Hoje Macau 22 FEVEREIRO 2023 #5195

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Bruscamente no Verão passado

Insuficiências e contradições na aplicação das medidas de prevenção, estiveram na origem dos inúmeros problemas detectados durante o surto de covid-19 de Junho do ano passado. As conclusões são de um estudo da revista Administração sobre os dados da pandemia no último Verão.

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GRANDE PLANO
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WYNN PALACE RICO VINHO EVENTOS
JOGO RECUPERAR AS MASSAS ENCONTRO DURÃO DE PASSAGEM
E A
DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 QUARTA-FEIRA 22 DE FEVEREIRO DE 2023 • ANO XXI • Nº5195
hojemacau MÊNCIO, XUNZI
TRADIÇÃO CONFUCIONISTA Maurizio Scarpari

COVID-19 ESTUDO ENUMERA “PROBLEMAS” E “CONTRADIÇÕES” NO SURTO DE JUNHO

O que ficou por fazer

entre as medidas de prevenção adoptadas” são alguns dos problemas verificados no surto de covid-19 de Junho de 2022 enumerados num estudo publicado na última edição da revista Administração. A conclusão aponta para que na “fase inicial” do surto, de 19 de Junho a 3 de Julho, as medidas “não tiveram resultados satisfatórios”

FORAM muitos os “problemas” e “contradições” verificados no surto epidémico de Junho do ano passado. Pelo menos de acordo com um trabalho publicado na última edição de Dezembro da revista “Administração”, editada pelos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), intitulado “Estudo sobre as medidas de prevenção da epidemia causada pelo novo tipo de coronavírus em Macau: Análise dos dados com base na epidemia de 18 de Junho”. Os académicos propuseram-se analisar a eficácia das medidas adoptadas pelo Governo e a relação com o número de casos covid-19 registados. Da autoria dos académicos Tong Chi Man, Cheong Pui Man e Kou Seng Man, o estudo quantitativo recorre ainda a dados estatísticos oficiais para estabelecer uma correlação entre casos positivos registados, separando-os em sete categorias diferentes e dividindo o período de surto em diversas fases. Nesta parte, os dados fornecidos pelos Serviços de Saúde são analisados com recurso

ao programa de dados estatísticos SPSS 27.0, tendo os académicos categorizado os casos covid-19 da seguinte forma: “Novos casos registados diariamente no sexo feminino; Novos casos registados diariamente no sexo masculino; Novos casos registados diariamente; Novos casos de infecção sintomática registados diariamente; Novos casos de infecção assintomática registados diariamente; Casos detectados diariamente na comunidade; Casos encontrados diariamente no âmbito da gestão e controlo.”

O trabalho conclui que nem tudo correu bem na chamada “fase inicial” do surto, que durou entre 19 de Junho e 3 de Julho. “O estudo mostra que as medidas adoptadas na ‘fase intermédia’, na ‘fase relativamente estática’ e na ‘fase de consolidação’ atingiram relativamente bons resultados, enquanto as medidas adoptadas ‘na fase inicial’ não tiveram resultados satisfatórios”.

Assim, conclui-se que diversos factores, “como as insuficiências verificadas nos hotéis de observação médica, as medidas de prevenção contraditórias, as

insuficiências na realização dos testes em massa (...) poderão, possivelmente, ter conduzido aos problemas referidos, o que resultou nas sugestões da manutenção, com uma elevada uniformidade, [de medidas de acordo] com a política nacional de prevenção da epidemia”, lê-se no documento.

Acima de tudo, o surto de Junho “foi controlado graças ao empenho do pessoal da linha da frente e à colaboração activa por parte dos residentes, em conjugação com a realização dos testes em massa e a implementação da medida de controlo e bloqueio na comunidade e, ainda, à organização eficaz da sujeição dos pacientes ao tratamento”.

No entanto, “há quem entenda que existem ainda muitos aspectos insuficientes que merecem ser supridos e medidas implementadas susceptíveis de terem sido contraditórias, apesar de o Governo ter agido de imediato e tomado decisões imediatas como resposta à pandemia”.

Ausência de “normalidade”

Para este trabalho contou-se o período entre 19 de Junho, quando

quando se aumentou a frequência dos testes de ácido nucleico e rápidos realizados. Por sua vez, o dia 11 de Julho de 2022 integra-se na “fase relativamente estática”, quando passou a ser exigido aos residentes o uso da máscara KN95 e a realização de vários testes aos trabalhadores das áreas da segurança, administração de condomínios e limpeza.

Por sua vez, os dias 11 a 22 de Julho correspondem à “fase relativamente estática”, com a suspensão de algumas actividades económicas e negócios, dando-se depois a “fase de consolidação”, entre os dias 23 de Julho e 1 de Agosto já com o alívio de algumas medidas, como a reabertura de alguns negócios e permissão para sair de casa.

Os autores dizem “ser possível” que, no surto de Junho, o Governo “não tenha funcionado com normalidade e tenha perdido o controlo da evolução da pandemia”, além de se ter verificado “um fenómeno de anomia na sociedade e de instabilidade social”.

“As insuficiências”

Os académicos apontam as “insuficiências” verificadas no trabalho diário dos hotéis designados para quarentena, nomeadamente o facto de “o pessoal do hotel onde foi aplicada a medida de circuito fechado não ter lidado de forma adequada com os trabalhos de prevenção”, que culminou na infecção de “uma parte dos trabalhadores e alguns hóspedes”.

começam a registar-se os casos após a descoberta da primeira infecção no dia anterior, e 1 de Agosto.

Os autores do trabalho nomearam várias fases para este período, nomeadamente a “fase inicial de prevenção epidémica”, que vai de 19 de Junho a 3 de Julho e a “fase intermédia, de 4 a 10 de Julho,

Além disso, verificaram-se ainda “deficiências” como os “trabalhadores responsáveis pelo registo [dos hóspedes] colocados no balcão de recepção do hotel terem apenas uma máscara e não disporem de mais equipamentos de protecção”.

O estudo fala também da “contradição” verificada nas “medidas de prevenção adoptadas” pelo Executivo, onde se inclui o “alojamento de dois pacientes desconhecidos num mesmo quarto de hotel de isolamento”, ou “exigir aos residentes a redução das saídas, mas não dar ordens para suspender o exercício de trabalho nem de confinamento”.

Incluem-se nesta lista as “orientações do Governo, destinadas às instituições civis e públicas, terem sido divergentes e com parâmetros diferentes” ou a exigência de testes com validade de 48 horas aos trabalhadores dos casinos e da construção civil para poderem trabalhar. Destaca-se ainda “a continuação do exercício de funções no posto de trabalho de indivíduos com código de saúde amarelo após a negociação com o patrão da empresa ou o responsável pelo serviço”.

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“Insuficiências” ou “contradição
FOTOS GCS
“As medidas adoptadas na fase intermédia, na ‘fase relativamente estática’ e na ‘fase de consolidação’ atingiram relativamente bons resultados, enquanto ‘na fase inicial’ não tiveram resultados satisfatórios.”

O estudo refere também “a cobertura não completa das medidas de assistência económica”, uma vez que “as camadas sociais mais vulneráveis não tiveram apoio”, nomeadamente os trabalhadores não-residentes, que não foram abrangidos, por exemplo, pelo programa dos cartões de consumo. Os académicos concluiram ainda que “os problemas higiénicos nos bairros antigos deverem ser melhorados”, e que estes ficaram mais expostos quando alguns edifícios da zona norte da península foram confinados. Um dos exemplos apontados é a “acumulação de lixos” ou a “proliferação de mosquitos”, bem como a necessidade de reparação dos edifícios.

Seguir o país

Desta forma, uma das conclusões aponta para a importância da “manutenção de um alto grau de coerência com as políticas nacionais de prevenção da pandemia”.

Isto porque, com base nos dados analisados, conclui-se que “na ‘fase inicial’ deviam ter surgido diversos problemas reveladores

O surto de Junho “foi controlado graças ao empenho do pessoal da linha da frente e à colaboração activa por parte dos residentes, em conjugação com a realização dos testes em massa e a implementação da medida de controlo e bloqueio na comunidade”

de componentes insuficientes no nosso ‘plano de resposta de emergência’ que mereciam ser melhorados”.

Uma vez que Macau já se encontra “numa fase posterior à epidemia, cheia de incertezas”, o estudo refere a necessidade “da importância emergente da implementação de medidas de prevenção e controlo idênticas às medidas

nacionais”, além de se dever fazer “um balanço das experiências de Macau”.

A análise dos dados relativos ao número de casos mostra ainda que as “insuficiências” verificadas nos hotéis de quarentena se deveram “possivelmente à falta de eficácia dos trabalhos de prevenção epidémica implementados na ‘fase inicial’”. Assim, é sugerido o aperfeiçoamento “do regime de responsabilidade e sistema de gestão” nos hotéis de quarentena em períodos de surto, assim como o reforço da formação dos funcionários.

“Sugere-se que o Governo defina, o quanto antes, medidas científicas para a prevenção da pandemia”, como é o caso da “instalação de mais postos de testes de ácido nucleico, o prolongamento do seu horário de funcionamento” ou ainda “que seja apenas exigida a realização de testes rápidos aos trabalhadores dos casinos e do sector da construção civil”. Deve ainda “ser preparado um número suficiente de quartos de hotel de isolamento para satisfazer as

necessidades”, além de ser importante “dar o apoio adequado aos indivíduos em quarentena e às pessoas em zonas de bloqueio”.

Mais apoios

Além de sugerir a melhoria do sistema de testes em massa, o estudo dá conta da importância de alargar o leque de apoios financeiros concedidos no futuro em contextos semelhantes.

“Os estudiosos esperam que o Governo possa auscultar as

Os autores dizem “ser possível” que o Governo “não tenha funcionado com normalidade e tenha perdido o controlo da evolução da pandemia”, além de se ter verificado “um fenómeno de anomia na sociedade e de instabilidade social”

opiniões de todos os sectores e optimizar ainda mais as medidas de apoio financeiro, para que a população em geral possa beneficiar desse apoio”, pode ler-se. É também proposta a realização de uma “ampla recolha de opiniões na sociedade” e que seja prestada “atenção aos sectores, empresas e profissionais liberais que eventualmente possam não ter beneficiado do apoio cedido, sendo-lhes atribuídos apoios adequados”.

