JUL/2013
EDITAL, PEGUE O SEU! CÉLIO TURINO / GAL OPPIDO / HÉLVIO TAMOIO / JOEL LA BANCA JUNIOR / JOSÉ CARLOS DO VALE MADEIRA / KAEL KASABIAN / EDSON CLARO / FLÁVIO DE CARVALHO /
ÍNDICE/ MURRO#07
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JUL/2013
Foto capa: Gal Oppido Intérprete: Roberto Alencar
04/ARTIGO DEFINIDO
EDITAL, PEGUE O SEU! CÉLIO TURINO / GAL OPPIDO / HÉLVIO TAMOIO /
Por Célio Turino
Agradecimento: Hamilton Franco pela maquiagem do personagem Vaslav
JOEL LA BANCA JUNIOR / JOSÉ CARLOS DO VALE MADEIRA / KAEL KASABIAN / EDSON CLARO / FLÁVIO DE CARVALHO /
07/INTERSECÇÃO Por Joel La Banca Junior 08/TRANSGRESSÃO Nº13
Revista Murro em Ponta de Faca Rua Sousa Lima, 300B, Santa Cecília, São Paulo/SP, CEP 01153-020 +55 11 3666 7238 - 99290 3037
Edson Claro 10/TRANSGRESSÃO Nº14 Flávio de Carvalho 12/CAPA: Edital, Pegue o seu! Por Márcia Marques e Neomisia Silvestre 22/ENTREVISTA José Carlos do Vale Madeira 26/DIAFRAGMA Por Gal Oppido 32/OUTRA MARGEM Por Hélvio Tamoio 34/BIBLIOTECA 35/EPÍLOGO Por Kael Kasabian
CONSELHO EDITORIAL Gustavo Domingues Márcia Marques Sandro Borelli EDITORA Márcia Marques EDITOR DE ARTE Gustavo Domingues ASSISTENTE DE ARTE Gabriel Borelli REPORTAGEM Márcia Marques Neomisia Silvestre REVISÃO Andrea Marques Camargo COLABORADORES Célio Turino Gal Oppido Hélvio Tamoio Joel La Banca Junior Kael Kasabian PRODUÇÃO EDITORIAL Cristiane Klein
Esta publicação integra o projeto “Artista da Fome”, contemplado pela 13ª Edição do Programa de Fomento à Dança / 2012.
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EDITORIAL/ MURRO#07
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ZUMBI DOS VASLAVES
MUNDO QUE ARMOS COM UM ITO, POR COMPACTU ER PRECONCE QU AL QU E TODO PĂšBLICO SEJA LIVRE DE A M VE E NT ONIZA S A CIA CARNE AG AGENS CONTIDA DES QUE AS IM NĂƒO O Ă‡Ăƒ INFORMAR A TO ICA BL PU A INTERIOR DEST NA CAPA E NO TO DOS M O PENSAMEN CONDIZEM CO SPONSĂ VEIS RE S DO E O DO GRUP INTEGRANTES DE FACA. A NT PO MURRO EM PELA REVISTA AS. AD TIR RAM RE PORTANTO, FO
VASLAV, com seu tutu e botas do tipo coturno, ĂŠ o personagem que permeia todas as ediçþes da Murro em Ponta de Faca. É um bailarino solitĂĄrio, inadequado, um “Nijinsky dos trĂłpicosâ€?, encerra em si contradiçþes gritantes. Na edição anterior da revista o tema de capa era velhice e Vaslav, cansado de frilas, de “parceriasâ€? sem UHWRUQR ÂżQDQFHLUR YHOKR VHP DSRVHQWDdoria, morreu na Ăşltima capa, abandonado pelo poder pĂşblico, pela famĂlia que nĂŁo tinha, pelos amigos. Vaslav terminou como muitos, sem prever que a velhice chegaria, sem ter onde cair vivo. Mas eis que, entre uma edição e outra da Murro, o MinistĂŠrio da Cultura, por meio da
Funarte e outras tantas instituiçþes federais, lança o Prêmio Funarte de Arte Negra. O prêmio, que concentra vårios editais voltados à cultura negra, tem uma verba prevista de 9 milhþes para que produtores negros, e VRPHQWH RV QHJURV SRVVDP HVFUHYHU ¿OPDU representar e divulgar a cultura negra. Em 20 de novembro de 2012 foram lançados os editais e o MinC tentou fazer a lição de casa, organizando encontros em algumas cidades para divulgar a ação inÊdita do ministÊrio. Mas em março último aconteceu algo inesperado. O artista Irineu Nogueira, contemplado no edital, não pode, em um primeiro momento, ser representado pela Cooperativa Paulista de Dança porque o
presidente da entidade ĂŠ branco. Depois de acionada a imprensa, a Funarte caracterizou o episĂłdio como um detalhe a ser corrigido na redação do edital, e assim o fez, rapidamente atĂŠ, e Irineu pode ser representado pela Cooperativa de Presidente Branco. Desse ponto em diante, os argumentos – as discussĂľes reais e virtuais sobre o posicionamento do ministĂŠrio na criação do prĂŞmio, o desenrolar dos acontecimentos e a posterior suspensĂŁo do edital – vinham de todos os lados, sempre apaixonados. E as redes sociais, tĂŁo abertas a qualquer tipo de comentĂĄrio (e foram muitos), poderiam ser o detonador de um sentimento legĂtimo de “arregaçar as mangasâ€? e lutar por polĂticas pĂşblicas permanentes para a dança. Mas nĂŁo foi o que se viu. Na esteira das discussĂľes virtuais, a classe foi conclamada a comparecer em reuniĂľes com o presidente da Funarte, Antonio Grassi. Mas quem compareceu? A mesma meia dĂşzia de sempre. Engajamento polĂtico ĂŠ traço na dança. Em 14 de maio de 2013, os editais foram suspensos pelo Juiz JosĂŠ Carlos do Vale Madeira, da e nĂŁo 5ÂŞ. Vara da Seção JudiciĂĄria do MaranhĂŁo, em resposta a uma ação popular impetrada pelo advogado Pedro Leonel Pinto de Carvalho. Para o magistrado, o edital tratou com exclusividade a etnia negra, o que lhe pareceu acintoso ao princĂpio da isonomia e da razoabilidade. Vaslav, enterrado no cemitĂŠrio SĂŁo Luiz, no CapĂŁo Redondo, extremo da zona sul da cidade, sentiu os ventos vermelhos de polĂtica cultural enviesada e nĂŁo se conformou em estar morto em um momento crucial de discussĂľes acerca de etnias e polĂtica pĂşblica. Levantou-se, pintou seu rosto, esticou seus olhos, se montou todo e bradou: “Quero meu edital!â€? Aqui nessa edição da Murro em Ponta de Faca levantamos uma pergunta: como tentar incluir por meio de açþes que excluem? Porque nĂŁo se trata de cota, o Edital ĂŠ exclusivo aos negros. E se houvesse um (GLWDO HVSHFtÂżFR SDUD D HWQLD ÂłEUDQFD´" ( FRPR GHÂżQLU TXHP p EUDQFR QHJUR RX PHVtiço? Para o governo, basta se autodeclarar.
ARTIGO DEFINIDO/ MURRO#07
POR/ CÉLIO TURINO
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ERA UMA VEZ O PROGRAMA CULTURA VIVA FOI UMA FRESTA. Uma fenda que se abriu. E, de repente, um conceito matemĂĄtico (“dĂĄ-me um ponto de apoio e uma alavanca e moverei o mundo!â€?, Arquimedes) se transforma em polĂtica pĂşblica. Em seis anos de trabaOKR SHVVRDV EHQHÂżFLDGDV SRU DQR em 1.100 municĂpios e mais de 3.000 Pontos de Cultura (dados IPEA - 2009). Os mais vaULDGRV 3RQWRV GH LQGtJHQDV ID]HQGR ÂżOPHV no Parque Nacional do Xingu Ă orquestra de violinos na comunidade da Mangueira (RJ); jovens organizando bibliotecas comunitĂĄrias ou criando fusĂŁo entre jazz e aboios (o canto dos vaqueiros) no vale do Cariri; quilombolas trabalhando com Cultura Digital em software livre, universitĂĄrios aprendendo com GriĂ´s; Pontos de MĂdia Livre, Pontinhos de Cultura para a cultura infantil e lĂşdica, PontĂľes, Teias, 2ÂżFLQDV GH &RQKHFLPHQWRV /LYUHV ,QWHUDo}HV EstĂŠticas e tudo mais que caiba na Cultura (e tudo cabe na Cultura, assim como a Cultura cabe em tudo). Foi retirado um vĂŠu da invisibilidade (entre muitos outros vĂŠus que precisam ser retirados) e todo um paĂs se “desescondeuâ€?. Ponto de Cultura (o ponto de apoio), a sedimentação do fazer cultural no territĂłrio, nas comunidades, desencadeando processos de autonomia, protagonismo e “empoderamentoâ€? criativo e social. Cultura Viva, a macrorrede que une e dĂĄ sentido a esta imensa rede de pontos diversos a partir de açþes (as
alavancas) como: cultura e saĂşde, interaçþes estĂŠticas, griĂ´s, economia viva, agentes jovens de cultura, AretĂŠ (para realização de eventos), pontos de mĂdia livre (para comunicação em rede, rĂĄdios e TVs comunitĂĄrias), cultura digital, entre outras. Diversos e comuns, ao mesmo tempo. Cada Ponto com sua forma e modo de ser, integrados em rede com um ponto em comum: a unidade na diversidade. NĂŁo era essa a intenção original do governo brasileiro. Com a posse do presidente Lula, havia o desejo sincero de “descentralizar e democratizar o acesso aos bens culturaisâ€?, todavia, o caminho inicialmente adotado previa a construção de espaços fĂsicos, as BACs (Base de Apoio Ă Cultura), pequenos centros culturais prĂŠ-moldados, que seriam instalados em bairros de periferia e em pequenos municĂpios. Era um caminho que privilegiava a esWUXWXUD HP GHWULPHQWR GR Ă€X[R R FLPHQWR H o ferro no lugar da pulsação. Depois de construĂdos, caberia Ă população ocupar e manter esses centrinhos culturais. Mas quem pagaria as despesas de manutenção e atividades? NĂŁo somente ĂĄgua, luz, segurança, mas tambĂŠm a remuneração das pessoas que ministrariam as aulas de arte (quem defende a cidadania dos outros, com trabalhos socioculturais, tambĂŠm precisa ter respeitados a sua prĂłpria cidadania e seus direitos), a manutenção dos grupos artĂsticos estĂĄveis, as apresentaçþes, os intercâmbios, sobre isso, nenhuma palavra
ou conceito. Por sorte (uma vez que seria mais um caso de desperdĂcio de recursos pĂşblicos – Ă ĂŠpoca, cada BAC custaria R$ 2 milhĂľes), a ideia nĂŁo prosperou; escolheram terrenos, Âż]HUDP PDTXHWHV PDV QR PRPHQWR GD RSHração, houve uma sĂŠrie de desentendimentos que levaram o prĂłprio ministĂŠrio da cultura a uma grave crise, incluindo a saĂda de diversos dirigentes. Passados quase seis meses em que a secretaria responsĂĄvel permaneceu sem titular, aconteceu minha nomeação. Mas o que fazer? A ordem era “O presidente da repĂşblica quer implementar as BACs, adorou as maquetes!â€?. Mas eu nĂŁo concordava com esse caminho. JĂĄ havia passado por experiĂŞncias anteriores, realizado circuitos de cineclubes e feiras de arte em bairros e comunidades, 20 anos antes, e jĂĄ tinha visto tantas construçþes fĂsicas, quando feitas “de cima para baixoâ€?, se degradarem rapidamente, transformando-se em ponWRV GH WUiÂżFR GH GURJDV RX VRE R FRQWUROH GH gangues. Um programa com foco apenas na construção fĂsica nĂŁo daria certo. Melhor nem assumir a secretaria a ter de efetivar um projeto com o qual nĂŁo concordava. Tive de agir rĂĄpido e apresentar um programa alternativo, FRP FRQFHLWR ÂżORVRÂżD REMHWLYRV GHVFULomR metas, orçamento e cronograma, tudo escrito em duas noites, antes da prĂłpria nomeação ser publicada no 'LiULR 2ÂżFLDO. Se o ministro Gilberto Gil estivesse de acordo, Ăłtimo; do
O Cultura Viva e os Pontos de Cultura talvez tenham sido a primeira polĂtica pĂşblica (talvez no mundo) a aplicar em grande escala os conceitos de Estado-Rede e Estado Ampliado, em toda sua radicalidade contrĂĄrio, pouparĂamos tempo para ambos. Ele nĂŁo sĂł concordou como foi o esteio para a implementação da Cultura Viva e dos Pontos GH &XOWXUD Âł&XOWXUD p Ă€X[R H Ă€X[R p YLGD´ IRL o que ele percebeu. E assim invertemos a ordem, saĂmos da parede morta e fomos para a Cultura Viva. O programa cresceu em progressĂŁo geomĂŠtrica, isso porque adequado ao veio da vida. E os projetos apareceram. 800 logo no primeiro edital; era para selecionar 100 Pontos de Cultura, mas ampliamos para 260, tĂŁo boas e belas foram as propostas recebidas. E tudo a partir de uma ideia: potenciar o que jĂĄ existe, valorizando a criatividade e inventividade de nosso povo. O primeiro Ponto de &XOWXUD RÂżFLDOPHQWH DVVLQDGR QR %UDVLO IRL em Arcoverde, no agreste de Pernambuco, instalado em uma estação ferroviĂĄria desativada e dirigido por jovens universitĂĄrios, agricultores sem terra e indĂgenas, fazendo arte e invertendo a prĂłpria lĂłgica do poder simbĂłlico nestas pequenas cidades do interior do paĂs. Isso aconteceu apenas cinco meses apĂłs o lançamento do conceito, em novembro de 2004; um mĂŞs depois, jĂĄ eram 72 Pontos de Cultura com convĂŞnio assinado (concluĂdos Ă s 16 horas da tarde do dia 31 de dezembro). Com a surpresa e ĂŞxito alcançados, o orçamento cresceu de R$ 5 milhĂľes em 2004 para R$ 65 milhĂľes em 2005 (via emenda parlamentar). Ano seguinte, novo edital e mais 2.500 projetos inscritos. Em seis meses de trabalho consegui provar minha tese: quando um governo vai alĂŠm e promove uma gestĂŁo compartilhada com seu povo, os resultados VmR PXLWR PDLV HÂżFD]HV ( QmR VH IDORX PDLV em BAC. Foi tanto trabalho e brotou tanta coisa boa e bela, feitas diretamente pelas pessoas das comunidades, sem intermediação. Com isso, o Cultura Viva e os Pontos de Cultura talvez tenham sido a primeira polĂtica pĂşblica (talvez no mundo) a aplicar em grande escala os conceitos de Estado-Rede (Castells) e Estado Ampliado (Gramsci), em toda sua radicalidade. Assinei convĂŞnios com mĂŁes de santo, jovens das favelas, o cacique Aritana dos Yawalapiti. Surge o primeiro problema: o
