A IMPORTÂNCIA DA
comunicação
comunitária
EM CAMPO GRANDE
A IMPORTÂNCIA DA
comunicação
comunitária
EM CAMPO GRANDE
Alana Regina Diana Portela Angelo Tonon Stefanello da Silva 2017 - Uniderp
Título do livro: Importância da Comunicação Comunitária em Campo Grande Autores: Alana Regina Diana Portela Angelo Tonon Stefanello da Silva Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) Universidade Anhanguera-Uniderp Orientadores: Profª. Jornalista Angélica Signarini Magalhães Prof. Jornalista Marcelo Augusto Miranda Rezende Palavras-chave: Comunicação. Comunitário. Jornalismo. Foto de capa: Divulgação/Prefeitura de Campo Grande Revisão: Prof. Josué Alves Conceição Projeto gráfico: Hélder Rafael Regina Nunes Campo Grande. 2017
sumário 7 Prólogo 11 Capítulo 1 A importância da comunicação 17 Capítulo 2 Evolução da comunicação e o jornalismo comunitário 25 Capítulo 3 Comunicação comunitária no veículo impresso 31 Capítulo 4 Comunicação comunitária nas rádios 39 Capítulo 5 Comunicação comunitária na televisão 47 Capítulo 6 Comunicação comunitária na internet 61 Capítulo 7 A comunidade 73 Capítulo 8 Comunicação x política x comunidade 79 Conclusão 82 Referências bibliográficas
Prólogo
O
objetivo deste livro-reportagem é basicamente revelar a importância da comunicação na melhoria da qualidade de vida dos campo-
-grandenses, de forma documental, fazendo com que os leitores reflitam sobre os objetivos da comunicação para a comunidade. Entre as formas de jornalismo, escolhemos o modelo comunitário, e como este interage com a comunidade nos diversos veículos de comunicação: jornais impressos, online, televisão e rádios. Também destacamos a importância dessa vertente, tanto para os veículos de comunicação, quanto para a população da Capital. No primeiro e no segundo capítulo, partimos do resgate da história do jornalismo, seu desenvolvimento, e do papel na vida dos cidadãos. O livro procura salientar a importância do jornalismo comunitário no processo da valorização da cultura local e regional. Vamos destacar a importância da comunicação, desde sua origem, até como essa área consegue mudar a vida das pessoas, sendo assim, fundamental em uma cidade. O terceiro capítulo é sobre “Jornalismo comunitário em jornal impresso”, onde terá a participação do editor-chefe geral do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, Gabriel Neris. Por ser chefe de redação e ter sido editor na editoria Cidades por vários anos, ele explica como esse assunto é tratado nas redações dos jornais impressos. Outro exemplo de comunicação comunitária é a de Enéas de Andrade Barbosa, que não é formado em
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jornalismo mas criou um jornal na região oeste de Campo Grande, o qual abrange os bairros Portal Caiobá I e II, São Jorge da Lagoa, Celina Jallad e outros, para favorecer o crescimento local. Com relação ao tema Comunicação Comunitária em rádio, mostramos que este é um dos veículos de comunicação mais antigos do mundo e que sempre está buscando meios de se reinventar. O rádio comunitário surgiu para atender as necessidades da comunidade levando informações e entretenimento para os ouvintes. Permitindo, por sua vez, um jornalismo mais humanizado e interativo, onde qualquer pessoa da comunidade pode ligar para solicitar ou oferecer ajuda. O entrevistado foi o atual vereador da Câmara Municipal de Campo Grande, Cazuza, que apresenta um programa na rádio comunitária no bairro Moreninhas, região sul da Capital. Wagner Jean, que apresenta o Café com Blink na rádio Blink 102, também conta sobre o funcionamento do programa que ele apresenta com foco na comunidade. No programa, o apresentador cobra soluções do poder público quando os moradores da cidade solicitam alguma ajuda, e também mantém contato mais próximo com as pessoas através dos celulares, pelos quais os ouvintes ligam, mandam mensagens e áudios ao apresentador. Para falar sobre jornalismo comunitário em televisão, no quarto capítulo, entrevistamos o gerente de jornalismo comunitário da TV Morena, Marcello Rosa, que relata todos os detalhes e sua experiência de 35 anos no jornalismo. Também entrevistamos o atual deputado estadual Mauricio Picarelli, um dos pioneiros no jornalismo comunitário em Mato Grosso do Sul. Para o capítulo ficar completo, o livro contém informações de Alexandre Cabral, um dos principais repórteres de jornalismo comunitário. Com simpatia e seriedade, ele consegue bons resultados para a população, fazendo matérias que chamam a atenção do poder público. Para falar de Jornalismo comunitário na Web, no quinto capítulo, con-
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tamos com a participação de Humberto Marques, ex-diretor do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, que foi o criador do Jornal Comunidade.MS, noticiário focado nas regiões do Anhanduizinho e Lagoa, de Campo Grande. Sendo o Jornalismo comunitário na Web um dos mais recentes tipos de jornalismo, que surgiu com o desenvolvimento da tecnologia, tornando as informações mais rápidas. Esse tipo de jornalismo atinge boa parte dos campo-grandenses, pois quase todos os moradores da Capital têm celulares com internet, facilitando assim o contato direto entre a comunidade e o veículo de comunicação. Uma vertente dos meios de comunicação é a rádio web, que engloba tanto o radialismo como a internet. Quem conta sua experiência é o Paulo César, que criou uma Rádio Web e consegue contribuir na prestação de serviços para as comunidades. O jornalista Mauro Silva conta como trabalha com uma motocicleta, gravando vídeos para postar no site em que trabalha. Além de mostrar problemas de bairros, ele abre espaço para que a população diga o que está precisando nos bairros. No tema “jornalismo comunitário na vida dos campo-grandenses”, abordamos como o jornalismo comunitário tem atuado para melhorar a qualidade de vida de moradores da capital. Mostramos depoimentos de pessoas que foram beneficiadas pelo jornalismo comunitário. Nossos personagens, sendo líderes de bairros, relataram como correm atrás de melhores condições em suas comunidades. Por fim, um capítulo especial para abordar sobre a política e os veículos de comunicação. Muitos candidatos usam do alcance das mídias para conquistar eleitores e se elegerem. Para contar sobre isso, contamos com a opinião de professores, jornalistas e políticos.
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CAPÍTULO 1
A imPortânciA dA comunicAção
-T
entamos ter o dom da ubiquidade através da alteridade, pois a ilusão da onipresença é construída pelas informações produzi-
das pelo outro - explica Felipe Pena, sobre a natureza do jornalismo, no livro “Teoria do Jornalismo”. A Comunicação Social e a tecnologia têm movido o mundo e quebrado barreiras nos últimos anos. Isso porque, o que antes era quase “impossível” de saber, devido aos poucos meios que as pessoas tinham para se comunicar, hoje, em pleno século XXI, pode-se afirmar que não existe mais esta dificuldade. Com os avanços da tecnologia, as informações tornaram-se rápidas e ao alcance de todos, seja através da televisão, rádio, internet ou jornais impressos. Que a Comunicação Social possui um importante papel na vida das pessoas e também na história da humanidade, todos já sabem; entretanto, vale lembrar que desde os primórdios, mesmo sem as tecnologias existentes, as pessoas buscavam comunicar-se umas com as outras. Podemos usar como exemplo as cartas, as quais eram utilizadas por pessoas que queriam manter contato familiar ou profissional com outros indivíduos e se utilizavam desse meio para desempenhar tal função. Há alguns séculos, essa era a realidade de todos. A historiadora Paulina Gomes relata que a comunicação é tão im-
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portante em uma sociedade que os primeiros grupos humanos criaram formas de se comunicar, deixando registrado seu cotidiano. “Hoje, com a evolução das formas de comunicação, ficou rápido e fácil receber e enviar notícias, seja ela pessoal ou não. É importante saber o que acontece no mundo para formar um conceito, uma opinião sobre o assunto”, disse. Ainda segundo a autora, a comunicação também auxilia no conhecimento social, político e cultural de uma comunidade, e transmite formas de culturas a sociedade, levando ao cidadão conhecimentos diversos. No Brasil, o acontecimento que marcou o cenário político foi a eleição de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente civil eleito pelo voto direto. No desenvolvimento do seu governo, acabou tendo de renunciar, pois a população, sendo informada dos acontecimentos, pedia seu impeachment. “Isso só foi possível porque o povo tinha conhecimento dos fatos que acabaram por influenciar a população”, lembrou a autora.
A influência da comunicação Roberto Figueiredo, mestre em História e coordenador de curso da Universidade Católica Dom Bosco, relata que a importância da comunicação social é primordial para a evolução e o desenvolvimento da sociedade. Para ele, a cada dia, vivemos um mundo em que não podemos nem mais falar “global”, mas “único”, pois tudo que acontece nos mais diferentes rincões nos afeta, e a sociedade como um todo deve estar ciente destes acontecimentos por meio da comunicação. - Falar que uma briga entre a Coreia do Norte e EUA é muito longe e não temos nada com isso é uma ilusão. Ela irá nos afetar em vários sentidos. Claro que nos preocupa como essa informação ou este fato vai chegar até nós por meio dessa comunicação. Quem está enviando a comunicação e
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qual seu interesse nisso ou seu lado nessa notícia? - questiona o historiador sobre o desempenho do trabalho do jornalista. Outro exemplo citado pelo profissional, referente à importância e à influência da Comunicação Social e do jornalismo na sociedade, ocorreu no Brasil há pouco tempo. “A cassação da presidente Dilma Rousseff sofreu uma influência muito grande dos meios de comunicação. Não vou entrar em questões partidárias, mas sim na atuação dos meios de comunicação tradicionais, como TV e jornais. Todos os dias era uma avalanche de notícias sobre assuntos que antes não eram importantes, como a tal pedalada fiscal, que naquele momento tornou-se a coisa mais errada que poderia haver, mas em outros momentos, nem se falava sobre isso. Acredito que os meios de comunicação prepararam terreno para a cassação, mesmo sendo legal”, disse Figueiredo. Em Campo Grande, também houve um exemplo semelhante. “Na eleição do prefeito a substituir Nelson Trad Filho, na semana da eleição saiu uma pesquisa em todos os meios de comunicação afirmando que o candidato Reinaldo Azambuja possuía menos de 10% de votos, quando na verdade ele chegou a obter 20%, ou algo assim. Quer dizer, influenciou um eleitorado indeciso, e ele não foi para o segundo turno por uma diferença muito pequena”, lembrou o historiador. Com o passar dos anos muitas coisas mudaram, inclusive no jornalismo. As novas tecnologias permitiram alguns avanços na comunicação. Para o historiador, a notícia por meio da comunicação atual ficou muito mais acessível. “Meu receio é de quem pode estar manipulando essa comunicação. Nos EUA, hoje se revê uma possível influência russa nas eleições através dos meios de comunicação”, contou.
marcando história e o desenvolvimento do mundo Para Roberto Figueiredo, pode-se dizer que a comunicação marcou
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a história e o desenvolvimento da humanidade, tanto da forma positiva como negativa. “Pesquisas recentes concluem que a mídia interferiu na entrada dos americanos na Segunda Grande Guerra. Isso foi decisivo para a queda do regime nazista, então foi bom, mas existem suspeitas de que fatos foram inventados para a venda de jornais, único meio de informação na época”, relatou o historiador. - Hoje fala-se que a imprensa é o Quarto Poder. Sabe-se que sim, e por isso, qual o pensamento ético desse poder que não está na mão do povo e sim de empresários? Um político tira-se do poder a cada quatro anos, ou antes, se fizer algo muito errado, mas e a comunicação? Como se comporta e a quem presta contas os donos dos meios de comunicação? - questionou. Indagado sobre como imagina a Comunicação Social e o jornalismo no futuro, o mestre em História destacou: “Queria que só tivesse uma verdade, e essa verdade chegasse a todos, da forma mais simples possível. Mas aí, nem em filme de Stanley Kubrick isso poderia acontecer. Sendo assim, tenho outro sonho utópico, que é a mentira ser deletada das mídias sociais, assim que for escrita”, relatou o professor.
