CAPA/ MURRO#07
POR/ MĂ RCIA MARQUES e NEOMISIA SILVESTRE
PÉ NA COZINHA
¸( TLZ[PsHNLT \UPĂ„JH VZ OVTLUZ ZLWHYHKVZ WLSVZ TP[VZ raciais. A mestiçagem reĂşne sociedades divididas pelas mĂsticas raciais e grupos inimigos. A mestiçagem reorganiza naçþes comprometidas em sua unidade e em seus destinos democrĂĄticos pelas superstiçþes sociaisâ€? Gilberto Freyre, 1963
“AS PESSOAS PENSAM que sĂŁo brancas. 3HQVDP TXH HX VRX EUDQFR RX TXH PLQKD Âżlha ĂŠ branca. SĂł no Brasil eu sou branco. Um dia eu falei que ninguĂŠm no Brasil ĂŠ branco, a nĂŁo ser a Xuxa. E brinquei tambĂŠm falando que se a Xuxa nĂŁo casar com o Taffarel, vĂŁo acabar os Ăşltimos brancos [no Brasil]â€?. Chico Buarque, o cantor e compositor de decantada beleza, com profundos olhos azuis pelos quais muitas mulheres jĂĄ suspiraram, ĂŠ o autor da frase que circula em uma entrevista no Youtube com mais de cem mil acessos, postada em 2008, com quase 700 comentĂĄrios, a maioria, defendendo algum ponto de vista sobre o racismo. E Chico acrescenta dizendo que brasileiro nĂŁo assimila bem o fato de ser mestiço. Aceita sĂł teoricamente, para usar como mote de piada. Assim fez nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em sua campanha Ă presidĂŞncia em 1994, quando o oponente peemedebista, Orestes QuĂŠrcia, FRQFRUUHQGR j PHVPD YDJD R FODVVLÂżFRX como “o candidato das mĂŁos limpasâ€?. Nesse momento surgiu a primeira declaração de FHC sobre sua ascendĂŞncia negra: “Um
candidato disse que eu tinha as mĂŁos brancas. Eu nĂŁo. Minhas mĂŁos sĂŁo mulatinhas. Eu sempre disse isso, sempre brinquei comigo mesmo. Tenho um pĂŠ na cozinha. Eu nĂŁo tenho preconceitoâ€? E foi naquele mesmo ano que o candidato brasileiro, com o pĂŠ na cozinha, saiu vencedor em primeiro turno nas eleiçþes presidenciais no Brasil. E de lĂĄ para cĂĄ (e em todos os tempos, vide tantas guerras travadas pelo mundo), as questĂľes raciais nunca deixaram de ser assunto para discursos LQĂ€DPDGRV GH DUURXERV SDVVLRQDLV EULJD familiar, e, o mais recente caso, discussĂľes jurĂdicas em torno de assuntos culturais e artĂsticos, como os editais para criadores e produtores negros lançados em novembro de 2012 pelo MinistĂŠrio da Cultura, o PrĂŞmio Funarte de Arte Negra, que divide opiniĂľes e reacende o debate sobre racismo. Se a ideia foi reforçar positivamente a identidade dos negros, atĂŠ pelos sĂŠculos de direitos cerceados, o lançamento do Edital robusteceu uma classe de artistas com direitos diferenciados e atiçou a briga pelo cobertor, sempre curto.
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