O estudo chama a atenção para a necessidade de reforçar “os apoios aos grupos especiais, tais como jovens, aposentados, desempregados, subempregados, indivíduos em licença sem vencimento e com baixos rendimentos, de modo a resolver as dificuldades dos cidadãos, bem como dos comerciantes”.

Sobre os autores do estudo, todos eles são ligados ao Instituto Internacional de Investigações Académicas (Macau), sendo que Kou Seng Man preside à entidade e Tong Chi Man é também académico visitante da Faculdade de Ciências Sociais e Educação da Universidade de São José. Andreia Sofia Silva

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Segurança nacional UPM promove palestra na escola Hou Kong

A Universidade Politécnica de Macau (UPM) realizou, no passado dia 10, uma palestra que visa celebrar os 30 anos da promulgação da Lei Básica de Macau e a implementação do princípio “um país, dois sistemas”, sem esquecer a segurança nacional. Intitulada “Segurança Nacional, todos devem conhecer”, a palestra foi organizada na escola Hou Kong em parceria com o Centro de Estudos “um país, dois sistemas”, da UPM. Segundo um comunicado, “os investigadores do Centro explicaram aos mais de 300 professores e alunos a necessidade de defesa da segurança do estado, o conteúdo da perspectiva geral da segurança nacional, bem como a implementação das exigências básicas da perspectiva geral de segurança nacional e a construção do regime de defesa da segurança nacional na RAEM”. Nos últimos dois anos foram realizadas mais de trinta actividades de divulgação jurídica nas escolas por parte da UPM, que contaram com o apoio das escolas e com a participação de mais de cinco mil professores e alunos.

Seguros em alta

Associação aponta para 30 mil apólices com circulação de veículos em Cantão

Macau é uma região administrativa especial. Além disso, diz-me o sr. Chefe do Executivo, é importante manter a especificidade da herança cultural portuguesa aqui em Macau.”

EUROPA DURÃO BARROSO EM ALMOÇO COM CÔNSUL E HO IAT SENG

Uma visita de médico

O ex-primeiro ministro português Durão Barroso visitou Macau e encontrou-se com o Chefe do Executivo e o cônsul-geral de Portugal. O ex-presidente da Comissão Europeia realçou a obrigação de preparação para novas pandemias e sublinhou a necessidade de Macau preservar a herança cultural portuguesa

SEM aviso prévio, e fora da agenda mediática, José Durão Barroso visitou Macau e almoçou com Ho Iat Seng, Alexandre Leitão, Raimundo do Rosário e Ambrose So.

O ex-primeiro ministro português e ex-presidente da Comissão Europeia realçou a vontade do Governo de Macau em preservar e valorizar as especificidades do território devido à ligação a Portugal.

“Macau não é mais uma cidade chinesa, isso há muitas. Macau é uma região administrativa especial. Além disso, diz-me o sr. Chefe do Executivo, é importante

manter essa especificidade da herança cultural portuguesa aqui em Macau”, afirmou Durão Barroso, citado pelo Canal Macau da TDM.

O ex-governante, que hoje em dia preside à Aliança Global para as Vacinas, destacou ainda o facto de a primeira viagem oficial de Ho Iat Seng enquanto Chefe do Executivo ser a Portugal, que encara como uma “tradição” que representa “um bom sinal”.

De forma breve, Durão Barroso mencionou o período em que participou nas negociações da transição, enquanto ocupava o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, e mostrou-se impressionado “pelo

extraordinário progresso económico do território”, que continua a demonstrar grande dinamismo, mesmo depois do “período difícil” devido ao impacto da pandemia.

Apenas a primeira

Enquanto presidente da Aliança Global para as Vacinas, iniciativa da Fundação Bill e Melinda Gates, Durão Barroso alertou para a necessidade de o mundo se preparar para novos desafios pandémicos.

“É evolucionariamente seguro que vamos ter mais pandemias. O covid-19 não é, infelizmente, a última pandemia da história. Temos de estar preparados. Espero que se tirem todas as lições

desta pandemia”, apontou o ex-governante, citado pelo Canal Macau da TDM.

Durão Barroso afirmou ainda a necessidade de preparação ao nível da capacidade científica e médica, com a produção de novas vacinas, mas também de armazenamento de equipamentos de protecção pessoal, deficiências de preparação demonstradas na pandemia da covid-19.

No que diz respeito às relações entre a União Europeia e a China, o ex-presidente da Comissão Europeia defendeu que é preciso manter a “cooperação e diálogo entre todas as partes, apesar das diferenças que existem.

AAssociação das Seguradoras de Macau prevê que a política de circulação de veículos de Macau no Interior vai aumentar em 30 mil o número de apólices seguros para o efeito. A estimativa foi apresentada por Ng Wai Peng, vice-presidente da Associação das Seguradoras de Macau, em declarações ao Jornal Ou Mun.

A vice-presidente da associação, Ng Wai Peng, estimou que se atinjam as 30 mil apólices para a circulação de veículos de Macau na província de Guangdong, o que representa uma proporção de 40 por cento dos veículos que podem atravessar a fronteira.

Quando à emissão deste tipo de seguros, a responsável garante que está tudo preparado, e que os clientes podem tratar de todo o processo online, além das vias tradicionais. Segundo Ng Wai Peng, em cerca de 10 minutos, quando o processo é feito online, os clientes podem receber o contrato do seguro.

Em relação ao reconhecimento mútuo da carta de condução, a medida ainda não teve qualquer efeito a nível da emissão de seguros, uma vez que apenas foi anunciada na segunda-feira. A entrada em vigor está prevista para 16 de Maio. Contudo, existem muitas expectativas de que com a maior integração da

RAEM no Interior o número de apólices vendidas cresça bom ritmo.

Em defesa do Governo O reconhecimento mútuo da carta de condução surge numa altura em que o direito de manifestação foi fortemente restringido, com a proibição cada vez mais frequente de manifestações. Contudo, em 2019, centenas de pessoas saíram à rua em protesto contra esta medida, numa manifestação organizada pelos ex-deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong.

A opinião da população não foi vista como impeditiva para que as associações tradicionais defendessem o reconhecimento mútuo da carta de condução. Leong Sun Iok, segundo o jornal Ou Mun, veio agora argumentar que a medida é positiva porque vai permitir a circulação das pessoas que vivem na Grande Baía, mas trabalham em Macau. Leong Sun Iok reconheceu ainda que a população teme a medida, pelo que o Governo deve fazer uma análise profunda aos dados, depois da implementação da medida, e responder a eventuais problemas que surjam.

Por sua vez, Leong Hong Sai, deputado dos Moradores, considera que as autoridades do Interior e de Macau devem promover acções de formação sobre o trânsito nas regiões, para que os interessados em conduzir nas duas regiões estejam bem preparados para enfrentar as especificidades do trânsito de cada território. N.W. / J.S.F.

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Durão Barroso, ex-primeiro ministro de Portugal “Macau não é mais uma cidade chinesa, isso há muitas.

FSS Cerca de 3.500 empregadores com contribuições por pagar

Até 20 de Fevereiro, 3.500 empregadores ainda não tinham pago as contribuições obrigatórias do regime da segurança social referentes ao quarto trimestre do ano passado. A informação foi divulgada ontem pelo Fundo de Segurança Social, através de um comunicado. O pagamento pode ser feito até 28 de Fevereiro. O número de empregadores que ainda não procederam ao pagamento representa 13 por cento do total. “Os empregadores devem pagar, dentro do prazo, as contribuições dos seus trabalhadores permanentes residentes. Caso o pagamento seja efectuado fora do prazo, é preciso pagar juros de mora e multa”, foi deixado como aviso no mesmo comunicado.

TNR Apelos a maior controlo das quotas

O ex-deputado Au Kam San defende que a existência de 200 mil trabalhadores não residentes (TNR) em Macau não deve ser encarada como uma “situação normal” e apelou à revisão da política de importação de trabalhadores não residentes. Numa publicação na rede social Facebook, Au Kam San justificou que durante a pandemia a recessão económica levou a que vários TNR deixassem o território. No entanto, assim que surgiram os primeiros sinais de recuperação, as empresas começaram a pedir imediatamente o regresso das quotas para estes trabalhadores, com o apoio do Governo. Para Au Kam San, esta situação causa estranheza, porque a intenção original da política é “suprir a falta de recursos humanos locais”. Porém, no seu entender, numa altura em que a taxa de desemprego ainda é alta, em vez de se dar prioridade aos locais no acesso ao emprego, está a apostar-se nos TNR.

SALÁRIO MÍNIMO GOVERNO ABERTO A CRIAR COMISSÃO PARA REVISÃO DE VALORES

Com a porta entreaberta

O director dos Serviços para os Assuntos Laborais afirmou que o Governo está a trabalhar num relatório sobre o futuro do salário mínimo. Contudo, não avançou com qualquer data para a tomada de decisão sobre alterações aos valores em vigor

WONG Chi Hong, mostrou abertura para ser criada uma comissão especializada para analisar a actualização do salário mínimo. A posição foi revelada na resposta a uma interpelação do deputado Lam Lon Wai sobre esta matéria.

“Em relação à sugestão da interpelação escrita de estabelecer uma comissão especializada para a revisão do salário mínio, o Governo da RAEM está disposto a ouvir as sugestões de todos os sectores, que serão ponderadas em conjunto com o desenvolvimento económico e social da RAEM”, respondeu Wong.

O director da DSAL adiantou também que está a ser realizado um relatório sobre a revisão do valor do salário mínimo. De acordo com a lei, a revisão deveria ser feita a cada dois anos.

A lei entrou em vigor a 1 de Novembro de 2020, pelo que o período de dois anos terminou a 31 de Outubro de 2022, sem que houvesse qualquer posição do Governo sobre o assunto. Em relação a este silêncio, Wong Chi Hong admitiu ser necessário esperar, porque está a ser elaborado um relatório sobre a situação “do desenvolvimento económico e social” com base nos dados recolhidos até ao final de Outubro de 2022.

No entanto, o director da DSAL não se comprometeu com uma data para a conclusão do relatório nem para a tomada de posição do Governo. Contudo, garantiu que, como determinado pela lei, o assunto vai ser discu-

tido no Conselho Permanente de Concertação Social.

