decerto, com massagens, digo, mensagens ritmadas, salvou afogados. E andorinhas que (cantavam?) no fio telegráfico na Rua dos Cataventos. Mirou o relógio... Eram seis horas. Inda era tempo. Recolheu com enlevo, mais um pássaro que vinha vindo. Antes, porém, Nobre, com o pince-nez da tia Tula, foi alhures buscar algum alimento. De mãos cheias, retornou. Substantivos, verbos, adjetivos... Sentimentos... Apropriando-se, enfim, do poema. Q uão grandioso foste tu, ó poeta! Uma, duas, quinze... Mil borboletas Invadiam, voejavam sobre teu jardim. Não corrias atrás delas; elas chegavam, bailavam… Traduzias, então, cada qual em lindo verso. Alguém atravancou teu caminho? Nada!!! De carona nas asas de um passarinho, sobrevoas, sereno, A máquina de costura do tempo que, ponto a ponto, eternizou a tua história. Do livro Poesia no Entardecer Rio de Janeiro, Drago, 2020
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CRÔNICA
URDA ALICE KLUEGER AGRADECIMENTOS 2020 Ne s t e a n o i m p r ov á ve l , que a cada dia havia que nos cer tif icar mos s e c ont i nu áva mo s v ivo s ou não, tão no f io de uma espada se camin h o u , c h e g a r a o 30 d e dezembro é uma peripécia. Meu cachor ro At ahualpa não chegou – s e u c or a ç ã oz i n ho p a r ou a 23 d e a b r i l , e s e a lgo p o d e m e c o n s ol a r daquela perda é saber q ue ele já t i n h a v iv ido o seu tempo, que ele pode ser feliz com igo confor me deu, e que nos últimos 3 anos e meio foi mais feliz, também, na liberdade desta enseada onde era livre e onde até a p r e nd e u a lat i r q u a nt o q u e r ia , c oi s a q u e s e m p r e l he e r a neg a d a no s ambientes inóspitos aonde v iveu a ntes, t ir a nd o a c a s a d a m i n h a pr ima Rosi, aonde ele foi mu it o fel i z . Pe n s o, a go r a , q u e ele t a mb é m foi fel i z n a p ou s a d a do M á r io Pave si , n a Nova
Rú s sia , Blu me n au . At a hu alpa se foi e eu f iq uei – si nt o -me c om prometida com a vida enquanto tiver meus outros bichinhos, e agradeço a eles por terem sido tão bons e solidár ios, por terem sido meus compan heir o s a c a d a d ia e a c a d a noite, embora sempre estivesse preocupada com o destino deles caso eu faltasse. Mas sempre existem os anjo s b o n s d e s t e m u n d o , e Lucimar apareceu em algum momento oferecendo guarida às minhas gatas, caso fo s s e ne c e s s á r io, e s e u
Pousada de Mario Pavesi
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Moisés disse-me que f ic a r i a c o m Z o r r i l ho e Te r ez a Bat i s t a , e e nt ã o f iquei mais t ranquila, p oi s e st e foi u m a no e m que nu nca se sabia se s e i r i a s ob r e v ive r. E n tão, muitíssimo obrigada a Lucimar e seu Moi s é s – Luci m a r é t ã o q u e r i d a q u e n ã o h ave r ia c omo m i n h a s g a t a s n ã o go st a r e m d ela ; s e u Moi s é s t u d o e n t e n d e e t u d o f a z p elo s c a c h o rr o s , o s d ele e o s d a r u a , e Te r ez a e Z or r i l ho s ã o loucos por ele. Mas vamos sobrevivendo, p or e nq u a nt o, e e s t e é o mome nt o d e a g r a d e c e r, quando o ano está se
encer rando com quase t o do s nó s v ivo s. Há que agradecer a Mar ia A ntônia, amiga e v i z i n h a , q ue t a nt o me aju dou p or t o do o a no, desde encomendando caixas de leite para mim em Palhoça, até às r isadas, conselhos e b om hu mor n a s hor a s em que eu fraquejava. I n ig u alável Ma r ia Antônia, com quem f a le i mu it o m a i s ve z e s virtualmente do que a o v ivo. E h á q ue a g r a d e c e r à s m i n h a s out r a s a m ig a s d a q u i d a En s e a d a , a Shei la , a R a q uel , a I z a b el , (e o Wi l ly) e d e novo a o s e u Moi s é s , q ue f ic ou q u a s e t o do o ano por aqui, e Sônia, sua esposa, e a toda a s ol id a r ie d a d e q u e ve io deles todos. E à vizin h a A n a e a o s e u Wi lson , p ela sol id a r ie d a de também. E à Libélula D ou r a d a , cla r o! E agradeço à Lisete, que neste momento representa minhas amigas de Palhoça, e Ana Maria, que neste momento, para mim, representa o Par tido d o s Tr a b a l h a d o r e s d e Pa l ho ç a . Há um outro tipo de amizades solidár ias, mu it íssi mo solid á r ia s,
q ue t ê m e s t a do p r e s e n tes na min ha vida nos últimos tempos, desde que a vida f icou tão dif ícil. São os am igos e amigas encont radas n a i nt e r ne t – s ã o t a nt a s p e s s oa s q ue é i mp o s sível lembra r de tod as. Assim, ag radeço a to d a s ela s p or t u do o q ue a c ont e c e u d e b om e nt r e a gente nestes tempos t ã o d i f íc ei s. At r avé s d e Selene R it a Sard ag na, o meu abraço a cada u m e u m a , a e s s a ge nt e q ue n ã o la rg a a m ã o d e n i ng ué m! Então, há que agradecer a outras pessoas/programas que acompanhei e que me ajud a ra m a v iver este tempo, começando pe -
Antonia com Atahualpa
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lo s q ue m a i s aju d a r a m , sem dúvida, os Galãs Feio s , q ue a lé m do s e u hu mor r ef i n a do, do s e u ó d io fe st ivo, ja m a i s me d e c e p c io n a r a m id e olo gicamente. Obr igada, men i nos quer idos! E obr igada à Equipe do 2 4 7, a o A q u i a s S a n tarem, ao Thiago dos Rei s , a o M au r o do G i r o d a s O n z e, a o Por t a l do Jo s é, à do ç u r a do G u s t avo C o nd e, a o Re n at o A r o ei r a , p or a q uele d ia e m q ue ele d i s s e a q uela c oi s a m a r av i l ho s a “ Fa z 500 anos que homens como eu, brancos, heteros, etc. fa zem t udo e r r a do ne st e p a í s. E s t á n a hor a d e mu d a r ”. E s p e r o v ive r o s u f icie nt e para ver essa fala do
A roei ra t ransfor mad a nu m h i no. E t a mb é m q ue r ia a g r a decer ao David Choquehuanca por aquela fa la i n ig u a lável n a p o s se do novo presidente d a B o l í v i a . Ta m b é m quero ver aquela fala t r a n sfor m a d a e m h i no! Meus ag radecimentos, também, ao pessoal d o C a n a l Ol á Br a si l , e à doce A melie – eles sempre me acudiam quando eu precisava melhorar um pouco,
bem como ao canal Wa l l y e D a s h a , q u e me r ela x ava c om a s u a c a l m a , e à l ive do Moaci r Fr a n c o q u e, a o s 8 4 anos, consegue criar u m espet ácu lo novo a c a d a noit e. O b r i g a d a a o s d i ve r s o s canais de História que eu assistia, ao Canal Voz e s L at i n a s , e à A r t e Brasileira em geral – q u e r iq u e z a q u e t e m o s e m m a t é r i a d e A r t e!!!
Olá Brasil
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C omo t e r ía mo s r e si s t ido s e m ela? Pa r a q ue m tem uma Ar te assim, p o d e mo s a f i r m a r : “ Nã o p a s s a r ã o”. (S e r t ã o d a E n se a d a d e Br it o, 30 d e D e ze m b r o d e 2020 – P r i m e i ro a n o d a Pa n d e mi a Ur d a Ali c e K l u e ge r E sc r it o ra , h i st o r i a d o ra e doutora em Geograf i a p e la U FPR)
GRANDES POETAS BRASILEIROS
CRUZ E SOUSA PIEDADE O coração de todo o ser humano foi concebido para ter piedade, para olhar e sentir com caridade, ficar mais doce o eterno desengano. Para da vida em cada rude oceano arrojar, através da imensidade, tábuas de salvação, de suavidade, de consolo e de afeto soberano. Sim! Que não ter um coração profundo é os olhos fechar à dor do mundo, ficar inútil nos amargos trilhos. É como se o meu ser compadecido não tivesse um soluço comovido para sentir e para amar meus filhos!
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REPORTAGEM
EMILY SANTOS, COM LUIZ C. AMORIM NOVO ENSINO MÉDIO: AS MUDANÇAS QUE PASSAM A VALER EM 2022
A no let ivo maior, novo cu r r ículo e for mação técnica são algumas das mud anças que t anto escolas públicas quanto privad as terão que adot a r, mas implementação será gradual. Os alunos que ingressare m no e n si no mé d io a pa r t i r deste a no vão se deparar com uma novidade. O novo ensino médio, aprovado nu ma lei de 2017, passa a valer a partir deste ano letivo e vai mudar gradativamente o ensino em escolas públicas e privadas de todo o país.
Ent re out ros pontos, o novo for mato prevê o aumento de horas letivas anuais, uma mudança na grade curricular e até no objet ivo do própr io ensi no mé d io. E s p e r e mos q u e s e ja p o s s ível , m a s paga ndo mal os professores como pagam, com q u a l i f ic a ç ã o a q u é m d o q u e d e ve r i a s e r e c o m os cursos superiores que for ma m professores t ão esva ziados, com a falt a tão g rande de professores, como aumentar a carga horária? O que antes poderia ser visto como uma prepara-
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ção para o ensino superior vai passar a ter um olhar voltado ao mercado de trabalho. Isso porque a etapa de ensino será integrada a cursos técnicos que farão o aluno deixar o ensino médio com um diploma de uma área específica. E os professores para as aulas de prof issionalização, de onde v i r ã o? E l e s t e r ã o q u e estar em todas as escolas do Brasil. Os professores com formação tradicional não poderão ser esses p r ofe s s o r e s p a r a a u l a s t é c n ic a s , p r of i s sion a l izantes. O Mec já pensou nisso? Ou o ministério da educação? Alguém?