Estado nĂŁo estava (e nĂŁo estĂĄ) preparado para esse diĂĄlogo direto com o seu povo. A mesma burocracia que regia contratos bilionĂĄrios, com bancos, empreiteiras ou “mega-ONGsâ€?, iria reger os pequenos e microcontratos com entidades comunitĂĄrias. E a burocracia morta foi travando a cultura viva. Ainda assim foi SRVVtYHO HQFRQWUDU VROXo}HV $R ÂżQDO (mais precisamente entre os dias 17 e 31 de dezembro), foram estabelecidos convĂŞnios com 21 estados e diversos grandes municĂpios, transferindo a seleção, conveniamento e acompanhamento das redes de Pontos de Cultura para esses entes federados. Essa medida permitiu ampliar a rede de 600 Pontos de Cultura para mais de 3.000, bem como aumentar os recursos pĂşblicos (uma vez que os estados e municĂpios agregam 1/3 do custo WRWDO GD UHGH FRPR FRQWUDSDUWLGD ÂżQDQFHLra), eliminar a contrapartida dos Pontos de Cultura e reduzir a burocracia, tornando-a mais prĂłxima das entidades. Mas essas redes seguiam com a modalidade convĂŞnio e subordinadas Ă lei 8.666, que rege licitaçþes e FRQWUDWRV GR (VWDGR $R ÂżQDO GH PDLV um avanço nas normas de gestĂŁo, a rede de 300 Pontos de Cultura do estado de SĂŁo Paulo foi estabelecida a partir de premiação, em que a prestação de contas acontece por resultados e nĂŁo por procedimentos burocrĂĄticos. Essa medida deveria ser estendida Ă s demais redes, mas nessa ĂŠpoca eu jĂĄ estava de saĂda do ministĂŠrio e, infelizmente, nĂŁo foi aplicada pelas gestĂľes que me sucederam. Os ĂŞxitos do Cultura Viva e dos Pontos de Cultura sĂŁo inequĂvocos, nĂŁo somente do ponto de vista de polĂtica cultural, mas de gestĂŁo. Segundo pesquisa do IPEA (2009), cada PonWR GH &XOWXUD EHQHÂżFLD SHVVRDV HP DWLYLGDGHV UHJXODUHV SDUWLFLSDQGR GH DOJXPD RÂżcina ou curso ou coletivos artĂsticos – dança, teatro, bandas de mĂşsica, cineclubes), 3.300 em atividades esporĂĄdicas (frequentando espetĂĄculos ou bibliotecas, sessĂľes de cinema) e mobiliza o trabalho direto de 11 pessoas (metade remunerada e metade em trabalhos voluntĂĄrios) e tudo isso com um investimento governamental de apenas R$ 60 mil/ano, ou R$ 5 mil/mĂŞs. No entanto, essa polĂtica que
conseguiu, em tĂŁo pouco tempo, chegar aos rincĂľes mais distantes e escondidos do paĂs e com tĂŁo belos resultados culturais e artĂsticos, tem padecido de um tremendo retrocesso, sobretudo nos Ăşltimos trĂŞs anos. InĂşmeros editais foram cancelados e o repasse a Pontos de Cultura, PontĂľes e redes sofre uma quase interdição. Os motivos alegados sĂŁo sempre pequenos entraves burocrĂĄticos ou regimentais. Com isso, o programa foi perdendo força GHQWUR GR JRYHUQR H QmR ÂżJXUD PDLV QR 3ODQR Plurianual de Investimentos – PPA. Mesmo em se admitindo algum problema formal, trĂŞs DQRV VHULDP WHPSR VXÂżFLHQWH SDUD FRUULJLU problemas, ou mesmo cancelar convĂŞnios e iniciar procedimentos a partir de uma nova lĂłgica, porĂŠm, praticamente pouco se fez de novo no perĂodo, impondo uma quase paralisia ao programa. Seguramente esse retrocesso nĂŁo se deve apenas a falhas burocrĂĄticas, mas Ă falta de compreensĂŁo e vontade polĂtica. Muito provavelmente porque a lĂłgica do Cultura Viva e dos Pontos de Cultura tem por foco principal a busca da PotĂŞncia, em que a solução dos problemas ĂŠ encontrada nas prĂłprias comunidades e nĂŁo fora, enquanto a lĂłgica imperante na aplicação de polĂticas pĂşblicas ĂŠ a do atendimento Ă CarĂŞncia, ao que falta, gerando dependĂŞncia e nĂŁo a superação de problemas. Passados nove anos desde a formulação inicial do programa, hĂĄ que perguntar: o que representou todo esse esforço em conceituação e gestĂŁo desta polĂtica pĂşblica e qual o motivo de ela estar sofrendo tamanho retrocesso nos tempos atuais? Gostaria de nĂŁo ser eu a apresentar a resposta, sobretudo pelo meu envolvimento intelectual, polĂtico e afetivo com o tema. Mas, tentando despir-me dessa roupa e assumindo-me na condição de historiador, vou arriscar uma anĂĄlise. 1) Uma polĂtica pĂşblica como o Cultura Viva e os Pontos de Cultura sĂł pĂ´de surgir em um momento polĂtico muito determinaGR 1mR PH UHÂżUR DR SRQWR GH YLVWD SROtWLFR-partidĂĄrio, mas ao simbolismo da eleição do presidente Lula, que em 2002 abriu um novo ambiente para o protagonismo popular. A
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ARTIGO DEFINIDO/ MURRO#07
histĂłria de vida do presidente Lula se mistura com a prĂłpria histĂłria do povo e provocou uma simbiose que permitiu que as pessoas acreditassem mais nelas mesmas, colocando-se em movimento. Foi esse caldo de cultura que arou um terreno fĂŠrtil para a experimentação de polĂticas pĂşblicas participativas e inovadoras. 2) A inclusĂŁo social foi a marca do novo ciclo governamental iniciado em 2003, os dados sĂŁo incontestes. Todavia, apesar do forte componente inclusivo do Cultura Viva e dos Pontos de Cultura (“reconhecer e apoiar grupos sociais e culturais historicamente alijadosâ€?), o programa pretendia ir alĂŠm, apresentando o componente emancipatĂłrio, alicerçado no tripĂŠ autonomia/protagonismo/ “empoderamentoâ€?. Por diversas vezes, eu prĂłprio dizia que o grande indicador de ĂŞxito do programa estaria na “perda do controleâ€?, o que era uma contradição para alguĂŠm que ocupava cargo de gestĂŁo de Estado. 3) A lĂłgica do Estado ĂŠ a lĂłgica da imposição e controle. PorĂŠm, a lĂłgica do Cultura Viva era outra: “do Estado que impĂľe para o Estado que dispĂľeâ€?, “do Estado que controla para o Estado que estĂĄ disposto a perder o controleâ€?, “da carĂŞncia Ă potĂŞnciaâ€?. A imposição e controle do Estado sĂŁo estabelecidos pela tĂŠcnica (principalmente quando tĂŠcnica se transforma em ideologia), que ĂŠ executada pela burocracia, com suas normas, portarias, decretos e leis, gerando um habitus burocrĂĄtico (no conceito de Bordieu), como uma maneira de ser do aparato de controle estatal. AĂ reside a contradição entre a lĂłgica de um governo reformista e com proposta de inclusĂŁo social, mas subordinado Ă lĂłgica de controle de Estado e de manutenção do equilĂbrio de poder que o sustenta. Como o Cultura Viva se propunha ir alĂŠm da inclusĂŁo, houve o embate e o programa travou. 4) Na primeira fase do governo Lula, sobretudo no MinistĂŠrio da Cultura, havia algum espaço para experimentaçþes de polĂticas pĂşblicas inovadoras, principalmente pela carga simbĂłlica representada por um deslocamento de classes no exercĂcio de governo, DVVLP FRPR SHOD ÂżJXUD S~EOLFD UHSUHVHQWDGD pelo artista Gilberto Gil. Foi nessa brecha que surgiu o Cultura Viva, como se tivesse entrado por uma pequena fresta de porta que logo mais seria fechada. Enquanto houve vontade
06 polĂtica combinada com a baixa institucionalidade no MinistĂŠrio da Cultura, foi possĂvel avançar. Depois, tudo tornou-se mais difĂcil. 5) Sob o governo Dilma essas poucas frestas simbĂłlicas foram ainda mais fechadas. E o impĂŠrio da tĂŠcnica e da gestĂŁo se sobrepĂ´s ao mundo dos sonhos (ou da experimentação, para manter o termo no lĂŠxico tecnicista). NĂŁo que tenha sido uma intenção perversa e premeditada, buscando conter inovaçþes para alĂŠm das formas tradicionais, mas foi da prĂłpria lĂłgica do Sistema-Estado, que precisa se autopreservar. Cultura Viva diz respeito Ă pluralidade da vida, de suas expressĂľes e desejos, mas o mundo da tĂŠcnica transforma tudo em coisa, atĂŠ mesmo a gratuidade da YLGD &RP LVVR 2ÂżFLQDV GH &RQKHFLPHQWRV Livres tiveram que ceder lugar Ă Economia Criativa (submetendo a Cultura Ă lĂłgica da economia e nĂŁo o contrĂĄrio), processos formativos horizontais (em que um Ponto contribuĂa com outro via afecçþes, com as ideias se disseminando de forma virĂłtica) foram substituĂdos por formaçþes verticais (quando houve formação) e o investimento em Capital Humano (via transferĂŞncia de recursos para Pontos de Cultura) foi deslocado para construçþes fĂsicas com a volta das BACs, agora com o nome Praça do PAC, ou CEU das Artes (como nenhuma delas ainda foi efetivamente colocada em funcionamento, nĂŁo hĂĄ como FRPSDUDU VXD HÂżFiFLD HP UHODomR D XP 3RQWR de Cultura, mas, de antemĂŁo, sabe-se que o valor gasto na construção de cada um desses centrinhos culturais equivale a 40 anos de sustentação de atividades de um Ponto de Cultura). E tudo amparado no discurso da TXDOLÂżFDomR WpFQLFD HP TXH RV DJHQWHV GR (VWDGR VmR RV TXDOLÂżFDGRUHV H RV UHSUHVHQWDQWHV GD VRFLHGDGH RV GHVTXDOLÂżFDGRV Observando hoje, com o mĂĄximo de isenção possĂvel (ou pelo menos me esforçando para tanto), diria que sĂŁo esses cinco fatores que nos levam a entender como aconteceu o ciclo de “formulação/encantamento/expansĂŁo/contenção/declĂnioâ€? do Cultura Viva. ,VVR VLJQLÂżFD TXH D &XOWXUD 9LYD PRUUHX" 'H maneira alguma. Ela segue viva como sempre, agora em um novo e mais poderoso nĂvel. VĂĄrios Pontos de Cultura se “empoderaramâ€? nesse processo, se equiparam, avançaram na consciĂŞncia polĂtica, saindo do estĂĄgio do “em siâ€? para o “para siâ€?. Houve o exercĂcio do mo-
vimento coletivo, desencadeado pelas TEIAS (a Ăşltima reunindo 5.000 pessoas em Fortaleza, em 2010), Teias estaduais, comissĂľes representativas, encontros, que continuam. 7DPEpP KRXYH R H[HUFtFLR GD DomR UHĂ€H[LYD com diversos seminĂĄrios, as dezenas de teses e dissertaçþes de mestrado, os livros publicados. Parte das entidades, diria que aquelas PDLV DUWLÂżFLDLV FRP PHQRV YtQFXORV FRPXQLtĂĄrios e mais assemelhadas ao funcionamento de ONGs tradicionais, jĂĄ nem faz parte do movimento dos Pontos de Cultura; mas outro tanto, talvez centenas, ou para alĂŠm de um milhar, mantĂŞm-se, inegavelmente, em outra condição de protagonismo na formulação e defesa de polĂticas pĂşblicas avançadas, inclusive ocupando espaços institucionais em governos, sobretudo municipais. HĂĄ o movimento latino-americano, em onze paĂses, pela Cultura Viva ComunitĂĄria, sendo que em quatro (Argentina, ColĂ´mbia, Costa Rica e Peru) como efetiva polĂtica de governo, jĂĄ com decretos ou projetos de lei em tramitação, transIHUrQFLD GH UHFXUVRV H LGHQWLÂżFDomR GH 3RQWRV de Cultura; e em maio de 2013 houve o primeiro congresso latino-americano da Cultura Viva, em La Paz, na BolĂvia, com o tema “Cultura, descolonização e bem viverâ€?. Tudo isso fornece um ambiente propĂcio Ă retomada e ao avanço da Cultura Viva e muito alĂŠm da prĂłpria ação do governo brasileiro. Assim, uma histĂłria que comecei a contar como em um conto de fadas, por “Era uma YH] ´ VHJXH YLYD H VHP ÂżP FRPR VmR RV FDminhos da cultura. E que outros contem e recontem essa histĂłria que ĂŠ de todos nĂłs.
A Cultura Viva morreu? De maneira alguma. Ela segue viva como sempre, agora em um novo e mais poderoso patamar
CĂŠlio Turino ĂŠ historiador, escritor e gestor de polĂticas pĂşblicas.