Pedidos de aumento

Nas últimas semanas, os sectores laborais têm defendido o aumento do salário das actuais 32 patacas por hora para 35 patacas por hora. Contudo, a proposta tem encontrado oposição por parte

do patronato, que argumenta que os últimos três anos ficaram marcados pela maior crise económica desde a transferência de soberania, pelo que entendem que o valor deve manter-se congelado.

O último aumento do salário mínimo aconteceu em 2019. No entanto, na interpelação escrita,

Lam Lon Wai deixou críticas ao mecanismo interno para aumentar o ordenado mínimo, por considerar que os procedimentos não são conhecidos pela população nem pelos deputados. O legislador pediu também que se apresentasse uma estimativa sobre a duração do processo.

Em relação a estes pedidos de esclarecimentos, Wong Chi Hong, deixou o deputado sem resposta e sem qualquer previsão de data. A única garantia deixada, foi que, no caso de o Governo decidir não aumentar o salário mínimo, não será realizada qualquer alteração à lei. João Santos Filipe

INSTITUTO DE ACÇÃO SOCIAL REFORÇADAS EQUIPAS QUE PRESTAM SERVIÇOS A IDOSOS

AS equipas de serviços de cuidados domiciliários e de apoio a idosos do Instituto de Acção Social (IAS) passaram a ser integradas por 16 membros. A informação foi revelada por Hon Wai, presidente do IAS, na resposta a uma interpelação

escrita da deputada Ella Lei. “A equipa de serviços de cuidados domiciliários e de apoio composta por 14 trabalhadores nos anos passados, tem aumentado para 16 trabalhadores por equipa, composta pelo chefe de equipa, assistentes sociais,

enfermeiros, terapeutas, diversos tipos de trabalhadores da linha da frente que prestam cuidados e logística, etc.”, foi revelado. Hon Wai explicou também que estes dois trabalhadores adicionais são “pessoal de cuidados da linha da frente”.

Segundo o mesmo responsável, estas equipas permitem apoiar “cerca de 1.400 idosos com saúde débil e as pessoas com necessidade”.

Além disso, para este ano, está ainda previsto o aumento do número de

equipas disponíveis, numa unidade.

“O IAS irá acrescentar uma equipa de serviços de cuidados domiciliário e de apoio na zona da Praia do Manduco em 2023, no sentido de não só, aumentar a oferta de serviço, mas também aliviar a

pressão de serviços prestados pelas equipas já existentes”, foi justificado.

Este reforço pretende responder à tendência de maior procura pelos serviços da Península de Macau, especialmente nas zonas centro e sul.

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“O Governo da RAEM está disposto a ouvir as sugestões de todos os sectores, que serão ponderadas em conjunto com o desenvolvimento económico e social.” WONG CHI HONG DSAL
TIAGO ALCÂNTARA

Verdes achas

Macau vai receber fórum sobre madeira sustentável em Novembro

INFLAÇÃO COMBUSTÍVEIS SUBIRAM MAIS DE 20% EM 2022

A preço de ouro

2022 foi um ano difícil para os condutores. Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, os combustíveis subiram mais de 20 por cento no ano passado, o que se reflectiu no menor consumo

Ocusto dos combustíveis para veículos subiu 20,8 por cento em 2022, indicam os últimos dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), seguindo o aumento verificado no mercado internacional, sobretudo devido à invasão russa da Ucrânia.

O preço médio de venda da gasolina sem chumbo fixou-se em 13,96 patacas no ano passado, enquanto o preço do gasóleo atingiu 15,62 patacas. Num comunicado, a DSEC revelou ainda que o custo dos combus-

tíveis terminou 2022 em alta, com o preço médio de venda durante o último trimestre nas 14,29 patacas para a gasolina e 16,21 patacas para o gasóleo.

O comunicado não refere quaisquer motivos para os aumentos. Mas, no mercado internacional, o preço dos hidrocarbonetos, incluindo derivados do petróleo e gás natural, subiu em 2022 devido à corrida ao gás natural liquefeito na Europa.

Isto após a comunidade internacional ter respondido à invasão da Ucrânia com a imposição de sanções políticas e económicas, incluindo o encer-

ramento dos gasodutos russos, a principal fonte de combustíveis fósseis da Europa.

Fornecidos pelo Interior

De acordo com dados da DSEC, 90,9 por cento da gasolina e 86,1 por cento do gasóleo importados

Leong Sun Iok e Nick Lei alertaram ao longo do ano passado para uma eventual “combinação de preços”

IC Complexo de Lai Chi Vun abre no próximo trimestre

O complexo turístico e patrimonial na vila de Lai Chi Vun, em Coloane, que inclui cinco antigos estaleiros navais completamente renovados, deverá abrir ao público no próximo trimestre.

A ideia para o complexo, com 4,600 metros quadrados e que visa levar turistas a Coloane e contar um pedaço da história da construção naval de Macau, começou a ser traçada em Dezembro de 2021. O projecto de renovação, com um custo de cerca de 42 milhões de patacas, deverá incluir um mercado para produtos culturais e criativos e uma área com diversas funcionalidades, escreveu o jornal Ou Mun. A zona dos estaleiros de Lai Chi Vun está classificada como área de interesse cultural e histórico desde Dezembro de 2018.

por Macau vieram da China, com o resto da gasolina a vir da Arábia Saudita e o resto do gasóleo de Singapura.

Além do impacto da guerra, deputados como Leong Sun Iok e Nick Lei alertaram ao longo do ano passado para uma eventual “combinação de preços” entre os revendedores de combustíveis para veículos em Macau.

Com o preço dos combustíveis a aumentar, o consumo de gasolina no território caiu 10,9 por cento para 90,8 milhões de litros em 2022 enquanto o consumo de gasóleo recuou 5,4 por cento para 88,8 milhões de litros.

Pelo contrário, e ainda de acordo com dados da DSEC, o consumo de gás natural em Macau aumentou 40,1 por cento para 120,3 milhões de metros cúbicos no ano passado.

O Governo de Macau anunciou na segunda-feira um aumento, entre 8 por cento e 14,3 por cento, no preço de venda do gás natural, apontando para a “subida rápida no mercado internacional”, causada pela invasão da Ucrânia.

Num despacho publicado no Boletim Oficial e que entrou já em vigor, Ho Iat Seng aumentou em 8,2 por cento o preço do gás natural para habitações para 7,58 patacas por metro cúbico.

OInstituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM) quer trazer para o território, em Novembro, o “Fórum e Exposição da Indústria Global da Madeira Sustentável”, em parceria com a Organização Internacional de Madeiras Tropicais (ITTO, na sigla inglesa). Segundo o IPIM, a organização visa o desenvolvimento sustentável dos recursos florestais em todo o mundo, tendo em conta as alterações climáticas e o risco de perda progressiva da flora em vários países e regiões. O IPIM entende que o evento pode ajudar a “promover o desenvolvimento da diversificação adequada da economia”, além de “expandir o espaço de cooperação internacional” do território e reforçar “o seu estatuto e influência internacionais”.

O fórum pretende também fomentar o sector das exposições e convenções, “ajudar a enriquecer o papel de plataforma” de Macau e promover a investigação científica na área dos recursos naturais e da sustentabilidade, “através da participação da Universidade de Macau em trabalhos de investigação”.

Índice conjunto

Os contactos entre o Governo e o ITTO começaram em 2019, sendo que, no ano passado, foram iniciados projectos conjuntos “sobre a construção da Plataforma do Índice Global da Madeira” e a “investigação sobre a ligação de sistemas de rastreamento de origem de madeira com base na tecnologia de blockchain”. Em Dezembro do ano passado, foi apresentado em Macau o “Relatório GTI da Plataforma de Índice Global da Madeira”, e realizado um workshop sobre a “tendência do mercado global de madeira”. Assim, o IPIM e o ITTO lançaram o primeiro índice que mede a prosperidade da indústria de extracção de madeiras em todo o mundo, o “Índice Global da Madeira” (Global Timber Index, GTI), que abrange sete países, incluindo a China. Este é calculado com base na compilação de estatísticas de inquérito mensal às empresas de madeira importantes nos países produtores e consumidores de madeira a nível mundial. A.S.S.

IC Recusado encerramento da Avenida Almeida Ribeiro

O Instituto Cultural (IC) afasta a possibilidade, a curto prazo, de encerrar a Avenida Almeida Ribeiro ao trânsito, numa iniciativa que ficou conhecida como “Passeando pela Almeida Ribeiro – projecto-piloto para área pedonal”. A informação foi avançada ontem por Deland Leong, presidente do IC, após uma reunião do Conselho do Património Cultural (CPC). Apesar das opiniões “favoráveis”, Leong informou que, neste momento, não há condições para fechar ao trânsito a avenida do centro histórico da cidade, devido às obras em curso na península de Macau. Apesar da limitação, a presidente do IC afirmou que vão ser ponderadas outras ideias para no futuro revitalizar o património cultural e as zonas velhas da cidade.

VCG SOFIA MARGARIDA MOTA
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HOJE MACAU

TSI Três anos de prisão por agressões em tribunal

Um homem foi condenado a três anos de prisão efectiva por agressões em tribunal num julgamento relativo a uma decisão sobre poder paternal. Segundo o acórdão do Tribunal de Segunda Instância (TSI), o homem agrediu um juiz e dois oficiais de justiça para que a decisão sobre o poder paternal incidisse a seu favor, o que “perturbou ilegitimamente o funcionamento do Tribunal Judicial de Base”. Este tribunal decidiu condenar o homem a uma pena de três anos de prisão, suspensa na sua execução por quatro anos, além de ser condenado a pagar uma indemnização. O homem e o Ministério Público (MP) recorreram da sentença, mas o TSI decidiu dar razão apenas ao MP, tendo tornado a pena de prisão efectiva.

Venetian Instalada zona de jogo para estrangeiros

O casino do Venetian Macao, que opera ao abrigo da concessão da Sands China, já abriu uma zona de jogo exclusiva para estrangeiros. Segundo uma notícia avançada pelo portal GGR Asia, a área reservada para jogadores de outras nacionalidades abriu há uma semana com algumas mesas de bacará num piso que antes estava destinado ao jogo VIP. Quem quiser jogar nestas áreas, onde os funcionários falam inglês, deve apresentar passaporte para provar a sua nacionalidade. Recorde-se que à luz da nova lei do jogo, o Chefe do Executivo pode reduzir até 5 por cento os impostos das concessionárias gerados por receitas apuradas com jogadores estrangeiros, proposta que procura reduzir a dependência da indústria dos grandes apostadores chineses.