A CARGA HORÁRIA VAI AUMENTAR Todas as escolas públicas e privadas terão que expandir o tempo dedicado ao ensino médio já a partir deste ano. O tempo de au la que e r a de, e m média, 4 horas por dia,
passará a 5 horas por dia. Com isso, no final do ano, o aluno terá cumprido mil horas letivas anuais, um aumento de 200 horas em comparação com o modelo anterior. Essas duzentas horas a mais serão as aulas profissionalizantes. Quem dará essas aulas? Não tinham que ter pensado nisso antes de tentar i mpla nt a r? Sem professores qu al if ica dos pa r a isso, sem aulas profissionalizantes. Até 2024, quando a primeira turma do novo ensino médio deverá estar concluindo a fase de ensino, os alunos terão cumprido 3 mil horas letivas. A lei não deter mina, no entanto, se o cumprimento da carga horária vai ser presencial ou à distância, mas a legislação permite que 30% do ensino médio noturno e 20% do diurno seja minist rado remotamente. É outro complicador, para bagunçar ainda mais a educação, já t ão combalida. No entanto, passar mais tempo na escola não vai ser u ma nov id a de. De acordo com o Censo da Educação Básica, do Instit uto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 10,8% das matrí-
do novo modelo de ensino méd io que e nt r a em vigor neste ano é a grade curricular. As disciplinas passa rão a ser á reas do conhecimento, modelo já conhecido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares. São elas: •linguagens e suas tecnologias; •matemática e suas tecnologias; •ciência s d a nat u reza e suas tecnologias; NOVA GRADE •ciências humanas e soCURRICULAR ciais aplicadas; O u t r a g r a n d e m u d a n ç a Estas áreas vão abranger culas de ensino médio em 2019 for a m r eg ist r a d a s em instituições de tempo integral. A taxa foi maior na rede pública (11,7%) do que na rede pr ivada (4,8%). As d u a s r e d e s r eg i s t r a r a m o au mento que já vin ha s e ndo ob s e r va do d e s d e 2015, quando a taxa total de mat r ícu la em escola em tempo integral era de 5,9%.
COMO SERÁ A NOVA GRADE CURRICULAR DO ENSINO MÉDIO A PARTIR DE 2022: Como era: discipl inas Como fica: áreas do coindividuais, trabalhadas nhecimento integradas separadamente Biologia Física Química
Ciências da Natureza e suas tecnologias
Filosofia Geografia História Sociologia
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Artes Educação Física Lingua Inglesa Língua Portuguesa
Linguagens e suas Tecnologias
Matemática
Matemática e suas Tecnologias
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todas as disciplinas que já são t rabal hadas em aula atualmente. Portant o, ne n hu m a dela s se r á removida da grade. No novo modelo, os conteúdos serão trabalhadas de maneira integrada nas salas de aula. Assim, assuntos de ar tes poderão ser trabalhados junto aos conteúdos de histór ia, por exemplo, integrando e relacionando duas áreas distintas. Mais complicadores, mas se isto funcionasse, seria interessante. Esta parte da grade curr icu la r vai ocupa r 60% do total de horas letivas, o equivalente a 1.800 horas, divididas entre 1º, 2º e 3º anos do ensino médio. No entanto, somente conteúdos de por t ug uês e matemática serão t raba l h a do s no s t r ê s a no s letivos.
NOVO “PROJETO” Mais u ma novidade que passa a integ rar o ensi no médio em 2022 é o ch a m a d o “ p r oje t o d e v id a”. Este componente transversal será oferecido nas escolas pa ra ajud a r os jovens a entender suas aspirações, num estilo de orientação. O objetivo é ajudar o aluno a compreender o que
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ele quer para seu futuro, ao mesmo tempo que entende como a escola pode ajudá-lo a alcançar esse obje t ivo. I s s o d e ve s e r ref letido, por exemplo, na escolha da eletiva que o estudante vai cursar. Não é especif icado se esta orientação deve ser feita por um profissional especializado, como um psicólogo, ou se um professor ou profissional da u n id a de de e n si no se r á responsabilizado pela função. Mais uma inconsistência que deveria ter sido def i n id a antes d a implantação.
aplicada em 2022 são os “itinerários for mativos”. Eles serão optativos, escolhidos de acordo com a vontade do estudante e da oferta da instituição. As escola s podem oferecer as aulas já a partir deste ano, mas só serão obrigatórias em 2023. Obrigatórios? Mais complicação, já que é outra coisa bem pouco definida. Goiás é um dos estados q ue vã o i mple me nt a r a m o d a l i d a d e n e s t e a n o. O s e st u d a nt e s t e r ã o 17 opções à disposição (veja no gráfico). Já no Rio de Janeiro, as escolas estaduais só vão oferecer os FORMAÇÃO POR itinerários em 2023. As aulas serão compostas “ITINERÁRIOS” pa r a se aprof u nd a r n a s O ut r a g r a nd e nov id a d e qu at ro á re a s do con he do modelo que pode ser ci me nt o e n a for m a çã o
técnica e profissional. O aluno deverá escolher um it i n e r á r io p a r a c o m p o r sua grade e poderá optar por outros itinerários ao longo dos três anos caso d e s e j e e c a s o a e s c ol a ofereça outra opção com vagas disponíveis. O objetivo do governo era diminuir a quantidade de p r of e s s o r e s n a e s c o l a , mas parece que o tít ulo s a i u p el a c u l a t r a , p oi s vã o pre cisa r de professores para os quais ainda nem foi dada qualif icação. Como tem acontecido nas últimas décadas, a educação dever ia mel hor a r, m a s pa r e c e q ue nossos gover na ntes não estão muito empenhados nisso, como sempre nesses tempos mais recentes. Vamos ver no que dá.
REVISÃO DE TEXTOS E EDIÇÃO DE LIVROS Da revisão até a entrega dos arquivos prontos para imprimir. Contato: revisaolca@gmail.com
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GRANDES POETAS BRASILEIROS
MARIO QUINTANA PRESENÇA É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos… É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo… Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar. É preciso a saudade para eu sentir como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida… Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato… E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.
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CRÔNICA
MARIA TERESA FREIRE À ESPERA DO NOVO ANO 2022. Na acepção da palavra, esperamos que seja um ano diferente do ano que findou, 2021. Diferente em tantos aspectos da vida. Sobretudo no âmbito da saúde. Que haja saúde para todos. Que todos estejam saudáveis. Sobre saúde e os recursos para mantê-la são tantos que nos atrapalham em vez de ajudar. Aqui entra o bom senso. De cada um. Do conhecimento do seu próprio organismo. Do conhecimento de si mesmo. Na acepção da palavra, que seja um ano de normalidade. A volta das atividades. De todas elas. Profissionais, mercadológicas, sociais. Mas, sobretudo das atividades literárias. Que nos sintamos bem para encontros presenciais, para confraternizações, para compartilhamentos, para convivência. Que nos estimulam. Que nos incentivam. Que nos alegram. Que dão mais
sentido à vida. Um ano que os projetos interrompidos voltem à sua fase de concretização. Que retomemos às nossas iniciativas deixadas em 2019, mas não esquecidas.
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Que não esqueçamos os relacionamentos virtuais iniciados nos dois anos anteriores. As lives organizadas, participadas, assistidas, aplaudidas. A possibilidade de estar
presente em eventos around the world, mas também realizados no país, na cidade, no bairro, na vizinhaça. Os talentos
desenvolvidos para distrair a obrigatoriedade de ficar em casa. Ou o medo de sair de casa. Que não esqueçamos
que, apesar das tristezas acontecidas, situações boas aconteceram. Que a fé ajudou a sobreviver às mazelas. Que a fé ajuda a enfrentar os obstáculos. Que a fé nos leva adiante. Eu não sei o que virá com 2022. Ouço o que os analistas comentam sobre os novos cenários econômicos. Sobre os cenários sociais. Sobre as possibilidades, as dificuldades, as projeções, as possíveis realizações. É difícil especular, prever. Mas não é impossível sonhar, desejar e lutar para conseguir. Que venham, com o novo ano, novas conquistas e vitórias. O amadurecimento da fragilidade humana e o comportamento adequado para fortalecê-la. Que seja, novamente, um bom ano para todos! Feliz 2022!
VALE DAS ÁGUAS: O paraíso de água doce eBook Kindle por LUIZ CARLOS AMORIM
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R$ 12,00 para comprar na Amazon O VALE DAS AGUAS é uma seleção de crônicas sobre minha terra, a Cidade das Cachoeiras, no decorrer de toda a minha vida como jornalista e escritor. Sempre escrevi e publiquei crônicas em blogs, sites, revistas e jornais por todo O Brasil e em alguns países de língua portuguesa. Então aqui está um tributo a minha cidade natal, um registro de sentimentos e emoções, de falar de gentes, de lugares, de natureza, de beleza e de vida. De cantar o paraíso de agua doce. Não é a toa que "a natureza tem queda por Corupá"
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POESIA
SELMA FRANZOI AYALA CANTIGA DE PESCADOR Pesca, pesca, pescador Pesca ilusão, pesca dor Sonha, sonha, sonhador Navega na noite sem luar Joga tua rede na sombra da noite, Joga teus sonhos ruins no mar Enreda o barco, enreda o tempo, enreda o amor Ancora o teu sonho e o meu Em tua alma de pescador... Canta, canta, pescador Encanta o teu sonho e o meu Em tua alma de sonhador Busca estrela no céu, busca estrela no mar Leva a dor da minha saudade Pro fundo das águas do mar... Canta, canta, pescador Canta a gaivota, canta a ventania Num canto triste de mar
“Chove chuva”, tanta chuva no mar Chove na noite sem luar Choram as ondas revoltas do mar “Chove chuva”, tanta chuva no mar Onde o pescador adormece atlanticamente Ancorado na lembrança do meu olhar... Busca estrelas no céu, busca estrelas no mar. Sonha no oceano, sonhador Encanta a minha tristeza, navega no meu sonhar Escreve teu nome e o meu, no fundo das águas do mar... Busca estrelas no céu, busca estrelas no mar. “Chove chuva”, tanta chuva no mar Chove a tristeza da noite, na negra noite do mar Pesca estrelas no céu, pesca estrelas no mar Aporta teu barco no Porto Belo, Leva-me para o mais profundo Atlântico deste mar...