Visão da comunicação social e do jornalismo por profissionais do ramo Nesse momento mostraremos as visões dos profissionais da Comunicação Social e do jornalismo sobre a importância do jornalismo para a evolução e o desenvolvimento de uma sociedade. Três competentes profissionais revelam o que pensam a respeito do jornalismo em Campo Grande e em Mato Grosso do Sul. O professor de Jornalismo do curso da Universidade para o Desenvol-
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vimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp) de Campo Grande, Marcelo Rezende, destacou que, no seu ponto de vista, o jornalista atua como prestador de serviços para a cidade onde mora. Para ele, é positivo e válido todo jornalismo feito em benefício da sociedade e que tenha o comprometimento com a imparcialidade e ainda contribui com a população. “Penso que isso é o jornalismo, tudo que é realizado a favor da sociedade é positivo. Contudo, a gente percebe que acaba perdendo um pouco do ‘news’. Vemos que tem muita coisa sendo atribuída ao jornalismo, mas não é jornalismo. É algo mais relacionado ao sensacionalismo”, disse. Analisando as ideias do professor, percebe-se que ele faz críticas a alguns tipos de jornalismo, como aqueles veículos que pensam apenas em lucrar com notícias exageradas e muitas vezes mentirosas. Rezende faz questão de ressaltar que o jornalismo real, para ele, é aquele que presta um papel social importante dentro de uma cidade e contribui para o desenvolvimento da mesma. “Quando você se volta para ajudar a sociedade, no meu ponto de vista, é mais que a obrigação dos profissionais. A gente precisa estar aqui para representar e apoiar a população”, afirmou Marcelo, concluindo a sua visão a respeito da importância do jornalismo em Campo Grande. Na mesma pegada que o jornalista Marcelo Rezende, o também professor do curso de Jornalismo, mas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Marcos Paulo da Silva, reforça que o jornalismo constitui uma atividade social historicamente legitimada e que tem como importância fundamental, no seu ponto de vista, o fato de colocar as pessoas em contato com a diferença, em contato com o outro. “E desse contato espera-se que surja uma sociedade mais tolerante, sabendo lidar com a diferença, sabendo lidar com o outro. No caso específico de uma sociedade sul-mato-grossense, um Estado com grandes dimensões e com cida-
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des distantes uma das outras, mas com características e peculiaridades muito próprias, como a questão fronteiriça, a questão indígena”, disse. Para Marcos Paulo, tanto a Comunicação Social quanto o jornalismo contribuem muito ou deveriam contribuir na perspectiva de formar uma sociedade mais tolerante, colocando em contato com o outro e com a diferença. “Nesse sentido, a Comunicação Social e o jornalismo devem formar uma sociedade mais tolerante, que respeite as diferenças e os princípios de cidadania”, frisou. Quem também destaca a importância da comunicação dentro da sociedade é a mestre em Comunicação e Mercado, Célia Regina Gonçalves Franzoloso. “Penso em comunicação e sociedade como uma inerente à outra. É a comunicação que nos permite chegar ao raciocínio lógico, ao conhecimento cultural e social, incentiva a curiosidade, a iniciativa e a flexibilidade”, relatou. Celia Regina ainda é docente nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp). Graduada nos dois cursos da área da Comunicação Social pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Bauru (SP) e mestra em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero (SP), ela conta que a comunicação é a base de tudo. “Só através da comunicação conseguiremos resolver ou amenizar os problemas sociais”, destacou. Com a visão desses profissionais da área da comunicação, é possível analisar e refletir sobre a importância do jornalismo para o meio social.
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CAPÍTULO 2
EVolução dA comunicAção E o jornAlismo comunitário
C
om o passar dos anos, uma nova modernidade surgiu e trouxe consigo a evolução digital, permitindo assim agilidade na hora de trans-
mitir informações à população. O jornalismo, por sua vez, usufruiu desses benefícios. Isso elevou ainda mais a importância dos profissionais da área da comunicação na sociedade. A historiadora Paulina Gomes avalia a evolução do jornalismo com pontos positivos e negativos. “Positivo porque acho importante a rapidez com que ficamos sabendo dos acontecimentos, o que favorece o nosso conhecimento, porém deve-se ter cuidado em verificar a veracidade dos fatos, pois podem afetar para a sempre a vida de uma pessoa. Tendo cuidado também para ser imparcial”, analisou. De acordo com a historiadora, com o desenvolvimento da comunicação também mudou-se a forma de as pessoas verem o mundo da qual fazem parte. - Mudaram seus pensamentos, sua cultura e até mesmo a forma de vestir e falar, pois não há barreiras que limitam a troca de informações entre as sociedades. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, o mundo se tornou uma aldeia onde todos sabem de tudo - disse.
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o jornalismo Ao pé da letra, o jornalismo deve informar os fatos para a população através dos meios de comunicação, seja ele impresso, on-line, televisivo e ou rádio, e sempre com base na verdade. São os jornalistas e os comunicadores que contribuem para manter a população informada sobre o que acontece no dia a dia do cidadão, na cidade, estado ou país. As ferramentas utilizadas pelo jornalismo têm avançado cada vez mais, e as notícias se tornaram rápidas, eficazes, e ainda podem atingir vários cantos do mundo. Oswaldo Ribeiro, mestre em Ciências da Informação e doutor em Educação, conta que o jornalismo, por meio dos gêneros, pode ser informativo, interpretativo, opinativo, utilitário e diverso. “Acredito que seja bastante possível navegar em todos eles e contribuir para o entendimento dos caminhos que a sociedade vem tomando ao longo da sua história, sempre com uma postura profissional responsável e ética”, destaca.
A importância do jornalismo comunitário O jornalismo comunitário, assim como o jornalismo policial, político, cultural, entre outras editorias, também possui um papel importante na sociedade. Pode-se saber diariamente o que está acontecendo na cidade e ainda obter ajuda da imprensa para melhorar a comunidade onde vive. Seja através de orientações ou até mesmo cobrança por parte dos veículos de comunicação junto à sociedade ou ao poder público. Para Oswaldo Ribeiro, o jornalismo na comunidade contribui com o exercício de um olhar jornalístico para a margem da sociedade. O jornalismo comunitário é utilizado pelas rádios, televisões, jornais online e im-
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pressos. Quanto à interação da mídia com a população, Ribeiro acredita que os veículos digitais ficam à frente dos outros, por oferecerem mais opções. “Os digitais oferecem mais opções de canais para isso – o que não quer dizer que o diálogo aconteça – são só mais caminhos para ela. Os leitores comentam, mas nem sempre têm o retorno das opiniões que dão”, disse. Segundo Oswaldo Ribeiro, o rádio, por meio das notas de voz, também tem dado espaço para a interferência, a contribuição e a colaboração do ouvinte. O doutor ainda explica que a televisão, por suas características, mostra, mas não interage tanto. “Quando usa as redes sociais até consegue um pouco, mas ainda assim é muito presa à grade de programação”, afirmou. O jornal impresso, por sua vez, tem dificuldade com a interação, já que, diferentemente do online, as notícias não são publicadas a todo instante. Para Ribeiro, essa mídia consegue apenas complementar, no dia seguinte, as informações divulgadas pelos jornais online. “Talvez consiga ou busque, por exigência dos outros meios, completar melhor a informação, embora o que vejo acontecer são conteúdos próximos do que o online vem fazendo por meio de conteúdos mais completos, ou que busquem isso”, contou. Apesar de ser chamado de jornalismo comunitário por alguns veículos de comunicação, esse tipo de trabalho é analisado por Oswaldo Ribeiro apenas como jornalismo feito nas comunidades, no qual o jornalista identifica os problemas e procura o poder público no intuito de tentar resolver a situação. “Os teóricos que buscaram conceitos para o jornalismo comunitário, como o professor José Marques de Melo, dizem que a imprensa comunitária é feita pela e para a comunidade (originada nela, administrada por ela e dirigida a ela). O que a imprensa faz, aqui em Campo Grande,
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não é diferente. É um recorte da comunidade sem conhecê-la profundamente”, ressaltou.
jornalismo comunitário na capital sul-mato-grossense De acordo com o Oswaldo Ribeiro, o jornalismo comunitário é feito na comunidade, visando resultado para a comunidade. Contudo, ele afirma ser difícil para os veículos de comunicação cobrirem o assunto de forma mais “profunda”, abrangendo a realidade de todas as regiões de Campo Grande. “Às vezes por conta da falta de estrutura de algumas ou por conta da falta de pautas que abordem e atendam estas necessidades”, disse. Voltando ao passado, é possível lembrar-se de uma iniciativa do início da década de 1990, quando a equipe da TV Guanandi (atual TV Interativa MS), passava uma semana no bairro da Capital e na semana seguinte fazia um jornal especial sobre o local onde estiveram. Na época, entre os integrantes da equipe de repórteres estavam Rezende Júnior, Lucimar Lescano, Veruska Donato, entre outros. Os comunicadores mostravam os problemas, as reivindicações, as curiosidades, as personalidades de uma determinada região de Campo Grande. “É a primeira experiência que lembro, neste sentido de tentar aprofundar a relação com a comunidade”, recorda Oswaldo Ribeiro. Referente à funcionalidade do jornalismo comunitário, Ribeiro afirma que esta é a tentativa da imprensa em intermediar as questões solicitadas pela comunidade, sem muito conhecimento de causa, sem muita aproximação e acompanhamento da realidade, apenas agindo de forma pontual. “Imagino que se a comunidade fosse melhor informada sobre os direitos dela, talvez soubesse pressionar melhor as autoridades e tivesse
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mais propriedade em reivindicar as suas reais necessidades, sem intermediários”, destacou.
diálogo é a base de interação da sociedade com a imprensa O comportamento da audiência vem sendo alterado ao longo dos anos. Os dispositivos móveis têm funcionado como ferramentas importantes de interferência do público na programação. Apesar de a evolução tecnológica ter facilitado o trabalho dos profissionais de redação em Campo Grande, para Oswaldo Ribeiro, ainda assim, a impressão de interação entre a sociedade e a imprensa é o diálogo. “Acredito que exista uma imprevisibilidade bastante grande na conquista pela audiência. Entender melhor as mudanças que a audiência vem passando, é um caminho”, destacou. Para o jornalista e professor do curso de Jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), Marcelo Rezende, desde os anos 2000, o jornalismo em Campo Grande vem evoluindo. Apesar da evolução, ainda falta melhorar. “Acredito que o jornalismo melhorou muito nos últimos 17 anos. Penso que apesar dessa mudança, precisamos aperfeiçoar ainda mais, principalmente na produção de conteúdo”, disse. Segundo Rezende, os conteúdos produzidos pela mídia devem ser trabalhados visando a verdade e o bem social, não apenas mostrando parcialmente a realidade. Na opinião do jornalista, no quesito “passar uma mensagem”, o jornalismo realiza bem este papel. De acordo com Rezende, os interesses políticos prejudicam a qualidade do jornalismo no Brasil, e em Campo Grande a situação não é diferente. A maioria dos veículos de comunicação está direta ou indiretamente ligada a um político brasileiro. “Neste momento, vemos que o jornalismo não cumpre com a função, pois
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não depende apenas do profissional, como também de uma figura que sustenta o veículo”, destacou o jornalista.
jornalismo comunitário na tentativa de debater questões sociais O jornalismo comunitário é voltado para as comunidades, com o intuito de dar voz aos moradores das comunidades e também informar as pessoas sobre o que acontece na região. Em Campo Grande, existem dois tipos de Comunicação Comunitária: aquela produzida pelos veículos de comunicação, e aquela produzida pelas comunidades. Entre os destaques do conteúdo produzido pelos veículos de comunicação, existe o programa “MSTV 1ª Edição”, apresentado pela jornalista Bruna Mendes, na TV Morena, com o quadro “Tereré com o Cabral”, no qual o repórter Alexandre Cabral vai até as comunidades da Capital e apresenta as dificuldades que existem na região. Esse seria um estilo de jornalismo comunitário realizado por jornalistas e divulgado pelo veículo de comunicação em Campo Grande. Outra maneira de jornalismo comunitário é aquele produzidos pelas comunidades. Como exemplo, podemos citar o Instituto de Desenvolvimento Evangélico, localizado no bairro Portal Caiobá, região sudoeste da Capital. O projeto, conhecido como Ide, é uma Organização Não-Governamental produzida pelos moradores da comunidade com o intuito de ajudar a comunidade por meio da informação e também na reunião dos moradores do bairro para a efetivação de uma atividade social, voltada a comunidade. Tanto o jornalismo comunitário produzido pelos veículos de comunicação que possuem fins lucrativos, como a Comunicação Comunitária produzida pela comunidade, são importantes para o desenvolvimento
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de Campo Grande. Isso porque as duas formas buscam contribuir com o desenvolvimento das comunidades. Para finalizar o raciocínio, vale citar Marcondes Filho (1987). “É o meio de comunicação que interliga, atualiza e organiza a comunidade e realiza os fins a que ela se propõe”. Nesse esforço conceitual, contribuições de grande valia são oferecidas por três autores: Felipe Pena, José Marques de Melo e Pedro Celso Campos. De acordo com o autor do livro “Teorias do Jornalismo”, Felipe Pena, o jornalismo comunitário atende às demandas da cidadania e serve como instrumento de mobilização social. Conforme ele, outra característica importante é o completo afastamento do ranço etnocêntrico. O jornalista de um veículo comunitário deve enxergar com os olhos da comunidade. Mesmo que já pertença a ela, deve fazer um esforço no sentido de verificar uma real apropriação dos processos de mediação pelo grupo.