INTERSECĂ‡ĂƒO/ MURRO#07
POR/ JOEL LA BANCA JUNIOR
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MEDICINA E DANÇA Bailarinos e atletas, semelhanças e diferenças
NOS ĂšLTIMOS 30 ANOS, tenho trabalhado com cirurgia ortopĂŠdica, traumatolĂłgica e medicina do esporte, com satisfação renovada continuamente Ă custa de experiĂŞncias educativas e recompensadoras. Uma parte importante dessa vivĂŞncia ocorreu nos Ăşltimos 14 anos, perĂodo em que estive em constante e Ăntimo contato com a dança, oportunidade de atuar como mĂŠdico ortopedista do BalĂŠ da Cidade de SĂŁo Paulo e atender bailarinos de vĂĄrias outras importantes companhias de balĂŠ de nossa cidade, vivenciando a realidade e os problemas fĂsicos desta classe particular de atletas. Sim! Tratamos de atletas, cada vez mais equiparados nas solicitaçþes e problemas, aos atletas de elite de outras modalidades, embora com particularidades pertinentes Ă atividade artĂstica. O entendimento e consideração das esSHFLÂżFLGDGHV GR GDQoDULQR YLHUDP FRP R tempo e creio que foi de extrema importância no manejo mĂŠdico dos problemas fĂsicos e no auxĂlio na recuperação e reabilitação GRV SURÂżVVLRQDLV GH GDQoD DFHOHUDQGR R UHtorno Ă atividade e provavelmente prolongando o tempo Ăştil de carreira artĂstica. A observação constante com bailarinos de idade e nĂvel artĂstico variados trouxe-
-me a noção de que as patologias decorrentes de trauma ou nĂŁo, existentes nestes indivĂduos, apresentam padrĂŁo similar de repetição, presente em outras categorias de atletas, o que torna essas lesĂľes mais previsĂveis e como tais tornam-se objetos de medidas preventivas, os quais sĂŁo a grande meta da medicina moderna. Podemos ressaltar, como pontos importantes e educativos, os seguintes tĂłpicos: Os bailarinos, ainda que atletas de elite, nĂŁo gozam de privilĂŠgios como preparador fĂsico, prĂŠ-temporada, treinos fĂsicos prĂŠ e pĂłs-atividade e orientação nutricional. A reabilitação pĂłs-trauma ou patologia nĂŁo leva em conta a readaptação artĂstica do SURÂżVVLRQDO Se conseguĂssemos realizar a avaliação precoce em bailarinos iniciantes e tomar as medidas necessĂĄrias caso houvesse necessidade, evitarĂamos que talentos artĂsticos UHOHYDQWHV ÂżFDVVHP SHOR FDPLQKR 0XLWRV desses problemas fĂsicos seriam, certamente, potencialmente solucionĂĄveis. NĂŁo temos, nas companhias tradicionais, perĂodo regular de condicionamento fĂsico, HQFDUJR HVVH TXH ÂżFD VRE D UHVSRQVDELOLGDGH GR SURÂżVVLRQDO DSyV R KRUiULR GH HQVDLRV NĂŁo existe a possibilidade de acompa-
nhamento mĂŠdico e de reabilitação do proÂżVVLRQDO TXH VHMD IHLWR HP FRRUGHQDomR WHPporal com a atividade artĂstica. Reconhecemos que, diante dos problemas FU{QLFRV GH LQYHVWLPHQWR H FRQVHTXHQWH GpÂżFLW GH RSRUWXQLGDGHV SURÂżVVLRQDLV HP QRVVR SDtV ÂżFD PDLV GLItFLO D LPSOHPHQWDomR H QRUmatização de processos de saĂşde preventivos e terapĂŞuticos para benefĂcio dos bailarinos, e, portanto, ressalto a importância da iniciativa pioneira da Prefeitura de SĂŁo Paulo e do BalĂŠ da Cidade de SĂŁo Paulo de criarem um departamento mĂŠdico estĂĄvel, do qual tenho orgulho de participar nestes 14 anos. Sou membro de uma sociedade de medicina artĂstica internacional - PAMA (Performing Arts Medical Association - Associação MĂŠdica de Artes PerformĂĄticas) e informo que a manutenção de equipe mĂŠdica estĂĄvel dentro de companhia ĂŠ iniciativa pioneira e quase inĂŠdita no mundo, surpreHQGHQGR SURÂżVVLRQDLV GHGLFDGRV jV DUWHV QR mundo inteiro.
Dr. Joel La Banca Junior ĂŠ mĂŠdico, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, da American Academy Of Orthopaedic Surgery e do Performing Arts Medical Association.
TRANSGRESSÃO Nº13/ MURRO#07
POR/ NEOMISIA SILVESTRE
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EDSON CLARO
A MOBILIDADE HUMANA
QUANDO O ADOLESCENTE Armando foi até a universidade se matricular no curso de Educação Física e, ao sair, regressou seduzido pela música que ressoava no ginásio: era Educação. Quando Vanessa, aos 17 anos, preocupou a família por preferir à Dança ao Direito, também era Educação. E quando o bailarino e coreógrafo Edson Claro apostou e incentivou esses jovens, era a certeza absoluta de que o corpo sempre surpreende quando começa a dançar. Armando Duarte e Vanessa Macedo são EDLODULQRV SUR¿VVLRQDLV H H[ DOXQRV GH (GVRQ Claro, paulista, professor doutor e criador do método Dança-Educação Física (MDEF), um marco na história da dança moderna brasileira. Ele também é responsável por in-
troduzir conceitos de dança contemporânea em Natal e lá criar grupos como o Acauã Cia. de Dança (1988), Gaia Cia. de Dança (1990) e a Cia. de Dança dos Meninos (2000), além de incentivar artistas que se consolidaram na carreira artística. “Todas as minhas referências em dança vieram do Edson. Eu era atleta, fazia ginástica rítmica, que tinha um trabalho forte de corpo, mas não voltado à dança. Depois de uma atividade de dez anos como ginasta e técnica de ginástica rítmica, entrei no grupo de dança que ele dirigia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, hoje chamada de Gaia Cia. de Dança”, diz Vanessa, coreógrafa e diretora da Companhia Fragmento de Dança, sediada em São Paulo e que desenvolve pes-
quisa e criação em dança contemporânea desde 2002. “Há 12 anos, época em que vim pra São Paulo – quando geralmente quem costuma se aventurar assim, deixar a família, são os homens –, tive o apoio dele. O Edson abria todos os caminhos que podia, sempre foi PXLWR SDUFHLUR QHVVH VHQWLGR 0XLWRV SUR¿Vsionais de Natal, assim como eu, que tiveram esse contato com ele e fôlego de correr atrás, tinham seu total apoio. Era uma pessoa muito incentivadora. De repente, quando estava todo mundo focando no caminho mais fácil, ele sempre estava mais aberto para um caminho mais difícil”, recorda. Como criador e educador, trabalhou na Faculdade Integrada de Guarulhos e instituiu
Professor aposentado pelo Departamento de Artes da UFRN, hoje com 63 anos, Edson lida hĂĄ dez com a doença de Parkinson, mas faz dela um instrumento de motivação para a publicação do livro Dançando com Parkinson, referĂŞncia para pacientes, neurologistas, terapeutas e bailarinos o Curso de Especialização em MĂŠtodo DançaEducação FĂsica; fundou e coordenou a PĂłsGraduação Lato Sensu – Dança e ConsciĂŞncia Corporal (1995) e o Curso de Licenciatura em Dança (2009), na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Foi um dos criadores do Ballet Stagium e da Companhia de Dança Cisne Negro. Estudou e fez intercâmbio com diversos artistas, como o dançarino e coreĂłgrafo alemĂŁo Rolf Gelewski (1930-1988); o bailarino afro-americano Walter Nicks; a psicĂłloga Bernadete Figueiredo; a bailarina, coreĂłgrafa e professora Ruth Rachou; e o maestro Ricardo OrdoĂąes (1939-2009). “Como ele sempre teve muitos contatos com coreĂłgrafos do Brasil inteiro, levou muitas pessoas importantes da dança para coreografar para o grupo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), como o JosĂŠ Henriqueta, o MĂĄrio Nascimento e o Henrique Rodovalho. Desde muito cedo proporcionou esse contato com pessoas importantesâ€?, completa Vanessa. Estudos acadĂŞmicos e vivĂŞncias em diversos tipos de dança – desde o samba que ele jĂĄ arriscava aos 5 anos de idade nas festas de famĂlia – potencializaram seu entendimento de corpo e fundamentaram a simbiose entre Dança e Educação FĂsica enquanto processo educacional, com enfoque multidisciplinar aplicado por Edson em todos os trabalhos que desenvolveu, principalmente QD LQVHUomR GH EDLODULQRV FRP GHÂżFLrQFLD como no espetĂĄculo de dança “MĂŁo na Rodaâ€? (1998), sob sua coordenação artĂstica e direção de Henrique Amoedo. Jogador de vĂ´lei e adepto da prĂĄtica do atletismo, a uniĂŁo da dança com o esporte acontece quando ele passa a frequentar aulas de expressĂŁo corporal de Jonatas Gama, em 1973, e percebe que seu mĂŠtodo de ensino nascia tambĂŠm de uma necessidade de
ampliar o conhecimento do prĂłprio corpo enquanto mobilidade e de sua relação com os espaços internos e externos. “O corpo sempre reage de forma surpreendente quando a gente começa a dançarâ€?, diz, em depoimento gravado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte para o programa “Figuras da Dançaâ€?, dirigido por InĂŞs BogĂŠa, diretora artĂstica da SĂŁo Paulo Companhia de Dança. “Edson Claro ĂŠ um dos grandes incentivadores da produção artĂstica no paĂs. Rompeu barreiras, preconceitos e mudou a forma de se pensar a dança no paĂs ao criar o MĂŠtodo Dança-Educação FĂsica, apostando na multidisciplinaridade e acreditando na ligação entre dança e educação fĂsica como um processo de educaçãoâ€?, diz InĂŞs. Produzido em 2012, o programa resgata a vivĂŞncia do artista, entremeando suas experiĂŞncias e motivaçþes SURÂżVVLRQDLV SRU PHLR GH GHSRLPHQWRV GH DUtistas e pessoas que trabalharam com Edson, alĂŠm dele prĂłprio falar de sua trajetĂłria. “Logo que comecei a dançar, fui fazer aula no estĂşdio de Ballet Cisne Negro. Fui pra Natal convidado pelo Edson para coreografar junto ao AcauĂŁ, o primeiro grupo de dança que ele montou em Natal. A segunda experiĂŞncia foi no grupo Casa Forte, que ele montou em SĂŁo Paulo, e eu tive a felicidade de coreografarâ€?, diz o bailarino e professor da Universidade de Iowa, em Chicago, Armando Duarte. Armando, assim como Edson, tambĂŠm ĂŠ um dos fundadores do Cisne Negro. “Fiquei quase 15 anos ininterruptos com a Companhia, atĂŠ quando me mudei para os Estados Unidos. Fui assistente de Hulda Bittencourt [diretora artĂstica da Cisne Negro] por cinco anos e ao mesmo tempo desenvolvia minha carreira como coreĂłgrafo. Mas o meu inĂcio na dança se deve muito ao que Edson começou na dĂŠcada de 1970, com um trabalho na Universidade
de SĂŁo Paulo. Sou dessa geração de bailarinos brasileiros que começou a dançar dentro da Universidadeâ€?, diz. Da convivĂŞncia com Edson, Armando rememora sua personalidade aplicada e exigente, mas cheia de entusiasmo, energia e de um carisma extremamente forte; elementos que o auxiliaram na propagação da metodologia da dança-educação fĂsica e tambĂŠm no sentido da dança praticada por um grande nĂşmero de pessoas, independente da idade. “Eu o considero um dos maiores educadores do Brasil. Para todos que tiveram a oportunidade de interagir com ele, nĂŁo aprendemos sĂł a dança, mas tambĂŠm educação e cidadania, que sĂŁo valores que carrego atĂŠ hoje, nesses 36 anos que dançoâ€?, completa. Professor aposentado pelo Departamento de Artes da UFRN, hoje com 63 anos, Edson lida hĂĄ dez com a doença de Parkinson, mas faz dela um instrumento de motivação para a publicação do livro 'DQoDQGR FRP 3DUNLQVRQ, referĂŞncia para pacientes, neurologistas, terapeutas e bailarinos. Atualmente, vive em Natal, com a esposa Isabel, com quem ĂŠ casado Ki RLWR DQRV (PERUD FRP GLÂżFXOGDGHV QD IDOD Edson atendeu a Murro em Ponta de Faca e disse que o livro estĂĄ sendo produzido, devagar. Em paralelo a isso, ele, orgulhoso, diz que voltou a coreografar, dessa vez, para a Escola de Dança e Teatro Alberto MaranhĂŁo, no espetĂĄculo Oremos, que tem estreia prevista para este ano. Em primeira mĂŁo, tambĂŠm contou que estĂĄ em andamento um tango em homenagem Luis Arrieta. Na breve entrevista, quando Isabel faz a SRQWH H SHUJXQWD FRPR p TXH HOH GHÂżQH VXD trajetĂłria artĂstica, Edson brinca e responde: “Fenomenalâ€?. Mas reconhece: “O trajeto foi ĂĄrduo, com muito suor, trabalho, dedicação e muitas horas de estudosâ€?. Isabel sorri e encerra a conversa com um: “Eita, o cara vai longeâ€?.