Aeroporto Ligação entre Macau e Jeju em Março

A partir do mês de Março, o aeroporto de Macau pode vir a ter voos directos para Jeju, a maior ilha da Coreia do Sul, através da companhia aérea de baixo custo Fly Gangwon. De acordo com um comunicado publicado no website da Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM), o director da companhia sul-coreana visitou a RAEM na semana passada, e terá demonstrado interesse em ligar Macau a Yangyang e Incheon.

JOGO TERCEIRA SEMANA DE FEVEREIRO MAIS RENTÁVEL QUE JANEIRO

Os dias mais dourados

Sem contar com os períodos de feriados, a terceira semana de Fevereiro foi a melhor em mais de três anos, com receitas brutas diárias de cerca de 400 milhões de patacas. A JP Morgan Securities prevê que o segmento de massas consiga recuperar este mês para 70 por cento dos níveis e receitas antes da pandemia

Agalinha dos ovos de ouro de Macau parece estar de volta a um nível de produção que faz lembrar os tempos antes da covid-19 arrasar o “galinheiro”. Segundo os analistas da JP Morgan Securities (Asia Pacific) Ltd, a média diária de receitas brutas dos casinos de Macau continuou na terceira semana de Fevereiro a ultrapassar a média registada em Janeiro, apesar de este ano os feriados do Ano Novo Chinês terem calhado no mês passado.

A corretora estima que indústria do jogo da RAEM tenha apurado na terceira semana de Fevereiro receitas brutas médias de cerca de 400 milhões de patacas por dia, valor que representa o melhor resultado numa semana sem feriados em mais de três anos Aliás, os números sugerem uma recuperação de mais de 45 por cento em relação a níveis anteriores à covid-19. Previsão que se torna mais optimista quando focada nas receitas correspondentes ao segmento

de massas, que poderá recuperar para montantes entre 65 a 70 por cento das receitas registadas antes da pandemia, segundo os analistas da JP Morgan citados pelo portal GGR Asia.

Feitas as contas

Em termos de receitas agregadas, os analistas da corretora apontam para receitas brutas de 7,2 mil milhões de patacas apurados nos primeiros 19 dias de Fevereiro. O total agregado indica uma média diária entre 375 a 380 milhões de patacas em receitas brutas.

“Este resultado está ligeiramente acima das fortes receitas brutas registadas em Janeiro”, quando os cofres dos casinos amealharam por dia 374 milhões de patacas, concluem os analistas DS Kim e Mufan Shi, citados pelo GGR Asia.

Mas, mais do que o valor cru dos milhões, os analistas destacam “a sólida performance tendo em conta a fraca sazonalidade típica dos períodos posteriores a feriados”.

Mais do que o valor cru dos milhões, os analistas destacam “a sólida performance tendo em conta a fraca sazonalidade típica dos períodos posteriores a feriados”

Já as notícias sobre a morte do jogo VIP, parecem ter sido manifestamente exageradas, pelo menos de acordo com as projecções da JP Morgan. “Estimamos que o jogo VIP recupere para cerca de 15 por cento dos níveis antes da pandemia, um progresso sólido para um mercado que supostamente estará em vias de extinção”, é referido.

Apesar do sinal de vitalidade, os analistas sublinham que as receitas apuradas pelo segmento VIP não serão o principal motor da indústria do jogo, mantendo-se em níveis residuais face ao mercado de massas. João Luz

SANDS CHINA RECEITAS DA OPERADORA CAEM MAIS DE 50 POR CENTO NO ANO PASSADO

Aoperadora de jogo Sands China registou, no ano passado, perdas de 12,6 mil milhões de patacas, tendo as receitas caído 52,3%. Os dados constam no mais recente relatório da empresa enviado à bolsa de valores

de Hong Kong e noticiado pela TDM Rádio Macau. Por sua vez, as receitas líquidas da Sands caíram 44,2% para 12,5 mil milhões de patacas, números que se explicam pela queda do número de turistas potenciada pelas restri-

ções relacionadas com a pandemia. O relatório cita ainda as palavras de Robert Goldstein, presidente e CEO da Sands China, que diz ter confiança no desempenho do mercado nos próximos meses e “um optimismo

inabalável no futuro”. Em relação ao novo contrato de concessão, a Sands China afirma ter um plano de investimento superior a 30 mil milhões de patacas para o território até 2032, sendo que mais de 27 mil milhões

de patacas vão ser canalizados para a área não jogo, ou seja, de lazer e entretenimento, tal como a realização de eventos, um projecto com iates e turismo marítimo e a abertura de mais restaurantes internacionais.

sociedade 7 quarta-feira 22.2.2023 www.hojemacau.com.mo

Mêncio e Xunzi e a o conceito de autonomia moral na

CONFÚCIO

Confúcio propõe um modelo de sociedade ideal, que corresponde,  grosso modo,  ao que ele pensava ter existido séculos atrás, quando tudo parecia funcionar adequadamente, graças aos conselhos esclarecidos de governantes sábios e ao auxílio tranquilizador oferecido pelo Céu generoso. Uma Idade do Ouro mítica, contemplada por Confúcio, de forma respeitadora e cheia de admiração, durante a qual o  dao, o  Caminho dos Reis Sábios do passado, esteve presente no mundo. A Idade do Ouro da história chinesa, maravilhosamente descrita nos Clássicos e particularmente no  Shijing  [ 詩经 ] (Clássico das Odes) assumiu-se como um exemplo do que deveria ser olhado com um sentimento de pesar e uma profunda, e quase religiosa, devoção. A contínua referência à antiguidade implicaria o investimento total da riqueza de conhecimento e valores que o homem teria acumulado durante esse período feliz: [ 周监於 二代,郁郁乎文哉 ! 吾從周 ] “O Zhou”, como Confúcio afirma “é resplandescente na cultura, havendo antes dele o exemplo das duas dinastias anteriores. Eu sou pelo Zhou”.13 Confúcio tornou-se o intérprete e arauto desses mesmos valores, o aparentemente perdido  dao;  [ 溫故而知新,可以為師

矣 ] “Um homem é digno de ser um professor se chegar ao conhecimento do que é novo e conservar fresco na mente o que lhe é familiar”14 Infelizmente este equilíbrio social foi-se dissolvendo, mas poderia ainda ser recuperado. Como Confúcio disse: [人能弘道,非道弘人] o homem que pode fazer o Caminho grande, não é o Caminho que faz o homem grande”.15 Assim quem teve a educação certa e se tornou graças à sua educação, um  junzi  [君子], um homem superior à média, um verdadeiro cavalheiro, uma pessoa exemplar [君子務本,本立而道 生] “devota os seus esforços às raízes, já que uma vez as raízes bem assentes, o Caminho crescerá a partir daí”.16 Os sábios do passado são reconhecidos como tendo o mérito de ter compreendido o  dao, o  Caminho. O  dao, o  princípio regulador do mundo, dos homens e das coisas, pode, por conseguinte ser aprendido e transmitido. Transmitir o  dao  é a missão de que Confúcio foi investido. Foi o  dao  dos homens mais do que o  dao  do Céu que lhe interessava. Confúcio tinha o devido respei-

to pelo mundo divino, mas mantinha também uma distância conveniente.17

Mas será realmente possível aprender o  dao?  É uma tarefa que cada um pode assumir ou será desígnio de eleitos? Confúcio tentou dar respostas convincentes a estas questões e às suas numero. sas implicações. E é este o ponto a partir do qual, de acordo com a minha interpretação do desenvolvimento do antigo confucionismo, as duas principais correntes do pensamento confucionista derivam. Elas correspondem às correntes a que mais tarde Mêncio e Xunzi respectivamente aderiram: a doutrina do  ren  (humanidade, benevolência, virtude) e a doutrina do li [禮] (ritos, normas tradicionais de conduta ritual).

Confúcio defendia que o amor e o sentido do dever para com a família (primeiro os pais, depois os irmãos mais velhos e por aí adiante) eram sentimentos naturais ao homem. Afecto e respeito dentro da família eram para Confúcio valores fundamentais, os alicerces de um sentimento mais amplo que irradia para a esfera externa, em direcção ao próximo. Atribuiu grande importância a este sentimento, que ele chamou  ren. Ren  assumiu o papel

da maior virtude e foi considerado um todo que englobava todas as qualidades morais presentes no coração do homem, característica distintiva do homem que implicava a noção de bondade inata. Este ponto de vista foi partilhado por Mêncio18 e depois dele por muitos outros confucionistas.

É na relação com os outros que a condição de virtude máxima se torna concreta e se manifesta, tornando-se num profundo sentimento de humanidade, comportamento que é inspirado pela mais ampla compreensão possível e benevolência para com os outros. Isto não é um ideal estático. Antes é dinâmico, e envolve todo o processo de crescimento interior do indivíduo. É um caminho longo e difícil, não obstante, essencial se o indivíduo realmente se quer integrar no contexto social.

A família, por isso, assumiu o papel de paradigma da vida moral do homem e de modelo social. De acordo com esta opinião, a vida social era preenchida com uma estrutura complexa de obrigações, assente em normas específicas, o  li,  que é geralmente traduzido por “ritos, acção ritual, cerimónia, etc” ou “convenções morais, normas de conduta, etiqueta, decoro, normas de comportamento tradicional etc.” Estas obrigações, que remetem à ordem encontrada na natureza e no universo atribuem a cada um lugar e papel específicos. Deste modo uma relação directa foi estabelecida entre o mundo do homem e o sobrenatural. Um respeito rigoroso pelas normas garantiria a cada indivíduo uma posição definida dentro da família e da sociedade. A importância do  li  foi enfatizada por Confúcio não só devido aos benefícios materiais evidentes que derivariam da sua correcta aplicação, mas acima de tudo na medida em que fornece um modelo de vida em conformidade com os desígnios celestiais.