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ENTREVISTA
LUIZ CARLOS AMORIM UMA VIDA DE LETRAS L u i z C a rlo s A m o r i m é natural de Corupá (SC), a cidade das cachoeiras ao pé da Serra do Mar, onde nasceu em 16 de fevereiro de 1953. É formado pela Faculd a de de Filosof ia , Ciências e Letras de Joinville. Bancário aposentado, reside em Flor ianópolis e Lisb oa , onde e s c r eve contos, poesia, crônicas, artigos, etc. É fundador e coordenador do Grupo Literário A ILHA, que completa, neste ano de 2022, QUARENTA E DOIS anos de existência e resistência – único órgão cultural a permanecer tanto tempo na luta. É editor das Edições A ILHA, com mais de 100 títulos já publicados, além do Suplemento Literário A ILHA, revista trimestral que reúne a produção dos integrantes do grupo, de escr itores do estado, do país e até do exterior, com 42 anos de circulação, da revista Mirandum, da Confraria de Quintana, e da revista ESCRITORES DO BR ASIL, o mais re-
cente sucesso editorial das Edições A ILHA. O autor tem 33 livros publicados, de poesia, de crônica, de contos, infantil e de história literária. Três outros
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estão no prelo, para lançamento este ano: LIVRO DE VIAGEM, DIÁRIO DA PA N DEMI A e A NOVA LITERATURA CATARINENSE – 2ª. Edição revis-
ta e ampliada. Foi eleito a Personalidade Literária de 2011 pela Academia Catarinense de Letras e Artes e ocupa a cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras. Foi o representante de Santa Catarina no Salão Internacional do Livro de Genebra, com o lançamento de 3 obras suas, participação na antologia Varal do Brasil e com a divulgação de escritores que não puderam ir, com a revista Suplemento literário A ILHA. Editor de conteúdo do por tal PROSA, POESIA & CIA. e autor de 33 livros de crônicas, contos, infantojuvenil e poemas, três deles publicados no exterior. Co-autor de várias antologias, pelo Brasil e pelo mundo, como "Selected Writings" - Color a do -Est a dos Un idos; "Mar, Poema e Imagem" - FCC Edições, Florianó-
polis; "Antologia da Nova Poesia Brasileira" - Fundação Rio, Rio de Janeiro, "Poesia Brasileña para el nuevo milênio", "A Poesia Cat ar i nense do Século XX", "UK Brasil - Antology of Poems" – Londres, “Varal do Brasil” - Suiça, Poetas da ILHA, etc. Colaborador de revistas e jornais no Brasil e exterior – tem trabalhos publicados na Índia, Rússia, Grécia, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Cuba, Argentina, Uruguai, Inglaterra, Espanha, Itália, Cabo Verde e outros, e obras traduzidas para o inglês, espan hol, bengalês, grego, russo, italiano, francês -, além de colaborar com vários portais de informação e cultura na Internet, como Rio Total, Tele s c ó pio, C r o n ó pio s , Alla de Cuervo, Usina de Letras, etc. Pergunta – Luiz Carlos Amorim, é sabido que você é um pioneiro em lançar “novos espaços” pa r a a poesia, como por exemplo o Po e s i a n o S h o p p i n g , Poesia na Rua, Pacote de Poesia, Poesia Carimbada, Poesia na Escola, etc. Poderia nos falar sobre eles quanto à dinâmica e se algum deles existe de forma ininterrupta? Lui z Carlos Amorim – Pois é, esses projetos foram
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su rg i ndo com o t e mp o, com a necessidade de novas maneiras de divulgar a poesia. Começamos com o Varal da Poesia e o Recital de Poemas, nas praças, nas feiras, nas escolas, bares, etc. e nos anos 90 o varal transformou-se em Poesia no Shopping, pois os tempos assim o exigiam, já que a maior concentração de público passou a ser nos shoppings. Esse trabalho continua em alguns shoppings, em escolas e nas feiras do livro. O projeto Poesia na Rua é mais dispendioso, ele implica na produção de outdoors e no aluguel dos tapumes. Po r i s s o, n ã o t e m u m a p e r io d ic id a d e. Q u a n d o conseguimos recursos ou uma pareceria com alguma empresa de outdoors, entra em ação o Poesia na Rua. O Pacote de Poesia é um livro de formato diferente: as páginas são folhas soltas dentro de um pacote pardo (tipo de pão), que se transfor ma na capa do liv ro. Já tivemos três edições e brevemente teremos outra. Poesia Car imbada é u m projeto sempre em ação: onde o grupo vai, ele pode ser aplicado, impresso em qualquer superfície. Apenas renovamos os carimbos com novos poemas de tempos em tempos. O projeto
Amorim e Agualusa
Poesia na Escola é o mais barato e um dos que dá muito retorno, pois como é uma apresentação com poemas de integrantes do grupo, ele pode ser enviado por e-mail e só depende dos professores usarem o material ou não. Tem dado resultado, pois somos convidados para comparecer a algumas escolas para conversar com os alunos. Pergunta – “... os projetos foram surgindo com o tempo, com a necessidade de novas maneiras de divulgar a poesia...” Então, poder-se-ia dizer que apesar do caos cotidiano sempre há espaço para a poesia. Na sua opinião, o que mais contribui para a criação artística: um mundo maravilhoso ou um mundo mais
conturbado? Luiz Carlos Amorim – Eu acho que nem uma coisa nem outra e as duas coisas: qualquer que seja o tempo, há que haver lugar para a poesia, ou então o ser humano ficará totalmente i n se n sível, du ro, mu it o mais do que é hoje. A poesia e a infância são nossas esperanças de salvação. Se soubermos educar nossos filhos, quem sabe o amanhã não será melhor? Eu diria que o que contribui mais para a criação artística é o fato de podermos ver – não só os poetas, mas talvez mais eles – que o mundo ainda é bonito, apesar do caos, apesar do desrespeito à natureza e ao ser humano. É a capacidade de ver essa beleza, olhar com olhos de
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poeta que faz com que tentemos mudar esse estado de coisas que torna o mundo um lugar tão perigoso de se viver. E ao mesmo tempo tão bom. Depende de nós. Pergunta – Você já publicou em Grego, Bengalês, r u s s o, it a l i a n o, i n g lê s , espan hol, f rancês, ent re out ros idiomas. Estas publicações são de obras avulsas ou todos são livros, a exemplo do “The Color of the Sun”, a versão inglesa do seu livro “A cor do Sol”? Lui z Carlos Amorim – Livros, tive apenas quatro publicados lá fora. Esse que você citou em inglês, a versão dele em espanhol, “The Poet”, também publicado pela IWA – International Writer Association (USA), do qual faço parte, e a edição em cinco idiomas – português, inglês, espanhol, francês e italiano, de uma antologia poética minha. No mais, são poemas e textos traduzidos para outros idiomas que são publicados em jornais, revistas e antologias pelo mundo. Pergunta – É longa a sua trajetória literária; mais de quarenta anos. Você pôde se dedicar exclusivamente à sua vida de escritor ou isto foi algo paralelo com outras atividades prof is-
sionais? Luiz Carlos Amorim – Há mais de dez anos estou aposentado, então posso dizer que me dedico exclusivamente a ler e escrever. É claro que tenho atividades como dança, tai-chi, hidro, musculação, caminhada, edito duas revistas e faço a manutenção/atualização do portal Prosa, Poesia & Cia. do Grupo Literário A ILHA, além de um blog diário, mas posso me dedicar muito mais agora a escrever, tanto que colaboro com dezenas de jornais, revistas e sites no Brasil e pelo mundo afora. E posso, também, me dedicar mais aos meus livros, publicar fora do Brasil. Até me aposentar, para ler e escrever t i n ha que dividi r muito bem o tempo, roubar um pouquinho do tempo com a família, que do trabalho não havia como prescindir. Mas valeu a persistência, porque hoje, graças a Deus, sou reconhecido e respeitado no meio. Pergunta – Uma sua crônica fala sobre a “doação de livros”. Você acredita que se a condição f inanceira dos brasileiros fosse outra, elas comprariam mais livros? Lui z Carlos Amorim – Quero acreditar que sim. Digo isso porque quando
há (havia?) coleções literárias à venda nas bancas de revistas e jornais, por preços bem mais convidativos, vende tudo. Os sebos vendem muito livro, principalmente os mais atuais, que muita gente compra, lê e depois vende para o sebo, pois muitas vezes não têm onde guardar. Então acho, si m , que se a cond içã o financeira dos brasileiros fosse melhor, comprariam
muito mais liv ros, até porque a educação e a cultura também seriam mais apuradas, o que por si só já significa mais leitura. A educação ruim que temos no Brasil, com o ensino sucateado, tem muito a ver com a falta do hábito da leitura. Pergunta – “Mirandum” é uma publicação que você coordena e edita. Você poderia falar um pouco sobre
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a Confraria de Quintana? Luiz Carlos Amorim – Os editores da Mirandum, na verdade, somos eu e a Maria de Fátima Barreto, de Laguna. Ela teve a ideia e eu a adotei, pois sou admirador inconteste do poeta Quintana. A Confraria de Quintana é uma tentativa d e r e u n i r nu m a me s m a publicação todos aqueles escritores que são leitores do grande poeta. É uma reunião de gente que gosta do que Quintana escreveu e que escreve sobre a obra dele e sobre ele, também para combater aquele mania de alguns "formadores de Opinião" ou "críticos de literatura" que insistem em colocar em dúvida a grandeza de Quintana. Então a Confraria de Quintana existe e publica a Mirandum para dizer ao mundo que Quintana é, sim um dos maiores, senão o maior poeta do Brasil. Pergunta – Na sua opinião o estilo é algo mais ligado à decisão do escritor ou seria o resultado da soma de fatores como a cultura, experiência e amadurecimento de cada um? Lui z Carlos Amorim – Penso que seria o resultado da soma de fatores como a cultura, experiência, amadurecimento, criatividade e leitura de cada um, pois o