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TRANSGRESSÃO Nº14/ MURRO#07
POR/ NEOMISIA SILVESTRE
FLÁVIO DE CARVALHO
O ARTISTA CONTROVERSO
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Embora nĂŁo tenha participado da efervescente Semana de Arte Moderna de 1922, o artista inquieto ĂŠ tido como ativista dos anos 1930 e um dos fundadores do SalĂŁo de Maio, em 1937, que ajudou a consolidar a arte moderna no paĂs TALVEZ NĂƒO FOSSE INTENCIONAL atrair tanta atenção e muito menos despertar a fĂşria de alguns que o estudante de tĂŞxtil e moda Vitor Pereira, 20 anos, decidiu ir Ă aula YHVWLQGR XPD VDLD $ÂżQDO HOH FXOWLYD R KiELto por se sentir mais Ă vontade. Fato ĂŠ que a atitude desencadeou uma sĂŠrie de ofensas gratuitas nas redes sociais do aluno da Escola de Artes, CiĂŞncias e Humanidades (EACH) da USP, na zona leste, em maio passado, e tambĂŠm manifestaçþes em forma de “saiaçoâ€?, organizado por universitĂĄrios a favor da causa. Premeditada, uma situação parecida aconteceu em outubro de 1956, quando o artista FlĂĄvio de Carvalho (1899-1973) caminhou de saia pelo centro de SĂŁo Paulo: era a sugestĂŁo de um “New Lookâ€? para “o novo homem dos trĂłpicosâ€?. A “ExperiĂŞncia nÂş 3â€?, como foi nomeada por ele, representava seu pensamento de que a roupa ĂŠ o fator que mais LQĂ€XHQFLD R KRPHP SRU VHU ÂłDTXLOR TXH HVWi mais perto do seu corpo e o seu corpo continua sempre sendo a parte do mundo que mais interessa ao homemâ€?. A composição de saia cor-de-rosa plissada acima dos joelhos, camisa verde de mangas curtas, meia arrastĂŁo e sandĂĄlia de couro cru indicavam uma explĂcita e pioneira intenção performĂĄtica. Inspirado em obras de pensadores como Charles Darwin, Freud e Nietzsche, FlĂĄvio HODERURX GLYHUVRV HVWXGRV DQWHV GH GHVÂżODU publicamente o (ul)traje, com o propĂłsito de defender uma nova concepção de roupa de verĂŁo para os homens, levando em consideração as transformaçþes sofridas nas vestimentas com o passar dos anos. Defendia uma revolução estĂŠtica como “fenĂ´meno de turbulĂŞncia, com polarização de forças anĂmicas bĂĄsicasâ€?. Inquieto e vanguardista, o carioca FlĂĄvio de Rezende Carvalho foi um homem multifacetado: era arquiteto, engenheiro, cenĂłgrafo, ÂżJXULQLVWD WHDWUyORJR SLQWRU LOXVWUDGRU HVFULWRU ÂżOyVRIR MRUQDOLVWD SHUIRUPHU H P~VLco. Capaz de transitar com genialidade entre todas essas linguagens artĂsticas, nĂŁo ĂŠ Ă toa que ĂŠ lembrado como um dos nomes de destaque da geração modernista brasileira. O carĂĄter experimental que fugia Ă regra ĂŠ expresso nas formas de lidar com essas
vertentes das artes. Para isso, FlĂĄvio sempre ia Ă direção contrĂĄria. Prova literal disso ĂŠ a chamada “ExperiĂŞncia nÂş 2â€?, em que atravesVRX HP FRQWUD Ă€X[R XPD SURFLVVmR GH Corpus Christi usando um chapĂŠu verde musgo e olhando maliciosamente para as devotas. A intervenção numa tarde de domingo, em junho de 1931, no centro de SĂŁo Paulo, era para estudo da reação e psicologia das massas que, tamanho o tumulto gerado, quase lhe rendeu o linchamento por parte dos catĂłlicos. A experiĂŞncia foi registrada e ilustrada por ele em um ensaio sobre os limites da tolerância e a agressividade de uma multidĂŁo religiosa. Ainda na dĂŠcada de 1930, o interesse em captar aspectos emotivos e psicolĂłgicos ĂŠ representado em nus e retratos, pintados por ele, com uma fusĂŁo de estilos por meio de traços surrealistas, cubistas e expressionistas. “No retrato, hĂĄ um mundo a se descobrir e a se aperfeiçoar; nĂŁo sĂł no que se refere Ă dialĂŠtica pura da pintura como no que toca Ă importância humana do personagemâ€?, dizia. Entre eles, um retrato dos poetas Oswald de Andrade e Julieta BĂĄrbara e outro de MĂĄrio de Andrade. As obras somam cem telas a Ăłleo e cerca de mil desenhos. Segundo o arquiteto e historiador de arte Rui Moreira Leite, as ilustraçþes e caricaturas marcam a fase inicial da obra do artista, que se encerra com a primeira exposição individual em 1934, fechada pela polĂcia e com cinco quadros apreendidos. “Os nus a caneta tendem a captar e sugerir movimento dos corpos mesmo em poses estĂĄticas, traindo o ilustrador no registro dos espetĂĄculos de dança. Da mesma forma, a acentuação de pormenores expressivos, caracterĂstica da caricatura, ĂŠ nota marcante nos retratosâ€?, explica o autor de )OiYLR GH &DUYDOKR: o Artista Total e curador da mostra retrospectiva no Museu de Arte Moderna de SĂŁo Paulo, em abril de 2010 e outra na Bienal de 1983. Em 1947, o artista realiza a intrigante 6pULH 7UiJLFD, composta por nove desenhos em carvĂŁo sobre papel, na qual registra a agonia da prĂłpria mĂŁe morrendo. OphĂŠlia CrissiĂşma de Carvalho padecia de um cânFHU H R ÂżOKR ~QLFR HP HVWDGR GH YLJtOLD IH]
a captação instantânea do momento em que a vida se despedia do corpo. Fato que novamente chocou o pĂşblico. Hoje, os desenhos sĂŁo parte da coleção do Museu de Arte Contemporânea, da USP. Embora nĂŁo tenha participado da efervescente 6HPDQD GH $UWH 0RGHUQD de 1922, o artista inquieto ĂŠ tido como ativista dos anos 1930 e um dos fundadores do 6DOmR GH 0DLR, em 1937, em SĂŁo Paulo, que ajudou a consolidar a arte moderna no paĂs. Foi um dos primeiros a trazer as obras de artistas europeus, norte-americanos e latino-americanos ao Brasil. Nascido em uma famĂlia de muitas posses, teve o privilĂŠgio de estudar na França (1911-1914) e na Inglaterra, onde se formou engenheiro civil e estudou Belas Artes. Durante sua trajetĂłria, expĂ´s trabalhos em mostras individuais e coletivas na Argentina, ItĂĄlia, EscĂłcia, Alemanha, Ă ustria, Espanha, Portugal e Holanda. Entre 1924 e 1926, ingressou no escritĂłrio de arquitetura de Ramos de Azevedo (18511928), responsĂĄvel por projetar o Mercado e o Theatro Municipal de SĂŁo Paulo. Participa de diversos concursos pĂşblicos de arquitetura VRE R SVHXG{QLPR GH Âł(ÂżFiFLD´ FRPR SDUD idealizar o PalĂĄcio do Governo do Estado de SĂŁo Paulo (1927), mas, mesmo sem sucesso em nenhum deles, teve projetos considerados marcos para a arquitetura modernista brasileira; tanto, que atĂŠ o franco-suĂço Le Corbusier (1887-1965), em vinda ao Brasil, o chamou de “revolucionĂĄrio românticoâ€?. “Essa sĂŠrie de concursos representa um primeiro momento dele como artista que estĂĄ desaÂżDQGR R FRQYHQFLRQDO H R HVWDEHOHFLGR $QWHV de ele ser um arquiteto de vanguarda, era um calculista de estruturas de engenharia em SĂŁo Pauloâ€?, explica Rui. ConstruĂda em Valinhos, na Fazenda Capuava, a casa modernista ĂŠ considerada o maior projeto arquitetĂ´nico de FlĂĄvio, nĂŁo sĂł pela ousadia do desenho minimalista e da decoração, mas pelos jantares e festas Ă beira da piscina com importantes artistas e intelectuais da ĂŠpoca. LĂĄ, o artista passou os Ăşltimos anos de sua vida. Morreu em junho de 1973, aos 74 anos.
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CAPA/ MURRO#07
POR/ MĂ RCIA MARQUES e NEOMISIA SILVESTRE
PÉ NA COZINHA
¸( TLZ[PsHNLT \UPĂ„JH VZ OVTLUZ ZLWHYHKVZ WLSVZ TP[VZ raciais. A mestiçagem reĂşne sociedades divididas pelas mĂsticas raciais e grupos inimigos. A mestiçagem reorganiza naçþes comprometidas em sua unidade e em seus destinos democrĂĄticos pelas superstiçþes sociaisâ€? Gilberto Freyre, 1963
“AS PESSOAS PENSAM que sĂŁo brancas. 3HQVDP TXH HX VRX EUDQFR RX TXH PLQKD Âżlha ĂŠ branca. SĂł no Brasil eu sou branco. Um dia eu falei que ninguĂŠm no Brasil ĂŠ branco, a nĂŁo ser a Xuxa. E brinquei tambĂŠm falando que se a Xuxa nĂŁo casar com o Taffarel, vĂŁo acabar os Ăşltimos brancos [no Brasil]â€?. Chico Buarque, o cantor e compositor de decantada beleza, com profundos olhos azuis pelos quais muitas mulheres jĂĄ suspiraram, ĂŠ o autor da frase que circula em uma entrevista no Youtube com mais de cem mil acessos, postada em 2008, com quase 700 comentĂĄrios, a maioria, defendendo algum ponto de vista sobre o racismo. E Chico acrescenta dizendo que brasileiro nĂŁo assimila bem o fato de ser mestiço. Aceita sĂł teoricamente, para usar como mote de piada. Assim fez nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua campanha Ă presidĂŞncia em 1994, quando o oponente peemedebista, Orestes QuĂŠrcia, FRQFRUUHQGR j PHVPD YDJD R FODVVLÂżFRX como “o candidato das mĂŁos limpasâ€?. Nesse momento surgiu a primeira declaração de FHC sobre sua ascendĂŞncia negra: “Um
candidato disse que eu tinha as mĂŁos brancas. Eu nĂŁo. Minhas mĂŁos sĂŁo mulatinhas. Eu sempre disse isso, sempre brinquei comigo mesmo. Tenho um pĂŠ na cozinha. Eu nĂŁo tenho preconceitoâ€? E foi naquele mesmo ano que o candidato brasileiro, com o pĂŠ na cozinha, saiu vencedor em primeiro turno nas eleiçþes presidenciais no Brasil. E de lĂĄ para cĂĄ (e em todos os tempos, vide tantas guerras travadas pelo mundo), as questĂľes raciais nunca deixaram de ser assunto para discursos LQĂ€DPDGRV GH DUURXERV SDVVLRQDLV EULJD familiar, e, o mais recente caso, discussĂľes jurĂdicas em torno de assuntos culturais e artĂsticos, como os editais para criadores e produtores negros lançados em novembro de 2012 pelo MinistĂŠrio da Cultura, o PrĂŞmio Funarte de Arte Negra, que divide opiniĂľes e reacende o debate sobre racismo. Se a ideia foi reforçar positivamente a identidade dos negros, atĂŠ pelos sĂŠculos de direitos cerceados, o lançamento do Edital robusteceu uma classe de artistas com direitos diferenciados e atiçou a briga pelo cobertor, sempre curto.
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POR COMPACTUA RMOS COM UM M UNDO QUE SEJA LIVRE DE TO DO E QUALQUER PR ECONCEITO, A CIA CARNE AG ONIZANTE VEM A PÚBLICO INFORMAR A TODE S QUE AS IMAGEN S CONTIDAS NA CAPA E NO IN TERIOR DESTA PU BLICAÇÃO NÃO CONDIZEM COM O PENSAMENTO DO S INTEGRANTES DO GRUPO E DOS RE SP ON SÁVEIS PELA REVISTA MUR RO EM PONTA DE FA CA. PORTANTO, FORA M RETIRADAS.
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PRĂŠMIO FUNARTE DE ARTE NEGRA
SANCIONADA pela atual presidente Dilma Rousseff, em memĂłria Ă morte do lĂder dos Palmares em 1695, que lutou pela libertação dos escravos durante o perĂodo colonial no paĂs, a Lei 12.519/2011 instituiu o 20 de Novembro como Dia Nacional de Zumbi e da &RQVFLrQFLD 1HJUD FRQVLGHUDGR DomR DÂżUPDtiva de promoção da igualdade racial, quando GD UHĂ€H[mR VREUH R UDFLVPR H D LQVHUomR GR negro na sociedade brasileira. Pois foi no Ăşltimo dia 20 de novembro que a atual ministra da cultura, Marta Suplicy, lançou os editais para criadores e produtores negros, autodeclarados como tais, no ato da inscrição. Segundo o site do ministĂŠrio, o prĂŞmio visa “formar novos escritores; elevar o nĂşmero de pesquisadores negros e de publicaçþes de autores negros; incentivar pontos de leitura de cultura negra em todo o paĂs; alĂŠm de premiar curtas dirigidos ou produzidos por jovens negros; entre outras açþesâ€?. Os editais lançados pela Fundação Na-
cional de Artes (Funarte), a Fundação Biblioteca Nacional e a Secretaria do Audiovisual, em parceria com a Secretaria de PolĂticas de Promoção da Igualdade Racial da PresidĂŞncia da RepĂşblica (SEPPIR) e a Fundação Cultural Palmares receberam 1.929 projetos de todo o paĂs. Um investimento de R$ 9 milhĂľes, com recursos do Fundo Nacional de Cultura (FNC), destinados a premiar 33 iniciativas nas categorias de teatro, circo, dança, mĂşsica, artes visuais e preservação da memĂłria - no PrĂŞmio Funarte de Arte Negra; seis curtas-metragens no Edital de Apoio para Curta 0HWUDJHP &XUWD $ÂżUPDWLYR GD 6HFUHWDULD do Audiovisual; a coedição de 25 livros, a implantação de 30 pontos de leitura e bolsas para pesquisadores negros pela Fundação Biblioteca Nacional. Em entrevista Ă Murro em Ponta de Faca, a ministra disse acreditar que a criação dos editais â€œĂŠ uma justa reivindicação da comunidade negraâ€?, essa, que representa os
52% dos brasileiros denominados pretos e pardos, de acordo com o Instituto Brasileiro GH *HRJUDÂżD H (VWDWtVWLFD ,%*( 3RU SDUWH da classe artĂstica, aĂ estava a possibilidade de ampliar a discussĂŁo acerca das questĂľes raciais e de uma participação efetiva dos produtores, pesquisadores e criadores negros - ainda que tardiamente - no que se refere a concursos de carĂĄter exclusivo e/ou preferencial Ă etnia negra, mas desencadeou uma GLVFXVVmR LQÂżQGD SRU SDUWH GRV DUWLVWDV TXH apoiam e os que nĂŁo apoiam os editais voltados exclusivamente aos negros. Em Salvador, Aracaju e SĂŁo Paulo, o esWtPXOR WDPEpP YHLR SRU PHLR GH RÂżFLQDV GH capacitação para o PrĂŞmio, em encontros organizados pelo MinC com o objetivo de divulgar o edital, orientar a inscrição, as etapas de execução do projeto e, de modo geral, sanar dĂşvidas dos interessados e participantes. Como se trata de algo inĂŠdito, o prĂłprio presidente da Funarte, Antonio Grassi, enxergou a necessidade de ajuste em alguns itens, como o da condição de participação pessoa fĂsica e/ ou jurĂdica.