Foi graças a Confúcio que o  li  adquiriu o significado de normas e convenções rituais capazes de garantir o comportamento individual a par com uma observância total da herança cultural tradicional. A natureza social e religiosa das normas tradicionais da cerimónia ritual foi exaltada pelo nível de solenidade que lhes era concedido, que lhes dava uma aura de santidade profunda, respeito e temor. Não foi por acaso que Confúcio afirmou que o homem deve [出門如見大賓,使民如承大

祭] “em público portar-se como se esti-

vesse a receber em sua casa um convidado importante, lidar com o homem comum como se praticasse um grande sacrifício”.19

Xunzi[荀子] (310-219 a. C.). Desenho a carvão e aguarela de Lei Chi Ngok.

Outrora a música e a dança, que eram elementos essenciais precedidos pelo apuramento do carácter de cada um, nas cermónias sagradas, assumiram um papel fundamental na vida social. Como num ballet artístico e bem dirigido, o mestre designa cada homem, de acordo com uma coreografia pré-determinada, um papel específico, indicando as posições precisas e atitudes. Cada actor tinha de desempenhar o papel que lhe tinham distribuido, tão escrupulosa e solenemente quanto possível. A função do mestre podia ser comparada à de um director muito cui-

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Maurizio Retrato imaginário de Mêncio Confúcio

a natureza humana: na antiga tradição confucionista

do há harmonia completa entre o  ren e o  li --este é o equilíbrio perfeito, uma meta difícil mas não impossível. Deve ser possível adaptar ritos e convenções sociais às mudanças implícitas numa sociedade em rápida evolução, de outro modo eles correm o risco de serem repetidos mecanicamente como gestos gratuitos e cristalizações formais. Isto é possível graças ao  yi [ 義], a capacidade para avaliar e reconhecer o que é justo, adequado e correcto, o fundamento do sentimento de justiça que anima o homem de grande virtude, a base do seu elevado sentido do dever, de rectidão e de moral: [君子

義以爲質,禮以行之,孫以出之,信以

成之。君子哉] “O verdadeiro cavalheiro tem a moralidade como elemento básico, faz o seu desempenho de acordo com os rituais, espalha-a com humildade e completa-a com confiança--este é o verdadeiro cavalheiro”.21

As normas cerimoniais e as convenções sociais estabelecidas ao longo dos séculos devem ser olhadas como o resultado final e síntese de escolhas anteriores, condicionadas e determinadas pelo julgamento moral. De acordo com Confúcio, é graças à interacção harmoniosa destes princípios --ren, li e yi-- que o homem é capaz de se dominar e cultivar as suas qualidades morais e intelectuais: [克己復禮為仁。一

日克己復禮,天下歸仁焉。為仁由己,

dadoso que zela e coordena cada acção de modo que a representação final seja tão perfeita e harmoniosa quanto possível.20

Se a aplicação das normas tradicionais das cerimónias rituais não fossem precedidas e acompanhadas pelo refinamento da personalidade de cada um, elas transformar-se-iam em regras formais vazias de conteúdo, paródias sem sentido, que em breve seriam abandonadas, abrindo, assim, a sociedade aos riscos de degeneração e à desordem e anarquia. A sua principal função teria falhado. Por outro lado, se a educação fosse, simplesmente, um facto privado sem projecção para o exterior, não beneficiaria a sociedade e o homem teria falhado o principal objectivo da sua vida. A relação simbólica entre o  ren e o  li é, deste modo, evidente: o estado ideal pode ser atingido apenas quan-

而由人乎哉?] “É pela disciplina e submissão à observância dos ritos que um homem se torna de grande virtude” Se durante um só dia alguém se submetesse à obediência dos ritos através da auto-disciplina, então, o mundo inteiro encontraria a virtude. Contudo, para se tornar um homem de grande virtude ele depende apenas de si próprio, e não dos outros”.

Cultivar as próprias qualidades significa aplicar-se diligentemente ao estudo, cuja intenção é [為己] “aperfeiçoar-se” mais do que [為己] “impressionar os outros”.22 O homem tem de se devotar à aquisição e interiorização dos li, que são a forma mais alta de conhecimento moral. Confúcio, também ele teve de dedicar-se diligentemente: [

我非生而知之者,好古,敏以求以者也] “Não nasci com o conhecimento, mas amando a cultura antiga, mais depressa chego a ele”.23 O processo de maturação interior pode levar uma vida inteira, como foi o caso de Confúcio que confiou que [吾十有五而志于學,三十

十而耳顺,七十而從心所欲,不踰矩 ] “Aos quinze entreguei o meu coracão ao conhecimento; aos trinta manifestei o meu ponto de vista; aos quarenta perdi as dúvidas; aos cinquenta compreendi a vontade do Céu; aos sessenta ouvia atentamente; aos setenta segui os desejos do meu coração sem transgredir no que era justo”.24

Um estudo sistemático e completo da herança cultural é insuficiente; deve ser auxiliado pelo pensamento e pela reflexão, uma das faculdades peculiares do homem, que lhe permite elaborar, com originalidade e criatividade o que aprendeu para o adaptar à realidade social em constante mudança, onde ele está inserido: [學而不思則罔,思而 不學則殆] “Se se aprende dos outros e não se pensa, ficar-se-á desorientado. Se, por outro lado, se pensa mas não se aprende dos outros, correr-se-ão perigos”.25 Neste sentido, Confúcio está a sublinhar a importância do estudo das normas tradicionais de conduta: [吾嘗 終日不食,終夜不寢,以思,無益, 不如學也] “Uma vez passei o dia sem comer, e a noite sem ir à cama, mergulhado no meu pensamento. Não me beneficiou nada. Teria sido melhor ter

gasto o tempo na aprendizagem”.26 Reflectindo sobre os  li depois de os ter aprendido a reconhecer e pô-los em prática correctamente, é considerado um exercício essencial no longo percurso que conduz à total compreensão do Caminho. Não é por acaso que o  Lunyu começa com uma exaltação do sentimento de realização interior experimentado durante esta caminhada longa e laboriosa: [學而時习,不亦 説乎] “Não é uma alegria, tendo aprendido algo, experimentá-lo na altura certa?”27 É graças à interacção construtiva entre o pensamento e a aprendizagem que o indivíduo consegue alcançar a percepção real, a compreensão real, o reconhecimento escrupuloso da realidade circundante. Aprendizagem, reflexão e profundo conhecimento são, por isso, elementos complementares, embora distintos do projecto global de crescimento intelectual do indivíduo, do qual Confúcio foi proponente e seguidor.

Acabaram as diferentes interpretações do papel do  si (pensamento) e  xue (aprendizagem) no processo de crescimento interior do indivíduo que Mêncio e Xunzi tinha colocado em diferentes caminhos.

NOTAS

13 Ibid., 3.14.

14 Ibid., 3.11.

15 Ibid., 15.29.

16 Ibid., 1.2.

17 “Trabalhar para as coisas a que as pessoas comuns têm o direito e manter a distância em relação aos deuses e espíritos enquanto se lhes mostra o devido respeito — tal pode ser chamado de sabedoria” Afirma Confúcio em Lunyu, 6.22. Ver também Lunyu, 7.22 e 11.12.

18 Mengzi, 7B.16

19 Lunyu, 12.2.

20 Ibid., 1.12.

21 Ibid., 15.18.

22 Ibid., 14.24.

23 Ibid., 7.20.

24 Ibid., 2.4.

25 Ibid., 2.15.

26 Ibid., 15.31.

27 Ibid., 1.1.

VIA do MEIO 22.2.2023 quarta-feira 9
* Director da Secção de Sinologia e vice-presidente do Departamento de Estudos Hindus e ExtremoOrientais da Universidade de Veneza. Professor de Chinês Clássico, é membro das Associações Europeia e Italiana de Sinologia.
(Continua)
Scarpari* Retrato imaginário de Xunzi, dinastia Qing
而立,四十而不惑,五十而知天命,六

UCRÂNIA CHINA VAI MANTER UM “PAPEL CONSTRUTIVO”

Oministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, afirmou ontem que a China “vai continuar a desempenhar um papel construtivo na crise ucraniana”, apelando a que “não se alimente a chama da guerra”.

Durante um evento sobre questões de segurança, organizado pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, Qin instou ainda “alguns países” a “pararem com provocações”, quando afirmam que ‘a Ucrânia de hoje é a Taiwan de amanhã’.

O ministro assegurou que a China está “pronta para trabalhar a nível multilateral e bilateral com todos os países” e afirmou que Pequim “vai defender o consenso de que ‘uma guerra nuclear não deve e não pode ser travada’”. A China “rejeita uma corrida ao armamento” e “encoraja soluções políticas para o conflito”, disse o ministro.

RELATÓRIO EUA ACUSADOS DE QUEREREM MANTER “HEGEMONIA MUNDIAL”

proposto pelo Presidente chinês, Xi Jinping, em Abril de 2022, e que estipulou como objectivos o respeito à integridade territorial de todos países e a não interferência nos assuntos internos de outras nações.

A iniciativa “apoia uma estrutura de governação internacional liderada pelas Nações Unidas” e o papel da organização multilateral na “prevenção de guerras e na manutenção da paz”, disse Qin, acrescentando que a “segurança é um direito de todos os países e não uma patente exclusiva de alguns”. Durante um discurso na Conferência de Segurança de Munique, o Director do Gabinete para as Relações Externas do Partido Comunista da China (PCC), Wang Yi, reiterou que a China vai continuar a fazer “esforços” em prol da paz na Ucrânia e que o seu país sugeriu que

Denúncias e reclamações

Ogoverno chinês acusou na segunda-feira os Estados Unidos de quererem manter a sua “hegemonia mundial”, que considerou um “risco global”, num relatório publicado num período de crescentes tensões entre os

O documento, designado “A Hegemonia dos Estados Unidos e os Seus Perigos”, afirma que, desde a Segunda Guerra Mundial, Washington actuou com “mais audácia”

para “interferir nos assuntos internos de outros países”.