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CAPÍTULO 3
comunicAção comunitáriA no VEículo imPrEsso
A
Comunicação Comunitária de forma impressa também é muito usada pelas comunidades em Campo Grande. Entretanto, esse meio é
pouco usado nos veículos de comunicação impressos tradicionais, que não tenham por finalidade informar a comunidade sobre o que está acontecendo em uma determinada região. De acordo com o radialista e professor do curso de Jornalismo da Universidade Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), Clayton Sales, o jornalismo comunitário não precisa ser realizado dentro de um espaço destinado ao jornalismo comunitário. “A natureza da pauta é mais determinante que o jornalismo, é uma pauta que vem de um determinado lugar”, disse. Na Capital, como dissemos anteriormente, existem dois exemplos de Comunicação Comunitária. Por exemplo, o jornalista Humberto Marques criou, no início de 2017, o jornal Comunidade.MS, destinado aos moradores da região do Anhanduizinho e Lagoa, em Campo Grande. Por meio do jornal impresso, Marques produz um noticiário diferenciado e que tem como prioridade os moradores dos locais citados acima. O jornalista comenta como funciona a edição. - Mensalmente são impressos pelo menos 6 mil exemplares de jornal
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no formato tabloide, com o mínimo de oito páginas, o qual traz reportagens focadas em bairros dessas duas regiões urbanas, com o enfoque centralizado em um certo problema e na busca de uma solução com o agente responsável – contou o jornalista. Humberto ainda lembrou alguns fatos. “Na nossa edição de julho [2017], trouxemos reportagem sobre a queda de uma passarela que liga o Parque do Lageado ao Manaíra, usada por centenas de pessoas diariamente, apontando que muitas pessoas não querem o reparo porque especificidades da estrutura acabam por favorecer a ação de criminosos na região”, relatou o editor do jornal Comunidade.MS. Segundo o site do jornal Comunidade.MS, a missão da empresa é permitir que o empreendedor, seja ele grande ou pequeno, tenha a chance de aparecer para a sua potencial clientela. Além disso, devido à distribuição domiciliar das edições impressas nos bairros, o anúncio estará, a cada publicação, nas mãos de seus potenciais clientes. Com a proposta de contribuir com as comunidades do Anhanduizinho e do Lagoa, o jornalista Humberto Marques criou o jornal Comunidade.MS em Campo Grande.
jornal idE Vale lembrar que os anúncios divulgados nos veículos de comunicação impressos tradicionais na Capital têm preços altos, e muitas vezes os microempresários não têm recurso financeiro suficiente para investir em publicidade. Contudo, quando o jornal é voltado a uma determinada região, os valores são mais acessíveis, já que os maiores interessados são os moradores da região. Isso contribui para a economia local e também para o desenvolvimento da região.
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Com o mesmo intuito do jornalista Humberto Marques, o gestor social e idealizador do Instituto de Desenvolvimento Evangélico (IDE), Enéas de Andrade Barbosa, relata que resolveu criar o Jornal do IDE na região oeste de Campo Grande, abrangendo os bairros Portal Caiobá I e II, São Jorge da Lagoa, Celina Jallad e outros, em prol do crescimento local. Enéas não é formado em jornalismo. “O jornal surgiu em março de 2016, foi uma necessidade a colocação do informativo do Instituto IDE por motivos de captação de recursos, de mobilização e articulação com pessoas jurídicas e pessoas físicas”, contou. - Hoje a gente percebe que se tornou ainda mais importante a nossa forma de comunicação, primeiro porque além de captar recursos para projetos sociais através dos pacotes comerciais que a gente vende para os comerciantes, nós conseguimos também atingir o objetivo de articulação do comércio para ajudar eventos, tanto do IDE, como da comunidade. Queremos a valorização das pessoas para participarem das nossas promoções – disse Enéas. Outra situação relatada por Enéas é que, a partir do jornal impresso local, os próprios moradores da região passaram a valorizar mais a comunidade onde vivem. “Eles [moradores] passaram a nos enxergar com um novo olhar, enxergaram o nosso jornal, e com isso as pessoas começaram a adquirir as publicações, a comprar os produtos divulgados no jornalzinho. Começaram a valorizar mais os profissionais daqui. Quem estivesse precisando de um pedreiro, marceneiro, sabiam que encontrariam no bairro”, afirmou. A partir de então, os profissionais da comunidade passaram a anunciar os serviços no jornal por um preço mais acessível. “E para todos contribuírem com o projeto IDE, criamos o cartão desconto, no qual a pessoa jurídica pode anunciar. E as pessoas físicas que tiverem o cartão, podem
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comprar os produtos dos anunciantes com descontos na loja. Isso faz a economia do bairro circular, mas sem sair da região. Fazendo assim, o recurso não sai da região. Queremos mover o recurso da própria comunidade, e por meio do jornal, ficou muito fácil. Sabemos que as pessoas leem o material impresso. Antes, os moradores iam para o centro da cidade comprar roupas, sem saber que na comunidade que ela vive tinha loja com produtos mais baratos”, contou. De acordo com Enéas, quando os moradores saíam da região para comprar produtos em outros locais de Campo Grande, além do tempo, gastavam com passe de ônibus, gasolina e com o produto. Todavia, com a criação do meio de comunicação os moradores da região Noroeste passaram a ter mais informações do local onde moram. - Como jornal, a gente aqueceu a economia local. Foi isso que realizamos, nosso foco sempre foi contribuir com a comunidade. Hoje em dia, usamos isso com a proposta de outros anunciantes também aderirem à ideia do jornalzinho. Essa é a importância do nosso jornal para a comunidade”, destacou o gestor social do Jornal IDE.
Adaptação do jornalismo e sua contribuição Conforme o jornalista e atual editor-geral do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, Gabriel Neris, a Comunicação Comunitária vai se adaptando com as mudanças do jornalismo. “Com a correria imposta no dia a dia das pessoas, cada vez mais é difícil encontrar personagens, e também pessoas que estão disponíveis, nas ruas dos bairros. A insegurança também contribui. Não se veem mais os vizinhos conversando tranquilamente nos bairros, são casas fechadas, com pouco contato com quem está do lado de fora. Claro que não é desculpa, o jornalismo comunitário também
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vai ao encontro da linha editorial do veículo. Atualmente, existem outras prioridades”, explicou o editor sobre o uso do jornalismo comunitário no jornal impresso da empresa. Para Neris, o jornalismo comunitário aproxima as pessoas da sociedade. “Esse estilo mostra a realidade de uma comunidade, muitas vezes diferente do que pessoas de outros pontos da cidade estão acostumadas”, contou. Referente ao uso da Comunicação Comunitária no jornal impresso, o jornalista afirma que o recurso já foi usado algumas vezes. “Uma das marcas do jornal O Estado foi a série intitulada: ‘O Estado nos Bairros’. O objetivo era contar um pouco da história do bairro, como nasceu, e apresentar a população os seus personagens. Aqueles que participaram da fundação do bairro, aqueles que de alguma maneira criaram sua história no bairro, e aqueles que até hoje fazem algo que contribua para o crescimento do local”, disse. Questionado sobre a contribuição do jornalismo comunitário na Capital sul-mato-grossense, Gabriel Neris diz: “O jornalismo comunitário pode até acrescentar no Plano Diretor de uma cidade”. De acordo com ele, é neste momento que as pessoas são ouvidas, as histórias contadas, os problemas relatados. Por isso, jornalismo comunitário pode ajudar o desenvolvimento da cidade. - Por exemplo, Campo Grande conta com um bairro chamado Parati. A Rua da Divisão, nele localizada, se tornou um corredor comercial. Matérias positivas sobre o desenvolvimento da região podem contribuir para que as pessoas vão até lá e consumam os produtos sem precisar se deslocar para outras regiões da cidade - explicou Neris. Analisando as respostas dos entrevistados, nota-se que, apesar de um veículo de comunicação tradicional de Campo Grande não usar tanto o jornalismo comunitário, há outras maneiras de produzir as notícias e in-
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formações referentes à Comunicação Comunitária nos bairros da cidade. Ou seja, as duas formas de comunicação contribuem com o crescimento das comunidades e da própria Capital. Contudo, não é sempre que um veículo de comunicação impresso, que não tem por objetivo produzir matérias voltadas a uma determinada comunidade, vai reproduzir informações daquela região. A não ser que essa notícia tenha uma repercussão maior que a esperada na cidade.
Jornal IDE, produzido para os moradores do bairro Portal Caiobá, em Campo Grande. Crédito: Reprodução/Jornal IDE
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CAPÍTULO 4
comunicAção comunitáriA nAs rádios
O
rádio é um dos mais antigos veículos de comunicação, e desde que surgiram novas formas de informação, ele foi se transformando, se
adaptando aos meios de notícia. De acordo com a obra “O rádio e os no-
vos meios de comunicação com os ouvintes na era digital”, o rádio vem se reinventado, e assim acontece também na forma de comunicação com os ouvintes, como na década de 1930, quando a comunicação era feita por meio de cartas, telefonemas, e hoje em dia isso ocorre através de e-mails e redes sociais. Em Campo Grande, existem as rádios comerciais e as comunitárias. Ambas têm o intuito de informar os moradores da Capital sobre tudo o que acontece na cidade. Contudo, a rádio comunitária tem um alcance menor e, de acordo com a lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, não deve ter fins lucrativos. Atualmente, na Capital sul-mato-grossense, a Comunicação Comunitária está envolvida nos dois tipos de rádio, principalmente naquelas voltadas a uma determinada comunidade ou região. Quem explica melhor é o radialista das Moreninhas FM, Cesar Brito. “A rádio Moreninhas FM é de muita importância para a região, pelo fato de a população ter à disposição uma rádio que transmita as informações sobre o bairro onde ela vive, além da divulgação
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do comércio local. A rádio faz o trabalho de utilidade pública, como perda de documentos, animais perdidos e vagas de emprego”, disse. Questionado sobre o que mudou na região sul de Campo Grande, após a criação da rádio comunitária “Moreninhas FM”, Cesar Brito responde: “Hoje, a rádio se tornou um ponto de referência do bairro. Desde a sua criação, acompanhamos o desenvolvimento do comércio, das instituições e sempre estamos lutando a favor dos direitos dos moradores da comunidade, buscando melhorias para a região”, destacou. O jornalista e radialista Marcos Anelo, que também trabalha na rádio comunitária “Moreninhas FM”, afirma que se sentiu impressionado com a abrangência do veículo de comunicação local. “A rádio comunitária engloba apenas uma região da cidade, mas eu comecei a me impressionar com o alcance dela. A rádio é na região das Moreninhas, porém, abrange muitos bairros”, contou. Segundo Anelo, muitos moradores ouvem a rádio comunitária localizada nas Moreninhas. “A população estimada na região é de aproximadamente 180 mil pessoas. Aquela região é considerada uma minicidade. Os moradores ligam muito e se sentem representados por aquela rádio. Acredito que todo veículo de comunicação tem que se aproximar da comunidade, principalmente com a convergência de mídia. Campo Grande tem outras rádios comunitárias, mas de todas elas, eu vejo esta como a melhor estruturada”, disse. De acordo com o jornalista, por ser uma rádio comunitária antiga e conhecida, a “Moreninhas FM” já reuniu milhares de pessoas em um só lugar. “Quando realizavam o aniversário da rádio, cerca de 10 mil pessoas já chegaram a ir ao evento. A rádio [Moreninhas FM] incomodava tanto que duas rádios comerciais passaram a fazer o mesmo que ela, como ouvir mais a população, dar brindes para tentar conquistar um pouco da audiência que a Moreninhas FM tem”, relatou Anelo.
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Abrangência Conforme a Associação da Integração e Difusão Comunitária das Moreninhas, a Rádio “Moreninhas FM” opera com 25 Watts de potência, correspondente à cobertura de 92 bairros da Capital, e possui a abrangência em uma área de 180 a 200 mil habitantes. Localizada na Rua Mucuri, 07, no bairro Moreninha II, a rádio comunitária “Moreninhas FM” é um meio de comunicação voltado à comunidade e aos problemas que lhe afligem, como prestadora de serviço, e procura estar ajudando todos que a procuram. O objetivo é desenvolver um trabalho filantrópico em prol da região. O jornalista Marcos Anelo, que integra a equipe da rádio “Moreninhas FM” há cerca de um ano, revela a sua experiência de trabalhar na rádio comunitária. “O meu programa é sábado das 15 às 18 horas e chama-se ‘106 Na sua frequência’. A ideia é fazer um resgate da música raiz. O bacana é que os moradores da região sabem dessa programação e ligam para pedir as músicas de raiz. Mesmo com as músicas, também levamos entrevistas e informações. É um programa que mescla a música com o jornalismo”, afirmou. Contudo, apesar da audiência da “Moreninhas FM”, por ela ser uma rádio comunitária e que por lei, não deve ter fins lucrativos, isso pode prejudicar o desempenho do veículo. Situação essa que, segundo Anelo, deveria ser revista. “A gente sabe que, sem fins lucrativos, independentemente do veículo, não funciona. Para ser sem fins lucrativos, é preciso apoio do poder público, entretanto, isso não existe. Ninguém vai tirar dinheiro do bolso para manter uma rádio por prazer, é difícil isso. Eu acho que deveriam liberar para fins lucrativos. É complicado manter um veículo sem recurso, a não ser que você tenha uma instituição mantenedora”, declarou.