O CASO IRINEU O projeto “Encontro de Dança AfroXplosion Brasilâ€?, que se trata de um encontro anual para o ensino de danças africanas e afro-brasileiras tradicionais e contemporâQHDV DOpP GH RÂżFLQDV GH SHUFXVVmR H FDQWR FRP GH] SURÂżVVLRQDLV QHJURV GR %UDVLO 6HQHgal, ZimbĂĄbue, Gana e GuinĂŠ, proposto pelo dançarino e coreĂłgrafo maranhense Irineu Nogueira, foi um dos 33 selecionados pelo HGLWDO PDV WHYH GLÂżFXOGDGHV TXDQWR j VXD representação. Segundo a diretora do Centro de Programas Integrados (CEPIN), da Funarte, Ana Claudia Souza, o grupo foi vetado por ser representado pela Cooperativa Paulista de Dança, cujo presidente, Sandro Borelli, ĂŠ branco. De acordo com o Edital, estĂŁo aptas a participar, na condição de pessoas fĂsicas (artistas
O fato de Irineu optar ter como proponente a Cooperativa Paulista KL +HUsH t [HTItT \TH X\LZ[qV Ă„UHUJLPYH WVPZ JVTV WLZZVH fĂsica, teria de prever no orçamento a retenção de 27,5% do Imposto de Renda, que representa R$ 41.250,00 dos R$ 150.000,00 investidos, desconto que inviabilizaria o projeto
ou produtores culturais) e pessoas jurĂdicas (instituiçþes privadas) cujo representante legal, no ato da inscrição, se autodeclare negro (preto e pardo - IBGE). Em comunicado enviado ao presidente da Funarte, Borelli diz: “Venho, por meio dessa mensagem, pedir que reavalie o Edital PrĂŞmio Funarte de Arte Negra pelos seguintes motivos: 1. NĂŁo existe branco neste paĂs; 2. A Cultura Negra do Brasil pertence ao povo brasileiro; 3. Apesar das boas intençþes da entidade, este prĂŞmio gera uma ideia separatista entre os cidadĂŁos; 4. Devemos lembrar que somos todos mestiços, a começar pela nossa presidente Dilma Rousseff, portanto, entendo que qualquer brasileiro estĂĄ apto a concorrer ao prĂŞmio; 5. Este edital se opĂľe Ă exuberante diversidade cultural do povo brasileiro. A Funarte deveria fomentar por meio da cultura a integração dos povos, mas este Edital do jeito que se apresenta mancha o histĂłrico desta entidadeâ€?. A nota tambĂŠm foi SXEOLFDGD QR SHUÂżO GH 6DQGUR QR )DFHERRN Em resposta a Borelli, Grassi disse que tomou conhecimento tardiamente da questĂŁo de inscrição do proponente Irineu. “Acho que vocĂŞ tem toda razĂŁo e a restrição se refere Ă Companhia realizadora. Vou orientar a Funarte para recebimento dos projetos. Como ĂŠ um Edital inĂŠdito, esses detalhes serĂŁo aperfeiçoados nas prĂłximas ediçþes, seguramente. Obrigado pelo alertaâ€?. Quando questionado pela Murro em Ponta de Faca sobre o assunto e ao que poderia ser revisto no Edital, Grassi defendeu que, na verdade, nĂŁo ocorreu nada a ser revisto e que a revisĂŁo ĂŠ de redação, pois o Edital, como foi elaborado em conjunto com a Secretaria da Igualdade Racial, nĂŁo deixava clara a questĂŁo das cooperativas. “NĂŁo houve recusa de projeto, jĂĄ que ele permite a inscrição como pessoa fĂsica. Apenas corrigimos o procedimento, aceitando os projetos que tinham cooperativas como representantes. AliĂĄs, foi normalizado imediatamente.
Quanto Ă s revisĂľes, todos os nossos editais, e nĂŁo exclusivamente esse, passam por reavaliação para aperfeiçoar os procedimentos. Como esse ĂŠ inĂŠdito, certamente teremos pontos a acertarâ€?, esclareceu Grassi. Embora solucionada a questĂŁo, o assunto ganhou notoriedade na mĂdia e suscitou diversas opiniĂľes nas redes sociais e em encontros realizados pela classe artĂstica. “ApĂłs a leitura de muitos comentĂĄrios gerados em torno do SROrPLFR (GLWDO HVSHFLÂżFDPHQWH SHOR IDWR GR meu projeto ‘aparentemente’ ter sido negado por ter como proponente a entidade que me representa e muitos dos meus parceiros proÂżVVLRQDLV GLJR TXH HP XP HGLWDO JHQpULFR GH dança, eu teria trĂŞs caminhos para inscrição: por meio da Cooperativa; da empresa produtora que trabalha comigo; e eu pessoa fĂsica negraâ€?, explica Irineu. O fato de ele optar ter como proponente a Cooperativa Paulista de 'DQoD p WDPEpP XPD TXHVWmR ÂżQDQFHLUD pois, como pessoa fĂsica, teria de prever no orçamento a retenção de 27,5% do Imposto de Renda, que representa R$ 41.250,00 dos R$ 150.000,00 investidos, desconto que inviabilizaria o projeto. A diferença entre ser representado pela CPD ou por seu prĂłprio &3) p VLJQLÂżFDWLYD 'RV DUWLVWDV FRRSHUDGRV ĂŠ cobrada, por projeto, uma taxa de 3,5% de encargos operacionais e sobre cada cachĂŞ (dependendo do valor, tambĂŠm hĂĄ tributação de IR) 20% sĂŁo destinados ao INSS, tributo federal obrigatĂłrio que garante ao recolhedor a possibilidade de aposentadoria na velhice. Irineu acredita que o Edital foi elaborado de forma afoita, sem consultas a especialistas e por pessoas que nĂŁo sabem como o meio artĂstico, em que o negro estĂĄ inserido, opera. “Quero deixar claro que nĂŁo sou contra um edital que favoreça a cultura negra H FRQVHTXHQWHPHQWH SURÂżVVLRQDLV QHJURV NĂŁo quero que este Edital acabe ou seja suspenso. Pelo contrĂĄrio, acho vĂĄlida a proposta SROtWLFD DÂżUPDWLYD 2 TXH HX SOHLWHDYD Mi IRL revisto pela Funarte: as condiçþes do propo-
nente para se inscrever, ou seja, que no caso de cooperativa, o que se deveria levar em conta ĂŠ o diretor do nĂşcleo artĂstico e o elenco, e nĂŁo ser inviabilizado por ter um representante legal na atual gestĂŁo, que ĂŠ brancoâ€?, diz Irineu, que atualmente mora em Londres e desenvolve um trabalho de resistĂŞncia cultural e propagação da dança afro-brasileira pelo Brasil e exterior.
Irineu acredita que o Edital foi elaborado de forma afoita, sem consultas a especialistas e por pessoas que nĂŁo sabem como o meio artĂstico, em que o negro estĂĄ inserido, opera
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A INCLUSÃO PELA EXCLUSÃO PARA JOÃO NASCIMENTO, presidente do Instituto Nação e diretor da companhia Treme Terra, que acompanhou a discussão, desde a publicação do edital até a manifestação de Sandro Borelli na internet, com carta a Antonio Grassi, “valorizar a cultura negra não é sinônimo de desprezar as outras diversas culturas que também são essenciais para a formação do nosso povo. É um granGH HTXtYRFR D¿UPDU TXH QmR H[LVWH EUDQFR em um país racista”. João defende que, enquanto o olhar estiver pautado apenas do ponto de vista da pigmentação, a utopia da democracia racial será alimentada por desejos e discursos românticos e inocentes, como uma solução de “tapar o sol com a peneira” e uma tentativa de diluir as extremidades em direção ao eixo da falsa miscigenação, com o intuito de não reconhecer a herança do pensamento escravocrata, que, infelizmente, ainda se reproduz nas práticas cotidianas das relações. “Enquanto a arte negra continuar sendo lembrada só no dia 20 de Novembro, isso quando lembrada, a contemporaneidade brasileira cultural continuará sendo fomentada por valores eurocêntricos, que não reconhecem o desenvolvimento da arte do ponto de vista africano, que contribuiu GH IRUPD VLJQL¿FDWLYD SDUD D IRUPDomR GD cultura brasileira”, completa João, que também coordena o projeto Afrobase, é integrante do AFRO2, do Quinteto Abanã e do Frente 3 de Fevereiro, um grupo transdisciplinar de pesquisa e ação direta acerca do racismo na sociedade brasileira. A bailarina Amanda Santos, membro do FRQVHOKR ¿VFDO GD &RRSHUDWLYD 3DXOLVWD GH Dança, que também opinou na discussão criada no Facebook – atente-se aqui, gerou mais de uma centena de comentários entre artistas que discordavam e concordavam com o posicionamento de Sandro –, subli-
nha o fato de se tratar de uma Cooperativa Paulista de Dança, e não de uma Cooperativa de Dança do Movimento Branco, nem do Movimento Negro, nem do Movimento Indígena, tampouco do Movimento dos Orientais ou de qualquer outra etnia. E que o fato de o presidente ser branco, não é motivo aceitável como impedimento para o grupo. “Todos nós sabemos sobre a formação histórica da população brasileira e por termos essa informação, sabemos que muito raro se pode dizer sobre um brasileiro, que é branco ou negro. Somos mestiços, mulatos, mamelucos. Soa um pouco romântico uma luta pela causa negra de forma separatista”, diz. Ela também salienta uma questão importante, a de que, historicamente, no Brasil, nem todos os artistas especializados em cultura negra têm a pele preta. “Apoio que HVVHV SUR¿VVLRQDLV FRQWLQXHP D VHUHP HVFRlhidos por suas capacidades, atuações e não por suas ascendências. Não entendo como apoiar um Edital que mais do que agregar, segrega e nos põe reféns de um sistema político. É triste perceber que, mais uma vez, os movimentos culturais perdem tempo se digladiando, em lugar de focarem a luta para DOJR TXH p GHPDVLDGDPHQWH XUJHQWH UHÀHWLUmos sobre o momento histórico da luta artística”, completa Amanda. Para Ana Catarina, bailarina e diretora da Companhia Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira, é preciso uma política cultural de inclusão, não a de inclusão pela exclusão. “Pontos positivos que deveriam ser levados em consideração são tidos como negativos e pontos negativos são acentuados. Grupos que têm a continuidade e a pesquisa como foco entraram para o grupo dos excluídos. Continuidade virou um problema. Temos de lutar pelo direito de todos os interessados em se expressar através da arte. Não podemos nunca esquecer de olhar para a luta do
outro e principalmente quando não conhecemos determinadas lutas”, diz. “Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na QLQJXHQGDGH $VVLP IRL DWp VH GH¿QLU FRPR uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros”, Darcy Ribeiro.
