Revista Conecthos 13

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Saudade

Quando o isolamento social é de apertar o coração

A

palavra saudade só existe na língua portuguesa e no dialeto galego, mas é um sentimento universal, que encerra uma experiência psíquica necessária e bela na existência de qualquer ser humano. É filha da solidão, vem do latim “solitas”, que significa solitário, e, junto com o amor, torna-se um dos termos mais constantes na boemia, na literatura e na música. “Pertence à natureza humana, e vai se apresentar inevitavelmente em algum momento da nossa vida, pois está relacionada a pessoas, fatos ou situações vivenciadas no passado”, frisa Janynne Caovila, psicóloga especialista em neuropsicologia, professora do curso de Psicologia da Faculdade Guilherme Guimbala (ACE), de Joinville. “Saudade é a uma expectativa por algo que já foi e que desejamos que volte a ser. Faz uma ponte entre o presente e o passado, pois permite reviver cenas e emoções, mas não nos permite permanecer lá. Um caminho, por onde as lembranças buscam encontrar as marcas do que fomos”, define. No contexto atual de isolamento social, devido ao novo coronavírus, a saudade adquiriu novas modalidades. “Temos a saudade irrecuperável dos que perdem a vida na epidemia, a angustiante, de quem tem entes queridos contaminados ou internados, a preocupante, relativa aos profissionais de saúde e outras pessoas que conhecemos e que estão na linha de frente do combate à epidemia etc.”, detalha a profissional. Importante entender e aceitar esse sentimento, já que o atual estado de afastamento não significa o fim dos laços afetivos, mas um momento temporário de adaptação. Do mesmo modo que Janynne, Sabrina Gauto, psicóloga clínica do Hospital Dona Helena, compreende a saudade como uma relação passado-futuro. “Sentimos falta de algum momento vivido e o desejamos novamente. Isso se relaciona com

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a nossa capacidade de ser felizes, de viver um momento feliz”, revela. “Não temos a capacidade de voltar no tempo, mas podemos usar essa experiência para entender o que nos faz bem e re-experimentar essas vivências de novas maneiras.” Marina Bosio, 31 anos, é servidora pública e mora há oito anos sozinha, seis deles em Joinville. Sua família está dividida entre o Paraná e o Distrito Federal. O namorado também não reside na mesma cidade que ela, e sim na vizinha Jaraguá do Sul. Eles se viam semanalmente, mas a rotina imposta pelo isolamento social mudou tudo. Marina tem diabetes do tipo 1, o que a coloca dentro do grupo de risco para contrair o vírus. Por isso, desde o começo da quarentena, realiza home-office e não vê familiares nem namorado, por segurança. Ela costuma trocar mensagens, fazer videochamadas ou ligações telefônicas com eles. Por toda a situação, acabou


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