estilo é uma coisa que raramente está definida na primeira obra do escritor. O estilo vai sendo construído, moldado, com a prática. É escrevendo que se adquire a nossa identidade literária. Pergunta – Algum autor em especial inf luenciou você durante a sua trajetória de escritor? Lui z Carlos Amorim – Quando comecei a escrever, lá pelos quatorze, quinze anos, eu lia, ainda, apenas os clássicos da literatura brasileira. Logo em seg uida comecei a ler os g randes clássicos u n iversais e os g randes contemporâneos. Descobri, também, Quintana, Coralina, Pessoa, Amado. Então, acho que querendo ou não, Quintana e Coralina me influenciaram. E Urda Alice Klueger e Dr. Enéas Athanázio também, pois sempre os li, desde que começaram a publicar. Pergunta – Atualmente, com a inter net, temos oportunidade de conhecer muit a produção escr it a, principalmente a poesia. Isto poderia ser um indicador de que as pessoas gostam sim, de poesia? Então porque será que poesia não vende tanto quanto os romances? Luiz Carlos Amorim – A Internet é uma vitrine de-
mocrática, onde qualquer um pode colocar a sua produção, seja ela boa ou não. O que não significa que vai ser lido. Nem tudo é lido. O que é bom se destaca, ganha mais visibilidade. É óbvio que com o advento da internet, a poesia é muito mais lida do que se ela não existisse. Mas quem gosta mesmo lê na internet,
até copia para ter e ler mais vezes, mas compra livro também. Há muito plágio ou apropriação indébita na internet, mas esta já é uma outra história. Perg unt a – A i nd a com relação à pergunta anterior, será que muitas destas pessoas não escreveriam poesia apenas como um meio de extravasar os seus sen-
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timentos?. É cansativo ler três, quatro, cinco poemas sentimentalóides. Será que esta característica é o que afasta os leitores e compradores de livros de poesia? Lui z Carlos Amorim – Sim, pode ser, há muita gente que escreve pensando que está fazendo poesia, mas na verdade não está. Muita vez é prosa em forma de verso, e prosa ruim. E não é nada agradável ler um poema que não é poema e não contém poesia. E nem sequer é uma boa prosa. Isso pode afastar o leitor. Eu imagino um leitor que não costumava ler poesia, tentando aderir a ela e ter o azar de lhe cair às mãos, logo de cara, uma coisa ruim. Esse leitor vai voltar pa ra o roma nce, pa ra o conto, etc. e não vai querer mais saber de poesia. Pergunta – Na sua crônica “Para Gostar de Ler” você fala sobre a importância de haver livros em casa, despertando a curiosidade da criança, e também do papel da escola neste processo de amor aos livros. Grande parte dos jovens e crianças de hoje não conseguem interpretar um texto, um bilhete, além de escreverem errado. Na sua opinião, a que se deve este fiasco na Educação atualmente? Lui z Carlos Amorim –
Esse f ia sco t em mu it a s causas. A educação de nossos filhos mudou muito, de umas duas ou três gerações para cá. Então deixamos nossos filhos fazerem o que querem, para não nos incomodarmos, não lhes damos muitos limites e a liberdade excessiva faz com que eles façam escolhas erradas ou não muito saudáveis. E a escola vai pelo mesmo caminho. O ensino está cada vez mais fraco e as crianças, às vezes, passam de ano sem merecer. Os pais e os professores já são das gerações permissionistas, da liberdade exagerada, da televisão em demasia, da internet, dos jogos, etc. O governo relega a educação a últ i mo pla no, colabo rando para a sua falência. Então é um círculo vicioso. Pergunta – Parabéns pela publicação do seu liv ro " H i s t ó r i a s d e Na t a l ” e também de ‘MEU PÉ DE JACATIRÃO”, “Portugal, Minha Saudade”, “O Vale das Águas”. Fale um pouco sobre eles. Luiz Carlos Amorim – O livro "Histórias de Natal" é uma coletânea de contos sobre a d at a mag na da cristandade. O tema é cativante tanto para quem escreve como para quem lê. Então, quando a minha editora, Urda Klueger, me
propôs publicar um livro só de contos de natal, comecei a trabalhar nele e levou alg u n s a nos pa r a chegar até ele. Os leitores estão gostando. A internet facilita muito o feedback, at ualmente. “Meu Pé de Jacatirão” é um livro de poemas, com poemas mais antigos lado a lado com os mais atuais. Já esgotou também a segunda edição. “Portugal Minha Saudade” é um livro de crônicas sobre aquela terra fantástica, su a gente, su a s beleza s tantas, seus vin hos, sua comida, sua música, tudo. Tão fantástica que estou morando metade do ano lá e metade aqui. Já “O Vale das Águas – o paraíso de água doce – é um livro de crônicas sobre minha terra natal, Corupá, a terra das cachoeiras. Com muitas
fotos em cores, para estampar um pouco de toda a beleza natural daquele lugar. A natureza tem queda por Corupá. Todos esses livros estão disponíveis na Amazon. Pergunta – Há pessoas que dizem "não acreditar em Deus". O estranho é que elas arrumam presépio no Natal, os filhos casam na Igreja e até fazem promessa. Será que declarar "não acreditar em Deus" t raz alg u ma for ma de st at us nestes tempos atuais? Luiz Carlos Amorim – Eu não tinha pensado nisso, mas pode haver algum sentido nisso. Dizer que não se acredita em Deus causa p olê m ic a e q u e mel hor maneira de se manter em evidência do que provocar polêmica? Deve ser muito dif ícil não acreditar em
Luiz C. Amorim e Flávio José Cardozo
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uma força superior, não importa o nome que se lhe dê. Porque há que haver uma força superior que rege o universo, isso é inegável. Pergunta – Você ocupa uma cadeira na Academia Sul Brasileira de Letras e foi eleito a Personalidade Lit e r á r ia d e 2011, p el a Academia Catarinense de Artes e Letras, pelo livro “Nação Poesia”. Que diferença isso faz? Lui z Carlos Amorim – A diferença que faz é a constatação do reconhecimento do trabalho que venho realizando nessas mais de quatro décadas em prol da criação de espaços para a nossa literatura e da divulgação de nossos escritores. O Grupo Literário A ILHA, que coordeno, teve muito a ver com isso. Pergunta – Você esteve representando a literatura catarinense no Salão Internacional do Livro de Genebra. Como foi isso? Luiz Carlos Amorim – Fui convidado pela editora do
Varal do Brasil, Jacqueline Aisenman, brasileira que divulgou a literatura brasileira a partir de Genebra, na Suiça. Agora ela vive em Portugal. Eu já conhecia Genebra e foi muito bom volt ar para lançar meus livros lá. É incrível estar num país onde não se fala a nossa língua e ter os livros comprados por portugueses, angolanos, cabo-verdianos, etc. É muito bom ser prestigiado num lugar onde não se é tão conhecido. É fascinante você estar numa feira internacional longe de casa e ouvir, pelo serviço de alto-falantes do Salão, que algumas pessoas estão procurando por um escritor brasileiro, e ouvir o meu nome. Pergunta – Alguma mensage m e sp e cial pa r a os leitores? Lui z Carlos Amorim – Sim, que leiam, leiam muito, de tudo, e também e principalmente, conheçam os escritores da terra de cada um, os escritores que
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estão perto. E se gostarem, deem livros deles de presente para amigos que gostam de ler. E, ainda, doem seus livros depois de lidos: para escolas, para pessoas, para asilos, orfanatos, etc. Não os deixem presos em gavetas ou prateleiras. Pergunta – Últimas palavras? Lui z Carlos Amorim – Fico feliz por ter a oportunidade de dar a conhecer um pouquinho de mim aos leitores. Sou um cara simples, que gosta da família, da natureza, de ler e escrever, de conhecer pessoas, de conhecer novos lugares. Que não se preocupa muito mais com horár ios, mas que não perde a hora para fazer tai-chi, hidroginástica, musculação, dança de salão. Para caminhar, ler e escrever, não há necessidade de agendar hora. Mais sobre mim e o meu trabalho pode ser encontrado no portal PROSA, POESIA & CIA., em https://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br , na minha página e na página do Grupo Literário A ILHA/Escritores do Brasil, no Facebook e no meu blog Crônica do dia, em Http:// luizcarlosamorim.blogspot. com.br . Leiam meus livros em e-book disponíveis na Amazon, por preços quase simbólicos.
POESIA
ROSÂNGELA BORGES ASAS O pessegueiro sente medo. Suas folhas cansadas, estranhas, amareladas. O sol, a chuva, seu ninho: Por que não nasci passarinho? A macieira sente frio. Suas flores, suas cores, suas sementes A grama, a noite, a calçada Meu Deus que vida gelada! A laranjeira sente dor. A fruta pequena, azeda, dourada Desliza, cai e chora: Por Deus, porque não nasci amora? O gato sente medo. Sua sombra persegue, lamenta, amassa. Voa, foge, caça: Meu Deus, porque não nasci fantasma? Eu não sinto nada. Esse vento, esse olhar, essa estrada. O pêssego, a maçã, a laranja, o gato. O passarinho, o frio, a amora, o fantasma: Eu tenho o mundo: Nasci com asas!
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POESIA
JACQUELINE AISENMAN UM POEMA E assim, vou levando a vida , sem me calar... Sem fechar os ouvidos Sem cruzar os braços Muitas vezes sem mesmo Dar os abraços... Vou levando como a onda, indo e vindo levando de mim e trazendo de lá Cá ficando com a escolha do perdido Que encontrou sua morada no labirinto. Vou levando a vida e sem me calar, nunca!, sinto a dor das feridas sinto o pé calejar mas me importa é Falar!