João defende que, enquanto o olhar estiver pautado apenas do ponto de vista da pigmentação, a utopia da democracia racial será alimentada por desejos e discursos românticos e inocentes
“Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por ZtJ\SVZ ZLT JVUZJPvUJPH KL ZP HM\UKHKH UH UPUN\LUKHKL (ZZPT MVP H[t ZL KLÄUPY JVTV uma nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros” Darcy Ribeiro
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A POLĂ?TICA DO EDITAL PARA A PESQUISADORA LĂşcia Matos, coordenadora do Programa de PĂłs-Graduação de Dança da Universidade Federal da Bahia e ex-diretora de Dança da Fundação Cultural do mesmo estado, o que aconteceu com o projeto de Irineu nĂŁo pode ser tratado como “um detalhe a ser corrigidoâ€?, como declarou o presidente da Funarte. Para ela, ĂŠ um equĂvoco o governo vetar a inscrição baseada na autodeclaração da cor de uma SHVVRD DOpP GH VLJQLÂżFDU XP DWR GLVFULPLnatĂłrio diante de um Estado de Direito democrĂĄtico, em que a igualdade de direitos ĂŠ garantida pela Constituição. Sobre a proliferação de editais, LĂşcia questiona um em especial, lançado recenWHPHQWH YROWDGR D DUWLVWDV FRP GHÂżFLrQFLD “para se inscrever era necessĂĄrio apresentar um atestado mĂŠdico comprovando que a pesVRD SRVVXtD GHÂżFLrQFLD ÂżFDQGR HP VHJXQGR plano sua produção artĂstica e sua proposição a ser executadaâ€?. Para a pesquisadora, a falta de acompanhamento das açþes e do resultado do trabalho empreendido pelo artista “revela mais um ato de complacĂŞncia do Estado do que um real fomento Ă produção dos artistas FRP GHÂżFLrQFLD´ 7RGD D SROrPLFD UHĂ€HWH XP GRV JUDQGHV problemas enfrentados no campo das polĂticas culturais, especialmente no que se refere Ă dança. Segundo LĂşcia, desde que foram deĂ€DJUDGDV Do}HV SDUD D LQVWDXUDomR GR 6LVWHPD Nacional de Cultura, ainda nĂŁo hĂĄ, nos Planos de Ação do MinC, Funarte e das Secretarias de Cultura, programas voltados Ă Dança e para as demais ĂĄreas, com açþes previstas para curto, mĂŠdio e longo prazos, e que busquem apresentar diferentes estratĂŠgias para o desenvolvimento da ĂĄrea. “O Plano Setorial da Dança - PSD, construĂdo pelo Colegiado de Dança, com ampla discussĂŁo com a classe, desde 2010, estĂĄ disponĂvel para consulta pĂşblica, mas nĂŁo gerou atĂŠ hoje no prĂłprio Go-
verno Federal, que promoveu a participação da classe na sua elaboração, uma mobilização para a criação de programas e polĂticas mais efetivas, que saiam da pontualidade dos editais e visem a um amplo desenvolvimento da Dançaâ€?, explica. O pensamento de LĂşcia vai mais longe e ela pondera que a polĂtica de editais nĂŁo pode ser considerada um caminho legĂtimo: “Um dos grandes problemas atuais ĂŠ que trocamos a ausĂŞncia de polĂticas para a ĂĄrea da Dança dos anos 1990 por açþes pontuais baseadas prioritariamente na distribuição de verbas, via o que equivocadamente se chama de polĂtica de editaisâ€?. A pesquisadora tambĂŠm reconhece alguns avanços, principalmente depois de 2000, quando as pessoas passaram a se enxergar e a se colocar mais como classe artĂstica, como grupos e companhias, do que em suas individualidades, mas avalia que as polĂticas culturais no Brasil ainda permanecem regidas por uma IRUWH LQĂ€XrQFLD GD SROtWLFD QHROLEHUDO FHQtrada preponderante no desenvolvimento HFRQ{PLFR FRP IRFR QR ÂżQDQFLDPHQWR S~blico da cultura e das leis de incentivo. “Faz-se necessĂĄrio compreender que as polĂticas S~EOLFDV SDUD D 'DQoD YmR DOpP GR ÂżQDQFLDmento da cultura e dos editais, e necessitam de programas e açþes estruturantes focadas nos seus diversos modos organizativos e produtivos e nas relaçþes que sĂŁo estabelecidas com a sociedadeâ€?. EntĂŁo, aqui chegamos Ă sĂntese (no ĂĄpice, talvez?) da polĂtica que se pratica atualmente no Brasil, no que se refere Ă cultura de modo geral e, em particular, Ă dança: a polĂtica dos editais. LĂşcia Matos arremata a TXHVWmR TXDQGR QRV GL] Âł2 DFHVVR DR ÂżQDQciamento e todas as possibilidades de acesso aos recursos ĂŠ uma das linhas de ação das polĂticas culturais, mas nĂŁo pode ser colocada como a Ăşnicaâ€?.
“Um dos grandes problemas atuais ĂŠ que trocamos a ausĂŞncia de polĂticas para a ĂĄrea da Dança dos anos 1990 por açþes pontuais baseadas prioritariamente na distribuição de verbas, via o que equivocadamente se chama de polĂtica de editaisâ€?
( IHPSHYPUH :HTPYH 4HYHUH X\L t Ă„SOH KL TqL ULNYH L WHP branco, faz aulas de balĂŠ clĂĄssico e considera o legado europeu importantĂssimo para sua formação, nĂŁo concorda com cota em nenhuma instância, inclusive neste Edital em que estĂĄ inscrita como “pardaâ€?; ela que tem “brancaâ€? cravada na certidĂŁo de nascimento
A MISCIGENAĂ‡ĂƒO 2 GLSORPDWD HVFULWRU H ÂżOyVRIR IUDQFrV Joseph Arthur de Gobineau (1816-1882) ĂŠ autor de um dos primeiros trabalhos publicados no sĂŠculo XIX sobre o racismo e a eugenia [estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras geraçþes, seja fĂsica ou mentalmente]. Em seu “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanasâ€?, sustenta a teoria de que o destino das civilizaçþes ĂŠ determinado pela composição racial, em que os brancos avançavam desde que estivessem livres dos pretos e amarelos, e que quanto mais o carĂĄter racial de uma civilização se dilui por meio da miscigenação, mais provĂĄvel se torna que ela perca a vitalidade e a criatividade, e mergulhe na corrupção e na imoralidade. Em 1876, em missĂŁo diplomĂĄtica no Rio de Janeiro, enviado por NapoleĂŁo III, ao se deparar com uma sociedade brasileira em maioria negra, considerou que o paĂs nĂŁo tinha futuro, por julgar a raça inferior. Iniciava-se aĂ um processo de “embranquecimentoâ€? com o incentivo da imigração europeia. Para Sidney Santiago Kuanza, membro fundador da Companhia de Teatro e Intervenção Urbana Os Crespos e da Rede Kultafro, a criação de editais para proponentes negros ĂŠ um ato legĂtimo e reparatĂłrio do Estado brasileiro e se torna uma ferramenta necessĂĄria para que o acesso de artistas negros no cenĂĄrio cultural, de fato, aconteça; alĂŠm do acesso Ă verba pĂşblica. “Historicamente, os negros vivem uma relação extremamente contraditĂłria no campo da cultura em nosso paĂs. De um lado, temos uma identidade nacional focada em sĂmbolos como o samba, a mulata, o futebol e a capoeira. Do outro, temos os negros completamente apartados do sistema cultural: nĂŁo estĂŁo na cena, na plateia e continuam sendo retratados nas diversas dramaturgias de formas incomple-
tas e animalescas. A produção cultural brasileira continua sendo um espaço segregacionista e age como um braço que perpetua a exclusĂŁoâ€?, diz. Sidney defende que a Funarte deveria entender a responsabilidade histĂłrica deste momento e criar um edital com regras e critĂŠrios mais evidentes, com treinamento TXDOLÂżFDGR SDUD TXH RV IXQFLRQiULRV SRVVDP ter condiçþes de informar os interessados e sanar problemas, ao invĂŠs de cometer equĂvocos que colaboram para a criação de polĂŞmicas sem fundamentos e que “sĂł servem para atravancar processos e corroborar com o atraso do paĂs, incitando ainda a fĂşria gratuita de racistas de plantĂŁoâ€?, diz. $ EDLODULQD 6DPLUD 0DUDQD TXH p ÂżOKD de mĂŁe negra e pai branco, faz aulas de balĂŠ clĂĄssico e considera o legado europeu importantĂssimo para sua formação, nĂŁo concorda com cota em nenhuma instância, inclusive neste Edital em que estĂĄ inscrita como “pardaâ€?; ela que tem “brancaâ€? cravada na certidĂŁo de nascimento. Para Samira, o termo “vocĂŞs brancosâ€? ĂŠ completamente racista e anacrĂ´nico, pois a pureza de raças no Brasil deixou de existir por sĂŠculos. “ResistĂŞncia cultural ĂŠ um movimento que deve ser feito por brasileiros de qualquer cor. O movimento musical originalmente ‘negro’, o samba, foi muito bem representado por ‘brancos’, como Noel Rosa e Ary Barrosoâ€?, relembra.
A SUSPENSĂƒO DOS EDITAIS Enquanto em SĂŁo Paulo a discussĂŁo acerFD GRV HGLWDLV VH LQWHQVLÂżFDYD HVSHFLDOPHQWH pelo imbrĂłglio no projeto de dança de Irineu Nogueira, no MaranhĂŁo, uma ação popular era movida contra a Advocacia Geral da UniĂŁo, a Funarte e demais ĂłrgĂŁos, pelo advogado Pedro Leonel Pinto de Carvalho sob o fundamento de que estes criaram um edital
de exclusividade Ă etnia negra. Em decisĂŁo do Juiz JosĂŠ Carlos do Vale Madeira, da 5a Vara da Seção JudiciĂĄria do MaranhĂŁo, todos os editais foram suspensos no Ăşltimo dia 14 de maio. O Juiz acredita que os concursos desTXDOLÂżFDP D UHSUHVHQWDWLYLGDGH GDV GHPDLV etnias e ignoram o denso mosaico ĂŠtnico-cultural que marca a sociedade brasileira, alĂŠm de comprometerem os princĂpios da razoabilidade e da moralidade administrativa. “Esses editais acabam afastando as demais etnias e envolvem valores vultosos. Quer dizer, ĂŠ um concurso voltado com exclusividade para negros. EntĂŁo, isso nĂŁo ĂŠ proteger a etnia negra, isso ĂŠ na verdade isolĂĄ-la, segregĂĄ-la, deixĂĄ-la compartimentalizadaâ€?. Leia entrevista exclusiva com o juiz na pĂĄgina 22. Em entrevista Ă Murro em Ponta de Faca, dois dias antes da notĂcia de suspensĂŁo dos editais, a ministra Marta Suplicy defende que “quem faz edital para negro nĂŁo tem preconceito nenhum. Pelo contrĂĄrio, acho que tem de haver uma possibilidade maior de criadores e produtores. NĂŁo como alguns pensaram que ‘tem de ter a temĂĄtica negra’. NĂŁo se trata disso, se trata do criador negro fazer o que ele bem entender, porque nĂŁo tem possibilidade de captar pela [Lei] Rouanet. EntĂŁo, a partir dessa constatação, foi feito dessa formaâ€?. A ministra, que assumiu o cargo em setembro de 2012, tem os editais de fomento Ă cultura negra como principal novidade de sua gestĂŁo. “Quando se faz um edital para negros, pode vir alguĂŠm e falar: ‘mas todo mundo no Brasil pode ter um DNA negro’. Sim, mas e daĂ? Tem que se autodeclarar. É como cota. Vou pedir DNA? A questĂŁo ĂŠ se autodeclarar. Inclusive isso foi discutido e ĂŠ implĂcito. NĂŁo precisa parecer negro para ser, mas se falou que ĂŠ negro, assume a responsabilidadeâ€?, diz.
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PRETO, NEGRO DESDE 1872, o Instituto Brasileiro de GeoJUDÂżD H (VWDWtVWLFD ,%*( XVD ÂłSUHWR´ FRPR FODVVLÂżFDomR GH FRU RX UDoD QDV SHVTXLVDV GH FHQVR GHPRJUiÂżFR QD IRUPD GH TXDWUR RSçþes de resposta: branco, preto, pardo e caboclo. Realizaram-se em 2002 e 2003 trĂŞs reuniĂľes ampliadas na Diretoria de Pesquisas e quatro seminĂĄrios nas Unidades Estaduais do IBGE de Salvador, Rio de Janeiro e SĂŁo Paulo, com participação de mais de 50 pessoas, representando 15 organizaçþes do movimento negro, 12 instituiçþes de pesquisa, organizaçþes nĂŁo governamentais que trabalham com questĂľes relativas Ă s naçþes indĂgenas e secretarias estaduais, alĂŠm de pesquisadores e tĂŠcnicos do prĂłprio IBGE. É importante destacar que os trĂŞs estados onde foram realizados seminĂĄrios comportam quase a metade dos pouco mais de 10 milhĂľes de pessoas que se declararam de cor ou raça preta no paĂs e dos 66 milhĂľes que se declararam de cor ou raça parda, segundo os dados do Censo 2000. “Conhecer a histĂłria e a cultura ĂŠ fundamental, por isso esses editais sĂŁo importantes, porque colocam em cena esses setores que nunca tiveram essa oportunidade. Essa suspensĂŁo anunciada por uma avaliação de um juiz que nĂŁo concorda com esse encaminhamento ĂŠ mais uma reação conservadora que tem de ser cortada e negadaâ€?, diz Matilde Ribeiro, subsecretĂĄria adjunta da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do MunicĂpio de SĂŁo Paulo. Matilde, assim como a ministra, defende que criar editais para a produção cultural dos afrodescendentes ĂŠ uma promoção da igualdade. “Se nĂłs quisermos ter um paĂs que seja cada vez mais forte e de cidadĂŁos que querem que o Brasil dĂŞ certo, ĂŠ necessĂĄrio que possamos recuperar a nossa capacidade crĂtica e, com isso, reconhecer que os negros nĂŁo tiveram as mesmas oportunidades que outros grupos raciaisâ€?, diz. Ela que tambĂŠm jĂĄ esteve no posto de ministra da Secretaria Especial de PolĂticas de Promoção da Igualdade Racial, de 2003 a 2008, durante o governo Lula, rememora
que as polĂticas pĂşblicas voltadas Ă população negra sĂŁo muito recentes no Brasil, cerca de 30 anos. E, embora tardias, considerando que a luta para sua existĂŞncia sempre foi colocada em cena pelos negros e sempre foram rechaçadas pelos setores que detĂŞm o poder, o edital estĂĄ contextualizado num avanço e caracteriza conquistas dessas dĂŠcadas. “NĂłs VDEHPRV TXH p SUHFLVR WHU Do}HV DÂżUPDWLYDV em vĂĄrias ĂĄreas, mas, sobretudo, tambĂŠm no sentido de os negros ocuparem um espaço de poder, porque quem faz as leis e realiza as polĂticas pĂşblicas sĂŁo as pessoas em quem votamos e nĂłs tambĂŠm precisamos ter negros nesses debates, por isso, por meio da polĂtica pĂşblica, podemos contribuir para a mudança de postura mais positivaâ€?, diz. Em encontro com o SecretĂĄrio Municipal de Cultura de SĂŁo Paulo, Juca Ferreira, no evento “Existe DiĂĄlogo em SPâ€?, programa da Secretaria destinado Ă construção colaboratiYD GH SROtWLFDV S~EOLFDV HOH DÂżUPRX TXH p IXQGDPHQWDO TXH WHQKDP SROtWLFDV DÂżUPDWLYDV QD ĂĄrea da cultura para garantir, apoiar, fomentar e valorizar a produção cultural de origem africana. “A contribuição dos africanos, que vieram escravizados, e de seus descendentes, ĂŠ parte estratĂŠgica da nossa identidade e do nosso patrimĂ´nio cultural. E, por força das desigualdades sociais, atĂŠ hoje, a valorização desse patrimĂ´nio ainda nĂŁo ĂŠ no nĂvel que necessita ser, ou seja, em pĂŠ de igualdade com as outras produçþes culturais de outras matrizesâ€?, diz. O SecretĂĄrio, que tambĂŠm foi Ministro da Cultura entre 2008 e 2010, diz ser um equĂvoco proibir os editais, porque demonstra uma incompreensĂŁo da importância das SROtWLFDV DÂżUPDWLYDV D FRQVWUXLU XP %UDVLO GH iguais, onde todos tenham direitos e oportunidades semelhantes. E que quanto mais se GLYHUVLÂżFD D SROtWLFD FXOWXUDO PDLV FKHJDPRV perto de uma polĂtica que, de fato, una todos os brasileiros. Na anĂĄlise do Procurador do MinistĂŠrio PĂşblico Federal, Sergio Suiama, responsĂĄvel pelo Grupo de Combate aos Crimes CibernĂŠ-
WLFRV FRP IRFR QD SRUQRJUDÂżD LQIDQWLO QR UDcismo e nos crimes de Ăłdio, e para o americano Kendall Thomas, que possui estudos nas ĂĄreas de Direito Constitucional e Humanos, Teoria Feminista do Direito e Teoria CrĂtica Racial pela Universidade de Columbia, de Nova Iorque, no plano da cultura, a democracia racial brasileira tem sido associada na esteira do pensamento de Gilberto Freyre (1900-1987) - Ă valorização do hibridismo, GD FRPSOH[LGDGH H GD DPELYDOrQFLD GD ÂżJXUD do mulato. Para eles, o elogio da mestiçagem, contudo, nĂŁo ĂŠ incompatĂvel com o reconhecimento da existĂŞncia social de identidades raciais e da evidente contribuição dos negros para a formação da cultura nacional. NĂŁo hĂĄ QHQKXPD LQFRPSDWLELOLGDGH HP DOJXpP DÂżUmar-se simultaneamente brasileiro e negro (ou branco ou indĂgena), jĂĄ que a identidade nacional nĂŁo ĂŠ formada pela negação do pluUDOLVPR pWQLFR UDFLDO FRQÂżJXUDGRU GH QRVVD VRFLHGDGH PDV VLP SRU VXD DÂżUPDomR H YDlorização. “Acreditamos, desse modo, que a base para uma democracia racial ĂŠ o pluralismo, e nĂŁo o ‘assimilacionismo’ [corrente que preconiza a possibilidade de assimilação das culturas perifĂŠricas pela cultura dominante] FXOWXUDO´ DÂżUPDP Suiama e Thomas apontam ainda outro aspecto. “O alto grau de miscigenação da popuODomR FRQWULEXL D QRVVR YHU SDUD D UHGHÂżQLomR da desigualdade racial menos em termos biolĂłgicos e mais em termos do reconhecimento de que os negros ocupam posiçþes subalternas na estrutura socialâ€?. Ambos concordam com o SURIHVVRU -RHO 5XÂżQR GRV 6DQWRV SDUD TXHP o negro ĂŠ antes um lugar social, instituĂdo por diversas coordenadas, dentre as quais a cor da pele, a ancestralidade africana, a pobreza, a cultura compartilhada, a atribuição da identidade negra pelo outro, a assunção dessa identidade pela prĂłpria pessoa. Tal perspectiva representa uma importante contribuição para a teoria crĂtica racial contemporânea e, para eles, ĂŠ importante dar o devido destaque: a raça nĂŁo ĂŠ um elemen-
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POR COMPACTUA RMOS COM UM M UNDO QUE SEJA LIVRE DE TO DO E QUALQUER PR ECONCEITO, A CIA CARNE AG ONIZANTE VEM A PĂšBLICO INFORMAR A TODE S QUE AS IMAGEN S CONTIDAS NA CAPA E NO IN TERIOR DESTA PU BLICAĂ‡ĂƒO NĂƒO CONDIZEM COM O PENSAMENTO DO S INTEGRANTES DO GRUPO E DOS RE SP ON SĂ VEIS PELA REVISTA MUR RO EM PONTA DE FACA. PORTANTO, FORA M RETIRADAS.