Pequim analisa a “hegemonia” política, militar, económica, tecnológica e cultural dos Estados Unidos ao longo da História - do ponto de vista de Pequim -, numa altura em que as relações bilaterais atravessam um período de renovadas tensões, suscitadas pela “crise dos balões” ou divisões face à guerra na Ucrânia.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China culpa os EUA por organiza-

O relatório destaca ainda que a “hegemonia dos EUA a nível económico” foi alcançada após a criação de diferentes organizações para “formar o sistema monetário internacional em torno do dólar norte-americano”, que é a “principal fonte de instabilidade e incerteza na economia mundial”

rem “revoluções coloridas” ou lançarem guerras para “promover a democracia”, fomentando uma “política de blocos” que “alimenta conflitos e confrontos”.

O documentou destaca todos os conflitos em que os Estados Unidos estiveram envolvidos, desde a sua independência, em 1776, apontando que o país PUB.

A China dá como exemplo as “interferências por conta da ‘Nova Doutrina Monroe’” na América Latina, utilizada para defender o princípio da “América para os americanos”, mas que, segundo as autoridades chinesas representa a “América para os Estados Unidos”.

Cita-se ainda um livro do ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, no qual o político revelou que o país norte-americano “tinha planeado intervir na Venezuela” para, entre outras coisas, “obrigar Maduro a chegar a um acordo com a oposição” ou “privar o país da sua capacidade de vender petróleo ou ouro em troca de moeda estrangeira”.

Que venha de lá aquele abraço

Pequim aguarda visita de “velho amigo” Lula o “mais cedo possível”

Governo da China disse ontem que aguarda a visita de Luiz Inácio Lula da Silva o “mais cedo possível”, considerando que o Presidente do Brasil é um “velho amigo” do povo chinês. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês respondeu assim a uma ques-

tão colocada pela Lusa sobre uma possível visita de Lula da Silva ao país, que órgãos estrangeiros afirmaram, no fim de semana, estar programada para o dia 28 de Março.

O ministério chinês não confirmou aquela informação, mas disse que a China “dá as boas-vindas” a uma vi-

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China culpa os EUA por organizarem “revoluções coloridas” ou lançarem guerras para “promover a democracia”, fomentando uma “política de blocos” que “alimenta conflitos e confrontos”

sita do Presidente brasileiro, assim que “seja conveniente para ambos os lados”.

“Iremos divulgar as informações relevantes quando for adequado”, afirmou a mesma fonte, numa resposta por escrito. Pequim “atribui grande importância à parceria estratégica abrangente entre China e Brasil”, acrescentou.

Bons parceiros Durante os primeiros dois mandatos de Lula da Silva,

10 china www.hojemacau.com.mo
Num documento publicado esta segunda-feira, Pequim analisa as acções dos sucessivos governos norte-americanos ao longo da História e a sua progressiva ingerência nos assuntos internos de outras nações
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tem um orçamento militar anual de 700 mil milhões de dólares, que cobre “40 por cento do total a nível planetário” e é superior ao valor conjunto dos gastos com Defesa dos “15 países logo atrás na lista”.

Os próximos na lista são China, Índia, Reino Unido e Rússia, de acordo com o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI).

Dedo apontado

O relatório chinês destaca ainda que a “hegemonia dos EUA a nível económico” foi

entre 2003 e 2011, a relação comercial e política entre Brasil e China intensificou-se, marcada, em particular, pela constituição do bloco de economias emergentes BRICS, que inclui ainda Rússia, Índia e África do Sul.

Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral a passar de 9 mil milhões de dólares, em 2004, para 135 mil

TAIWAN PEDIDA AJUDA INTERNACIONAL PARA ENCONTRAR PESQUEIRO PERDIDO

TAIWAN pediu ajuda a vários países próximos, incluindo Filipinas, Estados Unidos e Palau, para localizar um pesqueiro desaparecido desde sábado no Pacífico ocidental, com seis pessoas a bordo, disseram fontes oficiais.

A agência de pescas da ilha indicou que os sistemas de identificação e monitorização do navio de pesca de atum Sheng Feng 128 deixaram de transmitir qualquer sinal, na madru-

gada de sábado, quando a embarcação se encontrava a 414 milhas náuticas (cerca de 766 quilómetros) a noroeste da ilha de Malakal, em Palau.

Também outros navios na área não conseguiram estabelecer contacto com o pesqueiro, no qual se encontra o capitão, taiwanês, e cinco tripulantes de nacionalidade indonésia, de acordo com a agência de notícias oficial da ilha, CNA.

O Shen Feng 128 zarpou no dia 08 deste mês do porto

de Yanpu, na costa sul de Taiwan, e o último contacto por telefone por satélite, a partir da embarcação, ocorreu na sexta-feira, quando o capitão falou com a mulher e comentou que atravessavam uma zona com ondas e ventos fortes.

As autoridades também contactaram cinco embarcações de Taiwan, presentes na área, para pedir ajuda nas buscas pelo atuneiro desaparecido, acrescentou a agência.

Continuar a quebrar limites

Cientista que alterou genes de bebés diz que vai fazer pesquisa em HK

Ocientista chinês He Jiankui, que se tornou conhecido mundialmente em 2018, depois de ter criado bebés geneticamente alterados para resistir ao VIH, disse recentemente que vai desenvolver uma pesquisa sobre edição genética em Hong Kong.

alcançada após a criação de diferentes organizações para “formar o sistema monetário internacional em torno do dólar norte-americano”, que é a “principal fonte de instabilidade e incerteza na economia mundial”.

E argumenta que, durante a pandemia da covid-19, os EUA “injectaram milhares de milhões de dólares no mercado global”, o que causou a desvalorização de outras moedas e altos níveis de inflação em “vários países em desenvolvimento”.

milhões, em 2021. Nos últimos anos, a participação da China nas exportações do Brasil superou os 30 por cento, à boleia do apetite do país asiático por matérias-primas, sobretudo soja e minério de ferro.

Entre 2007 e 2020, a China investiu, no total, 66 mil milhões de dólares no Brasil.

A relação entre Pequim e Brasília arrefeceu, no entanto, durante o man -

No campo tecnológico, a China enfatiza que os EUA “procuram desencorajar o desenvolvimento científico” de outros países, “exercendo monopólio e restrições nos sectores de alta tecnologia”. E considera que a “expansão global” da cultura norte-americana é parte essencial da sua “estratégia externa”. Os Estados Unidos devem “examinar criticamente” as suas acções e abandonar a “arrogância e preconceito” e “práticas de intimidação”, lê-se no mesmo relatório.

dato de Bolsonaro, que assumiu o poder com a promessa de reformular a política externa brasileira, com uma reaproximação aos Estados Unidos, e pondo em causa décadas de aliança com o mundo emergente. O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil Ernesto Araújo, que foi, entretanto, substituído, adoptou mesmo uma retórica hostil face à China.

O investigador revelou que obteve visto através de um programa para talentos da região semiautónoma da China, apesar do seu antecedente criminal, informou ontem o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Afirmou que pretende investigar “terapias genéticas para doenças raras”.

“Planeamos usar ferramentas da inteligência artificial para desenvolver capsídeos de vírus adeno - associados (AAV), para melhorar a eficácia da terapia genética em doenças raras”, explicou He, sem dar mais detalhes.

Segundo o jornal de Hong Kong The Standard, o secretário do Trabalho, Chris Sun Yuk-han, assegurou em conferência de imprensa, quando questionado sobre este caso, que os “candidatos a este concurso para talentos não têm de declarar os seus antecedentes criminais”.

O secretário não quis comentar “casos individuais”, acrescentando que é o Departamento de Imigração que, em última instância, decide sobre os vistos de entrada em Hong Kong. He, que trabalhou como professor

da Southern University of Science and Technology, na cidade de Shenzhen, no sudeste da China, até à sua demissão, em Janeiro de 2019, foi condenado em Dezembro desse ano a 3 anos de prisão pelas suas experiências com alteração genética.

Da experiência de He, realizada com recurso à técnica de edição genética CRISPR/Cas9, nasceram três bebés: em 2018, duas gémeas chamadas Lulu e Nana, e no ano seguinte, outra chamada Amy.

Sem remorsos

Na sua última aparição pública, numa conferência na Universidade de Hong Kong, em Novembro de 2018, o cientista mostrou-se “orgulhoso” do seu

trabalho, sublinhando que o seu estudo não visava eliminar doenças genéticas, mas sim “dar às raparigas capacidade natural” de resistir a possível infecção futura pelo VIH, o vírus da imunodeficiência humana que causa a SIDA. O escândalo levou as autoridades chinesas a rever os seus regulamentos sobre alteração genética em seres humanos, passando a exigir aprovação a nível nacional para pesquisas clínicas nesse campo ou em outras “tecnologias biomédicas de alto risco”.

O Governo chinês publicou também novas directrizes para reformar os processos de revisão ética em áreas como ciências da vida, medicina ou inteligência artificial.

china 11 www.hojemacau.com.mo
quarta-feira 22.2.2023

Com preces a

AO longo das últimas três décadas a região autónoma de Ningxia Hui, na província de Gansu no noroeste da China, tem consubstanciado a expressão portuguesa do chão que deu e continuar a dar uvas. Ao contrário do sentido da expressão popular, a atractividade da indústria vinícola de Ningxia tem ganho visibilidade e prestígio a nível mundial, como uma região de excelência na produção de vinho.

Os apreciadores e curiosos de Macau terão três oportunidades únicas para se familiarizarem com os néctares de Ningxia nos próximos dias 24 e 25 de Fevereiro, sexta-feira e sábado.

Durante estes dois dias, estarão no menu mais de 50 vinhos de 17 das mais prestigiadas adegas da região.

O primeiro evento, marcado para sexta-feira entre as 14h30 e as 15h30 no salão Wynn Palace Meeting Rooms, é uma masterclass intitulada “A prestigiada perfeição de Ningxia”, seguida por uma sessão de prova de vinhos guiada pelos enólogos Fongyee Walker e Li Demei.

Fongyee Walker é uma das mais conceituadas “educadoras” e enólogas chinesas, enquanto Li Demei é professor de enologia na Universidade de Agricultura da China, em Pequim.

Copo cheio

O largo e fortemente irrigado vale entre o Rio Amarelo e a base da Montanha Helan transformou-se ao longo das últimas décadas numa das áreas vinícolas mais promissoras da China. A vasta gama de vinhos produzidos na região de Ningxia é feita a partir de castas como Ca-

bernet Sauvignon, Cabernet Gernischt e Chardonnay. Apesar da região se estender por mais de 66 mil quilómetros quadrados, a maioria das vinhas estão situadas num vale com cerca de 150 quilómetros de comprimento no extremo norte da região, em que a paisagem árida é equilibrada pela irrigação natural fluvial e elevada altitude.