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ENSAIO
ENÉAS ATHANÁZIO O AMIGO ESCRITO DE MONTEIRO LOBATO “Não somos amigos falados, somos amigos escritos.” Monteiro Lobato Godofredo Rangel (1884/1951) foi colega de Mo nt e i r o L ob a t o nu m a “república” de est udantes, na época em que ambos estudavam Direito n a s “A r c a d a s”, e m Sã o Pau lo. Er a u m pequeno chalé, sit uado no bair ro do Belen zin ho, até hoje ex ist e nt e, e que e nt rou na história literária como Minarete, assim apelidado pelo poeta R ic a r d o G onç a lve s. O s d oi s f u t u r o s e s c r it o r e s pouco conviveram e depois se separaram, cada qu al seg u i ndo seu de s t i n o. R a n gel i n g r e s s o u na magist rat ura mineira e Lobato, depois de ter sido P romot or P úbl ic o, virou fazendeiro, editor e, por f im, escritor prof ission al. Pouca s vez e s se e ncont r a r a m no correr da existência mas, em 1903, iniciaram uma
correspondência literária que durou 44 anos e foi r e u n id a , e m p a r t e , no s dois volumes de “A Barca de Gleyre”, de Monteiro Lobato. (Hoje a Editora Globo reuniu num só volu me). As ca r t as-respost as de Rangel nu nca
foram publicadas e nem se sabe se ainda existem. Pouco antes de falecer ele r e novou a proibiçã o de sua publicação, de forma que “A Barca” ficou para sempre um livro incompleto em que só um lado fala e o outro permanece em silêncio. Como bió -
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g r afo de R a ngel, mu ito batalhei pela publicação dessas e outras car tas ma s nã o t ive suce sso e elas continuam inéditas, talvez para sempre. Godofredo Rangel foi romancista, novelista, cont i s t a , c r o n i s t a , c r ít ic o, gramático e tradutor. Sua obr a é p ouco volu mosa mas de g rande qu alid ade, fato ressalt ado pela melhor crítica da época. Não foi, porém, um homem bafejado pela sorte. A p e s a r d e s e u t a le n t o, Rangel nu nca obteve os favores da boa sorte. Diria mesmo que foi vítima de muitos azares. Embora magist rado de carreira, passou a vida a braços com dif iculdades f inanceiras, obr igando-se a traduzir sem parar e a realizar tarefas abomináveis para u m e sc r it or, como le cion a r escrituração mercantil e fazer a contabilidade de uma usina elétrica, o que levou Lobato a apelidá-lo de “elet r icista do Sapu-
caí.” Além disso, sua vida conjugal parece ter sido cont u rbada desde o início, como se percebe de cer tas passagens dos escr itos lobatianos. É a d m i r ável q ue, e m ci rcunstâncias tão adversas, pudesse escrever obra tão esmerada. A excessiva proxi m id ade de Lobato, a quem se ligou desde a mocidade, t a mbém foi prejud icial. C o m o a á r vo r e n o r m a l que tem por destino nascer à sombra do frondoso carvalho, Rangel acabou of uscado pela glór ia literária do amigo. Percebendo isso, Lobato t udo fez para divulgar e enaltecer a obra rangelina. A intensa repercussão provocada por “Vida O c i o s a ”, s e u r o m a n c e de estreia, publicado em 1920, por paradoxal que pareça, também o prejudicou. Esse fato, aliado ao grande hiato ocorrido até a publicação de seus livros posteriores, levou os cr íticos a analisarem s u a o b r a c o m b a s e e xcl u s iv a n o r o m a n c e d e estreia, abstraindo do restante e dando uma visão distorcida da realidade. Foi o que ocorreu em quase todos os trabalhos que ten ho encont rado,
sendo raras as exceções. O própr io Wi lson Ma rtins, nos seus impiedosos ataques a Rangel, me deixa a nítida impressão de que sua opinião é formad a apenas por “Vid a Ociosa”. Assalta-me sér ia dúvida de que ten ha lido os demais livros do escritor. Wilson Mar tins, aliás, nos seus livros e artigos, decretou a segunda morte
de Rangel – a literár ia. Depois de su as demolidoras palavras, a meu ver injustas, poucas pessoas se abalançarão a ler, comentar, ensinar ou publicar Godofredo Rangel. É uma empreitada inglória tent a r t r a zê -lo de volt a ao cenár io das let ras. Sei disso de experiência própria. R a ngel , c omo já d i s s e,
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proibiu a publicação das ca r t as enviad as a Monteiro Lobato e que seriam “o outro lado” de “A Barca de Gleyre.” Sua família, no entanto, parece ter estendido essa proibição i nd ist i nt a mente a tod as as car tas escr itas por ele, i mped i ndo a ssi m o conhecimento melhor da obra e da personalidade do romancista. Nu nca consegui entender os temores que t ais ca r t a s p o s s a m p r ovo c a r. R a n gel, pelo muito que li e ouv i s ob r e ele , e r a u m homem de bem e nada teria a esconder. Lembro ainda que, quando Secretário da Cultura d e M i n a s G e r a i s , Jo s é Aparecido de Oliveira se empolgou com meu t rabalho e se propôs a editar a biografia, revista e corrigida, agora com o título d e “ O A m igo E s c r it o.” Enviei o texto original e d ive r s a s i lu st r a ç õ e s a o referido secretário. Nesse meio tempo, porém, foi nomeado gover nador do Dist r ito Federal e perdi contato com ele. O novo secretário não se interessou e o projeto morreu. O liv ro acabou publicado, mais tarde, pela Secretaria da Cultura do Estado de Santa Catarina (1988). E d içã o g r a nde, e mb or a
modesta, hoje esgotada. C omo se is so t udo n ã o bast asse, os or iginais da nova edição de “Vida Ociosa”, preparados com esmero pela Fu ndação Casa de Rui Barbosa, tardaram a encontrar editor. Perambularam de c e c a e m m e c a , d e e d itora em editora, de mão em mão, até que o livro foi lançado por pequena editora, novata e inexperiente. Brochurinha sem expressão, acrescid a de um prefácio oportunista, não teve a menor repercussão. E o pobre Rangel continua t ão esgot ado como antes. O livro trouxe um posfácio meu. Seja c omo for, m i n h a cont r ibuição foi d ad a e acredito que o essencial está em meus livros, ensaios e ar tigos. Penso que alguma novidade que acaso surja não alterará
o que foi registrado. Será detalhe secundário. Vá r ios autores de teses e m o n og r a f i a s t ê m s o licit ado, ao longo dos anos, infor mações sobre Rangel e sua obra, revelando interesse pelo autor d e “ O s B e m C a s a d o s .” São fatos auspiciosos, revelando que, apesar de t udo, a obr a de aut or ia dele ainda encanta a muitos leitores. Quantos liv ros foram traduzidos por Godofred o R a ngel? Ei s a í u m a pergunta com a qual me d e p a r o c om f r e q u ê n cia e cuja respost a, nest a alt u r a , pa re ce i mp ossível . S e u f i l h o, o P r of . Nello R a ngel, af i r mava que andavam per to de uma centena, do inglês, do francês e do italiano. Mas a verd ade é que, mesmo com a ajuda dele e de outros amigos, só me foi possível relacionar 61 obras, incluindo algumas q u e for a m r ev i s t a s p or ele, número aproximado com o qual concordou Raimu ndo de Menezes em seu “Dicioná r io Literário Brasileiro.” Monteiro Lobato, em carta de 17 de setembro de 1941, escreveu o seg ui nte: “Sessent a liv ros já t r aduziu você! Tremendo!” (A Barca de Gleyre, pág.
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337). Como Rangel ainda viveu por dez anos e trabalhou até o fim da vida, é presumível que muitos outros livros tenham sido por ele traduzidos após a carta de Lobato. Eu contava com poucos recursos para essa pesquisa. A r ela çã o p or m i m e ncontrada foi a seguinte: 1 - “A cu ra pelo pensamento” - Sachet 2 – “A tragédia de minha vida” – Oscar Wilde 3 - “Oscar Wilde, sua vida e conf issões” – Frank Harris (Cia. Editora Nacional - 1939) 4 – “A l ic e no p a í s d a s maravilhas” – Lewis Carrol 5 - “A crise de nossa civilização” 6 - “As irmãs brancas” 7 – “A ciência da nat ur ez a hu m a n a” – A l f r e d Adler 8 – “Bem aventurados os humildes” 9 – “Corsário vermelho” 10 – “C omo p e n s a mos. C o m o fo r m a r e e d u c a r o pensa mento” – Joh n Dewey (Cia. Editora Nacion al – Bibl iot e ca Pe dagógica Brasileira – 2ª. ed. – 1953). 11 – “A vida de Disraeli” – A n d r é M a u r oi s (Ci a . Ed itora Nacional – Co le çã o Vid a s Célebre s – 1936).