to inscrito na ordem natural das coisas, mas XPD SRVLomR VRFLDO GHÂżQLGRUD GH SULYLOpJLRV H VXERUGLQDo}HV Âł$ DXWRLGHQWLÂżFDomR p XP GRV indicadores desse lugar social; porĂŠm, como acontece em outros casos, a situação de subordinação ou discriminação independe da LGHQWLÂżFDomR FRP R JUXSR GLVFULPLQDGR SRU parte de quem a enfrenta. Uma pessoa parda pode estar submetida a uma situação de deVLJXDOGDGH UDFLDO PHVPR VH DXWRLGHQWLÂżFDQGR como brancaâ€?, explicam. E concluem que, em termos de polĂticas S~EOLFDV LPSRUWD PDLV HVSHFLÂżFDU DV FRRUdenadas que colocam o candidato num pro-
JUDPD GH DomR D¿UPDWLYD HP SRVLomR GH GHsigualdade social, reconhecendo os padrþes HVWUXWXUDLV HVSHFt¿FRV GH LQVHUomR VXERUGLnada dos negros na sociedade brasileira, do que enveredar em discussþes sobre quantas e quais identidades raciais devem ser recoQKHFLGDV SDUD ¿QV GH LQFOXVmR HP SURJUDPDV dessa natureza. No livro Mitologia dos Orixås, de Reginaldo Prandi, hå uma passagem que diz que dois camponeses deixaram de louvar Exu, o orixå mensageiro, aquele que estabelece a comunicação entre homens e deuses. Ele, que tanto havia dado chuva, terra e bom plantio,
decidiu se vingar, passando disfarçado por eles com um bonĂŠ, de um lado branco e do outro vermelho. O que desencadeou entre os homens uma discussĂŁo: um deles defendia piamente que a cor do bonĂŠ era branca, enquanto o outro, vermelha. Branco, vermelho. Vermelho, branco. Branco, vermelho. Como nĂŁo havia consenso, os camponeses travaram ali uma briga a golpes de inchada atĂŠ a morte. Exu, tambĂŠm chamado de “tricksterâ€?, o pregador de peças, o dotado de ginga e improviso, estava entĂŁo vingado. A metĂĄfora, DTXL DMXGD D UHĂ€HWLU VREUH VH WUDWDU GH XP povo, nĂŁo uma cor.
ENTREVISTA/ MURRO#07
COM/ JUIZ JOSÉ CARLOS DO VALE MADEIRA
UM MUNDO QUE POR COMPACTUARMOS COM UER PRECONCEITO, SEJA LIVRE DE TODO E QUALQ A PÚBLICO A CIA CARNE AGONIZANTE VEM GENS CONTIDAS INFORMAR A TODES QUE AS IMA PUBLICAÇÃO NÃO NA CAPA E NO INTERIOR DESTA O DOS CONDIZEM COM O PENSAMENT S RESPONSÁVEIS INTEGRANTES DO GRUPO E DO NTA DE FACA. PELA REVISTA MURRO EM PO . PORTANTO, FORAM RETIRADAS
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ESTADO DE DIREITO X AÇÕES AFIRMATIVAS De um lado, editais lançados em 20 de novembro de 2012 pelo MinistÊrio da Cultura, gestão de Marta Suplicy, com o propósito de fomentar e facilitar o acesso e a produção de negros nas artes. Do outro, um cidadão comum, move uma ação contra a União, a Funarte e demais órgãos sob o fundamento de exclusividade à etnia negra e que, por decisão do Juiz JosÊ Carlos do Vale Madeira, da 5ª Vara da Seção Judiciåria do Maranhão, resulta na suspensão dos editais. Inclusão? Exclusividade? Racismo? Quem responde Ê o próprio juiz, em entrevista exclusiva à Murro em Ponta de Faca.
MURRO - Por que suspender os editais de incentivo Ă cultura negra? JUIZ JOSÉ CARLOS - Por tratar com exclusividade a etnia negra ĂŠ que me pareceu acintoso ao princĂpio da isonomia e da razoabilidade. Repugna o senso comum que num concurso dessa envergadura, com recurso pĂşblico do Estado Brasileiro para fomentar a cultura se possa isolar as demais etnias. Isso nĂŁo existe e acaba estimulando um confronto entre as diversas etnias. NĂłs temos ĂŠ que primar pela unidade brasileira para evitar esses embates. No entanto, registrei na decisĂŁo que esses editais nĂŁo estavam ajustados Ă quilo que se denomina juridicamente de Do}HV DÂżUPDWLYDV RX VHMD HOH QmR HVWDEHOHFH sequer um parâmetro de cota. Se o concurso tivesse estabelecido um limite de cota para negros, um limite de cota para brancos ou algo equivalente, como jĂĄ ocorre com os concursos de vestibular e pĂşblicos, nĂŁo haveria qualquer contratempo. MURRO - De quem parte a decisĂŁo de suspender o edital? JOSÉ CARLOS - Essa ação nĂŁo foi promovida pelo MinistĂŠrio PĂşblico Federal, nĂŁo foi promovida por nenhuma associação. Foi promovida por um cidadĂŁo comum, um advogado aqui do MaranhĂŁo chamado Pedro Leonel Pinto de Carvalho, que moveu a ação contra a UniĂŁo, contra a Funarte e demais ĂłrgĂŁos com o propĂłsito de suspender esses concursos do MinistĂŠrio da Cultura, sob o fundamento de comprometer o princĂpio
da isonomia, na medida em que os concursos conteriam clĂĄusulas que estabeleçam e/ ou estabelecem exclusividade para a participação de negros. EntĂŁo, diante disso, lancei uma decisĂŁo reconhecendo que esses editais ofenderiam o princĂpio da isonomia, porque nĂŁo possibilitavam a participação de outras etnias e entendi que havia um comprometimento do princĂpio da razoabilidade, porque a sociedade brasileira ĂŠ uma sociedade plural e multifacetada e que precisa ser representada em todas as suas vertentes. MURRO - O que vocĂŞ considera grave no edital, a ponto de suspendĂŞ-lo? JOSÉ CARLOS - O problema dos editais ĂŠ o carĂĄter de exclusividade. Na minha decisĂŁo de dez laudas hĂĄ uma passagem que digo: embora o Estado tenha o dever de fomentar medidas administrativas com feição polĂtiFR DÂżUPDWLYD RIHUHFHQGR WUDWDPHQWR SUHferencial a grupos historicamente discriminados na sociedade brasileira – quais sejam negros, Ăndios e pobres – nĂŁo se pode olvidar que essas medidas que se inserem praticaPHQWH QR FRQFHLWR PRGHUQR GH DomR DÂżUPDtiva nĂŁo podem se sobrepor aos parâmetros ĂŠticos do direito sob pena de subversĂŁo aos princĂpios da isonomia, da razoabilidade e da moralidade administrativa. MURRO - EntĂŁo, o problema ĂŠ por ser exclusivo, e nĂŁo preferencial? JOSÉ CARLOS - Eu cito uma posição doutrinĂĄria do professor Joaquim Barbosa, Mi
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“O que a Ministra sustenta ĂŠ isso: que esse concurso foi voltado para fortalecer a cultura negra. E eu penso que isso nĂŁo ĂŠ algo razoĂĄvel. E amanhĂŁ se pode instituir um concurso somente para a etnia branca ou somente Ăndios ou outra qualquer? Eu acho que isso acabaria criando esses chamados guetos culturaisâ€?
nistro do Supremo Tribunal Federal, que defende a questão da chamada discrimiQDomR D¿UPDWLYD RX VHMD D FKDPDGD DomR D¿UPDWLYD HP GDU WUDWDPHQWR SUHIHUHQFLDO D um grupo historicamente discriminado para inseri-lo na sociedade. É diferente de dar um tratamento exclusivo. Então eu digo que esse tratamento preferencial não pode servir de pretexto para estruturação estatal de guetos culturais, que provoquem por intermÊdio de açþes com timbre da exclusividade o isolamento de negros, colocando-os em compartimentos segregacionistas. Ou seja, que não possam ser compartilhados por outras etnias. E o que eu entendi Ê que esse concurso isola aquela etnia, somente os negros podem participar e não possibilitam uma interação das diversas etnias que compþem esse intenso mosaico Êtnico cultural da sociedade brasileira. MURRO - E o que poderia ser revisto? JOSÉ CARLOS - Se o concurso estabelecesse cota limite para todos participarem, ainda que expressiva, 50%, para os negros FRP XPD DomR D¿UPDWLYD SDUD SRVVLELOLWDU a inserção do negro no mercado das artes, penso que não haveria nenhum problema. MURRO - Quando a decisão de suspensão foi tomada? JOSÉ CARLOS - Eu decidi isso no dia 14 de maio, mas a ação teve um percurso de dois meses, pelo menos. Porque quando foi ajuizada a ação, se ouviu a União, a Funarte e o MinistÊrio da Cultura, para que eles se manifestassem sobre esse pedido. Eu ouvi a todos e eles se manifestaram no processo, mandaram diversos documentos, recebi os advogados da União, um representante do MinistÊrio da Cultura no meu gabinete, que vieram me expor o sentimento deles acerca do tema. E eu examinei a questão com extrema sensibilidade e lancei essa decisão com
esse convencimento, mas foi assegurada a oportunidade de ampla defesa. MURRO - E em relação ao pronunciamento da Ministra Marta Suplicy, dizendo ser uma decisĂŁo “racistaâ€?? JOSÉ CARLOS - Ela diz que a minha posição tem um viĂŠs racista e eu nĂŁo vejo a decisĂŁo como sendo racista. Pelo contrĂĄrio, ĂŠ uma decisĂŁo que se harmoniza com o princĂpio da isonomia, que nĂŁo se contrapĂľe ao sistema de cotas. Se ela tivesse instituĂdo o sistema de cotas, evidentemente que a discussĂŁo seria outra, mas nĂŁo hĂĄ cotas nesse concurso, hĂĄ exclusividade. Ela disse que a decisĂŁo ia na contramĂŁo da decisĂŁo do Supremo Tribunal Federal, que jĂĄ reconheceu as cotas, e eu tambĂŠm reconheço as cotas. JĂĄ julguei dezenas de casos no MaranhĂŁo assegurando o direito de cotas nas Universidades e tenho essa concepomR GH TXH p IXQGDPHQWDO D DomR DÂżUPDWLYD para possibilitar a acessĂŁo dessas classes soFLDLV TXH ÂżFDUDP KLVWRULFDPHQWH PDUJLQDOL]Ddas na sociedade brasileira. MURRO - Qual foi o posicionamento do MinistĂŠrio e demais ĂłrgĂŁos quando comunicados da ação? JOSÉ CARLOS - Representantes do MinistĂŠrio estiveram aqui, eles mandaram as cĂłSLDV GRV HGLWDLV Âż]HUDP XPD GHIHVD YHHPHQte, e o que eles sustentam basicamente ĂŠ isso. Ou melhor, o que a Ministra sustenta ĂŠ isso: que esse concurso foi voltado para fortalecer a cultura negra. E eu penso que isso nĂŁo ĂŠ algo razoĂĄvel. E amanhĂŁ se pode instituir um concurso somente para a etnia branca ou somente Ăndios ou outra qualquer? Eu acho que isso acabaria criando esses chamados guetos culturais – um concurso de negro, outro de branco, outro de descendentes asiĂĄtiFRV Âą HQÂżP DFKR TXH DFDED FRPSURPHWHQGR a pluralidade.