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- Acredito que a legislação deveria ser revista para proporcionar que haja uma publicidade paga, mas de forma transparente, para que ela possa ter uma conotação comercial como as outras, já que a rádio comunitária possui uma restrição de sinal – disse Anelo. Para Anelo, a rádio comunitária pode contribuir com o desenvolvimento de um determinado bairro ou região de Campo Grande. “A rádio comunitária pode ser usada de modo a impulsionar o comércio local. Isso pode fazer com que o dinheiro gire mais na região, e ainda traga desenvolvimento. Porque o comerciante das Moreninhas, às vezes, não tem condições de anunciar em uma grande rádio, mas em uma rádio comunitária, ele pode divulgar o seu negócio”, explicou o jornalista sobre as dificuldades que podem ser encontradas pelos moradores das comunidades ao tentar investir em propaganda. Marcos Anelo também apresenta um programa jornalístico na emissora de TV SBT MS. Sobre a importância da rádio comunitária na região sul de Campo Grande, o jornalista e radialista diz: “Penso que a relevância da rádio é porque a população se vê representada pelo veículo. Isso é legal, pois, se uma pessoa perder o cachorro, ela nem liga na rádio, contudo, ela vai até a gente na rádio para pedir ajuda. É um contato direto que temos com os moradores, e também realizamos muito sorteios, brindes. Hoje, a gente sabe que, se uma rádio no centro da cidade sortear um brinde, dependendo que for, a pessoa às vezes nem vai buscar. Mas quando isso acontece no bairro onde ela mora, cerca de cinco minutos depois do sorteio, ela estará na porta da rádio”, revelou Anelo.
interação Assim como o jornalista e radialista Marcos Anelo e como o radialista
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Cesar Brito, ambos da rádio comunitária “Moreninhas FM”, para o radialista Osvaldo de Souza, popularmente conhecido como “Pimentinha do Povo”, que trabalha na rádio comunitária “Segredos FM”, localizado na região norte de Campo Grande, a rádio comunitária permite uma interação maior com a informação e com a população. “Acho que a rádio comunitária é importante porque o jornalismo é informação, e o rádio também é informação. Penso que o rádio é um dos veículos de comunicação mais rápidos e possibilita uma interatividade maior com os ouvintes, mesmo a gente tendo a Internet”, disse. A rádio comunitária “Segredos FM” está situada na rua São Lucas, 823, no bairro Vila Nasser em Campo Grande. Além do rádio, as programações podem ser acompanhadas pela Internet, através do rádio web “Segredos FM”.
Blink comunidade Com a mesma estratégia de dar voz às comunidades de Campo Grande, a rádio comercial “Blink 102” realiza um programa no período matutino de segunda a sexta-feira, chamado “Café com Blink”. No programa, os apresentadores informam o que o está acontecendo no período, em toda a cidade, e ainda realizam o quadro “Blink Comunidades”, no qual os ouvintes mandam mensagens de voz aos radialistas. Nas mensagens, os moradores da Capital falam sobre as situações incômodas da região onde vivem, avisam sobre o trânsito e, às vezes, agradecem os apresentadores do quadro por contribuírem com a prestação de serviço, já que em boa parte dos casos, os problemas anunciados pela rádio são resolvidos. Quem comenta a respeito do assunto é o jornalista e radialista Wagner Jean, que trabalha na rádio desde 2013. No período das manhãs, o
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radialista integra o grupo que apresenta o “Café com Blink”. Ele fala sobre a importância de dar voz à população campo-grandense. “Primeiro, estamos vivendo a era da informática. Os fãs da rádio são ativos na programação. Eles não apenas escutam os programas, eles participam de forma mais ativa e imediata por meio de aplicativos de mensagens e das mídias sociais. Segundo, a função do jornalismo é ouvir as pessoas, então não podemos simplesmente ignorar o que elas têm a dizer. No jornalismo comunitário acabamos por desenvolver essa ponte entre a população e o poder público”, explicou o radialista sobre a funcionalidade do quadro. Referente à contribuição do programa, sobre os problemas apresentados pelas comunidades da Capital, Wagner conta: “Como jornalista, temos o princípio de buscar esse relacionamento com o poder público. Quando se estabelece uma relação de confiança pelo bem da população, e não apenas comercial, as demandas são atendidas. Lógico que não há como atender 100% das solicitações, a máquina pública não possui estrutura para isso, mas na medida do possível nos atende, e em alguns casos até nos enviam fotos mostrando que a solicitação está sendo ou foi atendida”. Sobre o horário nobre de programação, Wagner Jean explicou que a televisão e o rádio são bem diferentes. “O termômetro disso, além da grande participação dos fãs, é a ‘bela’ escolha feita pelos parlamentares para a execução das propagandas eleitorais obrigatórias. Na televisão, o horário nobre é no período da noite. Já no rádio, é o oposto, ligamos os aparelhos, sintonizamos o celular pelo período da manhã, quando estamos em casa, no caminho do trabalho, levando os filhos para a escola”, relatou. Questionado referente às razões para o quadro “Blink Comunidade” contribuir na solução dos problemas das comunidades de Campo Grande, o jornalista explica: “A pressão popular ajuda bastante para que o poder
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público ou privado veja que determinado assunto ou problema merece uma atenção maior. Algumas vezes, é questão de boa vontade para execução. Em outras, esbarra em questões legais para a solução”, revelou.
Equipe da rádio Blink 102, durante o programa Café com Blink. Crédito: Angelo Tonon
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CAPÍTULO 5
comunicAção comunitáriA nA tElEVisão
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or muitos anos a televisão foi considerada artigo de luxo entre a população. Porém, ainda no século XX, a televisão toma outro rumo e
sua popularidade atinge um público ainda maior. Já nos encontramos no século XXI e seu uso pode ser considerado unânime em todas as casas de diferentes classes sociais. A televisão deve ser compreendida como algo muito além de um simples eletrodoméstico. Pois, muito mais do que um objeto de decoração, a televisão vem historicamente desenvolvendo papéis fundamentais para a construção da sociedade. Isso porque ela vem enriquecendo seus usuários e, de forma complexa, vem entreter e civilizar seus receptores. Seu poder de veicular informações globais para dentro de diversas casas em várias localidades foi capaz de unir a sociedade como um todo. A eficácia na transmissão de informações a torna o principal meio de comunicação atual. Pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação do Governo e realizada pelo IBOPE mostra uma porcentagem de 63% da preferência dos brasileiros na televisão como principal meio de comunicação e 89% se levada em conta as duas principais opções. Esses dados trazem a magnitude da influência que a televisão proporciona. Influência essa que, se direcionada para as causas solidárias, pode trazer benefícios para a população.
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É quando o jornalismo comunitário se faz essencial para dar voz às comunidades e traz para perto dos problemas o poder público. Juntando o poder de alcance da televisão e o trabalho do jornalismo, conseguimos transmitir as necessidades físicas e, muitas vezes, básicas para o resto da população que desconhece a realidade dos bairros e das periferias mais pobres. A ausência da assistência pública nunca foi um assunto novo. Porém, agora, com a rapidez das informações, a evidência tornou-se muito mais frequente, e ela torna-se ainda mais poderosa quando é exposta em imagens, falas reais e vídeos. Todos esses sentidos atraem o telespectador para mais perto das pessoas que sofrem diariamente com a negligência do poder público e esses aspectos somente a televisão pode nos proporcionar.
jornalismo e a comunidade A correlação entre o jornalismo e a comunidade é fundamental para que uma sociedade prospere e avance. É um trabalho em conjunto para que a cidade e os espaços possam se tornar um ambiente viável para se morar e conviver. A verdade é que o jornalismo comunitário existe há muito tempo na televisão, muitas vezes de forma desgovernada e informal. Segundo Marcello Rosa, jornalista com mais de 35 anos de experiência, com passagem pelas grandes emissoras de televisão do país, “o jornalismo comunitário sempre foi praticado, porém não de uma forma sistemática, mas sempre houve esse tipo de reportagem”. Marcello ainda diz que “jornalismo comunitário não é apenas falar dos problemas da comunidade. Todas as notícias que dizem respeito a uma
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comunidade são notícias comunitárias, por exemplo: projeto social, esportivo e cultural. [o jornalismo comunitário] Ficou muito associado com a questão da cobrança. A gente vive em um país que tem muitos problemas, muitas mazelas sociais, muita falta de atenção do poder público. Normalmente os moradores de bairros mais afastados sofrem com a falta de infraestrutura e o jornalismo comunitário tem esse papel de encurtar a distância entre o poder público e a população”. Dito isso, é muito relevante frisar a importância de veicular também os projetos positivos que as comunidades oferecem. Quando a mídia colabora com a exposição favorável desses projetos, traz para essas pessoas um sentimento de pertença. O sentimento de comunidade presente em um bairro residencial proporciona vários benefícios, quer a nível individual, quer a nível comunitário. Quanto maior for o sentimento de identidade e de pertença, maior será a capacitação comunitária, promovendo comunidades saudáveis e sustentáveis.
cobrança e resultado O jornalismo comunitário ajuda as organizações e instituições a identificar as necessidades e a estabelecer prioridades nas comunidades: avaliar a saúde, valorizar os bairros individualmente e a cidade como um todo, desenhar e avaliar intervenções sociais, mesmo que o resultado demore a chegar. “A cobrança do poder público e o resultado é o que mais angustia o jornal comunitário. Às vezes mostram o problema, cobram as autoridades e sabem que o resultado não virá rapidamente. Mas sabem que se existe uma forma de pressionar para que as coisas se resolvam, essa forma é o jornalismo comunitário.”, conta Rosa. Com essa cobrança através de um veículo tão poderoso como a tele-
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visão, foi possível obter inúmeras vitórias. Como foi a história do bairro São Caetano, localizado em Campo Grande, que já havia tentado algumas vezes cobrar o poder público sobre a ausência de asfalto, lugar esse que a prefeitura já havia deixado claro que não receberia pavimento asfáltico. Quando veiculado na televisão, o resultado foi comemorado por toda a comunidade: a prefeitura acabou asfaltando o bairro. Marcello ressalta também a importância de executar essas cobranças de forma educada e passiva: “Cobrar de forma educada e respeitosa uma solução. A gente quer que a autoridade veja que estamos tentando fazer nosso papel de forma positiva e respeitando as dificuldades que eventualmente o poder público tem. A gente não estipula prazo, a gente pede para que as autoridades determinem o prazo”. A tecnologia é a ferramenta fundamental para que tudo isso se torne ainda mais possível. A televisão, com imagens e sons, aproxima o público de todas essas problemáticas que envolvem a cidade. As pesquisas qualitativas que foram feitas “mostram que a população quer perceber que o jornalismo está com ela no dia a dia, que o repórter está no bairro, colocando o pé na lama, na poeira, que o repórter compreenda essas dificuldades que a população vive em sua rotina”, disse Marcello. É mostrado de forma íntegra todo o processo dessa aproximação física.
televisão é imagem Alexandre Cabral, um dos principais repórteres do jornalismo comunitário do município de Campo Grande, conta que desde cedo esteve envolvido com o ramo. O interesse veio logo na infância, durante a escola, onde a professora o incentivou a tomar a frente do “jornalzinho do colégio” e quando jovem cursou uma faculdade federal em Jornalismo.
