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Jornal Psicologia em Foco Nº 45 - ISSN 2178-9096
Luana Ramos Rocha Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá (2017) e em Letras Português/Inglês pelo Centro Universitário Cesumar (2020). Pós-graduada em Tecnologias Aplicadas ao Ensino a Distância pelo Centro Universitário Cidade Verde (2020). Graduanda em Pedagogia pela Universidade Cesumar e Pós-graduanda em Tradução e Revisão de Textos em Língua Inglesa pela Faculdade Unyleya.
SAUDOSA REALIDADE Fevereiro de 2020. Tudo mudou. O Brasil se vê dentro da grande teia do coronavírus, que vinha afetando diversos países ao redor do mundo. Começou-se a obrigatoriedade do uso das máscaras e também a “prisão domiciliar”. O vírus tirou a nossa liberdade de ir e vir. Essa mudança abrupta da realidade pessoal ocasionou um impacto grandioso na saúde mental (GAMEIRO, 2020). Temos vários novos diagnósticos de depressão e ansiedade, pessoas que não conseguem mais lidar com o que a Covid-19 causa e o fato de precisar se distanciar de pessoas queridas e da vida que era tida anteriormente. Algumas requisições referentes ao sanitarismo foram trazidas, tais como: o adiamento de eventos esportivos, o cancelamento de festas e, o que mais afetou a população, o impedimento de sair socialmente. Sem dúvida, esse afastamento causa certo desconforto e demanda muita paciência. Alguns recursos utilizados como forma de passatempo são os “exercícios físicos, leituras, filmes, meditações, orações, práticas amorosas, manutenção da casa” (BITTENCOURT, 2020, p. 171). Diante dessa realidade, a população sentiu uma necessidade ainda maior de usar as redes sociais, na expectativa de compartilhar seu cotidiano (PERROTTA; CRUZ, 2021) e sentir-se mais próxima dos amigos, tal qual era quando convivíamos em sociedade, sem tantas privações. Todo esse contexto me faz lembrar de um autor que tenho muito apreço – Augusto dos Anjos – e de um de seus sonetos, chamado "saudade". Hoje que a mágoa me apunhala o seio, E o coração me rasga atroz, imensa, Eu a bendigo da descrença, em meio, Porque eu hoje só vivo da descrença.
À noute quando em funda soledade Minh’alma se recolhe tristemente, P’ra iluminar-me a alma descontente, Se acende o círio triste da Saudade.
E assim afeito às mágoas e ao tormento, E à dor e ao sofrimento eterno afeito, Para dar vida à dor e ao sofrimento,
Pintura de Augusto dos Anjos por Flávio Tavares
Da saudade na campa enegrecida Guardo a lembrança que me sangra o peito, Mas que no entanto me alimenta a vida.
Difícil ler esse soneto e não o relacionar a tudo que temos vivido em tempos de pandemia e isolamento social.