Afastada dos tradicionais grandes palcos de apre-

ciação enóloga, a produção do vale da Montanha Helan foi-se aprimorando até que em 2009 um cabernet da adega Helan Qingxue arrebatou um prémio os prestigiados Decanter World Wine Awards.

A maioria dos vinhos feitos em Ningxia resulta de misturas de castas Bordeaux, Cabernet Sauvignon e Merlot. Entre estas, os Cabernet Sauvignon representam 70 por cento das uvas

12 eventos 22.2.2023 quarta-feira www.hojemacau.com.mo
WYNN PALACE EXCELÊNCIA DOS VINHOS DE NINGXIA EM PROVA NA SEXTA E SÁBADO
O Wynn Palace vai dedicar dois dias às delícias vinícolas dos néctares de Ningxia na sexta-feira e sábado. Guiados pelo conhecimento de enólogos especialistas nos vinhos da região, serão organizadas uma masterclass, uma prova de vinhos na sexta-feira e um jantar de gala no sábado
O objectivo desta iniciativa é criar uma plataforma de intercâmbio entre indústrias, como a restauração e vinhos, “promovendo a rica cultura gastronómica da China e realçando o papel de Macau enquanto “Cidade Criativa de Gastronomia”

Baco

A maioria dos vinhos feitos em Ningxia resulta de misturas de castas Bordeaux, Cabernet Sauvignon e Merlot. Além destas castas mais produzidas, encontram-se também na região vinhas de Syrah, Riesling e Chardonnay

Bons ventos e casamentos

Natália Correia homenageada em mostra de arte em Madrid

Aescritora e política Natália Correia vai ser homenageada numa exposição de arte contemporânea portuguesa em Madrid, numa iniciativa paralela à feira ARCOmadrid 2023, que decorre a partir de hoje e vai até 26 de Fevereiro na capital espanhola.

A exposição tem como título “A Desordem Necessária” e curadoria de Ana Cristina Cachola, resultando de “um diálogo transfronteiriço entre duas colecções”, António Cachola (do Museu de Arte Contemporânea de Elvas) e Helga de Alvear (da galeria com o mesmo nome de Madrid), segundo a Embaixada de Portugal em Espanha, que organiza esta iniciativa.

A mostra estará na residência oficial do embaixador de Portugal em Madrid e em exposição estarão 21 artistas contemporâneos portugueses e uma espanhola.

A exposição insere-se na segunda edição da iniciativa “Artists Join the Embassy”, organizada pela Embaixada de Portugal em Madrid como evento paralelo à feira de arte contemporânea ARCOmadrid e pretende promover artistas portugueses.

“À semelhança do que sucedeu em 2022, serão convidados programadores, curadores, coleccionadores e directores de instituições internacionais para descobrirem arte portuguesa ou concebida em Portugal por uma artista espanhola”, revelou a Embaixada de Portugal em Madrid.

Este ano, a propósito da ARCOmadrid, a embaixada de Portugal promove também o lançamento do “Mapa de Artistas Portugueses nas Galerias Espanholas”, um roteiro com 31 artistas nacionais que são representados por 26 galerias de dez cidades espanholas (A Coruña, Badajoz, Barcelona, Madrid, Palma de Maiorca, Santander, Santiago de Compostela, Saragoça, Sevilha e Valência).

Arco redondo

A Feira de Arte Contemporânea ARCOmadrid decorre este ano de 22 a 26 de Fevereiro, tem como tema “O Mediterrâneo: Um Mar Redondo” e regressa a níveis de participação pré-pandemia, com 211 galerias de 36 países, incluindo 17 portuguesas, segundo a organização.

Há ainda 15 artistas nacionais expostos em galerias espanholas presentes na feira, segundo informação da Embaixada de Portugal em Madrid.

A Galeria Foco, de Lisboa, entrará na secção “Opening”, e a Madragoa, também da capital portuguesa, estará na secção “Nunca o mesmo. Arte latino-americana”, com curadoria de Mariano Mayer e Manuela Moscoso.

Participa ainda no programa geral a Jahn und Jahn, que tem base em Munique, na Alemanha, e também um espaço em Lisboa.

Mercado paralelo

Com direcção de Maribel López Zambrana, a 42.ª ARCOmadrid tem também um programa paralelo aos expositores, incluindo um fórum de debate dedicado à região do Mediterrâneo.

A ARCOmadrid, uma iniciativa com dupla natureza, sendo em simultâneo um espaço comercial e um espaço cultural, dedica os primeiros dois dias exclusivamente a profissionais e abre as portas ao público em geral a partir da tarde do dia 24, sexta-feira.

de vinho de tinto, enquanto os Merlot ocupam 15 por cento das vinhas. Além destas castas mais produzidas, encontram-se também na região vitivinícola de Ningxia vinhas de Syrah, Riesling e Chardonnay.

Comes e bebes

Para fechar em beleza os dias dedicados aos néctares de Ningxia, o Wynn Palace Grand Theater irá acolher um jantar de gala onde os

vinhos da região serão a atracção principal, com as iguarias gastronómicas preparadas pelo chef Yun Peng Yu e o chef do restaurante Wing Lei, Tam Kwok Fung. Depois do cocktail, que será servido às 18h, às 19h começa o desfile de seis pratos que irão misturar pratos cantoneses e da região de Ningxia, acompanhados por vinhos, numa harmonização criteriosamente selecionada.

Os bilhetes para o jantar de gala custam 1.288 patacas por pessoa.

Em comunicado, a Wynn refere que o objectivo deste tipo de iniciativa é criar uma plataforma de intercâmbio entre indústrias, como a restauração e vinhos, “promovendo a rica cultura gastronómica da China e realçando o papel de Macau enquanto “Cidade Criativa de Gastronomia”. João Luz

A edição do ano passado da iniciativa “Artists Join the Embassy” levou uma exposição de Ângela Ferreira à residência oficial do embaixador de Portugal em Madrid, “para a qual foram convidados, em parceria com a ARCOMadrid, coleccionadores e directores de museus internacionais que integram o programa VIP da feira” e “deste projecto resultou a aquisição de uma peça da artista pelo MACBA – Museu de Arte Contemporânea de Barcelona”, sublinhou a embaixada.

Na 42.ª edição da ARCOmadrid são esperados cerca de 90 mil visitantes, um valor semelhante ao de 2020, a última edição sem impacto da pandemia de covid-19.

Entre as 170 galerias do programa geral há 15 portuguesas: 3+1 Arte Contemporânea, Balcony, Bruno Múrias, Carlos Carvalho, Cristina Guerra Contemporary Art, Filomena Soares, Francisco Fino, Miguel Nabinho, Monitor, Uma Lulik, Pedro Cera e Vera Cortês, todas de Lisboa, e ainda a Kubikgallery, a Lehmann + Silva e a Quadrado Azul, do Porto.

O ministro português da Cultura, Pedro Adão Silva, estará em Madrid na próxima semana para visitar a feira, estar presente em iniciativas paralelas à ARCOmadrid organizadas pela embaixada de Portugal e para um encontro com o homólogo espanhol, Miguel Iceta.

A Embaixada de Portugal participa ainda na Bienal de Cidadania e Ciência que decorre em Barcelona e Madrid de 21 a 26 de Fevereiro, com a instalação “Som palavras. Diálogos sonoros”, de João Ricardo Barros Oliveira, e o projecto Omiri “Inovação musical feita com memória”.

eventos 13 quarta-feira 22.2.2023 www.hojemacau.com.mo

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Baseado no clássico de 1977, do mestre Dario Argento, “Suspiria” é daqueles filmes que deixa sequelas. Assustador a tempos e arrebatador noutras alturas, o remake do também italiano Luca Guadagnino tem como centro narrativo a vida de uma companhia de bailado onde a bruxaria e o sobrenatural convivem com a dança. O filme tem como cenário a Berlim dividida dos tempos da Guerra Fria e vive da intensa interpretação de Tilda Swinton e Dakota Johnson. Apesar de algumas inconsistências no argumento, “Suspiria” tem momentos de extrema beleza fílmica, mas não é aconselhável a cinéfilos impressionáveis, ou a quem não goste de filmes de terror. João Luz

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores João Luz; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; João Santos Filipe; Nunu Wu Colaboradores Anabela Canas; António Cabrita; Ana Jacinto Nunes; Amélia Vieira; Duarte Drumond Braga; Gonçalo Waddington; José Simões Morais; Julie Oyang; Paulo Maia e Carmo; Rosa Coutinho Cabral; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Colunistas André Namora; David Chan; João Romão; Olavo Rasquinho; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Tânia dos Santos Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Pátio da Sé, n.º22, Edf. Tak Fok, R/C-B, Macau; Telefone 28752401 Fax 28752405; e-mail info@hojemacau.com.mo; Sítio www.hojemacau.com.mo

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14 [f]utilidades 22.2.2023 quarta-feira
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UM FILME HOJE SUSPIRIA | LUCA GUADAGNINO
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A BAILARINA

A SUA VIDA não saía agora de dentro das muralhas, o quarteirão era um país e a cidade fora há muito um local encantado onde se moveu por todos os seus recantos em passos de dança que pareciam não tocar o solo. Estava bem. Afinal era um belo sítio ainda não muito exposto ao êxodo dos seus moradores e com as formas intactas de um antigo feudo. A vida permanecia um dom que se dançava no estreito local, e mesmo assim caminhos do mundo se entrecruzavam nos seus passos, faltava um certo vapor, uma cantata, mas habituamo-nos ao som livre dos nossos passos quando se conhecem de cor os percursos. «Ela canta pobre ceifeira!»