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Cabral conta que sempre fez matérias mais diferenciadas, puxadas para o humor e bem-estar das pessoas, mesmo nos problemas mais graves, ele mantinha a serenidade. Isso porque, de certa forma, o humor traz a ironia como cobrança, gerando uma pressão maior ao poder público. Ao mesmo tempo em que se cria um vínculo com a população, tornando o jornal mais popular. Exemplo como esse, é o quadro “tereré do Cabral”, quando ele senta com os moradores para conversar sobre os problemas que aquele determinado bairro está sofrendo no momento, enquanto tomam a bebida típica do Estado. É o que o jornalismo comunitário na televisão mais procura: pessoas carismáticas, que abraçam o problema do povo com responsabilidade. Todas as reportagens começam a ser construídas na produção da emissora, que recebe sugestões dos moradores dos bairros que apresentam problemas. Nesse processo, é muito importante que seja feita uma apuração da gravidade de cada queixa, pois é preciso entender a dimensão que o problema atinge em nível comunitário. “Você tem que visualizar a reportagem no momento, o buraco na frente da sua casa parece ser o pior da cidade, ou que você mora na pior rua da cidade, e às vezes não é bem assim”. Conta Cabral. Depois da elaboração da pauta, o repórter vai para a rua e dá vida para a história apurada. As imagens ajudam muito a aproximar o público, e essa acaba sendo a ferramenta mais poderosa da televisão. “Televisão é imagem”, frase escrita pelo Boni, ex-diretor da emissora Globo, a qual Cabral se inspira para produzir suas matérias, fazendo sempre uma ligação da história com a imagem. Por conta dessa imensa propagação visual, o jornalismo comunitário se faz cada vez mais presente. As pessoas querem soluções e essas vozes precisam ser mostradas, ouvidas e cada vez mais elas contribuem
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para que isso seja possível. A tecnologia virou o olho do cidadão, tudo que ele vê, ele grava e envia para os veículos de comunicação. A televisão não está mais somente na sala, ela está na cozinha, na garagem, no quarto. A televisão aberta não vai terminar, ela vai evoluir para você poder assistir em qualquer lugar.
Repórter Alexandre Cabral (à direita) durante a gravação do quadro “Tereré com Cabral”. Crédito: G1-MS/ TV Morena
Pioneirismo Um dos pioneiros do jornalismo comunitário de uma forma sistemática no Mato Grosso do Sul foi Maurício Picarelli, que criou um programa em 1983. Ele foi âncora em uma televisão local e contava com a participação da população, que relatava os problemas nos bairros. É considerado o primeiro programa televisivo do Estado a trabalhar com o jornalismo comunitário.
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Picarelli conta que nos dias de hoje não existe mais a carência de programas destinados às comunidades. Pelo contrário, muitos programas já aderiram a esse estilo de jornalismo que tem como finalidade abordar os problemas frequentes nas ruas, terrenos baldios, entre outros. “A população tem que ter voz através do jornalismo comunitário e isso vem acontecendo, os veículos de comunicação estão tendo esse enfoque” ressalta Picarelli. Já atuando no jornalismo, Picarelli foi eleito deputado estadual em 1987 e conta como isso ajudou a solucionar ainda mais os problemas recorrentes do Estado. “Com o passar do tempo, nesses 35 anos, a gente vem tentando resolver o problema da população através do programa de televisão e levava a demanda até as autoridades para resolver os problemas dos moradores. Agora, com o canal direto com o governo do Estado, com certeza as coisas melhoraram muito”. A prática do jornalismo comunitário, além da obviedade em ajudar a população, ajuda também quem está atrás do microfone. Muitas das histórias contadas transformam a maneira do apresentador encarar a realidade. O contato próximo com a pessoa lesada torna ainda mais humana a ação. “O que nos marca sempre são os problemas das favelas, lembro que no decorrer da minha carreira de apresentador, um caso nos chocou muito, que foi no Mandela”. Na época os moradores perderam seus barracos, seus alimentos, perderam tudo por conta de uma tempestade. “Nós fizemos uma reportagem e também um apelo à população pela televisão e conseguimos arrecadar roupas, alimentos. Conseguimos madeiras, lonas, para doar para que os moradores pudessem, no mínimo, recomeçar a vida”, relata Picarelli. É quando o jornalismo transcende seu dever de expor as necessidades públicas para expor também as necessidades morais de pessoas que so-
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frem, fazendo com que a população ajude seu próprio povo, provando o esquecimento do poder público em momentos como esse.
televisão e o futuro Os programas de televisão que fazem o jornalismo comunitário são necessários, pois são os que mais dão voz para a população. Se não existisse o jornalismo comunitário, essas pessoas que sofrem com o descaso público seriam abandonadas. “O exercício de um olhar jornalístico mais para a margem social e quem está por lá, excluído e sem possibilidades, retratando a falência de um poder público que só funciona por pressão dos veículos de comunicação”, diz Oswaldo Ribeiro, doutor em comunicação. Há muitas evidências que provam como a televisão tem influência nas decisões dos órgãos administrativos, como citado por Oswaldo, muitas delas tomadas pela pressão. Por esse lado, a televisão se torna a aliada mais poderosa de uma população. Porém, a televisão tem dificuldade em manter um diálogo significativo entre o telespectador e o apresentador, tendo em vista que esse meio de comunicação, muitas vezes, precisa seguir uma programação já estipulada. Outro ponto a ser considerado, é a questão da velocidade com que as informações chegam até as pessoas através da internet. Muitas das vezes, quando o telespectador assiste as notícias na televisão, ele já tem algum conhecimento do fato. O que, de certa forma, não chega a ser um problema, mas mostra como seria importante o meio jornalístico investir em notícias instantâneas no decorrer das programações e expandir o espaço do jornal regional.
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CAPÍTULO 6
comunicAção comunitáriA nA intErnEt
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jornalismo na web é um dos mais recentes métodos do jornalismo para informar e manter contato direto com os leitores. Pode-se ob-
servar que, com a evolução dos meios da comunicação, hoje a Comunicação Social permite atingir um número maior de pessoas dentro de uma cidade, Estado ou país. Analisando o livro “Perfomance do Ciberjornalismo”, a obra trata desse estilo de jornalismo e afirma que a proposta do ciberjornalismo é formar jornalistas para trabalharem em ambientes on-line. O livro ainda relata que atuar em área virtual significa ao menos duas coisas: saber integrar o usuário ao processo de produção de notícia e identificar as novas funções dentro das redações. Atualmente, um jornalista não pode se restringir à sua atividade tradicional. Fora também que o cidadão, leitor ou amigo virtual podem ser excelentes fontes de informação.
o comunitário na Web É fato que o jornalismo comunitário não poderia ficar concentrado em apenas um ou dois veículos de comunicação diferentes. Isso porque, considerando-se a era digital, o século XXI trouxe muitas inovações tecnoló-
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gicas que permitiram uma comunicação mais ágil entre a população. Em Campo Grande existem muitos sites de origem jornalística que visam informar os habitantes sobre o que está acontecendo na cidade. O jornalismo na web, por meio da Internet, contribui para que os leitores se mantenham conectados ao veículo de comunicação, interajam com a notícia ou até se tornem fontes. Assim como o jornalismo comunitário nas rádios e televisões, o jornalismo comunitário nas mídias online também tem sua importância na sociedade. Vale lembrar que, atualmente, com a correria do dia a dia, são poucas as pessoas que têm tempo de assistir uma reportagem ou ouvir uma notícia na rádio. Contudo, apesar do pouco tempo, boa parte da população usa com frequências as redes sociais para se entreter. Com a adaptação do jornalismo na internet, as notícias aparecem para informar o consumidor.
o uso da internet e sua interatividade com o consumidor Existem sites que utilizam a interatividade com o internauta para produzir jornalismo comunitário. Em Campo Grande podemos citar o exemplo do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, que apesar de não ser um veículo destinado aos interesses comunitários, tem a sua versão online, que passou por mudanças, e foi reinaugurado como portal OE 10. O veículo de comunicação inovou ao criar um quadro chamado “Muchilink”, no qual o jornalista Mauro Silva percorre as ruas da cidade em uma moto, gravando vídeos para postar no portal do jornal. Imagens essas, filmadas nas comunidades da Capital, falando com moradores sobre os problemas que precisam ser resolvidos, e que antes disso devem ser di-
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vulgados para chegar ao conhecimento dos responsáveis, no caso, o poder público. Mauro formou-se em jornalismo em 2016, e apesar de estar apenas iniciando sua carreira jornalística no mercado de trabalho, ele contou como é a experiência de fazer vídeos voltados às comunidades, e a sua importância para manter a cidade da melhor forma possível. “Acredito que a principal importância deste trabalho é conhecer os principais pontos da cidade, pois não é qualquer pessoa que pega uma moto e vai dar uma volta para conhecer a sua própria cidade. Um dos pontos positivos desse jornalismo é conhecer os bairros. Vou sempre nos extremos da cidade para ver o que está acontecendo e também ver no que posso contribuir naquela região”, disse. Para o Muchilink, é interessante ter o contato com as histórias dos cidadãos. Mauro relata que, sempre quando pode, para nas ruas para conversar com alguém sobre algum problema. “Uma coisa que acho interessante é que, nas ruas, as mulheres são mais acessíveis para conversar que os homens”, contou. Referente ao estilo jornalismo comunitário, o jornalista responde que a ideia do quadro é dar voz ao povo. “Às vezes as pessoas de um bairro carente, como as favelas de Campo Grande, não têm ninguém que os representem e para quem possam reclamar sobre alguma situação. Eles não têm acesso ao governo ou a prefeitura, como nós da imprensa temos”, relatou Mauro Silva. “Damos voz ao povo, levamos essas reclamações da área da saúde, cultura, do bairro. Damos espaço para que essas pessoas falem. O jornalismo comunitário surge para dar voz às pessoas mais simples, porque as elitizadas têm acesso, conhecimento e sabem onde recorrer sobre seus direitos. Já o mais carente não tem esse conhecimento”, complementou o jornalista.
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Apesar de integrar uma equipe que produz notícias e informações para um portal na Internet, o veículo de comunicação inovou ao usar os vídeos para contribuir na produção de notícia. O jornalista Mauro Silva também explicou como funciona o “Muchilink” e os pontos positivos do quadro para o jornal e para a população campo-grandense. “Os vídeos trazem pontos positivos para a população, pois neles a gente mostra os bairros, o asfalto, lama, falta de saneamento básico, pontes sobre córregos que correm risco de cair. Nossa obrigação é cobrar da prefeitura melhorias para a nossa cidade”, destacou. De acordo com Mauro, os vídeos são voltados para mostrar as “coisas ruins” e divulgar através do site e das redes sociais o que precisa de melhorias. “Muitas pessoas vão olhar e entender que, apesar de a Capital ser maravilhosa, ainda precisa ser melhorada. A imprensa está aqui para ajudar as pessoas. Não é todo dia ou todos os veículos que dão a voz ao público e o deixam reclamar”, afirmou. Segundo o jornalista, o portal OE10, tem muitas visualizações, e com os vídeos do Muchilink os acessos aumentam. “Temos a opção de colocar o link dos vídeos no Facebook, já que hoje em dia, muitas pessoas, desde a mais simples até a mais elitizada, usam as redes sociais. Acredito que o Facebook leva as pessoas a acessarem o portal. Temos mais visualizações que o jornal impresso, muitas pessoas deixaram de se interessar ou de comprar um jornal para acessar a notícia pelo celular. Percebo que várias empresas de comunicação estão se inserindo no Facebook para buscar os internautas, e são esses internautas que, vendo nossos vídeos, vão identificando o que precisa ser melhorado nos bairros de Campo Grande. Acho importante ter esses vídeos no portal, e a relevância do jornalismo comunitário é estar dentro de uma comunidade, dar nome e voz ao povão. Somente eles sabem o drama no qual vivem”, concluiu o jornalista.
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jornalismo na internet e a criação dos sites O jornalista Humberto Marques criou no início de 2017 o site “Comunidade.MS”, no qual tem por objetivo publicar informações relevantes que acontecem ou tenham impacto nos bairros das regiões urbanas do Anhanduizinho e Lagoa, que abrangem cerca de 250 mil moradores de Campo Grande. Marques tem um extenso currículo na área da Comunicação e atua como jornalista profissional há 17 anos. Formado em 2000 pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), ele iniciou a carreira no Diário de Botucatu (SP) no mesmo ano, onde permaneceu por seis meses. Em junho daquele ano, já em Campo Grande, passou pela Revista Metrópole, portal Terras MS, Diário do Pantanal, Campo Grande News e Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul – onde permaneceu por oito anos, começando como repórter e chegando ao posto de editor-executivo. O jornalista ainda trabalhou em assessorias de comunicação neste período, nos sindicatos dos Bancários, Policiais Civis, Cabos e Soldados da Polícia Militar e Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e de Formação Profissional (Senalba), além de assessorar o ex-vereador Alex do PT. Com toda essa bagagem acumulada, no início deste ano, o jornalista resolveu criar um site. Humberto explica os motivos que o levou a montar um jornal online voltado às comunidades. “Sempre notei que havia uma quantidade muito grande de pautas nos bairros, mas, mesmo diante das facilidades criadas pela Internet, é praticamente impossível que um único veículo possa dar espaço a todas essas demandas. Seria necessário uma grande equipe e um espaço igualmente abrangente para veicular tais assuntos com o devido destaque”, disse.
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Como “pauta”, o jornalista não se refere apenas a assuntos de maior repercussão, que são bem explorados pelos veículos em geral. Conforme ele, trata-se de assuntos de interesse específico de uma fatia da população, com diferentes dimensões, desde um problema que atinja um setor específico de um bairro até algo que possa ter repercussão por toda uma região. Ou ainda, informações que são relevantes para apenas uma parte dessa mesma comunidade, como a eleição de uma associação de moradores ou uma ação social focada em apenas uma parte da cidade.