MURRO - O que ĂŠ ser branco no Brasil? JOSÉ CARLOS - A questĂŁo nĂŁo se coloca tĂŁo somente no plano ĂŠtnico propriamente dito. O branco, na visĂŁo que se tem, ĂŠ o aquele que dominou essa sociedade por longos anos e que conquistou os melhores espaços, as ilhas de poder existentes no paĂs. É preciso dar oportunidade, dar voz Ă s demais etnias, e jĂĄ se abriu muito a essa possibilidade. O Estado deve fomentar medidas polĂtico-administrativas para que isso ocorra, mas sem criar uma linha de confronto entre as diversas etnias. Os negros, as mulheres, os Ăndios podem e devem buscar posiçþes melhores na sociedade e isso pode ser feito com sistema de cotas. MURRO - $ FULDomR GH FRWDV p VXÂżFLHQWH para incluir as demais etnias? JOSÉ CARLOS - Eu sou plenamente favorĂĄvel, atĂŠ por convicção ideolĂłgica mesmo, a esse sistema de cotas, porque acho que possibilita o essencial, que ĂŠ dar um tratamento preferencial a um grupo historicamente discriminado. NĂŁo ĂŠ possĂvel dar um tratamento exclusivo. É essa subtileza daquilo que ĂŠ preferencial e daquilo que ĂŠ exclusivo, e que precisa ser mais bem avaliado pela Ministra. Ela estĂĄ trabalhando com uma premissa equivocada, a meu ver, de que ĂŠ uma decisĂŁo racista e ela, de certo modo, me ofende, de uma maneira acintosa, porque nĂŁo tenho nenhuma postura racista e a questĂŁo ĂŠ de ordem tĂŠcnico-jurĂdica, em respeito Ă constituição da RepĂşblica do paĂs. É criar mecanismos para que todos possam participar dentro de um Estado democrĂĄtico, que pretende ser democrĂĄtico, e de uma perceptiva da isonomia, assegurar a todos iguais direitos, dando tratamento preferencial Ă queles TXH GXUDQWH VpFXORV ÂżFDUDP j PDUJHP GD sociedade pela prĂłpria dinâmica do poder e dominação da sociedade brasileira.
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POR COMPACTUA RMOS COM UM M UNDO QUE SEJA LIVRE DE TO DO E QUALQUER PR ECONCEITO, A CIA CARNE AG ONIZANTE VEM A PÚBLICO INFORMAR A TODE S QUE AS IMAGEN S CONTIDAS NA CAPA E NO IN TERIOR DESTA PU BLICAÇÃO NÃO CONDIZEM COM O PENSAMENTO DO S INTEGRANTES DO GRUPO E DOS RE SP ON SÁ VEIS PELA REVISTA MUR RO EM PONTA DE FACA. PORTANTO, FORA M RETIRADAS.
DIAFRAGMA/ MURRO#07
POR/ GAL OPPIDO
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GRAMĂ TICA GESTUAL
PERIMETRAR em indivĂduos, ou grupos seletos, o poder do discurso sobre o universo cultural que resultou da complexa mesclagem ĂŠtnica dentro das fronteiras brasileiras, ĂŠ tarefa que tangencia a soberba e o turvo. Podemos observar que nossos corpos, frutos da gramĂĄtica gestual do Ăndio/africano/ europeu/asiĂĄtico, sĂŁo particularmente isentos
de uma anĂĄlise nĂtida, dada a tamanha diversidade contida em suas estruturas genĂŠticas. O pensar sobre uma cultura nĂŁo pode ser SULYLOpJLR SRLV VHULD FHQVXUD j UHĂ€H[mR VREUH a aventura humana, que ĂŠ de todos. As artes do corpo oriundas de ritos de fecundação, sacrifĂcios, celebraçþes, combates e outras manifestaçþes sĂŁo patrimĂ´nio mundial.
Para o ensaio, que alinhava o tema desta edição, colaborou com Roberto de Alencar a performer Lidia Lisboa, e para o ensaio a seguir, Paula Miessa, coreĂłgrafa e bailarina, atualmente integrante do BalĂŠ da Cidade, descendente de Ăndios, espanhĂłis, italianos e... de humanos, que tem os cĂłdigos da formação dita clĂĄssica, samba no pĂŠ e rosto de uma nativa de TĂłquio.
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DIAFRAGMA/ MURRO#07
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DIAFRAGMA/ MURRO#07
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OUTRA MARGEM/ MURRO#07
POR/ HÉLVIO TAMOIO
TERRA DADA NÃO SE ABRE A BOCA?
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A categoria repudia o velho balcĂŁo de trocas que, ainda, permeia as relaçþes polĂticas na maioria dos estados brasileiros. 5V LU[HU[V V JV[PKPHUV [LT TVZ[YHKV X\L \TH WHY[L ZPNUPĂ„JH[P]H desses “avançosâ€? podem recuar se nĂŁo se responder ao arcaico dilema do manda quem pode e obedece quem tem juĂzo.
O ARTIGO da revista anterior nem tinha sido publicado e tudo voltou a ser como antes na vida cultural do extremo norte mato-grossense. Se acompanharmos as manifestaçþes nas redes virtuais, veremos que a situação nĂŁo estĂĄ sendo diferente em outros cantos do paĂs. Principalmente nas cidades onde, por algum tempo, as polĂticas culturais começavam a dar sinais de existĂŞncias no cotidiano dos grupos organizados e nas agendas de seus respectivos governos. Apuradas as eleiçþes municipais do ano passado, as mudanças nas cadeiras geraram uma sĂŠrie de retrocessos no setor cultural. Seja pela via do cancelamento com pontos de cultura, desativação de programas ou, atĂŠ mesmo, em ameaças de morte, como o ocorrido em Alta Floresta. Esse desmonte nĂŁo combinado, mas em sintonia entre si, tem como eixo a desmobilização de agentes culturais que, na Ăşltima dĂŠcada, conseguiram viabilizar alguns recursos por meio de editais pĂşblicos para R GHVHQYROYLPHQWR GH SURMHWRV LGHQWLÂżFDdos com as diretrizes das gestĂľes pĂşblicas, principalmente, do governo federal a partir de Lula. Os mais prejudicados nessas mudanças tĂŞm sido aqueles acordos/compromissos apalavrados entre municĂpios e federação e, justamente, nos lugares onde ocorreram derrotas dos partidos aliados. Portanto, o WDO ÂżR GH ELJRGH QmR p PDLV YiOLGR $ ÂłFRURnelagemâ€? ĂŠ de outra monta. Nesses “refazendamentosâ€?, as feridas PDLV H[SRVWDV ÂżFDUDP SRU FRQWD GRV SURMH-
tos liderados por ativistas garimpados nos movimentos que, por um motivo ou outro, DFDEDUDP VH LGHQWLÂżFDQGR FRP DV JHVW}HV derrotadas nas urnas. As indicaçþes iniciais para este artigo tinham como rumo o desvendamento de algumas experiĂŞncias e articulaçþes do movimento teatral catarinense da Ăşltima dĂŠcada, que, com seus enfrentamentos, trabalha na tentativa de organizar a categoria. A categoria repudia o velho balcĂŁo de trocas que, ainda, permeia as relaçþes polĂticas na maioria dos estados brasileiros. No entanto, o cotidiano tem mostrado que uma parte significativa desses “avançosâ€? podem recuar se nĂŁo se responder ao arcaico dilema do PDQGD TXHP SRGH H REHGHFH TXHP WHP MXt]R. Dado o cenĂĄrio, as aparĂŞncias indicam que os documentos e as diretrizes do documento $ ,PDJLQDomR D 6HUYLoR GR %UDVLO, orientador do governo Lula no setor cultural e, estrategicamente, redesenhado pelo ministro Gil, na prĂĄtica nĂŁo foi consolidado como polĂtica pĂşblica governamental e nada transformado em polĂtica efetiva de Estado. Quem sabe, pode ser um dos pontos doloridos para entendermos as fragilidades na manutenção da arte e da cultura como prioridade nas pautas dos governos. O quadro polĂtico exposto poderia semear debates e açþes que apontassem, no mĂnimo, retomadas de movimentos artĂsticos e culturais como foram o Arte Contra a BarbĂĄrie nos tempos do “pensamento Ăşnicoâ€? e que resultou na formulação da Lei Municipal de Fomento ao Teatro. Ou como no
caso da dança e as articulaçþes no legislativo paulistano pelo Mobilização Dança que, WDPEpP DSODFRX XPD OHL HVSHFtÂżFD SDUD D categoria. Mesmo sendo leis, ambas volta e meia correm o risco de perder nacos de suas conquistas. No entanto, tudo indica que continuaremos nesta procissĂŁo tosca de cortejar novos cânticos, mas que na verdade nĂŁo passam de velhos cantores carolas encharcados de arcaicas promessas. E a mais pura tradução desse dilema estĂĄ nas indicaçþes dos novos ocupantes do que poderĂamos apontar como dirigentes ou gestores culturais. Ou seja, o atraso ĂŠ o nosso eterno regresso, pois, nos momentos em que poderia ter vindo um naco de avanço, os ditos progressisWDV QmR Âż]HUDP PDLV GR TXH HQJROLU R EROR mesmo quente. Portanto, que sejam pagas as penitĂŞncias.
HĂŠlvio Tamoio ĂŠ produtor e apresentador do programa Paracatuzum.
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BIBLIOTECA/ MURRO#07
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DANÇA NAS LETRAS VII O TEATRO DO CORPO MANIFESTO: TEATRO F�SICO
REDES DA CRIAĂ‡ĂƒO. CONSTRUĂ‡ĂƒO DA OBRA DE ARTE
EDITORA PERSPECTIVA
HORIZONTE/VINHEDO
LĂšCIA ROMANO
Este livro busca acompanhar o desenvolvimento do Teatro FĂsico. A prospecção histĂłrica principia no surgimento do conceito, cujo ponto “germinalâ€? ĂŠ a junção entre teatralidade e corporeidade, explicitada no prĂłprio termo que designa esse modo de fazer teatral. Aspectos da institucionalização do Teatro FĂsico sĂŁo considerados, observando sua relação com a sociedade e com a cultura do teatro e da dança - em especial, tendo em vista diferenças e semelhanças entre o Teatro FĂsico e a Dança-Teatro.
CECILIA ALMEIDA SALES
Obras sĂŁo territĂłrios. Formulaçþes independentes, plenas, com nĂveis de complexidade variĂĄveis, cada qual com suas leis de formação. Uma obra que valha a pena remapeia o espaço a que pertence esse territĂłrio. As anotaçþes ou registros do artista sĂŁo um material precioso para investigar a obra, porem DUULVFDGR 8Vi ORV QHVVD WDUHID SRGH WHU YDULDGRV QtYHLV GH HÂżFLrQFLD Dependendo de como esses registros sĂŁo lidos podem ser de valor para o aprofundamento do conhecimento da obra como podem apontar para direçþes de pouca relevância. No presente trabalho, Cecilia Almeida Salles se propĂľe a uma tarefa complexa - estabelecer sentidos de orientação para abordar processos muito diversos e simultaneamente formular as bases dessa ciĂŞncia sensĂvel.
PONTES MĂ“VEIS IDEALIZAĂ‡ĂƒO: VANESSA MACEDO
“Pontes MĂłveisâ€? faz parte do projeto Cia Fragmento - 10 anos. Mas o livro, em seu conteĂşdo, nĂŁo tem a caracterĂstica revisionista de obras comemorativas. Vanessa Macedo, diretora da companhia, convidou 10 pessoas entre artistas, acadĂŞmicos, intelectuais e psicanalistas para fazer um panorama da dança. E cada um, por seu viĂŠs, trouxe Ă tona questĂľes que se relacionam com o universo da arte contemporânea, cruzando com o pensamento artĂstico que interessa Ă Cia Fragmento. Ferreira Gullar, Affonso Romano de Sant’Anna, Helena Katz, JoĂŁo Francisco Duarte JĂşnior, JoĂŁo Frayze-Pereira, Carlos Briganti, Cecilia Almeida Salles, Lucia Romano, Janaina Leite, Ruth AmaUDQWH DUWLVWDV H SHQVDGRUHV GH GLIHUHQWHV FRUUHQWHV GLVFRUUHP VREUH WHPDV FRPR DUWLÂżFDomR GRU H FULDomR GHVDUWLÂżFDomR SHUIRUPDWLYLGDGH GR IHPLQLQR XQLYHUVR ÂżFFLRQDO DXWRELRJUDÂżD QDV DUWHV UHbeldia antiestĂŠtica e contemporaneidade nas artes. O livro Pontes MĂłveis tem organização de Angela Nolf e Vanessa Macedo e assessoria editorial de Ana Francisca Ponzio. Email para solicitação do exemplar: producaociafragmento@gmail.com
EPÍLOGO/ MURRO#07 POR/ KAEL KASABIAN
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