Só um homem podia ter escrito frase assim. Cantariam os navegadores? Não se sabe... mas alguma dança trémula alcançariam na monotonia que também atinge a aventura. Os passos titubeantes dos que visitam cidades tornam o rítmico processo, torpe, e ao nível do chão, causa de todo o desastre - rolam mecanismos insonoros, deslizamentos de velocidades várias - chegam carregamentos de malas, sacos, bagagens, e só não submergem porque a vontade impõe a resistência para as noites que hão de encontrar nas camas turísticas o conforto programado para populações exaustas. Que a labuta dos que se esforçam para a logística doméstica dos novos nómadas não é menos imperativa que a de estes navegáveis. Uma componente em que todos os recursos se concentram para tirar dividendos flutuantes das vagas de passageiros, fazendo ispersos como um chão de ossadas em velhos caminhos, uma impermanência que é lei e gere a cidade, que a deita e acorda num quase tristonho cenário de «Nau a Haver» onde a natureza dos seus habitantes se virou para outros soalhos, que os salões escureceram à passagem das massas. Dançar foi outrora uma função tão válida como hoje é andar, correr por aí contra o vento em festividade orgânica quase insolente, era uma proposta semanal, um estado de funcionalidade, que o corpo gosta da dança e lembra-se de como os seus passos ajudaram à árdua tarefa de se saber caminhar junto. Mas deixemos a dançarina entregue a seus cuidados!

As pessoas que saem de pijama para o emaranhado das ruas deviam ter na

Dançar foi outrora uma função tão válida como hoje é andar, correr por aí contra o vento em festividade orgânica quase insolente, era uma proposta semanal, um estado de funcionalidade, que o corpo gosta da dança

dança, Mas nem parada nem em movimento.

chegada a casa um manto púrpura para se cobrirem e tentar olhar-se com alguma parcimónia, que isto de se ser tão casual, entorpeceu a natureza das funções e levou à subjugação através da moda desportiva. Andam os seres todos a treinar. Para quê?

Não se sabe. Um treino é aprendizado para cumprimento de actividade que se deseja desempenhar contribuindo para o bem comum, ora, o bem comum, pode ser também um mal comum, que não se dá por isso, a menos que haja um evidente bom senso no meio desta estranha projeção. Se falarmos ainda nos ensandecidos hábitos alimentares que cortam as fontes do balanço para as bailias, vamos entendo o porquê do cansaço extremo e da má resolução dos problemas. A atmosfera não está para grandes carinhos, e sentimos que ela produz calafrios podendo estar a lançar madeixas de cabelos de uma cabeça decepada, que de forma lenta, tenaz e concreta, adoece a maleável natureza dos seres. - Não será então em mim louvada a conveniência da saúde ardente- que a saúde se saúda pela transformação constante desta luta até à inexorável falência orgânica.

A Dançarina em nós nunca deixa de bradar, ela é mais lata que os movimentos estipulados, e agora amordaça-nos numa orquestração sem harmonia que julga os nossos passos apenas como capacidade muscular para se manter activa mas lhe retirou o tributo da função cósmica que é dançar: dançar em todas as direcções, com todas as formas, com todos os sentidos, um tributo ao Universo que não retém a conveniência de se ter um corpo apenas para se encarcerar, a Bailarina, tende a mostrar-nos a escassez de fluído que está em marcha nas nossas sociedades nazis reinventadas. « Anima Mundi» ou a alma do mundo, consistirá sempre a desencarcerar na “prima matéria” a natureza inconsciente. O Mundo gira na roda evolutiva, e com toda a nossa retenção de marcha, acena-nos para não destruirmos os tributos circulares da sua natureza ( a Dançarina é feminina) e ainda nos diz que o impulso criativo no seio de toda a vida não poderá jamais ser revelado. Podem os seres vestirem-se para uma mesma dança, despindo-se destas vestes tributáveis? Esperemos que sim.

vozes 15 quarta-feira 22.2.2023 www.hojemacau.com.mo
No ponto imóvel do mundo que gira. Nem carne nem sem carne; Nem de nem para; no ponto imóvel, lá está a

Festa na Horta da Mitra

Preces ao deus da terra voltam a Macau três anos depois

Afesta do deus da terra regressou ontem, pela primeira vez em três anos, a um dos templos mais representativos da divindade, no bairro da Horta da Mitra, em Macau.

MÁSCARAS PEREIRA COUTINHO PEDE FIM DE USO

Ganhar face

Odeputado José Pereira Coutinho alerta que a utilização frequente de máscaras por crianças pode resultar em “insuficiências respiratórias”. Após três anos de pandemia, a utilização deste equipamento de protecção pessoal continua a ser uma constante em Macau, mesmo quando mais de 80 por cento da população esteve infectada com covid-19.

Apesar de reconhecer que a máscara desempenhou um papel durante a pandemia, o legislador mostra-se agora preocupado com o que considera ser “uma das sequelas mais graves da epidemia”.

“Durante três anos, o uso de máscaras tem tido um efeito insidioso na vida quotidiana das pessoas, e embora tenha ajudado a proteger contra a covid-19 e outros vírus, tem tido muitos efeitos negativos”, considera Pereira Coutinho. “O aspecto mais negativo é que a máscara se tornou uma barreira à comunicação e ao psicológico entre as pessoas, dificultando gravemente a sua interacção interpessoal”, acrescenta.

A principal preocupação do deputado é mesmo com os mais novos: “O uso obrigatório de máscaras em algumas ocasiões levantou preocupações sobre a saúde das crianças, o uso de máscaras pode dificultar o desenvolvimento do seu sistema respiratório quando as crianças estão a crescer, em casos graves, pode levar a uma insuficiência respiratória”, explicou.

Neste sentido, o deputado da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) pede ao Governo ponderação. “As crianças podem ser mais gravemente prejudicadas pelo uso de máscaras do que pelo vírus, e é importante que os departamentos governamentais analisem, sob uma perspectiva científica, a necessidade de as crianças usarem máscaras”, apelou.

Ninguém se entende

Por outro lado, o deputado criticou também a confusão que existe actualmente em relação à obrigatoriedade da utilização de máscara. “Como os regulamentos do Governo da RAEM sobre o uso de máscaras são vagos e

confusos, actualmente, tanto nos eventos públicos como nos privados são tiradas duas fotografias de grupo, uma com máscara e outra sem máscara”, indicou. “A razão para isto é que não existem directrizes claras e unificadas sobre o uso de máscaras, o que é deixado à discrição dos diferentes departamentos”, argumentou.

Coutinho alerta igualmente para os perigos de higiene das máscaras. Ao contrário do que acontece nos serviços de saúde, em que o profissional médico muda de máscara constantemente, no quotidiano a máscara é utilizada todo o dia. “Embora as máscaras não sejam necessárias no interior de restaurantes, são usadas obrigatoriamente quando se recolhem alimentos nos refeitórios. As máscaras atraem um grande número de germes ambientais e a sua remoção repetida só irá aumentar os riscos de higiene”, aponta o deputado.

“O departamento responsável pela política de saúde deve clarificar as directrizes de higiene para evitar riscos desnecessários para a saúde”, vincou. João Santos Filipe

“Geralmente, os cidadãos que veneram o deus da terra não estão a pedir muito, estão a pedir uma entrada e saída seguras, bem-estar familiar e crianças para crescerem bem e depressa. As orações são todas muito comuns e esta crença une o bairro”, disse à Lusa o presidente da associação de beneficência Foc Tac Chi Tou Tei Mio de Macau.

“A crença e os costumes do Tou Tei tiveram origem em Macau há algumas centenas de anos. Durante séculos, as pessoas adoraram Tou Tei e lentamente se tornou um costume estabelecido”, considerou Lo Seng Zung, que esteve presente na inauguração das festividades no bairro Horta da Mitra, no centro da cidade, onde fica o mais representativo templo da divindade.

Tou Tei Kung é uma das divindades chinesas mais populares e é considerada pelos crentes como pro-

tetora da vida, da saúde e da riqueza dos residentes, entre outros aspetos.

É no segundo dia do segundo mês do ano lunar chinês, que hoje ocorre, que os crentes costumam celebrar o nascimento deste deus com os vizinhos, mas a pandemia da covid-19 obrigou à suspensão das celebrações nos últimos três anos.

Durante as festividades, entre orações e a queima constante de incenso, decorrem danças do leão, representações de ópera cantonesa de Foshan e também banquetes, que “trazem um ambiente animado às comunidades chinesas locais, para as quais esta é também uma importante festa religiosa”, indicou Lo.

A ópera apresenta-se num palco improvisado junto ao templo, com músicos a tocar ao vivo, e atrai a atenção de moradores e de quem passa pela zona.

O orçamento das celebrações neste templo na Horta da Mitra, ou Cheok Chai Un (em cantonês), é de mais de um milhão de patacas (116.142 euros), num evento que se prolonga por cinco dias, de acordo com a organização.

No último dia, realiza-se um banquete para os idosos, em que as mesas se espalham pelas ruas em redor do templo.

Com cerca de 85 lugares, esta é “uma tradição chinesa de respeito filial pelos idosos”, explicou o presidente da associação.

O mais popular

A crença e os costumes de Tou Tei têm uma longa história em Macau, representada por cerca de 10 templos e mais de 140 altares dedicados a este deus, além de estar presente à entrada de numerosas residências, prédios e lojas.

“Quantas pessoas em Macau acreditam no Tou Tei? É uma ‘quantidade astronómica’. Cada entrada de residências e lojas tem um pequeno altar [dedicado a] Tou Tei. Estimo que cerca de um quarto da população de Macau acredita no Tou Tei”, sublinhou Lo.

Em 2017, a crença e os costumes dedicados a esta divindade foram inscritos na lista do Património Cultural Imaterial de Macau.

Quatro anos depois, em 2021, a China incluiu este culto a um dos deuses chineses mais populares, nas mais diversas formas, refletindo uma tradição popular transmitida de geração em geração, na lista do Património Cultural Imaterial do país.

Além desta, o Conselho de Estado chinês incluiu ainda mais duas manifestações de Macau: a Gastronomia Macaense, baseada no método de preparação dos alimentos da culinária portuguesa, integrando ingredientes e métodos culinários da Europa, Ásia e África, e o Teatro em Patuá, arte performativa apresentada pela comunidade macaense em patuá, sistema linguístico criado pelos imigrantes portugueses em Macau ao longo dos últimos quatrocentos anos. Lusa

quarta-feira 22.2.2023
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“Se quiseres ser amado, ama.” Séneca PALAVRA DO DIA
Pereira Coutinho, deputado “As crianças podem ser mais gravemente prejudicadas pelo uso de máscaras do que pelo vírus.” GONÇALO LOBO PINHEIRO LUSA

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