Jornal Online “Comunidade.MS”, produzido pelo jornalista Humberto Marques. Crédito: Reprodução/Comunidade.MS
- O foco principal do Comunidade.MS é cobrir pautas relevantes que ocorram ou tenham impacto nos bairros das regiões urbanas do Anhanduizinho e Lagoa - conta. Segundo Humberto Marques, há duas modalidades de cobertura. “Na edição online valorizamos os fatos de maior repercussão e engajamento, produzindo e repercutindo um noticiário variado que possa influenciar de
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alguma forma os moradores desses bairros”, disse. Marques ainda explicou que, por esse motivo, é extremamente comum divulgarem pautas na linha de prestação de serviço público, como informações de concursos ou processos seletivos, ou envolvendo ocorrências policiais, por conta do impacto e da maior necessidade de atenção por elas geradas, de forma a permitir acesso a essa informação sempre de forma direcionada. - Ouvimos a população e intermediamos o contato junto ao poder público para dar a devida satisfação aos moradores da localidade sobre a demanda em questão. Da mesma forma, em março, divulgamos os imbróglios envolvendo a pavimentação da região da Vila Vilma (Tijuca), que já deveria ter sido asfaltada há 20 anos. Ouvimos justificativas da prefeitura sobre o impasse, que revelou a perda de recursos federais para a obra ainda em 2012 - disse Marques. O jornalista diz que o Ministério Público investiga o fato, algo que não é possível atribuir apenas à reportagem.
jornalismo na web e sua interação com os leitores - Por ser um estilo de jornalismo mais interativo, a relação com os leitores é a mais aberta possível, seja por meio do contato direto de moradores para que nossa reportagem vá ao local e registre os problemas, ou de nosso próprio interesse de ir aos bairros e prospectar tanto dilemas enfrentados por moradores como fatos inusitados, personagens que mereçam destaque ou situações que valem a pena ser divulgadas - explicou Humberto Marques sobre a interação do site com os campo-grandenses. Para se ter um veículo de comunicação é preciso ser o mais acessível possível às fontes. Humberto relatou que o jornal “Comunidade.MS” mantém os canais de comunicação como WhatsApp e redes sociais para
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se comunicar com os seus leitores, prática essa que tem surtido o devido resultado. “Embora sejamos um veículo relativamente novo, com funcionamento em maior escala iniciado em março deste ano, temos obtido uma resposta positiva”, disse. Conforme os números do Google Analytics – um dos principais instrumentos de medição de audiência online –, entre 22 de julho e 21 de agosto deste ano, o jornal teve 53.884 visitantes únicos e 168.700 visualizações de página no site. Isso equivale a uma média de 1,8 mil acessos únicos diários. Vale lembrar que esse acesso, em boa parte, é resultado da inserção em redes sociais, onde as reportagens produzidas são todas divulgadas, já que o veículo ainda está em fase de consolidação de seu nome perante a sociedade. “Sou o único responsável pelo site e jornal, seja na produção e formatação de conteúdo como na área administrativa. O único serviço feito por terceiros envolve a contabilidade”, contou.
o jornalismo é, antes de mais nada, uma prestação de serviço à sociedade Questionado se existia uma parceria do veículo com o poder público, o jornalista respondeu: “Não. O que há é a relação comum entre redações de veículos de comunicação e as esferas da administração, por meio da divulgação de releases que possam trazer informações de relevância para os leitores ou respondendo às nossas demandas. Ocasionalmente somos incluídos no plano de mídia, quando há campanhas a serem divulgadas – em relação igual à mantida com os demais anunciantes”. Para finalizar, o jornalista explicou a importância do jornalismo comunitário em Campo Grande e relatou que um dos motivos que o levaram a criar o Comunidade.MS é a certeza de que o jornalismo é, antes de mais
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nada, uma prestação de serviço à sociedade. Seja por meio da conscientização sobre temas de relevância social, ou da necessidade de mobilizar a população sobre um fato que pode lhe impactar de alguma forma, é fundamental disseminar informações que possam manter a comunidade bem informada. - Essa afirmação se aplica a todo o veículo de comunicação, no entanto, no jornalismo comunitário, ganha dimensão extra, por tratar de temas que nem sempre teriam a devida visibilidade. Já que algo que seja interessante para um morador do Buriti ou do São Conrado talvez não tenha o mesmo impacto para a cidade como um todo ou a um bairro ou região mais distante, como no Nova Lima (região urbana do Segredo). Além disso, acredito piamente que essa modalidade do jornalismo pode ajudar na integração das pessoas, retirando barreiras que, curiosamente, se ampliaram com o avanço das tecnologias de comunicação - destacou. Marques explicou que, embora estejamos cada vez mais conectados ao mundo por meio de redes sociais, é cada vez mais comum vermos o aumento do interesse ou do conhecimento acerca de um acontecimento a quilômetros de distância, em detrimento de algo que ocorre a poucos metros de nossas casas, como o bloqueio de uma rua ou o aumento da criminalidade na vizinhança. Para ele, a facilidade na divulgação de informações também permitiu que o filtro dos leitores ficasse direcionado quase que completamente para temas que são de seu interesse primário –música, entretenimento, política nacional ou regional ou outras questões –, deixando outras coisas, mesmo dentro de seu cotidiano, quase que invisíveis. “Esse também é um papel do jornalismo que, infelizmente, nem sempre vemos ser plenamente exercido. Aí está o espaço o qual o Comunidade.MS pretende abordar”, frisou o jornalista.
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A influência do jornalismo comunitário na web Após os relatos dos jornalistas Humberto Marques e Mauro Silva citados acima, é possível perceber que a Internet permite alcançar diferentes públicos e também ficar mais próximos à população. Vale reforçar que um leitor ou um internauta podem ser uma excelente fonte de informação, e para o jornalismo, uma fonte com informação e confiável é tudo. Lembrando que o jornalismo comunitário é um estilo de jornalismo que vem ganhando espaço em Campo Grande, e seu desempenho é fundamental para aqueles que moram na cidade. Com o jornalismo comunitário na Internet, a possibilidade de alcance aumenta cada vez mais, já que atualmente, estamos na era digital e a maioria da população tem um celular e acesso a Internet, seja por plano no celular, ou por Wi-Fi. Em setembro de 2016, uma pesquisa que mede a posse, uso, acesso e hábitos da população brasileira em relação à tecnologia de informação e de comunicação revelou que 58% da população brasileira usam a Internet - o que representa 102 milhões de internautas. O estudo foi realizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Foram realizadas entrevistas pessoais com abordagem face-a-face em 23.465 domicílios em todo o território nacional, entre novembro de 2015 e junho de 2016. A pesquisa reforça a tese de que o jornalismo comunitário na Internet consegue alcançar boa parte da população brasileira, consequentemente a campo-grandense. As informações, de certa forma, acabam influenciando a vida das pessoas.
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rádio web Outra versão que também tem chamado atenção de muitas pessoas pela sua interatividade são as rádios web. Esse estilo de rádio é diferente de uma rádio comum, pois basta a Internet para funcionar, e não mais equipamentos como antena, estúdio, entre outros, que uma rádio normal deve ter para conseguir transmitir suas programações. Entretanto, assim como os outros veículos de comunicação, a rádio web também pode ser comunitária. Para falar melhor a respeito do assunto, o acadêmico de jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp) de Campo Grande, Paulo Cesar, conta que criou uma rádio na web, cujo nome é “Rádio Filadélfia 106”, e apesar de não ser voltado a uma determinada comunidade da Capital, ele consegue uma interação com os internautas e ainda contribui na prestação de serviços nas comunidades. “Ela é do seguimento gospel e funciona através de um servidor 24 horas por dia. Ela tem um aplicativo, só que não renovei, e por isso as programações da rádio não estão funcionando. Contudo, o site está funcionando, e nele os ouvintes deixam recado, solicitam ajuda”, diz. Paulo Cesar atuou por oito anos em uma rádio comunitária voltada às comunidades da região norte de Campo Grande. Após a aprovação da lei que determina às rádios comunitárias do Brasil operar em baixa potência, a um máximo de 25 watts ERP e altura do sistema irradiante não superior a 30 metros, teve de deixar o rádio comunitário, já que seu alcance ia muito além do permitido. A nova lei e o amor pela profissão levaram Paulo a buscar recursos na Internet para continuar atuando como radialista na Capital. Pensando nisso, Paulo Cesar resolveu criar uma rádio web, com o mesmo nome da antiga, porém, a programação desta seria voltada ao mundo gospel.
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Fieis ao apresentador, muitos ouvintes começaram a acessar o site e ouvir as músicas, mas como Paulo Cesar vinha de um segmento de rádio comunitário, as informações e solicitações das comunidades voltaram a acontecer. Na página da rádio na web existe a opção de recados, e por ela, Paulo recebia informações e ajudava na divulgação, principalmente, dos problemas da comunidade. “Na página tem uma opção de recado e por lá as pessoas deixam seus recados e participações. Com isso vou interagindo com o ouvinte de qualquer lugar. Por ser pela Internet, não precisei de autorização para funcionar e também não tive dificuldade de ter a interação do ouvinte no site, porque a rádio funcionou durante oito anos como comunitária, em um canal aberto rádio tradicional”, lembrou.
migração para a internet De acordo com ele, em 2003 aconteceu a migração para a plataforma online. ”A rádio já tinha um público-alvo e com isso facilitou bastante a interação”, disse. Questionado sobre as possibilidades de voltar a programação às comunidades de Campo Grande, Paulo Cesar relata que tem interesse. “Gostaria, mas para fazer isso precisa de uma equipe, contratar funcionários. No rádio web, eu sempre fiz isso, dentro das possibilidades, algumas ações comunitárias através da Internet”, contou. Para Paulo, a vantagem de atuar na web em comparação a trabalhar uma rádio tradicional é que pela Internet tudo é programado. O acadêmico de jornalismo ainda relevou que os acessos mensais da rádio são de 4 a 5 mil visualizações e ainda fala sobre as solicitações atendidas. “Lembro que quando divulgava os problemas das comunidades, eles eram resolvidos. As ações solicitadas nos órgãos públicos foram atendidas através da rádio web”, contou.
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Questionado sobre a relevância da rádio web, Paulo diz: “A importância do rádio na web é muito grande, porém, no Brasil deixa a desejar, pois temos muita dificuldade de termos internet, em razão de ter um custo muito alto. Mas a importância é que as pessoas podem interagir, ouvir música e participar através da rádio web. Isso facilita por ser um aplicativo no celular. Essa é a grande importância, na minha avaliação”, concluiu. As rádios web também vêm ganhando espaço na comunicação, e assim como os outros veículos de comunicação que temos atualmente, ela também pode contribuir com a sociedade na prestação de serviços, já que hoje em dia, o Brasil está no quarto lugar no ranking mundial de usuários de internet, segundo um relatório sobre economia digital divulgada em 2017 pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) e também pela Revista Exame. De acordo com os dados, no país existem 120 milhões de pessoas conectadas. Conforme a revista Exame, o Brasil ficou atrás apenas dos Estados Unidos (242 milhões), Índia (333 milhões) e China (705 milhões).
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CAPÍTULO 7
A comunidAdE
É
preciso definir antes de tudo o que vem a ser comunidade. Segundo o dicionário Aurélio, é a qualidade daquilo que é comum; agremiação;
comuna, sociedade; identidade, paridade, conformidade; lugar onde vivem indivíduos agremiados. Avaliando a definição e após as várias explicações sobre a importância do jornalismo comunitário para Campo Grande, nes-
te capítulo serão abordados os problemas que foram solucionados nas comunidades após uma “ajudinha” da imprensa. Também vamos verificar as formas de fazer jornalismo comunitário na Capital. Os exemplos a seguir trazem fatos de vários bairros da cidade, desde a poda de árvore no bairro Portal Caiobá até uma ponte no Jardim Carioca que estava em péssimas condições e foi levada com a enxurrada, após uma chuva forte.
A escuridão paga, do jardim teruel ii Moradores viviam um dilema no bairro Jardim Teruel II, em Campo Grande. Eles ficavam inconformados com a cobrança da taxa de iluminação pública, mas esse serviço não funcionava. O bairro é um dos mais carentes da Capital sul-mato-grossense. É pequeno, onde moram cerca de duas mil pessoas que foram removidas de uma favela. Fica próximo de um presídio e ao lado de um aterro sanitário.
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Roni Leão é o presidente da associação de moradores do bairro e fez várias reclamações para a prefeitura. A reclamação não era pelo valor descontado na conta de luz, mas sim pela falta de iluminação nas ruas do bairro. “A gente não se importa de pagar, contanto que tenha iluminação. As pessoas precisam se sentir seguras quando saem para o trabalho, ou quando levam as crianças na creche pela manhã, ainda de madrugada”, contou Roni. São cerca de 50 postes que vivem às escuras e apenas um que acende à noite. A reclamação é pertinente. Muitos moradores saem de casa ainda de madrugada para pegar ônibus e ir para o trabalho, ou levando crianças para a escola.