12 – “Democracia e educação” – John Dewey (em c o - a u t o r i a c o m A n í s io Teixeira) 13 – “Geografia pitoresca pa r a c r ia nça s” – V. M. Hillyer (Cia. Editora Nacional – S. Paulo – s/data) – Tradução e adaptação 14 – “História da filosof ia” – Will D u r a nt (em co-autoria com Monteiro Lobato) 15 – “ H ist ór ia d a civ il i z a çã o” – Wi l l D u r a nt (a mbos d a Cia . E d it or a Nacional) 16 – “ Pe q ue n a h i s t ór ia do mundo para crianças” – V. M. Hillyer (Cia. Editora Nacional – S. Paulo – 1951) – Tradução e adaptação 17 – “ H i s t ó r i a d o s E s t a dos Un idos” – A nd ré Maurois 18 - “Maravilhas da medicina” – Dietz 19 – “Lógica” – L.Liard (Cia. Editora Nacional – 1950). 20 – “Madre Cabrini” 21 – “Noites de vigília” – A. J. Cronin (A Editora José Oly mpio regist ra como t r a duçã o de G u ln a r a L ob at o d e Mor a i s Pereira). 22 – “O caminho da felicidade” – Dr. Victor Pouchet (Editora Civilização Brasileira – Série Obras Educativas)
23 – “O s f i l ho s” – D r. Victor Pouchet (Editora Civilização Brasileira – Série Obras Educativas) 24 – “Sede otimistas” – D r. Vic t o r Po u ch e t (Editora Civilização Brasileira – Série Obras Educativas) 25 – “O apóstolo” – Sholem Asch 26 – “Porque os ho mens falham” – Drs. M. Fishbe n e W. A. W h it e (Est udos de on ze psiquiatras americanos – Editora Civilização Brasileira - Série Obras Educativas) 27 – “Vida de Santo Agost i n ho” – Giova n i Papini 28 – “Sete homens e uma mulher” 29 – “Vida de Metter nich” – Salvador de Madariaga 30 – “Vida de Colombo”
Godofredo Rangel e a família
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– Salvador de Madariaga 31 – “Zola e seu tempo” – Mathiew Josephson 32 – “ O s j u d e u s e n ó s os cr ist ãos” – Oscar de Fé r e n z y (C i a . E d i t o r a Nacional, 1939) 33 – Beaumarchais (ignora-se o nome da obra) 34 – Victor Hugo (idem) 35 – “A mulher” – Michelet ( P r i mei r a t r a d uçã o, d e v e r i a c h a m a r- s e “ O A m o r ”, s e n d o o t í t u l o trocado por equívoco) 36 – “O it” – Elinor Glyn (Cia . E d it or a Na cional, julho de 1940) 37 – “Enquanto é tempo de amar” – Florence L. Barclay (idem, 1944) 3 8 – “ Ve n d i d a ” – W. Heimburg (idem, 1935) 39 – “O outro milagre” – Henry Ardel (idem, s/d) 40 – “O sheik” – E. M. Hull (idem, s/d) 41 – “O filho de Tarzan”
– Edgar Rice Bur roughs (Ci a . E d it o r a Na c io n a l – Coleção Terramarear – Vol. 24, 1935) 42 – “ Ta r z a n , o r e i d a jângal” – Edgar Rice Burroughs (idem, idem – Vol. 37, 1935) 43 – “O fantasma de Sandokan” – Emílio Salgari (ide m , ide m – Vol. 4 6, 1936) 44 – “A ilha de coral” – R. M. Ballantine (idem, idem – Vol. 10, 1936) 45 – “Perdidos no deserto” – Mayne Reid (idem, idem – Vol. 47, 1936) 46 – “O homem do Hotel Carlton” – Edgar Wallace (Ci a . E d it o r a Na c io n a l – Sér ie Neg ra – Vol. 2, 1934) 47 – “A por t a dos t r aidores” – Edgar Wallace (id e m , id e m – Vol. 20, 1936) 48 – “As cruzadas” – E. Bar ringtin (Cia. Editora Nacional – Coleção Paratodos, 1933) 49 – “As cruzadas” – Harold Lamb (Cia. Editora Nacional – 1936) 50 – “Scaramouche, o fazedor de reis” – Rafael Sabat i n i (idem, idem, Coleção Paratodos, 1936) 51 – “O pimpinela escarlate” – Ba ronesa O rcz y (idem, idem, 1934) 52 – “O clube dos suicid a s” – R. L. Stevenson
(idem, idem, 1933) 53 – “Talleyrand” – Duff Cooper (Cia. Editora Nacional – 1945) 54 – “A felicidade ao seu a lca nc e” – D r. Tou lou se ( E d it or a Civ il i z a çã o Brasileira – Série Obras Educativas - 1950) 55 – “Sede um dominador” (Ensaio sobre a educação das faculdades superiores e sobre a aptidão para o mando – Editora Civilização Brasileira – Série Obras Educativas) 56 – “O g uia da saúde” – Ma hat ma Ga nd h i (Editora Civilização Brasileira – Série Obras Educativas) 57 – “A esposa que não foi beijada” – Berta Ruck (Cia. Editora Nacional – 1932) 58 – “Amor e casamento” – Marie Carmichael Stopes (Cia. Editora Nacional – la. Ed. – 1929) 59 – “A história do futuro” – H. G. Wells 60 – “Uma noiva em leilão” – Concordia Merrel (Ci a . E d it o r a Na c io n a l – Tr a d u ç ã o r ev i s t a p or Rangel – s/d). 61 – “História do poderio mar íti mo” – W. O. Ste vens e A. Westcott (Cia. E d it o r a Na c io n a l -Tr a dução revista por Rangel – s/d). É fácil imaginar o quanto
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de esforço intelectual foi exigido para realizar tais t raduções, muit as delas de obras complexas e volu mosa s. Como a sse verou o crítico Fernando Góes, “Gastou-se traduz i nd o i n f a t ig avel m e nt e uma série enor me de livros de toda a espécie, o que, por cer to, i mpe diu-l he de const r ui r a obra que Lobato esperava de seu engenho.” É cla ro q ue R a ngel t i n h a consciência disso mas os minguados proventos da magistratura da época impunham esses e outros sacrifícios. A Professora Camila Russo, em tese recente, conseguiu relacionar cerca de duzentas obras traduzidas e revistas por Rangel, for necendo o nome do autor, a editora e o a no d a pu bl ic a ç ã o. É um trabalho excelente e que encer ra as discussões sobre o assunto. Sua pesquisa está na tese de doutorado “Uma vida nad a ociosa”, publicad a no site da USP. C a r l o s He i t o r C a s t el l o Branco, José Af rânio Moreira Duarte e Trajano Pe rei r a d a Si lva for ne c e r a m v a l io s a s c o n t r i bu içõe s e reg ist ro a qu i meus agradecimento pela ajuda.
POESIA
ELOAH WESTPHALEN NASCHENWENG UM NOVO DIA Chega-te ao meu lado. Não deixa que o encanto se escoe e rasgue a memória das dádivas acumuladas. Amacia o tempo feito bruma, feito prazer para que caibam todos os momentos vividos. Hoje é um novo dia! Um novo recomeço! Sustenta meus braços, não desiste. Quero agarrar a vida apaixonada, seg urar a lua , cole cionar e st rela s e dedilhar ternas melodias. Seduzida, banhar-me pela emoção, pela louc ura , pela doç ura do olhar e , no assombro deste sentimento, poder tocar além das nuvens. Em viço, o feitiço há de eternizar o grito da felicidade que se cala no silêncio da alma e invoca o amor, que mudo, sobrevive. Ante a vida junto o poema, enlaço a eterna graça e te abraço feita só de amor e ternura. Poeta e escritora, reside em Florianópolis/ Santa Catarina, desde 1970. Faz parte de várias Associações no Brasil e exterior. Pertence a três Academias de Letras na Grande Florianópolis, como membro efetivo: Academia Desterrense de Literatura – ADELIT, Academia de Letras da Palhoça, ALP e Academia São José de Letras – ASAJOL e membro do Instituto Histórico e Geográfico de SC.Tem 25 livros solos publicados e participou, como coautora em 74 Antologias, sendo 15 em Portugal , 4 na Suíça e 3 em Paris e as demais no Brasil. Recebeu várias honrarias nacionais e internacionais.
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RESENHA
LUIZ CARLOS AMORIM JARDIM DE POEMAS
Acabo de ler o liv ro de p o e m a s " C a n t e i r o s ", antologia dos poet as de São Bento do Sul que par ticiparam da Of icina da Palavra, uma of icina literár ia sobre poesia, promov id a p ela Fu nd ação Cult ural daquela cidade. A Of ici n a t i n h a o pro pósito de descobrir poet a s n a cid a d e, d a r-l he s or ie nt a çã o, e st i mu la r a su a produção, reu n i-los para troca e aquisição de exper iência e consciên-
cia poética e motivá-los a conquistar seu espaço. O liv ro é bom: os qu ar e n t a p o e t a s q u e t e rm i n a r a m o "c u r s o" d e poesia, como ficou con hecid a a Of ici na d a Palav ra, f izeram u ma seleção da grande produção alcançada no período de e st udo, ju nt a r a m recursos de cada um e publicaram a antologia. Há mu it a gente boa em "Canteiros", esforçada e batalhadora, com vontade de fa zer boa poesia.
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Gente que dá most ras, pelo que apresent a neste liv ro, de nos br i ndar com uma obra consistente e madu ra, no f ut u ro, se continuar produzindo. É o ca so de Nat ha nael, Jean, A nd réa, Raquel, Samanta, Sarah, Lu, Ve r a , A nd r e a Cr i s t i ne, Sheila, Chirle, Luiz, Rosina e Simone. Não que os outros não tenham f ut u ro, ma s estes apre s e nt a r a m u m r e s u lt a d o melhor. O que esses poetas deix a m t r a n s p a r e c e r, n o s dois poemas de cada um que há no livro, é a necessidade de se libert ar da lin ha di retiva do o r ie n t a d o r, f a z e r v a le r sua própria personalid a d e e c r i a r s e u e s t i lo próprio. O s poe ma s cont idos na antologia são muito unifor me s , a s c on st r uç õ e s são parecidas, as f iguras e os t e ma s t a mbé m , d á até a impressão de que o autor é um só. A inf luência do "professor" d a
Of icina é muito frequente em todos os trabalhos. As mesmas palavras chave são claramente perceptíveis em mais de um poema: son ho, c r ist al, a njo, d ia ma nt e, jardi m, epifan ia, vento, arco -í r is, az ul, ped ra, areia, jasmins, rosas, cat avento, pu ro, si n fon ia , lua, plenilúnio e outras. Exercitar a criatividade, a capacidade de provocar a inspiração : isso era o objetivo da of icina. E foi feito muito bem. Só que publicar uma seleção de poemas onde facilmente se percebe que todos os poetas constr uíram poemas par tindo de uma mesma palavra é, talvez, um pouco cansativo para o leitor, sujeito à variações sobre os mesmos temas. As palav ras não usuais, que per meiam o liv ro também ref letem u ma tendência adquirida pouco recomendável, que terá que ser repensada por quase todos os p o e t a s . Si m pl ic id a d e é ser entendido pelo leitor, é promover a ef icácia da comunicação. E se usarmos palav ras dif íceis, que não são empregados no dia-a-dia do leitor mais er udito, palav ras que tem que ser pesqui-
sadas no dicionário, essa comu nicação, tão impor t a nte pa ra expressa r sent i mentos e emoções, estará ser iamente prejud ica d a . A p o e sia n ã o será recr iada e poesia que não é lida, não é recriada e, consequentemente, não existe. Fa lo d e p a l av r a s c o m o "e s q u a l o", " b a f á r i", "c a b u r é", " pl e n i l ú n io", "alamanda", "agapanto", "g a l r a", d e n t r e o u t r a s . São palavras que podem soa r b e m , m a s n ã o s ã o usadas comumente e prejudicam a compreensão do poema e aí a magia da emoção se perde. Conver sei com alg u ns poet as presentes na antologia e pude constatar que ele s cont i nu a m e s t u d a n d o e p r o d u z i n d o, const r uindo u m estilo
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p r ó p r io, c u id a nd o p a r a n ã o la nç a r m ã o d e cl ichês e procu rando impr imir r it mo aos seus poemas, ao invés de enveredar pelo per igoso uso da rima. Aliás, vale lembra r que soneto não é simplesmente colo c a r u m t e x t o n a fo r m a d e u m s one t o, ou s eja , dois quar tetos e dois tercetos: o soneto é uma composição de for ma f ixa, com métrica, rima, r it mo, encadeamento, cadência, musicalidade. Estão lendo bastante, t a m b é m , o q u e o s aj u dará no seu crescimento poét ico. O “ca ntei ro” e s t á pl a nt a d o. Ago r a é p r e ci s o r eg a r e c u id a r, ou seja, ler muito e escrever sempre, para que a produção adquira consistência.