Ajuda da imprensa para chamar atenção do poder público O medo fazia parte da rotina dessas pessoas. A insegurança era grande, e as crianças tinham medo de ir para a escola. A prefeitura não tomava nenhuma providência, e os moradores resolveram ligar para a imprensa. O presidente da associação de moradores pegou o telefone e ligou para os veículos de comunicação. Não demorou muito para que as equipes de reportagem aparecessem. Dois canais de televisão fizeram matérias com os moradores em uma segunda-feira, exibiram as reportagens na terça-feira contando as reclamações da comunidade, e na quarta-feira os moradores tiveram uma surpresa positiva: a prefeitura disponibilizou uma equipe para resolução do problema dos postes. Mais uma missão do jornalismo comunitário concluída com sucesso. A comunidade do Jardim Teruel II e o presidente da associação de moradores agradeceram imensamente. “O jornalismo ajuda a mostrar os proble-
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mas para o poder público, que atende nossos pedidos com mais rapidez”, disse Roni.
temporal no josé teruel ii Um temporal destruiu as casas improvisadas pelos moradores do José Teruel II, em abril de 2017. A forte chuva provocou estragos e deixou diversas famílias na comunidade em situação de desespero. Os barracos, como são chamadas pelos próprios moradores, são casas mal construídas, feitas sem planejamento. As paredes são de tábuas de madeira, e muitas casas são cobertas com lonas. Os moradores vivem nessas casas improvisadas porque, em 2016, a prefeitura desapropriou a favela Cidade de Deus. A comunidade foi remanejada para outras áreas de Campo Grande, com a promessa de que teriam a tão sonhada casa própria. Um ano depois, as obras estavam ina-
Construções precárias na antiga favela Cidade de Deus. Crédito: G1-MS / TV Morena
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cabadas e se deteriorando com o tempo. Enquanto isso, as 96 famílias do José Teruel II passavam por dificuldades com as moradias precárias. É sempre um desespero quando a previsão do tempo indicava chuva. “Basta uma nuvem no céu para o medo voltar a preocupar a comunidade”, relatou Roni Leão. Isso porque uma chuva havia acabado com os barracos, deixando muitos moradores sem nada. As rajadas de vento foram muito fortes e deixaram rastros de destruição. Diversos barracos foram abaixo. “É difícil morar nessas casas improvisadas, alagam toda vez que chove”, completou Roni. A chuva não foi problema do poder público, mas a promessa de uma casa nova, sim. Os moradores clamaram por ajuda urgente dos órgãos públicos, pois não aguentavam mais a situação. Parte do problema foi resolvido quando as reportagens foram veiculadas nos meios de comunicação de Campo Grande. Chamaram a atenção da prefeitura, que enviou assistentes sociais para a comunidade. As equipes levantaram os danos causados pela tempestade. Com o levantamento feito, foram encaminhados os maquinários que fizeram reparos no bairro e solucionaram o problema do alagamento. Contudo, isso não tirou a incerteza de que uma nova tempestade pudesse acabar com as casas da comunidade outra vez.
oportunidade para a comunidade Não só de notícias ruins vive o jornalismo comunitário. Há o exemplo da oportunidade oferecida pela Funsat (Fundação Social do Trabalho de Campo Grande). Foram ofertadas vagas de cursos que qualificaram 160 moradores da antiga favela Cidade de Deus, por meio de um programa de inclusão profissional (Proinc) nos bairros Teruel II, Bom Retiro, Canguru e Vespasiano Martins. Por meio dos cursos, os moradores puderam
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construir suas próprias casas. Os cursos oferecidos foram: eletricista, pedreiro, pintor, encanador, servente de pedreiro, carpinteiro e azulejista. Os cursos tiveram duração de 60 dias, entre aulas teóricas e práticas. O presidente da associação de moradores do Jardim Teruel II ressaltou que a maioria das pessoas estavam desempregadas quando o curso foi oferecido. A única fonte de renda da comunidade era o dinheiro arrecadado com a venda dos materiais recicláveis, recolhidos no lixão. Com a comunidade sem trabalho, até o comércio fechou as portas, pois não havia dinheiro circulando no bairro. Ao todo 327 famílias foram beneficiadas nas quatro regiões. A aquisição de materiais e equipamentos foi feita pelo governo do Estado. O orçamento inicial é de R$ 5 milhões. Além da capacitação gratuita, os moradores receberam bolsa-auxílio, salário mínimo, cesta básica, refeição e vale-transporte durante todo o curso. Roni Leão avaliou a iniciativa como positiva. “A proposta desse curso foi benéfica, já que solucionou tanto o problema da habitação, das famílias que estavam muito vulneráveis, quanto da geração de emprego e renda”. Com a qualificação do moradores, a economia do bairro foi estimulada.
obras no Bairro são caetano Os moradores do bairro São Caetano, em Campo Grande, enfrentavam problema semelhante com a chuva. A situação ficava crítica quando tinha temporal. A comunidade era obrigada a conviver com muita lama nas ruas do bairro. Os carros não conseguiam sair da garagem, as motocicletas tinha dificuldade de passar e muitos motociclistas caíam, tentando se aventurar no meio da lama. As condições eram difíceis até para andar a pé. Era um problema todo santo dia.
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Os moradores que estavam fora não estavam dentro no bairro, e quem estava dentro, não saía. Era uma verdadeira ilha esquecida. Os motociclistas da comunidade eram obrigados a deixar as motocicletas na mercearia da esquina e levavam sempre dois pares de calçados para não chegarem ao trabalho com o calçado sujo de lama. Essa situação prejudicava até as construções de casas no bairro, pois o material não chegava para as obras. Os veículos atolavam antes mesmo de chegar ao destino. Era uma verdadeira lagoa. Os carros viviam sujos de lama ou poeira. A rua não tinha boca de lobo, as calçadas ficavam sujas de barro, e quem tentasse passar, afundava o pé. Quando o carro não atolava, era um verdadeiro perigo para entrar em casa, pois com a lama escorregadia, o carro patinava, saia de lado e batia nos portões das garagens. A obra viária era um verdadeiro jogo de empurra-empurra entre a prefeitura e a concessionária de água e esgoto da cidade. Os moradores queriam logo uma previsão para concluir a obra, pois o transtorno era enorme, visto que não recebiam nem visitas em casa, não conseguiam pedir remédio para a farmácia entregar, o entregador de pizza não chegava, o caminhão de lixo não conseguia entrar para realizar a coleta. A população exigiu uma resposta, afinal eles pagam impostos e têm o direito de uma infraestrutura adequada. A comunidade queria que as obras terminassem o mais rápido possível, pois não aguentavam mais os transtornos. Através do jornalismo comunitário, esse prazo foi dado e o cascalhamento nas ruas de terra começou. Diante disso, o ambiente no bairro ficou bem melhor, visto que os carros não atolavam mais, e dava para se locomover com tranquilidade. Lidiane Apolinário, moradora do bairro São Caetano, destacou a importância de cobrar, de enviar vídeos para os veículos de comunicação, e de a população ficar de olho nas promessas. O asfalto chegou, foram
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realizadas obras de esgoto e drenagem, e os moradores viram um sonho ser realizado. “O trabalho do jornalismo comunitário é muito importante para população, pois já não sabíamos mais a quem recorrer. Já tínhamos entrado em contato com os órgãos responsáveis e nada foi resolvido”. Foram 16 anos para que o asfalto virasse realidade. Isso mudou a vida dos moradores. E tudo isso graças à união da comunidade.
Acima: rua coberta de lama no bairro São Caetano. Crédito: G1-MS/TV Morena. Abaixo: nova rua que proporcionou melhor mobilidade para a população. Crédito: Lidiane Apolinário
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corte de uma árvore no bairro Portal caiobá Uma árvore virou uma dor de cabeça aos moradores. Foram feitos vários pedidos de corte, por causa de uma rachadura na árvore, muito alta e com perigo de cair. A remoção foi recomendada por técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Marcelo Cândido e a família moram no Bairro Portal Caiobá há quase dez anos, mas por algum tempo moraram em endereços diferentes porque uma árvore muito alta, localizada no terreno que fica ao lado da residência deles, na rua Flora, estava condenada e poderia cair a qualquer momento. A árvore incomodava a família havia mais de dois anos, principalmente nos dias de chuva e vento forte. “Durante esse tempo, quando o tempo mudava para chuva, corríamos para a casa de minha mãe”, relatou. Marcelo ficava na casa, para evitar que o local fosse invadido, enquanto a esposa dele e os três filhos ficavam na casa da Maria Aparecida, avó das crianças. A família viveu um drama com essa divisão. Marcelo chegou a protocolar um oficio na prefeitura, pedindo a retirada da árvore, mas o pedido não foi atendido durante um ano. Isso mudou com a chegada da imprensa. Após a reportagem exibida em um telejornal, com pedido de ajuda do Marcelo para o corte da árvore, o poder público atendeu a solicitação e enviou equipes para realizar o procedimento. Fez parte dessa operação o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil, técnicos da prefeitura e da concessionária de energia elétrica, que foram acionados para desligar a rede de alta tensão. A rua precisou ser interditada. Os moradores que já não dormiam em casa, com medo de a árvore cair, agora estão aliviados.
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Acima: corte da árvore que assustava moradores no Portal Caiobá. Abaixo: árvore cortada para alívio da comunidade. Créditos: G1-MS / TV Morena
Ponte no jardim carioca O maior problema do bairro Jardim Carioca era uma ponte de madeira, frágil e perigosa, que ligava a localidade ao polo industrial, ao posto de saúde, às escolas e ao comércio em geral. Depois de uma chuva a situação piorou: a ponte foi arrastada pela enxurrada, e os moradores só conseguiam passar por dentro do córrego. Os moradores relataram que perderam bicicletas e motocicletas, ar-
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rastadas pela correnteza. O único lugar de acesso ao bairro era essa pinguela. Todos reclamavam, mas nada era feito pelo poder público. Diante da situação, os moradores arregaçaram as mangas e resolveram fazer uma nova pinguela. Depois de o jornalismo comunitário entrar em ação e acompanhar de perto os pedidos dos moradores, ao longo de três anos, a comunidade finalmente foi atendida. Os moradores agora comemoram a acessibilidade com a nova ponte que foi feita, toda de aço e concreto, colorida, com 1,5 metro de largura e guardas reforçadas, por onde moradores podem
Acima: pinguela por onde passavam moradores do Jardim Carioca. Abaixo: nova ponte construída pela prefeitura no bairro. Créditos: G1-MS / TV Morena
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passar com tranquilidade. Junto com ela vieram a dignidade e o direito dos moradores de irem e virem. A moradora Miriam de Souza foi uma das responsáveis que batalhou pela construção da ponte. “Temos que comemorar juntos, o mérito não é só meu, todos têm uma participação”, diz. A prefeitura investiu R$ 97.982,00 na ponte, que resolveu o problema diário de 5 mil pessoas que vivem no bairro. Antes, elas faziam uma verdadeira maratona todos os dias para se deslocar. Nesse caso podemos mostrar claramente a união das pessoas, para nunca desistirem de lutar por melhores condições para sua comunidade.
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CAPÍTULO 8
comunicAção x PolíticA x comunidAdE
Q
uando se fala em veículo de comunicação, mídia, jornalismo comunitário ou mesmo a Comunicação Comunitária, muitos se lembram da
influência de meio/imprensa para a efetivação de um mandato político. O assunto é delicado, já que são visões e análises diferentes de cada indi-
víduo. O intuito do trabalho é fazer o leitor refletir sobre a importância da comunicação e do jornalismo comunitário em Campo Grande. Contudo, como o tema tem a sua relevância, principalmente no desenvolvimento dos bairros e da cidade, não poderíamos deixar de citar a influência da política na imprensa. Como explicamos no início, a Comunicação Social, o Jornalismo e principalmente o estilo “jornalismo comunitário” são importantes para a evolução de uma determinada região. Entretanto, nos dias atuais, devido ao alcance dos veículos de comunicação, alguns políticos utilizam esse meio para se eleger ou continuar exercendo o mandato parlamentar. Em Campo Grande, há exemplos de políticos que assumiram cargos públicos de vereador, prefeito ou deputado por conta da sua história e atuação na mídia. Neste capítulo, os entrevistados apresentarão seu ponto de vista sobre o tema. Mas antes de iniciar as análises, vale voltar ao passado e lembrar o que aconteceu na Alemanha entre 1934 e 1945.
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Na época, o ditador Adolf Hitler estava à frente do governo alemão. Para convencer o “eleitorado” das suas “boas intenções”, ele utilizou-se da imprensa para alcançar seus objetivos e espalhar suas ideologias. As propagandas que idolatravam sua personalidade e faziam idealizações nos veículos de comunicação contribuíram para o aumento da sua popularidade. O resto da história, acreditamos que muitos já sabem. Todavia, não vamos nos aprofundar nesse assunto, pois ainda há muita coisa para ser discutida. Outra situação que também permite analisar a influência da mídia em relação à política e a sociedade está presente no filme “Terra em transe”, lançado em maio de 1967 e dirigido por Glauber Rocha. A trama revela que o cenário de Eldorado passa por mudanças políticas, e um homem chamado Felipe Vieira candidata-se ao cargo de governador do Estado. Vieira conta com o apoio de um jornalista chamado Paulo Martins. No filme, é possível perceber o envolvimento da imprensa com o político e seu envolvimento com a população. Comparando a história fictícia com a vida real, percebe-se que, apesar de a obra ter sido lançada na década de 1960, pouca coisa mudou desde o seu lançamento. Alguns políticos ainda usam a influência da mídia a seu favor. A imprensa, por sua vez, continua sendo o meio mais oportuno para eleger um determinado candidato ao cargo público, pois a mídia continua sendo a melhor forma de um político espalhar suas ideias e se aproximar da população. Querendo ou não, a imprensa tem o seu poder de influenciar a população, que em sua maioria não tem muito estudo, devido à falta de investimento na educação. A situação também pode servir como estratégia para deixar o cidadão ainda mais vulnerável à política e à politicagem. A crise econômica também afeta diretamente os veículos de comunicação, que de certa forma permitem que a politicagem aconteça. Com a
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população brasileira passando por dificuldades financeiras e muitas empresas tendo que fazer corte de gastos, apenas os políticos - que não enfrentam crise - conseguem pagar para divulgar algo de seu interesse. É importante frisar que a educação, a economia e outros aspectos da sociedade dependem da política, e que a política precisa da imprensa para realizar a divulgação de seus atos. A mídia por sua vez, necessita da população, pois sem consumidor não há produto. É um ciclo vicioso que deve ser melhor cuidado e trabalhado.
Visão política e jornalística Voltando ao assunto da mídia, política e a sua influência nas comunidades em Campo Grande, alguns profissionais do jornalismo e também políticos comentaram sobre o tema. O assunto mostra várias opiniões, que podem agradar ou desagradar o leitor. Iniciamos com o radialista e professor do curso de Jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), Clayton Sales, que revela seu ponto de vista a respeito da influência da mídia em relação à política e ao mandato parlamentar. - Quando você se aproxima da população através da mídia, não sejamos ingênuos, muita gente acha que influencia, e isso acontece. Não apenas no jornalismo comunitário, como em todas as outras áreas da comunicação. Isso ocorre quando a pessoa trabalha em um espaço que permite um contato maior com a população. Um exemplo disso é o Bernal [Alcides Bernal, ex-prefeito de Campo Grande], que é radialista, tinha um programa no rádio, e apesar de não ser jornalístico, estava em contato com o povo. Com isso, foi angariando fãs, que se tornaram eleitores e mais tarde o elegeram prefeito da cidade - lembrou o radialista.
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Para Clayton Sales, não há problema em atuar na mídia e posteriormente se eleger para um cargo público. “É problema quando o político usa o veículo de comunicação para se promover. Muita gente aproveita desse meio. Sou contra político, no mandato, ter programa na mídia. Penso que essas pessoas deveriam estar fora de qualquer meio de comunicação, mas o TRE [Tribunal Regional Eleitoral] não enxerga dessa forma. Acredito que uma eleição justa é feita pelo equilíbrio, porque o político vai ter a oportunidade de aparecer na mídia no período de campanha”, afirmou. Em contrapartida, o atual vereador da Capital, Cazuza, declara que a Comunicação Social, através do rádio, é importante para a sua atuação na Câmara Municipal. “É essencial. A Comunicação Social é de suma importância para o meu mandato parlamentar, pois o papel do vereador não é apenas cobrar melhorias para a população e sim, as necessidades, muitas vezes, de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade. As pessoas são a prioridade do nosso trabalho. Além disso, acredito que com a Comunicação Social o mandato se torna transparente, porque a comunicação é uma via de mão dupla, e isso é fundamental para o cumprimento de um mandato, para a participação na política”, relatou. Cazuza está em seu segundo mandato parlamentar na Casa de Leis de Campo Grande. O vereador descreveu seu programa na rádio: “Classifico como uma mistura do informativo com o comunitário, o entretenimento, a música e prêmios aos ouvintes. Meu programa tem esse formato para que haja uma maior interação com a população”, contou. Conforme o parlamentar, os ouvintes ligam para o programa e solicitam melhorias. “Isso é o elo entre as partes informativa e comunitária do programa. Um leque onde, além de ouvir, de ser uma linha direta, há uma integração, uma proximidade com o mandato e vice-versa. As redes sociais também contribuem com essa interação”, afirmou.
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Questionado sobre o funcionamento do programa em época de campanha eleitoral, ele informou que fica fora do ar, já que pela legislação vigente é necessário o afastamento do programa nesse período. Sobre a relação do veículo de comunicação com o seu mandato na Câmara Municipal, Cazuza afirma que é essencial. “Pelo fato de termos contato direto com o ouvinte e por meio deste, o conhecimento das necessidades dos bairros, da população”, disse. Quem rebate esse argumento é o mestre em Ciências da Informação e doutor em Educação, Oswaldo Ribeiro. Ele afirma que, quando o jornalista/comunicador contribui para melhorar as relações políticas e ajudar de maneira efetiva a comunidade, não há problema. “O problema é utilizar da sua condição provisória de apresentador, repórter, comentarista, entre outros, apenas com interesses políticos, para ser eleito. O jornalismo/comunicação feito na comunidade, em alguns casos, infelizmente é utilizado com este fim”, declarou. Já o deputado estadual Maurício Picarelli, citado no capítulo 5, defende que o veículo de comunicação contribui para o seu trabalho na Assembleia Legislativa. Vale lembrar que Picarelli vem da televisão, onde continua atuando como apresentador desde a década de 1980, antes de se tornar político. “Tentamos resolver o problema da população através do programa de televisão. Buscamos levar a demanda até as autoridades para resolver os problemas dos moradores”, afirmou.
mídia e a influência da comunicação comunitária O jornalista Marcos Anelo, que apresenta um programa jornalístico no canal de TV SBT MS, acredita que a mídia contribui, mas não influencia a
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comunidade a votar no candidato político que atua em determinado veículo de comunicação. Segundo ele, se não há nenhum impedimento na Legislação, não há problema em um político trabalhar na mídia. “Acredito que independentemente de ser político ou não, se não tem impedimento, a pessoa tem o direito de exercer o que ela quiser. Não sei dizer se ele consegue manter o seu cargo político por conta do veículo de comunicação, e se fosse assim, muitos políticos que estão na mídia há décadas continuariam em cargos públicos, mas não é bem assim que funciona”, disse. Anelo ainda lembrou fatos que aconteceram nas últimas eleições na Capital. “Alguns candidatos se elegeram com o mínimo de votos, e parte deles tinha programas na mídia. Não creio que o veículo de comunicação vai sustentar o cargo de um político. Muita gente questiona se, por conta de eu estar no rádio comunitário, vou me candidatar à política. Isso nem passou pela minha cabeça, estou na área porque gosto e também por ser uma experiência nova. Não tenho intenção em usar esse fato como um fator político”, declarou Anelo. Com base nas informações dos entrevistados, é possível notar as possibilidades da influência da mídia e do comportamento da comunidade perante as campanhas eleitorais. Como havíamos explicado anteriormente, a proposta da obra é fazer com que os leitores reflitam sobre a importância da Comunicação Comunitária em Campo Grande por meio dos veículos de comunicação. As opiniões acima são de pessoas diretamente ligadas à Comunicação Comunitária, ao jornalismo e à política na Capital. O fato é que Campo Grande precisa da Comunicação Comunitária para continuar se desenvolvendo, e a mídia pode contribuir para que isso aconteça.
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conclusão
C
om as entrevistas realizadas durante todo o trabalho, concluímos que as Comunicações Comunitárias, bem como o Jornalismo Comunitário,
são de extrema importância para Campo Grande, pois segundo as fontes do capítulo 3 ao 8, esse estilo de comunicação permite ouvir a população e contribuir para a prestação de serviços nas comunidades da Capital. No decorrer do projeto, analisamos que existem dois tipos de Comunicação Comunitária, sendo elas: a comunicação comunitária realizada pelos jornalistas, no padrão de jornalismo comunitário, e a comunicação comunitária feita pela e para a comunidade. Vale lembrar que o objetivo do projeto é fazer o leitor refletir sobre a importância da Comunicação Comunitária na Capital sul-mato-grossense. A ideia, desde o início, era mostrar as formas de realização da Comunicação Comunitária nos veículos de imprensa local. Para dar mais ênfase ao livro-reportagem, decidimos começar a história falando sobre a importância da Comunicação Social e lembrando fatos que marcaram a comunicação nacional e internacional. Logo no primeiro capítulo, utilizamos dois historiadores que relataram a importância da Comunicação Social. Nos capítulos que abordam os veículos de imprensa e seus meios de Comunicação Comunitária, é possível perceber a funcionalidade de cada mídia. Os profissionais de cada área explicam a importância desse trabalho para as comunidades da Capital.
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Cada veículo de comunicação descrito no trabalho revela a sua influência nas comunidades e no município de Campo Grande. No capítulo que apresenta a Comunicação Comunitária na televisão, por exemplo, essa mídia costuma ser mais eficiente por conta da mistura da imagem com os depoimentos e vídeos produzidos pelos próprios moradores, que normalmente são divulgados durante o programa. Com isso, a cobrança sobre o poder público é maior, já que muitos telespectadores, inclusive os próprios executivos e parlamentes, estarão assistindo e serão cobrados por melhorias. Apesar da influência da televisão, percebemos que a Comunicação Comunitária realizada pelas rádios também tem sua relevância, pois permite uma maior interatividade com os moradores de Campo Grande. Um detalhe percebido no capítulo relacionado aos veículos de comunicação impressos é que a Comunicação Comunitária feita por essa mídia tem mais a finalidade de informar os moradores e fazer publicidade do comércio local, com o intuito de impulsionar a atividade econômica da região e promover o conhecimento e a socialização das pessoas que mora na comunidade. O exemplo vem do gestor social do Instituto de Desenvolvimento Evangélico, Enéas de Andrade Barbosa. O jornal impresso criado pelo jornalista Humberto Marques segue no mesmo rumo, contudo, por ele ter uma formação acadêmica e consequentemente mais conhecimento da área do jornalismo comunitário, o “Comunidade.MS” consegue, por meio das notícias, cobrar mais e até levar o problema ao conhecimento de quem realmente pode solucionar a questão. Isso é possível devido ao seu conhecimento e sua atuação na área jornalística. Já a Comunicação Comunitária realizada pelos meios de comunicação online consegue um alcançar muito mais pessoas que até mesmo uma rádio, televisão ou jornal impresso, pois hoje em dia, boa parte dos moradores da Capital tem um celular com Internet, e mesmo nas redes sociais
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conseguem ficar a par do que acontece em qualquer lugar da cidade. No decorrer no projeto sentimos a necessidade de acrescentar mais um capítulo ao livro, esse voltado à influência da comunicação na política. Isso ocorreu porque, no desenvolver do trabalho, percebemos que em cada veículo de comunicação havia um parlamentar envolvido de forma direta ou indireta. O intuito da pesquisa é falar sobre a importância da Comunicação Comunitária e a influência do jornalismo comunitário na efetividade da comunicação. Analisamos ainda que esse estilo de comunicação permite ainda o desenvolvimento das comunidades e também de Campo Grande. Para mostrar a relevância do assunto, o capítulo 7 releva histórias que foram transformadas por meio da influência da Comunicação Comunitária e do jornalismo. Nessa parte do livro-reportagem, mostramos os tipos de problemas e como eles foram resolvidos com a ajuda da imprensa.
missão cumprida Todas essas histórias revelam a certeza de que quem está sendo beneficiado pela Comunicação Comunitária são os moradores, pois os veículos de comunicação estão querendo, cada vez mais, mostrar os problemas dos moradores. Essa é a função social do jornalismo, e o que realmente importa é que os moradores, sendo beneficiados, estão tendo voz e conquistando um lugar melhor para viver. O jornalismo comunitário não é a salvação da pátria, mas sim uma missão. Cada sorriso de um morador que teve o seu problema solucionado indica que um trabalho sério está sendo feito. Uma comunicação séria, com certeza, será instrumento para as comunidades se sentirem mais valorizadas. Estas terão a oportunidade de viver em um mundo melhor.
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