POESIA
MAURA SOARES VIM VER-TE, MELODIA Vim ver-te, melodia, que encantas meu ser nas noites vadias Vim ver-te, melodia, a canção dos poetas sempre em harmonia Vim ver-te, melodia, que nas manhãs cinzentas aqueces com tuas canções, meu dia. Vim ver-te, melodia, para cantar ao meu povo a tua sabedoria Cantar as canções dolentes que tocam os corações Vim ver-te, melodia, pois sei da tua aura que nas noites insones sempre me acalma Assim, embalada na noite com teu canto em meu ouvido sei que as canções que cantavas jamais tenho esquecido Vim ver-te, melodia, e ao ver-te em meu balcão, coloco as rendas mais bonitas para tocar teu coração Vim ver-te, melodia, para que acalentes meu amor e nas juras nas auroras, recebo dele teu calor Vim ver-te, melodia... (27.9.2020)
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CRÔNICA
SÔNIA PILLON SONHO NO FEMUSC Me apressei para chegar bem mais cedo na Sociedade Cult ura A r t í s t ic a . A m ov i m e n t ação de professores e alu nos de música de vá r ia s p a r t e s do mu ndo se intensif icava pelos corredores. Alguns est udantes ensaiavam ali mesmo, dist ribuídos entre os acessos d o s a nd a r e s. E , a c a d a a nd a r, u m som d ife rente tomava cont a do ambiente, antecipando o e s p e t á c u lo g r a nd io s o q u e e s t ava p or a c o nt e c e r, hor a s d e p oi s. Muitos subiam apressados as rampas que c o nd u z i a m a o Pe q u e no Te a t r o e a o G r a n d e Te a t r o. O u t r o s , m e n o s a foit o s , c a r r eg av a m o s inst r umentos nas cost a s e p r e s t ava m a at e n ç ã o a t u do o q ue s e p a s sava à volt a , como se q u i s e s s e m g r av a r c a d a i n s t a nt e v iv id o e m u m espaço precioso da me mór ia . O s m a i s t í m id o s , p r efe r i a m e n s a i a r
n a s s a la s d i s p on ívei s. O va i e ve m d e p e s s oa s n a s e c r e t a r ia e n a s a l a de imprensa é incess a n t e. O s t a f f s e m a n t é m e m a le r t a m á x i mo. E s p e cia l me nt e hoje, no d ia d a a b e r t u r a d e m a i s u m Fe s t iv a l d e Mú s i ca de Santa Catarina, t u do a o r e dor fe r v i l h a . To d o s s ã o u n â n i m e s d e q u e n a d a , a b s olut a mente nada, pode dar e r r a do. Fu i leva d a pelo f lu xo e nq u a nt o s u bia a s r a m -
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pas, obser vando cada d e t a l he, c om u m a c e r t a nostalgia. Lembrei de edições anter iores do Fe mu s c, q u a n d o e nt r e vistava par ticipantes, o r g a n i z a d o r e s e p ú bl i co. Mesmo para u ma jor n a l i s t a ve t e r a n a , e r a i mp o s sível n ã o me d eix a r c ont a g ia r p el a m a g ia do Fe st iva l q ue t r a z à t on a t a nt o s t a le nt o s a c a d a e d iç ã o. Fi n al me nt e alca nço o G r a nd e Te at r o. A s p ortas estão ent reaber tas
a pl a u d i d a s d e p é . N ã o poderia af ir mar quanto tempo permaneci assim, em estado de e nc a nt a me nt o. Devo t e r pe r ma ne cido e m u m e st a do d e s e m i- s ono, e nt r e a r e a l id a d e e o d eva neio. Só s ei q ue em determinado momento vi, nitidament e , a i m a g e m d e Ya r a Fi s c h e r S p r i n g m a n n e Fe r n a n d o S p r i n g m a n n , sorrindo e abanando do palco. Cocei os ol h o s , i n c r é d u l a , e e m s e g u i d a o l h e i d e n o vo para o palco, mas os doi s g r a nd e s íc one s d a cultura jaraguaense e d e cido e nt r a r, d i s c r e - a p r e s e n t a ç õ e s m a g i s - n ã o e s t av a m m a i s l á ... t a me nt e. Ol ho a o r e dor t r a i s , c a r r e g a d a s d e S a u d o s o c a s a l S p r i n g e c o n s t a t o q u e s o u a l i r i s mo, e d e orq ue s t r a s m a n n!... ú nica pessoa presente e nt r e o s 94 6 lu g a r e s d a plat eia . O p a lc o já e s t á i l u m i n a d o. Um h o m e m sai da coxia e ent ra rapidamente no palco com mais uma cadeira p a r a a a p r e s e nt a ç ã o d a or q u e s t r a e s a i r a pid a me nt e. Decido me sentar no banco da última fil e i r a p r óx i m a à s a í d a . Fico ol ha ndo por alguns instantes para a mag n if icência d aquele t e at r o. Fe cho o s ol ho s , buscando memórias. Su rgem lembranças de
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CONTO
VALQUIRIA IMPERIANO CARTA A MINHA AMIGA O i m i n h a que r id a a m iga, tô super feliz por vo c ê r e c e b e r e s s e p r e sente do céu. Uma menin i n ha e ai nd a por ci ma linda. Muito, muito linda! Você pode ar rotar org ulho, amiga. A m iga vi os coment ár ios embaixo da foto de A lice. Su a net a é li nd a e tem lu z. Dá pra sentir a sincer idade das postage n s e at é dos a m igos , porque dos amigos e da família temos que d e s c on f ia r, s ob r e t u d o qu a ndo nos a ma m mu ito, e todo mu ndo te ama, por t a nt o cor re s o r isco de ouv i r elog ios v ist os p elo s ol h o s d o a m o r. Ma s p ode s org u l ha r-t e. Ela é linda, mesmo. Po r q u e q u a n d o o b e b ê é feio as pessoas só t ê m c o r a g e m d e d i z e r, "q u e g r a c i n h a ! ", “ a í que boniti n ha!" essas i nte r jeições que rem d ize r « aí meu deu s, que bebê feio! ». Q u a ndo é bon ito, lascam logo u m « a í que l i nd a!». P ron-
to, pode relaxar, ela vai der r ubar corações quando crescer. Esse negócio de elogiar c r ia n ç a feia , t e n ho exp e r iê ncia . Eu v i m i n h a f ilha levar a menina dela no t rabal ho e todo mundo f icou babando na Jujubi n ha. A í, u ma p r ofe s s o r a a m ig a d el a , pulou no meio do g r upo com a foto da net a, tamb é m r e c é m -n a s cid a , n a mão, toda feliz. Ol h a m i n h a ne t a! Na s ceu uma semana antes da Jujuba! O povo reag iu na hor a , porque sempre existe cu r iosid ade quando se t rata dessas fof u ras. A h! Deixa eu ver! Adoro bebês! Uma pessoa pegou a foto, ol hou. Silêncio. Pa ssou pa r a a seg u nd a. Pa r a a t e r c ei r a . A fot o fez a volt a , sem t i r a r nem um « que gracin h a ! ». F o i t r i s t e , t e ju ro! Enquanto a foto ia passando fui me compa-
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d e c e nd o d a p ob r e vó e preparando u m « aí que g r aci n ha!» pa r a a n i má-la, mas desconf iada que ia ver u ma coisa horrorosa. Quando a foto chegou nas min has m ã o s , s ó t ive c o r a g e m de dizer « ela parece c o m q u e m? » p a r a d e s e mb a r a ç a r a sit u a ç ã o. A avó pareceu sem g raça, e respondeu: “parece com a mãe, min ha f il ha”. A ú nica que teve o coração g ra nde e gene roso foi a min ha f il ha. O povo foi sai ndo de mansin ho e em silêncio. Ta d i n h a d a v ó ! f i c o u com cara de desiludida, mas a minha filha é r e a l m e n t e u m a njo e conseg uiu f icar com a foto nas mãos apreciando a feiu ra d a ga rot a. Acho que ela estava com o instinto mater nal muito ag uçado e se compadeceu da avó e soltou u m « A í q u e fof u r a !». Depois perg u ntei para min ha f il ha. Oh! Min ha f i l h a , vo c ê a chou r e a l-
mente aquele bebê u ma fof u r a? O h m ã e , n ã o é t ão monst ro a ssi m não, é porque ai nd a é mu ito pequenina, coitadin ha!!! » A í você d á pa r a e nt e nde r o d r a ma! Eu at é t ô curiosa para saber o que deu aquela a garota, mas acho que o negócio a l i e s t ava d i f íc i l. S e a ge né t ic a f u ncion a r 10 0 por cento, a menina tem o dest i no t raçado. Bast a ol h a r a avó, m a g r a , pa rece até a noréx ica , a c oit a d a q ue m a is pa r e cia u ma lin ha de pescar. E toda essa aparência salientada pela antipatia d a c r i a t u r a . Pa r a c o m pl e t a r a a n á l i s e , t i n h a a foto dos pais nada prom issor pa r a o b eb ê. Mas é bem verdade que a genética esconde boas sur presas, eu conheço casais lindos com f ilhos desprovidos de at rativos f ísicos. Não conseg uir nu nca u m « Ai que gracinha » é mal sinal.
Quat ro anos depois perg untei, curiosa, para minha f ilha e ai f ilha, lembra da menina que espantou a roda lá no t e u t r a b a l h o? E l a m e lhorou, dá pra tirar pelo m e n o s u m “a í q u e q u e gracinha” verdadeir o? A r e s p o s t a n ã o m e c o nve n c e u , o u m el h o r, c o n ve n c e u - m e q u e s o u real mente sem coração. Ô mãe, você não tem jeit o! Ok , m a s ela e st á mel hor? Mãe, ela ai nd a t e m t e m p o p r a m u d a r, vo c ê va i ve r …. A i nd a tô esperando a nat u reza agir... Conclusão: o bebê continua espantando as r o d a s…e n q u a nt o i s s o a Juju b a e s t á c a d a ve z mais exuberante… Sou me smo, l i ng u a r uda, falo muito, mas não invento. Quantos « aí que linda” t u a net a teve? Se todos os amigos, pr incipalmente os desconhecidos, solt aram a inter jeição, isso sig nif ica que é
bonit a mesmo. Ti ro proveito d a A l ice, ela me inspirou. Ai, Edelzia, g uarda o cheir in ho dela dent ro d e u m v id r o, e s s a m e n i n a t e m mu it a lu z , d á p r a ve r n o r o s t i n h o. A beleza dela sai de dent ro, acredite em mim, tô v i r a ndo g u r u. É si m a m iga , cr ia nça que tem lu z p a r e c e m a i s b on it a do que é. Alice é dessas, tem ar muito t ranquilo, alg uém que est á em p a z . D a q u i p a r a f r e nt e o t r a b a l ho d a n at u r e z a será desenvolver e fazer a f lo r a r e s s a fo nt e. E a dos pais, com o apoio dos avós, é bu r ilar o caráter dos netos e f il hos para que os ol hares ext e r nos con siga m en xe rga r a beleza i nter na d a cr iança. Q ue vocês todos consig a m c ont i nu a r e m h a rmonia para assegurar o crescimento sadio e seg u ro de Alice. Um b eijo, vo c ê me r e c e essa net a maravil hosa.
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POESIA
RITA QUEIROZ MAGIA DE ITAPUÃ No Abaeté, lavo a alma E me deito com o poeta, Seguindo outro rumo a partir do farol de Itapuã.
O sol doura meus sonhos... Ouço a canção do mar A tarde traz o desejo de apenas contemplar E ser a sereia que o poeta vai desenhar.
À noite, falamos de amor Sob os auspícios da lua. Dormimos aos pés dos coqueirais E de tantos encantos que o vento nos traz.
Doutora em Filologia e Língua Portuguesa. Professora. Escritora. Poeta. Autora de 7 livros de poemas e 1 livro de contos para o público adulto e 7 livros infantojuvenis. Organizadora de 13 coletâneas. Coautora em mais de 100 antologias/coletâneas. Integra os coletivos: Confraria Poética Feminina, Mulherio das Letras, Confraria Ciranda Poetrix e Caliib. Membro de 9 academias. Prêmios em 2021: Destaque Literário na Categoria Poesia pela Focus Brasil New York / AILB; Grand Prix Femme Littéraire – categoria Pesquisa – e Prix Valkyrie pelo Institut Cultive Suisse Brésil; Mérito Poético pelo Projeto Poetizar o Mundo; Autor Destaque pelo Projeto Antologias Brasil.
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CONTO
TAMARA ZIMMERMANN FONSECA EM DIAS DE VERÃO, A BONDADE HUMANA E r a u m a d e s s a s t a r d e s desconhecidos são muito al i, a me rcê do t e mp o acaloradas do vale do Ita- grandes. Por outro lado, ral. Foi quando tivemos jaí. Eu e mamãe, sentadas n ã o p o d í a m o s d e i x á -lo a i d e i a d e d a r à q u e l e em frente a tv, nos divertíamos com um programa dominical, enquanto uma aterrorizante tempestade de verão começava a dar o ar da graça. As arvores e as folhagens do jardim nos avisavam, como se acenassem que a chuva logo chegaria. Vento, trovões e raios. A chuva apertava e assust ava. Nu m deter m i nado m o m e n t o, ol h e i p a r a a janela da sala de TV, que est ava aber t a , e av istei u m homem de biciclet a em frente ao portão. Nas mãos, alg u ns saquin hos de supermercado. Parado embaixo de nossa arvore, percebi que estava apenas tent ando se proteger d a forte tempestade. Aquela imagem nos co moveu, mas como convidá-lo a entrar até a chuvarada passar, em nossa c a s a? I n fel i z me nt e no s dias atuais, a insegurança e a falta de confiança em
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homem u m g uard a- chuva , pa r a q ue ele s a ís se debaixo da ár vore pois, como sabemos, não é um lugar seguro enquanto há raios e trovões. E depois pudesse seguir o seu destino. Foi o que fizemos, demos um g uarda-chuva para aquele senhor seguir seu cami n ho. Ao ent regar a ele, re cebi de volt a u m sorriso lindo. Inicialmente agradeceu e disse que não precisava. Eu insisti, ele aceitou e assim seguiu seu rumo. Voltei para dentro de casa um tantinho mais aliviada por poder. de alguma fo r m a , aj u d a r. O c a lo r voltou e como tod a s a s vezes, com aquele abafamento de verão. Lembrei-me de uma vez qu a ndo eu e m i n ha grande amiga de adolescência, já aqui em Santa Catarina, a Soninha , fomos até o Braço do Baú, local onde mamãe nasceu e onde temos nossas raízes. Para chegar ao Braço do Baú , naquela época , pegamos um ônibus que seg uia até Il hot a , de lá cr u záva mos o r io It ajaí Açu de balsa, para depois aguardar uma carona ou um ônibus - não sabíamos o s hor á r io s d o s ôn i bu s que saiam de Blu menau
e seg uiam Baú adent ro. Éramos jovens e não nos preocupamos com o “como chegaremos", sabíamos que chegaríamos.
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O dia est ava li ndo com o céu azul, um excelente d i a p a r a p a s s e a r. C h e gando na Ilhota, o tempo já tin ha vi rado, havia
agora um tempo nublado e ventos f r ios. No meio da travessia do rio Itajaí, assim como o senhor que chamou nossa atenção embaixo de nossa arvore, o céu naquele momento também chamou nossa atenção: aquele azul lindo deu espaço a nuvens p e s a d a s e e s c u r a s , nu vens que nos assustaram, pois era a anunciação de uma chuva feia... Conseg ui mos chega r na ou t r a m a r ge m d o r io e optamos por não ficar parad as espera ndo ca rona e seguimos a pé, conversando, rindo e ao mesmo tempo temendo o que estava por vir, que com certeza iria nos alcançar. Na est rada de ter ra que nos leva ao Braço do Baú, s eg u i mo s or a a nd a ndo, ora correndo, mas sempre achando graça em tudo ah, a juventude corajosa! Não demorou muito para a chuva nos alcançar: era muita ág ua que c a í a . Tr o v õ e s e r a i o s , u m verdadei ro f il me de t e r r o r. C o m o u m m ilag r e , u m ca r ro pa rou e n o s ofe r e c e u c a r o n a . Dentro dele, um casal de recém-casados , moradores da região. Claro que a ceit a mos e, se m me do algum, entramos no carro e seg ui mos para a resi-
d ê n c i a d ele s . E r a t u d o tão novinho, casa de recém-casados, tudo muito capr ich a do. A mo ci n h a n o s ofe r e c e u t o a l h a s e um café que somente os mor a dores do Baú tem: aquele queijinho gostoso, n at a , p ã o c a s ei r o, c a fé quentinho, leite e tantas outras guloseimas. Após o lanche, pegaram o álbum do casamento e nos most raram com muito org ul ho e eu e Soni n ha curtimos cada foto e casa segundo com eles. Haveria uma festa naquele dia no Braço do Baú e eles iriam para essa festa! Seg u i mos com eles, foi m u it o d ive r t id o e s s e e todos os outros dias que lá passamos. Saudades desse tempo em que não nos preocupávamos com quem nos pedia ou nos oferecia ajuda, tão t e r r ível a de sc on f ia nça no ser humano, nos dias
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de hoje. Tantas histórias terríveis de maldades que as pessoas são capazes de fazer, que muit as vezes nos inibe de atitudes que gostaríamos de realizar, mas que temos que pensa r du as vezes em concretizar. No dia seg uinte, seg unda-feira, mamãe vem do jardim sorrindo. O guard a- chuva que ent reg uei a o home m que se ref ug iava debai xo de nossa árvore estava bem fechadi n ho, seco, g uardado próximo a nossa caixa de correios. O retorno do guarda-chuvas nos dava doses altas de esperança: existem pessoas de bem, existem pessoas que são conf iáveis, que são gratas, que são boas. Mundão, respira que tem salvação! Verão: em dias de verão, a bondade humana!
CRÔNICA
EDLTRAUD ZIMMERMANN FONSECA
OS “MENINOS” DE DONA JACIRA Ela chegava sempre em dias em que o movimento maior havia passado em nossa agência. Aproximava-se com timidez, t razendo nos lábios pál idos, u m sorr iso que a iluminava, ir radiando ter nura. Vestia-se com simplicidade,
sem nen hu m ar tif icio, c a b elo s b r a nc o s p r e s o s à nuca. Professora Jacira Feitosa Martins levara, ao longo de sua vida, ensinamentos a centenas de crianças com as quais dividia o seu amor com os seus numerosos f ilhos.
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Fa l a v a p o u c o s o b r e o s d ia s sof r idos na qu alidade de professora do i nt e r ior, m a s seu s olhinhos brilhavam com i n t e n sid a d e q u a n d o t i r av a d a b ol s a a lg u m a s cader net as de poupança e dizia-me: - Fique à vontade, dona Edi, vou preencher os depósitos para os meus meninos. Pode atender out ras pessoas. Eles estão bem – continuava - mas sinto muitas saudades do t e mp o e m que e r a m moleques... Fazendo est e s p e q ue no s de p ó sit o s em seus nomes, sinto-me m a i s p e r t o dele s... - e, segurando minhas mãos, sorrindo, terminava: - Coisas de mãe saudo sista! Um dia dona Jacira deixou de compa recer à Agê ncia Ba ncá r ia onde eu trabalhava e eu perdia mais uma amiga querida. Bem mais tarde vim a con hecer, ad mirar e ser amiga de dois desses “meninos” de dona Jaci-
ra: It aja h i Feitosa Ma rtins, o admirável ar tista plástico que nos enter nece com os seus trabalhos e o escr itor e jor nalista Ibiapaba Martins, ilustre acadêmico. A s sist i c omov id a a c e rimônia de sua posse na Academ ia Paulist a de Letras, na noite de 29 de maio de 1984, e as suas pr imeiras palav ras no d iscu r so de posse f i ze ram-me chorar de saudade e emoção: “Gost a r ia q u e e s t i ve s s e p r e s e n t e neste recinto minha mãe, a professora Jacira Feitosa Martins...” E ela estava! Sent i o per f u me d a sua presença, a ter nu ra do seu doce sor riso e pareceu-me ouvi-la nu m sussurro: - “Este meni no, sempre me fazendo sur presas...”
Edltraud Zimmermann Fonseca ,é autora de mais de 20 livros publicados ,entre Edltraud Zimmermann Ibiapaba Martins, Academia biografias, autobiografia, contos, poesias, crônicas,Fonseca novelas.e Duas de suas obrasdaforam -1984 adaptadas para programas dePaulista rádio e de TVLetras (Rádio Nacional, TV Globo). Participante de inúmeras antologias, agendas literárias, revistas virtuais. Homenageada com vários prêmios nacionais e internacionais pelos trabalhos a favor da literatura, 03 Medalhas recebidas em Brasília, DF: Medalha Comemorativa ao Centenário de Juscelino Kubitschek , Medalha Revista Cultural de Brasília e Medalha em homenagem ao escritor Vitor de Almeida. Recebeu o título de Cidadã Honorária Indaiaialense, Diploma de Mérito Prêmio Internacional de Poesia recebido em Roca na Itália por obras publicadas, Prêmio Internacional de Poesia pelo livro “Olhar no Horizonte “.
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